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Problema: o questionamento que se pode fazer a

respeito da obra Nome de Antunes : a obra em


questo pode ser confrontada paradoxalmente com
a natureza ambivalente do trao, na medida em que
desenhador-cego? Ou seria centrada na forma de
produo de um que possui viso? Desde j,
vislumbramos que a primeira hiptese a verdadeira.
Contudo, no decorrer de pesquisas futuras poder-se-
encontrar caractersticas que apontem para o sentido
oposto.
Na concepo de Jacques Derrida (1999), o
desenho, o trao que pode se manifestar inicialmente
na escrita paralelo produo de um cego a alguma
fala, escrita, desenho etc. Isso porque o cego pode ter
infindveis maneiras de produzir uma obra. J que ele
no tem a capacidade da produo mediante
comparao fsica ela a faz por meio de suas prprias
experincias.
Sabe-se que, via de regra, as produes artsticas
sempre foram resultado da comparao com o meio
externo. Isso fora muito comum na Idade Mdia,
poca do antropocentrismo. Por exemplo,
Michelangelo dissecava cadveres com o intuito de,
por meio da imitao e observao, produzir sua obra
o mais fiel possvel da realidade. Isso, obviamente
exclui toda e qualquer obra de uma interpretao
subjetiva. Fica assim evidente que o autor no
cego nos termos de Derrida. Por seu turno, a obra
de Arnaldo Antunes diametralmente oposta j que
esse autor utiliza-se do meio interno, mente, intelecto,
memria e todos os rgos do sentido, exceto a viso.

muito mais produtivo usar mtodos de


produo de um cego do que um que enxerga
para ter o resultado de mltiplas interpretaes.
O trao inicial dos poemas como uma mancha,
informe, que pode ou no adquirir forma no decorrer
do poema. Dependendo, talvez, do leitor.
Por exemplo, observe o seguinte poema Acordo
presento no DVD Nome de Arnaldo Antunes (1993):

A figura acima um flash do poema Nome. A


proposta que se est defendendo confirmada, pelo
menos, pelos seguintes fatos j expostos. Assim, a
linha de cima no tem forma, apenas a debaixo e no
decorrer do poema, assume vrias formas at chegar
palavra, que ainda assim, transforma-se: concordo,
acordo, discordo. Alm disso, a cegueira do autor
exibida na interpretao do leitor. Ento Antunes

cego a essa interpretao, o que permite as inmeras


leituras do fruidor da obra.

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