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Copyright ©2020) Eis Thom sabe Unisnse @ i} Tex) Ohrgcth ELIAS THOME SALIBA | Raizes do riso | —- A representagao humoristica na histéria brasilei; da Belle Epoque aos primeiros tempos do rdio bi reimpresae 9 Companhia Das Letras| EXEMPLAR DO PROFESSOR: © conhecido refrdo "S40 Paulo é cidade que mais cresee no m javentado nos anos20 para captar o clima de unanimidade ede euforia proporcionadaspeloespantoso crescime ciodo seulo.xx. Masa répidae | 3. A macarrénea dos desenraizados: humoristas em Sao Paulo | So uma espécie de ofaseamento das lembrangas pessoais da mernria 1 geral foi caracteristico do processo dea ‘io Paulo este processo de metropolizagao parece ter sruiu brutalmente ndo apenas qualquer referéncia ma er resquicio de referéncia simbdlica mais estavel, mito da historia da cidade que antecede a Guerta Mundial de 1914, neste perlodo da Belle Epoque paulista em que Sao Paulo viveu um processo social descontinuo e diversificado, no qual o universo forjado pel rmaciga nfo chegou a escravos. Como te hem caracterizou Maria Odile Sita substituiuo outro mas foi sutilmente brotando um de dentro do out = masdeconvivioassiduo,asvezesde concorr ta, outras de -cados, porém sobrepostos num entretacar de sitmultaneidades de tempos sociais que se cruzaram e se urdiram juntos na urbanizagao incipiente de Sao Paulo no pré-guerra” Este entrelagamento de tempos soc sificados € descontinuos mostrou que S40 Paulo jd convivia no inicio do: la impressionante indefinicao entre 0 nervosismo da metropole burguess ¢ 8 ‘persisténcia de toda uma série de tragos coloniais etradicionais da cidade, O ‘espeticulo da modernidade, sinttizado nas imagens do avanotécnico,do pro gressoe: ,sofreu intervalos regressivos neste perfodo,produ- E zindo imagens compésitas, nem sempre bem definidas. Os registros mais signi Joo Ribeiro, Carta dvolvidas, 9 smbém um microoos- slo com aque- mo do pats no perlodo da Belle Epoque, pois vivenci ambigua,a tensio expressa najronia européia do vocabulo bela epoca, com seu | tom meio sérioe meio irénicd, hesitante entre a fivolidade ea autenticidade, amalgamando temporalidades, sobrepondo o futuro a0 passado numa visto nervosa dos dilemas do pais. Amélgama de temporalidades, projegdo do passa- do no futuro, destocamente . -ados da vida e da histéria também aju- do pais, uma representacio da sociedade brasi- leira pela via da constataga da auséncia oa da recriagao do sentido — caracteristicasintrinsecas a representagao cmica ou humorfstica do Iwezdemaneira mais rrespondéncia,aparecemhojecomo rests exsparsosedispersosdeumasingu: espécie de esquecimento Nosso intuito, neste capitulo, €analisar a producto humoristica deste época. A posiclo desses escrtos na historia da cidade de Sao Paulo é aml {que a meméria posterior da cidade, talver por impossbilidade de clessificé-los, ‘acabou por deixi-losno esquecimento. O humorismo paulistada Belle Epoque © confundiu-se com aquelesescritores que se esforsaram por fazer acronica da mundo eda vida. Mas na histofia de So Paul esta representagao foi construf- | dla de uma forma peculiar e fortemente marcada por persistentestragos da memériacoletiva. an cidade de Sip Paulo num momento de transigao e de répidastransformasbes socials, Formaram, por assim dizer, um grupo de escrtores esquecdos. Esque- lugar, pela propria efemeridade da produgdo h ‘ode ela associada a0 periodismo de jornais revstas, Mas esquec do, pela dificuldade do seu en: cidos, em prim (iso, Rage ' (oa fodeae lo — 0s préprios significados de moderno e de modernistno, como tendencia ge m homogeneizados a partir de valores, temas e lin- ‘Stagens do grupo de intelectuaise artistas que fizeram a Semana de Arte Mo derna,em Sto Paulo, noano de 1922.*Mas, ne fund distancia radical entre o modernismo paulista¢ veparecetercriado uma (td sere Bagel isan eer Trane Kia aT io que ela fosse, uma i coisa parecia certa:tratava-se de uma produsdo poticosuscetivel de abrigar ' sérios,jé que perguntado, certa vez sobre “conto escrevi respondeu, insolen- m ‘ou de uma parédia da parddia, /uma parédia da mesma peca co Yersa, dizendo: “[..] foi ele, de nds trés, 0 nico que amou"; na parddia de tt . Bananére, um dos “avacaggliado” conclui:*Se duvida, fui elle o mais barra Captaroaimenia fl pista de er {Idi néis treiso maiseavacaggliado" base da linguagem andrquicawtiliada por fu i Si. Afaceta cimica, pelosexcessos| ‘Ro pertodo, ( Reprodugao da ¥ paginas 08 jornalistca do hiumorista:"Voce pergntois, iteao Clube Comercial, qual demeus livrosiacho melhor. Respondi secamente: nenhum, Mas ndo,dei as razées.: Quer sibert “Meus livros nao prestam, porque nunca releio o que escrevo.¢a todos et 6s fi . o'miéximo, em quinze dias cada um..2™* ma < ” Tambéojacarezinho Agenteinvee..6! ‘to indicados para serem cantados com cangbes.F todos com cangdes que, pelas {ndicagoes que temos,tinham grandé popularidadena época, 0 caso do poema sex conalv proceso de metropolzeae, Um proceso scl desontinuo diversifieado, no qual o universoforjado pela imigracio macica de italianosnao [ chegouaromper como une desabrvinéncia dos ex esos. ler de forma mais notével que a dos seus contr _Bananérelogiosproduir uma sntse and sempre umna parédia moral queprocura fazer um paralelo com arial: hd exemplo, uma moral gaiata da violéncia na pat6dia de La Fontaine cham: “Um lebo io cordetigno” que termina:“O quivalenista vida u mugue. O humor de Bananée parecia nascer do contre de um eto pro rnismo bairista com aquela modernidade “compuls6ria i patias de Bananére com nftid imtimista, como nos poemas“Bcedério poetico’ as” Aqui, outro aspecto importante das criagGes de asrelagées que dle procurava estabelecer entre suas parécli ‘mais populares da poca. Muitos dos seus poemasp ‘thados, entre paréntsescolocados logo abaixo do titulo, com a recomen: para serem cantados com uma determinada cangio. Da primeira pequenolivro La ivina increnca,de'35 poemas parddicos, pelo menos oito deles ‘Nao queas elites paulistas nfo acsthessem o macarronismo procurassem, signs eo com estas proaigdeshum anére, como veremos adiantejéestavaafastadosdos circuitosjarnalisticos % "9 us durante osanos.20.Asc1 ‘se anérquica pela impertinéncia, pelas rebarbas de re regavam ¢, sobretudo, pela sua certamente nao ageadavam, Municipal, o Automével aulistanas do mesm icagves de diversas fontes, do sucesso ini idicacdo da sua presenga nos circuit 86 hd uma referéncia famosa a Co; lio Pires, de es humoristicas de Bananére,caleadas numa. 40 puiblico que treqtientava'o Teatro. de Comercio e outrasinstituigdes das conferén- io Pires, mas depois de 1921 nao encontramos mais nenhuma de difusto da cultura em Sao Paulo, 8, numa carta de MentsitoLobatoa Godofedo Range, quando, remetendo-s4sreagdes nega '¥as 20 seu famoso personagem de Urupés escreveu: Aauilo (0 cabocismo] fi Sbricasdohistrica para bale com 0 Comm ‘queandsconvencido deter descoberto.cabaco.| bela estilizacto, sentimental, podtica,ulra-rom: ica fulgorante de piadas —e rendoss. Corndiovivepusabem, gana dinhirogord,comatexbicdesque faz do seu esboclo" Dé caboclo em conferéns ‘mijade tanto riz Eanda eleagora por aqui, Santos,a dar. 25 mil: caboclismo™ A julgarpelo trecho da carta de Monteiro Lobato ea forma como eleenc: ata questo, parece qua sua versio do cabocto que teria sido a mals per {inente, Mas,pensando nos tstemunhos posteriorese na destinago Futura dag” slussversbes do caboclo=¢daprépria verso talo-capira— tera sido caste Ase mente 4 VELOCIDADE DA PARODIA Nos RITMOS DE UMA/PROVENCIA CosMoPoLITA Bante lo no fio tema tnico desses humorsta,mas foi épida ladenesteeriodo quedlimentou grande pare dassuascrOnica, hist isacadeirae oppablico oclono Miramareno Guarani, Ora,0 meu Unipés veo estragar oaboclo do Corndio —estragar. ards, pegas teatrase,em alguns casos espectficos, omances produzidos na 540 posterior utlizando procedimentos memoria- mporal ‘Tendo en conto esquecimento ao qual esses cronstas foram relegaos, lades de sewenquadramentop nndo determinismos aprior cos, em primeiro lugar porque pelamistura,pelaartedo fragmento, contingent sificével —tal como a obra do monge renasce sob o pseuddnimo de Merlin Coes ecu nna macarrinea— urna ingua nacional que gerou uma ter- ‘ra lingua, de rententes tacos foneticos, caracterstica da literatura satiica doséculoxv.” A segunda razio do cardter macarrbnicodesses esribas tem aver com a peculiaridade da experiencia coletiva e das sensibi ‘metropolizagdo de So Paulo. Segundo uma caractericagio geral — que nto ¢sconde,contudo,sua pontinha deparadaxo — neste periodo de historias Cidade de Sto Paulo testemunhas trasigdo de uma sociedade regionalcom cer consonaincias universas para uma sociedade cosmopolita de consonincia By inteiramenteprovinciana." A crénica paulista da Belle Epoque foi macarrbnicn wdo de umaestéicedefinidebuscoa, pormeio deumalingua- tonizar-se com aquela sobreposicio de tempos sociais na ‘Se houve um humor paulista neste 'Periodo, ele tentou ¢ Produzir uma sintese entre o mundo capirae provinciano— jé manitado em suasesperangas—couniverso cultural elingstico da imigragio-sobetedo G mas ndo apenas, do imigrante italiano — que coloru'a maior parte da culture ‘urbana paulista na mesma época.” Diversosestudos mostraram que o macarronismo lingatstico constituia ‘um dos recursos centrais, sendo argamnente disseminado em revistas semanais {

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