Foram simples palavras breves. Tudo continuou como estava. O mesmo teto, o mesmo vento, o mesmo espao, os mesmos gestos, Porm como que eternizados. Uno, calor, surpresa, risos tudo eram chapas fotogrficas h muito tempo reveladas. Todas as cousas tinham sido e se mantinham sem reserva numa sucesso automtica. Passos caminhavam no assoalho, talheres batiam nos dentes, janelas se abriam, fechavam. Vinham noites e vinham luas, madrugadas com sino e chuva. Sapatos iam na enxurrada. Meninas chegavam gritando. Nasciam flores de esmeralda no asfalto! mas sem esperana. Jornais prometiam com zelo em grandes tpicos vermelhos o fim de uma guerra. Guerra?... Os que no sabiam falavam. Quem no sentia tinha o pranto. (O pranto era ainda o recurso de velhas cousas coniventes.) Nem o menor sinal de vida. To-s no fundo espelho a face lvida, a face lvida. Henriqueta Lisboa (A Face Lvida 1945)