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andra Mara Corazza INFANCIA & .EDUCACAO Era uma vez... quer que conte outra vez? Garo VOZES 1 NOS, INFANTIS ‘© DIREITO DE SER CRIANCA + Qualquer evianga temo direito de ser eriangs + Mas, em todo 0 mundo, elas estéo sendo spresssdas a crescer, forcadas a aradutecer cada vez mais répido © a assumie respansabiidades, cada vex com menos idade. + Nio prejudique o desenvolvimento rorenal da rience + Desrespeitarodireto de ser crianga prejedica 0 seu de- senvolvimento emaciondl Conselho Municipal dos direitos da erienca e do adoles: cente/POARS ‘A.criansa na barquinba, [Nos dias de chuva, com wm piace de jornal velho, fa: sia-se um barquisho de papel para navegarna sajecae fear colhando a gua levar. Hémuito tempo, navegacto, égua, lou- n, nos sonhot ecidentais, uma espé ‘cura infincia forms de de slianga, ‘Em uma histéria antiga (Soldadinko.., 1954), eram vin- te. cinco soldadinhos, todas irmacs, por terem nascido da mesma colher de chumbo, Ele se pareciam exatsmente uns ‘com os ourros, exceto um, que néo possufa uma pera, por {gue otinham posto ne férma em ckima huge, quando jéndo havia chumbo suficiente n No quarto de brinquedos,osoldadinho éechumbo apai- onus por um linda ballarina que moravs ema um caxeelo de carolina. Entio, ofeiticeiro preto da caixa de charutos, ‘com ciimes da bilarina, amaldigoou o soldadinho. Um ve to fez com que 0 saldadinho catsse da janelae dois gatas colgesram-no a navegar em ui regato dentro de um baru ho de papel. O soldadinho correu viros perigos: fl perse ‘ido por um rato de esgoto que Ihe exigis passaporte, cau no mat eo barquinho fol destruido; as 4goaso levaram para bhem long até que foi engolido por um enorme peixe. Depois de mito tempo de cemplets escuri0, 0 sold do vie kuz do dia, © peixe tina sido pescado, exposto na Ties, vendido, levaco para uma cozinha, ¢ cozinheira ti sha-oaberto com uma faca. Depais que osoldadinho foire- tirodo da barrige do peixe encontrouse na mesma sala de cujajanela haviacafdo. Reconheceu as criangas, os bringue- dove bela dangarina sempre de pema para oar. Olhou para cla, ela olhou para ele, mas nfo disserem uma Gnica palavra De repente, um dos pequenos pegou nele e, sem motivo al- gum, atirou-o no Fogo: ainda era obsa da maldigdo do felt 0 da caixa de charutos, O soldadinho de chumba comegou a derreter e suas lin- das cores desapareceram, sem que se pudesse dizer se era por ‘cause de suas vingens ou por casa de seus desposts. Alumia- do pelo clade sinistro, cantinuava 2 olhar para a dancin que também olbava pore ele, Abrise uma porta e um golpe de vento arremessou a dencarina 20 fogio para junto do sol. dado, No dia seguinte, quando vieram recolher a cinzas,en- ‘ontraram apenas um pequeno coragao de chumbo, onde f- ‘cara encravads a fvela do cintoa20l da balarina Por ser diferente de seus isos e também por amar de- ‘ais, 0 soldadinho de chumbo fora amaldigoado, posto an ‘vegar no berco e condenado & morte pelo fogo. Um simples brinquedo, uma fabulagéo ou mais uma das tantas metéfo: ras de exclusio? No século XV, a Europa criara em sua pai- sagem immagini literdrae pictéria, uma barca que levava ‘0s diferentes de uma cidade para outr, ou para lugar ne- shun # Narrenschiff, ow Nau dos Loucos: Confiando os insancs ans mercadores€ marinheiros, a= cidades encontraram uma manera de os tomar prisioseiras do Exterior, por tiré-los para fora do Intec, evce-vers; de encerr-ios pela portide, porque eavam entregues 9 se rdpro destino; de confing-lasno liar, é que per Camm moradores perpétuos da Pasragemy; de Fechélo Hf de conde nio se escap, por slt-los na mais aberta das esra- es. Como Passageito por exceléncis lho do mar, 0 louco ‘Ho tina lags par ic, nem para fiat; no conhecia a trea conde desembarcava, nem recardava de que terra vnha; no deiava rites, porque nfo hava terapo em toda aquela auiewade incetente: sua nica pra verdade cram 8 ex- {ens estéril entre duss terrae desconhecidas que nfo Ibe podiam pertencer Pode ser pensado que loucura € iafincia compartilhar ddesse mesmo ritual de embarque em busca da Razso que se perde na noite dor tempos, como diz Foucault (1991: 12) “Esses temas slo estranhamente préximos do tems da cri- nga proibida e maldita, encerrad nums barquinha e entre: gues ondas que levarn para um outro mundo ~mas para esta hs, depois, oretorno & verdade”. Essas duas experién- cas podem ser articuladas pela via da maldicfoe da proib 0? Por que Foucault afirma que, para acrianga ~ a0 con- {tio do louco -, exiet, depois, 0 retorno & verdade? (© mais antigo des mitos que narra alinga entre nave- g2¢fo, égua einfincia éo de Sargio de Agae,Fundador da Babilnia, cerca de 2.800 anes antes de nossa ers, conforme suas préprias palavras: Sarpio,o poderao ri 0 seideAgade, sou. Minha ‘mie foi una vestal e meu pal nfo conbet; min 9 ‘io de meu pai morave nes montana. Em mins fidade, Arspiran,eeuade na bea do Eufates, fo oneebido na vente de mia mie, vest. Detrme 2a em segreda:colocos-me em urna cava de ur os, Fechou minha ports com piche preto e det eu-me ao ri, que na me fogoe. A correntezs le vue para ALi, oberqueire. AK, barquetr, ‘om a bondade de seu corago, trousme ds gone ‘Ais, 0 bargsceo, como se0 pepo flko me ciou, ‘Aisi, olbarqueir, destnoume 3 culdar de eu jor- dim.’ Trabathando come Sedinir, Ishtar enamo- ‘eure de minn chepuclasereele durante quarts Cinco anos exer meu tenado. Moisés, Cio ¢ Rémulo, Bipo, Karna, Paris, Télefos, Perseu, Heracles, Gilgamesh, Anfion e Zethos sio alguns ‘personagens pertencentes&lenda ou poesia, cujes histriae {mos seguintes pontos comuns: 1) sf filhos de pais/mies nobres, quase sempre res eraahis; 2) suas concepgSes sic ‘precedidas por dficuldades, eis como proibigbes ox rel 6es secrets; 2) durante ag gestagdes, ocorrem antincios, através de sonhos, orfculos, que advertem contra seus nas. cimentos, 0s quais smeagam 4 seguranca do pal oda rae; 4) enguanta recém-nascidos so condenadas & morte ov abandonadios — neste lkimo caso, quase sempre colocados fem uma caia ou cesta estirados Sguas; 5) aps, So salvos por animais ou por pessoas bumildes, tis como pastores ou Barqueirs; 6) so amamentados pela fea de algum ani ‘mal ou por uma mulher ds familia que os recolheu; 7) 6 adultos, através de caminhos perigosos,tornam a se encon- ‘war com seve pais ou mes nobres; 8) entéo vingam-se dos pais (homens); 8) sio reconhec\dos,sleangando grandeza e alia (Freud, 1981) O “retorno & verdade” da erianga maldite © renegada implicaria em: 1) uma vida de pobreza, porém, cheia de afeto e de bons ensinamentos; 2) depois de crescida, na ‘dade juvenil ow adults, areslizagio de ager violent, t3is como assasinatos ou destruigbes por vinganca; 3) reco: shecimento como her, de legendiéra force ecoragem, ou como soberano que tr2z para seus sditos e reino toda Sor- te de venturas¢ felicdades. [Essa fibula arcaica da crianca abendonada ainda € sus- tentada por noses relagSeso priticas contemporiess com 2 infincia? A crianga proibida e maldita prossegue sendo postz onde? em uma barquinka? Els tem encontrado, como herofns, 0 caminho de volta & sua verdade? Mas, qual , se existe, € como € dits ¢ verdade des infants eda infincia de nossos dias? Averdade de Vitéia Em novembro de 1996, 2 estudante norte-am Amy Grossberg e seu namorado, ambos com 18 anos, lvra- xam-se do flho que acabara de nascerjogando-o num con tiner de lixo, No dia 7 de mao de 1997, um foxineiro de ‘um conjunto resdencial, pertencente & Universidade do Sul da Califérnia, esvaziava a ixcira quando enconttou 0 corpo Ae ama recém-nascids. Em 8 de junho, Jennifer Garcia, 19 nos, logo depois 6 pato, sufocoua filha e colocou 0 cad ver numa lata de lixo defronte & cass am que merava, em Loe Angeles (Reis, 19976) Em 6 de jusiho, em Nova Jersey, outrafaxineira, 20 lim pparobenheiro de urs saléo de festas, schou am bebé morto na lata de lixo. A mie, Melissa Drexler, de 19 anos, levara ‘meia hors pare dar 3 luz um menino, sparentemente saudi vel, esando 2,7 quilos, durante o baile de formatura do se- ‘gundo grau, no bankeiro da escola pibliea, Lacey Township “High School. Aestudante confessou ter extrangulado o bebé erelatou que, depois dese certificar de que ele estave mor to, enrolou o corpo com uma sacola de pléstico © 0 jogot ma 2 do lino, Em seguids, Melissa voltou para dancar com sew pat, escolhido para o baile, pedi ao DI que tocasse sua cancio favorita da bands Metallica e comets uma salads, antes de se sentir mal ei embora (Zero Hora, Mie assassna..). Os legistas confirmaram que o menino nasceu sadio e morreu asfiziado "por estangulamento ou obstruct dos orifcios externos espratéris’, podenda ter mortido sufocado pelo saco de lixo em que foi embrulkad (Zero Hora, America- na escapa..}. No li 3 de julo, um menina palit de 2,8 quis fot tencontrado por um gr, na cacamba do caminho-coletor de lx, segundos antes de ser tturado. Embrulhado em um sco plisico, nto restos de oo, o bes foi resets do porque chorou: foi btizado de "Licio", em homenagem 30 gartcher6i(Stefanell, 1997). Em 8 de julo, na Regio Metropolitana de Porto Alegre, 0 vilante Anténio Catios dos Santos encontrou ursa menina recém-nascia em ta sei na fente de sus casa: “Oui um gemido eachei que era tu gatinho dentro de uma caixa de sapeto",explcot 0 vig Taate. A meninaertavaencolada num pano de prato, dentro de um saco plstic eos indicios eram de que part ocotre- ths poucas horas “Els tremia de fio". Atendida no Heap tal de Cachocrinha, os médicos e enfermeias deramthe o nome de “Vitéria" Zero Hora, Bebé € encontrado...) ‘Total Quality Control: Please save the children! Ninguém esquece: partir de junho de 1996, o Brasil ‘emocionow-se com a campanke publicitéria do leite que _mostrata um bando de eiangas gracioses fantasadas de bi- 6 chinhos. Em uma pesquisa feita pelas agéncias de prope- ‘ganda para medira popularidade de seus ansincie, ela apa- receu como a campanhe msis lembrada por 39,6% dos en- trevistados, superando inclusive o5 15% do segundo colo- cedo, a Cocs-Cols, que raramente deixa de apsrecer em primero lugar As eriancas-bichinhos traviam uma caixa de leite, urn pote de iogurte e una colher ou ume gurrafa de bebida lic- tea ne mo e vestiam fantasias de mamiferes: leo, pend, cachorr9,elefante, gato, rinoceronte, urs, coelho, cavalo, cangura, tigre, zebra, einaceronte,golfinho. Os textos eram curtos e diam: + Togurte Parma. Para mamifers que andsm em bande, + Leite Integral Parmalat, Porque nés somos mamé- + Bebide Lictes Parmalat. Para tomer antes de trar pia + Bebids Licten coms Moran. Pats amansar est fers, 364 Parmalat. + Nio se esqueyede darum pulo no cola dame + D8 loguete Baio Parmalat que ele prometeesco- smenmot mais, com oopaidene sam pee primet vere cater posts ps (Gof nos Bsadoe Unidos, langados pela Halla, rul- Tnaonlemereana da dre de popelra, Nov vero ovo so ves devender ete ayeenandvelgvem Mrenages eligi come: Pete save he is Pose Save the dling Paso save he pandas Reta Vie Stcess impor} Top of mind: ae criangas camped Apreximadamente um tergo da popula brasileira tem centre zero 14 anos; destes 50 malades, quinze pertencem 3 classe média urbana e gastam quase 50 ilhées de resis por ano, oque equivalea 10% do Produto Interna Bruto do pats, Do ponte de vista da economia, estas criancas constituem, entre 0 péblico segmentado, 0 “segmento infant “um eargetespecifica de consumo", integrada por pequenos ‘mas representativos consumidores. Sio independentes, t0- mam decisdes, influem nas selegSes dos adultos e canso- ‘mern anit, custando a seus pais mies, em mea, 500 reais cada uma par mtsem escola, sade, alimentagfo, bringue- dos e passios. ‘As agncis de publicidade investigam mudanca no com portamento eno desej de comprasin esque apontar que a 5 pede-tudo selecio- nam seus programas de TV sozinhas; decider sobre ararea 08 equipamentos do computador v0 a viagens, carpe ‘mentee, fests, em a companhia dos frmiliares; ecolhem suns roups, cinema, CDs, laches. Deste modo, passuem poder de decsioem producosque cxtrapolam onda dos bringueds eguloseimes,e influenciam es decsGes de com: prade toda fama (MeCann-Ericson, 1996). Por exemplo, entrar em uma concessioniria de vefculos ce excolher © carro des sonhos deixou de ser privilégio dos pais, Em junho de 1997, fei inaugurada em Séo Paulo ums revenda de carrosimportados pars criancas Toye Toys = fa- bricados na Telia. As miquinas si séplicas perfetas de au om6vels como a Ferrari F-40 e o Porsche Carrera ou de cartos de personagens de desenhos animados. Si0 48 mo- delos que funcionarnabateria atingem velocidade de 4.a9 uilmetros por hora ecustam a partir de RS 699,00 (Folka de S. Paulo, Loja vende.) ‘Uma pesquisa —com o {tl O mundo da erianga ~feita pelo Senac-RBS de Porto Alegre com 400 crlangas entre Se 12 anos de idade descobriu que 42% dos entrevstados asi tem diasiamente go Jornal Necional e349 a RBS Noticias, entre os meninar, 35% gostam de ler ss revitas Veja, Superin tereszante © Caras; entre as meninas, 40% leem Contigo, Caria e Capricho: com iso ganham acess0.0 aniverso dos adultes (Senac/RS-RBS, 1995: 15), A “maturidedepeecoce” desis crianasbrasilias no se estringe so conn cultural ou de meseadorias no epe. Gp externo dos shoppin centers, mas 6 expecalente pro. dhsida na insti “eter, 2 qual pare as ranges do Mercos,¢o ugar da “democracn deta, iterative, onde so centro, econ e fans extension des mes. ‘mas, Como diz um menino breil de 12 ans: “Minka Case € onde me sinto melhor, E come se fsge'o pals eeu © Presidente" (Window 6,58). Carina, 11, ¢ Samantha Ignacio Ferreira, 9, freaientam co slo de beleza desde os 7 ance. "A gente tem de culdar agora para, mis tarde, o cabele nfo ficar armada, sem vida’ diz Samantha. Uma vez por semana, 0 pai vai buseélee © Sorocabs, onde moram com a mie € as leva 20 Studio W, tum dos mais cares de Seo Paulo. Para clas, €0 dia ma vvertdo da semana: passam a tarde em banhos de creme, dratagio no cabelo, escovas e manicure. "Se eu deixase, ‘minkasfihas 6 lavariam a eabega no sls0", conta o psi, que asta pelo menos RS 200,00 por semana’no cabeleieira, ‘Além de mais nova, Samantha & mais vaidosa do que sim, “Outro dia, quando fui buses, fiquei surpreso: Samanths tinhs feito relaxamento”, conta 0 pai. A menina explica “Tenho cabelo muito ondulado, preciso cuidar”. E comple- ts: "Bu também queris fazer Inzes, mas tenho medo que meu eabelo fique muito ressecado” (Polha de S. Paulo, As novas bonequinhss.. 9 (Os meninas também estio tomando alguns cudados pre- coces com 0 corpo. Daniel Shikasho, 12, sluno do Calégio Joo Paulo | de Séo Paulo, comegou a treinar ceo. Com 10 ‘anos, fazia riarlone, cor 11, foi bicampeto de uma pro- va com 500m de natagio e ,000m de corrda, “Paco para ganhar corpo. Sou magro, preciso abrir o peitoal e, com 0 triathlon, comecei a ficar largo", diz Daniel. Atusimente, cle estuda de mans, nda todos os dias, inclusive nos sba- dos, pedala cinco vezes por semana e corre outras duas (Fo tha de S. Paulo, Personal teainer..). Sonho doe ais: wm mondo cont mais humanware ora as criangas do Mercosul, escola & um “lugar sem lamour’, wea "espace banal” (Window 6, .4. 10). Dest, 79,6% afirmam gosta mesmo 6 do "recreio” © querer que este seja"msior” (Senac-RS/RBS, 1995: 5). Ou’ sideram que a escola constitu, antes de tudo, uma “fonte de diversio® para a msiria (McCann-Erickson, 1996, p. 38). ‘Apesar disso, 0 que um folder de escola infantil ~ Yellow Kids, de Porto Alegre ~ anncia, em letra garrafsis, € *O SONHO DOS PAIS”, perguntando a estes: “Voce jéim nou poder ir ao cinema, dangar 3 noite, passar um fimde se- mana em Gramado e tera certeza que seu filho esté em um, local trenqeilo, seguro, sconchegante © nas mlos de uma equipe treinada e supervisionada 24 horas por profissionais, altamente qualificadas?” sta escola oferece em seu Espaco Infantil 24 horas “bergério, maternal jardim de infinca, extraclase,recres- so", em regimes de “meio tama, turno intel, horios lu- tuantes, atendimento 24 horar, inclusive sdbados, domingos ¢ feriados'; com acompanhamento e assisténcis de “psicblo- 2, professor de Educagio Fisica, mutrcionists, pedagogs"; smuntendo, além dito, no sistema teretizado,convEnios com empresas de artes, inglés, balé e computagio, Apéslistarauas 2» fertas, © antincio enfaias: "Esta € nossa propesta, inédita ‘novadora! © sono dos pais vrou realdade"! © Colégio Sto Judas Tadeu ~ instituigfo educacional privada de Porto Alegre ~ anunci as vantagens de seu curri« culo, “desenvolvido com Qualidade Total", davidando que as criangasejovens possam querer ‘mais do que o que € ofe- recido": "Uma escola com teatro, escofinhas esportivas, in- ternet e natagso. O que mais se filho pode querer?” Num convite & rememoragio da infincia pelos pas, a propaganda penguins: “Lembra quando vocé era crianga e queria extudar num lugar divertido, onde tivesse a pportunidade de opinar sobre 0 que estava sendo ensinado?* Entdo, “chegou a hora de voctescolher uma escola sssim para o sea filho. © Colé so oferece (..) aulas de inglés, laboratério de informitica, TIA—Terminal de Informstiea Académico (..). [Seu filho] vai descobrir na pritica 0 que & qualidade de vida" (Zero Hora, Colégia Sto Judas..) Em escalas como essas, e também em suns fenilias, angas das classes médiae alta urbanas cumprem umm prop rma que integra uma das dress da stual concepgio empress tial de humanare,caracterizada por uma perspectiva "mais ampla de desenvolvimento baseado nas peseoss, no qual @ ‘objetivo principal a reaizagio do ser humano” (Kossit, 1992: 2). Tal concepeio ¢ oposta ao “velho paradigm que conduziu a evolucéo da sociedade dos fine da Idade Mécia 205 tempos da Civilizacéo Industrial de nossos diss”, e erti= caneste paredigma sua énfase“racional, material, econémi cacetecnolégica". O humanware adota como ponto central de seu plane mento estratégico "a valorizacio da pessoa enquanto ele- mento fundamental no processo de qualificacto™ Tradus-e, no espaco de produgio, em inciativas como: gestio partic pativa, educagio continuads, aperfeigoamento dos sisternas 2 de informacio e comunicacio, melhoriasfsicas no ambien- te de trabalho, politicas renovadas de cargos e sass, transporte exclusivo,financiamento de casa prépri, fundos de pensie,planos de seguro de vida, subvencio de estudos, ‘anal proprio de rédi, partcipacio nos lucros da empresa; tudo integrado a um processo de “conscientizacHo das pes- soas da sua importincia responsabilidad como principals, agentes extalisadores de rescltados na empresa" Jornal da Federasul, Empresas humanizam..) ‘Um programa de humamvare farili cultural e social ~ integrante do huonanuare empresarial ~ implica em que cada familia vs fazendo de sua criancas pessoas qualficadas desde cedo como mais curosss, independentes, cooperado- ras, geradoras de mudancas ~ “habilidades diferentes da quelas tradicionalmente exigidas”, A fim de preparar ot f- hos paraas mutagbes desse mercado econdmicoe profissi nal lobalizado, ajurtando sue edacacso as novas exigéncias do emprego, os expecialistas aconselhars {+ Nomundode hee abides profisioni = im camo os negocon sto efemere © profisions] | Gc ser contnvimenterinentado. Curtosdade sides ator npr dager. Evite dcr seu fino em exueras Hi desde aprensiegem Se for pone, the los © Videos sve ootro panes e outa lara Leve-o a seus, age agen ob insreve-o algun dos ‘altos Gus deintercirabio cultural oereidos pe exces, Os lnites do merado de trbslho sro petites de sus clr, {¢ Vslorae a independéncia. Seu fiho pode querer |cetuderingls aprender eters, tina vel egings- ‘Gen olmpiesernds freer urn curso de computagio ‘coutra de fotografi Se 0 tempo eo daheco nie ‘to para tudo iss, € bom que ele proprio defina as rltidades. Exerciar-e ls © preparars para peor | gramar sos vida proisinal (Revista Veja, Aeveli {Soque.). 2 + 0 profissona erative € o mis procurada. Por |sso aula de canto, de teatro ou de losis nko de vem ser constderadaesuptflus pelos pee + Inibigho & um fator que strapalha a vids das pes 08s trabalho, HL algomas mancirs de corrige ‘ise problema nas erangas. Oz pais devem incent- ‘ara atvidades em grupo, como fests, excursbes © + Atividades como aeromadelismo, paaveescrza- dase quebrecabecae sudarn a desenvaver orci ioe a capscidade de concent ass observacio re Soluce de problemas. O vigeogame tine ajuda + Nem & preciso falar do computador. Quem nfo sabe operar bem a msqune pode perder um bom crpreg. Dagel sigan tempo, vegan later [Serum out requis lndispensével + Um emo consstho. Nunes ve esquesa ds vetha rmatemécice. uma des melhores maneitas de ex timular o reciociio dat erianges. Além disso, tor~ nase escencial para obtencte de empregos em vic ‘or sere, Cem termina © 2" rau conkecendo Spenas es quatro opersies pode perder vag para iets qu corks tngarometrs (anita Ve, Jas escolas¢ 08 professoresatuss tém a responsabil- dade de preparar os trabalhadores do século XX. Este € a opinifo de David Thornburg, professor e consultor do go- vverno norteamericano pera assintos educacionais, Sua "nova isso" ¢a de preparer profssionsis fuentes em tecnclogi ‘ou seja, que consigath usar ura computador cam a mesma facilidade com que abrem um lwo pata ler, como Thorn burg declarou no I Gongresso da Escola Particular do Rio Grande do Sul, realizado em julho de 1997, em Porto Ale~ are, e cujo foco foi a Educagio numa Sociedade Global Acreditando que a maria das profiss6er do préximo século ainda nfo forarn inventadas, 0 consultor indicou que a mu- a danca que precisa ser feta & nfo a de prepsrar pessoas para trabalhos espectfcose sim desenvolver nas criancas as habi Tidades que poderio ser uradas em qualquer tipo de trabs- Tho que poss surge: No passa era importante saber ler, conhecer mere es espns ee Foal con tur sendo important mis jio bateAgort pr Coser erin, Sabe tomar dele om infor gescomplctan Ser independent ter ints. S- {come tear de profilo quattas vers for nc eosin Estas ho hiiadesmprtates auto ‘Kferenes do que se contoravs aprender na excla {ere Hora, Or professors tem.) Esses programas contemporineas de humanware em: preseral familiar e escolar tém sumientadas sis possibll- Gades esteatégicas pelas descobertas do que a neurcbiologia, cchama de “janelas de oportunidades”. Perguntas frequentes dos pas ~ como estar: 0 bebé que choca muito deve ser to- ‘mado ao colo para se acalmar ou ficar no bergo, mesmo gri= tando, para nfo ficar mal acostumado? Quando ele cresce tum pouco, qual a dade de eprender inglés? E judo, balé ou ratago? No seria bom celocé-lo em aulas de vilio ou de piano? ~ encontram respostas fornecidas pelos laboratrios, {que comparam océrebr de um bebé ao chip de um compu tador. Apesar dos 4 milhdes de vida sobre a Terrae des c2~ pacidades intas ali ixadas, 0 érebro humano € quase ape- has uma masta cinzenta sem as experiénciss que o fazem aprender; enquanto 0 chip &s6 uma pasttha de silicio, pre- cisando de programas que o fazem funciona ‘As fibras nervasas dos 400 grams de massa cinzenta de ‘um recém-nascido devem ser ativadas para que 100 trilhoes de conexdes se desenvolvars em 100 bilhdes de células ner ‘oss constituintes de 1 quilo e 500 gramas da massa ence filica de urn adult; © oso pelas exigéncias, desafios eesti smulos a que uma erianga &submetida, a maior parte entre 0 Py nascimento e 084 anos de idade, A conclusio € esta 0 céee- bro infantil precisa de rouita ginitica, sem a qual toda he- ranga genética recebida pouco vale. No € preciso ensinar uma criance a respirar, fazer bater 0 coracio, reagir diante deumbeliscio,sugro lite, mas todo omaistem de ser apren- dido, dizem os testes clinicos.” Por exemple, verficando que o sentido da visio depen de de conextes neurais feitas até os 2 anos e 0 circuitos da Linguagem se consolidam até um méximo de 10 anos, 0s entistas concluem que outros dons podem ter também “ja- nelas de oportunidades" as quas, uma vex exploradss, con duziiam a adultos com determinedas capacidades,¢, se no cexploradas, estas janelas jamais serio abertas uma segunda vvez, de modo que “a cada velinha de anversério que crn ‘ce essopra é como se ela extivese fechendo suas janelinhas” (Revista Veja, Como funciona...) Mamiferceexistencilistas da Microsoft [Em um enncio da Microsoft, representando uma pact- fica noite familia do fim do séeulo XX, aparecem duas me- ninas louras, com cabelo cacheado, vestindo camisala, no meio do quarto de dormir: "Papai, vamos I, fale-nos de Sar- tree 0 existencialismo esua renga na inescapével esponss- bilidade de todos 0s individuios sabre suas pr6pras decs6es, «também sobre sua relacio com Simone de Beauvoir". fudo bem", diz psi, que earega a enciclopédia multi- ‘midia Encarta no computador e chama “Sartre. A Encarta ces munida de 26 mil artigos, 9 mlhées de palavres, 7.000 Fotografias, 800 mapas, 100 videoclipes, nove horas de some toda sorte de material sobre os existencialistas preferidos, ‘Antes disso, as meninas conta que tinhar aeionado 0 mow: see ouviram um discurso de Martin Luther King e um de F del Castro, embora oachassemn uin pouco difei de entender. 2s SRL aaeE aes las véem o Muro de Beslim caindo ou mesmo a propagacio cde um impulso nerves, Blas ouver o jazz do francés Django Reinhardt e oclissico Pate Waing, de Burma, No parsgrafo final do anncio, pai efihas se despedem com: um beijo ¢o psi € surpreendido dizendo: esti condenado a ser livre” (Gabeira, 1995: 6}. ldware:protesdo integral as pessoas ent desenvolvimento ———————— Estatuto da Crianga € da Adolescente ~ Lei Federal 8069/1990 ‘Art. I~ Esta Lei dispbe subce« protegio integral &cxian- 52 € ao adolescents ‘Art, 2° Considere-se crianca, para os efeitos desta Leia [pessoa até daze anos de idade incompletos,eadolescente aquela entre dose e dezeita anos de idede, | Art 3°—A crianga eo adolescente gozatn de todos od: -ctos fundamentals inerentes & pessoa humana, sem pre- julzo da protesto imegeal de que trata esta Ll, ascegu- ando-Thes, por lei ou por outros melos, todas a oportu- nidadese facildades, «fim de thes facultar 0 desenvohi- ‘mento fsico, mental, moral, espinitual social, em condi ‘shes de liberdade e de dignidade. | | © Banco Munclal divulgou relatério, relative 20 biénio 1988/1989, que mostra o Brasil come « pais, dentre os 71 ‘pesquisados, em que hf mator desigueldade social ede ren da, Por um indice do United Nations Children's Fund (Uai- ef}, 0 Brasil & 0 65° pais num lista que leva em conta at nies de vida infantil, Em cad geupo de 1.000 criangas nascidas vivas morrem 67 com menos de 5 enat. Entre as criangas brasileiras matriculodas as 1* serie, spenas 22% concluem o 1° grau. Segundo a FundacZo Instituto Brasil 0 de Geografis ¢ Estatisica (IBGE), cerca de 18 milhses de criangase adolescentes braileiros vivem em farnifias com, renda per capitainferiora um quarto do salésio minimo (Re- vista Veja, O nivel do descaso) ‘AConstituigSe Beceral de 1988 e o Estaturo da Criangs ‘edo Adolescente (ECA) ~ documento ssinado pelo ex-Pre- sidente Fernando Collor de Mello em dezembro de 1990. ‘em consonsncia com convencées internacionals, adataram, na Grea da infincia ¢ da juventude, a “Teoria da Protesio Integral". Crianga ¢ adolescente, perante a lel, sio conside- radot "pessoas em desenvolvimento’, merecendlo por parte 4s familia, do cociedade edo Estado “absoluta prioidade no vendimento de zeus direitos Gundamentais, dentre a quais estacam-se 0 direito vida, & said, & slimentagio, dedu- ‘cacio, cultura 28 profisionalizagio" (Azambujs, 1996: 17) (© Brasil é um dos 19 signatiics da Declaragio Mundial sobre 3 Sobrevivéncia, a Protego e o Desenvalvimento da } CCrianga, endo assumido, perante a comunidad internacio~ zal, ¢ compromisso de reduzir a mortalidade infantil e m2 terna, hens como as twine de desautrigso e analfabetismo, suprimir e controlar as doengas evitvels por vacina, gare oacesso a égua limps, a0 sanemmento, 3 educacSo bisiea © protegfo especial para eriangas em situacso de risco (Uni cef..fsnibras). Ninjas €ratos de egoro ‘As 10 horas ds manhi do dis 30 de abril de 1993, brots ram de tes bueiros do centrode Porto Alegre 12 meninas de rua, com idade entre I e 14 anos, que dividiam os buratss escuros de um metro de largura por um de altura com rata nas, barats e dejetos jogads pelos pedestres. Tontos pelo cheiro ds lols (mistura de cola de sapateico © tet), saram "um # um dos esgotos como se estivessem pulando da cama e cexplicaram para a multidio: "Somos as tartarugas ninjas de Porto Alegre, referindo-se aos personagens de filmes e his ‘riot em quadrinhos que vivem nos esgotos de Nova lorque, lutam artes marcas e protegem or fracs e oprsnidos, A noite entorpecidos pela ole assustados pela escuri- 0, onde 6 despontam os olhinhos mies efios das rat. ans, a tartaruge ninjas de Porto Alegre tém o mesmo s0- shor “A gente quer que nos déem um sel compridoe com luz", conta Ratio, os olhos tristessubitsmente tkiminades ‘Aseslado, Gordo, 13 anos, cheirs fundo a camiset enchar- cada, deixaescapac uma ligrime pelo certo do oho e die J'Aia gente munca mais sai dagui de baixo,nio incomoda resi ninguém e nunca mais vio nos par como sea gente \fosse rata” (Brum, 19938: 34) Sete dos meninos contaram 20 jomal Zero Hora um pouco de suas vides e os motivos pelos quais se tornersm earos de exgoto" + Davi Gonglves Alves de Silva, o Miran era 12 nos exparenta sete. Sai deca aos der por nfo portar ar varadas de me. Desde enti, comesou heir llé ¢farar cigaros, Ne sua cima passe fem pelo hospital, © médica Ihe disse que um pul- fondo Fanciona, Dai tem saudade da mde dati ‘nfs que moram agora em Sapiranga (quelana via € ter extudo e ser gente bor, afm * Alexande Pedoso, 14 anos, fi pararna rus sos cto, depois de levar uma garrafada do padrasto. “Se de no a para a us tala’ (se prosttur) ele Sava em mim", conta. 4 pouco tempo levou uma sur de um brigadiano eft parat no HPS, “O brige ‘Sisno mentis pars or medicos que ew tinhs sido ato pelado”, die. No hospital uma sadiogafa revelou ‘que um pulmfo js nfo funciona mais por causa da [ols Maz Alexancce nfo ter med de morter."Tsi0 ‘alacontecer mals da ou menos da, ev sou menino de rut, explies "Se fzerem um raesede mim, vio ‘eeque'o meu pula é que nem fain. [-] Mor yer? Budo tenho mede, Vio 6 botar dois magos de ‘ela na einha cov + Ari Roberto Soares Menezes tem 11 anos. Asc ‘9, a brage do pt foi mais pesado que das outras e- {et descer facto em sus costs cele steve for (2 ara jntar sus rouninhe ei embors. Os tlkimos Seis anas foram recheados por lle, oubo, $8 passs- {ens pela Feber cura tentatva de estapro por umn Fhomem que the prometeu trabalho, as the dew foi tim pontapé no peseogo. O sonho de Ari éganhar tia Diceleta verde, Ngo tem nojo dos rator ‘tue dormem com le, "Sio meus amiguinos. Eade 30 et plcabo pra cles", coma + Paulo Tormes Vieira tem 12 anos. Na mani de domingo, apesar de sicudido pelae companheirs, ‘no consegua flor, Ertava mergulhado nto no bue! {o, mas no mundo paraelo da les. Ura soto abo- baihado revelaaalgum tip de calor encontrado no trap encharcado da dogs + Alex de Oliveira Fagundes, 13 anos, cele fl6 esd os cinco anos, Saude crs aos nove depois de er aurrado pla mie com um fac, por se negar ir So maon. Bok paar no boeptal © goarda st hoje ‘oma comprida ceatra na pera, “Eu quesia volar ‘ra casa, tenho sxudades, mas ela diz que nfo me ‘quer explica, Hituma semana, no domingo 25 (de ‘bay oteparado etuprado por doishomens em baieo da pasarla de Esagto Rodoviria, “Mas eu sou fel. 888 com forme", afr, + Rodrigo Montciro Amaral, o Saar, 12 snes, sia de care porque nfo suportava mais as surasd® pi, sq the bata om uma barra de ferro. Ate hoje ele (gut una fia clestrina palo, aero a facto pelo Fy psi. Rodkigo son com uma cas part morar com to {dos eves amgoe ue css no neo do mato, "No ‘sonsigp ms filer. Chee dem” descslps, sen sbandona otrapinho imunda eenchareado dell, + Fitimo Geraldo Lopes de Olena, 14 ance, & co- shecido como Ratie desde que descobris que a bo- ‘asd lobo podera sen de lt eescondeno, como fo ersm pars st rtananes gue costorava perseguie, Ratio € om menino lore de nfo mais que} met ¢ 20 centimetros de altura, com 0 corpo maga caber to de citrine das Facadas do pudrasoe das brigns deus. Sau de casa aos cinc ana, exputso pelo par ‘aso, "Eu era para ser gordo, mas spanhe! malo, Ele dain que no me quera em cas porque nfo era filho dele". Desde ent ches 1l6 quae o tempo todo afta ter mais de 50 passagens pela Feber [Asus por lembranga fol ter ido spserado aos sete fsn0s por dois homent que tentarsm estupro, ‘Tudo o que Ratio espera ds vie €genhar um tel compo paranto ter que dormir sgechado ei twlnado~ para ensergar oe ates tempo, Rat efi tha nfo tor acnluma boa cecordag oon 4 ace de vida (Brum, 1993c: 48) Deménias Na madrugede de 24 para 25 de ulho de 1993, sete erie angate jovens de 11 822 anos, que darmiam junto com mais quarents, sob as marquises da generoso pé-direto de edi cos que margeiam a Ipreja da Candela, no Rio de Janeiro, focem asessinados com teas, quate serpce nacabese. Tees deles foram abordados « 500 metros da Candeléria, enfi dos em ura Chevette amarelo, beleadose atirados num can- ‘elo em frente ao Museu de Arte Moderna A artista pléstica Yvonne Logfren Bezerra de Mello, ct sada com um dos clos da cadea Othon de hotéis, que cxi- davae alfabetizava quinae meninos do Posto 6 em Copaca- ‘bana, dessbafou: "O que este pas estéfazendo coma sua fa- fence” 0 socslgo Herbert de Souza, oBtinho fimo “sens crlangas for exclldasdactegeadesefes hum ne slo ani pergrer que olca ero oe adultos €,por isso, querem elimina” O endo Presidente lamar Franco esreveu em nota Naco: stow hororada O governador do Ri de Taner 8 epoca, Leone Bz, dls Tis, como munca so tna iors rear de repo © indgnagao da opie pia ene vee cine br (0 governo estadual veiculou em cidios e emissoras de televisio um apelo para que quem soubesse de algum fato ‘que contribuiese para a elucidagio da chacina da Candelécis ligesse para urn determinada telefone. Ne primeira hora, li- faram 25 pessoas, duas com dentncias sobre 2 matanca, As ‘utras telefonaram para festejara brutalidade. Dit sasdo tipo: “Deviam ter matedo todas", "Essespivetes tem " "Rind foi pouco, deviam ter arrancado a ca No programe Show de Noticias, da Badin CBN, 23 ‘pessoas ligaram para falar sobre a fuzilara. Todas epoisram a chacina. A apresentadora Liliana Rodriguez leu em tom indignado uma espécie de editorial, com a seguinte meté- Tort: "As criangas geralmente dormer com 08 anjos. No caso das que estavam na Candelira, elas acordaram com 08 anjos”. Muitos ouvintes ligaram para protestar: “Voce | confundiu anjos com deménios, Liliana" (Revista Veja, A \chacina das ering... Suonidae Anoveladia Rede Globo Explode Coragdo, de Gléra Pe rez, exibida entre 05 dis 6 de novemnbro de 1995 e 4 de mato de 1996, mabilizou «opiniao pblica em tomo do de- separecimento de criancas,representadas pelo personagem (Gugu (Luiz Claudio Junior, 6 anos) que, na trama da nove a havie sido raptado de sua mie para ser vendido sum cassl de estrangenos. Entre margo e maio deste mesmo aro, em to- dos ox captules foram mostradas mulheres chamads: "Maes da Candeliia", no Rio de Janeiro, que, chorando e posta do cartazes com as fotos, suplicavam noticias ea devolucio de seus filhos, netos, imo. [A novela ajudou a localizar 70 crioncas desaparecidas, endo que destas 26 dizom que safram de casa por conta prépria,“escolhendo viver nss russ porque apanhavam dos Por que a8 crancessomern + Perfil dos dessparecdos que « novela ajudu alo alae Ppiram de casa ~ 26 Fram rptadae pelo pa ou pela mie ~24 Perderam-se na rua 14 Foram eaptedas pars fin criminoss (prosttuigio, adogto llega, ec) “5 Causa desconhecida 1 Batidas [Em outubro de 1996, a Comissfo de Cidadaniae Dire tos Humanos da Asrembleia Leyslativa do Rio Grande do ‘Sul promoveu em Porto Alegre o seminsrio "Punicio Fisica For de Nio So- rer V das punigbesfisicas contra as criangas (CCDH, 1996) ~tra- Gurido e adaptado do relatGrio final de urn sezningrio real Mortar ues fede Bn Range tor). ze zado em Londres, em 1992, do qual paticiparam represen tantes de organizacSes nio-governamentais ¢ especisistas Ge 17 paises europeus,além de ebservadores de miniztérios _governamentsis dor Estados Unidos, Canadé eIerael Pe A punigio sea de criangas —em cas, na escola, nasins- tituigdes —passou a ser assunto de preocupagio ede ages oF- tanizadas a partir de 1979 — Ana Internacional da Crna, instituido pela ONU, quando a Suécia foi o primeira pa proibir, em sua legislagio) todo castigo sco 8 crianges:Em 1889, 2 Assembléia Geral da ONU adotou 2 Convencio das Nagies Unidas sobre os Direitor da Cringe, ratificods por 114 Esados, que definin as padesies mfnimos pare a protec das criangas do mundo, indicandlo que deverso tomar ‘eda as medidas legiaivas, adminktrativs, sock « elcacionis pars proteger a evangs de todse formasde violence fists e mental, injustisase 0, desemparo ou trtamnento negligent aust {os ov explores, inclusive abuso sexual, enguanto bos cudados dos pas, esponsiveis leas ou quais- (uer outras pesous que tenham a cranga sob seus Ghidedas. Tendo Convengo como base, os patses inegrantes da ONU foram aconselhedos pelo Comité de Ministros das ages Unidas a rever suas leis sobre o poder de punit cx angas, fondadas sobre aidéia central de que as “riancas se jam iguas, pois como seres humanos elas tém 0 mesmo va Tor que os adultos". Conforme o Centro Regional de Aten® ‘fo ace Maus-Tratos na Infancia, de Campinas, ccorrem a ‘cada anc 500 mil casos de violencia doméstica conta cian ‘2 no Brasil Em Porto Alngre, dos 1,3 mil casos atendidos, pelos conselhce tutelares entre novembre de 1995 e abil de 1996, 234 referiam-se a agressbesfisicas, dentre os quis. + Pars evitarqueofilho fugise de asa, 2 mie de um Tenino de cinco anos amarron corres ecadeado a ‘em sua pera drcta, O garoto foi encontradoem 22, ‘de 1994 por policias militares na casa ‘com os pis na pra do Lana 15, ‘uilémetierde Plata, A dentnca de que menina ‘Bf ma-estos fl flta pelo a6, + Depoisde pasar uma noteem maiode 1983 cor dao levando cars em tm posto de gaslina, um hromem que na épocs estava com 22 an, pretendia dormir em seu baraco na Vila Nazaé, Zona Norte {de Posto Alegre. O ini empecilho era ochoro de ‘ua filha dee mess. Depots de vars centativas pera ealmls, pa agurou bebe pelo pée o jagoe Contes uma prrede A evianga ficou com marcas ro Sas na cabega © no resto, mar soma enguanto ra ‘tendide no Hespitl da Ganga Conceigto + A note de 23 de marco estave quente eum ho- sem de 32 nos, acompanhada de ssa mulher de 41 ‘nos, bebi,Acliversto do casa rainterompi plo ‘choo doflho de um ano e dois meses, Pars que ‘aise, of pals pussaram a espaact-lo, O menino ‘hegou so Hospital Sia Canal, deEsteio, po voles ‘dsc 5h30min, jf. sem vida, com hermatomnas espa. ‘os polo corp (Zero Hora, Seminars daeate-) Separadas Em 1997, o parlamento provisério da Regie Adminis. ‘ativa Especial de Hong-Kong sprovou urna lei que petmite 20 governo deportar menores de idade em condicio clan destina no tertéro. A nova legislagdo dé a0 Executive po: der para expularcriangas que atravessaram a fronteira fe- salmente depois do dia 1° de julho, quando a ex-colinia br: {inica voltou 8 juisdigSo da China. Durante os primeiros iss, houve um forte éxodo de imigrentes, snimacios pela cesperanca de obter uma anstia. Entretanto, as autoridades do Departamento de Imigragio deportaram todas os que se apresentaram sem a documentacso. a Ale afeta todas as criancas que safram da Chine para reencontrar com 0s pais moradores de Hong-Kong. Esse a ppecto fere a Lei Fundamental (miniconstituigso) que gaan teas eriangaso direto de permanecer no territio se pela menos um dos pais 6 residentereconhecido. Agora, elas pre- sisam de um certificado pare entrar em Hong-Kong. Cerca de 60 mil criancas de pas residentes permanentes terio de ‘esperar mais de quatro anos antes de reunir-se «eles, Hié temores de que a nova legislacio oferece, diante da ‘comunidede internacional, uma imagem negativa do novo territrio, Entretanto, muitos parlamentares, epesas de ai pais e filhos",argumentam que Hong-Kong é muito peque- ‘0 para admitir todos osimigrantes. A organizacio de defess dos direitos humanos Hong Keng Human Rights Monitor condenou a nova lei esolicitou 20 chefe executivo ¢ aos le- sladores que demonstrem respite’ lei de Hong-Kong, 20: direitos adquiidos de seus cidedsos e ao “valor tradicional sdados pelos chineses fart e aoe filhos” (Sele, 1997: 41) Traficadas ~ + Bald Pereira de Sta tem onze anos, Foi levads pra Manaus, sem saber que extra condenadaa pros. Uiuigéo forgada. Se nfo dormlese corm homens; nfo teria alimento e fears press. Nao couhece o pas © fs mic, que trabalna na zona do meretici, to's Jmporta com quem ¢ onde els dorme. Edvalde se sca geal is outros meninar que faze programa, (Com ume dierengs: "Eu ainda nfo tenho peta" + Mara Sanchez esté nas russ de Manaus desde os ‘oltoanos.Teve um fh, e sua mle tes demon fentregou-o lguém e ela ni sabe por onde come’ (ar 8 procuré-lo. Aprendeu s trocst ove de bose fm Seu iho. "Nome sobre mie na de Jesus teve wn fhe, ras des ‘le mora. "56 set que deve esta vi vendo muito melbor cm oe outs do que extra comigo”,Clouna ss de case porave 0 dh lame bter quando bebie, quere su corpo. Ali dhs por fies promesns, parstat-se no gampo. Tie 8 figene, jen sou ra inguer” (DE rmenstels, 185. © Sewigo de Advocacia da Criangs, entidade ligada 3 (Order dos Advogados do Brasil, realizou uma pesquisa em rocessos, para chegar 3 seguintecifra: das 20.400 denin- as de maus-tratos 8 crianga ~ que chegam anualmente 20 Cconhecimento da Sutiga~, 13% referesse a situagbes de hominades de “sbuso sexual’.© Centro Nacional da Cran G2 Abusade e Neglgenciads, em Washington, aponts uma Trédia de 100,000 novos cases registrados a cada ano nas Estados Unidos. Estima-se, no entanto, que apenas uma a cada cinco ocerréncia de abuso sejalevada aos tribunatz, © {que elevaria 0 nimero de criangasatingidas a 500.000. Pesquisas nacionas apantam que 62% dos abusos sextsis acontecem dentro dee falas, send as meninas as princ- pais envolvidas — 83% dos casos. No total dos casos, pais © padrastos respondem por 50% das ocorrénciss: em cada uateocesos, tts slo cometidos pelo proprio pai c uma peio padrasto; o¢ pais sbusam principalmente de filhas adoles- ‘entes entre 13 e 15 anos, enquanto os padrastos agrider a8 fenteadas entre 7 € 15 anos; tos e parentes respondem por 12% dos sbusos e estranhes 3 feria ~vizinhos e amigos or 38% (Revista Veja, A caricia que destréi). (© abuso sexual acontece en todas a classes sociais ¢ € tum crime dfiell de ser provado, porque todos os abusvdores ‘denunciados tendem a dizer que "s6 estavem fazendo cati= nho" e que isso nfo & crime, cabendo & crianga, através de sea testemtnho, provar que houve mais. Por diferencisr-se do estupro— definido como “ser abrigado a fazer sexo 3 for. 2" ~, 0 abuso sexual - definido como “envelvimento pro: gramado” ou "spressSo conquistads’ ~ coscuma no deixar ‘marcas visivels nas criangas, senda considerade ma forma de violéneis psiquica na qual ndo ocorrera, na maioria das eres, agressées fsicas. ‘Alem disto, pais e mes epresentam dificuldades para Gesenbrir as ocorréncias, embora 70% dos casos de abuso repitam-se sucessivamente ao longo de pelo menos um ‘ano, enguanto outfos pais reausamese a aceitf-las, mesmo depois de denunciadas. As mées costursam proteger seus smaridos ou companheiras, ox desconfiar que as acusacies das criangas ao passam de Fantasias infants, mesmo quar do existem fortes indiios de que os abusos tenham sido. cometides (Brurn, 1997¢) Atacadas Oincesto de F.tem um cheiro, Tabu era0 perfume que tio usava quando a violentou. Hoje, elo fithodo estupro. vivern em uma cidade do interiar do Rio Grande do Sul. © ‘mening tem ciaco anos e uma ara doence genética que fez sua pele escamar. F. rlata que, quando tinha cinco anos, passou uma noite nz casa do tio, Blea colocou na cara dee, trou # 2ua oupa, pessou a mio nels. A menina no conse- rulugritar, A partir dat, sempre ficava paraisads perto dele Quando tinks nave anos, o tio alevou até uma eachoeirs, E de novo abusou del, falou que incorporava, que era uma entidade esprit que estava ali, Aot 37, estavam numa Fests de fornia, no lado de fora da casa. F-entsou para ir 20 be- aheiro, O tio a esperava na saida, Pegou-s 3 force. F. lem: bra-se da dor ¢ do perfume que ele usava: Tabu. Quando soube que estavagrivids tentou se matar. Nunca conten de ‘quem era; chamaram-ne de vogabunda, E munca mais conse {guluse aproximar de homem nenhum, Sé tem elagBes com rulheres (Brum, 19972) ‘Aos 14 anos, omenino chorava porque pa fo quslev-lo za vigem. A mae six do banheiroenrolada nusm tolha, pa rou na sua feencee fea a pergunta: "Meu fitho, tu andaste ‘com mulher?” Ele disse que nio. Foi entdo que a mle pro- ‘unciou a palavrasproibidas: "Tu quere fzer isso coma toa sme?" Foi primeica veo. Ne segunda, a mie invadiu asa rua, O menino gritou: "Mie, eu nfo quero". A mie botox ‘uma fits pornogrifica no video. O fiho correu, se escondeu ‘embsixo da cama Els o arrancou de I. "Se tu correres, vou ‘conter para o teu pai que fizemos a primeiea vee", e violou © {iho parido por seu ventre (Brum, 1997s: 50) Cortadas ‘os dois anos, G. acordou cou os gritos da irma de 15 anos, Ela acabara de tera csbeca sbertaa golpes de porrete pelo padtasto, “Ele tem ciémes de mim porque hé anos me fazde mulher®, olucava airmi. Nunca maisnasceram cabe- Jos sobre a marca do incest. A irmi se prostituiu. Quando G. tinhs 11 anos, foi violada pelo pai. "Se contar, tambérn ‘nfo val mais nascercabelomna ta cabesa”, 0 pat ameagava. A renina reistia. Entdo, era espancada. O imo perguntave: "Mie, tu nio achas que o pal tem um jeto estranho com 3 mana?” A mie desconfizva, mas preferia nfo ve. "De onde ‘eu vim, Ié dos grotées do Estado, tem muita farlia onde 2 filha tem filhos do pai, desculpou-se (Brum, 1997b: 66}. Incapazes de correr, meninas paraicas foram estupra- das por soldadas em Angola, na Africa, Na Crofca, foi regs ‘ado aprisionamento de meninas pars fins sexusis; nas Fil pinas, torturaseestupros publics; ns Guatemsla, os coman- dlantes ofereciam mulheres e criangas como pagamento por ‘bons servos prestados no campo de batalns; na Colémibia, a faring ofereciam suas meninas de 12 anos ao=soldados, ‘para que estes thes dessem protegio, A ONU foi alvo de um dossié com scuragbes de que auss trps de paz patrocinam rostiuicio infantil em Angola, Mecambique, Camboja, Cros- cia ¢ Ruanda (Folha de S. Paulo, Dossié seats} De acordo com otnforme de 1997 do Fundo das NagSes ‘Unidas para a Populacio (PNUAP),a cada ano 2 mithoes de -eninas entre cinco e 15 anos so entregues a0 mercado do sex0. A vilagi sistemtica em conflitos er Ruanda, em 1394, mihare de vilagSes~ as vene com abjetosafiados— foram realizaas, sem contar as prticas de “escravidSose- seul”, Nos Estados Unidos, 700mil mulheres e meninassi0 ‘stuprades por ano, assim como 30% das colombianas sho espancadas. Pelo menos 120 milhdes de mulheres do mun- oi sofreram mutilagio dos give geniteis 2 milhges de rmulheres © meninas vem se somando a esse ndnero anual nte (Zero Hora Diritos desrespeitades} Superpredadores Em 1994, a0 fazer uma curva entre dua estagdes na pe- riferia de Sio Paulo, o maquinists percebeu que havi uma crianga estendida sebre os trithos da ferrovia. Puxou os frei (0s, mas foi em vio: #Iecomotiva, de 130 toneladas, 6 parou alguns metros depois decortar to meio o corpo de Willis, de3 anos 15 quilos."Niodeu tempo", epetia om ta, em estado de choque, quando os policsis chegaram 20 local. O menino estava nu, estas roupas— uma cuece seu, com listras pretss, uma camiseta vermelha em pre de son délias havaianas foram encontradas num metagal a 15 me- tos do corpo: a cueceestava manchads 4e sangue. A 2ut6p- sla apurou que Willian tina sido estupradoe estrangulado, antes de ser posto nos trilhos do trem Dots meses mais tar. de, foi enconteada o assassino: era Ivan Cares de Aragjo, 0 2 "Bitelo', um garoto de 16 anes. No dis em que foi pres nha cometido outro crime igual: Bitelo invadiu uma casa, onde estuproa e matou uma menina de 2 anos. Malcolm Shabazz, 12 anos, tinha uma colegio de p ‘tos que carregava sempre consigo nfo importava onde fase Na manha de domingo da dis 1° de junha de 1997, Malcolm levantou muito cedo. Antes que o sol nascesse,estava por- tado quarto de sua av6, Betty Shabazz, 63 anos, viva d der pelos direitos civs dos negros Malcolm X, assassinado hf 32 anos num sao de festas em Nova York. Malcolm cat- regava um lato cheio de gasclina. Abriu-o, encharcou toda s.portaea entrada do quart, riscou um féeforo,viua chama esau correndo, A policiaencontrau-o vagando pela rua aal- sumas quadras do apartamento em que morava com sua a6, (Com gueimacuras em 80% do corpo, Betty Iutou contra morte durante 23 dise, até sucumbir (Reis, 19972) [Nos Estados Unidos, cresce 0 aumento de homicidios realizados por menores de 18 anos: em 1995, 4.000 adoles- centes foram presos por envalvimento em crimes de morte; demonateds Info usin ren as aaa ~ diminlamortaldade infin, se prodan ae ean sata cts com dean deboate ee ne Econraceptivos) e um incremento nos euidedos e no afeto dedicados i crancas, em cuje sobrevivénca se confa mais (cf. Ulvieri, 1986: 59.60), Shorter, no livre, Female Emancipation, Birth Control ‘and Feriliy in European History de 1973, tabalka com da- dos demogrificos,relatvos is mdangas nas taxas de Fecun- idade, para explicaras modifcagSes nas atitudesfernininas Fem posto da mulher dentro do cass eda fami, vincu Iando a fecundidade e o controle da natalidade & emancipa- fo ferinina, Em A History of Women’s Bodies de 2983, cle pate da subordinacio secular ds mulher e do inicio do movimento Ferinista no século XX para explicar como e por gue tr ‘orreram tantos séculos de subordinagioe de Iuta pelo reco- shecimento da jgualdade; indica queer malherestiveram sea corpo submetide, por longo tempo, as "dceites sexual" dos homens, o que fzia de suas existéncis uma sri intermind= vel de gestagSes; em segundo luge, mostra que at mulheres cstiveram submetidas ae ios, os Guais, por seu elevado nd ‘mero, constitufam uma preocupacSo constante no que con ceria sua sobrevivénciae eriagio; além de serem sujltas - sicamente a uma série de doengas,diferentemente dos ho- mens, Segundo Shorter, sea mulher fo oprmida pores in ferioridadefsca a afirracio do matriménio como opco "10 _mintia” e nfo como necessidade econdmice,« pievencio da nataidade e, portanto, um mener nimero de filhos pare tender e um maior cuidado do prépria corpo, gragss 30 de- senvolvimento da Medicina, proporcionaram 3s mulheres ‘outa “bare fsica” necessira 8 sua emancipacto. Donzelot (1980), em opesicio & maiora das conclusbes cima no que se efere & Uibertacéo das criangas no século DX, demonstra oaleance estratégico das politcas pablicas, ‘sobre as cringas, no sentido ca normaliacio da relagfo adul- Ww *o/ctianga, Afirma que as leis editedas na Fran a eatdelbiowte foal cst eae <émens(180 ln arms sees (2851), vigilancia das nutsert (to rodeo ~, visavarn objetivas: tuato de aprendizagem (2874) cbrgntaridade eels (1981) ernie ine plies ue ca 2 stuasso de bandana des hanes dor ne lr cases tat {Misa meta mei," cape no Iie des cana, rpndo ot vlna casa berde de movment ed totase afrowarent de emia com Gets (195) eb de como conceit de individ. $0 dcr em pao drier plea mein corpo estava imerso no naturalismo da vida e da pases do tempo. Foi # cidade renascentiste, com seus aa de de eitencia de disposi, bem comes coees, a "fana madera’, redusidsao cael esc we ins condigtes soe, culture hte poe oo doe ate codices, {fe Pedominate no edo de Galva de que seer Gus “emete,consaniementeavitioenschdc reece Sie ede prética" como afims:“E difelaredtar que tum pesiodo de indifeenga com relgioeianes trae, dio uso, com a judd ‘popes ede 'cliactonne Prevalecidoonterese” (Gels, 1995: 26 420) Ohstorador acredita que se mud : as mudangas ocorem sone parte da mesma maneira ¢ sob. 5 > + seb o mesmo rte, sob ears ds frsas polities soci, aenda "bruce eares ‘ner, repenina aceerges em outio™ No corer Ede otrabslho de Arits, Glis descreve cerécers 05 da inflncis, dee. cas ambi- Aiscussto dominante dente ce hist valentes em que convivern noves¢velhts formas de infncia ‘que coexistem no seio de uma mesma sociedade, nfo endo ‘nem indiferenca nem o interese predominante em um pe- 1do ou er outro, coexistindo as duascaracterietics no seio cde uma mesma sociedade, uma prevalecendo sobre 2 outrt ‘em determinado momento por motives cultuais © ociis ‘que.nem stmmpre so ficeis de distingulr: "A indiferenga me- deal pelacrianga éuma fibula; eno século XVI, ..), pais se preocupam com a sade ea curs de seu iho". O historia dor (1995: 219) arma que devernosinterpretarosurgimen- todo “sentimento deinfincia” no séculoXVIHI como. sugi- mento de "nosso" sentimento da infénca, como "sintoma de uma profinds convulsSo das crengar ¢ das estruturas de pensamento, como indicio de uma mutagio sem preceden- ‘eda atinade ocidental com relagio& vida © a0 corpo" Dessperecimento [A pattir dos anos 80, sguns extados passarar a consid rar a invenclo de infincia” como uma perspectiva “conven: ional” e “superada" e 2 citam apenas como pano de fundo paras discusGescontemporineas:€ casode Postman (1984), profestor de Ecologia da Midis da New York University, das iscoriadores da infincia Trisiuzai & Cambi (1989), de Winn, em Children Without Childhood (1983), e de Berger & Beages, em The War Over the Family: Capturing the ‘Middle Ground (1983), que analisam » chamada “perda de infincia, ses “desaparecimento” ou "fim" apartirde meados do séeulo XX. Contudo, afiema Bellingham (1988: 348-9), “dentro da Sea da literatura especislivada da histria dain fincia, essa idia tem sido vista ceticamente", em particular por alguns crticos que dscutem o fato de que os pais das classes tbalhadorss nunca amsaram nem tratsram seus filos ng como a classe médl, ¢ apenss as classes cultasairam assim em fingdo da transmissso cultural deste vao Morgn. Em dominos as Cacia Hannes Soca tncontannse andes que orem desa ema ideae'e, salou de “deepened nin snerna Oe, sof Mong ctor auld visa faneess Epa non apr ide: ir pss denote (100), stor questo do desparecinemto do tempera fine, gl, s se prlogay, tyr canes hehee at tender desmedidamentso poi initio desler Gi, dese modo impedindo a eianga death leo acomscera porque oslo do sem sas pce sua prcela de sono, sm co su tlio com o tempo, 2 mem eu ifn. Alen de estos tee oe ta sede que, por ses pjte de emencgne de Gividso demoesic, Estero es tings Hests cote altos ecru, vendo cada ves atm oa on ‘ao em mist (Monn, 19947) ‘Chisel Jr. (1994), no campo da Filosofia de Educa ‘io, com base em Habermas, indaga sea infbncia nto sera lum projetoinacabado, tl come o projeto da Moderidade. Referenci-se em Hotkheimer e Adomo para azgumentar Aue tal fim nfo ests necescariamenteaseaciado ao termina do periodo moderno, mas encontre-se presente disletcamente ra propia Mederoidade através nfo da hegemonizagso do compertamento adult sobre todos, as de proceso de in. fanizago geral da sociedade. Infantlzagfo, que nega de- senvolvimento da infincia e das crianga ese manifests, por ‘exemplo, no comportamento cruel do “nice”, represen ‘eds juventude hitlersta.Analisa as relagdes ente oftm da infcia ea desescolarinagin das criancas, expresso no grande ruimero destas fora das escolas e levanta« hipSeese 20 cque talvezs escola continue sendo “o ocus de uma ealética entre affimagioe esvariamento dainfincia™. Se a Modeznidade fo: 10 1 pt da afin, date, ops, tendo tects wc com cig a emt irgto ma “tn, oa ecl ae ints une Bn fran eer ua naan ome viet foo de modo stom dig eta vid stam de Devoe de faa ches se ema, Para Ghiralel Jr, estarfamosvrend em uma &x2 da “pwinfincin em gues "esa do fate” nfo eae ‘amas nenure rianga no sentido fre do ter ito { enqunto associ eed nflncies no por prob tna econ «police ieee ae por nfo fasta mats flaca, Termes inp a un petado 3: “desrogalizngo" pond pela ps afte so, elas cringa- adultos e por adultoeinfanilides (Ghiral- Gali, 19945459) Calligasis. © psicanalista Calligaris (1994: 5) desereve ‘mudangas no arnor contemporines peas crlancss, promovi dos, segundo ele, pelo narcsismo parental e social do Oci- dente, No Brasil, sEo os adultos que se vestem de criangas € ‘stem suse criangas com roupa esporte e com fantasiae da axa querendo “que sejam anes de fias sem Ie; a pros- ‘ituiclo infant € exmica ~ “cervejs com menina" ~ e, ‘coma nas Estados Unidas, o estupro €v rime da décads “uma violénciz que € provavelmente s nossa cota as crian ‘as que se aventurassem anfo sera de nossorsonbos". 1x0 se deve ao fato de que as crangas nio mais realizam as so- ‘thos dos adultos e também por estarem independentes “cada vez menos integradas em quados familiares, cada vez ‘mais sozinhas"-, por “efeito dos tempos, da inwtsblidade dos cassis, do mercado de trabalho", mas também do nae sismo parental" que cada vez mais v8 na coma implicacio da vontade de abando ponderem ¢ uma espera “em Gltima inst ny 8 toes 94 9, o paradoxo de vier ena ands a tanto interesse pela infincia, aa qual ge edits ser ¢ uma decease univers de sus dnvitces ao ee peynaaual"svoniomatenee 2 alsa mates para tem diner fo tem a meer nso motbaGio’, enquanto a criance js Myson mune iapracn ese ep : oturada mua ura weloea impor onde tno vge mao Eee ‘namie dispesvacum pal desqulifesios esa psicanalistas, indicam mitsloga sda [oper itunes def ncn oo Forts crng stu M igbes ins, Riasni, Costa, Mendez, Denunc con- 7 sez, Denunciand “as, lburmenas de vic ie al ue afligem significtiva parela desu populacioinfinto-jvenil, compromesendo seu utu- 3" (Rizzni, 1993, Prefcio), tis textos “aspirar contr para um melhor conhecimento da situa dacrianga, far 0 banimenco de piedadeingtawa que pcefere ver nis 705 das idades¢ nas estradas do campo, crancassbandonsdas em vez de Famili abandonadas” (Martins, 1993: 15)- Assim procedend, 0 “disseminaro conhecimento proczido", ‘peram provocat “ssociedade brasileira pare ume aeude que ltrepass a indgnacdo e que efetivamente conduza 8 t= formacio", f que “sbemes que 0 conhecimento € 0 inicio ‘da mudanca” para por fim 8 nossa desolagio em face das sbominagbes praticadas contra a infinela (Costa, 1990). “Tas textos afirmam integrar 0 “amplo debete social so- bre ainféreia, que se dew na década de 80, fazendo surgi ‘uma ‘revalucionériereforma da legisla" ~pelo marco j- ridico do Estatuto da Criangae do Adolescente, “que cons ‘iti uma efetive e radical inversfo de pacadigma” (Mendez, 1993) -,colocada como paradoxal em selao is préticas so iais dos ance 90 ~as quais continuamn sendo realizadss de forma ‘acidentad, desumana e desrespitoss, iracional’ Privicas que estarim sendo cometidas contra‘adiccito de ser crianga daquees conserados como “los a diva ex ‘exna", “hos do estado oligéeguico-desenvolvimentsta", thos da ditadura” (Martins, 1993: 12; p. 15). Feneloa, Mactins & Domingues, O tema da: infncia €considerado “um problema social” ‘uma reparagéo urgente" (Fenelon, Martins & Domingues, 1992: 5) ~;sendo também indicado como “um problersa so- col6gico" ~ "uma mutacio da sociedade, que se manifesta cenme problema Socal" © qual &, a0 mesmo tempo, este digo e concebido como “urn problema plitco”~“o adulto precace matila «Sociedade inteira, mata o soaho ¢ #espe- ‘ange eantecipa crelmente o Futuro camo momento de ca- ‘Encia e brutalidede sem remédio"; e também como “pro- vs ‘ema psicol6gico"— “que rorne a vida de milhares de cian, as brasileiras inftncas desperdicades, infancas perdi ‘expiopriads da prépria posibilidade de futuro", ‘Ato€ (1990) estuda cringas internadas em uma funda sto filmerSpica e indice conseqiéneiaspsicolégias do {emamento, tis como: “avider ative; “instisfagSo ein. ‘apacidue de amar’; “dificuldades de relacionamento com ‘ommundo; baixa “qualidade de investimento nas atividades ‘que executa"; ndo favorecimento de um bom desenvoli ‘mento “ds percepeio do propria corpo e do sentimento de si mesmo", do “psicomotor e cognitive", "de linguegem, ‘nem da autonomia, nem da capacidade de inicatva”, do ‘desenvolvimento mental saudsvel da erianga", de “coasta sio de sua identidade e a possibilidade de se consttuir en. | quanto sujeito";impossbilitada como fca de "demonstrar ualquer expressio de liberdade e autonomia, de descaber. tado que &capaze de seu limite” (Altoé, 1990: 268-268). © massacre dos inosentes Os titulos geras si indicadores da forma como tal pro Dlemitica & abordada, qual seja, a de supressio soci] da ‘ondigéo de infiaca, camo por exermpl olivto coordensda or lost de Souza Martine ~O massacre ds inoomtes eran $2sem infncia no Brasil os 0 livzo de Sonia Altoé— Inf las perdidas: 0 cotdiano nos internatr-prisde; enguanto ‘ossubtitulos tratam de: meninos e meninas de ru; trabalho recoce; prosituito infant; exterminio de crianqas.e ado lescentes;infincia e juventude evininosese institucional. ‘adas; diversas formes de violéncia e punigbes contra cxany 5, Livro eo titulo - O Massacre des inocentes: a crianga sem inféncia no Brasil replica, ao menos em sua primeira parte ottulo do trabalho de Lawrence Stone, The Massa of the Innocents, publica em New York Review of Books, vol. XXI, n. 18, 14 nov. 1974 (Wi'son, 1980: 132) 124 a Ao eleger como seu problema central “cs processos que extio suprimindo a infncia de nosss sociedade’, ese liters- turaaflrma que “as eriancas sem infincia extZo por toda @ parte, até mesmo nas nossas casas", jd que so to “vitimas como nés, de processos que no dependem de pessoas de- terminadas, que nfo dependem de que tenham pais, tuto- res, abriges, comida, t€ porque a materia os tem, ainda que tenha tido a infincla suprimida” (Ms Oenuncad recorene 60 defn E plenaente su vida infantis “Alfa este senda “ensormde cn suse de ve mater Meson de Stuer nto tendo ssicade ada coeds nto Siento mao qo tego dese enaga dso Scapa smlaments plo tenga do ala do aah, {capa daislenci” (Marin 199914), Tle {av earn yond todas sacedaectn pero, qu dent Suerte tins, pemteranent ou modo dee {hls Perden, smo conte di formar der ora aaneeeeeeeeeeeeeeECunEEEE {her prof soil que asefure "Bs grass do urea suns” Alen Jeno econ depen eset Pinned ses ites come motese deem orb cle tour dueubgurosnovare que de morse fx pen doce 40 mesmo tempo, dagulo gue noe desncrts do gue ouobanento sem sl" Sem infiocia| (Outros textos consultados apontam paras condigio glo- bal da “crianga sem infincia", presente em todas as classes socsis, dos quis, indicam-se: Bs "9 Dimenscn (1994) em O edad de papa Ciacci das bananas no heed ‘trabslho infantil atual cor o tisdo Ocidente, Estndo agora “mais expstas novos eg Yes tiscos, como a manipulagéo de insetcids,fertligaec, xo téxico e sendo obrigadas a passarem longas horas ce, 4 ‘fics da colheita", ou 6: “meninas Prostitutes" tm a sua capacidadelimitada de sobrevivenes de se empregst, caso sobrevivam, 2) Heise Sv, Sagh & Wal 1989), em Ae cated es dr an eatin Oo ee Sg ‘Semin spear gs calseceee ea ‘wemsebanchads conc suneade eee le Seppo na fr de as sen poriodentteccnco sera mene ca (Seecosrdoc tents ft ete neseaqude derjreastncoviencinnetiee tier gut eres oor a roars quscoprns cia relago sexual, o primeira ‘asamento, a primeira concepgéo es grime: 5 Se 90, em fn oe sabre amoral dos pobre dena go ee ee ietononeltegeapry ees as Feo ee enh im F pirte de um compromisso moral fasion m0 ors perigaso em toda hist. # los pais cabe 0 -omida, o que implica retribuigdes por el de de porte dee fhe 4) Spindel (1985), em © menor tabalhador 1m ase- tarnds reprade afta que a nds bres de esti clad slimenter onstiiem ander conse hres do congue de fread abode neers: Una das foxns wld por esses stores pars “Sexptc” 0 cone toledo Govern «doe conto aati sobre ot Tboinfat ¢empregar cada enor via asters de “oles de esupo"jasimo taba intan esas terando ae tito ot mal pago ey normalnente omen cbrindo Imentagtoe tempore Spindel spresena a elevasto do timer de menres ue, po um aumento de vag nn ico lpi cna tad pronto pode agen Gu nia escolar inter asc, quis tempo pra denver atdaces deo 0s quale ni ere convivio fails. 5) Violante (1990), em © perfil pscossocial da criancae do joven marginalizadi, trata dos menores que, por perten= cerem a famfie carentes de moradis, alimentigso, educa fo, sade, trabalho, trnsformam-se em provederes fnancei- ros de si mesmos ede prépria familia. Com a cragio de wm “mercado de trabalho” eapecifico ~flanelinha, guardadores de caro, carregadores ein Feira lves, etc. -, desenvolvidos por cles mesmos, enquanto extatégia de sabrevivénci, estes ‘menoresacabim se tommando responsiveis pela vide prétce. Ao ledo de terem exigncis pesadas de sobrevivéncia, tis Ccriangasejovens so "infantilizades” do ponto de viet afetivo ‘ emocional e este comportamento geralmente ¢ visto como agresivdade, contestacso da autoridade, margnalidade, pela propria sociedade que os reargingliza, 6) Adsrno (1987); Bonamigo & Rasche (1987); De Atal de (1998); Fausto & Cenvni (1991); Ferra (1979); Grey 2 bows (1990) ¢ Movimento Nacional de Meninose Meni fas de Res (1991) sé0 outros trabalhos s tas de Ros (1851 ‘uabelhos sobre a supressig, BrutalzagSo de infincia Bae denne sah tet se tulrtasmean missense eects {EA Se gs de oe sop lpia elo "etorson cones soe oe role cmos. doperdepanesepsmienetes fee Ge 8 iy S55 19, echo Bos omar decane -de ue justi ee etn & partir das quas todas as criangas “carecem de infings, Pothier cudsbosreee Feces npr: Alin nee oe oe con pel dase pele ae barr eee” pong ye ie ees venitcnsdo de eds gander ‘Amin gues ures dtc 3 $0 dani nf € epori siete copia perp eee de eee So fend do chamado exci indurialdeesere tomsdescstvelemmesennen pcarsey ee ceen camo metodo pnge eaten noes came nay, dvr eden se cates lk Man, 1355189) ee fit de int gulag. des pel briana demu nrc (la eee Tnerumento ge de scrdo com a psperteia, csocan em as vere aga nde oe do Movimento Son Tenn, ehades ier, Inia, roar sbndssxuamnone eee ssscorlnchinentee os egeedoe te ee Aviram (1992: 213.214) indica que a excassez de est os sobre a atualnegligéncia do status social das cxangan, fortemente vivids hoje no campo da bisvcia da infancs, € ainda mais surpreendente desde que passou a ser enuncisdo ‘esse rlpido “desaparecimenta da inféncia". Tal enfeque, diz cle, “mesmo se for para ser celebrado ou negado néo pede set ignorade! Rei destronado e morta Opr6prio Arts (1986: 16-17), noestedo L'anfance—es- crito em 1979 para o volume VI da encilopédla Einaudi - sfirmave estar observando alguns indicios de rmudancas na atitude ocidental pra com 4 inféncis. Mudangas que, do ele, podem ser comprovadas nos anos 60 e 70, quando “0 ‘pequeno rel do século XIX" era urna crianga rar, fruto de ‘uma contrecepcio efica, embora tities. Tendo sido incre- -mentada natalidade'nos mos 40-50 do baby-boom, aimpor- tincia da nfinca decresce desde 60-70, de uma forma gene salizada. Entce 0 baby boom ea diminuio da natalidade de 30.240, se havia uma diferengr de meios a motivagio proste {ula ceudoa mess, qual sea, a finalidade consistia em con- Segulr uma ‘fara fei’ e 0 bem-estar futuro dos fhos" ico no sespondia A partir de 1960, o refuse demoge sais 8s mesmas motivagées}é ndo era mais child-oriented, como depos de 30, ox come oincrementa dat anos 40 50, € "a imager da crianga jé nfo € posiiva, como no século AX". Faz referéncia a0 Estados Unidos como pas em que ‘ior culto fo rendido is criangase onde vinbam serdo edo. tadas as mais drésticas medidas de restric as criangas, ws como: aluguel de apartamentos para castis que tenhsn, 20 saximo, dos filhos; condominios para ancilos na Flida em que € proibido resid eiangat pequenss; proibicto de que crlangas entrem em extabelocimentos comercai em que es- tejam scompanhadas por adultos. Ohistoiador diz que, em divide alguna, estas medidas podem ser explicadas como 19 conteqsenca de vnte anos de aba ‘pemisivdade’ cbora els no fosem tleradsem one tempes pens on el sensibilidade” que foj ete poste ceeto Beene Pa orele que a crianga nao siga concentrando nela, como em acontecido durante um século ou dois, todo senor esa peranga do mundo". . wee ‘Repetigéo ad nouseam? Em 1973, Arits (1981: 26) escreveu que es stad aaa nfo fee satade obs Senta Publicagées, inspiradas pelo sucesso obtido, tal como ‘isha Acantecid com su joer ancestalshshindeertice Tunbin eernaqueamabigicaiodaeesanstcy Frtodoqueva do sero XVIfa0 XVI ner Soaumeriie mara do qn miata anh ouinvaidse lgumashipétses sobre sisted tiie, Contant param campotisonapon sae Do, its lea qe “Cremer othe ead sam cr mesmrs emt, om pegs mec a Juric ruito maa smlitudedosovcnntone, lect infrmstces” a rem 00 presente momenta radio desis isirias ejecalmene sei cedendo a repeticio ad nauseam que Asits previa? 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Fazendo-ce homem par viver entre os homers com a Intengio de o salvar, Jesus velo so unde, nascend como sums crange.Crianga que, pr estar ienta do Pecado Ori tal perante os olhoe de Deus devera receber,slém de um Upto coled denen nam Br dCi, tn Fel Ia 50, p. 2830 A ws se apse pled es EDS ate Pr ep, Funes Hass FROS 3,0 jah en S88 luge distinto, também um estatato privilegiado, As cra ‘28 nlo eram responsévels pela degradagio humsne, sendo, por isto, abengoadas. Jesus as chama para perto de sie esta, belece, como condicsode salvagfo seus segvidores adultes, que sejam como eas. Que se facam tal qual elas — crane. ‘has, pequeninas ~ para acederem a0 Reino Ber Aventure do de Deus Pa clevado estatstoespirtualatribuide pel discuso re ligiosos criencas ~ concebidas 3 semelhange do Menins Ie sus ~serf, mas tarde, retomado pelo diseurso educecional Retomado, deslocado e tranformado,recorrentemente dis. tributdo, a partir de outras condigbes histérics e préticas sociis.O sistema de dispersioe difusto de ta discurso no terd poucos efetoe de verdade e de poder cuturais sobre © infantil: fcaré a unidade do objeto “infincia; estabelecers as formas de sua enunciagSo; eterminati osistema dos con: ceitos permanentes ¢ caerentes que o colocara em jad; € permanéncis do tems “infantil, pels defnigio ‘de um vasto campo de possbilidades estratégias. .asculpadas. Nolvr criscionsta da genealogia de Adso, © Ginesis,eoconta-se: 1) A fecundidade e a maultiplicasfo, ‘como ordens de Deus, para que honsera e mulher povoassem estada no Paraiso, nfo ‘qualquer referencia filhos nem a filhas, ms 0 homem, "Macho e Fémes". 3) Somente aps o Pecado, isto 6, apés 0 ‘pnhecimento do Bem e do Mal, e a posterior expelsfo do Eden de Delicis,¢ que Adio se une & Eve, que concebe e di luz, por vez primeira, a dois filhos-homens, Caim e Abel. 4) As filhas (ns feminino) so insextss no drartico momento ‘em que a Biblia referee telgSes sexusise 2 depravacio hu- ‘mana, antes que a8 iguas do dilévic-cubrara toda a tere por ‘quarenta dias e quarentanoltes, como castigo pars perver- bes da carne. Se as criangss-fithos nfo estvarm no Paraiso, nem foram as que pecaram contra Deus, els surgem no dis. te, filhas ~ dos pecedos humanes. Elas néo eram culpadas de Pecado, mas dele partcipevam como sen produto, expe clalmente = Ghas-criancas (cf, Biblia Sagrada, Ed. Vazes, .26-27; Bd. Loyola, p. 4-33). Act, se pode visulizaro aparecimento de uma regu loridade enunciativa,constituinte do discurso ocidental acer- ca da infantile operada por dois eixos ativs: 1} O da isen. «fo da culpa primordial e, portanto, inocéncia 2) O da par- ticipacio indieta na culpa ¢, prtanto, possiblidade de cu pa. Ao inventariar uma anise interdiseursive, no campo do Aiscursorelgiose, de Biblia, ¢n0 educscional, da Didactica ‘Magna, tere, no momento cportno, condigées de exatni nar alguns deslocamentos desse duplo exo para categorias cde pensamento e para pritica politicas de govern dos in fantis, cujaarqueologis encontra seus pontes mas fortes de inflexio no Sacramento do Betismo ena Pastoral Educative (cf. Corazza, 1999) Por enquanto, sind descrevo oeixo da inocéncia® com conseqilente dominacio espirtual dss crianciahas sobre os adultos, bem como. da "culpa", que articularé variadas pré- ticas com o infantil, Boos que sero utilizados pelo discurso ‘edwcacional em processo de ordenamento racional ede ins- Litucionalizagéo escolar, milhares de anos depois da Biblia: 1a épaca em que a uzes celestes comesam « bruxulesr, por ‘terem iniiado eeu encontco com as terrenas Jumentinho atado:ssleste privilégio Seno principio de tudo era a Plavie esta, de origem die ving, éque delega As criangat uma exemplaridade « mestria spiritual sobre os adultos. Em wm dos eruzamentos do dis curso religicso com a nascente positividade da educagtoes- colar, encontra-se também tal forma de relagéo de poder. 19 Em mesdos do século XVI, o pastor tcheco Jan Amos Co ius (Caimi, 1985), 20 colocar sua Didactca Mapai ~0u Tratado da arte versal de ensinar tudo ato um erdenamento baconieno, faz cam que “Comeniue- yar Se aseronome proprio ocupante de uma posigno de Fureis amento ra dscursividede educa, ual potency 14 priticasexcolares de mais deere séculos no Ocidente Priticas que, para ilar do infu, eiclate saberes po Aetesreligiosos com os centficose politicos Comenius introdus as primeira referéncis & crlangas ‘pelomeanye weesiculo de Sdo Marcos pre justificar que les ‘fo sejam spenss “o objeto” da reform esccler, como‘arn. f ‘im o exemplo da veidadeiraregeneragio husnang, a cujo servigo coloca sus obra. Inseeve esse lugar discursive reson ‘vido exiangs, a0 tomar por fundamento a Palavra Sagrecs, Logo apss fazer a Saudacdo aos Leitores, refere © Genes, onde &narradascriao do homen sue colocag&0 num ‘iso de delicias. Nas pépinas seguintes, Comenius teate da perta do Paraiso, advinda da fraquess e da taicio do ho. ‘mem, dizendo que Deus se lamentara disso esbandond lcd por algum tempo. Porém, por obra de Sue infinita sabedo- 1, graga € misericérdi, aquelaciatura ingeta poderd re. conquistar 0 que perder Agree de Conienius—no ato, « Reformeda~é a insti ‘igdo que, por meio de seus "jardineirs espirtuais", fae verdecer 0 Paraiso. Porém, vem fracassando nesta sis, pois “nova plantagSo" degenerou-se. Deus na Sagrada Eset, ‘ura, ¢ os homens sabics ttm se lamentad por sso: "Inver. tidoe estregado, tudo ext destruido ox erunade. Contd, ‘esta um dup conforto:primeiro, na Vida Etema, 0 reencom, ‘rocomo Fartoo Perdido; eseguado, oconforta de que, nesta vida agai na Terra, também se pode renovar o Parse. 0 fesse confor tereno que Contes fandamenta sea Didactce Magna, josficmda conn parte do ca thom desi + Deis pra o spereigonmente da va ase spo reer iomsidae fade”, Apos eta rguentcio, Comenis principio rtar des infantis, retorand aos pests e slag de ess ar com eles. Inge, dante ds pales de So Marcos "aa que plas sho ets" eresponde: Gest] proc sma quesé'w cdancinka so merecdorasdoreino de Dees, Sditndo»patipr na heranga spenat x hema ques tenham trond smelbntes to csnchba™ Entio, Comenius diige-se as propia cringe, para exalt em sea pri: "Oral 6, lta cians, Powis entender ese oss celeste privilegio™B jr, Even o resto de dgndade que fico sano gnero he ano". Cristo, «grag de Devs, a herang da vida fara “east € vero, pres aye patclarmente (J), per tence mesmo aba 6s, an ser que qualquer oo, comer tendovse,#torne come WE Apresentando a condigfo de que os adultos facamese ‘guai As crianas,o discurso edvcacional, em proceseo de cecolarizagio, cujo conjunto de enunciados & especificado nessa primeiras linhas da Didactica Magna, estabelece a centralidade que clos sera steibigs por este discurso, como oreligiosoj fiers. Tal hierarquizaco, propria cade um desses campos ¢, um 36 tempo, comum «ambos, se lterada por injungbes mostradss a seguir. ‘Anda nas reteritorializagées bblicas de Comenius, en- contramos que as criancinhes, io extande raanchadas pelos ppecads, sio proclamadas “as Jegitimas hesdeiras do patri- nig celeste" Eas sio a8 “cristurnhae inocentes” de Deus que, tendo secebido Sua grag, sinda no perderam 0 Pa raigo de Delicias, Diferentemente do hamem ingrato que, construe i Tenagesn Diving, no Se mnostrowdigne dels, ce negandl esta peova euprema de Seu xmor. Se vorrupgio produzida pela saberba de Adgo invadiu toda a ssbstincia do ser humane, Cristo, 20 enxertat no pS prio pecadar a érvore da vida ~ “a navureza humana” =, nfo ‘exclu senda auem se exclu ast mesma por nfo crer.E se alguém quiser saber por que € que Deus em em tio grande ‘consideragio as criancinkas © as apeetia tant, por mals que reflta, nfo encontrard uma edo sais ferte do que esta: “as ctiancinhas tim todas a fculdades mat empl eis aps para recebes os remédios que a misericérdla dia oferece pra a cura das coisss huraanas em estado tia daplocével” (Comenius fila aqui de “sesyétion” poraa cura da condi- ‘0 humana degiidads, dos quais, alm de ro escepar, a8 ‘riangasserao suas principals destinies. Corn Jes, re= senta-as como mestres exemplares sos adulins, confmando, 1 somente sua posigio diferencial dos adultos, como 908 soperiordade esprtual sobre estes: “nds, sults, qu julaa- p98 gue nbs somas homens e v6 sols macaquinhos, 3.265 sting vis doidinhos, #6 nésFaladoesintligentes ¥6s ain en apton para falar’, “J somos obrigados a vir vossa escola! Vis fasresnes dads como mestres, © 25 vossas cobras fo dades is nase esmno espelhe e exemple"! Nessa exortsgdo, Geparamosnes com um dos eixos de ‘cass conju imerdiscursivo que mostra a regularidade moderna de prtieasdiscursves @ nfo-discursvas do infan tia de sua inacéneia (ef Ares, 1881). Porém, mais do que deslocar tal enuciado do caropo relgioso pars o educacio- nal, mals do que manter a extatuteinfurtil de “mestria", de *espelho" e de “exernplo" pare ox adultes, Comenius condi= ions o exerccio dessa Funcia 20s seguintes csitérios: "que as criangas sabern conservat a grace de Deus jf recebids’ © “manter-se limpas no musdo”. Por realizar esse desloa- te. ‘sent ca o pastor presrre 0 “néio® tesco coma“ o po exten, para atngiraconsesi0.3¢ ties, qo “eas cn pode enna a Cliente icingas quan ste, de ston d= rinsdas pelo mous habits Pare Comenius a eiangas sto 28 “plantinhas co cét", “do Paraao", “de Deus’. Compan has", a quem se deve water com muito cudad, pare ate ceescam “belay e faces" esta possivel “renovar u Pome ‘Suas mente fo “simples «edo ainda ceupaday eens ends por vos preconceitos e costumes mandancs",¢, HOF i=, mais apts para amar a Devs". Una das proves dats co- sideragio em que Deus tem as criencinas 6 yasaem™ 4° Bvangeho de So Lucas, em que Jesus ordena a ses di pales que busquem um jomenta e seu jamentao Pate ‘partir de Serusléra. Nfo énajument, mas no jurventinho que estan stado ~ que Jesus monta, Comenius conclit aque, seema9 Got Jesus chame as os velhos ¢ os owns, #0 “os mais ovens, nfo and sobjugados pelo mundo, 2401 mais sptos aca se habitvarem 90 doce jugo de Crt ‘Ao cresciment quantitativ da nstugso~ en) UE cecal eo toto proposts por Comenius ero, #9 ME so tempo, cna ame de comb conta gee Ba © tim avndioenta is necesidadesprtca de ura #29 $0 ciedade que se reestrutura — ses6 stribuida a prines:p9! Te" onside por ets rerdacaso,embora da see 1720 & Feito ht cova ras cifell qu vlads 2 US. homer que fot al cca. Nessa merghrie,o C80 educaionl, ta com 0 reigioeo colar, de un (230 cringe em estado de rags, de auto, por post 29, ssulros em estado peeaminoc. Fica entio apontada esta conclusi necesstis: 9

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