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DAVID HARVEY DEDALUS - Acorvo » FFLCH-LE Condi¢ao pos-moderna Uma Pesquisa sobre as Origens da Mudanca Cultural 4" Bdigao SBD-FFLCH-USP 102734 Parte Il A transformagao politico-econémica do capitalismo do final do século XX 0 entre 2 devadéncia do antigo @ a formacdo @ esta nto 8 O fordismo A data inicial simbélica do fordismo deve por certo ser 1914, Ford introduziu seu dia de reco indo Henry to horas e cinco d6lares como recompensa para 05 cde montagem de carros que ele estabelecera no no anterior em Dearbon, Michigan. Mas 0 modo de implantacéo geral do fordismo {foi muito mais complicado do que isso, Em muitos aspectos, as inovagbes tecnologicas e oxganizacionais de Ford eram mera extensio de tendéncias bem-estabelecidas. A forma corporativa de organiza- ha sido aperfeicoada pelas estradas de ferro 20 terco dos ativos manufatureiros americanos passaram por fus6es somente entre 0s anos de 1988 ¢ 1902}. Ford também fez pouco mais do que racionalizar velhas tecnologias e uma detalhada divisio do trabalho preexistente, embora, ao fazer 0 dor numa posigio fixa, ele tenha conseguido dramét- de. Os Princpios da Administragio Ciena, de F. iado que descrevia como a produtividade do trabatho a ser radicalmente aumentada através da decomposicio de cada processo de da de 1890, as obras de escritores da metade do século XIX como Ure e Babbage, que Marx considerara reveladoras. A separacio entre geréncia, concepgio, controle eexecugdo (e tudo 0 do processo de trabalho) também jé estava bem avancada indiistras. O que havia de especial em Ford (e que, em dltima anilise, © fordismo do taylorismo) era a sua visio, seu reconhecimento explicito de que produgio de massa significava consumo de massa, um novo sistema de reproducao da forga de trabalho, uma nova politica de controle e geréncia do trabalho, uma nova estética ¢ uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de democrat jonalizada, modernista e populista, iano Antonio Gramsci, jogado numa das prisdes de vumas duas décadas mais tarde, extraiu exatamente essa implicagio. O americanismo ¢ o fordismo, observou ele em seus Cadernioe do Circere, equivaliam ‘a0 “maior esforgo coletivo até para criar, com velocidade sem precedents, e com ‘uma consciéncia de propésito sem igual na hist6ria, um novo tipo de trabalhador uum nove tipo de homem”, Os novos métodes de trabalho “sio insepariveis de ‘um modo especifico de viver e de pensar e sentir a vida”. Questdes de sexualidade, oe © de familia, de formas de coergio moral, de consumismo e de ago do Estado estavam vinculadas, ao ver de Gramsci, ao esforgo de forjar um tipo particular de trabalhador “adequado ao novo tipo de trabalho e de processo produtivo”. Con- tudo, duas décadas depois dos movimentos iniciais de Ford, Gramsci julgava que “sua elaboracdo ainda est apenas em seu estdgio inicial, sendo, portant, (aparen- temente) idilica”. Por que, entao, levou tanto tempo para que o fordismo se tornas- se um regime de acumulagéo adulto? Ford acreditava que o novo tipo de sociedade poderia ser construfdo simples- mente com a aplicacao adequada ao poder corporativo/O propésito do dia de oito horas e cinco dolares s6 em parte era obrigar o trabalhador a adquirir a disciplina necesséria 4 operacio do sistema de linha de montagem de alta produtividade. Era também dar aos trabalhadores renda e tempo de lazer suficientes para que consu- missem os produtos produzidos em massa que as corporag6es estavam por fabri- car em quantidades cada vez maiores./Mas isso presumia que os trabalhadores soubessem como gastar seu dinheiro adequadamente, Por isso, em 1916, Ford enviou um exército de assistentes sociais aos lares dos seus trabalhadores “privilegiados” (em larga medida imigrantes) para ter certeza de que o “novo homem’ da prodi ao de massa tinha o tipo certo de probidade moral, de vida familiar e de capat dade de consumo prudente (isto é, nao alcodlico) e “racional” para corresponder as necessidades e expectativas da corporacdo. A experiéncia nado durou muito tem- po, mas a sua propria existéncia foi um sinal presciente dos profundos problemas sociais, psicolégicos e politicos que o fordismo iria trazer. Era tal a crenca de Ford no poder corporativo de regulamentagio da economia como um todo que a sua empresa aumentou os salérios no comeco da Grande Depressdo na expectativa de que isso aumentasse a demanda efetiva, recuperasse 0 mercado ¢ restaurasse a confianga da comunidade de negécios. Mas as leis co- ercitivas da competigéo se mostraram demasiado fortes mesmo para o poderoso Ford, forcando-o a demitir trabalhadores e cortar saldrios. Foi necessdrio 0 New Deal de Roosevelt para salvar o capitalismo — fazendo, através da intervencao do Estado, o que Ford tentara fazer sozinho, Ford tinha se esforcado por antecipar-se aos acontecimentos, nos anos 30, fazendo seus trabalhadores proverem a maior parte de suas préprias necessidades de subsisténcia. Eles deveriam, alegava ele, cultivar legumes nas horas vagas nos préprios jardins (uma prética seguida com grandes resultados durante a Segunda Guerra Mundial na Inglaterra). Ao insistir em que “a auto-ajuda é a tinica maneira de combater a depresséo econémica”, Ford reforcou o tipo de utopia controlada de volta a terra que caracterizou os planos de Frank Lloyd Wright para Broadacre City. Mas, mesmo nesse caso, podemos detec- tar interessantes sinais de futuras configuragées, visto qug’foi a suburbanizagio e desconcentracao da populacio e da indiistria (¢ nao a auto-ajuda), implicitas na concepgao modernista de Wright, que se tornaria o principal elemento de estimulo da demanda efetiva pelos produtos de Ford no longo periodo de expansio do pés- -guerra a partir de 1945, // © modo como o sistema fordista se estabeleceu constitui, com efeito, uma longa e complicada histéria que se estende por quase meio século. Isso dependeu de uma miriade de decis6es individuais, corporativas, institucionais e estatais, muitas delas escolhas politicas feitas ao acaso ou respostas improvisadas as tendéncias de crise do capitalismo, particularmente em sua manifestagio na Grande Depressio dos anos 30, A subseqiiente mobilizagio da época da guerra também implicou planejamento em larga escala, bem como uma completa racionalizagao do processo de trabalho, apesar da resisténcia do trabalhador 4 produgio em linha de monta- gem e dos temores capitalistas do controle centralizado. Era dificil, para capitalis- tas e trabalhadores, recusar racionalizacdes que melhorassem a eficiéncia numa 6poca de total esforco de guerra. Além disso, as confusdes entre praticas ideolégi- cas ¢ intelectuais complicavam as coisas. A direita e a esquerda desenvolveram sita propria versio de planejamento estatal racionalizado (com todos os seus atavios modernistas) como solucao para os males a que o capitalismo estava téo claramen- te exposto, em particular na situagéo dos anos 30. Foi esse tipo de histéria intelec- tual e politica confusa que fez Lénin louvar a tecnologia de producio taylorista e fordista enquanto 0s sindicatos da Europa Ocidental a recusavam; Le Corbusier aparecer como apéstolo da modernidade enquanto se aliava a regimes autoritarios (Mussolini por algum tempo e o regime de Vichy na Franca); Ebenezer Howard forjar planos ut6picos inspirados no anarquismo de Geddes e Kropotkin — apenas para serem apropriados por desenvolvimentistas capitalistas — e Robert Moses comecar 0 século como “progressista” politico (inspirado pelo socialismo utépico apresentado em Looking backwards, de Edward Bellamy) e terminar como o “corre- tor do poder” que “levou o moedor de carne” para o Bronx em nome da automobilizagéo da América (ver, por exemplo, Caro, 1974). Houve, ao que parece, dois principais impedimentos a disseminacio do fordismo nos anos entre-guerras. Para comecar, 0 estado das relagées de classe no mundo capitalista dificilmente era propicio a facil aceitacdo de um sistema de produgio que se apoiava tanto na familiarizago do trabalhador com longas horas de traba- Iho puramente rotinizado, exigindo pouco das habilidades manuais tradicionais e concedendo um controle quase inexistente ao trabalhador sobre 0 projeto, o ritmo @ a organizacao do processo produtivo. Ford usara quase exclusivamente a méo- -de-obra imigrante no seu sistema de producao, mas os imigrantes aprenderam e 05 trabalhadores americanos eram hostis. A rotatividade da forca de trabalho de Ford mostrou-se impressionantemente alta. O taylorismo também enfrentou fortes resisténcias nos anos 20, e alguns comentadores, como Richard Edwards (1979), insistem que a oposicao dos trabalhadores infligiu uma grande derrota 4 implan- tacao dessas técnicas na maioria das indiistrias, apesat do dominio capitalista dos mercados de trabalho, do fluxo continuo de mao-de-obra imigrante e da capacida- de de mobilizar exércitos de reserva da América rural (e, por vezes, negra). No resto do mundo capitalista, a organizagdo do trabalho e as tradicGes artesanais exam simplesmente muito fortes, e a imigragéo muito fraca, para permitir ao fordismo ou ao taylorismo qualquer facilidade de producao, muito embora os principios gerais da administraco cientifica fossem amplamente aceitos e aplica- dos. Nesse sentido, Administration industrielle et générale, de Henti Eayol (publicado em 1916), mostrou-se um texto muito mais influente na Europa do que o de Taylor. Com sua énfase nas estruturas organizacionais e na ordenacao hierarquica do fluxo de autoridade e de informacao, o livro deu origem a uma versao bem diferente da administracao racionalizada, em comparagao com a preocupagio taylorista de sim- plificar 0 fluxo horizontal dos processos de produgio. A tecnologia de linha de montagem para produgio de massa, implantada em muitos pontos dos Estados Unidos, tinha um desenvolvimento muito fraco na Europa antes da metade dog anos 30, A indtistria de automéveis européia, com excegio da fabrica da Fiat em Turim, permanecia em sua maior parte uma indistria artesanal de alta habilidade (embora organizada corporativamente), produzindo carros de luxo para consumi= dores de elite, sendo apenas ligeiramente influenciada pelos procedimentos de linha de montagem na produgéo em massa de modelos mais baratos antes da Segunda Guerra Mundial. Foi preciso uma enorme revolucdo das relacées de classe (uma revolugéo que comecou nos anos 30, mas s6 deu frutos nos anos 50) para acomodar a disseminacao do fordismo A Europa. A segunda barreira importante a ser enfrentada estava nos modos e mecanis- mos de intervengao estatal. Foi necessario conceber um novo modo de regulamen- tagao para atender aos requisitos da produsio fordista; ¢ foi preciso o choque da depressdo selvagem e do quase-colapso do capitalismo na década de 30 para que as sociedades capitalistas chegassem a alguma nova concepgio da forma e do uso dos poderes do Estado, A crise manifestou-se fundamentalmente como falta de demanda efetiva por produtos, sendo nesses termos que a busca de soluges come- cou. Com o beneficio da compreensdo a posteriori, € verdade, podemos ver com mais clareza todos os perigos representados pelos movimentos nacional-socialistas, Mas, a luz do fracasso evidente dos governos democraticos em fazer qualquer coisa além de parecer condescender com as dificuldades de um imenso colapso econdmico, nao é dificil ver 0 atrativo de uma solucdo politica em que os trabalha- dores fossem disciplinados em sistemas de producio novos e mais eficientes e em que a capacidade excedente fosse absorvida em parte por despesas produtivas infra-estruturas muito necessdrias para a producdo e 0 consumo (sendo a outra parte alocada para iniiteis gastos militares), Nao poucos politicos e intelectuais (cito o economista Schumpeter como exemplo) consideravam os tipos de solugées explorados no Japao, na Itélia e na Alemanha nos anos 30 (despidos do apelo & mitologia, ao militarismo e ao racismo) corretos, e apoiaram o New Deal de Roosevelt porque o viam precisamente sob essa ética. A estase democrdtica dos anos 20 (embora vinculada a classe) tinha de ser superada, muitos concordavam, por um pouco de autoritarismo e intervencionismo estatais, para os quais bem poucos precedentes (salvo a industrializagao do Japéo ou as intervencdes bonapartistas da Franca do Segundo Império) podiam ser encontrados. Desiludido com a incapaci- dade dos governos democraticos de assumir 0 que ele considerava tarefas essen- ciais de modernizacao, Le Corbusier se voltou primeiro para o sindicalismo e, mais tarde, para regimes autoritrios como as tinicas formas politicas capazes de enfren- tar a crise, O problema, tal como o via um economista como Keynes, era chegar a um conjunto de estratégias administrativas cientificas e poderes estatais que esta- bilizassem o capitalismo, ao mesmo tempo que se evitavam as evidentes repressdes e irracionalidades, toda a beligerancia e todo o nacionalismo estreito que as solu- des nacional-socialistas implicavam, E nesse contexto confuso que temos de com- preender as tentativas altamente diversificadas em diferentes nacées-Estado de chegar a arranjos politicos, institucionais e sociais que pudessem acomodar a cr6- nica incapacidade do capitalismo de regulamentar as condicées essenciais de sua propria reproducio. © problema da configuracio e uso préprios dos poderes do Estado 86 foi resolvido depois de 1945. Isso levou o fordismo 4 maturidade como regime de acumulagéo plenamente acabado e distintivo. Como tal, ele veio a formar a base de um longo periodo de expansio pés-guerra que se manteve mais ou menos intacto até 1973. Ao longo desse periodo, o capitalismo nos paises capitalistas avancados alcancou taxas fortes, mas relativamente estaveis de crescimento econd- mico (ver figura 2.1 e tabela 2.1). Os padres de vida se elevaram (figura 2.2), as tendéncias de crise foram contidas, a democracia de massa, preservada e a ameaca de guerras intercapitalistas, tornada remota, O fordismo se aliou firmemente 20 keynesianismo, e 0 capitalismo se dedicou a um surto de expans6es internacionalistas de alcance mundial que atraiu para a sua rede inéimeras nagées descolonizadas. A maneira como esse sistema veio a existir 6 uma histéria dramatica que merece ao menos um ligeiro escrutinio caso desejemos compreender melhor as transigbes que ocorreram a partir de 1973. O perfodo pés-guerra viu a ascensio de uma série de indiistrias baseadas em tecnologias amadurecidas no perfodo entre-guerras ¢ levadas a novos extremos de racionalizagdo na Segunda Guerra Mundial. Os carros, a construgao de navios e de equipamentos de transporte, 0 ago, 03 produtos petroquimicos, a borracha, os ele- trodomésticos e a construgao se tornaram os propulsores do crescimento econdmi- co, concentrando-se numa série de regides de grande produgao da economia mundial — 0 Meio Oeste dos Estados Unidos, a regio do Rur-Reno, as Terras Médias do Oeste da Gra-Bretanha, a regido de produgio de Téquio-locoama, As forcas de trabalho privilegiadas dessas regides formavam uma coluna de uma demanda efetiva em répida expansio. A outra coluna estava na reconstrugio patrocinada pelo Es- tado de cconomias devastadas pela guerra, na suburbanizacao ( particularmente nos Estados Unidos), na renovacao urbana, na expansao geografica dos sistemas de transporte e comunicagdes e no desenvolvimento infra-estrutural dentro ¢ fora do mundo capitalista avancado. Coordenadas por centros financeiros interligados, tendo como pice da hierarquia os Estados Unidos e Nova Iorque, essas tegides-chave da economia mundial absorviam grandes quantidades de matérias-primas do resto do mundo nao-comunista e buscavam dominar um mercado mundial de massa cres- centemente homogéneo com seus produtos. Mas o crescimento fenomenal da expansio de pés-guerra dependeu de uma série de compromissos e reposicionamentos por parte dos principais atores dos processos de desenvolvimento capitalista. © Estado teve de assumir novos (keynesianos) papéis e construir novos poderes institucionais; 0 capital corporativo teve de ajustar as velas em certos aspectos para seguir com mais suavidade a trilha da lucratividade segura; e 0 trabalho organizado teve de assumix novos papéis e fung6es relativos ao desempenho nos mercados de trabalho e nos processos de producéo, O equilfbrio de poder, tenso mas mesmo assim firme, que prevalecia entre o trabalho organizado, o grande capital corporativo e a nacio-Estado, e que formou a base de poder da expansao de pés-guerra, nao foi alcangado por acaso — resultou de anos de luta. ‘A derrota dos movimentos operérios radicais que ressurgiram no periodo pés- -guerra imediato, por exemplo, preparou o terreno politico para os tipos de con- trole do trabalho e de compromisso que possibilitaram 0 fordismo. Armstrong, Estados Unidos 1960-8" | 1968-73 1973-9 1979-85 Figura 2.1 Taxas anuais de erescimento econdmico em paises capitalisias avancados selecionados e da OCDE como ur, todo Segundo periodos de tempo selecionados, 1960-1985, (Fonte: OCDE) Glyn ¢ Harrison (1984, capitulo 4) oferecem detalhada andlise de como se preparou C,diaque ds formas tradicionais (orientadas para os Oficios) e radicais de organiza- So do trabalho tanto nos territérios ocupatios de Japao, da Alemanha Ocidental ¢ da Itélia como nos tertit6rios supostamente “livecst da Gra-Bretanha, da Franca @ dos Pafses Baixos, Nos Estados Unidos, onde a Lei Wagner de 1933 tinha dado aos sindicatos poder no mercado (com o reconhecimento explicito de que os direi- tos de negociagio coletiva eram essenciais para a resolugio do problema da de- manda efetiva) em troca do sacrificio no campo da producio, os sindicatos viram- se sob um ataque virulento nos anos de pés-guerra por uma prentensa infiltragao 360 350 340 330 320 310 300 290 280 270 260 250 240 230 220 Ganhos médios semanais (em délares) R 8 T T Renda familiar mediana (em milhares de dolares de 1986) x 8 THtiroer tas 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 ‘Ano Figura 2.2 Saldrios reais e renda familiar nos Estados Unidos, 1947-1986. (Fontes: Estatisticas Histéricas dos Estados Unidos ¢ Relatorios Econémicos ao Presidente) Tabela 2.1 Taxas médias de crescimento dos paises capitalistas avangados ao longo de vdrios periodos de tempo a partir de 1820 Taxas percentuais anuais de mudanga Produto Produto per capita — Exportagdes 1820-1870 22 1,0 4,0 1870-1913 25 14 3,9 1913-1950 1,9 1,2 1,0 1950-1973 49 38 8,6 1973-1979 2,6 1.8 5,6 1979-1985, 2,2 1,3 3,8 Fontes: Maddison, 1982 (1820-1973) e OCDE (1973-85) comunista ¢ terminaram por ser submetidos a uma disciplina legal estrita pela Lei Taft-Hartley de 1952 (lei promulgada no auge do periodo macarthista — cf. Tomlins, 1985). Com seu principal adversério sob controle, os interesses da classe capitalista puderam resolver o que Gramsci denominara antes problema de “hegemonia” e estabelecer uma base aparentemente nova para relacées de classes conducentes ao fordismo. Ha disputas sobre a profundidade dessas novas relagdes de classe, mas, de todo modo, isso por certo variou muito de pats para pais e até de regiao para tegiao. Nos Estados Unidos, por exemplo, os sindicatos ganharam consideravel poder na esfera da negociacdo coletiva nas inddstrias de producéo em massa do Meio Oeste e do Nordeste, preservaram algum controle dentro das fabricas sobre as especificagdes de tarefas, sobre a seguranca e as promocées, e conquistaram im- portante poder politico (embora nunca determinante) sobre questées como benetici- os da seguridade social, saldrio minimo e outras facetas da politica social. Mas adqui- riram e mantiveram esses direitos em troca da adogo de uma atitude cooperativa no tocante as técnicas fordistas de produgio e as estratégias corporativas cognatas para aumentar a produtividade, Burawoy, em seu Manufaturing consent, ilustra a profundi- dade dos sentimentos cooperativos entre a forca de trabalho, embora modificados Por toda espécie de “jogos” de resisténcia a todas as incursdes excessivas do poder capitalista no interior das fabricas (com relacao, por exemplo, ao ritmo do traba- Iho). Assim ele confirma amplamente, com dados americanos, o perfil da atitude de cooperagéo compilado por Goldthorpe na Gra-Bretanha em The affluent worker, Mas ha um registro suficiente de stibitas irrupgoes de descontentamento, mesmo entre trabalhadores afluentes (por exemplo, na fabrica da General Motors em Lordstown, pouco depois de sua abertura, ou entre os operdrios afluentes da in- cistria automobilistica que Goldthorpe estudon), para sugerir que isso pode set mais uma adaptacdo superficial do que uma reformulacao total das atitudes dos trabalhadores com respeito & produgao em linha de montagem. O problema per- pétuo de acostumar o trabalhador a sistemas de trabalho rotinizados, inexpressivos ¢ degradados nunca pode ser completamente superado, como alega vigorosamente Braverman (1974). Nio obstante, as organizag6es sindicais burocratizadas foram sendo cada vez mais acuadas (As vezes através do exercicio do poder estatal repres- sivo) para trocar ganhos reais de salario pela cooperacao na disciplinagao dos trabalhadores de acordo com o sistema fordista de producao. Os papéis das outras partes no contrato social geral, embora com freqiiéncia tacito, que reinava no perfodo de expansao do pés-guerra eram bem definidos. Utilizava-se o grande poder corporativo para assegurar 0 crescimento sustentado de investimentos que aumentassem a produtividade, garantissem o crescimento e elevassem 0 padrao de vida enquanto mantinham uma base estavel para a reali- zacéo de lucros. Isso implicava um compromisso corporativo com processos esta- veis, mas vigorosos de mudanga tecnol6gica, com um grande investimento de capital fixo, melhoria da capacidade administrativa na produgao e no marketing e mobilizacao de economias de escala mediante a padronizacdo do produto. A forte centralizagio do capital, que vinha sendo uma caracteristica téo significativa do capitalismo norte-americano desde 1900, permitiu refrear a competigao intercapitalista numa economia americana todo-poderosa e fazer surgir préticas de planejamento e de precos monopolistas e oligopolistas. A administragao cientifica de todas as facetas da.atividade corporativa (ndo somente produgéo como também relagées pessoais, treinamento no local de trabalho, marketing, criagéo de produ- tos, estratégias de precos, obsolescéncia planejada de equipamentos e produtos) tornou-se 0 marco da racionalidade corporativa burocratica. As decisGes das cor- poracdes se tornaram hegemdnicas na definigéo dos caminhos do crescimento do consumo de massa, presumindo-se, com efeito, que 0s outros dois parceiros da grande coalizio fizessem tudo 0 que fosse necessdrio para manter a demanda efetiva em niveis capazes de absorver o crescimento sustentado do produto capi- talista/O actimulo de trabalhadores em fabricas de larga escala sempre trazia, no entanto, a ameaca de uma organizacao trabalhista mais forte e do aumento do poder da classe trabalhadora — dai a importncia do ataque politico a elementos radicais do movimento operario depois de 1945. Mesmo assim, as corporagées aceitaram a contragosto 0 poder sindical, particularmente quando os sindicatos procuravam controlar seus membros e colaborar com a administragao em planos de aumento da produtividade em troca de ganhos de salario que estimulassem a demanda efetiva da maneira originalmente concebida por Ford. O Estado, por sua vez, assumia uma variedade de obrigac6es. Na medida emi que a produgao de massa, que envolvia pesados investimentos em capital fixo, requeria condigées de demanda relativamente estdveis para ser lucrativa, o Estado se esforcava por controlar ciclos econdmicos com uma combinagio apropriada de politicas fiscais e monetrias no perfodo pés-guerra. Essas politicas eram dirigidas para as Areas de investimento ptiblico — em setores como 0 transporte, os equipa- mentos piiblicos etc. — vitais para o crescimento da producgéo e do consumo de massa e que também garantiam um emprego relativamente pleno. Os governos também buscavam fornecer um forte complemento ao saldrio social com gastos de seguridade social, assisténcia médica, educacao, habitagao etc. Além disso, o poder estatal era exercido direta ou indiretamente sobre os acordos salariais e os direitos dos trabalhadores na produgao. Tabela 2.2 A organizacio da negociagito de saldrios em quatro paises, 1950-1975 Franca Gra-Bretanha Itdlia Alemanha Ocidental Sindicalizagao baixa alta, variével moderada colarinho azul Organizagao fraca com fragmentada —_periédica com —_estruturada e facciosismo entre movimentos unificada politico inddstrias @ de massa categorias Patroes divididos entre fraca rivalidade fortes @ tendéncias e —organizagéo_—setor privado —_—organizados. organizagdes coletiva setor piiblico Estado intervengdes —_negociagdo intervengéo papel muito amplas e coletiva legislativa fraco regulamentagéo voluntaria com —_periddica do trabalho normas dependente dos salérios _fixadas pelo de luta de através de Estado a partir classes acordos da metade tripartites dos anos 60 Fonte: a partir de Boyer, 1986b, tabela 1 As formas de intervencionismo estatal variavam muito entre os paises capita- listas avancados. A tabela 2.2 ilustra, por exemplo, a variedade de posturas toma- das por diferentes governos da Europa Ocidental diante das negociacdes de con- tratos trabalhistas. Diferencas qualitativas e quantitativas semelhantes podem ser encontradas no padrao dos gastos ptiblicos, da organizagio dos sistemas de bem- -estar social (no caso do Japao, por exemplo, mantidos principalmente pela prépria corporagdo) € do grau de envolvimento ativo do Estado, em oposicéo ao envolvimento tacito, nas decisdes econémicas, Padrées de descontentamento traba- Ihista, de organizacdo de fabrica e de ativismo sindical também variavam conside- ravelmente de Estado para Estado (Lash e Urry, 1987). Mas 0 notdvel é a maneira pela qual governos nacionais de tendéncias ideol6gicas bem distintas — gaullista, na Franga, trabalhista, na Gra-Bretanha, democrata-cristéo, na Alemanha Ocidental etc. — criaram tanto um crescimento econémico estavel como um aumento dos padrées materiais de vida através de uma combinagio de estado do bem-estar social, administragao econémica keynesiana e controle de relagoes de saldrio. E claro que o fordismo dependia da assuncao pela nacao-Estado — como Gramsci previra — de um papel muito especial no sistema geral de regulamentacio social. Por conseguinte, 0 fordismo do pés-guerra tem de ser visto menos como um mero sistema de produgio em massa do que como um modo de vida total. Produ- io em massa significava padronizagéo do produto e consumo de massa, 0 que implicava toda uma nova estética e mercadificagéo da cultura que muitos neo- conservadores como Daniel Bell mais tarde considerariam prejudicial & preserva- cao da ética do trabalho e de outras supostas virtudes capitalistas. O fordismo também se apoiou na, e contribuiu para a, estética do modernismo — particular- mente na inclinacdo desta ‘iltima para a funcionalidade e a eficiéncia — de manei- ras muito explicitas, enquanto as formas de intervencionismo estatal (orientadas por principios de racionalidade burocratico-técnica) e a configuragao do poder politico que davam ao sistema a sua coeréncia se apoiavam em nogées de uma democracia econémica de massa que se mantinha através de um equilibrio de forcas de interesse especial. (O fordismo do pés-guerra também teve muito de questo internacional. O longo perfodo de expansio do pés-guerra dependia de modo crucial de uma macica ampliacéo dos fluxos de comércio mundial e de investimento internacional. De desenvolvimento lento fora dos Estados Unidos antes de 1939, 0 fordismo se im- plantou com mais firmeza na Europa e no Japao depois de 1940 como parte do esforgo de guerra. Foi consolidado e expandido no periodo de pés-guerra, seja diretamente, através de politicas impostas na ocupacao (ou, mais paradoxalmente, no caso francés, porque os sindicatos liderados pelos comunistas viam o fordismo como a nica maneira de garantir a autonomia econ6mica nacional diante do desafio americano), ou indiretamente, por meio do Plano Marshall e do investimento di- reto americano subseqiiente, Este tiltimo, que comecou aos poucos nos anos entre- -guerras, quando as corporagdes americanas procuravam mercados externos para superar os limites da demanda efetiva interna, tomou impulso depois de 1945. Essa abertura do investimento estrangeiro (especialmente na Europa) e do comércio permitiu que a capacidade produtiva excedente dos Estados Unidos fosse absorvi- da alhures, enquanto o progresso internacional do fordismo significou a formacao de mercados de massa globais e a absorcao da massa da populacdo mundial fora do mundo comunista na dinamica global de um novo tipo de capitalismo. Além disso, o desenvolvimento desigual na economia mundial significou a experiéncia de ciclos econémicos jé paralisados como oscilacées locais e amplamente compen- sat6rias no interior de um crescimento razoavelmente estdvel da demanda mun- dial. Do lado dos insumos, a abertura do comércio internacional representou a globalizago da oferta de matérias-primas geralmente baratas (em particular no campo da energia). O novo internacionalismo também trouxe no seu rastro muitas outras atividades — bancos, seguros, hotéis, aeroportos e, por fim, turismo. Ele trouxe consigo uma nova cultura internacional e se apoiou fortemente em capaci- dades recém-descobertas de reunir, avaliar e distribuir informagao. Tudo isso se abrigava sob o guarda-chuva hegeménico do poder econdmico e financeiro dos Estados Unidos, baseado no dominio militar. O acordo de Bretton Woods, de 1944, transformou o délar na moeda-reserva mundial e vinculou com firmeza o desenvolvimento econédmico do mundo A politica fiscal e monetaria norte- -americana, A América agia como banqueiro do mundo em troca de uma abertura dos mercados de capital ¢ de mercadorias ao poder das grandes corporacées. Sob essa protecio, o fordismo se disseminou desigualmente, A medida que cada Estado Procurava seu pr6prio modo de administracio das relagées de trabalho, da politica monetaria ¢ fiscal, das estratégias de bem-estar ¢ de investimento ptiblico, limita- dos internamente apenas pela situagao das relac6es de classe e, externamente, so- mente pela sua posicio hierérquica na economia mundial e pela taxa de cimbio fixada com base no délar. Assim, a expansio internacional do fordismo ocorreu numa conjuntura particular de regulamentacdo politico-econémica mundial e uma ©’) configuragao geopolitica em que os Estados Unidos dominavam por meio de um sistema bem distinto de aliangas militares e relacdes de poder. a Nem todos eram atingidos pelos beneficios do fordismo, havendo na verdade sinais abundantes de insatisfacio mesmo no apogeu do sistema. Para comecar, a negociacao fordista de salérios estava confinada a certos setores da economia ¢ a certas nag6es-Estado em que o crescimento estavel da demanda podia ser acompa- nhado por investimentos de larga escala na tecnologia de produgéo em macea, Outros setores de producao de alto risco ainda dependiam de baixos saldrios e de fraca garantia de emprego, E mesmo os setores fordistas podiam recorrer a uma base nao-fordista de subcontratacéo. Os mercados de trabalho tendiam a se dividir entre o que O'Connor (1973) denominou um setor “monopolista” e um setor “com- Petitivo” muito mais diversificado em que o trabalho estava longe de ter privilé- gios, As desigualdades resultantes produziram sérias tensbes sociais ¢ forles mo. vimentos sociais por parte dos excluidos — movimentos que giravam em torno da maneira pela qual a raca, 0 género e a origem étnica costumavam determinar quem tinha ou nao acesso ao emprego privilegiado. Essas desigualdades eram particular- mente dificeis de manter diante do aumento das expectativas, alimentadas em Parte por todos os artificios aplicados a criagio de necessidades ¢ a producao de um novo tipo de sociedade de consumo. Sem acesso ao trabalho privilegiado da Produgao de massa, amplos segmentos da forca de trabalho também nao tinham acesso as tio louvadas alegrias do consumo de massa, Tratava-se de uma férmula segura para produzir insatisfacdo. O movimento dos direitos civis nos Estados Unidos se tornou uma raiva revolucionéria que abalou as grandes cidades. O sur- gimento de mulheres como assalariadas mal-remuneradas foi acompanhado por um movimento feminista igualmente vigoroso. E 0 choque da descoberta de uma terrivel pobreza em meio a crescente afluéncia (exposta, por exemplo, em The other America de Michael Harrington) gerou fortes contramovimentos de descontenta- mento com os supostos beneficios do fordismo, Embora fosse titil sob certos aspectos, do ponto de vista do controle do traba- tho, a divisao entre uma forca de trabalho predominantemente branca, masculina e fortemente sindicalizada e “o resto” também tinha seus problemas. Ela significa- va ua rigidez nos mercados de trabalho que dificultava a realocaco do trabalho de uma linha de produgio para outra, O poder exclusivista dos sindicatos fortale- cia sua capacidade de resistir A perda de habilidades, ao autoritarismo, & hierarquia € & perda de controle no local de trabalho. A inclinacdo de uso desses poderes dependia de tradigdes politicas, formas de organizacao (0 movimento dos comer. cidrios da Inglaterra era particularmente forte) e disposicao dos trabalhadores em trocar seus direitos na produgo por um maior poder no mercado. As lutas traba- Ihistas nao desapareceram, pois os sindicatos muitas vezes exam forcados a respon- der a ingatisfages das bases. Mas os sindicatos também se viram cada vez mais atacados a partir de fora, pelas minorias exclufdas, pelas mulheres e pelos desprivilegiados. Na medida em que serviam aos interesses estreitos de seus mem- bros e abandonavam preocupagées socialistas mais radicais, os sindicatos corriam o risco de ser reduzidos, diante da opinido ptiblica, a grupos de interesse fragmen- tados que buscavam servir a si mesmos, ¢ nao a objetivos gerais. O Estado agiientava a carga de um crescente descontentamento, que as vezes culminava em desordens civis por parte dos excluidos. No minimo, o Estado tinha de tentar garantir alguma espécie de saldrio social adequado para todos ou engajar- -se em politicas redistributivas ou agoes legais que remediassem ativamente as desigualdades, combatessem o relativo empobrecimento e a exclusdo das minorias. A legitimacao do poder do Estado dependia cada vez mais da capacidade de levar os beneficios do fordismo a todos e de encontrar meios de oferecer assisténcia médica, habitagio e servicos educacionais adequados em larga escala, mas de modo humano e atencioso. Os fracassos qualitativos nesse campo eram motivo de intime- ras criticas, mas, no final, é provavel que os dilemas mais sérios fossem provocados pelo fracasso quantitativo. A condicao do fornecimento de bens coletivos dependia da continua aceleragao da produtividade do trabalho no setor corporativo. $6 as- sim o Estado keynesiano do bem-estar social poderia ser fiscalmente vidvel. Na ponta do consumo, havia mais do que uma pequena critica 4 pouca qua- lidade de vida num regime de consumo de massa padronizado. A qualidade do oferecimento de servicos através de um sistema nao discriminador de administra- cdo piiblica (baseado na racionalidade burocratica técnico-cientifica) também rece- bia pesadas criticas. © gerencialismo estatal fordista e keynesiano passou a ser associado a uma austera estética funcionalista (alto modernismo) no campo dos projetos racionalizados. Os criticos da aridez suburbana e da monumentalidade monolitica dos centros das cidades (como Jane Jacobs) se tornaram, como vimos, uma minoria vociferante que articulava todo um conjunto de insatisfagées cultu- rais, As criticas e praticas contraculturais dos anos 60 eram, portanto, paralelas aos movimentos das minorias exclufdas e a critica da racionalidade burocratica despersonalizada. Todas essas correntes de oposigdo comecaram a se fundir, for- mando um forte movimento politico-cultural, no préprio momento em que o fordismo como sistema econdmico parecia estar no apogeu. Devem-se acrescentar a isso todos os insatisfeitos do Terceiro Mundo com um processo de modernizagao que prometia desenvolvimento, emancipagio das neces- sidades e plena integracdo ao fordismo, mas que, na pratica, promovia a destruicao de culturas locais, muita opressio e numerosas formas de dominio capitalista em troca de ganhos bastante pifios em termos de padrao de vida e de servicos piiblicos (por exemplo, no campo da satide), a no ser para uma elite nacional muito aflu- ente que decidira colaborar ativamente com o capital internacional. Movimentos em prol da libertacdo nacional — algumas vezes socialistas, mas com mais freqiién- cia burgueses-nacionalistas — mobilizaram muitos desses insatisfeitos sob formas que por vezes pareciam bem ameacadoras para o fordismo global. A hegemonia geopolitica dos Estados Unidos estava ameacada, e 0 pais, que comecara a era do pos-guerra empregando o anticomunismo e o militarismo como veiculos de pro- mosho da estabilizacho geopolitica e econdmica, logo se viu As voltas com o pro: blema da opgio “armas ou manteiga” em sua prépria politica economiea fecal, Contudo, a despeito de todos os descontentamentos e de todas as tensdes manifestas, 0 nticleo essencial do regime fordista manteve-se firme ao menos até 1078, @ No processo, até conseguiu manter a expansio do periodo pés-guerra due favorecia o trabalho sindicalizado e, em alguma medida, estendia oe “bene(t clos’ da produgao e do consumo de massa de modo significative — intacta, Os prevalecia, $6 quando a aguda recessao de 1973 abalou esse quadro, um Proceso de transigao répido, mas ainda nao bem entendido, do regime de acumulagao teve inicio.

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