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fintonio Ganpos e Matos Analise dos Estados de Tensao e Deformagao DEC FEUP een ANTONIO CAMPOS E MATOS ANALISE DOS ESTADOS DE TENSAO E DEFORMACAO “EM MACIGOS DE SOLOS E ROCHAS DIACLASADAS VERIFICAGAO DA SEGURANCA DISSERTACAO PARA DOUTORAMENTO EM ENGENHARIA CIVIL NA FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO DEZEMBRO DE 1986 PUBLICACAO SUBSIDIADA PELO INSTITUTO NACIONAL DE INVESTIGACAO CIENTIFICA RESUMO 0 trabalho agora publicado visa 0 estabelecimento de métodos de avalia¢ao do grau de ‘seguranca ao colapso de macicos constituidos por solos ou rochas diaclasadas. Os métodos sugeridos para os varios casos tém em comum a intervengao do campo dos deslocamentos na definiggo da seguranga, Esta é medida pelo estabelecimento de condigdes que provoquem o colapso na simulagao numérica, aferindo-se a seguranga pelo grau de afastamento em relagao aquele. Por razdes que se desenvolvem a0 longo do trabalho, optou-se por simular o colapso através da reducao das caracteristicas resistentes dos materiais. Conforme se depreende do exposto, os modelos e os programas de calculo desenvolvidos nao s4o mats que ferramentas de avallagao de um certo grau de seguran¢a. No capitulo 3 desenvolvem-se estes aspectos, concluindo-se que mesmo as analises com base probabilistica necessitam das referidas ferramentas de base deterministica. Neste mesmo capitulo apresentam-se algumas conclusdes que reflectem, por um lado, a necessidade de fazer intervir 0 campo dos deslocamentos na def ini¢ao da seguranca, € por outro, a interferéncia que 0 angulo de atrito interno tem na quantificacao do grau de seguranca. Estas conclusdes levaram aos estudos referidos nos capitulos seguintes (4 & 5) que tem em comum o de se debrugarem sobre materiais com elevado atrito interno, como sejam os enrocamentos e as rochas diaclasadas, ou seja aqueles que matores dificuldades apresentam na simula¢ao numérica do colapso. 0s modelos desenvolvidos, quer para os solos, quer para as rochas, s40 do tipo nao linear nas relacdes entre tensdes e deformagées, com obediéncia a critérios de cedéncia 3D ou 20 que determinam as resisténcias locais dos materiais, ou seja, a plastificacao da matéria, 0 colapso dos macicos exige a criagao progressiva de bandas de plastificagao com a posterior formacao de figuras de cedéncia com comportamento aproximadamente de corpo rigido. ABSTRACT This work states methods for the evaluation of the safety factor, against failure, for sot] masses or rock masses with joints. ‘The methods are presented for several cases and they have in common to include displacements in the definition of safety. Failure lead to instability in the numerical solution and there of safety 1s defined. To reach failure the strength characteristics of the soil or rock joints are progressively reduced. Therefore, the modelling and calculation programs developed are no more than tools to evaluate the degree of safety. in chapter 3 these subjects are detailed and it as been concluded that the probabilistic definition of safety is better complemented with these deterministic tools. In the same chapter the conclusions indicate on one hand that the displacements must be included in the definition of safety, on the other hand, that the friction angle plays @ special role on the values of the factor of safety obtained. For this reason chapters 4 and 5 treat materials with great friction angles such as rock filling materials and jointed rocks; that is, those materials which present greater difficulties in failure modeling The models developed both for soils and for jointed racks are of the nonlinear type In the stress-strain relationships, with yleld criterta in 2D and 30. The failure of the earth masses imply the developement of shear bands with yieldind in the later stages, Between these shear bands the earth masses behave as rigid bodtes. CAPITULO 1 OBJECTIVO 1.1 INTRODUGAD..... 6... INDICE 1.2 APROPOSITO DO TERMO "MACICOS TERROSOS” ...---- 0200s eee eee ee 4 CAPITULO 2 INTRODUGAO 2.1. JUSTIFICACAO DO OBJECTIVO 21.1 Dominios abrangidos ........- 2-205 5 212 Generalizacao dos processos de célculo......-..-.+20+5 8 2.13 Aimportancia do campo dos deslocamentos na determinagao da seguranga....-...-222-e eee reece 3 CAPITULO 3 A SEGURANGA NA ENGENHARIA GEOTECNICA BA OBJECTIVO. 00. cece e eee e eee eee e eect e teeters W 3.2. CONCEITO DE SEGURANCA ESTRUTURAL 321 Andlises Deterministicas e Probabilisticas .......- +++ +++ 12 3.22 Conceito de Coeficiente de Seguranga. Teoria da fiabilidade 3221 Generalidades....... 2... ee eee eee ee eee tease eee 15 3222 Teoriadafiabilidade.. 0... 22... eee e eee eee eee ee 17 3223 Método dos coeficientes parciais....-....++2--+eee0es 22 3.224 — Concluses 25 323 Particularidades no uso do factor de seguranca na engenharia geotécnica 323.1 Generalidades .... 2.2.0 eee eee eee eee . 26 323.2 Adeterminagao de Fs em engennariaestrutural .......... 28 3233 Adeterminagdo de Fs em engenharia geotécnica........., 32 323.4 Capacidade internaC...............5 ce eeeeee ees 34 3.235 Modelos decdlculo........ 20.2. e eee cece 34 323.6 Conclusd0. 2.2... e eee eee eee 36 A SENSIBILIDADE DE Fs AOS PROCESSOS DE CALCULO 331 Generalidades .. 2.20.0... eee eee eee .37 332 Capacidade de carga de um solo... .. 2.22. ee eee eee 38 333 Escorregamento de um talude.............. eee 46 METODOS PARA A DETERMINACAO DO COEFICIENTE DE SEGURANGA 341 Generalidades ......... 3.42 Métodos de equilibrio limite 3.43 Métodos com base na elasticidade linear 3.43.1 Generalidades... 2... eee 26. 5S 3.43.2 Formagao dos mecanismos de colapso 3.43.3 Ométodo de Naylor......... SEE EEE EEE eee eet - 61 3.44 Métodos com base na elasticidade nao linear 3441 Generalidades ........0200 0.0... e eee eee wee 6F 3.442 — Utilizac4o dos modelos bi-lineares e K-Gno calculodeFs... 66 345 Métodos elasto-plasticos... 2.22... eee 69 3.45 Métodos elasto-visco-plasticos 3.45.1 Omodelo elasto-visco-plastico . .73 3.45.2 Comparacao com os métodos-elasto-plasticos........... 76 CAPITULO 4A DETERMINACAO DA SEGURANCA EM MACICOS DE SOLOS E ROCHAS DE BAIXA RESISTENCIA 4.1 INTRODUGAO A VISCO-PLASTICIDADE .....--- peeEEeeE eee eee 81 42. CONSOLIDAGAO E PLASTICIDADE DE UM SOLO 42.1 Generalidades . . . 422 __Disting&o entre consolidacdo e plasticidade.......-- .. 86 43. MODELOS MECANICOS SIMPLES E ASSOCIADOS .....-..-- 88 44, COMPORTAMENTO ELASTO-VISCO-PLASTICO 44l Introdugao... .. ener Eee Eee eee oo 93 442 Lei de escoamento-plastico.....-.-- 202 eeeeee eee eee 95 443 Conceito de normalidade e de associatividade plastica... ... - 98 444 Estabelecimento de um modeloEV.P......-..- +++ se. 102 45 ALGORITMO DE CALCULO ELASTO-VISCO-PLASTICO (E.V.P) 45.1 Introdugdo.. 2... eee e eee eee eee etter eee 104 452 Algoritmo... 2... eee eee eee ee eee eens 107 453 Integragdo... eee eee eee eee eee 109 45.4 Convergéncia.... 2... 0.0 eee ee eens eee eee eee 46 LEIS DE CEDENCIA 46.11 Introdugdo oo. ee eee eee eee eee ee neers 112 462 Leis decedéncia3D..... 2... eee eee ee eee eee eee 118 46.21 — Invariantes...... 118 46.22 Leis de Monr-Coulomb (M.C), Drucker-Prager (0.P) eLade-Duncan (LD)...... 02 20e seer reese ees seve e 122 4623 — Afericdo das diversas leis... . 20.0 2s ee eee eee 130 46.2.4 Derivadas 20/26 ~ 130 463 Lei de cedéncia 20 A631 Invariantes... 0.20.20 cece cece e ee eee eee 132 463.2 — Calculo das derivadas "20/20" . 4633 Convergéncia.....-.-.-- SEeeEe EEE eee 4 47 IMPORTANCIA DA TENSAO DE CONFINAMENTO NO LIMITE DE CEDENCIA 471 Introdugao....-.. bec e ete eeeceteeteeeeees 135 472 Interferénciade vo... 2... e eee eee eee 137 473 Interferénciade@..... pEeeeee eee eee eee eres 139 474 Componente €, do vector escoamento plastico y ........ 141 48 PROGRAMAS DESENVOLVIDOS ..............0. EEE Eee eee eee 145 49 EXEMPLOS DE APLICACAO 49.1 Barragem de Beliche. Determinacao do coeficiente de seguranca 491i Descrigao........ Sterne eee . 146 A912 Objectives 22. eee cece ee eee eee 149 491.3 Caracteristicas . 49.1.4 Consideracao das forcas de massa... ............2.... 153 49.15 Resultados......... SeeEEEEEE EEE Eee EEE eee eee 154 49.1.6 Coeficiente de seguranca obtido pelo método dos circulos.... 160 49.1.7 Conclusdes.. 2.2... eee eee eee eee 161 49.1.8 — Prosseguimento dos calculos........... peeEEEEeeee 164 492 Impulso em repouso e passivo de uma areia............ - 166 49.21 Coeficiente em repouso Kg . . . 167 4922 Coeficiente passivoKy..............222.- cence ees 169 CAPITULOS A DETERMINACAO DA SEGURANCA EM MACICOS DE ROCHAS DIACLASADAS 5.1. OBJECTIVO 5.11 introdi¢ao Pee Cee eee ee Eee ee EEE EEE eee erry 175 5.1.2 Particularidades dos mecanismos de colapso dos macigos POCNOSOS 2. eee eee eee e eee eee 176 5.13 AS acgdes determinantes do colapso............ 2.0005 179 5.2 83 5.4 5.1.4 O conceito de seguranca . 315 Propriedades particulares dos macigos rochosos. Origem das juntas... +--+ eee 5.16 Classificagdes geotécnicas das juntas....----- (OS METODOS DE ANALISE DE MACICOS ROCHOSOS 521 Resumo dos modelos disponiveis....-.-+-+-20+0e 2000+ 3.22 Um exemplo de tratamento numérico de um macico diaclasado . 523 Asensibilidade dos resultados ...-..- +--+ 0025 52.4 Avantagem de novos algoritmos de calculo.....- COMPORTAMENTO DE UMA JUNTA 53.1 Generalidades sobre as formulagdes usadas . . 532 Leis de comportamento 5.3.2.1. Comportamento a compress40..... 22+ +++ ee eeeer eee 5.3.2.2 Comportamento ao corte 5.3.22.1 Generalidades...... Pereee rrr ErreeE ee Et eee eoee 5.3.2.22 Comportamento sob tens&o normal constante ......--.- 53.223 Dilatancia......--- 0... eee eee eee eee eee 5.3.225 Comportamento de um sistema de juntas paralelas . . 5.3.23 Comportamento em rotacdo......---.-- eee eres e eee 5.3.23.1 Juntacomenchimento........22-+ +200 eee eee 53.232 Juntasemenchimento............2eee eee eeeeeee es BLOCOS QUASE-RIGIDOS COM CONTACTO ELASTO-VISCO-PLASTICO 5.41 Generalidades ......---.0002----+ 5.42 O elemento elastico de junta 5.42.1 Formulagao. Equivaléncia em tensdes 5.42.2 — Constantes elasticas . . 5.423 _Limites a impor a rela¢ao de anisotropia 180 - 181 185 189 195 197 201 202 206 216 . 219 53.224 Efeitoextensdo-corte.. 1... 6... eee eee ee eee eee 223 226 229 . 230 231 235 5.43 5.431 5.43.2 5.433 5.44 5.441 5.442 8.443 5.445 5.45 5.45.1 5.45.2 5.453 5.45.4 5455, 5.46 5.46.1 5.46.11 5.46.1.2 3.46.13 5.46.1.4 5.46.15 5.46.1.6 $.46.2 3.46.21 5.46.22 5.46.23 Comportamento elasto-visco-plastico do material da junta Introdugo..... 2... ponpocoosceoceaousAY>1) Modelo... 0. eee eee ce cence ee eee eee eee - 2. 249 Intervalo de tempo minimo...........-00e eee eee . 282 Plasticidade nas juntas entre blocos de rochas A dilatancia como resultado do comportamento plastico..... 254 Comportamento em tracgao.. . - 258 Lei de cedéncia nao associativa........ 0-20.20 eee 260 Correc¢ao automatica da inclinagao do vector escoamento plastico......... be veeee cece see 264 Programas desenvolvidos Sequéncia geral...... seve ebeeeee teveecteeees 269 Generalidades 0.0.2.0. eee eee eee erence eee ee 270 Introducao dos dados (IWUNT) .. 0... 2. eee eee eee eee 271 Programa de calculo JUNT ...... beeeeeeeeeeees 272 Programas de saidas de resultados .........- ceveeees 275 Problemas resolvidos com este modelo ‘Analise do comportamento dum bloco assente numa camada de areia de espessura nula Objective... 26.2... eee beveeeteeees .. 276 Caracteristicas da estrutura de calculo.........-..- 277 Programas usados, Sequéncias de calculo... . . 277 Determinacao da carga de colapso para altura b=1.0 m 278 Colapso por rotagao e colapso por escorregamento dabase... 279 Progressao do estado de tensao na junta para uma carga inferior do colapso..... 22.22... eens eee eee 280 Analise do comportamento de dois blocos assentes numa camada de areia, com ligagao elastica entre si Objectivo.... Caracteristicas da estrutura de calculo.........-.....- 283 Calculo analitico.... 2... 2-2. e eee eee eee eee eee 284 55 5.463 Determinacdo do coeficiente seguranca de um talude rochogo composto por blacos separados por juntas verticals 5,463.1 Objectivo 5463.2 Caracteristicas geométricas.....--+- 200007 5.4633. Caracteristicas mecanicas das juntas... -- aeneeeeeee 5,463.4 Procedimento de calculo...- - 5.4635 Grafico da relacao entre Fs eo deslocamento d de um ponto . . 5,463.6 Andlise grafica da progressao das zonas plastificadas até a formagao de um mecanismo de rotura.....----++- 5,463.7 Anexos ao calculo...----- seers eer eeete BLOCOS RIGIDOS COM CONTACTO ELASTICO NAO ‘LINEAR 55.1 Introdugdo oo... esse eee eee eet eee e sees tenes 55.2 Formulagao elasto-linear 55.2.1 Generalidades.......----+5 PPRePEr CCE EC Ce eer 552.2 — Determinagao da matriz de rigidez K 55.221 Generalidades.......- eee eee 55.222 Subrotinas auxiliares......-- ++ 55.223 Matrizderigidezk..-- 5523 Vector solicitacdo....... 2.22 eee eee ee teers 552.4 — Resolucdo do sistema de equages ..-..-. 2s ees 55.25 _ Deducdo tedrica do algoritmo linear ....- + 2+ +-s eee ee eee 553 Formulagdo elasto-ndo-linear..... - Penne eee 55.4 _Leis de comportamento das juntas 55.41 Generalidades...... 2.000820 eee e erent reser nee 55.42 Comportamento em compressao: N=F3(E) 55.43 Comportamento em corte: T=F 1(N, 5) 55.43.1 Objectivo 55.43.2 Comportamento “r-3" estabelecido por uma analogia - 292 292 293 293 293 . 295 . 298 301 302 56 §5.43.3 55.434 5544 55.441 55.442 55.443 55.444 55.445 555 556 5.5.6.1 556.2 55.6.3 556.4 5565 Parametros elasticos Eg, Gp.......---- +++ Conclusées . Comportamento em rotacao : M=F2(N,8) MOdGO o.oo ee eee eee teens Resumo das expressdes ....---- 2... eee e cece eres Diminuicdo da superficie de contacto devido a rotacao . Introdugao da nao linearidade em E Andlise raficd. 0.02... eee eee eee eee eee Preparacdo dos dados e convencées impostas......... Problemas resolvidos INtPOWUGO eee eee eee Conceito de coeficiente de seguranga..... 2.20.20. 00 Estudo da estabilidade de um talude de dois blocos Estudo da estabilidade de um talude com juntas verticais . .. Barragem de Beliche . ALGUNS ASPECTOS TEORICOS DA CARACTERIZACAO D0 MODELO ELASTO-NAO-LINEAR DE CORTE DE UMA JUNTA. 5.6.1 562 5.63 5.6.4 5.6.41 5.6.42 565 5.6.6 Introdugao. . . . . PEE EEE EEE ECan Efeito dilatante nos comportamentos plastico e elastico-nao-linear.. . . wees Caracterizacao da tensdo de ndo-dilatancia 6t..........- Caracterizacao de®. Comportamento ao corte de uma junta aberta Generalidades........ Comportamento ao corte de uma junta aberta.. . . Caracterizagao de Bs Diagramas de resisténcia e de deformabilidade........... 330 332 335 339 . 340 341 342 345 . 346 347 348 352 353 . 355, . 355, 359 361 . 366 - 368 5,7 AINTERACGAO MECANICA ENTRE A AGUAE A COMPONENTE SOLIDA D0 MACICO 57.1 Introdugao 373 5.72 Leis de percolagao em macicos rachosos . . =.= +--+ 374 5.721 Melo poroso..- +... essere eee eee oo 2.376 5.7.22 Meio fracturado (permeavel) 5.72.21 Condutividade nidraulica de uma diaclase Isolada..«-- - 377 5.7222 Condutividade hidraulica de um conjunto de diaclases .--- --« 378 573 Aacgdo mecanica da agua 5731 Melo continuo (poroso)......- 222s eset etne ee ses. 380 5,732 Meio descontinuo (fracturado) ....-2- 0s sees seers 381 5.7.4 _Introdugao das acgdes da agua no calculo do macico 57.41 Melocontinuo.... 22-2. eee errr eres veceeee ees + 382 57.42 Meio dascontinuo.....-.-.+0seeeeee ter eereertes ss 384 575 __ Influéncia do estado de tensdo......--2+seeeee terete 387 5.7.6 _Influéncia da temperatura 577 Conceito de seguranga.....----- eee cece 588 CAPITULO 6 LINHAS DE ORIENTAGAO PARA PROXIMOS ESTUDOS 6.1 INTRODUGAO .... 2-2-2 eee eee eee eee ceceeeeeee eee SO 6.2. LINHAS SUGERIDAS 621 No dominio do comportamentoE.VP.....-.0+ser2ereetee 392 622 No dominio dos macicos de materiais com atrito.... - sie. 592 623 No dominio dos macigos diaclasados .......---+-+- +--+ +393 CAPITULO 7 ANEXOS 7.1. UMA TECNICA DE EXTRAPOLACAO 7.1.1 Objective 72 Desenvolvimento 72 7.13 Processo de extrapolagao 7.1.4 Calculo das derivadas 71S Algoritmo de calculo... 2... ee eee eee 716 ConclusdeS.. 02-22 eee eee eee seer UMA LEI “PICO-RESIDUAL" DA TENSAO DE CORTE OBTIDA POR ANALOGIA MECANICA 721 Introdugao . 722 Analogia mecanica...... PEEEE EEE CEE Eee reer - 398 400 - 400 ANALISE DOS ESTADOS DE TENSAO E DEFORMACGAO EM MACICOS DE SOLOS E ROCHAS DIACLASADAS VERIFICAGAO DA SEGURANCA CAPITULO | OBJECTIVO 1.1 = INTRODUCAO © desenvolvimento de métodos para a determinacao do grau de seguranca de macicos terrosos € 0 objectivo principal deste trabalho. Usando um critério generalizado na Mecanica dos Solos, entende-se por coef iclente de seguranca do macico, o mais batxo valor que, ao reduzir a coeséo e a tangente do angulo de atrito de todos os aiferentes solos envolvides na andlise do maci¢o, conduz 20 colapso deste. A seguranca € assim tratada, dentro de conceitos deterministicos, por um Unico coeficiente cujo valor mede, para oS modelos e algoritmos considerados na analise, 0 grau de seguranca. Os valores que este coeficiente deve atingir para que 0 macico possa ser considerado seguro, dependem do tipo e duraggo da obra, do grau de conhecimento dos materials envolvidos, da conf ianga nos métodos de calculo, da experiéncia, etc. 0 seu estudo no sera desenvolvido no ambito deste trabalho, apenas se referindo, durante a apresentacao de casos estudados, alguns valores recomendados Os modelos propostos e os algoritmos de calcula desenvolvidos poderao ser usados em andlises probabilisticas da seguran¢a pois, mesmo estas, nao dispensam um calculo deterministico relactonando as vartaveis do sistema com o critérto de rotura Para medir 0 grau de seguranga em relacao ao colapso, em que se encontra um maci¢o, ha que simular a situagdo de cedéncia global por variagao de um ou mais factores para, em seguida, medir o valor tomado por esse, ou esses factores, aferindo, a partir daqui, o grau de seguranga, Os modelos de calculo existentes para o estudo do comportamento de macigos de solos e rochas, ou nao sdo razoaveis para a simulacdo do colapso, ou ndo tém Sido convenientemente adaptados e explorados nesse sentido. No caso de macicos de solos e rachas isotrépicos e continuos, ou medianamente anisotrépicos, 0 Método dos Elementos Finitos (MEF) é a melhor técnica disponivel para a analise em tensdes e deformacdes, Todavia, a sua aplicacdo em situacées elasto-plasticas, ou elasto-visco-plasticas, com a introdugdo da lei de escoamento plastico, e let de cedéncia, nao tem sido convenientemente explorada na determinacao de situacdes de colapso de macicos . A generalidade dos casos tratados na literatura diz respeito a solos sem atrito interno, ou com atrito muito baixo, e.em analises pré-rotura. Nestes casos, em que a allatancia plastica é nula, os resultados s20 pouco sensiveis ao método usado, e as solucdes aproximam-se bastante das de equiliprio limite. Pensa-se que esta lacuna tera sido agora colmatada com a aplicacao das técnicas do MEF. a varios casos concretos, no dominio elasto-plastico, considerando fungées de cedéncia, verdadeiramente tridimensionais. Para este efeito foram desenvolvidos novos programas, com base em programas convencionais de elasticidade linear, do estado plano, € em subrotinas especificas do modelo elasto-visco-plastico. Ao longo deste trabalho, e por varias vezes, comparam-se os resultados destes Programas com os obtidos por outros métodos convenctonais, do tipo de equilibrio limite. A este propdsito saliente-se que estes métados nao sao, em principio, plores que os agora desenvolvidos. Contudo eles devem ser considerados como menos ftaveis que estes ultimos. Por exemplo, um cdlculo de estabtlidade de um talude feito pelo método das fatias, com uma determinada superficie de escorregamento, pode dar um resultado tao correcto como o odtido pelo o MEF. A diferenca est4 no facto de este ultimo dar, em qualquer Circunstancta e independentemente de decisdes subjectivas, um resultado tido como correcto, Pelo contrario, os métodos de equilibrio limite, estdo limitados 2 alguns casos particulares e com resultados que dependem frequentemente da escolna com algum grau de subjectividade, da superficie, ou mecanismo de rotura. No caso de macicos anisotrépicos e descontinuos como sejam, por exemplo, os macicos de rochas diaclasadas, o MEF. ndo pode ser considerado como uma boa aproximagao 20 correcto comportamento daqueles. Para esta concluséo contribul a impossibilidade de obter o estado de tensdo no contacto entre elementos, o desnecessariamente elevado numero de incégnitas exigido pelo MEF., a dificuldade numérica de tratar a grande diferenca de rigidezes entre os blocos de rocha e as juntas, € 2 dificil deteccao de mecanismos de rotura, ou de escorregamento, complexos (Goodman, 1985). Para ultrapassar estas deficiéncias, desenvolveram-se dots programas, um dos quais dé locos rigidos, com juntas de comportamento nao linear, obedecendo as condicdes de cedéncla por escorregamento ou por rotacao entre blocos, Neste caso considera-se 0 efelto de redugao da secco de contacto, e 0 correspondente aumento da tensdo normal, diminuigo da de corte, durante a rotacdo entre locos, 0 modelo admite uma lel de cedéncia ao corte nao linear, em que a tensdo de corte diminut com o aumento da tensao de compress&o, e aceita o comportamento ditado por um conjunto de caracteristicas geométricas da junta. A simulagao do comportamento do macico é feita com a observancia do campo dos deslocamentos. Assim sendo, é possivel a consideracao das resisténcias de pico e residuals, permitindo também o estudo da seguranca de alguns casos particulares como, por exemplo, os maci¢os de blocos com pregagens ou ancoragens. Todas as andlises apresentadas sdo feitas numa situacao de estado plano de deformagao, em regime estatico, e no dominio das tensdes efectivas. A presenga da agua, em situagdes de movimento ou estaciondrias, é analisada pela consideragao das correspondentes forcas de massa, obtidas a partir do campo dos gradientes de pressao hidraulica 1.2 - A PROPOSITO DO TERMO " MACICOS TERROSOS ” Pretende-se englobar nesta definicdo os macicos constituidos indistintamente por solos ou rochas diaclasadas. Efectivamente, ao nivel do calculo da seguranca, os modelos de comportamento dos matertats refertdos nao sao tao distintos como, por vezes, surgem nas classificagdes geotécnicas. Na verdade, os materiais que compdem os solos e as rochas e, se existir, o material de enchimento das juntas, tém a mesma origem; as acgdes envolvidas so as mesmas e os mesmos so os conceitos de plasticidade aplicaveis. As elevadas tensdes que, mais frequentemente, surgem nas rochas e os problemas de anisotropia e dilatancia, conferem efectivamente uma particularidade aos modelos de comportamento das rochas dlaclasadas, mas nao suficiente para ines determinar tratamento absolutamento distinto. Ja 0 mesmo nao sucede com os algoritmos de calculo, pots o comportamento antsotrépico introduztdo no meio rochoso, pelas juntas de dtaclases, determina 0 seu estudo em algoritmos particulares, capazes do tratamento simultaneo de todo 0 maci¢o. 0 termo “macico terroso” pretendia, inicialmente, designar os macicos constituides por solos conforme a classificagao de Karl Terzaghy ( Correia de Araujo, 1942 ). Na terminologia mais recente da geotecnia o termo “terroso” tomou um sentido mais lato, englobando nao s6 0s macigos de solos, como também os macicos rochosos fracturados, ¢ até os macicos artificiais de enrocamento. Neste trabalno foi utflizado o termo “geomecantca, como significando a ciéncia que estuda 0 comportamento dos macic¢os de materiais geoldgicos, sugerindo os correspondents modelos de andlise; e o termo “geotecnia’ como a ciéncia que se ocupa do estudo das técnicas, e dos processos de execugao, das obras que interferem com os maci¢os geoldgicos, utilizando para o efeito as leis da geomecanica. CAPITULO 2 INTRODUGAO 2.1 - JUSTIFICACAO DO OBJECTIVO 2.1.1 - Dominios abrangidos © objectivo que se procurou atingir foi o do desenvolvimento de métodos de avaliagao da seguranca de macicos terrosos, constituidos por materiais geoldgicos de superficie: solos e rochas diaclasadas. Estes métodos deveriam ser de aplicacdo geral @ sufictentemente simples para que pudessem ser usados ao nivel do projecto de obras geotécnicas. Os métodos convencionais de calculo da seguranga de macigos de solos foram desenvolvides para casos particulares, ignorando 0 estado de deformacao, nao sendo portanto de aplicacdo geral. Neste campo, 0 Método dos Elementos Finitos, e outras técnicas semelhantes, abriram novas perspectivas aos analistas destes problemas. € conhecida, das bases da Mecanica dos Solos, a importancia dos deslocamentos ¢ deformacdes (estado de defor macdo) dos materiais na resistencia mobilizavel dos mesmos. Como 0 estado de seguranca (no conceito usual da engenharta estrutural) esta intrinsecamente associado a0 estado de tensio instalado e @ resistencia mobilizavel, resulta uma relagao funcional entre os trés estados: SEGURANCA ~ TENSAO + DEFORMACKO A concretiza¢ao dos objectives referidos passa assim pelo estabelecimento das relacdes entre aqueles trés estados que, na situacao de odten¢ao do grau de seguranca, tera que responder ao caso particular do colapso ou rotura generalizada Nesta fase, 0 estado de seguranca sera aferidor do grau de seguranca, e os estados de tensao e deformagao estardo relacionados por algoritmos de simulacao, tao perfelta quanto Possivel, de comportamentos experimentais préviamente obtidos. A possibilidade duma andlise exacta deve ser abandonada, tomando lugar a perspectiva da methor analise possivel, tendo em vista a escala, o significado do problema, e 0 grau de confianga no modelo de calculo e no conhecimento dos materiais e acgdes envolvidas, 0 Método dos Elementos Finitos permite uma andlise aproximada da relagao entre o estado de deformacdo e o de tensdo Esta aproximacdo resulta, por um lado, da discretizacao do meio continuo em partes tratadas isoladamente como continuas, mas sempre com algum grau de descontinuidade nas ligagdes entre si, e por outro lado, na esséncia linear da rela¢do 6+€ do método, que obriga a técnicas aproximadas para tratamento de comportamentos nao lineares. Trata-se contudo de um excelente pracesso, de grande generalidade, nao sb pelas geometrias aceites, como também pelo razoavel grau de heterogeneidades e anisotropias possibilitado, Na abordagem que tem vindo a ser referida, nd ainda que estabelecer um critério de Fotura e um ctitério de simulacdo do colapso (entre as variaveis do sistema), para que seja Possivel a obtencdo de uma sitvagdo de colapso aferidora da seguranga. 0 critérto de rotura interna e generalizada dos materiais determina as plastificagdes locais e a sua propagacao até a formagao de um mecanismo, devendo fazer intervir o campo dos deslocamentos, O critério de simuta¢ao do colapso devera ser entendido como um critério a estabelecer para a varlacdo das accdes e das resisténcias, por forma a ser provocado o colapso do macigo. A sua importancia resulta da dependéncia que o factor de seguranca Fs tem em relacdo ao critério adoptado, particularmente nos matertats com atrito interno. Nas varias analises feltas, e agora apresentadas, procurou-se sempre esclarecer 0 significado e importancia das varia¢des de resultados obtidos para os varios critérios de que dispdem os Projectistas. Neste dominio refere-se ainda o significado da solucdo dada pela teoria da Nabi ltdade verificagao da seguranca, por razbes de seguida desenvolvidas, dividiu-se o trabalho em tres partes principals (capitulos 3, 4@5) intertigadas entre st pelo objectivo comum de determina¢ao dum factor de seguranca ‘A primeira parte (capitulo 3) trata da seguranga nos seus varios conceitos possiveis, procurando esclarecer @ justificar 0 conceito adoptado, Sdo abordadas, de passagem, alguns pontos importantes (analises probabilisticas, teoria da fiabiTidade, etc.) que nao se desenvolvem por se considerarem fora do objectivo geral do trabalho. Neste capitulo sao ainda apresentados problemas resolvidos com os modelos posteriormente desenvolvidos. A segunda e a terceira parte (capitulos 4 e 5) tratam da verificagao da seguranca de macicos terrosos por simulagéo do colapso. A divisdo em duas partes resulta da necessidade de tratamento numérico diferenciado entre o comportamento de macicos de solos ou rochas de batxa resisténcia (rochas brandas, alguns solos residuals, etc), @ macigos de rochas diaclasadas. Como se demonstra, as variavels intervententes no comportamento em fase de rotura s&o diferenciadas, justiftcando-se a divisdo em dots capitulos pela necessidade de desenvolver algoritmos especificos para o estabelecimento de relagdes FORCAS+DESLOCAMENTOS 20 nivel global (ou estrutural) dos sistemas. Contudo, € ‘como também se demonstra, esta diferenciacao nao existe de forma tao clara ao nivel dos critérios de plastificacao local e de simulacao do colapso geral Assim, 0 capitulo 4 trata da verificacao da seguranca ao colapso de macigos de solos ¢ rochas de baixa resisténcia. Toda a abordagem a este objectivo foi feita pela utilizacao dum modelo elasto-visco-plastico (E.V.P.), num algoritmo de calculo do MEF... A op¢ao por este modelo resultou de se considerar ser actualmente uma técnica numérica de uso possivel, e recomendado, em projecto geotécnico. A sua divulgagao, embora recomendada, exige contudo uma investigagao sobre a sensibilidade dos resultados a alguns dos parémetros utilizados, bem como uma adaptagao, aos materiais geolégicos, de alguns dos conceitos teéricos envolvidos. Neste ambito, tentou-se dar alguma contributcao, em especial nos seguintes aspectos: - interferéncia do coeficiente de Poisson v no factor de seguranga determinado por aquele modelo; - importancia do critério de simulacao do colapso; - aplicacdo do modelo EVP. a algumas leis de cedéncia de areias e enrocamentos; e, de forma geral, na resolugao de casos concretos pelos programas de calculo desenvolvidos. No capitulo 5 apresentam-se os trabaihos elaborados no sentido da determinacao do factor de seguranga de macicos rochosos diaclasados. Em sequéncia dos trabalnos apresentados para os solos, foi inicialmente desenvolvido um modelo de comportamento E.V.P. (nao assoctativo) das juntas de separacao entre os biocos da matriz rochosa. Nao fot feita a aplicacdo deste modelo a0 método dos elementos finitos, tendo-se limitado a um algoritmo simples de simulag4o dos blocos rigidos por um programa de estruturas de barras. Em seguida, e no sentido de evolucdo para um modelo mais elaborado, desenvolveu-se um programa de comportamento elasto-ndo-linear das juntas e de Comportamento verdadeiramente rigido dos blocos, Introduziram-se novos modelos para as relagbes entre forgas e deformacées, baseados nas incdgnitas determinantes ao comportamento rigido dos blocos. Algum trabalho foi ainda realizado sobre o efeito da gua nos macicos diaclasados e sua consideragao nos programas de calculo desenvolvidos. A este respeito apresentam-se algumas conclusdes, sob a forma de recomendagées, no fim do capituto 2.1.2 - Generalizacdo dos processos de calcula. No caso dos materiais geoldgicos, e ao contrario de outros materiais de comportamento mais simples, nao existe um processo geral para obter o estado de tensao e deformacao a partir das accdes aplicadas. No havendo um processo geral, surgiram, naturalmente, Solugdes particulares ignorando as deformagées, ou considerando-as fungées lineares das tensdes. Os métodos inicialmente desenvolvidos baseavam-se em modelos de Comportamento rigido-plastico e resultavam de solugdes particulares no dominio da Plasticidade classica (linhas caracteristicas, linhas de cedéncia 62k). Sao exemplo destes métodos, 0 calculo da capacidade de carga de um terreno, a verificacao da estabilidade de taludes e a determinagao dos impulsos em obras de suporte. Em determinados casos, como Por exemplo na analise da estabilidade dum tunel, estes processos nao permitem obter uma resposta satisfatéria, sendo preferivel recorrer as solugdes da teoria da elasticidade, com © inconveniente de nao ser possivel obter um coeficiente da seguranca ao colapso. Se fosse possivel der inir, para um dado solo, um algoritmo satisfatério para a obtencao do seu estado de tensdo e deformagao, e ainda um modelo de comportamento do matertal Cabaz de verificar a validade das solucdes obtidas, entao 0 processo de calculo serta geral para qualquer geometrta do macico e em qualquer situacao ae carga, Incluindo a de colapso Todavia este odjectivo no é ainda possivel dado que a variedade @ dispersao cos parametros envolvides, e 0 efeito tempo, aconselham o uso de solucdes particulares, pelo menos no que respeita as andlises reologicas. 0 desenvolvimento de sistemas de calculo muito potentes, a baixo custo, e as novas técnicas laboratoriats postas 4 disnosicao da engenharia geotécnica, sugerem que os trabalnos a desenwolver se orlentem agora no sentido da generalizacao dos processos de calculo. © sucesso desta orientagao dependera contudo da amplitude a exigir para o “rigor de célculo" ou seja, para o significado e valor dos coeficientes de seguranca a aplicar. Estes terdo de ser definidos pela aplicacdo de conceitos probabilisticos aos problemas de geotecnia, Salientem-se, a propésito, os riscos, de consequéncias potencialmente muito gravosas, da utilizaco em obras geotécnicas de coeficientes de seguranga de base empirica. 2.1.3 - Aimportancia do campo dos deslocamentos na determinacao da seguranca © grau de seguranga de um macico @ por vezes, determinado pelo valor dos deslocamentos atingidos em alguns pontos, e nao por andlise de capactdade limite, ou de colapso, do macico. £ 0 caso, por exemplo, da existéncia de estruturas apoladas num macico, préximas de uma escavacdo, que por deformacao transmitida excessiva, poderao impér limites 4 escavacdo, ou impér a alteracao das técnicas a utilizar 0 projectista vé-se assim colocado perante problemas de interac¢ao solo-estrutura que, devido a inexisténcia de resposta eficiente e simples das técnicas de calculo, sao frequentemente resolvidos no dominio do empirismo. Como consequéncia surgem vicios de projecto, perde-se 0 dominio do significado e valor dos coeficientes de seguranca, atingindo estes, por vezes, valores muito altos, com o consequente agravamento dos custos, ‘ou valores muito baixos, incompativeis com a seguranca necessaria, mesmo em fases provisérias das construcées. Considere-se, por exemplo, o projecto de blocos de encastramento de pilares submetidos a forcas horizontais, ou de amarracao dos cabos duma cobertura, ou duma ponte de cabos. Nao ha grandes duvidas quanto a verificagao da seguranga em relacao a capacidade limite do 10 macico, pols os Calculos baseados no comportamento rigido-plastico do solo sdo, para os coeficientes de seguranca resultantes da experiéncia, suficientes para o fim em vista Contudo, nos casos referidos, nao interessa apenas a garantia de afastamento em relacao a resisténcia Ultima do macico. O valor dos deslocamentos @ condicionante da solu¢ao, por ser interferente na seguranca da estrutura Esta interaccgo resulta dos impulsos resistentes (passivos) dependerem dos deslocamentos, e destes interferirem, de forma nao linear, no comportamento da estrutura, © proprio comportamento interno dos materiais geolégicos, caracterizados pela existéncia de resisténcias maximas e residuais (funges dos deslocamentos atingidos), impede uma analise correcta da seguranca dos macicos pelos métodos de equilibrio limite ‘Apenas uma analise que faca intervir os deslocamentos, e 0 comportamento como fungao das deformacdes, podera dar resposta a estes frequentes problemas da engenharia geotécnica CAPITULO 3 ASEGURANCA NA ENGENHARIA GEOTECNICA 3.1 - OBJECTIVO Neste capitulo pretende-se enquadrar, dentro dos varios conceitos de seguranca, 05 métodos propostos e desenvolvidos nos dois capitulos seguintes ‘A avaliagdo da seguranca estrutural pode ser feita na engenharia geotécnica com base em andlises deterministicas ou probabilisticas. Todavia qualquer delas exige uma técnica, ov algoritmo de calculo, que tera necessariamente um caracter deterministico. ‘As causas que determina ou implicam o inicio do colapso em macicos terrosos S40 varias, aparecendo cada uma com diferentes curvas de distribuigao de ocorrénctas Contudo, a simulacao do colapso exige, inevitavelmente, a variaco de uma ou mais dessas causas, até a obtengao de uma situagao de cedéncia global. $6 entao podera ser medido, ou avaliado, 0 grau de seguranca, Sucede que o grau de seguranga assim obtido varia, de forma significativa, com a propria acco, ou causa, escolhida para conduzir 0 macico 20 colapso Este efeito, caracteristico de um comportamento nao linear, deve ser particularmente avaliado no caso das obras de geotecnia 0 algoritmo de calculo devera modelar, o melhor possivel, 0 comportamento do macico na fase anterior ao colapso, bem como simular o proprio colapso. Como nem todos os métodos cumprem estas condi¢des, e em particular a Ultima, ha que selecionar aqueles que satisfazem 20 objectivo pretendido. Estao neste caso os métodos elasto-visco-plasticos, desenvolvidos para os solos e rochas, e o método nao linear desenvolvido para maci¢os " dlaclasados. 0 modelo de calculo em si, ou alguns dos seus parametros aparentemente secundarios, podem ter influéncia no valor do coefictente de seguranca. 0 reconhecimento desta eventual influéncia deve ser feito préviamente a apiicacao do modelo de calculo 3.2 - CONCEITO DE SEGURANCA ESTRUTURAL 3.2.1 - Andlises Deterministicas e Probabilisticas Emi964, Casagrande, no seu artigo “Role of the Calculated Risk in Earthwork and Foundation Engineering’, afirmava que a existéncia de riscos ¢ inerente a qualquer projecto em geotecnta, e que tais riscos devem ser reconnecidos e sistematicamente tidos em conta no proprio projecto. Este sera naturalmente 0 resultado da ponderacao entre @ economia e a seguranca. Contudo, a relutancia até agora mostrada pelos projectistas, ¢ pelas outras entidades envolvidas, em admitir a existéncia de riscos, e na necessidade de os reconnecer a todos os nivels, tem sido uma constante, apesar de alguns importantes € significativos acidentes sucedidos a nivel mundial © tema da seguranca é, assim, uma area de reconhecida importancia que, por razdes especificas da geotecnia, devera ser objecto, nos proximos anos, da atengao dos especialistas. € que a pratica corrente do uso de um coeficiente de seguranca a0 nivel do projecto ndo permite, nem tem em consideracdo, uma analise apropriada de riscos. Pelo que a ponderago em termos econdmicos da mesma se acha baseada em principios empiricos que conduzem a projectos demasiado caros ou demasiado perto dos limites da seguranga requirida Esta Ja a fazer-se, de resto, nesta area clentifica, um grande Investimento nos dominios da seguranca, verificando-se o reconhecimento de que os riscos no podem ser eliminados e, simultaneamente, uma grande vontade de abordar a questo da seguranca de uma forma dita probabilistica ‘As formas simples ¢ eficientes de aplicagao de todas as técnicas desenvolvidas, nao no dominio cientifico, mas ao nivel do projecto, séo afinal o maior desafio que agora se coloca. Uma das dificuldades reconnecidas resulta de uma certa confusdo existente quanto 4 forma de utiliza¢ao da teoria das probabilidades e quanto a sua relagao com outras teorias de andlise da seguranca. Quando um engenheiro usa um processo estatistico para caracterizar um determinado parametro de um solo, & partir de um certo numero de ensatos, nao esta a trabalhar com conceitos probabilisticos dé seguranga, mas sim a usar uma técnica estatistica para extrair informagao de um conjunto de medidas, be acordo com Whitman (1984 ) salfentam-se as seguintes aplicagdes da teorla das probabilidades a engenharia geotécnica: optimizacao de sondagens, exploracao e testes. Por exemplo, a tearla pode sit eads para projectar uma malha de sondagens tendo em vista a minimizacdo da possibilidade de se ignorar uma zona fraca num macico de solo ou rocha Teorta de ftabilidade. Esta teoria fornece uma base para avaliar a seguranca de componentes, de sub-estruturas ou global, de uma forma logica e consistente, Optimizagao do projecto em face de incertezas. Nesta aplicacao 0 desconhecimento de acgdes € de comportamentos estruturais pode ser tomado em conta tendo em vista uma optimtzacao (econémica e de seguranca) do projecto. Avallagdo de riscos. Esta técnica envolve um conjunto de conceitos © procedimentos de calcula, tal como de ramificagées de acontecimentos e de caminhos de colapso. Concretizando melhor estes conceitos poder-se-a dizer que a uma analise convencional, ou deterministica, do grau de seguranca de uma obra, contrapdem-se as andlises baseadas * em conceitos probabilisticos. Oa primeira resulta o chamado coeficiente de seguranca deterministico; das Ultimas resultam os coeficientes de seguranga probabilisticos, as probabilidades de falha ou colapso, a avaliagdo de riscos. Qualquer destas conduz a obtencdo de uma nogao de seguranca mais de acordo com os riscos inerentes a execucao de obras e a utilizacao de construcdes. Uma andlise da seguranca diz-se deterministica, num ponto de vista estrutural, quando existe uma confianga total nos parametros envolvidos no calculo (desvio padro=0) e quando se aceita como exacto 0 método de calculo aplicado. Neste caso o coeficiente de seguranga assim obtido diz-se deterministico. Pertencem a este tipo de analise @ quasi generalidade dos processos e técnicas de calculo desenvolvides na mecanica dos solos € rochas. rey ma analise da seguranca diz-se probabilistica quando ha uma base probabilistica na definigao da seguranca. Concretizando methor, quando, por exemplo, 0 coeficiente de seguranca resulta da aceitacdo de uma distribuigao normal das accdes € das resisténcias (acontecimentos aleatérios) e quando ¢ usada a teoria das probabilidades na definicao do colapso por comparacao entre o esforco (resultado das ac¢ées) e a reststéncia. Estao dentro destes conceitos os actuais regulamentos Portugueses de Seguranga e Ac¢oes em Edifictos e Pontes, de Estruturas de Betdo Armado e Pré- Esforcado e de Estruturas de Aco para Edificios. Saliente-se que, em relagao aos materiais, o engenheiro geotécnico encontra dificuldades muito acrescidas, na aplicacdo das mesmas técnicas de avaliagdo de seguranca, por ter de lidar com valores de dispersdo mats acentuada, Uma analise pode basear-se na estatistica para a caracterizacao dos parametros de um modelo de calculo, usar conceitos estatisticos na definicao das accbes e o coefictente de seguranga resultante ser apenas pseudo-probabilistico (ou semt-probabilfstico). Para que uma analise da seguranga possa ser considerada verdadeiramente probabilistica sera Necessarto introduzir mais qualquer cotsa no calculo como, por exemplo, os conceltos da teoria da ftabilidade. Entre o célculo puramente deterministic, 0 pseudo- probabilistico (ou semi-probabilistico) e 0 probabilistico ha uma vartacao de significado (base teérica) efectivamente importante mas que nem sempre se traduz em correspondente varta¢ao quantitativa dos resultados. Um facto sallente € que em todos os casos se necessita de uma ferramenta, ou técnica de andlise, que é 0 modelo de comportamento a usar no calculo. Este permite comparar os esforcos devidos as ac¢des com as resisténcias, de uma forma consistente, e de acordo com as teortas de comportamento local e estrutural dos diversos matertals. Como se demonstra no trabalho agora apresentado a escc.na do modelo de comportamento a usar no calcula nao é indiferente, ao contrario do que por vezes parece, & as variag6es introduzidas podem absorver toda a tentativa de def inir melhor o conceito de Seguranca a custa de métodos, como 0 probabilistico, necessariamente mais sofisticados, O uso de um método de calculo perfetto, determintstico ou exacto, ¢ impossivel. 0 risco assumtdo pelo uso de um qualquer método deve ser avaliado e, dentro de certa forma, quantificado no cAlculo final, Compete ao projectista 2 escolna do melhor método, dentro do binémio: economia e seguranca 5.22 - Conceite de Costiciente de Seguranca, Teoria da flapitidade 3.2.2.1 - Generalidades para o engenheiro, coeficiente de seguranga Fs é a relacdo entre um valor possivel de uma grandeza e um valor calculado (ou medic) da mesma grandeza, 0 valor possivel ¢ a capacidade ou resisténcia e designa-se por C @ 0 valor calculado &, habitualmente, 0 resultado, em termos de esforco interno ou solicitacao, de uma ou mals accoes, & designa-se por D. Sera entao: FgeC/D Gn ‘A capacidade C pode ser por exemplo a tensdo de rotura a traccdo do aco numa viga metalica de sec¢do constante e o esforco D sera a tensdo correspondente obtidano calcula, devido a acces varias, na seccao de maximo esforgo, Mas também pode ser atribuido aC 0 significado do momento de rotura plastico da mesma viga @ 2 0 0 momento flector calculade, na secc2o de formaco da ultima rotula plastica O valor de Fs ¢, qualitativamente e quantitativamente, distinto nos dois casos. Por vezes acontece nao estar bem esclarecida a aplicacao do conceito a casos praticos, Por exemplo, ao seleccionar valores possiveis da resisténcia de um solo para determinar a seguranga ao escorregamento, alguns engenheiros usarao os valores médios de um conjunto de valores enquanto que outros utilizardo os valores minimos (por razdes de seguranga..). 0 mesmo talude podera, assim, ter iguais coeficientes de seguranca, no calculo, & apresentar seguranga efectiva ao escorregamento bastante distinta As grandezas envolvidas C e D apresentam-se com uma dispersao aleatoria de valores, designando-se assim por variaveis aleatérias. ‘A probabilidade de ocorréncia de um valor de uma variavel aleatéria em contraste com a por ocorréncia de outros valores ¢ dada pela fungao de densidade de probabilidade (PDF=f,). Outra forma x1 x de representar a mesma informacao é através da ' fungao de distribuigdo acumulada (CDF=F,). Esta ; fungao representa a probabilidade de uma determinada variavel ter um valor igual ou infertor a um valor escolnido, Sendo x 0 valor tomado por uma variavel aleatéria o integral de f,(PDF) é igual Frist a le, em cada ponto x1, a ordenada F, (CDF) representa o integral, a esquerda, de f, (Fig.3 1). Fig. 3.17 FurcSes fx (POF }e Fx (CO) Uma fungdo de densidade de probabilidade (POF) vulgar ¢ a fungao normal ou de distribuigdo de Gauss. Esta PDF pode ser expressa analiticamente, apresentando muitas variaveis naturais este tipo de distribuicdo. A fun¢ao representada na Fig. 3.1 € uma funcdo com distribuigao normal. Outro tipo de varidveis ocorre com uma distribuigdo do tipo “logaritmo normal”. Neste caso a variavel aleatéria x apresenta uma distribuigao normal quando representada num referencial 1og(x) Assoctadas 4 fun¢ao de densidade de probabilidade def inem-se varias grandezas que S40 caracteristicas da forma de dispersao dos resultados: Valor médio ou valor esperado (xm). 0 valor médio corresponde ao centro de gravidade da POF, Varlancia. € dada pelo integral do produto de f, pelo quadrado da distancia ao valor MEMIO Xp. Desvio padrao (6). € igual a raiz quadrada da variancia Coefictente de vartacao (5). € a razdo entre o desvio padrao 6 e 0 valor médio Xm. E adimensional. © coeficiente de variacdo & é particularmente util pois caracteriza, de forma adimenstonal, a dispersdo e correspondente incerteza dos resultados; 80.05 corresponde a uma pequena incerteza, enquanto que 805 significa consideravel incerteza Num proceso envolvendo vartaveis aleatérlas pode existir ou nao uma relacao entre duas ou mals dessas variaveis, Quando nao existe qualquer relacao deste tipo, as variaveis dizem-se independentes, situacao que corresponde 20 caso de mals facil tratamento Quando existe uma relacdo entre as vartavets, estas dizem-se dependentes & surge uma complicagao no tratamento probabilistic dos resultados. Em geotecnta s4o correntes casos de significativa dependéncia entre valores utilizados na def ini¢o do coefictente de seguranca, Por exemplo, a capacidade resistente C de um material com atrito interno depende do esforco interno D criado pelas accdes em jogo e 2 resisténcia C de determinadas argilas e stltes é rungao do seu estado de humidade, dependendo este do nivel freatico, nivel que pode corresponder a uma das ac¢des D envolvidas no calculo. Na engennaria estrutural envolvendo outros materiais, como por exemplo 0 betdo @ 0 ago, ndo existe em geral esta dependéncia entre C e D, 0 que facilita a definigao € calculo de Fs, Contudo hd excepgdes que S40 frequentemente ignoradas por razdes de simplificagao: por exemplo a resisténcia ao esforco transverso C de uma viga pré-esforgada depende do esforco axial D devido ao pré-esforco. Quando a dispersao de uma vartavel ¢ uma funcao aleatoria do espaco e do tempo diz-se que 0 processo € estocastico. £ facil verificar que muitos dos comportamentos dos matertais envolvidos nos problemas de geotecnia se enquadram neste witimo processo. 3.2.2.2 - Teorta da flabtlidade Em qualquer calculo estrutural procura-se minimizar 0 “risco admissivel maximo”. Isto pode ser conseguido utilizando os valores maximos das acces D ou os valores minimos das resisténcias C mas, qualquer destes procedimentos, escapa a um processo racional de andlise de riscos. f(x) f tes) aistribuicio da Soletaceo 0 ‘apacidade C Fs T DmOp* Cp Cm 2 3 factor se segurancal Fig. 3.2 - Probabilidade de falna Considere-se (Fig, 3.2) um valor particular Dp da solicitagao D usado no calculo, e um valor particular Cp da capacidade C. Em geral Dp sera superior ao valor médio Dm @ Cp sera inferior ao valor medio Cy Concretizando melhor 0 conceito habitual de factor de seguranca Fs, dir-se-a que, no célculo assim efectuado, 0 seu valor seré Fs= Cp/Op (32) Pode-se ainda def nir 0 chamado factor de seguranga central obtido da rela¢do entre os valores médios Cm € Om Fsc* C/O - (33) A dela basica subjacente a teorta da fiaptiidade pode ser obtida a partir da observacao das fun¢des de densidade de probabi!idade da capacidade C e da solicitacao D (Fig. 3.2). Se a solicitacao existente ¢ x, entdo existe alguma probabilidade (indicada pela area a tracejado) de que a capacidade resistente seja inferior a x, 0 que implica falha (rotura estrutural). 19 Sendo as distributgdes de C e D independentes entre si, a probabilidade de fatna (C«D,), entre x e x*dx, pode ser representada por: PlxcD com valores médios a altos. Esta apreciacao podera ser constatada numa analise elastica, quando se introduzem todas as acces de uma sé vez (do tipo “switch-on’), Quando se caminha para uma situagao de colapso, e abandonando a andlise elastica, ‘surgem progressivamente plastificagdes e correspondentes migragdes de esforcos (devido a0 aparecimento de deformacées plasticas no suportaveis nos pontos gerados) que alteram significativamente a situacao de estado de tensdo em repouso. Repete-se que o caminho escolhido para a simulacdo do colapso condiciona naturalmente o “mecanismo de colapso", e 0 préprio valor de Fs Calcular o valor de Fs numa situacao de “switch-on” ou numa situacdo de crescimento por camadas, numa escavagao, conduz a valores distintos, Os solos, os enrocamentos e as rochas diaclasadas apresentam, em maior ou menor grau, uma relacao da tensao de corte T com distorcdo & do tipo da representada na Fig.3.14 (por vezes designada de “work-softening’). Quanto matores as rugosidades, ou 0 atrito, mais significativo sera este efeito; em contrapartida, no caso das argilas ele quase desaparece. Fig, 3.14- Comportamento ao corte de materiais nao coesivos. Os dois tipos de analise antertormente referidos, ou ignoram completamente a5 deformacses 8, ou admitem uma relacdo linear entre T e B Estas ases impedem a apreciagao do efeito de propagacae de plastificagao, ou de falna progressiva, obrigando os seus uti lizadores a opcao entre a definig&o da seguranca por atribuicao dos valores de Pico (contra a seguranga) ou dos valores residuats (a favor da seguranga), Perante a necessidade desta ope2o, surgem naturalmente estudos de taludes com seguranca aparentemente ‘gual, mas em situaggo de afastamento do colapso bastante distinta. Algumas sugestOes para resolver esta questo tém sido apresentadas: Skempton (1964) sugertu a introdugo de um factor R de reduc da dimensdo da zona onde se atingem os valores de resistencia residual, Algumas dif culdades supststiram na quantificagao de R, pelo que 0 processo fo! abandonado. Independentemente da introducao de urn comportamento deste tipo nos algoritmos de céleulo, existem algumas conclusdes que s40 significativas para as andlises que se segue: 1- quanto maior 2 tensao normal dy, mator sera a distor¢ao Bp de corte em rotura; 2- a progressao da plastificagao faz-se sob tensdo d, praticamente inalteravel, com imposigao de valores & crescentes até & mobilizagao de uma resisténcia maxima Tp; 3- aresisténcia residual surge por continuacao do crescimento de &. ‘A aplicagao destas conclustes a um caso concreto ¢ tt! para uma analise qualitativa do fenémeno de colapso de um talude. Para o efeito, e uttlizando de novo o talude esquematizado na Fig.3.13 e 0 comportamento representado na.Fig.4.14, suponha-se uma situagao de inicio de colapso, provocada por uma alteragao das condigdes na base do talude (por exemplo, uma escavacao). Nestas condicdes a plastif icagao tera inicio na zona C (base do talude) com a tensdo de corte T¢ a tomar valores iguais a Tpc quando a distor¢ao Be atinge 0 valor Spc. Em seguida da-se a propagago da plastificado para a zona B, atingindo-se aqui o valor T—*Tp_ quando a distor¢4o Bg=Bpg. Neste instante, o estado de deformagao em A é, por necessidade de acompanhar a massa em escorregamento, compativel com os valores de B, pelo que ,=Bg (embora 8, > Bg) 0 que, associado ao facto de Bpg> Bp, implica uma situacdo de passagem a resisténcias residuais em A. ‘A zona central B, onde as tensdes verticais 6, so maximas, sera sempre a zona que suporta maiores tensdes de corte. Portanto, se a propagacao se fizer de C para B, antes de 60 plastificar 8 tera lugar uma plastificagao em A por ultrapassagem dos valores de pico. Nesta zona d, & mais baixo, logo Tp, também o sera , assim comoBp., A zona B sera assim a ultima onde sao mobilizados os valores de pico, ou maximos, da tensao de corte resistente. Logo que estes sejam ultrapassados (em B) dé-se 0 colapso global do talude. Esta analise, necessariamente esquematica, do que se pode passar num escorregamento, foi introduzida com dois objectives; em primeiro lugar, para mostrar a necessidade de utilizar processos de calculo que identifiquem convententemente as zonas plastificadas em situacao de resisténcia residual ou de pico, e, em segundo lugar, para salientar as disparidades entre as andlises de base elastica-linear e as de base elasto-plastica e elasto-nao-linear. Quanto ao primeiro dos objectivos referidos, nao foi feito um estudo que quantificasse a influéncia no valor de Fs da nao consideragao de zonas em situacao de resisténcia residual e de zonas em situagdo de resisténcia perto do maximo. Manfredini (1975) apresenta alguns resultados relativos a maci¢os diaclasados onde demonstra a necessidade de usar 0 conceito de resisténcia “residual-pico’. Igual concluséo é apresentada por Heritier (B.Heritier e C.Plumelle, 1985) a propésito da mobilizagao do impulso passivo de uma areia, Trata-se de casos extremos, de grande sensibilidade a este fenémeno de enfraquecimento por fractura de uma estrutura interna resistente, o outro extremo estara Nos solos com atrito residual nulo, que nao oferecem dividas quanto a def inicao de Fs a partir dos valores maximos (neste caso as coesdes internas). A menos de melhor aproximacao, podera ser sugerida a técnica de estimar os limites da zona B usando aqui os valores maximos da resisténcia ao corte e aplicando no restante dominio as resisténcias residuais. Da breve referencia fetta a propdsito da progressao da plastificacao, até ao colapso de um macigo, € possivel concluir que: 1 0 sentido da propagagao sera sempre das zonas plastificadas (1>p) para as zonas nao plastificadas (10 num ponto isto significa um escoamento plastico Ep (velocidade), com correspondente relaxagao do estado de tensdo 6 nesse ponto, até que F<0. vector escoamento tp nao depende da restante massa do corpo, mas apenas do estado de tensdo no ponto. Em contrapartida, a forma (valor,duragdo) da relaxacao depende da restante massa envolvida Na elasticidade nao linear, e quando sdo ultrapassados em varios pontos os valores de cedéncia, nao se encontra garantida esta unicidade de solucdo (F 0). Suponha-se um estado de tensdo e deformacao simples 0, 7, € e 8 representado na Fig3.16, 67 toa 2 & tgp = 20h) Fig. 3.16 - Modelo elastico bi-linear Tome-se para referéncia 0 modelo bi-linear. Para todos os estados de tensdo tal que T<6tgB +c, 0 comportamento é puramente linear. Para todos os estados de tenséo tal que T2dtga +c, ou seja para F>0, o médulo distorcional G torna-se prattcamente nulo. Se a carga for introduzida por pequenos acréscimos, entao 0 estado de tensdo 6,7, cresce desde 0 valor zero até ao valor de cedéncia que, na Fig.5.16, € representado por A (626, € T=T4). Se, por exemplo, a tensdo de corte aumentar no préximo incremento de carga para Tp, 0 valor correspondente na distor¢ao sera B=, ~ oo Este excesso de distorgao, ou escoamento plastico, ser redistribuido de forma eldstica por toda a estrutura no préximo incremento, até uma eventual convergéncia Contudo, se em vez de pequenos acréscimos a carga for introduzida de uma sO vez, € se isto implicar em varios pontos uma situaggo do tipo B (F»0), a redistribuico correspondente nao garante uma solucdo convergente ou seja a solucdo pode nao ser nica Este facto leva a conclusdo de que nestes modelos deve-se avancar por pequenos acréscimos de carga, ndo sendo de sugerir a reducdo das caracteristicas c e 8 como forma de simular 0 colapso. Dado que em muitos casos de materiais com atrito significativo o crescimento de cargas nao ¢ solu¢do recomendavel para obter 0 colapso, fica prejudicado o so destes modelos, exceptuando-se naturalmente os casos de solos puramente coesivos (B-0), que nao sao sensivets a este comportamento. 68 Saltente-se ainda que estes modelos nao traduzem o facto de em solos arenosos as cargas de colapso dependerem da forma do seu crescimento, e também do efeito dilatante. Contudo, em solos argilosos, com atrito nulo, os resultados obtidos com a elasticidade nao linear serao exactamente iguais aos obtidos com calculo plastico (garantida a utilizacao da mesma let de cedéncia). Outro aspecto que se pode criticar nestes modelos esta relacionado com o facto de eles imporem uma direc¢ao de cedéncia independente do estado de tensdo e que ndo cumpre as leis da plasticidade; nestes modelos a cedéncia plastica ¢ sempre distorcional, com variacao nula do volume plastico. De um ponto de vista numérico, quando as cargas se aproximam da situacao de colapso, 0 uso de valores de G praticamente nulos, em muitos pontos do macico, conduz a dificuldades de resolucao numérica do sistema de equacdes, devendo o proceso de calculo terminar antes de efectivamente se verificar 0 colapso. Este comportamento nao sucede Nos metodos elasto-plasticos e, naturalmente, nos de equtl{brio limite ou nos elasticos, Uma Ultima observacao, de caracter tedrico, deve ser feita no que respeita a utilizacao, em programas de célculo com base elastica, de valores de G quase nulos em simultaneo com valores de K correntes. € que, como os Programas sao elaborados em termos de K e G (para possibilitar 0 seu uso em situacdes nao drenadas), ao fazer G=O é introduzida uma condi¢éo particular que sé tem lugar na. elasticidade do corpo anisotropico. As relagdes entre G, K, Ee v na elasticidade do corpo isotrépico sao: GEMA1+v)) > KeE/I3(1-2v)] (3.34) E=9KG/(3K+G) ; v=(3K-2G)/(6K+26) . (3.35) Fazendo G=0 e K*0 resulta que v=0.5 e £=0. 0 valor v=0S confirma a incompressibilidade volumétrica na cedéncia distorctonal, mas 0 valor E=0 nao é passivel de introdugao no modelo, por dificuldades numéricas. © modelo utiliza um valor K constante e, para v#05, K-00, Esta questdo tem suporte teérico na elasticidade do corpo anisotrépico, no qual sera Possivel conceber um material que ndo ofereca resistencia distorcional (G0), mas que Continue a oferecer resisténcia esférica nao nula (caso teérico do comportamento dos 0 gros sem peso). Por exemplo, nos materials anisotrépicos ém relacao a0 etxo dos 27 € gotrépicos no plano XY (S constantes elésticas), @ possivel introduzir a rigidez distorcional nula nos planos ZY e ZX , sem anular as constantes elasticas Ezz € Ev “Exx (christian e Désat, 1977). 3.45 - Métodos elasto-plasticos Os métodos elasto-plasticos so bem conhecidos, existindo ampla literatura quanto a0 seu desenvolvimento tedrico e pratico, Zienckiewicz ( 1971), Désai ( 1977 ), Smith (1982). ‘S80, conjuntamente com os métodos elasto-visco-plasticos, os mats aperfeicoados para a simulagdo de situagao de colapso em solos com ou sem atrito, por reducao das caracteristicas resistentes ou por aumento de carga. Baseiam-se num comportamento elastico quando o estado de tensdo conduz a uma situado inferior a de cedéncia plastica (F<0) e num comportamento plastico puro quando é ultrapassada a condigdo de cedéncia (F=0). Como sera referido posteriormente, a introdugdo de uma componente viscosa no escoamento plastico permite obter um comportamento mais de acordo com o que se passa na realidade. Entre este modelo designado por elasto-visco-plastico e 0 modelo elasto-plastico existem diferengas, em particular no dominio da formulagao do algoritmo de célculo. Contudo, muitos dos conceitos, tais como de fungao e superficie de cedéncia, comportamento associativo ou nao associativo, lei de normalidade, efeito de dilatancia,etc., sao os mesmos, pelo que eles sero introduzidos apenas a propésito do modelo visco-plastico, mais desenvolvido neste trabatho. Na formulagao elasto-plastica o estado de deformacao € ¢ permanentemente resultante da adicao da deformacao elastica €, com a plasticidade Ep: +E, © de=deyrde, (336) Os incrementos de tensao dg estdo relacionados com os correspondentes incrementos de deformacao dé pela matriz elasto-plastica Dp: d5=Dyp dE . (337) 70 ‘A componente elastica da deformacao esta relacionada com 0 estado de tensdo pela matriz de rigidez elastica D, d5=D, 48, (3.38) dE ,-Dy!d6 (339) ou ainda 46-0, [4€-d€,] (3.40) Por hipdtese (Prandtl,1924), a extensdo plastica dp, quando existir (F20), tera o seguinte valor: GEp=dd 20/36 (lei de escoamento plastico), (3.41) em que Q é a fungao potencial plastico. Na hipétese de comportamento associativo (Q=F) sera dEpedd 9/95, (3.42) em que F é a fungao de cedéncia Durante a cedéncia plastica o estado de tensdo 6 é tal que se mantem a condi¢ao de F(6,n)=0 e nunca de F(6,h)>0. Isto permite afirmar que dF(d, h)=0. Note-se esta diferenca em relacao a visco-plasticidade na qual @ aceite, temporariamente, a situacdo de F>0, até a estadilizacao com caso F>0 se mantenna, tal significa, nao apenas uma plastificacao local, mas sim um colapso global da estrutura. Um caso exemplificativo sera 0 de um bloco, assente numa superficie, ao qual ¢ aplicada uma forga H superior a0 Hiimits (F#0): a junta plastifica e da-se 0 colapso do corpo, com F>0 permanentemente, Regressando 20 comportamento elasto-plastico, e 4 funcao de cedéncia F, fol esta anteriormente escrita como dependente do parametro h: F(d,h)=0. Este parametro, que ¢ func4o do estado de deformacao plastica atingido no ponto do corpo, Introduz na fungdo F a componente de endurecimento (ou enfraquecimento) plastico do material, Se o material é \dealmente plastico, nao ¢ sensivel 4 vartacao de n: aF/dh=0 n Neste caso, @ num comportamento associative, 3 expressao dF(6,n)=0 pode ser expandida, optendo-se (aF/a6)T dd = 0 (3.43) sunstituindo os valores da expresséo 3.39 e 3.42.a expressdo 3.36 de dé, obtem-se: dE=D,71 do + dd aF/36 (3.44) pré-multiplicando por (aF/36)"0, (aF 96)" DgdE = (2F/90 NT DyDy IS + (2F/2)" DyGN(2F/26). (3.45) Como D,0,-' é a matriz identidade, @ atendendo a expressao 3.45, fica: (2F/26)1 Dy GE = (2F/26)T Dy dd (2F/36), (3.46) ou ainda: dd = (2F/26)T 0, de (1/8) (3.47) sendo B = (2F/26)1 D, (2F/26) 0 incremento de tensdo d6, expresso (3.40), pode ser escrito sob a seguinte forma 6 = Dy dE - dd Dy (2F/36) dS = Dy dE ~ (2F/26)1 Dy dE (1/B) Dy (0F/26) (3.48) ou ainda: d6 =[D, - (2F/26) D, (1/B) (2F/26) Dy] dE (3.49) Recorrendo 4 definicdo de matriz Dyp (expressao 3.37) fica assim estabelecido 0 seu valor como fung&o da matriz linear elastica D, e do estado de tensao dé: = [0, - (2F/26T D, (1/B) (2F/26) D4] . (350) Ando linearidade entre tensées e deformacdes é assim introduzida por matrizes cujos coeficientes so as componentes das derivadas de F em relacdo a 6. Sendo k a matriz de rigidez estrutural do método dos elementos finitos o seu significado, nesta andlise elasto-plastica, sera o seguinte K=/BT0,, 8 dV (3.51) A matriz K assim obtida 6 uma matriz simétrica. Contudo, no caso de se ter desenvolvido as expressdes para a situacao de plasticidade nao associativa (Q#F), a matriz K resultante seria uma matriz nao simétrica, com inerentes dificuldades e aumento de custos na resolucdo dos sistemas de equacdes do MEF. No caso mais simples de matriz simétrica, a resolugao do sistema de equacdes nao lineares faz-se por técnicas correntes (Zienkiewicz, Cormeau, Owen,1974) resultantes da aplicagao do método de Newton (B. Démidovitch ,1973, 1.5. e ES. Sokolnikoff, 1941). Uma das técnicas mais perfeitas e eficientes, embora com maior volume de calculo, consiste em corrigir a matriz Dg em cada incremento de carga (método da matriz de rigidez tangente), iniciando-se com uma situagao elastica Dy Os meétodos elasto-plasticos baseados na matriz de deformabilidade Dyp, conforme a expresso 3.50, apresentam dificuldades numéricas em situagdes vizinnas do colapso da estrutura. Nestas condicées as deformacées d& tendem para tnfinito, sob valor praticamente constante de dd. Neste algoritmo de calculo isto significa que a matriz Oy apresentara coeficientes da diagonal principal com valores quase nulos, com potencial erda de rigor numérico na resolugao dos sistemas de equagbés. No caso de se usarem algoritmos baseados na introdugao de correccdes 20 22 membro do sistema de equagdes, trabathando sempre com a mesma matriz Dy (ou seja K=constante), este problema nao sucede mas, em contrapartida, a complexidade da parte plastica da expressdo (3.50) de Dyp implica, ao ser aplicada em cada ponto de Gauss, em sucessivas iteraccdes (em numero necessartamente mutto supertor ao do algoritmo de rigidez tangente), problemas de tempo de resolucao. 3.45 - Metodos elasto-visco-plasticos, 3.45.1 - Qmodelo elasto-visco-plastico © comportamento plastico de qualquer material esta intrinsecamente ligado ao factor tempo. Efectivamente, e ao contrario das deformacdes elasticas, as deformacoes plasticas demoram um certo tempo t arealizarem-se. Este facto, ignorado ao nivel das formulacdes da Plasticidade classica, é considerado nos chamados modelos reolégicos pela introducao do conceito de comportamento viscoso. No caso dos solos, a viscosidade pode ter duas componentes principals, uma associada 3 dissipacdo dos excessos de pressdo neutra por percolacao da agua, @ a outra associada plastificagao do esqueleto sdlido, Esta mostra-se com aspectos distintos conforme se trata de argilas, com particulas laminares de dimensdes microscopicas e ligacdes 20 nivel atémico, ou de areias com particulas esféricas ou angulosas, com contacto de compressao em vez de ligagdo de atraccao. No caso das argilas 0 comportamento plastica, constatado pela existéncia de deformacdes irreversiveis, € determinado pela quebra, por traccdo corte, das ligacdes entre particulas; no caso das areias 0 comportamento plastico resulta, ou das micro-plastificacées das arestas dos graos (pontos onde a tensdo se avizinna da tensao de rotura com correspondente perda de energia térmica) ou das modificagdes estruturais dos gr40s por instalacgo de novos arranjos internos a custa de escorregamentos entre graos (perda de energia térmica) e de rolamento (varia¢o da energia potencial). Esta complexidade de comportamento conduziu ao aparecimento de varios modelos de viscosidade para tratamento dos problemas de solos (Suk! je,1969). A generalidade destes modelos resultaram de associagdes em série e em paralelo de elementos mais simples, procurando relatar sempre o estado de deformacao em fun¢do do estado de tensao e do factor tempo. Um dos modelos mais eficientes no tratamento da plasticidade do esqueleto sélido dos solos, € 20 mesmo tempo um dos mais simples, é o elasto-visco-plastico. Trata-se, conforme a representagdo uniaxial da Fig. 3.17, de uma associagdo entre um elemento elastico, colocado em série com dois elementos em paralelo; um deles representa a 14 resisténcia associada a let de cedéncta (F 20/36 (3.53) Esta formulagdo e outros aspectos do comportamento visco-plastico serao Gesenvolvidos no capitulo seguinte, apenas se apresentando agora o algoritmo de calculo Que resulta da aplicacao do MEF. a esta formula, Refira-se contudo, como critica, o facto de uma formulacao desenvolvida para metats, e nao para solos, ser util1zada em programas ae calcul, 1gnorando-se quase totalmente outras formulacdes de Perzyna que, 2 serem desenvolvidas e aplicadas depois de realizados estudos ¢ ensaios caracterizadores dos parametros propostes, podertam conduzir 2 métodos de estudo do comportamento de solos porventura mais rigorosos. No caso de plasticidade associativa (QF) a expressdo 353 simplifica-se byp = B 2F/96 (354) O pardmetro 8 (parametro de fluidez, de dimensdes t-!), representa a caracteristica de viscosidade do material, A(F) & 2 funcao de escoamento que toma valores de um escalar adimensional, 2F/26 determina, em termos de 61, 62, Ss, a direcgao do vector by, obedecendo aos principios da normalidade entre fp ¢ 0 A-expressdo 3.52 na forma incremental sera: de = d> byp dt (3.55) Substituindo typ pelo valor dado em 3.54, obtem-se: dE = dE—+B (2/26) at (3.56) No algoritmo de calculo desenvolvido por Zienkiewicz e Cormeau, 0 estado de tensdo total dé ¢ relacionado com a deformagao elastica pela matriz Oe, ja que a colocagao em série da mola elastica no modelo da F1g.3.16, solicita esta com a totalidade da tensao dE,= Dy tds. (357) Supstituindo 3.57 em 3.56: GE = Dy1d6 + B (2F/26) dt, (358) ou ainda: dG = D,dE - BK AF) >D, (2F/36) dt (359) ‘A implementagao desta expressao ao calculo pelo MEF. conduzira, em termos gerais, aos seguintes passos: 1- cdlculo elastico das deformacdes d&, para qualquer valor de carga, usando uma matriz de rigidez elastica: K={BT D, 8 dv; 2+ calculo elastico do estado de tensdo 6, em cada ponto de Gauss; 3- determinagao do estado de tensao “correcto” 6" a partir da expressao (3.59), 4- avaliagao dos “excessos” de tensd0 4d=6"-4, e transformacao destes em forcas nodais equivalentes e 5- novo caiculo elastico, sem alteracdo da carga, com a consideracao das forcas nodats equivalentes a AG. Este calculo repete-se, num processo iterativo, sendo apenas necessério controlar o intervalo de tempo dt (ou at) em cada iteracao. Se o processo for convergente tal significa que a ac¢ao, ou carga aplicada, nao conduz a formacdo de “mecanismo” de rotura. Se o proceso for divergente significa a formagao de “mecanismos” de rotura, nao sendo mais possivel dissipar os excessos de deformacdo plastica gerados nas superficies de separacao entre corpos em movimento, Fazendo um crescimento das accdes, ou uma redu¢do das resisténcias, de forma progressiva, o estado para 0 qual a solucao é divergente determina a situacao de colapso. 0 afastamento entre a situagdo actual e a de colapso é a medida do grau de seguranca 3.45.2 - Comparacao com os métodos_elasto-plasticos Embora insistentemente af irmado como método idéntico aos elasto-plasticos (Naylor e Pande, 1981; Owen,1960) 0 método elasto-visco-plastico apresenta caracteristicas que, fas aplicacdes praticas em geotecnta, o tornam mais potente, mats exacto, e mais simples Que os primeiros. Este aspecto é particularmente valido quando se pretende simular o colapso por reducao de resisténctas, ou quando se usam modelos nao associativos (Q#F). 0 método em si poder-se-a tornar ainda numa forma extremamente interessante de estudar o Comportamento de solos e rochas, desde que se desenvolvam as necessérias técnicas experimentals que permitam a caracterizacao dos parametros viscosos e plasticos envolvidos neste modelo (Perzyna,1966), ou em modelos mais complexos ainda nao utilizados em algorttmos de calcula, AS expressdes que relacionam o estado de tensao com o de deformagao nos dois modelos em causa sao, respectivamente, as expressdes 3.49 e 3.59 EPQetesto-pléstico) 46= [0,-(2F/26)"D, (1/8) (2/26) 0,] dé, ou ainda 7 6= Dyp DE EVPtasto-visea-slistca) FO*D,GE-De Bly » sendo Ep = B (2F/26) at ba simples andlise destas formulas facilmente se concluira que € malor 2 complexidade do modelo EP em comparagao com 0 EVP. Efectivamente, no modelo EP 2 resolucao do sistema de equagdes exige, ou as técnicas incrementais da variagao de D, com cada incremento de 6, ou as técnicas iterativas de variacao do vector das forgas nodals em cada intervalo de integragdo. No modelo EVP a técnica usada é também a da varia¢ao do vector das forcas nodais mas, como se constata das expressdes, € de aplicagdo mais simples, n8o $6 porque o célculo de dfyp é mais simples, mas também porque as extensdes plasticas d€yp se transformam em tensdes apenas pelo produto. D,dEvp Quanto aos incrementos, o método EP usa necessériamente incrementos de carga, até 20 colapso, enquanto que o método EVP usa incrementos de tempo (eventualmente ficticios) para uma qualquer situacao de carga, mesmo superior a de colapso. Na simulacao do colapso de macigos em geotecnia, o metodo EP apresenta-se mais dificil de uso, pelo aparecimento de valores muito perto de zero na diagonal principal de Kp (351). No método EVP, e qualquer que seja a carga, 0 resultado tem sempre, estatica numericamente, o mesmo grau de precisao. 0 método EP dificilmente podera ser usado para situacdes ndo associativas (QF), enquanto que no EVP 0 uso de funcées e F distintas nao apresenta qualquer acréscimo de dif iculdade. Este aspecto é particularmente significative quanto ao uso de uma ou outra formulacdo nos problemas de geotecnia envolvendo materiais com atrito interno. Para quem queira testar varias situacdes, com diferentes leis de potencial 0, medindo e corrigindo a dilaténcia plastica, os modelos EVP mostram-se muito mais interessantes. (F=0) ry rf Fig. 3.18 - Representacao de duas situacdes de plasticidade: F>0 e F=0 Na simulagao do colapso nd, a partir de determinado instante, uma percentagem significativa de pontos cujo estado de tensdo conduz a uma situacao de cedéncta plastica 40 tipo representado na Fig. 3.18 pelo ponto 6 (F20). Nos modelos EP(elasto-plastico) esta situacdo nao é permitida (apenas, F0, como também o percurso de regresso de 6 para A est4 determinado de forma untca pela expressao 3.58, sem qualquer problema numérico, Pode até suceder estarem todos os pontos de uma superficie de escorregamento de’ um macico na situacao de cedéncia (F>0), correspondendo neste caso 2 condi¢o de movimento de corpo rigido da massa deslizante, continuando 0 corpo a obedecer as leis da estatica e da plasticidade, Nao ha qualquer problema na solucao desta situagao dentro do algoritmo elasto-visco-plastico. 0a mesma forma quando se pretende simular o colapso por reducao de ce tg@ em F, o numero de pontos colocados na situacao de F»0 é crescente com a referida reducao, nao se gerando, com este facto, aumento de dificuldades numéricas, Todas estas criticas nao invalidam a utilizacZo dos métodos elasto-plasticos. Apenas {indicam que, do ponto de vista da aplicacao a casos concretos, e em particular na obten¢ao do coeficiente de seguranga Fs em geotecnia, sera de aconselhar 0 uso dos modelos elasto-visco-plasticos, Pensando nas possibilidades futuras de caracter!za¢ao rigorosa dos modelos EVP, ¢ até no aparecimento de outros modelos suger!dos por novas tecnicas dé ensaio de solos (F Scott, 1985), com relevo para a obtencdo dos parametros realogicos, estard possivelmente aberto, de novo, o caminno para o investimento clentifico no dominio da aplicagdo dos modelos visco-plasticos aos solos e rochas (G. Katone,1985; Bodner,1975; Hughes, 1978) CAPITULO 4 A DETERMINACAO DA SEGURANGA EM MACICOS DE SOLOS E ROCHAS DE BAIXA RESISTENCIA 4,1 INTRODUGAO A VISCO-PLASTICIDADE Na teorta da plasticidade perfeita 0 conceito de fungao de cedéncia F esta associado a duas situagbes possiveis e extremas: 2) F«O, significa que o estado de tensdo determina uma situa¢ao de ndo plastificag3o, que implica para o material (no ponto a que se refere o estado de tensao) um comportamenta indeformavel (caso rigido-plastico), ou um comportamento elastico (caso elasto-plastico); b) F*O, significa que 0 estado de tensdo provoca uma situa¢ao de plastificacao com 0 aparecimento de vectores de velocidade de escoamento plastico determinados totalmente pela teoria da plasticidade (leis assoclativas ou nao associativas é principto da normalidade). Qualquer situacdo do tipo F>0 nao tem existéncia possivel dentro da plasticidade perfeita. Os fendmenos sdo, tal como na elasticidade, instantaneos. Em contrapartida, na visco-plasticidade os fenémenos nao sdo instantaneos, demoram tum certo tempo a ocorrer. De um ponto de vista teérico demaram até tempo infinito realtzarem-se, s6 que, na pratica, a quase totalidade das deformacses d-se num curto espaco de tempo, A funcao F=0 ndo ¢ f xa ou seja, para um determinado estado de tens#o So o limite de cedéncia € funcdo de d=d e a fungao de cedéncia sera FeFo*0; para um 81 82 acréscimo AG do estado de tensao a situacao podera ser temporariamente: F=Fo?0 (plastificagao que, num modelo isotérmico, implica perda de calor). Se F estabilizar em valores F#F920, tal significa que o aumento da tensdo A6 provocou © colapso, nao apenas do elemento de volume em andlise, mas sim de todo 0 corpo Corresponde a esta situacao 0 aparecimento de um comportamento cinematico para os deslocamentos plasticos (massa em deslizamento). No caso contrario, e ao fim de um determinado espaco de. tempo t significativo, a situagdo regressa de novo a F=Fos0. Duas explicagdes possiveis sdo dadas para este comportamento: 1- A fungo de cedéncia “endureceu’, de forma crescente com a produgao de trabalho plastico (A Ox€p). Neste caso a nova fun¢ao FF )>Fo assegura de novo, e para o estado 6269+, a situacao F=F <0 2-0 estado de tensdo local relaxou passando de novo a 6=o. Tal s6 é possivel se as tensdes plasticas geradas pelos escoamentos plasticos, no ponto em questdo, forem absorvidas em regime elastico pelo restante material do corpo. Para sucessivos acréscimos de carga, a situac3o | repete-se até um limite de reststéncia determinado pela fungdo de cedéncia limite F=f. O material diz-se plasticamente endurecido (work-hardening) mas, a partir daqui, qualquer acréscimo de tens2o provoca uma situagao plastica no regressivel (a menos da formacdo de comportamentos do tipo 2), atingindo-se entdo 0 colapso. Para crescimentos de carga simples (Isotrépicos), e para materiais de endurecimento tsotrépico, 0 colapso determinado pela hipdtese 1, com FeFuy, ou pela hipdtese 2 com FeFym, conduz a resultados finals idénticos, embora as curvas forgas-deslocamentos sejam distintas. ‘A simulacdo do comportamento de materiais plasticamente viscosos por modelos mecénicos (susceptivets de tratamento numérico) exige, como se vera posteriormente, um Conjunto de def inigdes base como sejam: fungao de cedénciaF, lei de escoamento plastico, fungao potencial plastico Q, comportamento associativo ou nao associative. Depois de escolhidas as leis que melhor caracterizarao 0 material em estudo, ha necessidade de atribuir valores aos parametros intervenientes nas referidas lets. 83 © mator volume dos trabalhos desenvolvidos no ambito da visco-plasticidade refere-se a matertais que, como os metals, nao mostram atrito interno na fase plastica e que, nesta tase, apresentam coef icientes de Poisson Iguats a 0.5. Neste dominio so particularmente importantes as investigacdes feitas por Perzyna ‘Acextrapolacao das conclusées experimentais, ¢ de toda a formulagao desenvolvida nos metais, para matertats com atrito e com caracteristicas elasticas E ¢ H variaveis com 0 estado de tensdo 6, conduziu a um elevado numero de novos problemas por vezes nao comprovados experimentalmente, Sdo as questdes de controle da ditatancia ¢ contracgao plastica, de dependéncia do tensor estérico das tensées, do tratamento do estado plano de deformagéo, do endurecimento anisotrépico, da adaptagao a ensaios triaxiais, da separaao entre a viscosidade de consolidacao e a viscosidade plastica, da dependéncta da lel de cedéncia escolhida, etc. A aplicacao das conclusdes de Perzyna (1964 e 1966) 20 método de andlise linear dos elementos Tinitos (MEF) fol feta iniclalmente por Zienkiewicz @ Cormeau (1972, 1973, 1974) tendo conduzido @ bem corhecida formulacao elasto-visco-plastica (solugao nao linear), A partir de ento, tém-se multiplicado ds trabaihos e publicagdes a este respetto: Nayak (1972), Humpheson (1975), Zienkiewicz e outros (1975), Hughes (1978), Naylor (1978), Owen (1978), Pande (1979), Katona (1983). a andlise destes e de outros estudos no dominio da plasticidade em metais e em solos, podem-se reter algumas importantes conclusées que serviram afinal de base a0 trabalho agora realizado, no dominio dos solos: = pouca atencao ¢ dada a simulacao de situagdes de colapso; nao se encontra estabelecido um critério de simulacao de colapso com vista a avalta¢do da seguranca, em particular nos solos com atrito e enrocamentos; - existe alguma confusdo na caracterizagao de algumas leis de cedéncia, = n&o esta bem esclarecida a forma de modelar o estado plano de deformacoes em plasticidade, em particular no que respeita ao uso de fungdes F tri-dimensionats (3D); sb esta parcialmente comprovada a sensibilidade ao coeficiente de Potsson das solugdes plasticas 3D em situacdes 2D; = parece existirem conclusdes erradas sobre o resultado da aplicagao de algumas leis da plasticidade a solos com atrito (ex de Drucker-Prager), eventualmente por deficiente andlise da situagdo simulada no calculo (alguns artigos n3o s40 muito claros a este respetto); 84 = poucas contribui¢des existem no dominio da formacao de “bandas de corte’, e nao de ‘superfictes de escorregamento, nos solos com atrito € _ maior atengao tem sido dada os problemas matematicos e numéricos (exemplo: estudo de convergéncias, resolugao de sistemas nao lineares, etc), em desfavor de questdes do comportamento mecanico com forte interferéncia no resultado pretendido. Nao obstante esta lista de problemas por resolver, os métodos geralmente designados por elasto-plasticos e, em particular, os elasto-visco-plasticos, mostram-se como 0s mais promissores no dominio do estudo da resisténcia Ultima dos solos. A este respeito sallentam-se ainda os trabalhos dos seguintes autores: Naghdi (1969), Dimaggio (1971), Nimitchai (1977), Corradi e Gioda (1979), Desai (1985), e o relatério “State of the Art do XI ICSSMFE (Murayama, 1985), 42 - CONSOLIDACAO E PLASTICIDADE DE UM SOLO 42.1 - Generalidades: Sendo 0 solo caracterizado pela existéncia de 3 fases: a sdlida, a liquida e a gasosa, é possivel associar a cada uma destas fases a correspondente medida do seu estado de tensdo (tensor das tensdes) e relaciona-las com o estado de tensdo total. Assim, designando por 6 0 estado de tensao total num ponto (caracterizado pelas tensdes principais: 64,62,63), por 6° 0 estado de tensdo intergranular da fase solida, por w a pressao na fase liquida, no mesmo ponto, e desprezando a pressdo na fase gasosa, ter-se-a: B= Poct-U*Pois (41) em que p é 0 tensor das tensdes totais, Pocr & 0 tensor das tensdes octaédricas ou esféricas e ppg 6 0 tensor das tensdes de desvio ou tensor distorcional. Designando por Scr 2 tense octaédrica total, que corresponde 20 primeiro invariante do tensor das tensdes, ter-se-a também: Socr*(51*6263)/3 (42) 85 lor 0 0 ler-doc 0 0 Pocr=|0 ocr 0 | + Poss=/0 2-Scct (43) 10 0 Sex, 0 0 65-Socr| Designando agora por 6'gcr @ tensao octaédrica de contacto efectivo entre 08 gros (6'ger=ocr-t), € Por P'ocr 9 correspondente tensor, o estado de tensao em cada instante, num dado ponto, pode ser completamente caracterzado por: - tensor das tensdes 6 da fase sOlida: p'=D’ocr*P'ois = tensor das tensdes da fase liquida: 5, em que 6 é 0 simbolo de Kronecker - tensor das tensdes totais 6 pepe Quando se aplica uma qualquer ac¢o sobre um solo saturado, este sofre um aumento AG do seu estado de tensdo total, sendo sempre: Ad=Ad'+Au. No instante da aplicagao da accdo sera AG=Au, ou seja, 46°=0, @ a0 fim de um tempo infinite sera Ad=A6", ou seja, ‘Aus0; diz-se ento que 0 solo sofreu uma consolidacao por reducdo de volume devido ao escoamento, por percolacao sobre pressao, da fase liquida 0 fendmeno de percolacao sé termina quando na fase liquida se atinge um estado de tensdo hidrostatica: u=0 Como a resisténcia ao corte (ou as tenstes de desvio) resulta apenas da resisténcia da fase solida (coesdo inter-particulas e atrito inter-granular) e, como esta depende do estado de tensdo estérico ou octaédrico no contacto inter-granular, € usual designar-se por tensdes efectivas as tensbes 6", e por tensdes neutras 0 valor de u. Sendo assim, no instante de aplicagao de uma acco a um solo saturado, a resisténcia ao corte reduz-se a zero Ou, quanto muito, ao valor da coesdo inter-particulas (6'=0) e, quando a dissipagao do excesso de pressdes neutras Au for total, a resisténcia ao corte regressa ao seu valor potencial devido ao atrito, © proceso sera um pouco diferente no caso de ja existir um estado de tensdo efectiva ‘a no instante da aplicagao da carga pots neste caso, € a menos da formacao de gradientes hldrdulicos destavoravels, a resisténcia ao corte nunca baixara do valor potenctal correspondente a 6'p. Também sera diferente comportamento no caso de solos nao 86 saturados, pots aqui o aumento de pressdo Au na fase liquida no € atingido no instante zero, podendo até nunca ser atingido, e sendo sempre AU

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