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WEINER, Annet raduago em Antropologia Social ¢ Ciéne ianable Possessions: the Pars ving. Berkeley: University of California Press, 1992, UMA BIOGRAFIA DO KAJRE, A MACHADINHA KRAHO! Ana Gabriela Morim de Lima ‘As misicas do krahd ndo foram inventadas, que nem as do cupe. Esse mito do hajre no € uma lenda, el histria a prova disso slo as préprismiscas do kaj. (Renato Yahé)* © machado cantor © kajre (kaj = machado; masculino na lingua Kraho) € uma iadinha de pedra polida em rico ornamentado com longos pendentes de algod! Alguns Krah6 contam que os antigos costumavam encont posta a essa indagagio, (os que narram os sucessivos “roubos ‘eque, como veremos mais a frente, se misturam com acontecimet tes da contemporaneidade Kraho. Evocam também os cantos do kijre, que foram “pegos” de seus antigos donos, seres desconhecidos, certos animais € plantas que nos tempos miticos possufam e cantavam com ele. ‘A ima ds Cosas 185 © kijre media uma série de relagSes com a alteridade, ao mesmo tempo que constitui o que hé de mais interno e unicamente Kaho. Esta presente ‘em momentos de festa e alegra, sendo usado pelos eantores para “animat” 0 ovo, motivando atividades como cagadas, trabalho na roga ¢ especialmente o amin, a“festa” ou “ritual”, expressio que significa literalmente “alegrar-se”, ‘A machadinha representa “a unido das duas metades’, dizem os Krahd, se referindo aos partidos Wacme jé (vera0) e Catim jé (inverno) que governiam a al- ida qual em sua respectiva estacao. O cantor canta junto com o kajre nos rituals que marcam a passagem da estacio chuvosa para a seca, e vice-versa ra vista no seja um énstrumento musical propriamente. dito, o Kajre jado a um conjunto de cantos especificos. Ele forma um “grupo” de objetos music: s chamados 0s “com +08” do kaj: o cuhtoj (maraca, principal instrumento percurssivo usado pelo Flguras 71, 7.2673. Merins Zino hrhotht cantando com o Kip Fotografias de Ana cantor), 0 xy (into usado pelo corredor e pelo cantor, ornamentado com. {Gabiola Morim de Lima pequenas cabacas que produzem um som de chocalho), 0 3 po (bastio de ‘madeira segurado pelo cantor, também ligado & palavra, & uma antiga arma de guerra, ornamentada com sementes, migangas ou pequenas cabagas que produzem som de chocalho), 0 patwy (buzina tocada pelos homens), o pyri jiaka (apito de madeira em forma falica tocado pelos jovens cantores), 0 crat re (pequer im diferentes versbes miticas que narram as conquistas e recon- guistas do kijre nas viagens do her6i Hartat a0 extremo do mundo. Como coloca Lévi-Strauss (1955; 1958), o mito ¢ 0 conjunto de todas as suas mil idas sobrepostas umas as outras. A diferenga uma versio auténtica ou mais verdadeira: um (0 € sempre a versio de uma versio, e nio do seu original. O mito nao pos- sui inicio, meio ou fim, comega en lugar e termina quase que & von tade do narrador. Apresento a seguir duas traducées \s de diferentes verses, buscando extrair alguns principios estru las presentes. ‘a a Harald Schultz (1950, p. 118, cabaga usada pelas jovens cantoras), 0 hahi (faixa de algod: Para os Krahd, 0 kajre tem forca prépria: ele conduz 0 cantor, ¢ contratio (Schiavini, 2006, p. 156). Ele comesa a ganhar vida ao ser pintado de urucum pelo cantor e segurado pelo cabo com o brago levantado ‘ou cotovelo dobrado, com os pendentes de algodao caindo ao longo do corpo. ‘Com esses movimentos o cantor aciona o objeto, corporificando uma série de cantos. Apenas homens cantam com o kajre (embora numa das verses do mito eles sejam ensinados a uma mulher). E embora qualquer pessoa possa ter acesso a0s cantos do kijre, ndo é qualquer um que sabe canté-los, apenas alguns poucos espe Zezinho Ikrehohit, por exemplo, cantor do kajre na aldeia Pedra Branca, cos- tuma se referir ao longo aprendizado dos cantos e histérias da machadinha como “fazer estudo com o kajre, aprender com ele”.” A versio narrada por Yavu-Boav 119) € resumida da seguinte forma pel Havia bo valente que possuia um machado de pedra, Essa tribo estava em guerra com os Krélkamekra. Numa das {ndio que usava o machado como tertivel arma de guerra foi morto O indio Krélkamekra ‘era casado; apaixonando-se por outra mulher, abandonow a primeira. as rituais considerados grandes cantores. Martins por uma flecha arremessada de um esconderi ‘Ao mudar-se para a casa de sua nova esposa, esqueceu-se do macha- do, que ficou dependurado na parede de cima do seu catre de varas. A noite machado comegou a falar: “Intxé (mae), vamos passear no pétio.” A mulher levou © machado consigo ao patio. O ensinando-lhe muitas cangGes. Um ra as horas da noite. 7 Embora a historia ca machadina sea bastani conecid, sda nao fl dada a devdastenga0 0s 1d do Um oeido male aprotundado dessasaros verbs © isso 0 ave abila novas potas pare a compreensto do ebjta, mas deponde de posquias de campo ftras, machado comegou @ cants paz estava acordado e ouviu 0 canto estranho, 186 ‘ra Gaba Maxim Lina A fn das Coisas 187 Levantou-se ¢ viu que era 0 machado que ensinava 0 canto & mulher. O irmao do primeiro dono do koieré nfo se conformava com a morte dele ¢ a perda do objeto precioso e resolveu enviar um mensageiro para saber do seu paradeiro. Chegando a aldeia o emissario foi levado A presenca do chefe, que mandou chamar o indio que matara o dono do machado, © guerrero respondeu altivo que s6 entregaria o koiré Aquele que o vencesse na corrda. O vencedor podetia maté-loe levar 0 machado. De volta a aldeia, o enviado comunica o que ouvira. Re- ‘voltados, os indios resolvem retomar o machado pela guerra. O chefe ‘manda que os indios confeccionem muitas flechas. De madrugada partem oitoindios e se escondem, Outros seguem, Deixam entrar no seu esconderio os indios com 0 machado. A luta intensa. O homem em cujo poder esté o machado foge, sendo perseguido pelo melhor corredor, que o alcanca em breve. © perseguido tropeca, metendo © pé num buraco de tatu, e cai, Logo € rodeado e morto. Tomam o koie- 1, entregando-o a0 imo do primeiro dono. (Schultz, 1950) ‘Andaram por um longo eaminho entremeado por paradas de Harti para ensinar seus cantos e mostrar 0s lugares, os bichos e as plantas ‘que conhecia. {J O caminho de ida também reservou muitos perigos. Arvores que expelem fogo e que matam, pantanos alagadicos, fortes ventanias € ‘enormesjacarés. Mas o wayaci, se tansformando em animal, conse- guia ver o modo de superi-ose foi seguindo Hartt e seus mentuajé, Hartt ento disse que jéestavam chegando a0 Khoikwakhrat,o pé do cu, Andaram ¢ arrancharam num lugar. De cade, jaroba cantou sua cantiga. Os mentuajé acharam qu era gente e comecaram a comentar tum com outro, Hartt Ihes advert: "Calma a. Silencio! Agora nés entramos na terra em que todos os bichose até os pas cantam. Nio€ snot no. £0 jatoba que est a cantando.” Alguns ainda comentavam baixinho e Hart Ines advert novamente: “Silencio! Quando bicho ou pau canta assim, vocés nfo respondam; fica s6 ouvindo dieito pra saber cantar quando a gente volta. Vocts tém que escutar 0 que bicho té cantando.” Escutaram, pegaram a cantiga do jatobe foram Jia versio narrada por Craté e registrada por Jilio César Borges e Fer- nando de Niemeyer em 2010 difere da de Yavu-Boaventura, trazendo outros elementos para a reflexio.' A seguir a versio trabalhada pelos autores € reeditada por mim, de maneira a destacar as passagens que nos interessam [..] Hartét: “Agora nés vamos lé pra ponta onde tem o kajre ~ 0 ma- neste ensaio: chado-cantor. Arrancharam perto de onde ficava o kajte. Anolteceu. caminhando, [Da mesma forma procederam com mambira, uma arara-preta e outros animais. Hartat vivia distante em sua aldeia. Naquele tempo, os meni mais no- vos jam pra cagada mas voltavam sem nada. Nao chegavam com car- ne. Onde Hartit vivia tinha carne. [..] Um dos rapazes que havia safdo para uma cacada no mato se des- garrou dos mentuajé (Jovens cacadores que ja passaram pelos prin- Cipais rituais de iniciago masculina] e 1é pelas tantas, longe, ouviu ‘uma cantiga de Harti... 20 longe. Ele pensou: “ser que ¢ verdade?” Mas nao fez nada, ouviu tudo de longe; ele escutava, mas no respon- dia. Dizem que ele era wayacé. Um dia resolveu procurar aquele cantava, depois de tanto sua aldeia acusé-lo de feitigaria e de mentiro- u com ele. Hartit escutou e depois lou: “o wayacé quer saber dos lugares que ‘eu canto, que eu conhego”. Logo, um grande grupo de mentuajé se prontificou a ir Safram a caminhar pelo Cerrado rumo ao pé do céu. ‘sta verso fl narada por Crtb da aldela Sora Grande durante a Vil Fla Kaho do Someries ‘Traonas, om satemtro do 2010 (Nemeye, 201; Borges: Nemoyer, 2012). 188 ‘a Gabriela Morin Lia Kajre comecou a cantar e cantou até de manba. Cantava cantiga muito bonita. “Agora vocés vio ficar. Vou ld saber do dono do Kajre. Se ele me der um a gente leva; se no arrumar, também nio tem problema. Vocts escutaram. Kajre € muito respeitado. Ele canta desse jeito.” O ppovo ficou esperando, Ele chegou lie o dono do kajre estava em pé Dizem os antigos que entio kajee falou: “Por onde vocé andou sumi- do? Mas vocé sempre lembrou de mim, e entlo cé voce chegou. Aqui eu te esperava.” E Hartit: “eu cheguel aqui, onde esta voce, que ¢ pra ‘vocé me arrumar um Kajre”. © dono do Kajre ficou a pensar e depois falou: “posso te arrumar, mas nfo vou te dar agora no; s6 amanha de manba que vou te dar, ainda vou cantar até de mana. Mas quando voce voltar pra sua aldeia, o kajre no pode ficar s6 guardado, depen- durado”. Af, anoiteceu e ele comegou a cantar de novo. Ai, ele fo. “Té bom. Voce quer, entéo vou te dar um.” Jogou um bem no peito dele eele pegou. “Olha, 0 seguinte: quem for usar, seja uma mulher, nfo pode por a mio em gordura, no pode por a mao em mel, nem lem semeagao ou caga ~ nfo pode ter a mio breada. Tem que ser uma pessoa da mao asseada e que nao seja ciumenta. Tem que saber ouvir, A ima das Coisas 189 nko poe maldoet nem beg Gus Manteo” Hartt oui, voltou e mostrou o machado para os mentuajé, que se admiraram: "6 bonito, muito bonito” Pegaram os cantos do kajre e af, viajaram, viajaram, viajaram € anoiteceu, t Viajaram e, apés muita privacdo no caminho de volta, chegaram & aldeia com o kajre e seus cantos. (Borges; Niemeyer, 2012) Enquanto a prime verso mostra a machadinha como dis § 12 como disputa de guet ra entre aldeias inimigas (uma corrida de toras com a machadinha), a kaj, cujo guardio era Xaj, o pica-pau (S as versies 0 kijre € mais do que um simples objet de sujeto, como nos mostra claramence a segunda versio de Crate: 1nés vamos la pra ponta perto de onde ficava o kajre. A de manhi. Cantava cantiga muito Sio esses cantos que sio apropriados através do kajre, e neles sidir a importancia central da posse sobre a machadinha: aprender os cantos para animar 0 povo, fazer a festa. Por isso, como dizem os Krahd, ele na como dizem os Krahé, ele nao pode fear apenas guardado ou pendarado no tlhado, deve estar sempre em rnov ‘mento, nunca parado. Enquanto a primeira versio ressalta que & o kijre, ele ‘mesmo, quem ensina os cantos, na segunda quem o faz é 0 seu dono. . A nosto do objeto como “pessoa” e, mais do que isso, como “agente ritual”, cam| nas prescric6es cerimoniais seguidas pelo cantor scree maha, Anes comefara cama car pt je coe uurucum, da mesma forma que sua parente pintou seu préprio corpo, que tganha cor avermelhadae vibrante,signo de beleza para os Krah. Para cantar com 0 kajre, conta o mito, o cantor nao pode pegar em gordura, em mel, em semeacio ou caga, deve ser asseado e no pode ser ciumento, deve saber ouvis doxmirpouco eno poe gat Essa ages desc no mito ree panniers de resguardo que uma pessoa deve seguir no caso de dos pela troca de fluidos, substancias, izer que 0 cantor € a machadinha vio se “aparentando”, pela continuidade criada entre seus corpos e vozes. Na mime versio de 190 ‘a Gabrida Moin de Lina possui perspectiva ide tem 0 kajre ~ © machado-cantor, Arrancharam eu. Kajre comecou a cantar e cantou até 1-Boaventura, o machado trata a mulher que o possui como *m: ‘0 machado comegou a falar: “Intxé (mnie), vamos passear no patio.” A 1 levou 0 machado consige ao patio. © machado comegou a cantar, inando-Ihe muitas cang6es.” ‘A partir da leitura dessas vers6es, ¢ possivel destacar alguns principios is presentes na mitologia Jé de maneira mais ampla, que nos informam as concepcées Krahd acerca da “propriedade” dos bens materiais ¢ criais, suas nog6es proprias de “invencio, “produsio” e “circulagéo” do yecimento. Em primeiro lugat, a experi ygem, a ideia do destocamento por thos na maioria das vezes tortuosos. Cabe lembrar que 0 processo de . Antigamente eles eram povos semind- des, que organizavam longas expedigdes de caga e coleta, viviam tempos ‘andancas dentro do mato. As viagens as cidades também constituem (0 primeiros contatos a maneira através da qual os Kraho tém acesso ‘mercadorias dos brancos. Grande parte da mitologia krah6 (e amazénica forma geral) conta sobre a origem de certos bens, priticas e saberes, res- itando que a apropriacio ¢ resultado desses deslocamentos por espacos- onde motam outros povos, humanos e no humanos. & percorter esses caminhos desconhecidos que levam para pelo meio da floresta, adentrando outros universos como 0 indo das guas, do céu, de povos cia da igos e dos brancos. 1s sfo passiveis de sofrer uma série de trans- maces e metamorfoses, tio desejadas quanto perigosas, o que também ‘estd diretamente ligado as formas xaménicas de conhecer, validar e circular lento: o ver ¢ 0 escutar (cf. Borges; Niemeyer, 2012). A figura do Yemissirio” ou “mensageiro”, que diziam os Krah6 antigos ser um wayahé & quase uma constante nos mitos que falam sobre o “roubo original’ jou sua expedigao a pedido de um wayaké; assim como ‘ocorre no mito de origem da Festa da Batata, em que um mensageiro € man- dado até a roca e vé todas as plantas virando gente ¢ fazendo a Festa da ‘ou ainda Tyrkre, que subiu aos céus ¢ pegou os conhecimentos xa- ‘minicos junto ao Grande Gavido e seus companheiros Urubus, entre muitos ‘outros exemplos. Os wajaké tém 0 poder de se comunicar com os espiritos das plantas e animais em sua forma “humana’, rompendo as barreiras cor- porais através de suas capacidades transformativas. Eles elaboram um saber bre esse outro, se apropriando das suas forcas criativas, transformando ;neamente 0 outro € a si mesmos (Viveiros de Castro, 2002 [1996)) Durante as viagens os suj o conhe sim ‘fla das Coisas 191 de “artefatual” se estende A constructo da “pessoa”, assim como esta inimiga, mas porque os Krah6 “pegaram” 0 objeto ¢ seu conjunto de cant: agencialidades no humanas ~ 0 machado-cantor, pssaros, ‘objetos s40, sobretudo, materializagées de um conhecimento “encorporado”, 10.0 corpo um modelo da relacio com o outro. Parece ser 0 que 08 Krah am quando se referem ao kajre como a machadinha que canta, sendo ele 1 uma extensiio corporal das pessoas que “com” ¢ “através” dele entoam ‘08 cantos adquiridos em lugares e tempos longinquos (Coelho de Souza, 2002; Gell, 1998; Lagrou, 1998, 2007; Viveiros de Castro, 2002 [1992)). , €88a apropriacao exte sue) mais internamente estas sociedades - ol re.~ € um tema central da mitologia Ti aqui o modo Krahé de compreender a nogio de “p ducio” do conhecimento: apropriagées e reapropriay ‘A perda do kajre para o Museu Paulista: mito ¢ historia Um fato ocorrido na década de 1940 veio a provocar uma tor¢o na bio- mentos “miticos" no am- ela foi levada da aldeia Pedra Branca para o Museu ygo Harald Schultz, ¢ 1d permaneceu até 1986, quando do mito, uma demonstragio de que mito e his ‘mologia indigena. Nao se trata de dois tempos sronicos que, se nfo tém fim ~ como nao tém comego jem-se ao cotidiano: vive-se constantemente uma orienta- , ele o faz circular, permitindo sua potencial ndensa apakin, “pegar” ou “furtar”, nhecimer ‘outrem. A categoria qu levado, comprado, trocado ou doado rente recuperado, variam de acordo com os te hist6rica e etnogrifica a respeito do caso a dissertagdo de Jorge Henrique TeotOnio de Lima Melo intitulada Kajre: a vida social de uma machadinha Kraho (2010). ‘A exemplo do narrado por Jorge Henrique Melo (2010, p. 92, 93), Do- ‘mingos Crate também informou-me que 0 machado teria sido trocado por ‘um rifle calibre 22 com 0 “doutor Haroldo”, maneira pela qual os indios da Pedra Branca se refetem a Harald Schultz. De acordo com o site da Funda- fo Museu do Homem Americano (Fumdham),' foi no ano de 1945 que ‘manas), quando virtualmente estard presente alguém que iré escuti-las e que, se atento, capaz de bem escutar, poderd “pegé-las” para si, garantindo sua cir culagéo. O conhecimento 6 fundamentado pela experiéncia di saberes (Carneiro da Cu is no aprendizad * Diponivel om: wwe fume og br. 192 ‘a Gabi Mende Lira ‘Ama das Cosas 193 Schultz teria comprado “um belo machado de pedra, em forma de an jel pela organizagio das colegbes etnogréficas, trabalhando diretamente com uma espécie de alca feita de fios trangados* de um adolescente em ‘Schultz para a aquisigho das pegas para o acervo. Schultz realizou cinco momento em que a tribo passava fome, E segundo Melatti (comuni ss aldeias Krahé (1947, 1949, 1955, 1959 1965), e em todas elas ‘0s Krahé Ihe disseram que quem teria trocado a machadinha ‘objetos para integrar 0 acervo do Museu Paulista, e foi em sua pri- Canela de nome Yavu-Boaventura (0 mesmo que aparece como narti vviagem que Schultz levou a mach para o Museu Paulista, como do mito do kajre registrado por Schultz e apresentado anteriormente). de uma colecio de 243 artefatos (Melo, 2010, p. 56-57). "A machadinha fazia parte de uma colegio heterogénea, que projetava histéria indigena nacional fundamentada na classificagao e exposi¢ao da sa material. De acordo com Melo (2010), 0 kajre recebeu a descrigéo de ‘Todas as verses seriam justificadas pelo fato de que em situagSes “ni mais” os Krahd nao a teriam entregue, ndo cabendo aqui buscar a mais “ dadeira” (tal como um mito). Ao tragar 0 ocorrido nfo estamos acessan as dispuras de opinido ha virou emblema da VI Reunido fo Brasileira de Antropologia (ABA), sendo reconhecida como ional” pelo entio presidente da associagao Herbert Baldus, que justifica colha pelo fato de o machado pertencer a um grupo Jé que seria o tinico comunicagao pessoal). 108 mais adiante o processo 8 um répido panors do Ypiranga, foi inaugurado em 7 de see Natural, dedicando-se & pesqui ido a ideia original de construir um * Foi com a entrada do diretor Her= ay possufa um projeto de cariter mai eo e fortal ia ocorreu uma série de transferéncias do acervo para , sendo que a tltima delas foi em 1989 para o Museu ogia da USP. Atualmente o museu possui um acervo Figura 74, Broche VI Reunio da ABA. Fotografia coca por Julo Cesar Meat De acordo com Gonealves (1995), no final do século XIX os museus eram_ 4a espacos do “conhecimento antropol6gico”, e a formacao da ligada a esses locais, Sendo raro o trabalho de campo, 08 ‘antropélogos analisavam os objetos € os relatos de viajantes e mi que eram guardados nos museus. Os objetos ilustravam teorias evoluc tas e difusionistas, que percebiam a cultura como um aglomerado de objetos ede tracos culturais, Esse periodo, chamado de “era dos museus” por Stute- yard (Stocking, 1985, apud Schwarcz, 2005, p. 124), termina nas décadas de passa a esfera das universidades, ocorrendo 1e objetos, iconografia e documentacio tex. é meados do XX, colaboradores para a composico do acervo etnogratico justamente o antropélogo Harald Sch pela coleta ‘des que somavam 7.057 artefatos. S jou Etnologia na Escola de Sociologia e Politica de So Paulo, foi discfpulo do Marechal Rondon e de Curt Nimuendajd. Em sua formagio na Escola de Sociologia e Politica foi orientado por Herbert Baldus, que assumiu em 1946 ‘a coordenagio do setor de Etnologia do Museu Paulista, tornando-se respon- responsavel Musou Pautea, pone am: wrap ap 194 ‘na Gata Morin de Ua pratica de colecionamento continuava presente para os antrop6logos de. ¢ desejo de, imbuido da saudade pelos parentes vivos, lev Of po como Schultz, ¢ os objetos continuavam ilustrando as teorias ante A aldeia dos mortos.B, quando “vives”, esses objets tem a prerrogativa gicas, mesmo que estas se transformassem ao longo da historia da discip! lar: eles so oferecidos como dadivas nos rituals ¢ passam mia No contexto de Harald Schultz e seus contempordneos, a atividade casas, ae ser novamentetrocados. Porta, podemos sugerir que ¢ com as nodes de “movi- antropélogo pode ser entendida como um “colecionamento de culturas". de “colecionamento” do museu contrasta Ov uusos e representagbes sua reflexdo sobre a pritca do colecionamento, Clifford (1994) afirma que! ie julocamento” e “eral ineentes 08 construgio da identidade passa necessariamente pelo ato de colecionas, m Me saat imatriais ob aia inigena. para a sociedade ocidental esse colecionamento estaria relacionado au a a pareve pro Museu Pula, Ke ces acumulagéo sem precedentes. Existe na nossa sociedade uma concep rotolégico de estar em movimento, vsjando pelos extremes do mun- Tirculando entre povos diferentes, humans e nfo humanos, Mesmo que Merah aigam que em condigdes “norms” ele nfo teria sido troctdo, a “iy mite reifiam a machadinha como objeto passivel de exter proteger esse passado da destrulgfo pelo esquecimento, o que ju Diagapeenere acervo exorbicante de objetos e documentos da meméria feaaies on . com 0 no uch ndo feo inert, S60 1040 eae ve augencia na aeiae de estadia no museu fez que ela incorporasse we cacon, novas vss, prtias econcepgBes, Fla passou a serum si: calves o mas representative emblematico, da “etre” Krah®, come nos adiante na viagem de volta do kajee para aa ‘8. Durante o tempo em que ficou guardada Roy Wagner (2010) define os museus como instituiges cultiirais onde s@ reserva e protege a cultura, no sentido antropolégico do termo e referente ao universalismo do fendmeno humano, ao mesmo tempo promovendo a Cultura, instrugéo e refinamento do “espitito humano” tio valorizados em: nossa sociedade. Os museus articulam diferentes sentidos do termo (discus- so a qual retornaremos na conclusio deste artigo): eles metaforizam, isto 6, reinventam a cultura dos outros em tetmos de “cultura” (com aspas) a fim de promover Cultura O resgate do kajre ‘A austncia da machadinha era cantada nas aldelas, ela nunca foi esfus- ida, dizem os Krahd. Mesmo estando no museu, seus cantos ni foram perdidos econtinuavam a ser entoados, em tons de lembranche saudade. Foi Fesim que, em 1985, um antropdlogo de Sio Paulo em trabalho de campo 1 *aldeia Pedra Branca ficou impressionado com a beleza de um canto que = fretho entoava no pétio, noite, relata Fernando Schiavini (2006). Ao sabet CObservamos que, a0 ser levado para integrar 0 acervo do Museu Paulis- ta, 0 kaj passa por um processo de ressignificagdo, na medida em que 6 percebido num outro contexto. De “machado-cantor”, “objeto-pessoa” que incorpora uma série de conhecimentos e praticas rituais especializadas e que temente atualizadas de forma a manter-se vivas (¢o sig- nificado de “vida” para os Krah6 esta intimamente ligado a ideia de “estar ‘em movimento”), 0 kajre passa a ser classificado no espaco do museu como “artefato etnogratico”, representativo de uma cultura particular, e que deve ser devidamente guardado, preservado da a¢io degradante do tempo para aang pager erian ei ee a © kajre tinha sido reencontrado, era eee ene ido da comemorasio do Dia do Indio, um ga em So Paulo. O que seria oficial- do Dia do indio na Universidade de uma expedigéo para Jé falamos na secgdo anterior que os objetos musicais Krahd nao podem ficar parados, guardados, apenas pendurados no telhado: eles devem sair para o patio, cantar, ser usados, reinventados. Além disso, certos objetos de vem nascer e morrer com as pessoas ~ ao ser enterrado 0 morto leva cons alguns dos seus bens pessoais, pois esses objetos presentificam sua intencio- [Em 19 de abril de 1986, na ocasi grupo entre nove e 11 indios Krah6 che mente uma viagem pelas comemoragdes ‘Sao Paulo (USP) torna-se simbolo da luta politica indigena (¢ indigenista) 196 na Gala Maen de Lia ‘A Aa das Cosas 7 eee sta machadinha, ela pelo reconhecimento de sua culturas © movimento de resgate do kijre, i se ese ie ear orn crime oleate 7 io pode lear wancada mu fs , para além da “machadinha que canta”, torniese a “machadinha Krah ido pode SIRENS. seater proces que 2 mnhor é um velho, como eu, porque nio ‘cumpre sua palavra? (Schiavini, 2006, p. 158) io e a reapropriacéo da ma- saram-se dois meses entre a reivindica¢io e a reapropriag# “ oe tho de 1986, “um verdadeiro processo kafkaniano”, genista Fernando Schiavini, Comecemos aqui por destacar 0 contexto politico no qual a posse kajre € reivindicada pelos Krahd: 0 momento de abertura politica depois tum longo periodo de ditadura militar, caracterizado por fortes mobiliza¢ as, tanto por parte de brancos quanto de indios. A Constituigao 1988 estava em andamento € reconhecia a diversidade cultural, possi tando ainda mais a articulagao de movimentos pi indicatérios. Krahé costumam chamar esse perfodo de “rekrahériza¢io”, 0 que vai ao ef contro do processo de emergéncia da afirmagio étnica nos anos 1980 entre URE. aeancrve virios povos que até entio negavam a sua identidade indigena. Percebe-se sarmar uma visko of também nos anos de 1980 uma reaproximasio da Antropologia com os mus bteve a posse do artefatoe através da qual o devo ‘seus em fungio da onda reflexiva pela qual passa a disci assam a ser vistos como espaco de conflito e disputa de repi grupos socials (Goncalves, 1995) A expedigdo ao Museu Pa le meses e contou com a ajuda do antropélogo Sergio Domingues e do técnico Paulo Cezar, responsiveis por fornecerem ao Krahé as informagées precisas do paradeiro exato da machadinha. Ela era comandada pelos lide- res Pedro Pend e Aleixo Po'hi, representantes de facces que historicamente Pertenciam a povos distintos, respectivamente os Kenpokateye e Makraré, atualmente reunidos como “Krahé", Em sua chegada o grupo era aguardado Pela equipe de jornalismo da Rede Globo de Televisto, que, a0 fazer a cober- tura do caso, permitiu que ele extrapolasse os limites da aldeia, do Museu € da Universidade, caindo nas gracas da grande midia e da opiniao piiblica (Schiavini, 2006; Melo, 2010), Acompanhados pelos jornalistas, 0 grupo encontrou-se com O: ‘Marques de Paiva, diretor do Museu Paulista, que pediu um prazo de alg dias para verificar a procedéncia da peca. No segundo encont jf estava presente o reitor da USP na época, comitiva kr: lade de devol ‘era tombado como “patriménio da humanidade” (Melo, 2010, p. 88). Segun- do Schiavini, a reagio de Pedro Pend foi veemente: jum dos personagens um indi ++ um objeto sagrado, uma machadinha ds Dur a ; niversidade e a mac jo de 1986 na Folha de S.Puuloinsitulado A Universidade ¢ a ma : rn dase cloca atv da develo do objeto aoe Krahd, razendo, po ae lucidativos a respeito da posicio da Uni- dos indios com 0 da idade. Os pri aoa SE dicacio da propriedade, estarian ei de ad ferramenta de afirmacio étnica e, nesse sentido, a expedi¢ao de ma a € ela mesmo central, transcendendo © espectro: material. Ja a Uni ‘sociedade indigena, testemunho de um passado que é parte da histor mento almejado pela Universidade s6 pode atingir seu objetivo a reint ; ‘bes culturais de determinada 28 199 198 ‘a Gata Nore Lia | Ama da Cos 0 retorno do hajre (Os embates em torno da machadinha no se encerram por aqui. Ao tratar ‘Kraho como uma unidade sociopolitica, obscurece-se o extremo facciona- interno que caracteriza 08 povos Timbira. Como jé mostrou Azanha lo reivindicar a machadinha marcava uma sé fino que deveria ser dado a ela, uma vez reemposs: revivendo uma tenséo Durante a viagem de ‘municagées pessoais) con pando imate ‘de auxilio financeiro para realizar um evento entre lenominado “entronizagio” do machi Se i ee achado. Esse term € usado pel inguagem bfblica, 0 coragdo ocupa um Iu Sa ‘ um lugar tornou-se uma espéc Se sid marie iyanm argue una dec 3s 0s Krahd se referem a kaj como 0 * ‘meh’, uma forma de traduzir a central ‘conacto il tamente seu cone: luzir a centralidade do lig ‘sua capacid: le ygar com eles ~ 0 que também é ‘ : Po'h. Apés a morte de Pené em 2002, su filo Martinho Pend assumiu im, mais uma vez ressi a wc tn mn ce at a tee a eu local. ~ Tendo sido um dos principais interlocutores de Jorge Henrique Melo, este ie considera a visio de Martinho Pend central para a compreender 0 redimen- ss tasceaahi lta Wa ot natao tat Sionamento contemporineo do machado na aldeia Pedra Branca, que, se- eae \sdo da identidade refletiria uma “museificagao do objeto” por Martinho Pend: precaugBes ao incorp uma constante nos discus nquista do kajre, & preciso re ae Ges € reinvengSes daquilo sobre as ap definigbes, daquilo que se entende por cultura, em suas difer. ante reconhecido {..] a posse do kajre pelo Museu Paulista implica, na visio de Mart- tho Peno, o reconhecimento de um valor do objeto que o leva aincor- porar ao seu discurso, colocado para mim, pesquisador, anecessidade dda construcio do museu para abrigar ¢ exibir a machadinha. (Melo, 2010, p. 94). ‘Sem querer inferir se o objeto foi levado ao museu em funcio de sua sa- ‘ralidade, ou se tornou sagrado justamente por ter permanecido tanto tempo no museu (provavelmente as duas coisas), 0 que nos interessa é chamar Mas tenhamos Pressio “nossa hoje. Junto com a loxos é uma tarefa para o antropé © antropélogo, que deve tomar cui- dado com os equivocos presentes na tradugao dos termos e suas etaien 200 ‘na Gatia Monn Lina a oa nina os Cosas tendo para a ressignificagio do kijre parte viagem " a partie da luseu E reproduzindo a fala de Martinho Pen6 ao antropdlogo: 7 ‘To querendo ver se sai algu aves ai algum recursinho pra fazer u do fazer aqui me: cen rs a aig gum alo ue ve” (ra Bree, fevereiro de 2009). (Melo, 2010, p. 94) ae a Figura 7.5. Coa kare. Algumas liderangas e liderangas da Pedra Branca buscam parcerias para 0 projeto Fotgrte: Ara Gabiola Mos de Lima ‘museu. Os povos indigenas de maneira geral vém adotando nova abe ressaltar que a ideia do museu se confunde com o projeto pessoal fica da familia Pend na aldeia Pedra Branca (Melo, e com a construgio biogréf 2010, p. 95). Em meu trabalho de campo percebi que em ourrat aldeias e» re cents inatisfagao com esse destino da machadinka,acusagbes de que Mar tiano Pené, em seu cuidado “excessivo” com a machalinha ¢ temendo die amente, nao a deixa circular. As dnicas vezes em que presencie! Atualmente existe um é jalmente existe um prédio de concreto com um grande pa aj fora da Pedra Branca foram em feiras ¢festas tea: ao lado da casa de Martinho Pend, que é a sede “4 le patio no meio, lizad: cespago da associagao Kapéy, que nao € um ‘Ideia, mas um lugat uur es que salen al bee lacks | izadas no es associagao Kapéy, que no 6 uma aldeia, mas um lugar que também se chama Kajre. Ela se confunde com 0 patio ea di encontro entre as akeias que participam da assoiago. Essa contradic ie ‘ percebida no proprio discurso de Marti 4 casa da pensio, locais de reunides publicas ¢ festas. Alguns afirmam que reunides publicas esse seria o lugar ue nem sempre é possivel, como ocorré auenen ae ymo ocorreu nas disputas em torno do destino se perca algum ritual com © centre guardé-la e fazé- ginal do museu, 0 que nao se conc niho Pend. Cawkre ex Cavire eps que a Escola Kj fl consruda em 2003 ai “para ajudar a associagio das 2 "Pa qui” e que antes 0 museu “Era pr na seca Kare, que eles pensaram pra ser excola de coisa de orale visica, talvez pintura..” (Melo, 2010, p. 85, 96) a movimento... [Ll fa Kajre) & da nossa cultura, mas fica af parad, sem 5) “Tem que todo mundo ver, sairpraanimar a aldeia. (Melo, 201 ‘Assim como Martinho Pen, muitos Krahé se referem a0 kajre como "nis w antes de conclu este artigo, € necesséria uma breve reflexio pre oe paradoxos contidos nas apropiagBesereinvengSes acerca do terme trans tal como observamos na viagem de volta do kare. Isso pordue ase caanpe do kaj nfo so isclads. A partir da década de 1980 ocorre urna s sor manifestagdes indigenas que reivindicam seus direitos sobre artfatos padres grificos, recursos gendticos e conhecimentos em geval suscitando uma discussdo mais ampla em torno dos direitos cul smo se entende a cultura. Ou seri sacl £ interessante tambér também 0 fato de que, com a f entre os br | com a fama que o kijre ganhou os beans Kai pts eS ora pecans ee «dos como colares ou enfei renee ol nfeites de parede, vendi 0s visitantes. ae poe em questio a maneira cor 202, ‘va Gata Morin de Lina ‘hima das Cosas eee Manuela Carneiro da Cunha tras duas nogBes de cultura inte rizados que organizam a percepgio € a agllo das pessoas e que garantem certo grau de comunicacéo em grupos sotiais" (Carneiro da Cunha, 2009, adiscurso da cultura que opera uma maneira de falar sobre si mesmo ao que seus possuidores devem demonstrar performati para o branco. Por um lado, os movimentos indi -ngas pertinentes ao conheciment sobre 0 conhecimento ci ‘como vimos, os Krah6 afirmam a0 mesmo tempo que a “nossa cu vvem do kajre, roubada de outros seres humanos e no humanos. e © kajre ndo foram inventados pelos mot, eles foram “pegos” ou “roubados” desses out Portanto, o kajre pode ser visto como um exemplo interessante dessa “re- flexibilidade cultural” a que se refere Manuela Carneiro da Cunha, como um onto de articulacio entre essas duas faces do mesmo conceito de cultura ‘Se por um lado a cultura sem aspas esta relacionada a uma série de elementos fundamentais da cosmologia Krah6, como vimos na primeira seco deste artigo, vimos também como o kajre passou a operar num novo contexto em baad ‘na Gabi Moin df Lina ceber com as duas faces esto ccontexto para areinvengio da. 3 significativas aqui, pois trata-se mesmo nivel de discurso. i Por enquanto, o kajre continua na casa de Martinh« Porque o velho meu pai trouxe esse ke de Ié nfo fern ee yuzina, pyti- a cconjroo ae 2 pve, iss wi meee eo gue ie sc danni gure vou clo P88 tea gad ere ger “uu pos nen posits Bo tempo gue op para os novos lembrarem. se um deles aprende mais do (Martinho Pend, comunicagio pessoal) complexidade, deve ser objetificada para a so- 0 kajre um ‘simbolo da “cultura” com ‘ans A interrelacionadas, uma servi i istem dis- ‘outra, em deixar de notar que existe # de contetidos que nao pertencem 10 Pend, talvez & espera de um cesto de palha manchado de urucum. jxando-o a vista cogrificos. E repete para quando voct chegar i .qui, sempre cheio de poe! que esté, assim na poeira, eu ndo estou para me ajudarem de fazer um museuzi- Jocar todos juntos. Nio é assim de ver como € qi - Pra ron nove, embed sep: [) ye carga eno dee es y eum our od Buf vou ter cloedo ee £ isso que eu estou querendo, lembrar. E dope cea com de tomade ona. ‘ima das Coisas Figura 7.6, Martins Zezinho lohohiat evando & Fotografia: Ana Gabriela Morim det Figura 7.7. Mains igura 7.7. Martins Zezinho ikrehohtat devolvendo o kare para Martino Pens {20 terminer de can 206 Fotografia: Ana Gatrila Morim de Lima ‘Ana Gabriela Movin Ln Figura 7.8. Martine Petio quardando okaje em sua case Fotografia: Ana Gabriela Morim 6 do jeto que eles quer, € do DAN, 2004, p. 130. AZANHA, Mestrado, BORGE: reflexdes sobre ret Sio Paulo, USP CARNEIRO DA CUNHA, Manuela, Cultura com aspas e outros ensaios, capi 19, Sao Paulo: Cosac Naify, 2009, p. 311-373. berto. A forma Timbira: estrutura ¢ resisténcia. 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Para ss intelectuais, os maracatus de baque virado deveriam ser a todo custo ervados, resgatados ¢ até reconstruidos, pois representavam uma espe- a de futuro reverso, de retorno a uma “natureza” propriamente brasileira. primeiro maracatu “nagao de baque virado”® que conheci foi o Estrela Comtiro, moro, ogum, ancestal Conhecida simplesments como bonera, nos maracatus nagso 38 bonecasexculpas om madera € 2s quas S80 arouldos podores magico relgiosos. Sobre © movimento felsre bras 210 Asa Gabel Mari Ura A fla das Colsas at

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