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MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA (1848) Seguido de Gotha Comentarios @ margem do Programa do Partido Operdrio Alemdo por Karl Marx (1875) ~Eclecdio L&PIM Pocket - Leituras afins: 10 DIAS QUE ABALARAM O MUNDO — JoHN REED (VOL. 295) ANARQUISTAS — VOL. 1 — A idéia — George Woodcock (vol. 273) ANARQUISTAS — VOL. 2 - O movimento — George Woodcock (vol. 274) | A ALMA DO HOMEM SOB O SOCIALISMo — Oscar Wilde (vol. 312) } A LIBERDADE DE IMpreNSA — Karl Marx (vol. 176) \ Marx - Vipa & opra — José Arthur Giannotti (vol. 245) A PROPRIEDADE £ UM ROUBO — P-J. Proudhon (vol. 84) TEXTOS ANARQUISTAS — Bakunin (vol. 157) Deo. MOBERNA £ SOCIALISM UT oA ce Aw Py “hey Loge forte trp, who conepes” bel ds bund A CONPRUCHD DS Miviha yoy? wands dae den fii. ToyG am fa LMS Eat £8 ber ELEMENTS 5) LANL ~ ob la « Antti ly or peuftcadt Ae iwc el, ey {Cte —- fo born Tiin gue Tp hy, Ailiea oop et foe cs” nw A Orlin ¢ he an player tree 7 rast re Comumes 6 nye mo testbed 1 a fi ctil We while} (mpecceael) 5 vost 2 Age Corn Lohner s fan h. ves : bene la tse « ower des Lol mH MyvrToioa ofan t he Fatt fa, joi EFMBAVG , A} Z ~ Banna v Pages Q Toole. a WHENTIR «6 haven Karl Marx & Friedrich Engels fe DR LUTE Be PRALET © FT r aA Ba CRS U EAR KO & Momeni Bane@as » Qtaar Melis Cagater ne 6. gowdcien rf af ae &. hi UT Ka A DETTM CES Pay goace t Cary ives TONTTRUPEs t Das Sina TO DO PARTIDO COMUNISTA (1848) ayevne 8 a pope ap PACES Revoby he sihttge.n wa . iv PARBIA ¢ i : ido de dere vale ae Segu do PROER, "UR RAND? "sedi CRaricaliragds o¢ ‘s fede yoy ha Setrvaer pa ROPE a “Clewk a “Ranieauie 2 DS CONE RON TOS INTEC iceect fies J Comentarios d margem do Programa do Partido Operario Aleméio por Karl Marx (1875) Tradugao de Sueli Tomazini Barros Cassal 2 Ceo) cod wl Weare uns, Jot CsTer con digoe se [G CARE Rees De Guede pel REGIMES “JoGatiryes™ 9¢ ESTE Cuacage, %4 Pacrerg vary} Re Ao TE veg VENGuRDA cf Cons Ta veae DE uma elon TON PERSE oo Cerra aadnea, € CRESCE &§ MECETO KOE DE VM A Ven vuamon (BIT, a pbipeca) @ let, & PRON ICES « vars Seid, @ ON Sioe Cancak (Corornda Ee “peece 114) A Md wNNVISTA www.lpm.com.br po Pos A 6S Freee P Penee Pees € HAMAR &PM POCKET Vet PRO gRAMA . 1 B Ge San BSE eurerics, UMA Eene 5 Oo PRadRE MA evry ea? , ler op Sane NCKPE ADs Ge tag DE TRavices PN TRY ENCES é : An FRapers Lo pe Colecdo L&PM Pocket, vol. 227 Primeira edigao na Colegao L&IPM POCKET: maio de 2001 Traducao: Suely Tomazini Barros Cassat Capa: Ivan Pinheiro Machado Hustragdo da capa: Chapiro ~ Marx e Engels na redagiio da Nouvelle Gazette rhénane (Museu Marx e Engels — Moscou). Revisdo: Renato Deitos e J6 Saldanha ISBN: 85.254, 1124-8 M392m = Marx, Karl, 1818-1883 Manifesto do partido comunista / Karl Marx / c/ Friedrich Engels; tradugao de Sueli Tomazzini Barros Cassal. -- Porto Alegre: L&PM, 2001. 132 p. ; 17 cm -- (Colegio L&PM Pocket) 1. Marxismo. 2. Socialismo Marxismo. 3. Engels, Friedrich, 1820-1895. I. Titulo. IL Série. CDD 316.26 32.000.141.82 Catalogagio elaborada por Izabel A. Merlo, CRB 10/329. © L&PM Editores, 2001 Todas os direitos desta edi¢3o reservados 4 L&PM Editores Porto ALecRE: Rua Comendador Coruja 314, loja 9 - 90220-4180 Floresta - RS / Fone: (0xx51} 3225.5777 informagées ¢ pedidos: info@Ipm.com.br www.lpm.com.br lmpresso no Brasil Primavera de 2004 EM BUSCA DOS AMANHAS QUE ENCANTAM Marx e Engels escreveram o Manifesto do Partido Comunista em 1848. Nele, retratam 0 assombroso desenvolvimento da burguesia e sua luta com o proletariado emergente, que germi- nou em seu préprio bojo. Essa Juta previa um final feliz: a derrocada da burguesia € a entronizacao do proletariado. Quem nao ouviu falar da “ditadura do proletariado”, etapa neces- sria para se atingir a sociedade sem classes? “Entre a sociedade capitalista e a socieda- de comunista, hé o periodo de transformagéo revolucionéria da primeira na segunda. A esse periodo corresponde também um periodo de transi¢&o politica em que o Estado nao podera ser senio a ditadura revoluciondria do pro- letariado.” (Critica ao Programa de Gotha.) Marshall Berman, em Tudo que é sélido desmancha no ar, destaca que, além da luta de classes, 0 Manifesto Comunista faz 0 elogio da burguesia! No texto do Manifesto, nota-se que se estd no limiar de um novo mundo. O capital, aliado a incipiente revolugio tecno- cratica, comega sua caminhada vitoriosa, fre- nética, insaciavel, levando de roldao homens e fronteiras. “O revolucionamento permanente da pro- dugao, o abalo continuo de todas as categorias sociais, a inseguranca e a agitacéo sempiter- nas distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Todas as relagGes imutdveis e es- clerosadas, com seu cortejo de representacdes e de concepgées vetustas e veneraveis se dis- solvem; as recém-constituidas corrompem-se antes de tomarem consisténcia. Tudo 0 que era estavel ¢ sdlido desmancha no ar; tudo o que era sagrado é profanado, e os homens so obri- gados a encarar com olhos desiludidos seu lu- gar no mundo e suas relagGes reciprocas.” (Ma- nifesto do Partido Comunista.) Marshall Berman nao hesita também em classificar o Manifesto Comunista “como a pri- meira grande obra de arte modemista”. Com efeito, outros manifestos seguiram-se ao Mani- festo Comunista, exaltando as multidées, o tra- balho, a modernidade e 0 maquinario, como o Manifesto Futurista, de Marinetti, em 1909. Esses manifestos repercutiram também em nos- so meio. Oswald de Andrade, em 1928, escre- veu 0 Manifesto Antropdfago, que é a pregacao de uma utopia: a sociedade tecnocratizada, o 6cio, o matriarcado e a idade de ouro, como bem destacou Haroldo de Campos. 6 Hoje, depois do colapso que sofreram os sistemas totalitaristas explicativos do século XX, pode-se ler o Manifesto Comunista nessa diregao. A famosa passagem, que transcreve- mos a seguir, sobre a perda da aura, do halo, que incide, a partir do desenvolvimento da burguesia, sobre as mais diversas profissGes, tem ecos na “perda da auréola”, que Baudelaire destina ao poeta, doravante destinado a lidar com 0 lado esptirio da sociedade. Também ecoa na concepgao de Walter Benjamin, que impu- tou Aera da reprodutibilidade técnica a respon- sabilidade pela “perda da aura” dos objetos na sociedade massificada. Mesmo se Benjamin foi influenciado pela mistica judaica no que toca especialmente a esse ponto, é interessafite no- tar a circulagio dos conceitos de Marx e de Engels nesses diferentes autores, que marca- ram a literatura do século XX. “A burguesia despojou de sua aura todas as atividades até ent&o consideradas com res- peito e temor religioso. Transformou 0 médi- co, 0 jurista, o padre, o poeta, o homem de cién- cia, em assalariados por ela remunerados. A burguesia rasgou 0 véu de emogao e de sentimentalidade das relagdes familiares e re- duziu-as a mera relagaéo monetaria. A burguesia desvelou que as demonstra- goes de brutalidade da Idade Média, tao ad- 7 miradas pela Reacdo, tinham seu exato con- trapeso na indoléncia mais abjeta. Foi quem primeiro demonstrou quao capaz é a atividade dos homens. Realizou maravilhas superiores as piramides egipcias, aos aquedutos romanos e as catedrais géticas. Levou a cabo expedi- ges maiores que as grandes invasdes e as Cru- zadas.” (Manifesto do Partido Comunista.) Muito embora Marx e Engels se insurjam, no Manifesto, contra os socialistas uté6picos, zombando dos falanstérios fourieristas e da Icdria de Cabet, ambos delineavam esse mun- do do amanha, onde os proletarios e nao mais a burguesia e o capital seriam os protagonistas e onde se suprimiria a propriedade individual da terra, t6pico presente em todas as utopias, desde a Reptiblica de Platio. A revelia de Marx e En gels, a marcha da Hist6ria mostrou, portanto, que também eles trilhavam o caminho das utopias. O capital migrante e avassalador e a revolugo tecnocré- tica destronaram nao sé o proletariado, mas inclusive a prdpria idéia de trabalho, hoje um bem em vias de rarefacao. No limiar do terceiro milénio, o sonho coletivista naufragou, deixando uma brecha para uma nova era do mais deslavado indivi- dualismo. Mas vale lembrar, juntamente com 0 Manifesto Comunista, dos sonhos remanes- centes de toda uma tradi¢ao politica ocidental que acreditou nos amanhas que cantam. Al- guns versos, canc4o da Internacional, hino da Comuna, calcado nos versos do poeta Eugéne Pottier, resumem os sonhos de Marx e Engels. Com efeito, a velha cangao, em que campone- ses e operarios se confraternizam, para usufruir da terra inteira, depois de terem escorracado reis, ociosos, generais e até Deus, hoje integra 0 lote melancélico das utopias perdidas: “Em pé, deserdados da Terra! Em pé, forcados da fome! A Razdo ribomba em sua cratera, E airrupgdo do fim! Do passado, fagamos tabula rasa, Multiddo escrava, em pé, em pé! O mundo vai mudar de base, Néo somos nada, sejamos tudo! E a tuta final, Unamo-nos e amanha A Internacional Sera o género humano!” Sueli T. Barros Cassal Abril de 200] KARL MARX & FRIEDRICH ENGELS Manifesto do Partido Comunista 1848 PREFACIO A EDICAO ALEMA DE 1872 A Liga dos Comunistas, Associagao In- ternacional dos Trabalhadores, que, nas cir- cunstancias da época, nao podia deixar de ser secreta, encarregou os abaixo-assinados, no Congresso de Londres, em novembro de 1847, de redigir para publicagdo um programa te6ri- co € pratico detalhado do Partido. Assim sur- giu o Manifesto seguinte, cujo manuscrito foi enviado para impresséo em Londres algumas semanas antes da Revolucio de Fevereiro. Publicado inicialmente em alemio, foi impresso pelo menos em doze edigées diferen- tes na Alemanha, na Inglaterra e na América. Em inglés, foi primeiro publicado em Londres, em 1850, no Red Republican, em tradugio de Helen Macfarlane, e nos Estados Unidos, em 1871, em pelo menos trés tradugées diferen- tes. Em francés, apareceu inicialmente em Pa- ris pouco antes da insurreigfo de junho de 1848 e, recentemente, em Le Socialiste, de Nova York. Uma nova tradug&o est4 em preparaciio. Apareceu em polonés, em Londres, pouco de- pois da primeira edigdo alemi e, em russo, em 12 Genebra, nos anos sessenta. Foi igualmente tra- duzido para o dinamarqués pouco depois de seu aparecimento. Apesar das condigées terem se alterado consideravelmente nos Ultimos vinte e cinco anos, os principios gerais desenvolvidos neste Manifesto conservam, grosso modo, ainda hoje toda a sua razao de ser. Haveria que fazer aqui e ali algumas emendas. A aplicagao pratica desses principios — o Manifesto deixa claro — dependerd sempre e em toda a parte das cir- cunstancias histéricas dadas. Por isso, nao atri- buimos nenhuma importancia particular as me- - didas revoluciondrias propostas no final da — ~ Segio II. II, Essa passagem s seria hoje, em muitos aspectos, diferentemente formulada. Levando- se em conta o imenso progresso realizado pela grande industria nos Ultimos vinte e cinco anos e, com ele, o progresso da organiza¢ao parti- daria da classe operaria, levando-se em conta a experiéncia pratica da Revolucdo de Feve- reiro em primeiro lugar, e mais ainda da Comu- - na de Paris — na qual, pela primeira vez, o pro- letariado deteve em mos durante dois meses 0 poder politico —, este programa esté hoje ul- trapassado sob certos aspectos. A_Comuna, sobretudo, provou que “a classe operaria na nao_ limitar-se a apoderar-se da maquina do focd-la.em moyimento para_ 13 atingir seus prdprios objetivos”. (Ver A guerra civil na Franca. Mensagem do Conselho Ge- ral da Associacdo Internacional dos Trabalha- dores [...], onde isto foi desenvolvido mais de- talhadamente.) Além disso, é Sbvio que a cri- tica da literatura socialista (Sedo II) apresen- ta lacunas para nossa poca, pois sé sc estende até 1847. O mesmo vale para as observacées sobre a posigao dos comunistas em relac3o a diferentes partidos de oposig&o (Secao IV). Se em suas diretrizes, tais observagdes permane- cem ainda hoje validas, esto ultrapassadas no que tange 4 sua implementacio porque a situa- ¢ao politica se modificou completamente e a evolugdo histérica varreu da terra a maior par- te dos partidos ali mencionados. Todavia, o Manifesto 6 um documento histérico que j4 no nos arrogamos o direito de modificar. Talvez uma edigdo ulterior apa- rega, acompanhada de uma introducio que co- brird o perfodo de 1847 até hoje. A edigfio atual nos pegou de surpresa, no nos dando tempo para isso. Karl Marx e Friedrich Engels Londres, 24 de junho de 1872 14 PREFACIO A EDICAO ALEMA DE 1890 [...] O Manifesto fez seu proprio caminho. No momento de sua publicagiio, foi saudado com entusiasmo pela vanguarda, ent&éo pouco nu- merosa, do socialismo cientifico (como pro- vam as tradugdes citadas no primeiro prefa- cio). Logo depois, foi relegado ao segundo pla- no pela reagio iniciada com a derrota dos ope- r4rios parisienses em junho de 1848, Finalmen- te, foi proscrito, “de acordo com a lei”, pela condenagio dos Comunistas de Colénia, em novembro de 1852. Desaparecendo da cena pt- blica o movimento operario que datava da Re- volucao de Fevereiro, o Manifesto passou tam- bém para segundo plano. Quando a classe operaria européia acre- ditou estar suficientemente fortalecida para empreender nova arremetida contra a forga das classes dominantes, nasceu a Associacao In- ternacional dos Trabalhadores. Esta tinha por objetivo fundir num unico e expressivo corpo militante o conjunto da classe operéria da Eu- ropa e da América suscetivel de entrar na luta. Nao podia, portanto, partir dos principios es- 15 tabelecidos no Manifesto, Ela devia ter um pro- grama que nao fechasse a porta as trade-unions inglesas, aos proudhonianos franceses, belgas, italianos e espanhdis e aos lassalleanos ale- maes. Esse programa — as consideragGes intro- dutorias aos Estatutos da Internacional — foi esbogado por Marx com uma perspicacia re- conhecida até mesmo por Bakunin e pelos anar- quistas. Para a vitéria final das proposicédes enunciadas no Manifesto, Marx confiava pura e simplesmente no desenvolvimento intelec- tual da classe operaria, tal qual este tinha ne- cessariamente que resultar da unidade de ago e da discusséo. Os acontecimentos e as vicis- situdes da luta contra o capital, as derrotas mais do que os éxitos nao podiam deixar de mostrar claramente aos combatentes a insuficiéncia das panacéias pregadas até entdo e de tornd-los aptos a compreenderem a fundo as verdadci- ras condigdes da emancipacao dos trabalhado- res. Marx tinha razao. A classe operdria de 1874, por ocasio da dissolugdo da Internacio- nal, era totalmente diferente da de 1864, quan- do de sua fundag4o. O proudhonismo nos pat- ses latinos, o lassallismo especifico na Alema- nha agonizavam, e as mais conservadoras trade-unions inglesas aproximavam-se pro- gressivamente do ponto em que, em 1887, o 16 presidente do seu Congresso podia declarar em nome delas, em Swansea: “O socialismo do continente perdeu para nds seu aspecto aterro- tizador”. Mas o socialismo continental, desde 1887, j4 era quase s6 a teoria proclamada no Manifesto. E assim a hist6ria do Manifesto re- flete, até certo ponto, a histéria do movimento operaério moderno desde 1848. Hoje, ele é, sem nenhuma divida, 0 produto mais amplamente difundido, mais internacional, do conjunto da literatura socialista, o programa comum de mi- Ihdes e millhdes de operarios de todos os pai- ses, da Sibéria 4 Califérnia. No entanto, por ocasifo de sua publica- ¢4o, nao poderfamos té-lo chamado de mani- festo socialista. Por socialista, em 1847, en- tendia-se dois tipos de pessoas. De uma parte, os adeptos dos diversos sistemas utdpicos, es- pecialmente os “‘owenistas”, na Inglaterra, e os “fourieristas”’, na Franga, os quais j4 estavam reduzidos na época a meras seitas agonizan- tes. De outra parte, os charlatdes sociais de to- dos os horizontes que, com suas diversas pa- nacéias e toda a sorte de remendos, queriam eliminar os males sociais sem causar nenhum prejuizo ao capital e ao lucro. Em ambos os casos: pessoas que estavam fora do movimen- to operdrio e procuravam, sobretudo, 0 apoio 17 das classes “‘cultas”. Em compensagao, a parte dos operarios que, convencida da insuficién- cia de simples mudangas politicas, exigia uma reorganizagao global da sociedade, essa parte chamava-se entéo comunista. Era apenas um comunismo toscamente elaborado, somente instintivo, por vezes um pouco primdrio; mas foi suficientemente forte para dar origem a dois sistemas de comunismo ut6pico: na Franga, o Cabet; na Alemanha, ocialismo significa- j-eomnunisnie, Gh memmento-operario. O socialismo, pelo me- ‘os Ho Continente, podia figurar nos saldes; com o comunismo dava-se o inverso. E como, ja nesse momento, estavamos muito apegados a idéia de que “a emancipacdo dos trabalhado- res deve ser obra da prépria classe operdria”, nao podiamos ter nenhuma diivida sobre qual dos nomes era preciso escolher. Desde entiio, jamais nos passou pela cabega repudié-lo. “Proletdrios de todos os paises, uni-vos!” Poucas foram as vozes que responderam, quan- do langamos essas palavras ao mundo ha qua- renta e dois anos atras, as vésperas da primeira revolugdo parisiense, na qual o proletariado entrou em cena com suas préprias reivindica- ¢Ges. Mas, em 28 de setembro de 1864, prole- 18 tarios da maior parte dos paises da Europa Oci- dental uniram-se para formar a Associagao In- ternacional dos Trabalhadores, de gloriosa me- moria. E bem verdade que a Internacional s6 viveu nove anos. Que a aliancga eterna entre os proletarios de todos os paises por ela criada esta ainda viva e com uma vida mais pujante do que nunca, nao ha melhor testemunho do que precisamente o presente. Pois hoje, no mo- mento em que estou escrevendo estas linhas, o proletariado da Europa e da América passa em revista suas forgas combatentes mobilizadas pela primeira vez, mobilizadas em um unico exército, sob uma unica bandeira, para um unico objetivo imediato: a regulamentacao da jornada de trabalho de oito horas, fixada legal- mente e proclamada, desde 1866, pelo Con- gresso da Internacional, em Genebra, e de novo, em 1889, pelo Congresso Operario de Paris. O espetadculo do dia de hoje abrira os olhos aos capitalistas ¢ aos proprietarios de terra de todos os paises para o fato de que hoje os proletarios de todos os pases estao efetivamente unidos. Pena que Marx nao esteja mais a meu lado, para ver isso com seus préprios olhos! F. Engels Londres, 1° de maio de 1890 19 Um espectro ronda a Europa - 0 espectro do comunismo. Todas as poténcias da velha Europa aliaram-se para uma Santa Cagada a esse espec- tro: o papa eo czar, Metternich e Guizot, radicais franceses e policiais alemdes. Que partido de oposigéo nde foi tachado de comunista pelos adversdrios no poder? Que par- tido de oposic¢ao rebateu, tanto aos homens mais radicais da oposicéo quanto a seus adversdrios reaciondrios, com a acusacdo injuriosa? Duas conclusées se impdem: O comunismo jd é reconhecido como uma forca por todas as forgas da Europa. Estd mais do que na hora de os comunistas exporem abertamente ao mundo inteiro suas con- cep¢ées, seus objetivos e suas tendéncias e de con- traporem & lenda do espectro do comunismo um manifesto do partido. Com esse objetivo, comunistas das mais di- versas nacionalidades reuniram-se em Londres para definir as grandes linhas do manifesto que segue, o qual sera publicado em inglés, francés, alemdo, italiano, flamengo e dinamarqués. 21 Maniresto Do Partmo ComMUuNIsTA I BURGUESES E PROLETARIOS' dias* é a historia da futa de classes, Homem livre e escravo, patricio e plebeu, senhor e servo, mestre e oficial, em suma, opressores € oprimidos sempre estiveram em constante oposigiio; empenhados numa luta a una sem tré ora aberta, luta que a 1 Por burguesia entendemos a classe dos capitalistas modernos, pro- prietarios dos meios de produgao social e empregadores do traba- Iho assalariado. Por proletariado, a classe dos operdrios assalaria- dos modernos que, nao possuindo meios prdprios de produgio, re- duzem-se a vender a forca de trabalho para poderem viver. (Nota de Engels & edigdo inglesa de 1888.) A histéria de toda sociedade até_nossos. € 2 Na verdade, trata-se aqui da Histéria transmitida por escrito. Em 1847, a pré-hist6ria da sociedade e a organizagao social que prece- deu toda a histéria escrita era quase desconhecida. Desde entéo, Haxthausen descobriu a propriedade comum da terra na Russia. Maurer demonstrou qual era o fundamento social de onde histori- camente se oriundam todos os ramos germinicos e, progressiva- mente, descobriu-se que comunas rurais, com propriedade coletiva da terra, foram a forma primitiva da sociedade, da india a Irlanda. Finalmente, a organizac4o interna dessa primitiva sociedade co- munista foi deslindada em sua forma tfpica, quando Morgan, coroan- do tudo, descobriu a natureza verdadeira da gens ¢ de sua relagao com a tribo. Com a decomposigao dessas comunidades primitivas, comega a divisdo da sociedade em classes particulares e, finalmen- te, antag6nicas. (Nota de Engels 3 edigao inglesa de 1888 e A alema de 1890.) 23 cada etapa conduziu a uma transformagao re- voluciondria de toda a sociedade ou ao aniqui- “Jamento das duas classes.em confronto._ Nos primérdios da Hist6ria encontramos, quase em toda a parte, uma organizac4o com- pleta da sociedade em diferentes grupos, uma série hierarquica de situacdes sociais. Na Roma antiga, temos patricios, cavaleiros, plebeus e escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, mestres de corporacao, oficiais e ser- vos; além disso, quase todas essas classes com- portam subdivisées hierarquicas. A sociedade burguesa moderna, oriunda do esfacelamento da sociedade feudal, nao su- primiu a oposicdo de classes, Limitou-se a substituir as antigas classes por novas classes, Por novas condigées de opress4o, por novas formas de luta. O que distingue nossa época ~ a época da burguesia — é ter simplificado a oposigiio de classes. Cada vez mais, a sociedade inteira di- vide-se em dois grandes blocos inimigos, em duas grandes classes que se enfrentam direta- mente: a burguesia e 0 proletariado. Os servos da Idade Média deram ori gem aos cidadaos das primeiras comunas; advindos desses cidadiios, nasceram os primeiros ele- mentos da burguesia. SoC, € 4, OGF 4 TivVekamM lore PE ala rsex 24 A descoberta da América, a circunavega- cao da Africa ofereceram & burguesia ascen- dente um novo terreno. O mercado indiano e chinés, a colonizagado da América, o intercam- bio com as coldnias e, em geral, a intensifica- ¢&o dos meios de troca e das mercadorias de- ram ao comércio, 4 navegac&o e 4 industria um impulso até ent&éo desconhecido, favorecendo na sociedade feudal em desintegrag4o a expan- sdo répida do elemento revolucionario. O modo de funcionamento feudal e corpo- rativo da industria j4 n&o satisfazia o cresci- mento das demandas consecutivas 4 abertura de novos mercados. A manufatura substituiu- o. Os mestres de corporagiio foram desaloja- dos pela classe média industrial; a divisio do trabalho em corporagées diversas desapareceu em beneficio da divisao do trabalho dentro de cada oficina. Mas os mercados nao paravam de cres- cere as demandas, de aumentar. Logo a manu- fatura revelou-se insuficiente. Entéo, 0 vapor e0 maquinismo revolucionaram a produgao in- dustrial. A manufatura deu lugar a grande in- diistria moderna; a classe média industrial, aos miliondrios da industria, chefes de verdadeiros exércitos industriais, os burgueses modernos. A grande industria criou o mercado mun- 25 dial, preparado pela descoberta da América. O mercado mundial expandiu prodigiosamente o comércio, a navegacdo e as comunicagées. Por sua vez, esse desenvolvimento repercutiu so- bre a extensao da indtistria, e 4 medida que industria, comércio, navegac&o e ferrovia se desenvolviam, a burguesia crescia, multiplica- va Seus Capitais e relegava para o segundo pla- no as classes tributdrias da Idade Média. Portanto, vernos que a burguesia moder- na é produto de um longo processo de desen- volvimento, de uma série de profundas trans- formagdes no modo de producao e nos meios de comunicagao. uma das etapas do desenvolvimen- to da burguesia acompanhou-se de um progres- ‘SO “80 politico correspondente. Ela foi inicialmente um grupo oprimido sob o jugo dos senhores feudais, organizando a propria defesa e sua administrac¢do na comuna’, aqui reptblica ur- bana independente, ali terceiro estado tributa- *“Comuna” é o nome dado na Franga as cidades nascentes, mesmo antes de terem conquistado de seus senhores feudais e mestres a administragao local auténoma e os diceitos politicos, como terceiro estado. De mancira geral, tomamos aqui a Inglaterra como pais re- presentativo do desenvolvimento econémico da burguesia; a Fran- ¢a, do desenvolvimento politico. (Nota de Engels & edigao inglesa de 1888.) Assim os habitantes das cidades da Itdlia e da Franga chamavam suas “comunidades urbanas”, depois de terem adquiri- do ou conquistado de seus senhores feudais os primeiros direitos a autonomia administrativa. (Nota de Engels a edigdo alema de 1890.) do pelo rei. Posteriormente, na época da ma- nufatura, tornou-se um contrapeso a nobreza na monarquia decentralizada ou absoluta, fun- damento essencia!l das grandes monarquias. Com a criagiio da grande industria e do merca- do mundial, a burguesia conquistou finalmen- te a dominacao politica exclusiva no moderno Estado parlamentar. Um governo moderno é tdo-somente um comité que administra os ne- gécios comuns de toda a classe burguesa. A burguesia desempenhou na Histéria um papel revolucionario decisivo. Onde quer que tenha chegado ao poder, a burguesia destruiu todas as relages feudais, patriarcais, idilicas. Estilhagou, sem piedade, os variegados lagos feudais que subordinavam ohomem a seus superiores naturais, e nao dei- xou subsistir entre os homens outro lago se- nao o interesse nue cru, senao o frio “dinheiro vivo”. Submergiu nas 4guas glaciais do célcu- lo egoista os frémitos sagrados da piedade exal- tada, do entusiasmo cavalheiresco, do senti- mentalismo pequeno-burgués. Reduziu a dig- nidade pessoal a simples valor de troca e, em lugar das inumerdveis liberdades estatufdas e arduamente conquistadas, erigiu a liberdade tinica e implacdvel do comércio. Em resumo, substituiu a exploragao disfargada Sob ilusdes wes 27 religiosas e politicas pela exploragio aberta, cinica, direta e brutal. A burguesia despojou de sua aura todas as atividades até ent&éo consideradas com res- peito € temor religioso. Transformou o médi- co, o jurista, o padre, o poeta, o homem de cién- cia, em assalariados por ela remunerados. A burguesia rasgou o véu de emocio e de sentimentalidade das relacdes familiares e re- duziu-as a mera relacéo monetéria. A burguesia desvelou que as demonstra- Ges de brutalidade da Idade Média, tio admi- radas pela Reagao, tinham seu exato contrape- so na indoléncia mais abjeta. Foi quem primei-_ ro demonstrou _quao capaz € a atividade dos homens. Realizou maravilhas superiores As pi- tamides egipcias, aos aquedutos romanos e As catedrais géticas. Levou a cabo expedicdes miaiores que as grandes invas6es e as Cruzadas. A burguesia nao pode existir sem revolu- | cionar permanentemente os _instrumentos de_. [peng ~ | produg4o; portanto, as relagdes de producao; e |assim, 0 conjunto das relagdes sociais. Ao con- trario, a manutengao inalterada do antigo modo ide roducao foi_a condigio precipua dé exis-. téncia de todas as as classes. industriais do passa~— | (oe do. O revolucionamento permanente da pro- | \dusto, o abalo continuo de todas as categorias 32S Ss. [€reel eGo Constante pat 28 RES pasos: ‘ uem a Epo f etodas as, ener precedentes. Todas ‘as relacdes imutaveis €, _ pecans esclerosadas, com seu cortejo de representa-, x ! des @ de < concep as € veneraveis: udidos seu lugar no mundo e suas elacoes ocas.~ i Pressionada pela necessidade de merca- dos sempre mais extensos para seus produtos, a burguesia conquista a terra inteira. Tem que imiscuir-se em toda a parte, instalar-se em toda a parte, criar relagdes em toda a parte. Pela exploracéo do mercado mundial, a burguesia tornou cosmopolita a producgao e o consumo de todos os paises. Para grande pe- sar dos reaciondrios, retirou da inddstria sua base nacional. As antigas industrias nacionais foram aniquiladas e ainda continuam a ser nos dias de hoje. SAo suplantadas por novas indis- trias cuja introdugdo se torna uma questéo de vida ou de morte para todas as nagGes civiliza- das: essas indistrias nao empregam mais maté- rias-primas locais, mas matérias-primas pro- 29 Myvynod aL LiTERaTY KA venientes das mais longinquas regides, e seus produtos acabados niio siio mais consumidos somente in loco, mas em todas as partes do mundo, ao mesmo tempo. As antigas necessi- dades, antes satisfeitas pelos produtos Tcais, dao lugar a 1 novas necegsidades que exigem, para sua satisfagao, produtos dos paises e dos climas mais remotos. A auto-suficiéncia ¢ o isolamento regional € nacional de outrora de- ram lugar a um intercimbio generalizado, a uma interdependéncia geral entre as nac6es. Isso vale tanto para_as progusdes 1 materiais intelecti rodutos inte- agio iornam- se um bem co- mum. O espirito nacional tacanho e limitado Orta-Se cada dia mais invidvel, e da soma das literaturas - Racionais e-regionais cria-se uma __ pido desenvolvimento de todos os instrumentos de producdo, pelas comunicagdes infinitamente facilitadas, a burguesia impele_ tod. as mais barbaras, para a torrente da civilizac4o, Os pregos baixos de suas mercadorias sao a artilharia pesada que derriba todas as muralhas da China, que obri- ga os barbaros xendfobos mais renitentes a capitularem. Obriga todas as nagées, sob pena de arruinarem-se, a adotarem o modo de pro- REVO EY EL ES TA Azz: 30 ‘ n dug&o burguesa; obriga-as a introduzirem em seu seio a chamada civilizacao, isto €é, compe- le-as a tornarern-se burguesas. Em suma, Plas- ma um mundo a a sua PrOpria imagers” © des em relacio a dos campos e, portanto, ar- rancou uma parte expressiva da a populacao « do a0 dO 8 émbrutecimento da vida rural. Etal como su- — 1orutecume bordinou campo e cidade, tomou dependentes os paises barbaros ou semibarbaros dos paises civilizados; os povos agricolas dos povos bur- gueses; o Oriente do Ocidente. A burguesia Aglomerou a 1 populacio, centralizou os meios de produgao e concentrou_a propriedade em poucas mos. A conseqiiéncia inevitavel disso foi a centralizagéq politica. Provincias inde- pendentes, apenas federadas, com interesses, leis, governos, sistemas alfandegarios diferen- tes, foram reunidas cm uma s6 nacéo, em um s6 governo, em um sé cédigo de lei, em umn s6 interesse nacional de classe, em uma s6 fron- teira alfandegaria. Em apenas um século de sua dominag4o de classe, a burguesia criou forgas de produ- CEC0 Brmere si ps PROGRESS « 31 FoReca yr PReduTi va FT ai ra ere CoNSENTAAS wPvea Cae Croan s. efAg A ag OF we ff Caeser % one Beg ch Efe ME rer FoR CAT FASDET AVA ¢4o mais imponentes ¢ mais colossais que to- das as geracdes precedentes reunidas. O do- minio das forgas naturais, 0 maquinismo, as aplicagdes da quimica a industria e 4 agricul- / tura, a navegagdo a vapor, as ferrovias, o telé- srafo, o desbravamento de continientes intei- TOs, a canalizagao de rios, o aparecimento si- ~ “bito de popula: —emque século z anterior s se i||. poderia prever quc tais forcas f ‘produ es chilavam no seio do t y trabalho social? Portanto, vimos que os meios de produ- gdo e de troca que serviram de base 4 forma- cao da burguesia foram gerados na sociedade feudal. Em certo estigio do desenvolvimento desses meios de producio e de troca, as condi- g6es em que a sociedade feudal produzia e intercambiava, a organizagao feudal da agri- _cultura e da manufatura, em suma, as condi-_ ges da propriedade feudal deixaram de corres- onder as forcas produtivas j4 desenvolvidas. Entravavam a produgao em vez de a incremen- tarem. Transformaram-se em meros grilhées. Era preciso arrebentd-los, e assim sucedeu. Foram substituidas pela livre concorréncia, com a organizacio social e politica pertinente, com a supremacia econémicae politica da clas- se burguesa. “UIRADA . 32 (ZEEE MAS Diante de nossos olhos, desenrola-se um movimento analogo. As relagdes burguesas de produgio e de troca, as relagdes burguesas de propriedade, a sociedade burguesa moderna que gerou, como por encanto, meios de produ- cao e de troca tao poderosos assemelha-se ao feiticeiro que j4 nao consegue dominar as po- téncias di moniacas que evocara, Ha dezenas_ ‘3 de ANOS, a historia d da indiistria e do comércio € 1 da revolt, ast priedade, que sao = pesonraas da da burguesia e de sua dominagdo. Basta citar as crises comerciais que, em sua periddica recorréncia, colocam em peri go, de forma sem- Pre mais ameagadora, a2 “te dos produtos: forgas produtivas ja criadas. Nas: crises veclodé contra-serso a todas as épocas anteriores: a epidemia da superprodugio. A sociedade_vé- Gay momentanea: dir-se-ia que a fome ou uma” guerra geral de aniquilamento tolheram-lhe todos os meios de subsisténcia: a industria e o Fuh ReveketiaNsRia waver Po PREERID AVANCE 0, Pon euerie 0 ECA METMA WT CONTECH E ComTROLOR ) (foeBCasfa S6MAITS Pb) vw peetain BLES LOFT 33 rae g abun 4 Corner & Rope y Ne comércio > parecem Biase E por us? at j4 nao servem para promover a civili- zacao burguesa e as relacdes de propriedade burguesas; ao contrario, tornaram-se podero- sas demais para essas relagdes, e sao por elas entravadas. E, assim que superam esse obstd- culo, precipitam toda a sociedade burguesa na desordem, colocam em perigo a existéncia da sociedade burguesa. As relagdes burguesas tor-. naram-se estreitas demais pare contereii a ri queza.que_produziram. ‘omo a burguesia supera as crises? De uma parte, pelo aniquita-—._ nto forcado.de um enorme: ntingerite de" ‘erage pro jitivas, de outra, pela tongtiista de n pela explorag#o mais acir- rada dos antigos. Por intermédio de qué? Pre- parando crises mais extensas e mais violentas e reduzindo os meios para preveni-las. As armas que a burguesia usou para aba- ter o feudalismo voltam-se agora contra ela TRetpey mesma. O desenvolvimento da. burguesia, isto €, do capital, corresponde, na mesma prop proporgao, ao desenvolvimento do proletariado, da classe ~—des-operarios modernos-que- ‘so-sobrevivers-a_ medida que encontram trabalho, e s6 encon- tram trabalho a medida que seu trabalho au- menta o capital. Esses operarios, compelidos a venderem-se a retalho, sao uma mercadoria como qualquer outro artigo do comércio e, portanto, estéo igualmente sujeitos a todas as vicissitudes da concorréncia, a todas as flutua- ¢des do mercado. Com a extensdo do maquinismo e da di- visdo do trabalho, o trabalho perdeu todo cara. Fetes ter de autonomia ¢ ___operario. Este torna-se um simples acessdrio da maquina. S6 Ihe exigem o gesto mais sim- ples, mais mondtono, mais facil de aprender. Portanto, os custos que o operario gera limi- tam-se aproximadamente apenas aos meios de subsisténcia de que necessita para manter-se e reproduzir-se. Ora, o prego de uma mercacto-— ria —e, portanto, também do trabalho — é igual a seus custos de produgao. Por conseguinte, a medida que 0 trabalho se torna mais repugnan- te, o saldrio decresce. Mais ainda, 4 medida que o maquinismo e a divisa U- mentam, cresce também a thassa do trabalho, 35 (i kdhaseta eed FA eja pelo aumento do trabalho exigido em de- terminado lapso de tempo, seja pela acelera- g4o do movimento das méquinas, etc. A inddstria moderna transformou a peque- na oficina do mestre artes4o patriarcal na gran- de fabrica do capitalista industrial. Contingen- tes de operarios, apinhados na fabrica, sao or- ganizados de forma militar. Sio colocados como soldados rasos da inddstria, sob o con- trole de uma hierarquia completa de suboficiais € de oficiais. Nao séo apenas os servos da classe burguesa, do Estado burgués; sao, a cada dia, a cada hora, avassalados pela maquina, pelo fiscal, pelo préprio burgués industrial. Esse despotismo é tanto mais mesquinho, mais odio- 80, Mais cXasperante, quanto mais abertamen- te proclama que seu fim Ultimo é 0 lucro, Quanto menos habilidade e forga fisica 0 trabalho manual requer, mais a inddstria mo- derna desenvolve-se, mais o trabalho dos ho- mens € desalojado pelo das mulheres e das criangas. Diferengas de sexo e de e idade jd nao tém valor social para a classe operdria. Rés-_ tam apenas instrument tos de trabalho, cijo cus- to varia em fungao da idade e do sexo. Depois de ser suficientemente explorado para que se lhe paguem o saldrio em dinheiro liquido, 0 operario torna-se presa de outros 36 membros da burguesia — 0 proprietario, 0 co- merciante, o penhorista, etc. As pequenas classes médias antigas — pequenos industriais, comerciantes, os que vi- vem de rendas, artesdos e camponeses — pre- cipitam-se no proletariado, quer porque seu pequeno capital j4 néo basta para empreendi- mentos da grande industria, sucumbindo a concorréncia dos capitalistas maiores, quer porque sua habilidade desvalorizou-se em conseqiiéncia de novos modos de produg4o. Assim, o proletariado é recrutado em todas as classes da populacio. O proletariado passa por diversas etapas _ de desenvolvimento, Sua luta contra a burgue- sia comeca com 0 nascimento. Inicialmente operarios entram em luta iso- ladamente; em seguida, operarios de uma mes- ma fabrica; depois, operarios de um setor in- dustrial, em um mesmo local, contra um mes- mo burgués, que os explora diretamente.Diri- _gem seus ataques nao somente contra as rela- —GGes burguesas de producao; dirigem-nos tam- bém contra os proprios instrumentos de pro- dugio; destroem as mercadorias estrangéiras concorrentes, quebram maéquinas, incendeiam fabricas, procuram reconquistar a posicdo de- . saparecida do arteséo medieval. [ PRG - “TRANS. CESEN YY TE? fa de PRokE Obes 37 Fin} Vidas TeTaAliQsat& de DETUT? A, Nesse est4gio, os operdrios formam uma massa dispersa em todo o pais, dividida pela concorréncia. A reuniao expressiva dos operé- rios ainda no é 0 resultado de sua propria unido, mas da uniao da burguesia que, para atingir seus préprios objetivos politicos, deve mobilizar todo_ 0 proletariado e, no momento, ainda consegue fazé-lo. Portanto, hesse_estégio os proletérios nao. combatem seus inimigos, mas os ini imigos “de seus inimi gos —remanescentes da monarquia__ absoluta, f proprietarios rurais, burgueses nao in- dustriais, pequeno-burgueses. Assim, todo 0 movimento histérico concentra-se nas maos da burguesia. Cada vitoria alcangada nessas con- digdes é uma vitéria da burguesia. Mas, com a expansao da industria, o pro- letariado nao somente cresce; concentra-se em contingentes cada vez maiores; sua forga cres- ce; Com 0 Séfitimento « que dela adquire. Os in- teresses, as condi¢ées de vida no seio do pro- letariado homogeneizam-se cada vez_mais, 4 medida que o maquinismo oblitera as diferen- gas do trabalho e quase em toda a parte reduz os salarios a um nivel igualmente baixo. A concorréncia crescente dos burgueses entre si € as crises comerciais que dai resultam tornam 0 saldrio dos operarios sempre mais instavel. O aperfeigoamento incessante e sempre mais 38 CONTCIE NER DO PReLETARI ADS rapido do mmaguinisme torna sua nae cada Salario. cea ate 4 TunOar assOclacOee tt “Tadouras para se premunirem em caso de su- blevagSes eventuais. Aqui e ali, a luta trans- forma-se em motins. De vez em quando, os operarios triunfam, mas sua vitéria é passageira. O resultado ver- dadeiro de suas lutas nao € 0 sucesso imedia- _gade S lulas Nae € 0 sucesso lmee to, mas ae) sa extenso sempre maior da uniao dos _ Sperrios. Esta é favorecida pelo « étésciimento __ Operarios dos meios de comunicagio, criados pela gran- de inddstria, que colocam em contato opera- rios de diferentes localidades. Basta apenas esse contato para centralizar as iniimeras lutas locais — que tém em toda a parte o mesmo ca- réter — em uma luta nacional, em uma luta de classes. Mas toda luta de classes € uma lut politica. E a uniao, que exigiu séculos dos bur- _gueses da ‘Tdade_ Média, com séuS_caminhos vicinais, Os pr “em poucos: anos com as ferrovi: Essa organiza MK Vee fA 39 Ln ole 8 J J 2 se VW Bu an xo ¢ a ow 26 9 wat Ss] S ir wal Ag es Na PRol€TARIA Ce On Sigua, cada: instante pela concorréncia entre os pr6- rios operarios. Mas renasce sempre mais for- t¢, sempre mais solida, sempre mais poderosa. proveita-se das divisGesi as da burgue- sfa para forgd-la a reconhecer, sob forma de ween iculares dos“opera- ras na Inglaterra. Em geral, os conflitos da velha sociedade favorecem, de varias maneiras, o desenvolvi- mento do proletariado. A burguesia vive enga- jada numa luta permanente: no inicio, contra a aristocracia; depois, contra setores da propria burguesia, cujos interesses entram em conflito com o progresso da indlstria; e permanente- mente, contra a burguesia de todos os paises estrangciros. Em todas essas lutas, vé-se cons- trangida a apelar para o proletariado, a pedir sua adesio e, desse modo, a impeli-lo para o movimento politico. Portanto, ela propria for- nece ao proletariado os elementos de sua pré- pria formacdo, ou seja, armas contra si mesma. Além disso, como vimos, em virtude do progresso da industria, setores inteiros da classe dirigente proletarizam-se ou, pelo menos, sen- tem-se ameacados em suas condigdes de vida. Estes também fornecem ao proletariado nume- rosos elementos de formacio. 40 Enfim, nos momentos em que a luta de / solugio no interior da classe dirigente, no terior de toda a velha sociedade, assume um cardter tio-violento, tio dspero, que uma peque- parte chatter passara para aburguesia, parte” da da burguesia passa agora. para o ._proletariado, _especialmente uma ‘parte dos idedlogos bur ‘burgue- " De todas as classes que hoje enfrentam a burguesia, so, d Neceneran do e tendem a desaparecer como de- senvolvimento da grande indistria, ao passo que o proletariado é o seu produto caracteristico. As classes médias — 0 pequeno industrial, 0 pequeno comerciante, o artesio, o campo- nés —, todos combatem a burguesia para preser- var do desaparecimento sua existéncia como classes médias. Portanto, nfo sao revolucio- narias mas conservadoras. Mais ainda, so rea- cionarias, pois procuram girar a contrapelo a roda da Hist6ria. Quando sao revolucionarias, 0 sao a luz da perspectiva iminente de sua pas- Larvves mednasr: REaConatral 41 Wein Swieda /M ST sagem para o proletariado. Defendem nao mais seus interesses presentes, mas seus interesses futuros; abandonam seu préprio ponto de vis- ta para it o do proletariado. OXJumpemproletariado”, essa putref: assiva is baixas da velha $0> tedade, é aqui ¢ ali arrebatado no movimento __, ne jucio proletaria, mas toda a sua situa- 6.6 predispGe a vender-se para maquinagoes _ reaciondrias. AS condigées. de vida da velha sociedade jase encontram degeneradas nas condigées de vida do proletariado. O proletario nao possui nada; suas relagdes com a mulher e os filhos nado tém nada mais em comum com as rela- ¢ées familiares burguesas. O trabalho indus- trial moderno, a submissdo moderna ao capi- tal — que é a mesma na Inglaterra e na Franga, na América e na Alemanha — despojaram-no de todo caréter nacional. As leis, a moral, a religiaio sao, para ele, meros preconceitos bur- bur- “Bueses, ‘por “ntermédio dos quais se camuflam” ‘outros tantos interesses burgueses. Todas as classes que precedentemente con- quistaram a supremacia esforgaram-se para con- solidar suas condigées de vida, submetendo toda a sociedade a seu préprio modo de apropriagao. Os proletérios nao podem assenhorear-se das 42 forgas sociais de produg&o a nao ser abolindo seu proprio modo de apropriac4o passado c, conseqtientemente, todo modo de apropriagao do passado. Por sua vez, os proletarios nada tém de seu a assegurar; tém, sim, que destruir t todas” __a8 garantias privadas, todas as segurangas pri — vadas que existiram até noss0s dias. ~ Todos os movimentos anteriores foram tGo-somente movimentos de minorias, ou no interesse de minorias. O movimento proleté- tio € o movimento independente da imensa maioria no interesse da imensa maioria. O pro- letariado, a camada mais baixa da sociedade atual, nao pode erguer-se, recuperat-se, sem estilhagar toda a superestrutura de estratos que constituem a sociedade oficial. Pela forma e nao pelo contetido, a luta do proletariado contra a burguesia é, eni primeiro~ “do de cada pais deve acertar as contas com sua propria burguesia. Descrevendo as fases mais gerais do de- senvolvimento do proletariado, seguimos a guerra civil mais ou menos latente no bojo da Le _Sbciedade atual, atéa hora em que e ela irrompe~ $e! “emuma a revolucao aberta, e o proletariado lan- , ce as bases de sua dominagao pela derrubada violenta da burguesia. 43 Até aqui todas as sociedades repousaram, como vimos, no antagonismo entre classes opressoras € oprimidas. Mas, para se oprimir uma classe, € necessdrio assegurar-lhe ¢ condi-- "EOES para que possa, no minimo, prolongar s existéncia servil. Sob o regime da servidao, 0 See da comuna, tal como, sob o jugo do absolutismo feudal, o pequeno- burgués chegou a burgués, Por sua vez, 0 ope- rario moderno, em vez de elevar-se com oe __ Sresso da industria, decai cada vez mai, bain” xo Was condigées de sua propria classe. O ope- fréfio transforma-se em indigente, e 4 miséria cresce mais rapido do que a populacao e a ri- queza. Evidencia-se assim, claramente, que a _ -burguesia é incapaz de permanecer por mais tempo como classe dominante da sociedade e de impor-lhe, como lei e como regra, as condi- t ges de vida de sua classe. E incapaz de domi- j ar, poi sé incapaz. de gsseeurar a scu.escravo a propria existéncia.no Ami i porquanto é compe! Wagdo em-que tem -que-alimenté-lo em vez de '] mais existir sob seu dominio, isto é, a existén- cia da burguesia nao é mais compativel com a sociedade. A condigdo essencial da existéncia e da 44 supremacia da classe burguesa é a acumula- gao da riqueza nas mos privadas, a forma¢4o € 0 incremento do capital. A condi¢ao de exis-_/ téncia do capital é o trabalho assalariado. Este repousa exclusivamente na concorrencia entre _queda e_a vitoria do prole: 0s operarios. O progresso da industria, de que SSO Ca INnCustita, Ce que a burguesia é 0 agente passivo ¢ involuntario, Soe “substitul ° ‘isolamento dos dos operarios resultante _da a grande nd a Barus vé ruir sob seus pés a base sobre a qual produz uz € apro- mente inelutaveis. . . , - ae a ! wb Arges ey “ ! Se 45 II < PROLETARIOS E COMUNISTAS Qual € a relagéo dos comunistas com os prolefarios em geral? _ _ ~-~-Qs comunistas no séo um partido a par- te entre os outros partidos operdrios. Seus interesses n&o sao distintos dos in- teresses do conjunto do proletariado. Nao estabelecem princfpi Os comunistas diferenciam-se dos outros partidos proletarios apenas em dois pontos: de uma parte, nas diversas lutas nacionais dos proletarios, fazem prevalecer os interesses co- muns do conjunto do proletariado, independen- tes da nacionalidade; de outra parte, nos di- versos estégios de desenvolvimento da luta entre proletariado e burguesia, representam sempre o interesse do movimento geral. Portanto, na pratica, os comunistas sao a fragéo mais decidida, mais mobilizadora dos partidos operdrios de todos os paises. Na teo- ria, tém, sobre o resto do proletariado, a vanta- gem de ter uma visdo clara das condigdes, da 46 roletario. ~O objetivo imediato dos comunistas € 0 mesmo de todos os demais partidos proleta- ros: formagao do proletariado em classe, der- rubada da dominacao burguesa, Conquista d do” “poder politico pelo Proletariado. ? “ou ou por aquele le reformador do mundo, Jad Sido apenas 4 Expressao geral a5 relacdes ere t a Ee efetivas de uma luta de classes que existe, de © propriedade existentes até hoje nao é, de for- ma alguma, o carater distintivo exclusivo do comunismo. Todas as relagdes de propriedade foram submetidas 4 continua mudanga da Histéria, a sua continua transformagao. A Revolugao Francesa, por exemplo, abo- fy O que distingue o comunismo nio é a | {_Supressio da propriedade em geral, mas a su- i | \press&o da propriedade burguesa. } \ xpressao da propris -burgues y X -Ora,.a moderna propriedade burguesa & - i — _ a fhoPRiGd ade 4] Ultima e mais consumada expressio da produ- ¢ao e da apropriacdo dos produtos baseadas em antagonismos de classe, na exploragao de uns por outros. Nesse sentido, os comunistas podem re- sumir suas teorias nesta tinica expressio: y= Nos, comunistas, tems Stdo criticados, sob a alegagio de que queremos suprimir a propriedade pessoal adquirida pelo trabalho individual; a propriedade que constituiria o fun- damento de toda a liberdade, de toda a ativida- de e de toda a independéncia pessoal. A propriedade, fruto do trabalho, do es- forgo, do mérito pessoal! Sera que se esta fa- lando da propriedade do pequeno-burgués, do pequeno camponés, forma de propriedade que precedeu’a propriedade burguesa? Nao preci- samos suprimi-la; 0 desenvolvimento da indus~ tria suprimiu-ae continua suprimindo-a diaria- a diaria- mente.” : ~~ Ou ent&o esta-se falando da moderna pro- _ Priedade privada burguesa? tte mat ora o traba- 10 a58alavtadOe que 30 POE aUTRETTar Se ge. A gee a DA 48 PRoPRL ESR DE BURGIES & rar trabalho assalariado suplementar, para explord-lo de novo. A propriedade, na sua for- ma atual, gravita em torno da oposigio entre capital e trabalho assalariado. Examinemos os dois termos dessa oposi¢io. Ser capitalista significa ocupar na produ- ~ Assim, quando o “Capital é transformado em uma propriedade coletiva, pertencendo a, todos os membros da sociedad a Ge 0 trabal oaseatafado. O prego médio do trabalho assalariado é 0 saldrio minimo, isto €, a soma dos meios de subsisténcia necessdrios para manter vivo o operario enquanto tal. O que o operdrio assa- lariado obtém por sua ati vidade ¢ 0 estritamente necessério para garantir-Ihe a sobrevivéncia. LAP\TAL JAE UMA Fo@en Secale — mas Oe clarrey Rete TE pe supama 49 SEU CARKTER DE charseE \{ necessdrios a reprodugao da v } a ey, \ se a > jSeravel dessa apropriacao, em que o operario. | S6 Nive para aumentar o-capital e s6 vive ‘en-” ) quanto.o exigem os interesses | da, classe ‘domi- nante. \ ~ Na sociedade burguesa, o trabalho vivo é japenas um meio para multiplicar o trabalho sociedade co comunista, 0 traba- anes = inte _berdade! Comyazai0. Trata-se efetivamente da i i! supressao da petsonalidade, da independéncia i _e da liberdade burguesas. / No bojo das atuais relagdes de produgao SoC. BUREVE ra “ 50 Sod. Comvnlt STA e-se a liberda-_ de de coméreé fora iberdade de compra e de “Venda. Mas se 0 comércio cessa, ent&o cessa tam- bém o comércio livre. O palavreado sobre a liberdade de comércio, como todos os outros palavrérios de nossa burguesia sobre a liber- dade, s6 tém sentido em face do comércio en- travado, em face do burgués subjugado da Ida- de Média, mas nao diante da supressdo comu- nista do comércio, das relagdes de producdo burguesas e da propria burguesia. O s_Criticain “ROS POL gu - rermos suprimir uma oropriedade que pressu- pode, como condi¢do necessaria, que a imensa maioria da sociedade seja desprovida de toda propriedade. Em uma na palavra, criticai-nos por querer- mos Suprimir vossa propriedade. edade. Efetivamen> “TE Fisso que queremos. A partir do momento em que o trabalho” nao pode mais seriransformado em capital, em dinheiro, , em renda func fundiria, em resumo, em A F2C. BuRGresd Ja ABIL wil PRsfart/{/ CL Sf of seus { 51 MEMBRe J Qe ye 8 C Rte Le HA Cem te um poder social suscetivel de ser monopoliza- do, isto é, a partir do momento em que a proprie- dade pessoal nao pode mais converter-se em pro- priedade burguesa, a partir desse instante, de- clarais que a individualidade esta abolida. Portanto, confessais que, por individuo, nao entendeis nada mais do que o burgués, 0 proprietario burgués. Efetivamente, semelhante individuo deve ser suprimido. -O.comunismo nao retira de ninguém o poder de assenhorear-se dos produtos sociais; | Spenas relita o poder-de’ sé subjugar, por tal | apropriacao, o trabalho alheio.. Tem-se objetado que, com a supressao da propriedade privada, cessaria toda a atividade e se instalaria um 6cio generalizado. Nesse caso, j4 hd muito tempo a socieda- de burguesa teria perecido em virtude do écio; pois os que nela trabalham nao ganham e os que ganham nao trabalham. Toda essa objecgio reduz-se a tautologia: nao haverd mais trabalho assalariado quando nao mais existir capital. Todas as criticas feitas ao modo comu- rodugio dos produ- tos materiais for: didas 3 a apropria Ao € +O pre 3th CGT 52 Cv Le RA yf. Sa _Propria, produgao, a supressdo da cultura de “classe corresponde, para ele, a Supressio da__ ~cuitura ém geral.~ ee A Accultura cuja perda o burgués deplora é é, _paraa imensa | maioria de dos homens, a sua trans- Mas nao nos recrimineis medindo a supres- séo da propriedade privada por vossas idéias burguesas de liberdade, de cultura, de direito, etc. Vossas idéias sao o produto de relagdes burguesas de produgio e de propriedade, da mesma forma que vosso direito é apenas a von- tade de vossa classe erigida em lei, vontade cujo contetido é determinado pelas condigées materiais de vida de vossa classe. Aconcep¢aio interesseira, pela qual trans- formais em leis eternas da natureza e da raz4o vossas relacées de producio e de propriedade, a partir de relagées histéricas, ultrapassadas no curso da produg&o, a compartilhais com todas as classes dominantes j4 desaparecidas. Aqui- lo que concebeis para a propriedade antiga, aquilo que concebeis para a propriedade feu- dal, nao deveis mais conceber para a proprie- dade burguesa. Su a familia! Até os mais radi- cais Indignam-se com essa perigosa proposta dos comunistas. SUPPRESS Eo FAmILia th 53 No que repousa a familia atual, a familia __burguesa? No capital, no lucro privado. A fa- milia, em sua plenitude, existe apenas para a “Bure oT mas nira sey. complemento Ta a forcada de familia, imposta aos pro- ote burgues désmorona eviden- ternente com o desmoronamento de seu com- plemento, e ambas desaparecem com o desa- parecimento do capital. Recriminai-nos por querermos suprimir a exploracao das criancas pelos pais? Efetiva- mente, denunciamos esse crime. Mas dizeis que suprimimos as relacdes mais intimas as substituindo a 2 educagto familiar etc, ? cu de scedadeg inventam a acto da \ te 7 ° sociedade sobre a educac4o; apenas modifi- ( 1e.0.carater, subtraindo a a educagao da ucacao, sobre a inti tre pais-e filhos | torna-se tanto mai te quanto mais a graridé industria dilacera cada eee Educates Socse’ 54 ‘ _vez. mais.os laos familiares dos proletdrios e transforma as criangas em simples objetos de comércio e em instrumentos de trabalho. “Mas vés, comunistas, quereis introduzir acomunidade das mulheres”, grita em unisso- no toda a burguesia. O burgués vé em sua mulher um mero instrumento de produgio. Ouve dizer que os instrumentos de produgio serao explorados co- jetivamente e, naturalmente, s6 pode concluir que a sina das mulheres é serem colocadas em comum. N&o imagina que Se trata precisamente de _ suprimir, para as mulheres, o estatuto de me- ros instrumentos de produgio. ~——"AWas, NAS hd nada mais ridiculo do que essa indignacao profundamente moral de nos- sos burgueses contra a comunidade das mu- Iheres oficialmente instaurada pelo comunis- mo. Os comunistas nao precisam introduzir a comunidade de mulheres; esta quase sempre existiu. Nossos burgueses, nao contentes com 0 fato de que mulheres e filhas de proletarios estejam A sua disposi¢ao, para nao falar da pros- tituigdo oficial, tem o maior prazer em seduzir as mulheres legitimas uns dos outros. Na realidade, 0 casamento burgués é a (ono N[oe sf 94s MULHERES 55 CRIT Ce Aa CoMUN is Me comunidade das mulheres casadas. No maxi- mo, poder-se-ia recriminar os comunistas por quererem substituir uma comunidade de mu- Iheres hipdcrita e dissimulada por uma comu- nidade oficial e franca. Alias, € 6bvio que, com a supressao das atuais relagdes de producio, desaparece também a comunidade de mulhe- res dela resultante, isto é, a prostituicio oficial e ndo-oficial. L renee minados por quererer a, ana- ‘cionalidade, __Os operarios nio tem patria Nao se e Ihes _pode tirar 0 que nao tém. A medida que 0 pro- letariado deve primeiramente conquistar, em seu beneficio, o poder politico, erigir-se em classe nacional e constituir-se a si mesmo como nagao, ele continua sendo nacional, mas nun- ca no sentido burgués do termo. As fronteiras nacionais € os antagonismos | entre os povos tendem cada vez mais a is a desapa- Tecer,com 0 desenvolvimento da burguesia, com 0 livre comércio, com 9 merc i a com a a uniformizago da produgao industria Te com ndicdes de vida correspondentes. pareceréo ainda mais depressa. A unidade de agao do proletariado, pelo menos nos paises NACAS so NACA civilizados, é uma das primeiras condigGes de sua emancipagao. A medida que se suprime a exploracao de um individuo por outro, suprime-s e igual- “mente a exploraciio de uma nagao por outra. Desaparecendo 0 antagonismo de classes no interior de uma nagio, desaparece igualmen- te a hostilidade entre as nagoes. _As acusagées | levantadas contra ocomu- talhado._ Sera necessd4rio um exame mais profun- do para compreender que, ao mudarem as re- lagdes de vida dos homens, suas relag6es so- ciais, sua existéncia social, mudam também suas representacdes, suas opinides e suas idéi- as, em suma, sua consciéncia? _O que demonstra a historia das idéias senao _que_a produgio espiritual s [se modifica con @ “aelcgat ESES EY soe - Quando se se fala de déias que revolucio- nam uma sociedade inteira, exprime-se com isso apenas o fato de que, no 4mago da antiga sociedade, se engendraram os elementos de uma nova sociedade e que a dissolugao das idéias RELIC A» PeopocAs Es hi Rr TURE? 37 we sh Sec Xuan FLU PV EHFINO CRTC seMo: Clemsear Q of ComeerenrTsras Far (eer) OBLEWET Ab COMuRIS my antigas acompanha a dissolugio das antigas relagdes sociais. Quando o mundo antigo iniciou seu de- clinio, as religides antigas foram suplantadas pela religiao crista. . Quando as idéias cristés sucumbiram, no século 3 Vill, as i idéias das “Liizes, a sociedade feudal travava seu combate mortal contra a burguesia entaéo revolucionaria. am CeTED RAL AS idéias de liberdade de consciéncia e de religiéo exprimiam apenas, no dominio do saber, o reino da livre concorréncia. Dir-se-a: “Idéias religiosas, morais, filo- s6ficas, politicas, juridicas, etc. modificaram- se no curso do desenvolvimento historico. A Ty O if f éStte-bojodessa Ma. Iém disso, ha verdades A@ todos os regimes mes s sociais. s, Mas ( 9 coast as verdades c ctemas. al bole 3 de toda a sociedad’: até hoje Bira ¢ em torno de oposig6es de classe, que assumiram diversas formas nas diferentes épocas. Mas, qualquer que tenha sido a forma as- “VEAdaoes ETEARNAS N38 [ ) L Capvarime ABsdE |) sumida, a explorag3o de uma parte da socie- dade por outra é um fato comum a todos os séculos passados. Portanto, nao € de se admirar que a cons- completamente com o desaparecimento total do antagonismo de classe. A revolugao comunista é a ruptura mais radical com as relac6es tradicionais de proprie- dade. Nao admira que, no curso de seu desen- volvimento, rompa radicalmente com as idéias tradicionais. Mas deixemos aqui as objegdes da bur- guesia ao comunismo. Vimos anteriormente que {gemeia). so da revolugio operaria sera a 0 do proletariado & classe dominante e a luta pela democracia. O proletariado utilizar4 seu poder politico para arrancar pouco a pouco todo o capital da burguesia, para centralizar todos os instrumen- tos de produgdo nas maos do Estado, isto €, do proletariado organizado como classe dominan- te, e para aumentar, o mais rapidamente possf- vel, o contingente das for¢as de produg4o. Cer tar a“ [ Fermer DE ConSCENCIA Comunt 4 tooar ar secre /yr beé clerse RELIG, MoRal, Fidesseva, PuliTiCa, PLREITO | KISE RY! @ *ysrica® Come VERDIRS ETERNE? 59 ° Naturalmente isso sé pode acontecer, de & iq inicio, mediante intervengdes despcticas no 2 w dircito de propriedade ¢ nas relagdes de pro- ‘ - & ©, _ dugio burguesas, isto é, através de medidas que_ Zz parecem economicamente insuficientes e insus- ae 5 by onan Se nto. ¢ sao indispensaveis ws para revolucionar todo o modo de produciio. Certamente essas medidas diferirao nos diferentes pafses. Entretanto, no que toca aos paises mais desenvolvidos, de um modo geral podem-se aplicar as medidas seguintes: 1. Expropriagao da propriedade fun- diéria e utilizagao da renda resultante para as despesas do Estado; 2. Imposto acentuadamente progressivo; pies A 1872 i 3. Supressao do direito de heranca; 4. Confisco da propriedade de todos os emigrantes e rebeldes; G 5. CentralizagGo do crédito nas maos do Estado, por meio de um banco nacional com capital estatal e monopélio exclusivo; Mar pals tiore 43 6. CentralizacGo de todos os meios de transporte nas maos do Estado; PROGRAMA DE REWIND: CACOE 5 REAPARECEM Vpialeti2adaS* ne PRad: TRAMSICIa, Em ciMa de PRitica DA REV RUSIA Fates DA TEMALAR Eon emico. PUITiO Ne MV. OFERARIC Mince - Midge it ¢ 7. Multiplicacgdo das indtstrias nacio- fee S nais, dos instrumentos de producdo, desbra-" : _vamento e melhora das terras,. de.acerdacom »%6tas ~ fopican um plano coletivo; fecal re 0 8. Obrigatoriedade do trabalho parato: dos, organizacgao de exércitos industriais, em ¢sc- 7 especial para a agricultura; meves 9. Combinacaio do trabalho agricola e do _trabalho industrial, medidas para a elimina- ¢Go gradual da oposigao entre cidade e cam- po; 10. Educagao publica e gratuita para to- das as criangas. Supressao do trabalho infan- ¢do da educagao com a produgao material, etc. : Uma vez que desaparecerem as diferen- gas de classe no curso do desenvolvimento, € toda a produco concentrar-se nas maos de in- dividuos associ: los, o poder publico ‘perderd . seu carate poli ico) Em sentido proprio, 0 po- ) PO- der publica é0 poder organizado de de uma clas- _Se para a opressa6 de outra _Sé 0 proletariado, | “em sua luta contra a burguesia deve necessaria- \ } { ( { { | i i mente unificar-se em uma classe tinica, se, em decorréncia de uma revolucao, ele se converte em classe dominante; e como classe dominan- wy NOCe* Chaps rte BE Politica. INTERBSTE ; Ce_erive g gROENA A INTERESTS 6l } Pkiva nd) Carivadisins BFtancakar CanaTER / [PEdlegics DEITA ConcEtEs® DE —PetitiGas — te, suprimir pela violéncia as antigas relacdes de producdo, suprimira automaticamente, jun- tamente com essas relagdes de produgio, as condigées de existéncia da oposicao de classe €, por esse viés, as classes em geral e, com isso, sua propria dominagiio de classe. No lugar da antiga sociedade burguesa com suas classes e@ > oposigées di de classé surg 62 iil LITERATURA SOCIALISTA E COMUNISTA 1. O SOCIALISMO REACIONARIO bs opamp evidin, & a) O socialismo feudal Eis, gu: eon re te ] Por sua posi¢ao historia a as afistocracias _ francesa e inglesa estavam fadadas a escrever libelos contra a sociedade burguesa moderna. Na revolucSo francesa de julho de 1830, no movimento reformador inglés sucumbiram, uma vez mais, 4 arrivista odiada. Jd no po- diam travar uma luta a politica séria, Restava- { hes apenas a luta literaria. Mas, também no plano literatio, a velha a fraseologia do tempo da Restauragio se tornara impossivel. Para an- gariar simpatia, a aristocracia dev devia fingir que |! a seus prdéprios | interesses, e for- was no in interesse da classe operdria explorada. Portanto, arrogou: ou-se 0 direito de zombar, em, cangdes, de seu novo amo € murmurar- {he ao ouvido profecias carregadas de ameacas. Assim nasceu o socialismo feudal, meta- de lamento, metade panfleto, metade eco do passado, metade ameaga do futuro, por vezes 63 acertando a burguesia no alvo, mediante uma condenagao amarga, espiritualmente mordaz, mas sempre ridicula, por sua total incapacidade de compreender a marcha da Histéria moderna. Empunharam, a guisa de bandeira, a trou- xa de mendigo do proletario, para conclamar o povo a sua volta. Mas todas as vezes que este dispunha-se a segui-las, divisava-Ihes nas cos- tas os velhos brasdes feudais e entio se dis- persava com gargalhadas insolentes. Uma parte dos Legitimistas franceses e a --\ Jovem Inglaterra_brilhar: © espeldculo. Quando os senhores feudais demonstram que seu modo de exploragio era diferente do modo de exploragao burguesa, esquecem-se simplesmente que exploravam em condigdes e circunstincias completamente diferentes e j4 caducas. Quando provam que, sob sua domi- na¢ao, o proletariado moderno nao existia, es- quecem-se simplesmente que a burguesia mo- derna é justamente um rebento necessério de sua ordem social. Alias, dissimulam tio mal 0 cardter rea- ciondrio desua: lé"sua critica, que sua acusagiio prin=” cipal contra a burguesia, repousa precisamente no fato que, sob 0 regime desta, desenvolveu- . ‘sé uma classe que vai | estilhagar todaa antiga “ordém social. ~ — AN 64 | Criticam a burguesia mais por ter engen- drado um proletariado revolucionario, do que por ter simplesmente dado origem ao proleta- riado. Eis por que, em sua pratica politica, parti- cipam de todas as medidas repressivas contra a classe operaria e, na vida corrente, conten- tam-se, apesar de toda a fraseologia pomposa, em recolher os pomos de ouro de arvore da industria e em cambiar fidelidade, amor e honra pelo comércio de 14, beterraba e dlcool.* Da mesma forma que os padres s sempre — ee cristéo um verniz socialista. fenbémo ocris ismo nao se elevou contra a propriedade pris; “vada, contra o casamento, contra o Estado? Nao | pare gou a1 em _seu lugar a caridade, a ‘mendiciday/ .a mortificagao da carne, . * Isso aplica-se principalmente ‘Alemanha, onde a aristocracia ru- ral e a fidalguia provincial tém grande parte de suas propriedades cultivadas por conta prépria, mediante um administrador, e sdo, além disso, grandes produtores de agiicar de beterraba e destiladores de aguardente de batata. A aristocracia inglesa, mais abastada, nao decaiu tanto; mas também sabe como se pode compensar o declinio da renda, emprestando o nome a promotores de sociedades aciondrias mais ou menos suspeitas. (Nota de Engels 4 digo inglesa de 1888.) Fourarisme CLERICAL (1) 65 Zos dadas com os sen lores Ng _Seltaa Mu ae 5S SDAA’ E off, t oe ANTIGK Caste mondstica ¢ a Igreja? O socialismo cristio é a a dgua benta com que o padre consagra ristocrat b. O socialismo pequeno-burgués — ~\57t A aristocracia nao é a unica classe derru- bada pela burguesia, nao é a Gnica classe cujas condigées de vida na sociedade burguesa mo- derna se deterioraram e decairam. Os cidadaos extramuros da Idade Média e os pequenos cam- poneses foram os precursores da burguesia mo- derna_Nos paises onde. comércio e a indts- tria so menos desenvolvidos, essa classe conti- nua AaeeSlAr a ao lado da burguesia ascendénté. Nos paises onde a civilizagae- odema Se Nos pases onde Gow Carnes NE SEN € socitd a ie sulimiainaie veleead mas’ seus “membros § § S10 , Sontinnamenie relegados ao. proletariadg em “Fonoda.da concom réncia, Estes pressentem que se aproxima 0 momento em que, com o desen- volvimento da grande industria, desaparecerao totalmente como parte auténoma da sociedade moderna e serio substitufdos no comércio, na manufatura, na agricultura, por contramestres e subalternos. PER BYR GVEA ADVINEA do 66 CAPIT. : “Pave comPleMeNTAR DA SoC: BuRGOESA™ Em paises como o Franca, onde a classe camponesa constitui mais da metade da popu- Jaco, era natural que os escritores que apoias- sem o proletariado contra a burguesia criticas- sem 0 regime burgués baseados em critérios da pequena burguesia e do pequeno campe- sinato e tomassem o partido dos operarios de um ponto de | vista_pequeno-burgués. Assim “formou-se 0 socialismo pequeno- -burgués. Sis- mondi € o chefe dessa literatura, nao somente na Fran¢a, mas também na Inglaterra. di . Desmascarou os artificios economistas. Demonstrou, de maneira cabal, os efeitos destrutivos do maquinismo e da di- visdo do trabalho, a concentragao dos capitais e da propriedade fundidria, a superprodugao, as crises, o declinio inevitavel dos pequeno- burgueses e dos pequenos camponeses, a mi- séria do proletariado, a anarquia na produgao, ipocritas dos * a desproporgio gritante na distribuigo das ri-" quezas, as guerras de exterminio industrial _entre as nagGes, a dissolugao dos costumes anti- gos, das relagdes familiares anti gas, das nacio- nalidades antigas. Entretanto, em seu contetido positivo, esse socialismo quer seja restaurar os antigos mei- 67 faR ri “wv ceoti vA oC So dalla antigas Tei STeiacdes de propriedade « ea antiga So- ciédade, seja enclausura Coa ot eee] orporativo nas fabr rien Sa tendéncia dissipou-s¢ -se numa ressaca covarde. c) O socialismo alemdo ou “verdadeiro” A literatura socialista e comunista fran- cesa, gerada sob a opressdo de uma burgue- sia dominante, expresso literdria da luta con- tra essa dominac&o, foi introduzida na Ale- manha precisamente no momento em que a burguesia deflagrava sua luta contra o abso- lutismo feudal. Fildsofos, semifilésofos e belos espiritos alem4es apropriaram-se avidamente dessa li- teratura, esquecendo-se de que a emigracao desses escritos nao se acompanhou da emigra- cao das condig6es de vida francesas para a Alemanha. A luz das condigées alemis, a lite- 68 puramente were. cosap g oe ec e a manifestacao da vontade da burguesia re- voluciondria francesa significava, a seus olhos, apenas as leis glial como deve ser, da vontade verdadeiramente humana. O trabalho dos literatos alemdes consis- tiu exclusivamente em colocar as novas idéias no diapas4o de sua velha consciéncia filosofi- ca, ou antes em apropriar-se das idéias france- sas partindo de seu préprio ponto de vista filo- s6fico. Essa apropriag&o ocorreu da mesma for- ma que, em geral, se apropria de uma lingua estrangeira: pela tradugao. Sabe-se que os monges recobriram os manuscritos em que se consignavam as obras classicas da antiguidade pag’ com hagiografias insipidas de santos catdlicos. Os literatos ale- mies procederam de forma inversa com a lite- ratura francesa profana. Escreveram seus ab- 69 surdos filoséficos sob o original francés. Por exemplo, sob a critica francesa as relacdes monetérias, escreveram: “alienacdo da nature- za humana” e, sob a critica francesa ao Estado burgués, escreveram “supressao da dominagao do Universal abstrato”, etc. A substituicdo dos argumentos francese por essa fraseologia filos6fica, batizaram eles “Elo asa smo_verdadei- ci€ncia alema do soci y”, “justifica- “Gao filosé tilosofica do socialismo”, etc. NR A Near Assim, a literatura socialista e comunista francesa foi formalmente amputada, E como, nas maos do Alemio 0”, “j anto char- latanismo, perden a aos poucos sua pedante j ipo; céncia, 70 A uta da burguesia ale, principalmen- te da burguesia prussiana, contra os senhores feudais e contra a monarquia absoluta — em uma palavra, o movimento liberal — tornou-se mais séria. Oferecia-se ao “verdadeiro” socialismo a to desejada ocasiao de brandir, perante o mo- yimento politico, as reivindicagGes socialistas; de langar os andtemas tradicionais contra 0 li- beralismo, contra o Estado representativo, con- tra a concorréncia burguesa, a liberdade bur- guesa de imprensa, o direito burgués, a jiber- dade e a igualdade burguesas, e de pregar as massas populares que nada tinham a ganhar, mas sim tudo a perder nesse movimento bur- gués. O socialismo alemao esquecia, muito a propésito, que a critica | francesa - do qual era Oeco. deslavado — pressupontia a sociedade pare “tuigao (0 politica, pressupostos estes que se tra- _tava ainda de conquistar na Alemanha. © Esse socialismo servia aos governos ab- solutos alem4es, com seu cortejo de padres, de mestres-escolas, de fidalgotes e de burocratas, como espantatho ideal contra a burguesia cujas aspiragdes eram ameacadoras. Era a guloseima que complementava o 71 amargor das chicotadas ¢ das balas de fuzil com que esses mesmos governos respondiam As insurreigdes dos operdrios alemies. Se o “verdadciro” socialismo tornou-se, assim, uma arma nas mdos dos governos con- tra a burguesia alema, representava também, diretamente, um interesse reaciondrio, o inte- resse dos pequeno-burgueses alemaes. Na Ale- manha, a pequena burguesia, tributaria do sé- “culo XVI, e que desde entao nao ¢ 88a. de emer emer- gir Sob diversas formas, constitui a _verdadeir “Base social da ordem 1 estabelecida, “Manté-la significa manter a ordem esta- belecida na Alemanha. A supremacia indus- trial e politica da burguesia engendra na pe- quena burguesia o temor do declinio inexord- vel, de um lado pela concentrago do capital, de outro, pela ascensdo de um proletariado re- voluciondrio. Aos pequeno-burgueses, 0 “ver- dadeiro” socialismo pareceu matar dois coe- thos com uma cajadada sé. Propagou-se como uma epidemia. A roupa, teia de aranha tecida de especu- lagdes, bordada com as belas flores da retéri- ca, impregnada de orvalho sentimental, carre- gada de amor, essa roupagem, de uma exube- rancia toda espiritual, com que os socialistas alemdes vestiram todas suas “verdades eternas” 72 ahaa fez aumentar 0 escoa- mento de sua mercadoria para esse publico. Por sua vez, 0 socialismo alemao reco- nhecia cada vez mais sua vocagao: § grandilo _giiente representante dessa pequena a Durguesia. Ele proclamou como ‘modelo a nace ale- ma e © pequeno-burgués alemao. Atribuiu a todas as infamias deste um sentido oculto, su- © perior, socialista, que significava 0 seu opos- to, Foi conseqiiente até o fim tamente A tendéncia “brutalmente « ” do comunismo e ao assinalar que paitava com ‘mparcratidate acitia de todas as lutas de clas- se. Com rarissimas excegdes, tudo o que cir- cula na Alemanha como escritos pretensamente socialistas e comunistas pertence ao 4mbito dessa literatura suja e debilitante.’ 2. O SOCIALISMO CONSERVADOR OU BURGUES - comTe? [Ma RA Fald dE PRevDHoN } ‘Uma parte da burguesia deseja remediar as anomalias sociais, a fim de garantir ama- a sociedade burguesa_____ Pertencem a essa fragio: economistas, fi- 5 A tempestade revoluciondria de 1848 varreu toda essa tendéncia s6rdida ¢ tirou de seus representantes a vontade de continuar a brin- car de socialismo. O representante principal e 0 tipo classico dessa tendéncia 6 Karl Griin. (Nota de Engels 4 edicdo alema de 1890.) 73 lantropos, hémanitérios, agentes melhoradores da situacdo das classes trabalhadoras, organiza- dores de obras beneficentes, protetores de ani- mais, fundadores de ligas antialcodlicas, yefor— Os. Citemgs porexemplo, a Filosofia da mi- Os burgtreses= Salistas almejam as con- digdes de vida da sociedade moderna sem as lutas © perigos necessariamente decorrentes. Almejam a sociedade atual, eliminando, po- rém, os elementos de revoluco e de dissolu- _g40. Almejam a burguesia sem o proletariado. Evidentemente, a burguesia concebe o mundo onde reina como o melhor dos mundos. O so- cialismo burgués elabora essa representacao consoladora em sistemas mais ou menos com- pletos. Quando exorta o proletariado a realizar esses sistemas para entrar na nova Jerusalém, ‘no indo cxige somente que este se limite & atual sociedade, renunciando as representacdes |. odiosas que dela faz... I. I | Uma segunda forma, menos sistemati J | e mais pratica, desse er pirar 4 classe operdria desdém por todo movi- mento revolucionério, demonstrando-lhe que aquilo que lhe pode ser Gtil nao é esta ou aque-_ ——_— | lamudanca politica, mas somente uma mudan- { t DEFENVOLVIM ENT Smo?” pe 74 (* DESEnVoL VER 4 BResieS, $0 ANOS emg i> { mEMEVER € 4 ORQ. MadgRNA CAPTUREbES EM | 7 Mew Ridso, SEM CCacaa ope. bape ate AteCUCe Res h i ae we a Discuaes MEG ay [ga das condi¢ées materiais de vida, das condi- gées econdémicas. Mas, por mudanga das con- digdes materiais de vida, esse socialismo nao entende, de forma alguma, a supressdo das re- lagdes burguesas de produgSo — que so é pos- sivel pela via revoluciondria —, mas reformas aii °° se realizam com base nes- Sas Telagoes de producao, portanto, que nada alteram na na relagao entre capital e trabalho as- salariado, m: mas, no melhor dos casos, reduzem para a burguesia o Gnus de sua dominag&o e simplificam-lhe 0 orgamento de Estado. O socialismo burgués sé atinge sua ex- pressio adequada quando se torna uma sim- ples figura retérica. Livre comércio, no interesse da classe tra- balhadora! Tarifas protecionistas, no interesse ~ _da classe trabalhadora! Prisfo celular, no inte- _Tesse da classe tra ¢ trabalhadoral: ‘as Ultimas Se REPARMA TRAGAINISTA, oe Ne unt (AEs De CLATIC +tReoaltadona || palavras d do socialismo burgués, as Gnicas a ba ~O socialismo da burguesia consiste preci- samente na afirmagao que os burgueses sao \ burgueses no interesse da classe trabalhadora. | Sbedi vices Publicar, VACahET 7 REPU ELI CONS ty : ivt jar pica oJ€ 0 P CINEMA Nacional) 2 Tite [tases we SiStEmsrco 4 Ik) ReFeamas y / Tea daly stay M! PRaaehart “ONE CAT Dal DETR ORS, A Paes ca ra CASA fRo acess Seiad tine erence vaF CONCEPCES — 75 es téries EM E10 09 SoGalTns > Buagves Po (arbegeuese) DEVE IMENTISme OC IK | EG Ts pos Mal Te RES \ Ergene® Ov7 ‘

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