Publicado pela primeira vez na Frana no ano de 2003, e recentemente traduzida
no Brasil, o livro Regimes de Historicidade: Presentismo e Experincias do
Tempo, do historiador francs Franois Hartog, se apresenta ao pblico brasileiro carregando consigo a responsabilidade de j ser considerado uma leitura indispensvel para os atuais estudos da historiografia. Isso se deve tanto pela sua contribuio em oferecer instrumentos conceituais para uma reflexo sobre as dimenses temporais e os chamados tempos histricos, quanto no que se refere s suas discusses acerca do tempo presente. A produo acadmica do autor, em boa medida, encontra-se articulada sob o intuito de evidenciar a dimenso temporal que seria inerente no apenas escrita histrica, mas, tambm a todas as relaes humanas com o tempo. Para Hartog, central a ideia de que estas relaes sejam mediadas pelo que ele chama de regime de historicidade: categoria analtica construda pelo historiador que serviria para caracterizar uma "maneira de engrenar passado, presente e futuro ou de compor um misto das trs categorias, a maneira como um indivduo ou uma coletividade se instaura e se desenvolve no tempo". O
conceito de regime de historicidade, eixo central do livro, se define como
o modo de articulao das trs categorias do tempo (passado, presente e futuro) em uma dada sociedade e contexto histrico. No se apresenta direta ou explicitamente na linguagem das fontes; antes uma construo terica com uma funo heurstica de ajudar a melhor apreender, no o tempo, todos os tempos ou a totalidade do tempo, mas principalmente momentos de crise do tempo, aqui e l, quando vm justamente perder sua evidncia as articulaes do passado, do presente e do futuro O autor elabora um percurso intelectual que lhe caracterstico: pensar a contemporaneidade a partir das idas e vindas entre os antigos e os modernos. O autor revisita desde as sociedades aborgenes das ilhas do Pacfico, passando pelos gregos, os renascentistas e os herdeiros da revoluo francesa, at chegar s crises do tempo do sculo XX que culminaram na queda do muro de Berlim. nesse percurso historiogrfico que a noo se estabelece, e no como uma obra terica sobre um conceito explicativo.