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telros passos do Micleo des @ Pesquisas em ria Forense ¢ Psicologia ((Nufor) do Hospital das.- dda Faculdade de ada USP foram dados 4, no Instituto de ‘ria, com a fundacio do de Estudos : ‘Siplinar de Psiquiatria & (22,00850 peaueno grupo nals de varios nivels & lnzacdes, 0 que permitiv ‘mos 0 fenémeno Zetado do crime sob os versos angulos. Trés anos '0 grupo se firmava como eriando 0 Curso de ‘nia Foranse com temas cologia juridica, que 2 fazer parte da grade ar do Segundo Ano de ia médica do Instituto, fia que orienta 0 Nufor'é 0 do.espirito de academia zig por Pacheco e Silva, da Roeha, Oscar Freire, sarigues, entre outros, ‘ usa @ 20 Temas em psiquiatria forense e psicologia juridica Coordenacao: Sérgio Paulo Rigonatti Organizacao: Antonio de Padua Serafim — Edgard Luiz de Barros Colaboracao: Maria Adelaide de Freitas Caires Temas em psiquiatria forense e psicologia juridica 1# edigdo 450 2008 Rsr2t aK Toran PSIcoPEDAGGGICALIOA. ue Cuba, 48—CEP 04013-000- SP TF (i 5400 Dados Internacionais de Catalogagao na Publicado (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) | Temas em psiquiatria forense e psicologia juridica / coordenagdo Sérgio Paulo Rigonalti : arganizagio Antonio de Padua Serafim, Edgard Luis de Barros colaboragiio Maria Adelaide de Freitas Caires. — 1.ed, ~ So Paulo: Vetor, 2003. | Bibliografia. 1. Psicologia forense. 2. Psiquiatria forense | L Rigonatti, Sérgio Paulo. II. Serafim, Antonio de | | Padua. Il, Barros, Edgard Luiz de 03-0500 Indices para eatélogo sistemstico: Piquiatria forense: Ciéncias médicas 614.1 ISBN 85-7585-021.0 380 a © os 25,.08-0% Projeto grifico e diagramagao: Suzy Suzuki Capa: Tania Menini Revisto: Alessandro Lima © 2003 - Vetor Editora Psico-Pedagégica Lida £ proibida a reprodugSo total ou parcial desta publicagie, por qualquer meio existentee para qualquer finalidade, sem autorizagao por escrito dos editores Sumario Prefacio Apresentacao 1— Notas sobre a histéria da psiquiatria forense, da Antiguidade a0 comego do século XX O inicio da psiquiatria forense no Brasil Bibliografia 1 Construindo uma nag&o: propostas dos psiquiatras para © aprimoramento da sociedade 1. Introdugao os 2. Contexto histérica 3. A “loucura espitita” no Brasil 3.1 -O espiritismo 8.20 espirtsmo como causa de loucura 3.3 -Tipos clinicos: espiritopatia, + medunopa, deo espirta episédico 3.4 Etiopatogenia da “loucura espirta” 3.5 Profilaxia da “loucura espirita 4.0 discurso racial dos psiquiatras.. 4.1 = Fatores que interfefem na andlise da questa racial 4.2 — Fatores cognitivos, 4.8 ~ Opressao socioeconémica. 5. Ahigiene mental e a imprensa, o rédio, 0 cinema e a telovisdo.. 6. Conclusao. Bibliografia Il - Aspectos etlolégicos do comportamento criminosi iol6gicos, psicolégicos e sociais 1. Parametros biolégicos 2. Parémotros psicolégices... 3. Pardmetros socials 4. Consideragoes finals Bibiogratia .. parémetros ~ Investigagao psicoldgica da personalidade na conduta eriminosa ...65 1. Introdugao 65 2. Criminologia e Psicologia: as bases do estudo da conduta anti-social. 66 3. Diretrizes da Psicologia aplicada ao estudo do comportamento anti-social 70 4, Consideragées finais 74 Bibliogratia 7 = Reflexdes sobre a desestruturacao familiar na criminalidade 73 1. Introdugao 78 2. Responsabilidade parenteral o 81 3. A importancia da estrutura familiar o at 4. A transformagao na estrutura familiar 83 5. Familia e violéncia: lados opostos de uma mesma moeda’ 85 6. Realidade brasileira e a experiéncia em Curitiba .... a1 7. Oque fazer como prevenG&0? vn 93 Anexos son sens 95 Bibliogratia 101 = A familia do paciente psiquiatrico e a criminalidade 105 1. 0 poder da familia e 0 poder do profissional da satide nos tempos. do império no Brasil 105 2. A familia brasileira e os doutores de hoje 108 8. Na area da saiide mental 110 4, O que tem sido feito em outros paises .. 12 5. Um trabalho no Brasil 114 6. A familia do criminoso . 116 7. Efeitos da exposigao a violencia 116 8. Os profissionais envolvidos com o sistema judiciario Bibliografia .nnennee seven 125 Vil ~Relagdes entre neurologia e psiquiatria forenses e suas implicagdes no campo processual 127 Bibliogratia 137 Vill - Violéncia doméstica: um problema de satide piiblica entre quatro paredes... penn o vo 139 4. Introdugao finns sant a 189 2, Desenvolvimento... 140 8. Conclusao. Bibliografia 1X = Alcool e crime 4. Alcool. 41.1 ~ Aspectos historicos 1.2 ~ Aspectos epidemiolégicos 4.3 — Aspectos clinicos 1.3.1 — Intoxicagao alcodlica 1.82— Abuso de dlcool 1.3.3 Sindrome de dependéncia ao alcool 1.3.4— Sindrome de abstinéncia ao alcool 4.3.5 Delirium por abstinéncia alcostica 1.3.6— Transtomo amnéstico retacionado ao élcool 1.87 Alucinose alcodlica ou transtorno psiestico relacionado ao consumo do aleaol 1.3.8~ Intoxicagao alocdiica patolagica (ou idiossincratica) 1.3.9 Sindrome demencial alcodlica 1.8.10 ~ Sindrome de Wernicke 1.3.11 — Sindrome de Korsakoft 1.3.12 — Mietindlse Central Pontina e Doenga de Marchiatava Bignann 2. Crime ... 3, Alcool e crime 4, Conclusai.... Bibliogratia X~ Uso abusivo ¢ dependéncia de élcoo! efou drogas em mutheres x violencia Bibliografia . ~ Pericia psiquiatrica em 1. Introdug&o .. 2. Das pericias..a... 3, Mouificadores da capacidade civil 4. Interdigao 7 55. Outros tipos de agées 6, Honorarios .... 7. Laudo psiquiatrico forense — modelo. Bibliografa ... 3, Fatores de risco XII - Transtorno facticio e suas caracteristicas sonnnnne 191 4, Suicidio assistido e eutandsia 1. Histéxico e istingdo das simulacdes no campo médico 491 5. Aspectos médico-legais 2. Caracteristicas do transtomo facticio 195 6. Suicidio: uma prevengao possivel? 3. Epidemiologia do transtome facticio 196 7. Comentarios finais 4, Etiopatogenia e dinamica do transtarno facticio 198 Bibliogratia 5. Classificagao @ diagndetico do transtorno facticio 200 6. Transtorno facticio por procuragao 202 XVII ~ Perspectivas internacionais em psiquiatria forense 7. Tratamento e prognéstico 208 1 Introdugao Bibliogratia 207 2. Europa ~ Escandinavia 3. Asia Xill - Simulagdo: um desatio diagnéstico an 4. Paises de jurisprudéncia islamica. 1. Introdugao an 5. Oceania 2. Formas de simula... 216 6. América do Norte 8. Diagnéstico diterencial de simulagao e transtorno facticio 224 7. América do Sul Bibiogratia 227 8. Discusséo. Sibliografia XIV ~ Execugao penal, exame criminolégico e apreciagao dos indicadores de potencial eriminiégeno 229 XVIII ~ Servigo social ~ a base vital 1. Proliminares em debate . : 229 1. Diagnéstico social... 2. Necessidade do exame criminolégico como elemento 2. Consideragies finais individualizador da pena... 234 Bibliografa .. 2.1 ~ Supedaneo legal e metodologia clinica 231 3. Indicadores criminogensticos: 0 que sao 1 235 8.4 ~ Psicodindmica do delito se 235 Autores ¢ colaboradores .. 4. Utlidade dos indicadores criminogenéticos .. 236 5. Apresentacdo dos indicadores 238 6. Apreciagao dos indicadores de Odon Ramos Maranhao 239 7. Consideracées finals e conclusdes 243 Bibliogratia 245 XV — Psicélogo no sistema penitenciério do estado de Sao Paulo... 247 Introdug0 wn. Participagao do psicélogo... Histéria do sistema penitencidrio em Séo Paulo Bibliografia XVI ~ Suicidio e tentativa de. suicl . 1. IMtrOdUGAO saree se ssn vo 263 2. Histérico . Prefacio © convite para profaciar este Temas em psiquiatria torense © psic gia juridica foi uma satisfagao, por verificar que seus autores procura: trazer para debate, apresentando solugées, assuntos de real intere para estudiosos e docentes que trabalham no émbito do direito penal, t cando em outras ciéncias um caminho para a solugao dos problemas assolam a sociedade modema. ‘A experiéncia de cada autor se reflete na objetividade de seus artic possibilitando a construgao do saber, como um todo, além da contribui que, certamente, dara a ciéncia juridica nacional. ‘Assim, autores como Alexandrina M. A. da Silva Meleiro, Alexander Mor de Almeida, Angélica Silva de Almeida propiciam visdes abrangentes e ticas sobre temas da maior relevancia para a compreensao dos aspec médico-legais do suicidio, do transtomo facticio e da propria estrutura do saber psiquidtrico no Brasil ‘Chamam também a atengo os temas tratados por Antonio de Pé« Serafim, “Aspectos etiolégicos do comportamento criminoso...”, e “Inve gaao psicolégica da personalidade na conduta criminosa’. A importar destas andlises estd na atual situagdo da criminalidage, no Brasil, « tem levado muitos estudiosos a proporem medidas nem sempre adeq das, uma vez que no se referem as causas que determinam estas ¢ dutas anti-sociais. O assunto é abrangente e, decerto, colaboraré p uma melhor compreensao dos fatores que determinam os crimes na ciedade atual, possibilitando melhores instrumentos para a administra de uma situagao que se apresenta cada vez mals compiexa. Os autores Sidnéia Peres de Freitas e Danilo Antonio Baltieri, com* cool e crime”, apontam a presenga do alcool nos crimes violentos, ndo nos autores destes crimes mas também nas vitimas. Ressaltam a 1 lade de atengdo cientifica mais aprofundada para o problema, Dentro do mesmo tema, Ana Maria B. Vidal, abordando o alcc lismo feminino na correlagao dlcool-crime, propée outro aspecto d maleticios do etilismo, com objetivas e claras idéias sobre o problen apontando a necessidade de melhores atengdes para o tema, sobretu no que tange & populagao feminina. Eduardo Enrique Teixeira analisa, no direito civil, as quest6es proprias da incapacidade, no artigo “Pericia psiquiatrica em direito civil", relacio- nadas com a pericia psiquidtrica. As patologias mais comuns determinam interdigdes temporarias ou permanentes, bem como as parciais que de- correm de tumores cerebrais. Sao aspectos interessantes, que auxiliardo as decisdes no Ambito do direito de familia Continuando a série de temas interessantes, Fabiana Saffi e Rosana Antonia A.L. Benvenuto, sob 0 titulo “Psicélogo no sistema penitenciério do estado de Sao Paulo”, procuram, através de uma ampla e bem funda- mentada pesquisa, levantar os pontos que facilitassem o psicélogo atuar nos presidios do estacio de Sao Paulo, objetivando a reinsercao social do condenado. Conhecedor dos campos da neurologia e psiquiatria, Sérgio Domingos Pittelli analisa 0 assunto, no capitulo “Relacdes entre neurolo- gia e psiquiatria forenses ...no campo processual", propondo uma interagao entre neurologistas © psiquiatras como necessdria para auxiliar a admi- nistracdo da justiga e formar a convicgao dos juizes. Flavia Batista, em “Violénoia doméstica: um problema de satide publi- ca entre quatro paredes", apresenta um estudo das causas da violéncia doméstica, que atinge até 50% das mulheres e é um assunto abordado ‘em todo 0 mundo nao s6 como um problema legal mas econémico e edu- cacional, que em ultima andlise é um problema de satide publica e de direitos humanos. Maria Cristina Santos com Alexandrina Augusto Meleiro apresentam uma interessante abordagem, “Simulagdo ...”, pata indicar as diferencas que existem entre a simulagao comum e a simulagao patolégica, o que 6 significativo para os peritos determinarem seus pareceres que auxiliaréo © juiz na definigao dos casos, tanto civeis como criminais. Meimei M.M. Marcelino ¢ liza M. dos Santos Magalhaes estudam, no *Servigo social ...", a Importancia do servigo social para o Judicario, onde vem atuando desde 1948 e cada vez mais mostra sua importancia para 08 diversos sotores da Justiga, objetivando uma melhor solug&o dos con- 6 socials. ‘Numa perspectiva histérica, Sérgio Paulo Rigonatti, com a colabora- (go de Edgard Luiz de Barros, estuda o surgimento da psiquiatria forense, apontando 0 desenvolvimento das posturas médico-legais. Suely A. Ferreira Garcia, em “A familia do paciente psiquidtrico e a criminalidade”, poe em relevo a importancia da familia, quando surgem os primeiros sintomas de transtomo mental, bem como a responsabilidade dos envolvidos no proceso de assisténcia a este paciente, o que facilitara 08 tratamentos. O assunto, sob outro angulo, também é revisitado por Mai Elly Hasson e Alexandrina M.A. da Silva Meleiro, permitindo uma vi completa do problema. Cleane Souza de Oliveira e Flavia Batista, em “Perspectivas inter cionais em psiquiatria forense”, apreciam os sistemas e praticas em quiatria forense em diversos paises, indicando as principals problema! @ solugdes adotadas e sua comparacao com os referenciais brasile da atualidade. Claudio Thetonio Leotta de Aratijo e Marco Anténio de Menezes, “Execugao penal, exame criminolégico ...”, discorreram sobre 0 exa criminoldgico indicando a necessidade do mesmo como individualiza da pena e tratamento a ser ministrado com vista & readaptagao do c denado. Discorti sobre varios trabalhos, de forma sucinta, para mostrar a portancia dos temas, em razao dos varios aspectos relevantes que colocados em destaque @ das varias solugdes propostas. Observamos que muitas consideragdes ainda necessitam aprofundamento na ciéncia brasileira, mas a experiéncia de cada at oferece um material cientifico de valor, que a pratica propicia, ligada a sigdes tedricas que Ihe d&o sustentacdo. As teses tém originalidade qu to as idéias que procuram demonstrar, o que preenche algumas lacun além de proporcionar um debate sério sobre as questdes propostas. Diante de todo o trabalho oferecido & publicagao, nesta oportunida cumprimento os autores pela seriedade dos temas e solugdes, na ce za de que terdo éxito nesta obra, que significa um marco importante p a psiquiatria forense e psicologia judiciéria. Antonio Luis Chaves Cama professor titular de diteito pe da Faculdade de Direto da Apresentagao Atos anti-sociais e violéncia em suas variadas formas, fifc(dio e parr em particular, e suas relagées com sanidade mental, abalam-nc desafiam-nos desde tempos imemoriais. Um dos exemplos mais choca dos tiltimos tempos foi o caso paradigmatico da joven enfermeira americ condenada a prisdo perpétua pelo assassinato de seus cinco filhos peque durante surto psicético puerperal. “Imputavel ou nao” é a questéo, Felizme contamos com pessoas competentes de diversas profissées que fa da relago criminologia-satide mental seu objeto de estudo e trabalh Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas da FMUSP te privilégio de sediar 0 Nicleo de Estudos e Pesquisas em Psiquiatria Fense @ Psicologia Juridica (Nufor), uma iniciativa de dedicados profis nais ligados a esse instituto € & Faculdade de Direito da Universidad Sao Paulo. Eles tém tido importante papel no atendimento a demar diversas e desenvolvem intonso programa de estudos e investigacoe natureza muttidisciplinar. ‘As esperangas da sociedade para entender, prevenir, abordar e jt delitos e comportamentos anti-sociais decorrentes de transtomos mer repousam em pesquisas multiisciplinares de elevado gabarito, Temos dentes limitagdes na compreenséio desses comportamentos, mas sé mos que esse é um trabalho de gerapSes. O acesso ampio a informac fidedignas 6 0 que pode tomar o futuro mals promissor. Esta 6 uma tarofas do Nufor. E esto livro 6 uma de suas primeiras publicagbes. Valentim Gentil F professor titular de psiqui da Faculdade de Medicina da | © presidente do Consetho Dit do Instituto de Psiqui {do Hospital das Clinicas da FMI ee empNecrcraaenenen reer Notas sobre a historia da psiquiatria forense, da Antiguidade ao come¢o do século XX Sérgio Paulo Rigor com a colaboragio de Edgard Luiz de Bar Escrever sobre a historia da psiquiatria forense ¢ retroceder & Antic dade cldssica e ultrapassé-la. E retroagir até o antigo Egito, hd cerca trés mil anos antes de Cristo, na pessoa de Imothep, cujo nome signit ‘aquele que veio em paz’, e 6 descrito como médico, arquiteto, sacerdc © ocupava o posto de primeiro ministro do faraé Zoser, 0 qual construi pirdimide de Saqgara. Tal personagem teria sido o primeiro a unir lei pratica médica. Vernos que 0 dialogo entre 0 Direito ¢ a Psiquiatria remo aos tempos pré-hipocraticos. Na Babilénia, em aproximadamente 1850 a.C.., ocorreu julgamento, qual uma parteira participou como perita. O “Cédigo de Hamurabi" fc primeira compilagdo de leis que chegou até nos. © povo judaico, em sua sabedoria, levava em consideragac intencionalidade do ato, @ em 1200 a.C. no Exédo, 21:28-29, temos: algum boi chifrar homem ou mulher e causar sua morte, o boi seré a) ‘rejado e nao comerao sua came, e 0 dono do boi sera absolvido. S: boi, porém, ja antes marrava, e 0 dono foi avisado e nao o guardou, 0 sera apedrejado, e 0 seu dono serd morto”. Ou seja, os atos levados a ‘cabo com deliberagao eram considerados equivalentes ao homicidio se resultasse na morte de alguém. Antes de entrarmos na contribuigéo romana a histéria da psiquiatria forense, 6 mister citar a colaboragao dos filésofos gregos. O filésofo Plato divide a alma em racional e irracional: © que distingue o ser humano dos animais é a alma racional; portanto, os seres humanos, sendo livres para escolher, s4o responsaveis pelos seus atos. Aristételes, 0 grande discipulo de Plato, reconhece a importancia do conhecimento das consequéncias da agao para que o ser humano tenha responsabilidade por tal ago. Ele afirma que uma pessoa é moralmente Tesponsavel se, com conhecimento das circunstancias e, na auséncia de forgas externas, tal pessoa deliberadamente escolheu cometer um ato especitico. A sociedade romana, através do Senado Romano, estabelece em 460 a.C. a denominada “Lei das Doze Tabuas", a qual faz referéncias a inca- Pacidade legal das criangas e dos portadores de doengas mentais © pro- videncia tutores para os insanos. Temos também, em Roma, duas importantes leis: a Lex Aquila e a Lex Comélia. No texto da primeira esta dito que a lei romana ndo levava a julgamento pessoa responsavel por dano a propriedade, quando tal dano era causado na auséncia de negli- géncia ou de malicia, E a Lex Cornétia punia quem atingia a moral de uma pessoa, mas no punia criangas ou doentes mentais. O cédigo do imperador Justiniano, chamado simplesmente de Cédigo de Justiniano, editado em 528 d.C.., também protegia o doente mental ea crianga. Séculos depois, na Inglaterra, Henry de Bracton, em 1256, apre- sentou 0 livro On the laws and custons of England, em que descreve habi- tos e leis na Inglaterra. Durante 0 reinado de Eduardo | (1272) foi elaborado um decrato deno- minado “Prerrogativa Real" ou "Direito do Rei”, que estabeleceu parametros @m relagao as propriedades dos stiditos e dando tratamento diferenciado entre os nascidos com transtomos mentais e os que se tomaram doentes mentais no decorrer da vida, Havia um comité especial para determinar as condigdes mentais e os direitos de propriedade. A primeira cidade européia a estabelecer um servico de médicos peri- tos foi Bologna em 1292 e, no ano de 1302, uma das primeiras autopsias médico-legais 6 realizada na Europa e documentada. E no comego do século XVI, mais precisamente 1507, que se conside- a0 inicio do periodo modemo da medicina legal, pois foi neste ano que 0 ariaiiniendiiiieaieiemmatiees eee enemas Nets sobre historia pga toons, da guia ao corgodo culo XX bispo de Bamberg decreta que em todos os casos de morte violent obrigatéria a participagdo de peritos médicos. O imperador Carlos V gue tal norma @, na dieta de Ratisbon, em 1532, requer a presenga peritos médicos em todos os casos em que ha injiria pessoal, morte suspeita de gravidez. Em 1648, 0 médico Paulo Zacchia publica, em Roma, a primeira « go de sua Monumental obra Questdes médico-legais. E considera por muitos, o Pai da Psiquiatria Forense. Atuou, como perito, para di sas ordens religiosas ¢ era médico pessoal do Papa O julgamento de Earl Ferrers, em 1760, 6 o primeiro julgamento crim ocortido na Inglaterra em que um médico atua como perito para avaliat condigdes mentais do réu. Durante 0 reinado do grao duque Peter Leopold, foi fundado o Hose Bonifacio, e Vincenzo Chiarugi, seu diretor, elaborou os regulamentos ( tatutos) de tal hospital especificando: “E um dever moral respeitar o ing duo louco como pessoa”. Os desdobramentos histéricos da Psiquia ‘comprovam 0 quanto tal recomendagao foi esquecida. Em 1897, na Franga, Etlene Esqulrol publica 0 tratado Des malac ‘mentales com capitulos dedicados a psiquiatria forense, e o médico Ist Ray, um dos fundadores da American Psychiatric Association, publi ‘em 1838, 0 Tratado de jurisprudéncia médica da loucura. Por volta da segunda metade do séc. XIX, comecaram a ser ideali dos os primeiros institutos voltados ao tratamento de doentes ment perigosos. Em 18500) fundado o Instituto de Auburnque, e em 1863 su na Inglaterra o Instituto de Bradmore, que se tornou padrao para os inst tos criados a partir de entao. Observamos que a rélagao entre.doenca mental e as leis evoluiu s uma relago direta com 0 progresso dos conhecimentos sobre as do: ‘gas meniais. Os médicos e os legisladores no se preocuparam em es belecer as possiveis causas ou uma classificacdo do adoecer psiqui eles apenas observaram que 0 sujeito ndo era mentalmente integro e mavam as providéncias legais. Com o surgimento da Psiquiatria co: uma das especialidades médicas, esta tomou a si todas as relagdes en a Satide Mental e a Justiga, @ 6 neste momento que surge a psiquiat forense, podendo ser definida, enfim, como a subespecialidade que uso dos conhecimentos psiquidtricos a luz da legislacao, ou como au zagao dos conhecimentos psiquidtricos a servico da justica Por volta de 1876, temos a figura impar de Cesare Lombroso, que « ‘monstrou a importancia de conhecermos o Homem, para que se estat leca a justiga. Ele foi 0 criador da antropologia criminal. Entre suas obras cumpre destacar 0 L'uomo delinquente, Apés esta rapida e sucinta visao histérica, voltemos nossa atengéo pata o Brasil CO inicio da psiquiatria forense no Brasil J no inicio do Império, em 1835, a lei de 04 de junho cita os que so juridicamente inimputaveis: os menores de 14 anos e os alicnados. Em 1884, sao publicados dois importantes livros; um deles, por Nina Rodrigues, cujo titulo ¢ Raga humana e responsabilidade penal no Brasil © 0 outro denominado “Os Menores e os Alienados', de Tobias Barreto. O professor Francisco Franco da Rocha, vindo do Rio de Janeiro, as- sume, em 1897, 0 Servigo de Assisténcia aos Psicopatas do Estado de Sao Paulo e, nesta ocasiao encontravam-se reoolhidos no Hospital da Varzea do Carmo, na capital de SP, quinze doentes mentais criminosos. No ano seguinte, é inaugurado 0 maior e mais importante hospital psiquid. trico brasileiro, modelo para o Pais e para a América Latina: o Juquery. Publica, em 1904, suas vivéncias e experiéncias em um tratado que deno- mina “Esboco da psiquiatria forense". Os entéo denominados “manicémios judiciérios" sAo inaugurados; 0 do RJ, em 1921; € em 1924, os do Rio Grande do Sul e Minas Gerais. O Prof. Franco da Rocha aposenta-se, e, em 1923, assume o Departa- mento de Assisténcia aos Psicopatas do Estado de SP 0 Prof, Antonio Carlos Pacheco e Silva, que de maneira intensa e criativa administrou nao 86 0 Departamento mas o desenvolvimento da Psiquiatria paulista, © crescente numero de doentes mentais criminosos era motivo de Preocupacao, pois, em 1926 encontravam-se internados, no Hospital do Juquery, 165 pacientes em tais condigdes, sendo 95 brasileiros e 70 estrangeiros. Entdo, em 1927, Alcantara Machado, professor de medicina legal, no dia 13 de dezembro, patrocina o projeto de lei criando 0 Manicémio Judi- clério do Estado de Sao Paulo. Em 1934, os primeiros 150 pacientes, todos homens, foram removidos do Hospital Central do Juquery para o Manicémio Judiciério, o qual foi construfdo em terreno de 185 mil metros quadrados, ao lado do complexo hospitalar do Juquery. Seu primeiro dire. tor foi o professor André Teixeira Lima, que o dirigiu até sua aposentadoria Hoje 0 Manicdmio Judiciario 6 denominado “Hospital de Custédia e Trata. mento Psiquidtrico Professor André Teixeira Lima’. Para concluir, é importante frisar que, no caso das ciéncias médic mais especificamente no universo do pensamento psiquidtrico, o qu reforgado no Brasil é um certo conjunto eciético de conceitos ¢ post cientificas, fruto da experiéncia dos pioneiros como Franco da Rocha esse 0 processo que norteou a substituigao dos asilos leigos criados eéculos coloniais @ imperial de forma descentralizada © som finalic terapéutica (os simples “depdsitos de loucos”) pelo grande nosoct moderno (notadamente o Juquery), organizado a partir da especializ: médica como um foro centralizado de classificagao, pesquisa ¢ tratam da loucura. Bibliografia ‘Avrunes, E.; Bansosa, Lucia .; Pentima, Lyai os F. (orgs.) Psiqulatia, loucura e arte Paulo, Edusp, 2002. Bencrene, P. Os fundamentos da clinica, historia e estrutura do saber psiquidtico. 1 Janeiro, Jorge Zahar, 1989, Bisun o€ Jesusatts (Deuterondmio, 28:28). So Paulo, Paulinas, 1981 Conex, C. & Roonicurs, A.C. La psiquiatria forense in Brasile. In: Trattato di criminc Imedicina criminologia ¢ psichiatria forense. v.13 (Psiquiatria forense gene: penal). Giufre Ed, 1990. cap.13.6.13. Comma, Mana Custer P. O espetho do mundo; Juquery, a histéria de um asilo. F ‘Janeiro, Paz e Torra, 1986. Freousn, AM, & KerLan, H1, Comprehensive textbook ofpsychiatry. Batimore, The Wi & Wilkins, 1967, Fouoant, M. (Coord). Eu, Pierre Riviere, que degole! minha mae, minha inna « limo. 2. ed. Rio de Janeiro, Graal, 1982, Lowsnoso, C. Llhomme criminel.2.ed. Félix Alcan ~ Paris, Bocea Fréres ~ Turim, E Frangaise, 1877. Manicouto Juvicnio. Breve Histérico. Separata fornecida pela Diretoria da Ca: Detengao @ Tratamento André Teixeira Lima. Mauostev, H. Le crime ef fa folie. Paris, Germer Bailiére, 1877. ‘Monaes, Talante (org). &tloa 9 psiqulatria forense. Rio de Janeiro, Ipub/Cuca, 200 [Nores ov Menta: Disoncens wy Pranaontc Eavrr Avatep Oxasia ano Tanex OKASHA, Hist Psychiatry, 11: 419-24. 2000. Pacieco e stv, A.C. Psiquiatria clinica e forense. Séo Paulo, Renascenca, 1951. Prncrues aio PRAcTice oF Forensic Psvouarr Eoren by Richard Rosner Chapman anc 1994. “Tavouano, Douglas. A casa do deliric; uma reportage no Manicémio Judicidrio de Fi dda Rocha. Sao Paulo, Senac, 2002. ‘Anglica A. Siva de leis» Alsander sarin de Almeida 2. Contexto histérico séc. XIX assinalou para o Brasil o inicio de um processo de transfor. maga em suas estruturas, o que atingiu gradualmente o ambito da medi- cina. O saber cientifico passou a estruturar os valores que coordenavam @ harmonizavam a hierarquia social (Costa, 1976) AA formagao de uma nagéio desenvolvida e prospera, através de um indivi- duo brasileiro sadio, capaz de modificar os rumos do pais, passa a ser 0 foco principal das discuss6es e dos projetos de nossa elite intelectual nesse mo. mento. Se a Sociedade, por sua desorganizagao e mal funcionamento, 6 cau- sa de doenga, todos os esforgos deveriam se voltar para uma atuagao intensiva sobre seus componentes naturais, urbanisticos e institucionais visando neu- tralizar todas as ameacas possiveis (Machado et ali, 1978). Apés detectarem os principais problemas que prejudicariam o cresci- mento do pais @ encontrarem uma solugao calcada nos “principios da ciéncia’, to importantes nesse periodo, tornava-se indispensdvel um pro- grama de agdes com vistas a reorganizar a sociedade 0 preserva-la de alguns males. “Embora nao se reconhecesse uma raga brasileira a pre- servar, com certeza havia uma imagem do que se queria evitar, ou evitar Perpetuar, de um conjunto de taras a ser extirpado da identidade brasileira, a fim de remover obstaculos ao desenvolvimento nacional” (Bizzo, 1995) Coube & Medicina — como parte integrante deste saber ~ a tarefa de definir 0 que seria “bom” ou “mau” para os individuos (Costa, 1976). O Papel do médico nao deveria ser 0 de atuar somente contra a doenca, mas dificultar ou impedir 0 seu aparecimento, lutando contra tudo o que na sociedade pudesse interferit no bem-estar fisico e moral. Era o inicio da formulagao de um projeto de medicina social com suas propostas de hi giene. Dentro dos esforgos para uma saiide plena de seus cidadaos, a profilaxia e combate aos problemas mentais assumiu grande relevancia (Machado et alii, 1978). A Psiquiatria, nas primeiras décadas do séc. XX, conseguiu consoli- dar-se como uma disciplina autnoma, exercendo grande influéncia no meio académico. Com uma trajetéria de trabalho protundamente influen- ciada pelos ideais eugénicos e pelos principios de higiene mental, via a necessidade de modificar a realidade brasileira, a fim de criar uma nagao moderna, tendo como base individuos mentalmente sadios (Costa, 1976). Os psiquiatras tinham em mente que 0 Brasil degradava-se moral © so. cialmente por causa dos vicios, da ociosidade e da miscigenacao racial do povo brasileiro (Machado et all, 1978). Imbuidos desta preocupagao, os psiquiatras julgavam-se com o pc de determinar 0 modo de organizacao e funcionamento de todas as it tuicdes sociais, desde a familia até o Estado, por constituirem-se ni categoria capaz de compreender e agir eficazmente sobre 0 corpo mente (Costa, 1976). A ago dos psiquiatras deveria se estender por intmeros campo televistio, 0 cinema e 0 radio deveriam ser controlados, pois modela\ nossa personalidade através de forte sugestao, retirando-nos 0 pode! decisao (Silva, 1957); certas formas religiosas (notadamente as de car. meditinico) deveriam ser arduamente combatidas; houve a implementa de um combate & imigragao de japoneses, considerados perigosos; ar cigenagao com negros e indios deveria ser abolida, pois daria origer individuos preguigosos e atrasados (Oliveira, 1931; Silva, 1934). O objetivo principal era a prevengao, levando-os a atuar mais intensarr te nos meios escolar, profissional e social, Assim, acabavam deslocandc de suas praticas tradicionais, penetrando no dominio da cultura (Costa, 19° [A psiquiatria nao significa nem o estudo da alienagao mental, now psicopatologia, visto que € uma cléncia original, social e humana, « Principal objetivo 6 0 estudo da adaptago do homem & sociedade © dificuldades que ela oferece (isto 6, 0 estudo crtco, flosdfico e politic Prépria organizacao dessa sociedade). €, ao demais, uma ciér ‘educativa, a qual, por intermédio da higiene mental, se relaciona ‘somente com 0 individuo, mas também com as coletividades (particu mente Escola, Exército, Indistia, Religiao). (Siva, 1948) ‘A educagao eugénica’ também foi angariando importante valor, p: estudaria as causas que poderiam influenciar sobre o valor da espéc dotando cada cidadao da responsabilidade quanto a formagao da ra (Silva, 1934). A Eugenia surgiu num contexto histérico de positivisn: naturalismo, materialismo, organicismo e evolucionismo, defendend supremacia dos fatores genéticos na determinacao do comportamer 0 termo “eugenia” fol inventado pelo fisiologita inglés Francis Galton para designar ‘estado « fatores cocalmento contotivois que podom elovar ou rebabar as quadades racas das gorayt {uturas, ato aica quanto mentalments" (Costa, 1976). Gallon acrodtava, em consondneia com correntes de pansamento deminantes da épooa, quo a¢eereehumanos estavam dads em tax ‘muito ber dotnidas,adotardo um concolto essanciaeta de aga, A cvorsidads dos tipos human no seio de uma rapa. Era vista como a aproximagso importa do pada (Bizz, 1996), humano. Suas premissas adquiriram muito prestigio, por, dentre outros fatores, serem supostamente embasadas em demonstragées cientifi. cas, utilizando-se, inclusive, de arrojados calculos estatisticos. Num ambiente positivista esses eram atributos muito sedutores (Chalmers, 1994), Dessa forma, através de aces sociais € biolégicas, os psiquiatras acabaram por assumir um importante papel normatizador da sociedade. Contribuindo, muitas vezes, para o desenvolvimento de processos de ex. clusao (Foucault, 1972), 3. A “oucura espirita” no Brasil 3.1 -O espiritismo Na segunda metade do séc. XIX houve uma onda de interesse espiritualista pelo mundo ocidental, com destaque para os tendmenos meditinicos. Esse heterogéneo movimento social, que tinha em comum a orenga na existéncia e sobrevivéncia dos espiritos aps a morte, bem Como na possibilidade de comunicagao com os vivos, ficou conhecido Como “espiritualismo modemo” (Doyle, 1975; Braude, 1989; Trimble, 1995). Neste contexto, em 1857, surgiu na Franca o Espiritismo ou Doutrina Ee. pirita (Kardec, 1994). No final do séc. XIX, 0 espiritismo chega ao Brasil, onde passou a ter uma presenga marcante, sob uma feigéio essencialmente religiosa, Se disseminou principalmente entre a classe média urbana, mas a influéncia de suas praticas e visdes de mundo vai muito além do numero declarado de adeptos. (Aubrée & Laplantine, 1990; Machado, 1993; Damazio, 1994; Santos, 1997). 3.2—0 espiritismo como causa de loucura Oargumento de que as praticas espiritas eram causa de psicopatologia {01 usado no seu combate desde 0 inicio. Em 1858, um ano apds o Surgimento do espirtismo com a publicagao de O livro dos espinitos, & Possivel encontrar, na Europa, relatos de “allenados” que perderam a ra. 280 em decorréncia de praticas espiritas (Kardec, 1858). Em 1859, Dr. Décambre, um membro da Academia de Medicina de Paris, publicou uma critica a0 espiritismo; em 1863 circulavam relatos de casos de lousura gerados pelo espiritismo (Hess, 1991). 28 Continous ng: propos das pss part sprimramento ds sciedade ais posturas se mantiveram na Europa até 0 século seguinte. Di so ets do oo fa oes 4 Sacto de Poyeati do Pare Société Médico-Paychologique de Pars, bem como argos, os € ses eram cscrios sobre as agées nocivas do espntismo. Essas < cepgées nfuenciaramitensamente os psiuiatrasbrasileos, como mostram as revisdesflias por Leonia Fibero® em 1951, Henique gem 1996 @ Pacheco ¢ Sivat mm 1950, quo citam diversos auto publcardes européias, J& em 1896, encontramos publicagoes de « importantes médicos, Franco da Rocha® e Nina Rodrigues*, sol problemas relacionados as praticas mediinicas no Brasil France Rocha (1896), num elatério sobre o ano de 1895 do Hospicio de Ale dos de Sao Paulo, afirma que o espiritismo é uma causa crescente END 986 XX, proliferaram as conferéncias, publicagaes e teses fendidas nas faculdades de medicina (Pimentel, 1919; Guimardes Ino, 926; Marques, 1929; Cavalcanti, 1934) sobre o carter prj do espiritismo, com um discurso cada vez mais radical (Giumt ‘0s centros espiritas eram laboratorios de histeria coletiva” que poder levar o crente “ao crime é ao hospicio" * Protescor de medicina legal da Faculdade do Mt 1a do Rio de Janeiro, membro titular da £ seam suena ease aerate eee + Profssorestacratn de pigs da Facute de Medina co Roo Janer,presconta do Sas a teen emarene Neen ee a roe mo She cer coreseemmmnnenaeereea Ges rapt omen carmen a FW. Anglca. Siva de Almeid Aowander Merctade Ais Em 1909 houve uma sesso da Sociedade de Medicina do Rio de Ja- neiro que tratou dos “perigos do espiritismo”, onde um médico, declaran- do-se “catélico, apostélico, romano", afirmou que os “hospicios de alienados” estéo “sempre cheios de vitimas do espiritismo". Entretanto, apés debates, a assembiéia decidiu que ndo havia necessidade de serem tomadas medidas contra 0 espiritismo (Correio, 1939). ‘A mesma sociedade voltou ao tema em 1927, tratando do “problema do espiritismo”. A figura central foi Leonidio Ribeiro (1931), realizando um Pronunciamento antiespirita, Declarou que'50% dos pacientes avaliados Por ele no Gabinete Médico Legal da Policia, como suspeitos de atingidos Por uma moléstia mental, tiveram o inicio de seus sintomas de “loucura ao Se entregarem as praticas do espiritismo”. Apds discussao, foi aprovada a Proposta de se instituir uma comissao para estudar 0 assunto e obter “leis que vedam essa pratica prejudicial". Ao invés de se proceder a uma inves- tigagao cientifica dos fatos, o que se realizou foi um “inquérito ontre espe- cialistas brasileiros". Entretanto, nenhum destes “especialistas” tinha realizado pesquisas sobre o tema, apenas reproduziram opinides. ‘Apesar de nenhuma pesquisa ou ovidénoia controlada ter sido apresen- ada, a resposta consensual foi basicamente de que o espirismo seria preju- yedendo-9 mas nunca o suprimindo, © dsfargando de forma intligente suas caractoristicas de personalidade. Esta padi do de Somporlameno fl ‘0 que levou os psiquiatras a utilizar no passado 0 termo “insanidade mo- ral" (Hare, 1999, referindo-se a Prichard, 1835), A\literatura enfatiza o déficitemocional como uma das principais carac- teristicas de alguns criminosos. Estes individuos tém pouco afeto com os outros, nao expressam comportamentos amorosos, nao ficam nervosos facilmente (respostas de ansiedade) e nao expressam reagdes de remor- so ou culpa. Este padrao de comportamento tem levantado, na comunida- de cientifica, a hipétese de que ha uma deficiéncia em suas reagdes aos svete eboligicoda compananenee estimulos evocadores de medo, a qual seria a causa de sua insonsibi de (Patrick & et alii, 1993 e 1994). A expressdio do comportamento anti-social para estas pessoas 0 com maior freqdéncia na area do trabalho, em ambientes domésticos lontos, em situagdes caracterizadas pelo tréfico de drogas e nas dificx des conjugals (Hare, 1999). No entanto, apenas uma pequena fr: desses sujeitos transforma-se em criminosos violentos, estuprador assassinos seriais (Hare, 1999). Politicos corrupts, lideres autoritar pessoas violadoras dos direitos do outro estao entre eles, Contudo, temos de compreender que fatores psicolégicos engiobar aspectos cognitivos e da afetividade (entendida aqui como conjunto de « ‘9bes positivas @ negativas), bem como o funcionamento interpessoal, 0 trole dos impulsos, temperamento e cardter (Parker, 2000), além do entendermos ainda que diferentes formas deste comportamento podem var de varias vias dentro do contexto biopsicossocial (Scarpa e Raine, 1! 3. Parametros soc No tocante aos fatores sociais como agentes causadores do crim um consenso na literatura internacional, quanto ao exagerado crescir to demografico; 0 desequilibrio na distribuigao de renda (provocando seqiientemente, uma superpopulagao de marginalizados e surgiment favelas e conglomerados urbanos); o desemprego; 0 écio da juvent desestruturalizagéo do nticieo familiar; ea ineficacia de muitos paiset relaco ao excessivo trafico de substancias téxicas, bem como 0 alca mo (Rios, 1980; Costa, 1985; Leal, 1983; Raine et alii, 1994; Farring 1995; Conte, 1996; Coid, 1999). Entre as varias possiveis causas sociais, o papel da familia aprese ‘20 com importantes referéncias na causelidade do comportamento-o noso (Coid, 1999 € Hare, 1999). Familias com histérico de desordens mentais em primeiro grau (pt ‘ses; depresséo; deficiéncia mental; alcoolismo e transtomnos de'perst lidade), apresentaram-se com um fator correlacional parao comportarni ccriminoso. Num estudo de 260 sujeitos condenados por crimes, 40% & sentavam histérico de transtornos de personalidade na familia nuct 93% casos de depressao; 76,2 % alcoolismo; 23,9% deficiéngia meni 2,8% casos de esquizotrenia (Coid, 1999). Outro aspecto etiolégico da familia para o crime refere-se a violénc abuso de criancas e jovens pelos pais ou parentes, Esta violéncia ca teriza-se por exterminio; privagao indevida e arbitraria de liberdade (aprisio- namento); maus-tratos; abuso sexual; espancamento e abandono. Esses aspectos também se apresentam em histéricos de sujeitos autores de crimes (Hare, 1999; Conte, 1996; Coid, 1993 e 1999; Rios, 1980 e Leal, 1983). Outro trabalho de importante citagao na literatura é de Mac Cord & Mac Cord (1964, apud Hare, 1970); em seus estudos, concluiram que a privagao emocional ou a grave rejeicdio parental apresentavam-se como uma das principais causas da conduta criminosa, Fatores como 0 desemprego associado ao crescimento demogratico desordenado afetam diretamente o nticleo familiar, o que parece contribuir para o ingresso de criangas, jovens e adultos no espectro da pratica do trafico, deflagrando um elevado indice de chacinas, latrocinios @ homi dios (Rios, 1980; Costa, 1985; Leal, 1983 e Conte, 1996) Em um estudo realizado por Conte (1996) numa regido do estado do Parana, 0 qual investigou os aspectos socioambientais, concluiu que a regiao era caracterizada por familias numerosas (média de 6 membros), com renda anual de um mile trezentos délares e com elevado numero de criangas e jovens fora da escola. Segundo Conte, a estrutura social da regido apresentava-se como um instrumento facilitador de comportamen- tos agressivos, violentos e anti-sociais por parte dos moradores. Os ho- mens apresentavam-se mais agressivos, com maior uso de drogas € abusos em relagao &s mulheres. As relagdes familiares caracterizavam- se pelo uso excessivo de punigées (espancamentos), pouco didlogo Poucos reforgadores positives. As demonstragées de afeto eram raras, sendo mais freqdentes expressadas pelas maes. Conforme a autora, es. ses fatores reffetiram diretamente na vida social desta populagaio, decor- rente do elevado indice de violéncia e delinqdéncia de criangas, jovens adultos 0 que velo a caracterizar a regio como “a baixada fluminense do Parana’ Os dados sugerem que as inadequagées sociais repercutem direta- mente na estrutura e organizagao da familia, fragilizando-a e consequen- temente provocando uma ineficdcia no seu papel principal, que 6 0 de estabelecer relagdes saudaveis (na ética biopsicossial) e na formagao moral e ética do individuo. 4. Consideragées finais Nota-se hoje 0 comportamento criminoso apresentando cada vez mais um aumento da autoria de menores dos 18 anos, e também cada vez mais presentes em pessoas “normais” na concep¢ao séciocultural. ( tor motivacional do delito é uma questo de dificil compreenso, 0 motiva novas investigagdes e reflexes acerca da correlagao causal se comportamento. O principio basico que rege o processo de reabilitagdo da condutz minosa fundamenta-se essencialmente na classificagao do individuo q to a0 crime cometido. A identificagao causal do comportamento crimir (psicoses; epilepsias; afeogdes neurolégicas; déficits mentais e tran nos de personalidade) apresenta-se como imprescindivel para inse do individuo no sistema penitenciério e sua possivel reabilitagao. Pa como a Finlandia, que adota esta politica, apresenta-se hoje com um indices mais baixos de criminalidade e com redugao total de reincidé (Millon et alii, 1998) Com 0 proceso da classificagao causal do comportamento crit so, 0 sistema penitenciario tera respaldo quanto as intervencdes ade das para cada individuo autor de um orime, diferenciando o crimir ocasional do habitual. O criminoso ocasional é um individuo que ced pressées contingentes, sao geralmente individuos de baixa periculosic @ de elevado indice de reabilitagao; delinglem em sua maioria por cunstancias de um determinado momento em conseqiéncia a um « trole ndo adequado dos seus impulsos. O criminoso habitual caracteriz: como um individuo reincidente, especifico ou genérico na pratica do me; assume o ¢rime como seu meio de vida; é aquele que se especie em um determinado crime ou em varios, visando auterir vantagens € zendo deste uma atividade profissional. Com esta classificacao, a eqi multiprofissional (assistente social, psiquiatra, psicélogo, pedagogo e outros) atuaré de maneira especifica para cada caso e conseque melhoria na qualidade das intervengées (psicoterapia forense; progre ‘educacional; ocupacional e profissionalizante), o que reduziria possi mente o grau de periculosidade dos encarcerados. Salienta-se ainda a participagdo da universidade como centro de dos e investigagao cientifica das causas, intervengdes e prevencdes comportamento criminoso, bem como o aprimoramento da justiga cr nal, a reestruturagdo dos institutes médico-legais e da policia cient! com padres internacionais de especializagao para a realizagao de € mes criminolégicos altamente apurados. Diante do universo de abordagens acerca do comportamento hum: criminoso, urge adotar-se uma visdo complexa do ser humano, pois, considerd-lo como um sistema biopsicossocial, no nos limitamos a as a uma organizagao estrutural dos niveis biolégico, psicolégico e social, isoladamente, mas com 0 objetivo de entendermos a sua relagao funcio. nal © a comunicagao entre eles. Ao se estudar um comportamento com: Plexo problematico como € 0 crime, a complexidade biopsicossocial apresenta-se essenciaimente importante, pois para intervir 6 necessario Conhecer os diferentes niveis do sistema humano e a importancia de cada um deles na expressao do comportamento do individuo, O contexto médico-legal no que se refere ao estudo do crime devera centrar-se na-diade satide mentale justiga. Nao parece possivel conhe- Cer-se por completo 0 homem criminoso sem a investigagao de sua vida Psiquica. Essa vida psiquica apresenta-se em sua maioria com maior re- levancia do que os aspectos puramente organicos, haja vista que sua ago tem seu comando no psiquismo. Tudo 0 que ocorre na vida do homem reflete na sua estrutura mental Acredito que esta compreensao do comportamento criminoso s6 acon- tecerd com a incorporacao do conhecimento de diversas areas de pes- quisa como a Biologia, Antropologia, Psicologia, Medicina, Direito © a Griminotogia. Bibliografia aswouten,D. 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Introdugao O objetivo deste capitulo é discutir o papel da Psicologia e sua inter com a Criminologia na busca de uma melhor compreensao, bem ¢ das possiveis ages de intervengao no comportamento criminoso. | saltando ainda que a Psicologia, como ciéncia do comportamento, de considerar a interacao dos fatores fisicos, psiquicos e socials con triade que deriva num conjunto de aspectos que formam a estrutura It nna (personalidade) de cada individuo. A busca da compreensao (e possiveis agées interventivas e previ vas) em relago ao comportamento criminoso (anti-social), que com ende o homicidio, latrocinio, comportamento sexual violento, furtos, a¢ fraudulentas e 0 crime organizado compreendem uma gama inusitad: consideragses etiolégicas. Para se compreender 0 comportamento criminoso se faz impreteri compreender uma interdisciplinaridade, que abrange desde os aspex biolégicos (genéticos, neuroantémicos, neurofisiolégicos e bioquimic aos aspectos psicossociais (estrutura socioeconémica familiar e sua c seqiiente desagregacao; auséncia de orientagao quanto a satide, instru: 80, educagio, socializagao e processo de profissionalizagao do indivi- duo autor de ato criminoso, considerando sua formacao da infancia & vida adulta). A problematica do comportamento criminoso compreende n&o mais um fenémeno isolado de um determinado local, em um determinado esta- do ou pals. Esta conduta anti-social constitui-se num fendmeno mundial e avassalador pela arquitetura ¢ fisiologia cada vez mais estruturada e au- daciosa. Sua consegliéncia a Sociedade e ao proprio individuo tem-se caracterizado principalmente como um fator psicogénico. As notificages © estatisticas didrias de crimes nos meios de comunicagao tendem a pro- vocar na populagao um elevado nivel de inseguranca e ansiedade, levan- do-a a um isolamento social, como j4 se observa em grandes centros urbanos, com residéncias sufocadas por grades de protecao, criancas sem areas lidicas, entre cutras. 2. Criminologia e Psicologia: as bases do estudo da conduta anti-social ‘Ao estudarmos a complexidade do comportamento criminoso, indubitavelmente nos reportaremos a conceitos histéricos fundamenta. dos pela Criminologia. Historicamente, as primeiras notificag6es do estudo da conduta anti- social (personalidade psicopata) datam de 1835, com Prichard, sobre a insanidade moral (moral insanity). Caracterizando a conduta anti-social @ @ falta de senso ético em alguns criminosos. Estes individuos apre- sentavam-se pouco decentes, careciam de sentimentos de capacidade de autodominio e do sentido ético mais elementar. Os loucos morais representavam uma classe de sores anormais que se achavam multo préximos dos auténticos enfermos ps{quicos. Em 1838, Esquirol estu- dou os mesmos individuos sobre o prisma das monomanias. Boudert (1858) as denominava de enfermidades do caréter. Morel, em 1863, ca- acterizou os comportamentos anti-sociais como os degenerados (apud Cleckley, 1955). Porém foi com Kock (1891) a utiizacdo pela primeira vez do termo “psicopatia” (“inferioridades psicopéticas”). Para Kock, as inferioridades Psicopaticas constitu’am-se de anomalias do carter, quase sempre con- génita mais raramente adquirida, que nao chegava a constituir uma en- fermidade psiquica e sim uma manifestacao de enfermidade processual Lombroso (1887) assinalou deteitos na formagao da moral em indivic que praticaram crimes, os quais classificou como criminosos natos, 6, tefratarios congénitos & sensibilidade moral Ressaltamos ainda a importanoia da obra de Schneider (1923), “pe nalidades psicopatas" com a definieao: “personalidades anormais sofrem por sua anormatidade e/ou fazem sotrer a sociedade”. F ‘Schneider, os psicopatas sao personalidades cujo caréter anormal o¢ loca, em todas as circunstancias, em conflitos externos e internos. Schneider (1923) incorporou os psicopatas no campo de estucc psicologia e psicopatologia, descrevendo os seguintes tipos de perso dades psicopatas: hipertinicos, depressivos, inseguros de si, sensiti anancasticos, fanaticos, necessitados de estima, labeis de animo, ex sivos, desalmados, abilicos e asténicos. No tocante a literatura dos tiltimos cinqdenta anos, referente as ca teristicas das personalidades classificadas como anti-sociais (mais cisamente os psicopatas), 0 déficit emocional apresenta-se como mi registrada desta populagao. Cleckley (1955) forneceu os mais minuciosos relatos clinicos sob psicopatia e suas varias manifestagdes, apresentando como as cara risticas mais comuns desta populago os seguintes aspectos: ‘+ encanto superficial e boa inteligéncia; ‘+ auséncia de delitios e outros sinais de pensamento irracional; ‘+ auséncia de nervosismo ou manifestagdes neurdticas; * irresponsabilidade; mentira @ falta de sinceridade; falta de remorse vergonha ‘+ comportamento anti-social sem constrangimento aparente; ‘+ senso critico falho e deficiéncia na capacidade de aprender pela ex riéncia; * egocentrismo patolégico e incapacidade de amar: * pobreza geral de reacées afetivas; + indiferenga em relagdes interpessoais gerais; ‘+e dificuldade em seguir qualquer plano de vida. Para Cleckley, 0 psicopata nao tem capacidade de sentir os comy Nentes emocionais do comportamento pessoal e interpessoal. Ele co} caracteristicas da personalidade humana, mas é incapaz de sentir re mente Kapman (1961) descreveu que o psicopata é uma pessoa insensiv emocionalmente imatura, com apenas duas dimensGes e sem nenhur profundidade real. Arieti, em 1967, descreveu dois tipos de psicopatas: simples — inabilidade para adiar a satisfagao psicolégica e biolégica, nao importando as consequéncias para o préprio individuo nem para o outro; & complexo - 0 comportamento era guiado nao apenas pela necessidade mas também pela methor maneira de consegui-la Jé Me cord & Me cord em 1964 (apud Hare, 1970), concluiram que 08 dois aspectos da psicopatia sao a incapacidade de amar e de sentir culpa onde na sua busca interna do prazer ignora as leis da sua cultura. Em 1965, Craft também considerou como fatores primarios da psicopatia a falta de sentimento, amor ou ateigao pelos outros, e uma tendéncia a agir impulsivamente sem refiexao anterior. E como fatores secundérios deri- vados dos primarios, a agressividade, auséncia de culpa ou vergonha, incapacidade de aprender com a experiéncia e falta de motivagao apro- priada (apud Garcia, 1979). Para Hare (1999), é enorme o sofrimento social, econémico pessoal causado por algumas pessoas cujas aitudes e comportamento resultam menos das forgas sociais do que de um senso inerente de autoridade uma incapacidade para a conexao emocional em relago ao resto da hu- manidade. Para estes individuos (psicopatas), as regras sociais ndo sao uma forga limitante, e a idéia de um bem comum é meramente uma abs- tragio confusa e inconveniente. Esta caracterizacdo fundamenta-se num padréio comportamental onde: eles mentem sem qualquer vergonha, roubam, trapaceiam, negligenciam suas familias e parentes, e colocam em risco suas vidas e de outras pes- soas (auséncia de um senso moral ou uma personalidade amoral) (Maranhao, 1981). ‘A Psicologia direcionada & compreensdo da conduta anti-social deveré investigar a classe de fendmenos psicolégicos ligados ao comportamento criminoso. Neste contexto estuda a personalidade do criminoso. compor- tamento, pensamento, reagao e experiénoia, caracteristicas de uma pes- soa, através das quais se pode compreender e prever algumas partes do comportamento humano (Santos, 1970). Eurico Ferri (apud Santos, 1970) postulou que a Psicologia estuda o individuo criminoso do ponto de vista criminal, judiciério, carcerdrio e do ponto de vista legal, + cri individuo como autor do deli. + dudiciério: analise do comportamento delinqdente, + Carcerdrio: 0 seu comportamento no crime. + Legal: condigdes psicolégicas de quem infringiu a lel. Para Han Cross, a Psicologia na drea criminal se preocupa com to 0s fatores psiquicos apreciados e comprovados cientificamente na | soa do delingliente (apud Santos, 1970). Todavia, classicamente a Psicologia ao estudar 0 comportamento : social é conceituada como uma area da ciéncia que engloba a totalid dos fendmenos fisicos, ndo 66 em rolagao ao autor de um ato crimino: ser punido juridicamente como também todas as pessoas que intervent no processo criminal (uiz, advogado, vitimas e testemunho) (Santos, 19 ‘A fundamentagao dos principios da Psicologia na investigagao do ¢ portamento anti-social esté diretamente ligada as concepcdes dos fat leis da relagao entre a vida mental e a expressao do comportamento hu no, segundo as varias contribuigdes das escolas psicolégicas: condutivi (Watson); psicologia da forma (Watheiner); psicandlise (Freud); ne reflexolégica (Pavlov); tipologia (Sheldon); psicologia patologica (Jaspe Janel); psicologia social (Murphy e Allport) e 0 behaviorismo (Skinner). Estas escolas, em suas fundamentagdes acerca do Homem, en zaram desde 08 principios da interagao meio-individuo / estimulo / posta (Watson); os aspactos das pulsdes (Freud); a unidade vital, que se pode decompor pela andlise (Gestalt de Watheiner); a formagac reflexo condicionado (Pavlov); 0 enfoque psicossomatico (Sheldon); a tologia de cada individuo em classe e grau (Jaspers) ¢ 0 estudo das p ogias ligadas as frustragdes e os desajustes sociais (Allport). ‘As contribuiges dessas escolas corroboram sobretudo a estrutura da Psicologia no campo do estudo do comportamento anti-social, no se refere & necessidade do conhecimento meticuloso do funcioname da personalidade humana, e num amplo conhecimento de fatores bio! cos, psicopatolégicos, sociolégicos, pedagdgicos e morais, que compe a ago do Homem. estudo pormenorizado da personalidade do autor de um ato delingt cial implica 0 estudo das circunstancias da expresséo de um eompe mento anti-social. Esse processo caracteriza-se pela compreensao ‘aco anti-social pelo profissional, em identificar 0 que levou o individu agir de tal maneira (motivago), a oportunidade (circunsténcias) eo pan ma de comportamentos anteriores (historico delindencial). ‘Acompreensao desse complexo comportamento néo deve limitar unicamente a um processo de diagnéstico e aquisi¢&o de um conh« mento suficiente para elaboragao de planos de intervengao para 0 cesso de reabilitagdo do individuo criminoso mas também de agi preventivas. 3. Diretrizes da Psicologia aplicada ao estudo do comportamento anti-social A Psicologia aplicada ao estudo da conduta anti-social deve fundamen- lar-se em diretrizes periciais ¢ de pesquisa, utilizando desde a entrevista at6 08 instrumentos de psicometria validados e reconhecidos cientifica- mente ~ procedimentos estes para avaliagao dos aspectos cognitivios, neuropsicolégicos & da personalidade (enfatizarei neste capitulo apenas 0 estudo da personalidade). A atuagao do psicdiogo no campo da pesquisa deve estar direcionada exclusivamente pelo uso de uma metodologia cien- lifica baseada em uma conduta ética de respeito ao ser humano. Toda ago voltada para o estudo do comportamento criminoso deverd, além do Processo de diagnéstico, compor-se também de uma conduta de orienta. 940 diante do caso estudado. © proceso de investigacao do comportamento criminoso devera sem- Pre seguir uma estruturagao temporal; isto é, os dados levantados deve. Tao considerar o comportamento funcional do individuo no decorrer de sua vida. O estudo nao deve fundamentar-se apenas no estado alual, ou Considerar apenas fatores situacionais extremos como possiveis as. Pectos etiolégicos do comportamento anti-social. Nesse contexto, deve. se investigar... loquacidade / charme superficial: © individuo que se apresenta loquaz, volivel, dotado de fluéncia verbal, que exagera em uma espécie de encanto superticial e nao sincero. Ele tem uma boa e divertida conversa. Esta sempre pronto a dar respostas rapidas e inteligentes, sendo capaz de contar improvaveis mas convin. centes historias que o colocam em uma posigao de evidéncia, superostim: Individuo com uma visdo grosseiramente exacerbada de suas habilida- des e de seu autovalor. Ele pode impressionar com sua arrogaincia. Ele Geralmente se mostra, durante a entrevista, como autoconfiante, deter. minado e convencido, deixando a impresso de estar representando ou dando uma entrevista a imprensa. Nao se mostra constrangido ou sensibilizado pelos problemas legais aos quais responde, ele est Gonvencido de que as circunstancias atuais séo resultados de “ma Sorte”, amigos infigis ou de um sistema de justica criminal injusto ¢ incompetente, + necessidade de estimulagao / tendéncia ao tédio: individuo que demonstra uma necessidade crénica e excessiva po tuagdes novas e estimulos excitantes, ¢ uma incomum tendéncia tédio. Com frequéncia, expressa um forte interesse em aproveitat ‘oportunidades “levando a vida no limite ou por um fio", “estando one agao esta’, e em fazer coisas excitantes, arriscadas ¢ desafiado: Ele pode experimentar e usar diversos tipos de drogas. + mentira patolégica: individuo para quem a mentira ou a fraude 6 parte caracteristica de + interagao com os demais. Ele é capaz de inventar fabulas elaborar sobre seu passado mesmo sabendo que sua histéria pode ser fe mente checada. Se apanhado em uma mentira ou confrontado cor verdade, raramente se mostra perplexo ou envergonhado: simpiesme muda a histéria ou tenta reformular os fatos de modo a torné-los cc pativeis com 0 que disse. + vigarice ou manipulacao: iindividuo mais relacionado ao uso de logto e fraude para roubar, burlar, fraudar, ou manipular os demais. Utiliza esquemas e planos fraudulen motivados pelo desejo de ganhos pessoas (dinheiro, Sexo, status, por etc.) realizados sem considerar conseqUéncias ou efeitos sobre as vitim + auséncia de remorso ou culpa: C individuo que demonstra alta generaizada de preocupagio ou de cor doraco pelas conseqiiéncias negativas que suas agdes — criminais no — possam ter sobre os outros. Ele esta mais preocupado com efeitos de suas agdes sobre ele proprio do que com algum tipo de so mento causado &s suas viimas ou pelos danos causados & sociedac Ele podo ser completamente franco sobre o assunto e declarar calme friamente que nao tem nenhum sentimento de culpa, que nao se ar ende do que fez e que agora néo ha razio para preacupagies, pois problema esta terminado. Pode culpar o sistema de justia criminal ot 'midia por prejuizos & sua reputagao ou por privé-fo de utilizar seu potenci * insensibilidade afetivo-emocional © individuo que aparenta ser incapaz de experimentar uma: emogSes em extensao e profundidade normais. Por algurr i ele pode improssionar pela frieza e falta de mobilizagac-t Gemonstragdes de emogao geralmente sao dramaticas, superficiais de curta duracao; deixando impressao aos entrevistadores mais aten. tos de que ele esta representando e que pouco do significado real ou de verdadero esta para além do que manifesta superficialmente. Ele pode admitir que nao se comove ou que simula emocoes. indiferenga / falta de empatia: © individuo cujas atitudes e comportamentos indicam uma profunda falta de empatia, insensibilidade, desprezo pelos sentimentos, direitos © bem-estar dos outros. Ele vé os outros como objetos de manipula. G0. Ele 6 cinico e egoista. Qualquer comogao para com a dor, angis- tiae descontorto alhoios é meras abstragdes ou intelectualizagées, Nao hesita em zombar das outras pessoas, inclusive daqueles que te- nham passado por infortinios ou que sofram de limitagdes fisicas ou mentais, estilo de vida parasitério: individuo cuja dependénoia finanoeira de outros ¢ intenclonal ¢ faz par- {te de seu estilo de vida. Embora apto fisicamente, evita trabalhos remu- Rerados @, ao contrario disso, continuamente conta com familiares, Parentes, amigos ou assisténcia social. Obtém 0 que deseja apresen. lando-se como alguém desamparado ou merecedor de compaixao ¢ apoio, usa de coerg4o ou ameagas, explorando a fraqueza de suas vitimas emocional para estes. descontroles comportamentais: Individuo com inadequado controle do comportamento. Ele pode ser escrito como “pavio curto” ou “cabega quent”, Ele tende a responder a frustraedo, falhas, disciplina e criticas com comportamentos violen. tos ou amoagas © abusos verbais. Ele se ofende facilmente e se torna {urioso © agressivo por trvialidades; muitas vezes, esses comporta- mentos so impréprios, dado 0 contexto nos quais ocorrem, promiscuidade sexual: individuo cujo padrao das relagées sexuais sao impessoais, fortuitas ou vulgares. Isso pode ser refletido em freqlentes encontros casuais, falta de critério na selegao de parcelros sexuais, muitos relacionamen, {0s sexuais ao mesmo tempo, infidelidade freqtiente, prostituigao ou grande disposigao em participar de uma ampla variedade de atividades sexuais. + distdrbios de conduta na infancia: individuo que teve graves problemas de comportamento quando crie ga (12 anos ou abaixo desta idade). Esses problemas podem inc! mentiras freqlientes, embuste, trapagas, frauds, furto, roubo, ince dios, vadiagem, cabulagao de aula, abuso de substancias (incluin lcool e cheirar cola), vandalismo, violencia, provocagées, fugas do e atividade sexuais precoces. + auséncia de metas realistas a longo prazo: individuo que demonstra inabilidade ou indisponibilidade em formuta manter planos ou metas realistas. Ele tende a viver 0 dia-a-dia @ a dar seus planos constantemente. Nao se importa com 0 futuro, nao preocupa muito com isso. Nao se perturba em saber que no fez mu coisa na vida e que até 0 momento nao tem um rumo a seguir. + impulsividade: individu cujo comportamento & geralmente impuisivo, inesperado, iret tido ou impensado. Geralmente faz as coisas “no calor do momento’, p que “estda fim” ou simplesmente porque uma oportunidade se apresent« + irresponsabilidade: individuo que habitualmente nao cumpre com obrigagdes e comp! missos assumidos com os outros. Ele tem pouco ou nenhum sen de obrigagao ou lealdade para com a familia, amigos, patrées, soc dade, idéias ou causas. + fracasso em aceitar responsabilidade pelos préprios atos: individuo que é incapaz ou nao se disp6e a assumir responsabilidad pessoais pelos prdprios alos (ctiminais ou néo) ou pelas consequiénei destes. Ele geralmente tem alguma desculpa para seu comportame to, incluindo racionalizacdes ou imputando a culpa aos outros: soci dade, sua familia, ciimplices, vitimas, o sistema. + delingiiéncia juvenil: a individuo que tem um grave historic de comportamento anti-social d rante a adolescéncia, em idade igual ou abaixo de 17 anos. individuo adulto cujo registro criminal envolve acusagées e conden ges por muitos tipos de infragées diferentes. Quadro das principals condutas criminosas 1. Furto, arrombamento, posse de ferramentas para arombamento de domiolios, porte de pertences roubados, vadiagém notuina, ete Assalto, assaito @ mo armada, assalto com emprego de violéncia, extorséo, etc Porte @ trfico de drogas ‘Agresso, agressao com testo corparal, ameaca, etc Homicidio, tentatva de homicidio, homicidio culposo, etc. Posse de armas e/ou explosivos, Agresslo sexual Negligéncia criminosa, incluindo infragoes graves de transito: digit intoxicado, Provocar coliso seguida de fuga © divegto perigosa. 9. Fraude, falsiticagao, falsa apresentagéo, falsa identidade civil, falsficagao de ‘mooda, ete. 10. Fuga, sob qualquer condigo considerads ilegal, quebra de flanga, néo-compa Tecimento, ndo atendimento a intimago judicial 11. Sequestro, continamento ilegal, edroere privado, seqtiestro aéreo. 12. Incéndio criminoso. 13. Obstrugto da justica, perro, desacato a autoridade policial, ete |] 14.Crimes contra o Estado, incluindo traipo, espionagem, contrabando, sonega- ‘G40 de impostos, etc. 15. Oulras condenagdes menores, incluindo vandalismo, perturbagao da ordem, in {uri dano intencional, infagées de transito menos graves, etc, 4. Consideragées Entender a Psicologia como a ciéncia do estudo do comportamento humano complexo ¢ entender este comportamento dotado de afetividade € conagéo; é entender o individuo como um ser passivel de alteragdes na sua estrutura psicolégica (qualitativa e quantitativamente); 6 entender os aspectos motivacionais do comportamento. Compreender o individuo au- tor de um delito 6 compreender conceitos do direito, dever, lei e justiga; 6 compreender 0 processo judiciério criminal; é compreender a vitima, a familia do criminoso e da vitima e do testemunho; é compreender a diade homem e ambiente investigando, diagnosticando, orientando e, acima de tudo, tratando. E notério hoje o aumento da periculosidade dos encarcerados bem como de elevados indices de crimes praticados por jovens. Os provaveis fato- res etiolégicos deste fenémeno estao relacionados a impunidade e as inadequagdes dos programas de ages preventivas e reabilitagdo, A re cidéncia delituosa também tem contribuido para o aumento da criminalidac Este ensaio tedrico enfatiza a necessidade do exame criminol6gi acurado (investigagao dos aspectos biopsicossociais do autor de um ¢ lito}, diferenciando 0 criminaso ocasional do habitual. Sugerindo uma flexao frente as questoes supracitadas, quanto aos possiveis fatores risco para o aumento da criminalidade, fazendo-se necessério revisdic reorganizagao geral do sistema penitencidrio brasileiro em interface cc 0 sistema judiciatio e a pariicipacao da universidade. Enfatizando ainda que, a compreensdo do individuo deve se fazer pc ‘oque ele 6, visto que este individuo expressa suas respostas como somatério de influéncias hereditarias da familia, da escola e da sociedac bem como tais respostas influenciarao no ambiente em que vive — grug sociedade, escola, familia: individuo meio (Santos, 1970). Diante dessa problematica se faz necessario, a todas as ciéncias q objetivam melhoria na qualidade de vida da humanidade, buscar respc tas quanto as possiveis prevengdes e tratamentos para os “predador sociais intra-espécies” Bibliografia anoensen, H.S.: Srsvorr, D.; Lateaace, T; Mortensen, E.L. & Kast, P. Psychopathy € Deychopathological profiles in prisoners on remand. Acta Psychiatry Scand, 99 ( 35-9, 1998 Cuconey, H. The mask of insanity. SLLouls(U S.A.) Mosby, 1955. Cova, JW. Aetiologial risk factors for personality cisorders. Bristsh J. of Psyohiatry, 1 1530-8, 2000. ™ Coxe, DJ. & Mice, C. 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Um nimero estro doso indicou que muitos jovens so submetidos a atos em que se torna vitimas, conheciam autores de violéncia, e estavam engajados em at violentos. (Greene, 1993; Koop; Lundberg, 1992; Straus; Gelles, 198€ De 1960 a 1980, a populagao americana aumentou em 26%, enquanto homiofdio com arma de fogo aumentou para 160% (Koop et alii, 1992). De acordo com o Programa Oficial de Justiga, dos E.U.A., do Departamento de Justiga (1991) cerca de 5% de todos as residéncias americanas tinha um membro que ja experienciou um ou mais crimes violentos em 1989. Indicios de violéncia familiar data de tempos antigos (Kashani et alii 1992; Radbill, 1974), e 6 hoje reconhecido como um sério problema de nossa sociedade. Porém esse assunto tem levantado maiores especula: des e atengdes. Encontramos varias formas de abuso familiar, entre elas destacamos 0 abuso infantil: de velhos para com as criangas, entre irmaos, de pais para filho, © outros. Em todos, a crianga é exposta a situacdes traumaticas que podem interferire dificultar a possibilidade de desenvolvi- mento sadio. indmeros trabalhos apontam que o abuso sexual na infancia 6 fator de risco para atos de perversdes sexuais € homicfdios. Robins (1978) acentuou que uma histéria de comportamento anti-social na infancia é requisito para comportamento anti-social de um adulto. Eotudo com proses encontraram que 69% daqueles que testemunharam abusos entre os pais cometeram crimes fisicos, @ 25% dos que testemu- nharam abuso cometeram crimes sexuais (Dutton; Hartt, 1992). Adulto com comportamento criminoso tem sido demonstrado como uma das conseqiiéncias de infancia vitimada, reforgando a teoria do ciclo da violéncia (Dutton; Hart, 1992, Widom,1989b). Mas 0 que é ser violento? ‘Entende-se por ato violento todo atentado a integridade fisica e psi- quica do individuo, acompanhado por um sentimento de coergao e perigo” (Perrone, 1998). Sempre que as exigéncias minimas para um padrao de vida digno deixa de ser atendido, diz-se que a sociedade encontra-se inserida em um estado de violéncia. ‘Os diversos tipos de violéncia — ferit, matar, prender, roubar, ameagare humilhar — atingem a integridade do corpo e da vida, a liberdade do mo- vimento, o direito a propriedade, e perturbam o espirito e a dignidade das pessoas (Aranha, 1997). Os meios de comunicagao dramatizam os se- qUestros, estupros, assédios sexuais, mortes. Entretanto, as conse- qiéncias que esses atos insanos causam nao sao valorizados. Esses atos, que deses-tabilizam seres humanos, dificultando a continuidade de suas vidas, séo desconsiderados. O ato violento ou tentativa reper- cute também na familia do criminoso, que deixada em segundo plano, sofre diretamente as conseqiiéncias da violéncia que um membro des- se niicleo executa. De acordo com 0 governador do estado da Florida, E.U.A., do 19 Lawton Chiles, © cielo de violencia nao comega nas prisées, € sim, no inicio da ¥ Comega quando uma familia tem dificuldades em educar e criar crlanga nao saudivel, que necessita de ateneo aspecial. Comega qi do uma crianga faminta, abusada, maltratada aprende que sua vic Insignificante e de pouco valor. Comeca quando uma erianga apre que resolve seus problemas alravés da violénela, Comega quand fracasso escolar que é compensado por uso de drogas e por suc clusdo em gangs, para ser aceito no mundo. 2. Responsabilidade parenteral Um dos maiores desatios do século XX! é assegurar que as crian crescam transformando-se em adultos sAbios, corretos e capazes; e 08 pals responsdveis por essa ardua tarefa. Esse principio 6 univers: foi levantado pela Unesco, na Declaragao dos Direitos da Crianga 1959, O artigo 26 da Unesco, na Dectaracao dos Direitos Humanos: “f tém a prioridade de escolher 0 tipo de educagao que deve ser dado criangas’. Pode-se dizer que a responsabilidade de exercer a funeao pate ou matema é 0 primeiro cargo de extrema importancia que uma p soa enfrenta na vida. & uma incumbéncia cuja primazia em relaga tarefa profissional deve-se ao seu comprometimento inigualavel cor vida de outras pessoas e a responsabilidade perante a sociedade. S familia 6 vista como 0 alicerce do grupo social, os pais si at ig essencial par exercerd a parenta Oa cae ene @ Seguranga ho futu wat 3. A importancia da estrutura familiar A familia 6 @ matriz mais importante do desenvolvimento humanc também a principal fonte de sadde. Entretanto, quando no se const uma unidade de experiéncia, de aprendizagem e de criatividade, podk ‘sg tomar um fator de doenga (Fichtner, 1996). sarin ily Hastn Alesadina Marl Aygustoda Ske Mele A familia é a menor unidade social, que enfrenta diferentes tarefas de desenvolvimento, dependendo do contexto a que pertencem, devendo-se considerar as diferengas culturais. “A estrutura familiar é 0 conjunto invisivel de exigéncias funcionais que organiza as maneiras pelas quais 0s mem- bros da familia interagem, move-se no tempo e possui propriedades bas- tante diferentes de todos os outros sistemas’, segundo Minuchin (1990) Familia € um sistema aberto que interage com 0 meio ambiente me- diante troca de matéria, energia ¢ informagao: os pais trabalham, os fithos vao as escolas, a festas de amigos, ou seja, encontros com 0 que é extrafamiliar (trabalho, deveres e prazeres), estabelecendo uma relagao com o meio ambiente de complementaridade com as suas necessidades. A familia mudaré a medida que a sociedade muda, pois sabe-se que uma mudanga se desloca da sociedade para a familia, e nunca da unidade menor para a maior (Minuchin,1990). Partindo dessas definigdes de familia podemos extrair algumas idéias importantes. Cada individuo dentro da sua familia pode pertencer a dife- rentes subsistomas, ondo tom diferentes fungées, que the proporcionam diferentes niveis de’poder e aprender varias habilidades que Ihe serao im- portantes no seu desenvolvimento pessoal. As fronteiras de um subsistema, no caso, a familia, so as regras que definem quem participa e como. A sua fungao é de proteger a diferencia- ‘80 e coesdo do sistema. Salientamos que cada subsistema dentro de uma familia tem fungdes especiticas e faz as exigéncias aos seus mem- bros de acordo com essa especificagao. O casal que vai constituir uma nova familia traz consigo uma bagagem formada pelas suas experiéncias com a familia de origem, influéncias da vida que vivenciaram, os valores adquiridos desde o nascimento e sua hist6ria pessoal. A partir da forma- ‘go do novo sistema conjugal, iréo necessitar de um espaco proprio para egociar essas diferengas, Impedindo que outros que estao de fora deste sistema interfiram. Com isso, a unidade do sistema conjugal sera preser- vada. O casal precisa construir um conjunto de regras e valores préprios, formando assim um novo conjunto de “partes em interac” (Intercef, 1999). A organizacao de um sistema 6 regulada por um cédigo de regras que rege 0 funcionamento de qualquer elemento do sistema e dele como um, todo. Em sistemas sociais existem regras que também organizam seu funcionamento. As familias tém suas regras que provém de duas fontes: as universais, que foram assimiladas por meio da cultura e vém passando de geracao em geracao. Por exemplo: “as criangas devem ir & escola”. A outra fonte sao as proprias de cada familia, sdo especificas para cada solr desesvutuacS fain cima grupo e nascem dentro de uma rede de necessidades e valores prop daquela familia. Esse cédigo de regras define os comportamentos po veis dentro desse sistema familiar e todos tem que seguir ossa rege tendéncia do grupo familiar é de buscar manter-se fiel aos valores definem a sua identidade. Deste modo a familia regula o patamar até 0 0s membros podem Ir, detinindo 0 quanto da interferéncia de terce sera tolerado (Intercef, 1999) A transformacao na estrutura familiar No iltimo século, a familia passou por grandes transtormagées, po ainda observamos que existem marcas deixadas pelas suas origens. familia romana temos a autoridade do chefe de familia na qual as subt s6es da esposa e dos filhos ao pai tomam o homem o chefe da famili valor machista tem origem no poder despético do pater familias rome Da medieval, o carater sacramental do casamento que advém do Cont de Trento do séc. XVI (XIX Concilio Ecuménico da lareja, 1545-1563): cultura portuguesa, a solidariedade, o sentimento de sensivel ligagao afe abnegacao e desprendimento (Gontijo, 2001) Muitas mudangas ocorreram na sociedade brasileira: de uma socie de rural, na qual predominava a familia patriarcal, fechada em si mes com suas raizes no passado, para uma sociedade de bases industr com as implicagées de mobilidade social e geogratica (Medina, 1991) (O modelo tradicional anterior de familia visava a uniao de duas fami cuja deciséo. de casamento néo era exclusiva do casal. Esses dev passar por diversas etapas, que eram uma preparagdo para as respor bilidades que assumiriam ao se casarem. O periodo entre namoro & ‘samento tinha fungdes espectficas, entre elas a de aceltacao daquele rv ‘membro pela familia de cada obnjuge. Cada um tinha de estar prepan para assumir 0 sou papel social mascutino ou feminino, que era uma c seqiéncia da educagao diferenciada recebida. O mundo.de homem s« racional e calculista, eo da mulher sentimental e afetivo, Dificilmente visto e aceito a dissolugao da sociedade. A mulher era submissa ficar segregada dentro do lar, onde se sentia protegida do mundo. Enqua isso, 0 homem desde cedo era dirigido para fora de casa visando ao s tento da familia e tinha liberdade de ago (Medina, 1991). ‘Com o passar dos anos a mulher sentiu necessidade de ter identide propria. Para isso comegou a sair de seu ‘santudrio” e galgar novos mos que the possibilitaram novos papéis dentro da sociedade. Adqu sua importancia, muito questionada até hoje, ¢ também a sua inde- pendéncia, nao necessitando, algumas vezes, do homem para reali- zar-se. Ocorrem modificagdes na conhecida divisdo de tarefas dentro do lar. A medida que a mulher passou a trabalhar fora, transformar-se, e ter me- ‘nos tempo para os filhos, 0 horem passou a mudar o seu espago dentro da familia, assumindo tarefas antes tipicamente femininas. A mulher tona-se mais competente no trabalho, auténoma e competitiva, ao mesmo tempo em que o homem aprende a ser mais cuidadoso e cuidador nas relagdes. O casal deixa de ser complementar para assumir uma relagao mais igualitéria (Falceto, 1996) Com a alteragao da posi¢ao da mulher, o homem necessitou adap- tarse as novas mudangas, sendo que houve relutancia em deixar de lado 0 modelo tradicional de familia em que era de “senhor absoluto” A unio nessa nova fase é uma decisao do casal, nao sendo mais um problema das familias de origem, que se tornam complements nessa relagao. Com a Lei do Divércio (Lei n.2 6515, de 26 de dezembro de 1977), ‘oportunizou que essa relagao se torne tempordiria, aceitando-se a disso- lugdio do casal, que passou a ter 0 direito de novas oportunidades de satis fagdo afetiva (Medina, 1991). No mundo todo 0 conceito de familia nuclear © a institui¢do de casamento passaram por transformagdes. A expressao mais aguda dessas mudangas ocorreu na década de 1960, com as revo- lugdes estudantis e o surgimento do movimento hippie, que mudaram os costumes, miisica, dando lugar a uma juventude “transviada’ (Falceto, 1996). ‘No Brasil, para abafar esse movimento, surgiu a ditadura que durou vinte anos. Os jovens trocaram a politica pelas drogas como um mecanis- mo de contestago. Nos paises ocidentais, comegou a crescer simulta- neamente 0 ntimero de separagdes e divércio, ocasiao em que a religiao passou a perder sua forga, nao mais conseguindo segurar os casamen- tos com relagSes insatisfatérias (Falceto, 1996), igualdade passou a ser um pressuposto em muitas relagdes matrimoniais. Os papéis sociais nao ‘sf distinguidos segundo o género da pessoa, como ocorria no passado. © homem tom de saber participar das atividades domésticas, e a mulher tem de se profissionatizar e exercer a sua contribuicao social. Ento surgem as organizacGes alternativas familiares: casamentos su- “cessivos com parceiros distintos ¢ filhos de diferentes aliangas; casais homossexuais adotando filhos legaimente; casais com filhos ou parceiros isolados, ou ainda cada um vivendo com uma das familias de or (Medina, 1991) As produgées independentes tém se tornado uma realidade cadi mais freqiiente em nossa sociedade. Muitas mulheres optam por s maes, sem a participacao de um pai, Questiona-se: sera que isso se as dificuldades de relacionamento interpessoal de nossos dias, na q individuo é narcisista, dando maxima importancia ao seu mundo, se preocupar com as necessidades de uma crianga? Desta forma, né Um pai que sirva como referéncia para o filho, diferente dos casos d paracao ou morte, em que o genitor pode ser apenas uma lembran, alguém vivo, porém distante (Prado, 1996) No Brasil, segundo 0 IBGE, o nimero de casamentos formais ver clinando, tomado 0 periodo de 1980 a 1994, no qual houve uma dimint de 38% na taxa de nupcialidade. Este indice mede a evolugo dos ¢ mentos registrados em cartério (Jablonski, 1991). Segundo Poponoe (1996), entramos na era da individualid em lugar de compromisso. obrigagées, saber ceder, o casamente nou-se uma maneira de auto-satisfagao; em vez de “até que an nos separe”, hoje casamento dura “enquanto eu esteja feliz”, nao si mais considerada uma instituigo, mas um meio de ter suas proj vantagens. ‘Atualmente, as influéncias politicas, econdmicas, sociais @ cult que atuam sobre as familias modificam os papéis e relagdes intrafamil (Prado, 1996). 5. Familia e violéncia: lados opostos de uma mes moeda? ‘Uma das principais tungdes da familia € a de apolar os seus mem cujos relacionamentos desse nticleo psicossocial sao primordiais. Q do um membro sofre estresse, os outros sentem necessidade de se modar as circunstancias modificadas. A familia deve responde mudangas internas e externas, deve ser capaz de transformar-se de neira que atendam as novas solicitag6es, sem perder o fluxo da conti dade, que proporciona o desenvolvimento e a continuldade de gerag (Minuchin, 1990). A ocorréncia de um sintoma geralmente coincide com algum acont mento na familia que ameace 0 equilfbrio da mesma, como 0 fato de membro da familia sair de casa, divorciar-se, casar-se, ficar doente morrer. A ansiedade com relagdo a essas mudangas ativa confiitos que estavam adormecidos e, ao invés de serem resolvidos, passaram a ser expressos através de um sintoma, que tanto pode ser um meio de evitar esta mudanga ameagadora, quanto um meio de se fornecer uma maneira para que ola ocorra (Papp, 1992) Exemplificando com 0 caso de uma adolescente de 16 anos, que co- mega a ter problemas escolares e ser usudria de maconha. Segundo sua mae, o pai biolégico esta preso desde quando a adolescente tinha dois anos, porém isto nunca ihe foi dito. Um ano e meio apés a prisdio do pai, sua mae casou-se novamente, tendo novos filhos com seu novo compa. nheiro. Nada era dito sobre o pai da adolescente: era como se ele nunca tivesse existido. A filha comegou a ter comportamentos desadaptados que funcionaram como uma maneira de provocar mudangas na familia. Entre essas, surgiu a necessidade de uma reunido familiar, na qual foi necessa- rio enfrentar a realidade da adolescente: seu pai é um detento. Com isso, a filha pode levantar o tema proibido ¢ forgou a familia a lidar com ele. Outro exemplo é a apari¢ao de sintomas de comportamento delin- aUencial em um adolescente de 16 anos, que comegou a roubar, mentir e vadiar quando seu genitor foi processado em decorréncia de comporta- mentos anti-sociais. Gottfredson & Hirschi (1997) compararam diretamente criangas que vivem em lares intactos com aquelas que vivem em lares desfoitos ou reconstituidos. Concluiram nesta pesquisa, intitulada “Teoria geral do cri- me", que, em quase todos os estudos, as primeiras tém menor indice de criminalidade (Poponoe, 1996). Quaiquer individuo deve desenvolver a sua capacidade de controle dos impulsos, para ndo ultrapassar as leis impostas pela sociedade ao qual ele pertence. E indispensavel que consiga adiar a gratificagéo de uma ago, sem sentir-se prejudicado, além de saber levar em conta os senti- mentos alheios, ndo transpondo o limite de uma boa convivéncia visando uma gratiticacao imediata. O criminologista James Fox prediz que havera uma onda de crimes cometidos nao por adultos, mas aqueles assim cha- mados de “os jovens e desumanos" (Poponoe, 1996). Olliver (1994) constatou existir relagao entre fungi paterna e controle dos impulsos, @ que isso tem importancia na adicgao. Em sua pesquisa, Conclui que 50% dos toxicémanos na Franga e Itdlia provém de familias monoparentais. Varias pesquisas foram efetuadas, entre elas a dos economistas da Universidade da Califémia / E.U.A., (Phillips; Comanor, 1976), composta de uma amostra de mais de 15 mil adolescentes. Para esses pesquisad ha uma relagdo estatistica entre auséncia do pai e dolingiiéncia juver risco de atividade criminal na adolescéncia se duplica para homens cris sem figura paterna, sendo que mulheres criadas sem mae é quase nu que confirma a fungao de controlador do genitor (West; Konner, 1976) ‘Sampson & Laub (1993) chegaram a conclusao de que supervisa suficiente dos pais, filhos com genitores ameagadores, ou que os con com disciplina muito austera, pais errantes, ou com envolvimento € cional em desequilibrio, estao diretamente relacionadas com a deling! cia, O Conselho de Pesquisa e Controle de Comportamento Viol Nacional, E.U.A., (Albert; Reiss, 1993) resumiy numerosos estudos que experiéncias na vida familiar influenciaram a vida adulta. Conclu que 0s ctiminosos em suas vidas sofreram abusos fisicos, punig6« maus-tratos, tiveram pais ausentes que nao fizeram adequada suporv seja de tarefas escolares ou atitudes diarias, pais alcodlatras ou pais minosos, pais com dificuldades de relacao, que culminaram em sep 80 do casal e conseatientemente dos filhos de um de sou gor (Poponoe, 1996) Numa familia em que ocorteu o divércio dos pais, quais so os efe de um deoréscimo na renda familiar? Mc Lanahan & Sandefur (1994), suas pesquisas, concluitam que a perda desta renda tem efeitos nec vos para os adolescentes como, por exemplo, auséncia escolar e gt dez precoce. Além da auséncia da figura patemna, que no ficou co: guarda do filho, as criangas pés-divorcio t8m menos atengao damae, necessita dedicar-se mais horas ao trabalho para obter melhores co 9Ges salariais. Logo ha uma queda no acompanhamento das tarefas colares no lar e um possivel rebaixamento no rendimento escolar; O1 conseqliéncia da falta de recursos é a necessidade de mudahgas cc tantes de moradia para se adaptar As novas condigées salariais, 0+ também prejudica 0 filho de ter vinculos de amizade seja com amigos vizinhanga ou da escola que freqiientava (Chouhy, 2000). Segundo esse autor, o sucesso de uma crianga depende do ace: aos_recursos da comunidade. 1880 iretur escolas que possibilitem b rendimento escolar com metas de vida positivas, e um entrosamento a comunidade local. Tudo isso pode dar suporte a crianga em momen de dificuldades, sobretudo na adolescéncia, quando os jovens pass grande periodo do dia fora de casa, em geral na vizinhanga. As circunstancias nas quais as criangas crescem variam de uma fam para outa. Algumas viver num ambiente amoroso, com afeto, qualidade bes vida estavel F J, com pais alertas a quaisquer modificagdes que possam ser Hocivas a um desenvolvimento equilibrado; outras nao. ‘As criangas sao afetadas pelo meio em que esto inseridas, no qual podem estar nao exercendo um papel predominante, influenciando ou mantendo um contato direto, por exemplo: a perda de emprego de um dos genitores afeta a relacao deste com seu filho. A ctianga nasce numa fami fia que vive numa vizinhanga com caracteristicas préprias, que forma uma comunidade. Cada um desses subsistemas apresenta um histérico que vai influenciar no desenvolvimento pessoal, quando as partes interagem. Devemos considerar, a0 questionarmos a origem de atos de violéncia, toda uma trajetdria de vida de uma pessoa, ou seja, conhecer 0 seu desenvolvimento individual ¢ as diferentes etapas por que ela passa em seu contexto social (Elliott; Tolan, 1999), Como ja foi esorito, a familia é uma estrutura hierdrquica organizada em nivels, nos quais os elementos tem fungdes diferenciadas (provedor, educador, sexual), © algumas dessas esto, As vezes, mais diretamente ligadas a manutengao da vida do préprio sistema. A desestruturaco fami- liar 6 decorrente de diferentes motivos, entre eles 0 abandono do lar por um dos cénjuges, violéncia doméstica, incesto, morte de um dos genitores € outras mais, incluindo a crueldade patera. Como fica uma familia na qual o pai comete um crime num determina~ do momento de sua vida, e deixa todos & mercé da prépria sorte? O que corre no sistema familiar do réu, quando o crime aparece neste ambito familiar? Muda a hierarquia? Mudam as aliangas? Mudam as fronteiras? E as regras que regem o funcionamento familiar também se alteram? O trauma por que passaram deixou seqiielas que interferiram ou interrom- peram 0 desenvolvimento psicossocial? Como reagem as novas necessi- dades os membros de seu circuito? Para Poponos (1996) 0 dectinio da paternidade é o grande responsavol por muitos problemas da sociedade de hoje: crime e delinglénoia, sexua- lidade prematura, nascimentos fora do casamento, deterioragao dos re- sultados escolares, depressao, dependéncia de drogas e alienagao durante a adolescéncia, crescimento do nimero de mulheres e criangas na po- breza. Para os filhos o pai 6 um “heréi", sempre forte e protetor, pronto para ajudar e guié-los em suas vidas (Escardo,1968). Sera que ser um modelo e exemplo nao esta intrinseco na fungao paterna? Num estudio dedicado a auséncia do pai biolégico nas familias ameri- canas, Poponoe (1996) observou que 90% dos jovens atingem os 18 anos com ambos 0s pais vivos, mas 50% deles vivem afastados do pai. Segun- do ele, 0 primeiro efeito do atastamento do pai é precisamente de nat za econémica: 0s recursos financeiros do lar onde a crianga 6 criade duzem automaticamente cerca de 21% por pessoa, enquanto as despe tendem a aumentar. Do total dos pobres que existem na sociedade a ricana, 38% 80 oriangas. Ha outros dados, no trabalho de Poponoe (1996), que necessitar rellexdo: 60% dos violadores, 72% dos adolescentes assassinos, dos presos com longas penas provém de lares sem o pai presente. E 41960 ¢ 1992, o crime violento juvenil aumentou seis vezes, 0 suicidio € os adolescentes tripicou e, de 1983 a 1992, o numero de detencde jovens por homicidio subiu, 128%. Alguns autores (Loeber, Dishion, 1983: Patterson et alii, 1992) suge em suas pesquisas uma relagdo entre as fungoes familiare envolvimento em comportamento delinglencial. Mc Cord (1980) aci em pesquisas, uma relagao entre conflito parentale agressividade pare com criminosos violentos, sugerindo que a falta de amor matern criminalidade dos pais piovotasse o envolvimento em crimes violer \Vérios aspectos do funcionamento familiar como histéria de criminalic ra familia, disciplina severa, conflitos familiares, baixo nivel.de coe intrafamiliar, baixa afetividade, hostilidades esto ligadas a delinguién« comportamentos violentos (Loeber; Dishion, 1983; Loeber; Stouthal Loeber, 1987; Mc Cord, 1991; Patterson; Stouthamer-Loeber, 1: Farrington, 1986; Henggeler et alii, 1992; Tolan; Lorion, 1988). Hé estudos associando desordens fisicas relatadas come. distirbi sono, cofaléia, obesidade e dores estomacais com a exposicao: prév atos violentos (Browne; Finkelhor, 1986; Moeller et ali, 1993, Niggerm: Rimza, 1982). Criangas que observaram extrema violéncia sofreramdes ‘ma psicolégico posteriormente, segundo conclusées de Pynoos.& Eth (1¢ Dontre as caracteristicas anémalas desoritas nas diversas.etapa: desenvolvimento da personalidade de individuos violentos, tem sido r ridas a enurese notuma na infancia, o terror notumo, sonambulismo, léquio, crise de birra, etc. Na adolescéncia ressaltam o comportam« delingliente, isto 6, dificuldades nas relagées interpessoais. dificulda nos estudos, inveja, mesquinhatias, reagdes afetivo-emocionais exe radas, descontianga, idéias perseverantes; atuagao em furtos, roubos; de drogas, etc. Quando contrariados ou levados por estados emocior ‘exaltados, podem até mesmo cometer crimes hediondos. Esse que configura 0 que Miller (1974) denominou “sindrome assassina ou desumano’. Necessitando trabalhar em tempo integral e de cuidar sozinhas de to- das as tarefas domésticas, muitas mAes sentem-se intranquilas para darem com as dificuldades didrias de suas familias. Devido as atribulages diarias, a genitora tem pouca energia ou tempo para satistazer as neces- sidades dos filhos, que, por sua vez, também estao passando por uma grande perda. Certamente 0 estagio do ciclo de vida familiar, em que ocorre @ auséncia do pai, tem algo a ver com o tipo de dificuldade que a mulher provavelmente encontrara para cuidar dos filhos. Criangas pequenas apresentam uma longa lista de necessidades de cuidados; entretanto, criangas mais velhas, entrando na adolescéncia, podem ser dificeis de disciplinar. A mae precisa encontrar forga interna para lidar com a vida diaria e com as tarefas do desenvolvimento normal de seus filhos. Com 0 formato da familia irrevogavelmente alterado, a familia segue em frente em sua nova forma (Peck; Manocherian, 1995). Foram identificados quatros aspectos da influéncia familiar em relagao a comportamento violento na adolescéncia, sao eles: criminalidade dos pais, maus-tratos sofridos, inconsisténcia no comportamento dos pais no que se refere & educacao através de disciplina, de monitoramento dos comportamentos dos filhos e supervisdo desses; e as caracteristicas da familia como um sistema no qual se inclui os valores @ as crengas fami- liares que sao passadas para os seus membros como afetividade, coe- ‘so, comunicagao, organizacéio (Gorman-Smith et alii,1996; Tolan et al., 1997). Foi constatado, em varios estudos, que os pais que participaram em. atividades ilegais, envolvimento com a justiga e que tenham cometido atos criminosos tém uma grande tendéncia de ter seus filhos seguindo o mes mo padrao de comportamentos agressivos e delingiéncias (Robin et ali, 1975; Farrington 1989; Mc Cord, 1977, Osborn; West, 1979). Inclusive em alguns estudos constataram uma continuidade de comportamentos anti- sociais, 0 que sugere uma transmissao intergeracional (Farrignton, 1994; Mc Cord, 1977) - pode-se questionar se por comportamento aprendido ou por heranga genética. As relagées violentas parecem ser caracterizadas por homens de fa- miflias violentas, que tiveram pouca amizade ou respeito por suas parcel- ras, e, também por mulheres que tiveram baixo respeito e amizade, com poucos sentimentos positivos para com seus parceiros (Samios et alii, 1985). Porém afirmar que isso ocorre por aprendizagem, ruptura nos va- lores tradicionais da sociedade, crengas divididas entre pais e filhos, ou descendéncia genética ainda nao é possivel. Até hoje ha um crescente nlimero de pesquisas que sugere que 0 impacto da criminalidade dos no comportamento delingtencial se deve aos métodos utlizados na cagéio dos filhos (Capaldi; Patterson, 1991; Patterson et alii, 1992), Butterfield (1999) alertou para as criangas que visitam seus pais e: rentes na priso, como sendo uma situagao alarmante por possibilitar convivio regular com uma instituicao prisional. As visitas freqdentes i internos podem dar a idéia de que essa instituigao nao seja um lugar « deve ser evitado. O estigma negativo de uma prisdo pode ser suavizadi a ofianga passa a ver a institucionalizago como natural ou normal, dendo fazer parte de sua vida adulta, por ja estar acostumado a pas “horas de sua vida’ na prisao. Semethante ao que ocorre com crian com pais enfermos, que passam a apresentar sintomas hipocondriac A visita ao médico © ao hospital passa a Ser desejado. Como um dos programas mais eficazes na prevencao da violén varios autores afirmam ser o trabalho com a familia, especialmente c 08 genitores. Nesse tipo de prevengao 6 analisado as caracteristicas it viduais dos pais e seu comportamento em relagao aos filhos, ¢ focaliz: a relacdo intrafamiliar, que inclui coesao emocional, comunicagao c entre os membros, afetividade positiva (Alexander; Barton, 1990; Hengg et alii, 1992; Borduin et al., 1985). Goottfredson (1997) afirmou que nos E.U.A. sao gastos mais rev sos em manter e construir presidios do que em desenvolver e mar programas primarios preventivos. Isto demonstra uma maior preocu (do com uma estratégia de controle da violéncia, fiando-se em sang: legais mais severas e incapacidade dos transgressores, @ nao cor prevencao dela. Pensamos que nao se deve combater a conseqiéncia ao invés causa; 6 necesséria uma prevengao anterior & punig&o (Hasson; Mele 2000). 6. Realidade brasileira e a experiéncia em Curitiba No Brasil, Mello Jorge et alii (1997) verificaram que os homicidios 1994 so responséveis por 30% das mortes por causas externas. Os micfdios que em 1987 ocupavam o terceiro lugar entre as mortes por ¢ sas externas passaram ao primeiro lugar no inicio da década de 90, ¢ ‘aumento de 160% e tendendo ao crescimento na maioria das capitais pais. Embora os homicidios apresentem, em Curitiba, taxas inferiores de outros centros urbanos, a tendéncia é de crescimento (Mello Jorge ali, 1997). Para este autor, @ andlise dos dados de mortalidade, mostra que a evolugao dos coeficientes de mortalidade por homicidio em Curitiba entre 1994 e 1997 teve um aumento superior a 50%, Em Curitiba, capital do Parand, de 1999 a 2001, foram efetuados 289 julgamentos de crimes dolosos contra a vida (Arl.121 a 126 do Cédigo Penal, 1995). A classificacao utilizada é: homicfdio doloso simples; privile- giado e qualificado. Sao agdes penais publicas incondicionadas, compe- tindo ao uri o julgamento. Levando-se em conta os questionamentos e preocupagées acima le- vantadas, efetuou-se a modemizagao forense em Curitiba. A iniciativa foi do Dr, Joao Kopytowski ~ diretor do Tribunal do Juri de Curitiba —que, em 1996, implantou inicialmente o estudo social, @ apés lr@s anos, acrescen- tou o estudo psicologico. Desde 0 inicio, o intuito foi ampliar as informa- es jd existentes nos autos, para favorecer os magistrados, promotores, advogados e 0s jurados nos julgamentos, que poderao ter uma aprecia- Ao psicossocial do resultado de atos violentos sob a dtica social e psicolégica. ‘Apés averiguar a vida pregressa do indiciado e da vitima e levantar a repercussao do crime sob o ponto de vista psicossocial, 6 elaborado um laudo pelos técnicos. Esses profissionais nao tém o propésito de julgar 0 ato ou a circunstdncia desse; isto faz com que os entrevistados sintam-se respeitados como seres humanos que 840, ficando “mais & vontade", con- fiantes, podendo liberar seus medos, anglstias e sofrimentos. Esse estu- do contribui para uma visdo global, imparcial da situagao que com certeza 6 um facilitador num julgamento coerente ¢ justo. Além disso, quando ne- cessério é feita orientacao psicossocial aos entrevistados, sempre visan- do que estes tenham uma melhor qualidade de vida. No fluxograma (anexo) de uma Agao Penal Publica Incondicionada de Crimes Dolosos contra a Vida, em Curttiba, existe a fase do Tribunal do juri, momento em que a equipe técnica, com 0 consentimento do juiz inter- vém e conseqtientemente auxilia com 0 laudo psicossocial apresentado antes do julgamento. ‘O estudo psicossocial tem embasamento legal (anexo) no Cédigo Pe- nal: artigo 59 e 60 (Jesus, 1995); Cédigo de Processo Penal: artigo 188, inciso Ill; VI; VII; e Lei7210/84 ~ artigo 22/23 (Jesus, 1982) Esta sendo efetuada uma pesquisa, “Andlise da repercussao psicossocial do homicidio doloso na familia do autor’, trabalho para obten- ‘¢40 do titulo de Mestre pela Faculdade de Medicina da USP, por Hasson (2000). A idéia deste trabalho nasceu com a preocupagao de verificar como funciona a familia do criminoso apés 0 ato, para que se possa amenii repercussao negativa desse estressor ou mesmo trabalhar com di que Surgem no tempo e espago apds este. A partir da experiéncia do diano no trabalho que vem sendo realizado com 0 autor de crimes @ familias no Tribunal do Jiri de Curitiba, observa-se a dificuldade dos | liares om lidarem com essa nova situagao que é 0 crime. O resultado desse trabalho podera proporcionar, no futuro, a fo de grupos de apoio a familiares dos réus, quiga das vitimas, minimizar as consequéncias do trauma sofrido e evitar que a prole « no mundo do crime, favorecendo a seguranca da populagao geral (Has & Meleiro, 2000). Além de possibilitar aos profissionais da area conhe: beneticio que a Psicologia e 0 Servigo Social pode trazer no ambito c nal, especificadamente no Tribunal do Juri, estara ampliando 0 ca profissional, ‘Segundo Kapian (in Benjamim, 1981), individuos que passaram por mas tém repercussdes psicossociais significativas em suas vidas. 7 na literatura internacional como na nacional, pouco se tem comenta reapeito do estressor crime como um ato violonto que repercute psi socialmente nas familias dos violentos e violentados. 7. O que fazer como prevencao? (© que seria prevenircriminalidade? Construir presidios? Presidios vez mais eficazes? E a superlotagao? O que devemos fazer? Acre mos que é trabalhando com as criangas @ suas familias, para qu menores no se tornem os criminosos do futuro. Caso nao ha conscientizagao da necessidade de um trabalho preventivo, devemos mente construir mais detengdes, que seréo os lares futuros de no: criangas. ANEXOS Fluxograma da ago penal ptiblica incondicionad: crimes dolosos contra a vida - Curitiba (PR) INQUERITOPOLICIAL FASE JUDICIAL 1 Ministerio Insteupao Alegagoe: Proniineia Publica Improniinci ABS. Suma Desclassiti DENUNGIA |] INTERROGATORIO’ r DEFESA PREVIA INQUIRIGAO DE TESTEMUNHAS FASE DO TRIBUNAL DOJURI wiBeLo|[ oT |[CONTRA- PREPARAG FicagAo || RIEDADE PARAO D0 118£10 | |40 LIBELO. JULGAMEN ‘JULGAMENTO I EXECUGAO PENAL Embasamento legal do estudo psicossocial Cédigo Penal (Jesus, 1995): Art. 59 ~ O juiz atendendo & culpabilidade, aos antecedentes, & cc social, & personalidade do agente, aos motivos, As circunstincias @ « aqiiéncias do crime, bem como ao comportamento da vitima, estabelecen forme seja necessério e suficiente para reprovacao e prevengao do crin | ~as penas aplicdveis dentre as cominadas; ll. ~a quantidade de pena aplicdvel, dentro dos limites previstos; Wl —0 regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade IV ~a substituigdo da pena privativa da liberdade aplicada, por outra de pena, se cabivel. Art. 60 — Na fixagao de pena de multa 0 juiz deve atender, princi A situag4o econémica do réu. §12— Amulta pode ser aumentada até o triplo, seo juiz considera em virtude da situagéo do réu, 6 ineficaz, embora aplicada ao maxi Cédigo de Processo Penal (Jesus, 1982): ‘Art. 188 O réu serd perguntado sobre seu nome, naturalidad tado, idade, filiagdo, residéncia, meios de vida ou profissao ¢ lugar exerce a sua atividade e se sabe ler @ escrever, e, depois de cienti da acusagao, sera interrogado sobre: Il = se conhece a vitima as testemunhas j4 inquiridas ou por int desde quando, e se tem o que alegar contra elas. VII todos os demais fatos e pormenores, que conduzam a elucic dos antecedentes e citcunstancias da infragao. Vlll— sua vida pregressa, notadamente se fol preso ou processac ‘gumas vezes, no caso afirmativo, qual 0 juizo do processo, ¢ pena imposta e se a cumpriu. Lei 7210/84 Art. 22 ~ A assisténcia social tem por finalidade amparar o pres intemado e preparé-lo para 0 retomo a liberdade. Art. 23 ~ Incube ao servico de assistente social: VII - orientar e amparar, quando necessétio, a familia do preso, do inter eda vitima. Bibliografia ‘Awsent, J Fess, JR. of ali, Understanaing and preventing violence. Washington (C National Academy, 1998. p.108. ‘Avexawoer, J; Banton, C. Functional family therapy. In: Cane, Kastow, F.& Gace, C.A. Voices in farnly psychology. 1990. p 208-26. In: Fun, D-& Hurt, C.R. Youth viola prevention, intervention and social polcy. 1.ed. U.S.A., American Psychiatric, 19 pe. Ansa, MLA. Violénciae cidadania. In: Kupstas, M, org. Violéncla em debate. So Pat Moderna, 1997, Beruavas,J.S.; Kir. LH. Compéndio de psiquiatiacinamica, Porto Alege, Actos Médkc 1995 Bonoutn, C.| Cou, L.; Mate, B il Changed ives; the effects ofthe perry schoo! presen ‘on touths through age 19. Ypsilanti (Ml), High Scope, 1985. 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Vi A familia do paciente psiquiatrico eacriminalidade Suely Aparecida Ferreira G: 1, O poder da familia e 0 poder do profissional da sat nos tempos do império no Brasil intercAmbio entre Familia, Estado ¢ Igreja sempre se fez notar culturas civilizadas e, em nosso pais, com a colonizagao portuguesa heranga do modelo patriarcal de constituigdo familiar, vivenciou-se a treiteza deste inter-relacionamento. Até 0 século XIX, o poder de dex sobre as regras sociais transitava ora pela Igreja, ora pelos interes econémicos particulares das familias ricas, ora pelo Estado. Do periodo colonial até 0 século passado, mesmo com a constitui 4 simplificada e com caracteristicas burguesas, a familia mostrou pc politico para impor suas conveniéncias as outras instituigdes, em no pais (Samara, 1983) Apoiado em seu estudo historiografico sobre a normatizagao das n ‘ges e comportamentos intrafamiliares, ocorrida no séc. XIX, Costa (19 afirma que a familia comegoua perder forca politica a partir do séc. X\ A visdo critica deste autor é aqui aproveitada, por ela vir ao encontro proposta de discussao pretendida.

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