Nunca decidiu nada sobre algo. Sequer tomara uma deciso
por conta prpria. Sua vida era acatar. Mas naquele dia, naquele instante, seus ps pisaram decididos sobre o cho lustroso. No precisou voltar os passos como sempre fizera. No baixou os olhos como sempre baixara. Subiu as escadas como um general. Diante da porta macia tomou da maaneta e sentiu que essa se deslocou mais por medo do que pela sua mecnica. Entrou. Sentia o ambiente terrivelmente silencioso. Via esttuas enfeitadas, brilhantes, com sorrisos maliciosos, espalhadas pelo salo. Antes se sentiria culpado por estar ali, mas agora no. Sabia que possua uma s chance. Arriscaria sua alma quela oportunidade. Entraria com o corpo e sairia sem alma. Parou ante a roleta. Rodou-a. Suas pupilas dilataram. Observou as cores to prximas e vivas que as entendia. Inalou o p subido do cho, cada partcula daquela poeira, trouxeram-lhe histrias como nunca houvera visto, porqus, causas e efeitos conjugados e entregues a um entendimento dbil, a uma inalao risvel at, que era a dele. Sentia como a esfera danava sobre os nmeros, toda entregue a inrcia soberana. Sabia que toda sua vida estava naquela esfera branca, cndida e imune a preferncias. Tornou a rodar a roleta. E mais uma vez, e mais uma vez e mais uma vez...