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A Menina do Capuchinho Vermelho

Como estou farto de fazer de bobo!


Disse, cheio de fome, o senhor lobo.
H quatro dias que no trinco osso,
A avozinha vai ser o meu almoo.
Quando a avozinha lhe abriu a porta
Com o susto tremeu e, meia morta,
Fitou aqueles dentes a brilhar.
Ai, que o malvado me quer devorar!
A pobre senhora tinha razo
Porque ele a comeu com sofreguido.
A avozinha era pequena e dura,
O almoo no foi uma fartura.
Ai, estou com uma fome aterradora,
Pronto para comer outra senhora.
Foi procurar petiscos na cozinha
Mas nada para roer o bicho tinha.
Vou-me sentar no colcho de folhelho
espera do Capuchinho Vermelho.
Disse o lobo enquanto se vestia
Com as roupas que por ali havia.
Saia de seda, botas de verniz,
Chapu de veludo foi o que quis.
Escovou o pelo, as garras pintou,
Bem disfarado assim se sentou.
Um pouco depois, em passo apressado,
A moa chegou, toda de encarnado.

***
minha avozinha, quero saber,
As tuas orelhas esto a crescer?
Sim, minha neta, para melhor te ouvir.
Que grandes olhos tens, querida av,
Disse a menina cheia de d.
So para melhor te ver, disse o lobo
E ps-se a pensar: No sou nenhum bobo,
Esta bela menina vou papar,
Que bom petisco para o meu jantar.
Vai saber-me que nem um po de l,

No velha nem dura como a av.


Mas avozinha, disse a menina,
Tens um casaco de pele to fina.
No, disse o lobo, Deves perguntar
por que so os meus dentes de espantar.
Bem, digas tu o que disseres
Como-te sem prato nem talheres.
A menina sorriu. Da camisola
Sacou de imediato uma pistola
E com uma certeira pontaria
Pum, pum, pum, aquele lobo morria.

***
Passaram os dias, passou um ms,
Vi a menina no bosque outra vez,
Mas sem o capuz, sem capa encarnada,
Toda diferente, toda mudada.
Sorrindo me explicou: Daquele bobo
Fiz este casaco de pele de lobo.

Lusa Ducla Soares, Histrias em verso para meninos perversos

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