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Recenstes Para nao limitar Portugal, ¢ a Peninsula Ibérica, s6 as raizes cristas e ocidentais, um dos colaboradores, Antonio Borges Coelho, especialista nesse tema, sintetiza o Al-Gharb, em érabe O Ocidente, ou Gharb al-Andalus, Andaluzia Ocidental, cobrindo de Sevilha Badajoz na Espanha atual ao também atual Portugal do Sul até Lisboa, O que hoje se denomina Algarve € sua tiltima parte, reconquistada pelos cristdios em 1249 ao nascente reino lusitano, assim completando seu processo de unificagdo iniciado por Dom Afonso Henriques no século anterior. Gharb al-Andalus com suas contribuigdes também de filésofos islimicos helenizantes & grande escola do maior de todos, Averréis, que tanto influenciou a Idade Média européia. Enfim, a Histéria do Pensamento Filosdfico Portugués, em seus seguintes volumes anunciados, promete ser obra fundamental, que poderé marcar época. No que se refere ao Brasil j4 com um especialista também em Filosofia por autores brasileiros, AntOnio Braz Teixeira, tio conhecedor que, hoje, 0 melhor indicado para escrever a propria Histéria da Filosofia Juridica luso-brasileira. ‘Vamireh Chacon Universidade de Brasilia EUFRASIO, Mario A. Estrutura Urbana e Ecologia Humana: aescola sociol6gica de Chicago (1915-1940). Sdo Paulo: Editora 34, 1999. 303 p. Se € dificil caracterizar a chamada Escola de Chicago de Sociologia, quer pela diversidade de interesses, quer pela multiplicidade de formulagdes te6rico-metodolégicas, no hd, por outro lado, como negligenciar a centralidade dos problemas urbanos no legado dessa corrente, Assim, é com a Ecologia Humana, de acordo com a formulagdo de Robert E. Park, Emest W. Burgess e Roderick McKenzie que, de modo predominante a Escola de Chicago de Sociologia é identificada, em que pese a inquestiondvel relevancia do trabalho de William I. Thomas, notadamente o monumental The Polish Peasant in Europe and America, com a colaboragio de Florian Znaniecki, primeira pesquisa empirica de grande porte na hist6ria da Sociologia, além das contribuigdes de George Herbert Mead, na érea 192 Ci. & Trop. Recife, v.29, n.1,p. 191-202, jan.jjun., 2001 Recensies de imtersecgao da Filosofia com a Psicologia Social, e, entre outros nomes, Ellsworth Faris, Negligenciada durante cerca de quatro décadas, inclusive no ambiente académico norte-americano, a Escola de Chicago ~ que no Brasil teve em Donald Pierson, ex-aluno de Park, seu grande difusor — tem despertado o interesse de uma nova gerago de socidlogos na Franca e no Brasil, em que pese a persisténcia de tragos do periodo ‘em que, no nosso meio académico socidlogo era sindnimo de adepto da doutrina marxista, curioso embora compreensivel efeito a la diable do anticomunismo oficial dos governos militares. Evidéncia inequivoca do grande interesse pela Escola de Chicago de Sociologia nos circulos académicos da Franga é a produgio de Yves Grafmayere Isaac Joseph (ver a obra organizada por esses autores L “Ecole de Chicago. naissaince de I Ecologie Urbaine. Paris: Aubier, 1984). Endo apenas pela Escola de Chicago no que esta tem a ver predominantemente com ‘os problemas das grandes metrépoles, mas, igualmente, pelos seus posteriores desdobramentos, como, por exemplo, a chamada Etnometodologia (ver COULON, Alain. L“ethnomeéthodologie. Paris: Presses Universitaires de France, 1987; e, do mesmo autor, Ethnométhodologie et éducacion. Paris: Presses Universitaires de France, 1993; do mesmo Coulon, ver, ainda, sobre a Escola de Chicago de modo geral, L Ecole de Chicago. Paris: Presses Universitaires de France, 1992. Col. “Que sais-je?”, v. 2. 639). Além do estudo do autor desta resenha em torno da contribuigao de Donald Pierson ao desenvolvimento da Sociologia em bases rigorosamente empiricas no Brasil (Donald Pierson e a Escola de Chicago na Sociologia brasileira: entre humanistas € messianicos. Lisboa: Vega, 1998), a literatura em lingua portuguesa sobre o tema acaba de ganhar contribuigao de significativa relevancia com a publicagao de Estrutura Urbana e Ecologia Humana: a escola sociol6gica de Chicago (1915-1940), de Mario A. Eufrasio. Resultante de tese de doutorado defendida na Universidade de Sio Paulo, Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras ¢ Ciéncias Humanas, o trabalho de Eufrasio constitui umestudo expositivo, analitico¢ interpretative do aspecto mais central ¢ caracteristico da Escola de Chicago da Sociologia americana, representado por uma sociologia Ci. & Trép., Recife, v. 29, n. 1, p. 191-202, janSjun., 2001 193 Recensdes urbana complexa e original — de fato, a primeira escola de sociologia urbana na histéria da disciplina — que se desenvolveu entre as duas guerras mundiais da primeira ‘metade do século XX (p. 10). © procedimento adotado ao longo do trabalho foi, fundamentalmente, 0 da técnica de andlise conceitual, instrumento desenvolvido pela tradigao analitica de Estruturado em quatro partes ~ “O surgimento da sociologia americana e a formagio da Escola de Chicago”, “A concepcio ecol6gica da estrutura urbana”, “A concepso s6cio-econdmica da estrutura urbana” e “Tradigdes de pesquisa, teorias e explicagdes da estrutura urbana: uma andlise metodolégica” 0 trabalho de Eufrasio compreende nio apenas a exposigio minuciosa e clara dos critérios te6rico-metodolégicos da Ecologia Humana, através das contribuigdes de Park, Burgess e McKenzie, mas, igualmente, as principais criticas essa corrente, como, notadamente, a de Milla Aissa Alihan (Social Ecology. New York: Columbia University Press, 1938, p. 81-91), considerada por George A. Theodorson “uma critica devastadora dos elementos teéricos basicos da ecologia humana classica” (Studies in Human Ecology. Evanston: Row, Peterson & Co., 1961, apud Eufrésio, na obra aqui resenhada). Como concluso, embora reconhega que “é impossivel exagerar a proporgio do equivoco que chamamos de faldcia ecolégica te6rica, que consiste na identificagao da andlise ecolégica com 0 estudo da organizagio espacial das comunidades” ¢ que “nao € necesséria a pressuposi¢ao da ecologia humana para a construgdo de teorias explicativas da estrutura urbana”, Eufrasio constata, no entanto, que “sob andlise minuciosa, a teoria ecolégica da estrutura urbana revelou- se muito mais rica, sugestiva e multiforme do que tém pretendido consideragdes ingénuas, mal-informadas e que a distorcem reiteradamente.” (p. 287) Mais do que pura descrigo, como jé se pode ver, do sistema te6rico-metodolégico, da Ecologia Humana, o trabalho de Eufrisio 194 Ci, & Trdp., Recife, v.29, m1, p. 191-202, janJjun., 2001 Recensies representa avaliagao critica significativamente original, inclusive dos pressupostos epistemol6gicos dessa corrente, com base nos critérios da metateoria, constituindo j4 obra indispensdvel ao estudioso da matéria. Nao creio exista mesmo na Iingua inglesa, assim como em francés, ou alemao, obra tdo abrangente, clara e original como abordagem ao mesmo tempo descritiva e critica sobre o tema. A Jamentar, 0 que infelizmente constitui lacuna na grande maioria de obras cientificas publicadas no Brasil, a auséncia de indices onomisticos e analiticos de tanta utilidade em livros dessa categoria. Sebastido Vila Nova Fundagao Joaquim Nabuco LARAIA, Roque de Barros. Cultura ~ um conceito antropoldgico. 11. ed, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. 116 p. A consagraciio, no mundo anglo-americano, do significado do termo cultura como “um todo complexo que abarca conhecimentos, crengas, artes, moral, leis, costumes ¢ outras capacidades adquiridas pelo homem como integrante da sociedade”, na célebre formulagao de Edward B. Tylor, em Primitive Culture (1871), diversa da acepgio dominante no ambiente intelectual da Frangae da Alemanha, no qual, de acordo com a conceituacao de Humboldt, 0 termo diz respeito ao estgio de desenvolvimento do saber cientffico € humanfstico, assim como das artes ¢ da moral “em que os homens souberam elevar-se acima das simples consideragdes de utilidade social, compreendendo © estudo desinteressado das ciéncias e das artes”, representou uma inquestiondvel revoluco no estudo cientifico do comportamento humano, Foi em tomo do conceito de cultura que, no mundo académico anglo-americano, notadamente por conta da lideranga de Franz Boas, a partir da Universidade de Columbia, durante mais de quatro décadas, desde a sua admissio naquela universidade em 1899, que no s6 a Antropologia, mas, igualmente, a Sociologia, desenvolveram-se como incias do social, E através da conceituago de cultura difundida no universo intelectual anglo-americano que a Antropologia desfere o golpe de misericérdia nos determinismos dominantes, até 0s fins do século XIX, Ci. & Thop., Recife, v. 29, n. 1, p. 191-202, janJjun., 2001 195

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