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Rejan Rodrigues Guades** Sheila Regina Profice** Elenice de Lima Costa** José Fernando A, Baumgrat Haroldo Cavalcante de Lima** Trabaiho aesenvowvido para a discipline de Etnobotinicado Curt de Pir Graduagio sm Botiniea do Museu Nacional do. Rio de ‘ane ~ UFRJ apresentado no Congreso Tnternacional sobce Pucoterapin Fotcorie, Transes Rituais « Terpscoretranceterapia ® ‘no XXXVI Congreso Nacional de Botanica, ** Biblogos 0 Jordim Botinico do Rio de anoiro 0 bolustas da CNPq. Rua Pacheco Lede, 918. CEP. 22460 ~ Flo oe Jenviro aL Plantas utilizadas em rituais afro- brasileiros no Estado do Rio de Janeiro — um ensaio Etnobotanico* ‘So relacionadas 51 espécies botinices peles denominacées poputeres utilizedes nos ri- tuais afro-brasileiros na cidade do Rio de Janeiro, acompanhadss de dados retetivos & regiéo de origem, 3 morfologra, a0 uso nas diversas atividades populares e, quando pos- Sivel, também 20 habito e 3 distribuiedo no Brasil. Os problemas encantrados na meto \ologia adoteds para a realizagéo deste estudo sao discutides. Introdugao Freqiiertemente so encontradas re feréncias, escritas ou foladas, quanto 3 utilizagdo popular de determinadas plan- tas em receitas @ cerimonias para cursr doencas, atrair sorte, espantar “mau-olha- do”, aumentar 0 vigor sexual, entre mui- ‘as outras stribuigdes. Essas plantas, com seus supostos poderes magicos, sd0 impor- tantes elementos nas atividades popular mente denominadas “simpatias” — que encantram acolhids e credulidade em di versas camadas sociais — e nos rituais re- ligiosos afro-brasileiros. uso mégico das plantas — ou “er- ‘como sio designadas de um modo geral no Brasil — parace estar relacionado 4 heranca cultural dos africanos, sem que hhaja, necessariamente, um compromisso religioso por parte de quem as utiliza. Segundo ALBUQUERQUE (1981), no séc. XVI, com a implantaeéo da agro: manufatura do agticar, 0 escravo africano chegava a0 Brasil através de trocas com 0 reinos de Mali e do Congo. Aportaram ‘aqui representantes de dois grandes gru- pos lingGfsticos que posteriormente cons ituiram as nagdes do candomblé: 0 su- danés iorubas, jejes, haueds e minas) ‘9 banto (angola cambindas). Durante @ etapa colonial surgiram vé- riog movimentos de resisténcia negra, sen do © chamado sincretismo religioso um dos que objetivava preservar a identidade social dos africanos. Através da reinter- pretagéo de doutrina catélica, os negros simularam uma conversSo a0 catolicismo , aparentando serem menos ameacado- res, mantiveram seus rituals originals AL. BUQUERQUE Wb) (© mundo espiritual nas religides de corigem africana € construido, além da Trindade Divina, pelos seguintes orvxds: ‘Yemanjé, Xeng6, Ogum, Oxéssi, Yanss, ‘Oxum, Omulu, Exu e Ossayn. Este Glti- mo ¢ considerado 0 dono das folhas e 98: rio da medicina, recebendo, na Africa, o nome de Ossanyin, na Bahia, o de Ossle, ‘Ossaim ou Ossanha ¢ no folclore brasi Ieiro 0 de Caipora (PORTUGAL, s/data). Ossayn &0 orixé que indica as folhas €¢ ervas prOprias para curas medicinais © magicas das doengas. Material e Métodos coletado de duas formas distintas. Uma parte foi proveniente de excurséo a0 Par- que Nacional da Tijuca, acompanhados ppelo Sr. Francisco Goncalves da Silva (0 "Chico Birosca’, como 6 conhecide no bairro carioca do Horto}, mateiro apo- sentado do Jardim Botinico do Rio de Jansiro, paldesanto, filho-deOssayn, Rodrigudsla, Rio de Janeiro, 37{63) 39, Juho-Der 85 ligado & umbanda popular do Rio de Ja nieiro — que CACCIATORE (1977) det ‘ne como resultado do sineretismo entre ‘a macumba primitiva, catolicismo, espit tismo kardecista e ocultismo. Esse mat rial foi herborizado, determinado e inclur- do ne Herbério do Museu Nacional do Rio de Janeiro (ANEXO), acompanhado de dados relativos aos seus poderes mégi- 008 fornecidos pelo paide-santo. ‘A outra parte do material botdnico foi adquirida em casas comerciais especia- lizadas em artigos de umbanda e foi igual mente acompanhada de dados fornecidos pelos vendedores, complementando des ‘ta maneira as especificagdes contidas nas ‘embalagens de papeldo que acondicionam © produto, Esse material foi igualmente ddoado a0 Museu Nacional do Rio de Ja Aristolochia spp. ¢ Phyllanthus sp. foram apenas citadas pelo referido mi 10, nfo tendo sido entretanto coletadas. Encontram-se porém listadas com base em informagées colhidas anteriormente ‘com outros mateiros. (Os dados relatives a0 uso dessas plan: tas na medicina popular foram obtidos com © proprio pei-de-santo © também a partir da compilagdo dos trabalhos de HOEHNE (1920), CRUZ (1965) e PIO CORREA (1926-78) © quando relativos A distribuigio geogrética partie das obras de FALCAO et al. (1977), KUBITZKI (1971) © SCHULTZ (1943) e consultas ‘20 herbério do Jardim Boténico do de Janeiro (RB). Na uniformizago dos termos afro: brasileiros utilizamos | CACCIATORE (1977). Resultados Relacionamos a seguir, pelas designs: Bes populares, as plantas estudadas, acompanhadas, respectivamente, por seus ‘nomes cientificos, familia a que perten ‘com e por dados relativos 3 morfologia, ‘rigem, uso nos rituals afro-brasileiros € nas diversas atividades populares. Quando ossivel sio também fornecidos dados re- lativos 20 hébito e & distribuiedo no Brasil + Abreccaminho = Lygodium volubile Sw. (Schizaeaceze. Planta dedicada a Oxéssi, Ogum e Exu, sando os seus fragmentos utilizados nos diversos rituais objetivando, segun: do a crendice, “endireitar a sorte” do praticante e resolver seus problemas. Planta escandente conhecida popular~ ‘mente por samambaia. Trata-se de es pécie nativa, com ampla distribuigzo Ro Brasil e facilmente encontrada no Ric de Janeiro, crescendo nas matas de encosta Agua-de-colénia Alecrimde-cheiro ficinalis L. (Labiatae). Planta dedicada a Oxalé. Suas folhas so queimadas em defumadores para atrair boas vibragGes, afastar as més e purificar os ambientes eas pessoas. Es- ta expécie € vendida nas lojas especiali- zadas em artigos de umbanda, Arbusto de flores azuis, raramente ro- x25 ou alvas, origindrio da Europa ou Mediterraneo, € cultivado, segundo PIO CORREA (ib.), para uso casero, fem qualquer terreno seco e exposto a0 sol. Possui propriedades medicinais amplamente difundidas e 6 considera: do excitante e ténico. Suas folhas e se rmentes possuem leo essencial usado ra perfumaria e na medicina popular contra flatuléncia. © ché das fothas 6 indicado para dores de estimago, di gestdo dificil, tosse, asma, bronquite, clorose, inapeténcia, nevraigias, parali- sias, infecoGes de rins e bexiga, histeria @ nervosismo; sob a forma de banhos 6 sada contra reumatismo e sob a for- rma de injeges no tratamento da leu- corréia, Alevante = Mentha piperita L. (La biatae) Planta dedicada 2 Oxalé, Xangé ¢ Exu, ‘Suas folhas s80 queimadas em defurna- dores para atrair fluidos benéficos. Esta erva de flores violéceas, proceden- te da Inglaterra, é cultivada no Estado do Rio de Janeiro e vendida nas lojas de umbanda, Na medicina popular & utilizada em chés contra tosses, asma, cblicas de origem nervosa, perturba. ‘Ges estomacais, dor de cabera, célicas intestinais, hepéticas e nefriticas; 6 também um verm(fugo brando. O uso externo, em forma de fricgio, & feito no combate a0 reumatismo. Alfezema = Lavandula Chaix. (Labiatae), Esta espécie ¢ utilizada para defumar ambientes e pessoas. Apresenta haébito subarbustivo, com flores azuis ou vio: letas, sendo bastante aromética. € ori sindria da regio mediterrénica e, co mo as duas plantas anteriores, muito cultivada para uso doméstico, sendo também encontrada nas lojas de um- banda. Suas flores secas retém por muito tem- po seu odor e por processo de destila vvoja Erva de Oxum, Rosmarinus of officinalis G0 fornecem éleo aromético de gran- de importincia pare a industria de per fumaria. Na medicina popular 6 usado como estimulante do sistema nervoso. Alho = Allium sativem L. (Liliaceae). Os bulbithos — ou dentes, como sfo opularmente chamados — so utiliza- dos em banhos de descarrego e mundi- almente na eulindria So vendidos nas feiras livres e em lo- jas de umbanda, Essa pequena erva, de folhas lineares e flores alvas ou avermelhadas, 6, prova- velmente, originéria da Europa, embo- ra 0 Oriente seja tembém apontado co- mo sua regiéo de origem. Os bulbithos, isolados ou screscidos de outras subs. ‘ancias, $30 indicados como sudorife- ros, febrifugos, diuréticos, antiasmsti- igripals, além de eficazes hipo- Uteis’ nas dores de ouvido, prisdes de ventre, afecgdes nervosss, paraliticas e reunéticas. Usado externa 2 internamente. Aperta-tudo = Sob esta designacio fo: ram encontradas tras espécies nativas de Piperaceae, a saber: Piper gaudichaudisnum Kunth., P. mollicomum Kunth. ¢ P. truncatum Vell ‘As folhas sZ0 utilizadas em banhos de ‘amaci. Planta dedicada a Xang6. P. gaudichaudianum é muito freqiente ne municipio do Rio de Janeiro, nas restingas e matas de altitude. Ocorre desde Alagoas até Santa Catarina e ca- racteriza-se por ser planta adpresso-es- trigosa, P. truncatum ocorre em locais sombrios, om altitude, nos estados do Espirito Santo e Rio de Janeiro, carac- terizando-se pelas folhas nitidamente assimétricas. P. mollicomum € um ar- bbusto de folhas multinérvess, com pé- los velutineos tipicos. Ocorre desde Pernambuco até Santa Catarina, nas rextingas, regides de altitude e beira de estradas ou matas, Na medicina popu- lar, esta espécie € considerada exci tante @ estomética, sendo as raizes usa: das como desobstruentes, Arrebenta-cavalo = Solanum sp. (Sole: rnaceae) Planta dedicada a Exu e Obaluaié, ut: izada em banhos de descarrego do pes- ‘coro para baixo. Este género, representado por ervas @ arbustos, tem em Solanum aculeats simum um exemplo de seu difundido uso do combate as moléstias cutdneas 208 edemas dos membros inferiores. Rodriguésia, Rio de Janeiro, 37(63) $9, Julho-Dez 8S ‘Seu uso" indiscriminado pode ser fatal. Arruda = Ruta sp. (Rutacese) (Os ramos ¢ folhas so usados om ba- hos de descarrego nos filhos do Cabo- clo Arruda, além de serem usados em simpatias para afastar mau-olhado. Seu leno € aproveitado na confeccdo de figas € amuletos protetores capazes de neutralizar feitigos, quebrantos e mau: colhado. Encontra-se com facilidade nas feiras livres e nas lojas de umbands, Este subarbusto com flores amarelas e ‘odor desagradavel ¢ originério do Me- iterraneo e 8 crenea em seus efeitos milagrosos @ difundida desde a Idade Média na Grécia e Roma. Na medicina popular & considerada es- timulante, emenagoga, vermfuga, anti- reumética, além de ser usada no’com- bate & clorose, paralisias, nevralgias, in continéncia urinéria e ‘fletuléncia. A existéncia de princ{pios venenosos faz com que seu uso seja cauteloso. Assa-peixe = Vernonia scabra Pers. (Compositae). 0s ramos e folhas compéem os banhos de descarrego, Este arbusto, nativo, tem ampla distri- buieZo no Brasil sendo encontrado em descampados e capoeiras. Possui flores alvas, perfumadas ¢ 0 mel resultente de sua florago & considerado de alto valor medicinal + Azougue-de-pobre = veja Panactia + Benjoim = Styrax benzoin Dry. (Sty racaceae) E utilizada em defumagdes contra ma- ia negra e para “limpar"” ambientes e pessoas, sendo vendida nas lojas espe- Cializadas em artigos de umbanda Este arbusto, origindrio da Sumatra, tem o uso de sua resina bastante co- ‘nhecido na medicina popular. Canela-de-vetho = Vanilosmopsis capi tata Sch, (Compositae). Esta planta 6 dedicada a Obaluaié. Tem hébito arbustive, ramos pilosos « flores alvas dispostas em paniculas. E uma espécie nativa, proveniente de Minas Gerais @ Bahia, subespontinea no Rio de Janeiro e encontrada espe: cialmente em solos arenosos, + Cansagé0 = veje Urtiga. + Chapéudecouro = Enchinodorus sp. {Alismataceae). Planta utilizada para afastar mau: olhado, Erva de hibito submerso, flutuante ou emergent, com flores pequenss. As espécies deste género so usadas contra reumatismo, artrte, sifilis, do- lencas de pele e figado; a elas s80 repu: ‘tadas propriedades diu'éticas, desinfla- rmatérias, depurativas e tonicas. € ven:

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