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Curso de Direito Eleitoral – EAD

Aula 07 – Ações Eleitorais

Ação de Investigação Judicial Eleitoral por abuso de Poder Econômico


e/ou Político

1- Base Legal

A Ação de Investigação Judicial Eleitoral está prevista nos


arts. 19 a 23 da Lei das Inelegibilidades (LC 64/90).

2 – Conceito

Trata-se de uma ação destinada a proteger a legitimidade e


normalidade das eleições e coibir o abuso do poder econômico ou
político, a utilização indevida de veículos ou meios de comunicação,
bem como a fraude nas disputas eleitorais brasileiras.

Deve haver um nexo de causalidade entre as condutas e a


ilicitude eleitoral e deve ainda ser demonstrada uma ação que seja
capaz de acarretar uma desigualdade na disputa das campanhas
eleitorais.

Assim, o abuso do poder econômico ou político caracteriza-


se como toda conduta ativa ou omissiva que tenha potencialidade para
atingir o equilíbrio entre candidatos que almejam determinado pleito
eleitoral.

A potencialidade lesiva é verificada por exemplos


concretos, casuisticamente, tais como: fornecimento de alimentos,
utilizações indevidas de servidores, realização de concurso público em
período não autorizado por lei, recebimento de dinheiro de sindicato ou
organização estrangeira, uso de material público, desvio de verbas, etc.
Geralmente, os atos de abuso também acarretam consequências penais
e atos de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92).

3 – Natureza Jurídica

Para a maioria da doutrina, a Ação de Investigação Judicial


Eleitoral é uma ação cognitiva com carga decisória de consistência
desconstitutiva ou constitutiva negativa (no caso em que se cassa o
registro) e carga puramente declaratória (no caso em que declara a
inelegibilidade).

4 – Causa de Pedir

Podem ser causa de pedir na Ação de Investigação Judicial


Eleitoral: a utilização indevida, o desvio ou o abuso do poder
econômico; o uso indevido, o desvio ou o abuso do poder político ou de
autoridade; a utilização indevida dos meios de comunicação; e o uso
indevido dos veículos de transporte.

5 – Bem Jurídico Tutelado

O bem jurídico tutelado é a normalidade e a legitimidade


das eleições e o interesse público primário da lisura (boa-fé) eleitoral.

6 – Legitimados Ativos

São legitimados a proporem a Ação de Investigação Judicial


Eleitoral:

a) partidos políticos
b) coligações
c) candidatos
d) Ministério Público (se o MP não for o autor da ação,
atuará obrigatoriamente como custus legis).

7 – Legitimados Passivos
A Ação de Investigação Judicial Eleitoral deve ser proposta
em face de:
a) partidos políticos
b) coligações
c) candidatos
d) autoridades
e) terceiros que tenham contribuído para o ato ilícito

8 – Prazo para Interposição

A ação deverá ser interposta a partir do registro de


candidatura até o dia da diplomação. Assim, a ação não pode ser
intentada após a diplomação, sob pena de extinção do processo sem
julgamento de mérito.

9 – Competência para Julgar

A Ação de Investigação Judicial Eleitoral deverá ser


interposta perante:

a) Juiz Eleitoral, quando se tratar de candidatos aos


mandatos eletivos de prefeito, vice-prefeito ou
vereador;

b) Tribunal Regional Eleitoral, quando se tratar de


candidatos aos mandatos eletivos de governador, vice-
governador, senador, deputado federal, deputado
estadual e deputado distrital;

c) Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas hipóteses de


candidatos a presidente e vice-presidente da República.

10 – Causa de Inelegibilidade
Se a Ação de Investigação Judicial Eleitoral for julgada
procedente, e houver o trânsito em julgado, transforma-se em uma
causa de inelegibilidade, classificada como geral, ampla ou absoluta, ou
seja, aplicável a todos os mandatos eletivos (art. 1º, inciso I, alíneas d e
h, LC 64/90).

Antes da entrada em vigor da Lei Complementar nº


135/2010, a Lei da Ficha Limpa, tratava-se de hipótese de
inelegibilidade absoluta para as eleições que ocorressem no período de
três anos contados da eleição anterior. Da forma como era, a sanção
não era completa, pois apenas impedia o pleiteante a candidato de
concorrer à eleição intermediária, não tendo nenhum efeito para a
eleição que ocorresse nos quatro anos posteriores. Agora, de acordo
com a referida LC 135/10, que deu nova redação à LC 64/90, a sanção
da inelegibilidade se dá pelos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em
que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato
diretamente beneficiado.

11 – Decisão. Efeitos

Como mencionado, uma vez julgada procedente a


representação, mesmo que após a proclamação dos eleitos, de acordo
com o inc. XIV do art. 22 da LC 64/90, com redação dada pela LC
135/10 (Lei da Ficha Limpa), o Tribunal deverá declarar a
inelegibilidade do representado e de quantos tenham contribuído para a
prática do ato, cominando-lhe a sanção de inelegibilidade para as
eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em
que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato
diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo
desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicação,
determinando o encaminhamento dos autos ao Ministério Público
Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de
ação penal, ordenando quaisquer outras medidas que a espécie
comportar.

12 – Prioridade

Os processos de desvio ou abuso do poder econômico ou do


poder de autoridade até que sejam julgados terão prioridade sobre
quaisquer outros, ressalvados os de habeas corpus e mandado de
segurança.

13 – Rito Processual

O rito da Ação de Investigação Judicial Eleitoral está


disciplinado no art. 22 da Lei das Inelegibilidades (LC 64/90), a saber:
a) petição inicial
O autor deverá direcionar a exordial, devidamente
fundamentada e acompanhada dos meios de prova com
que pretender demonstrar a veracidade do alegado e rol
de testemunhas (máximo de seis), ao órgão jurisdicional
competente.

b) notificação e defesa
O representado deve ser notificado para, no prazo de 5
(cinco) dias, apresentar defesa, requerer a juntada de
documentos e arrolar testemunhas (máximo de seis).
O Ministério Público Eleitoral deverá ser intimado,
mesmo não sendo parte, sob pena de nulidade, para
atuar, obrigatoriamente, como custus legis.

c) instrução
Se a matéria não for unicamente de direito e a prova
protestada seja relevante, deve ser designada, para os 5
(cinco) dias seguintes ao recebimento da defesa, data
para a inquirição das testemunhas (primeiro as do
representante e depois as do representado).

d) diligências
Após a colheita da prova testemunhal, o Juiz ou
Corregedor, no prazo de 3 (três) dias após a audiência de
instrução, procederá a todas as diligências necessárias à
formação do corpo probatório (juntada de documentos
em poder de terceiros, oitiva de testemunhas referidas,
realização de perícias, etc.).

e) alegações finais
As partes (inclusive o MP), no prazo comum de 2 (dois)
dias, a contar do encerramento das diligências,
apresentarão as alegações finais.

f) decisão no prazo de 3 (três) dias

g) recurso
Contra a decisão caberá recurso, no prazo de 3 (três)
dias, para o TRE (da decisão de juiz eleitoral) ou para o
TSE (da decisão emanada do TRE).

14 – Observações

- Para a configuração da abusividade do ato, não será


necessária a comprovação da potencialidade de o fato alterar o
resultado da eleição. Basta apurar apenas a gravidade das
circunstâncias que o caracterizem.

- O TSE entende que não cabe julgamento antecipado da


lide porque não se permite a apuração dos fatos supostamente
ocorridos.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Roberto Moreira. Curso de Direito Eleitoral. 5ª ed. Salvador:


Jus Podivm, 2011.

BARROS, Francisco Dirceu. Resumo de direito eleitoral. 4ª ed. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2010.
COÊLHO, Marcus Vinícius Furtado. Direito eleitoral e processo eleitoral.
2a ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2010.

RAMAYANA, Marcos. Resumo de direito eleitoral. 4a ed. rev. atual.


Niterói: Impetus, 2010.

RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 6ª ed. Rio de Janeiro: Impetus,


2006.

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