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oe ave ye cr a pre” i 6 yet A perspectiva sécio-historica na formagao em psicologia ‘Ana Mercés Bahia Bock (org.) ‘ a on ee Dados tternaconals de Catalopagzo na Publiagie (CIP) (Ciara Brasilia do Livro, SP, Brasil) 4 A perspec sbse istics formagio em priclogin' ‘Ann Meteis Bais Bock orgnizadora) ~ Petipa, ~ | Psicologis Mitra? Pricoogiacomo profisio 05.2655 indiees para catalog sstemticn: Pevepote 1 Psicologia scio-hisériea 1509 Psicologia da educacdo: em busca de uma leitura critica e de uma atuacao compromissada ‘Ana Mercés Baia Boe. ‘Wanda Mexia Junquia de Aguiar A construsio do distanclamento escola-realidade ‘A escola est distante da realidade. Essa constatagi "lo conhecida que paece ébvia. Temas vito os mais vari dos exemplos dese dstanclamento nos livos sobre educe- ‘lo, nos jomais e revista, nateeviséo e na escola. Sto cr angas que aprendem ale apattr de paleras da cartiha, pa lavrasessas que alo existem no mundo cultural e cotidiana das eriangas. io informagdese figuras que nfo corespon- «dem realidade vivida pelos edueandos. Mas por que a es20- in est ho distante da realidads? Eis af ua questo que poueas vezes formulas, ape- sar, ou exatamente pla obviedade da eonstatagio Mas ¢ preciso encarar questo e buscar a compreens¥o esse distenciamento como forma de superé-o.O distance mento escolaralidade nfo € algo obrigatério, nfo é una medida pedagéaica adequada, no Gnas As teorias pedagaices, 20 eoastrlrem suas formula 8es sobre a educagio, foram produzindo concep reforgaram e frtaleceram ince gue a escola dove estar distant da vida viva, para que poss fe consti en uma insttigdo de cultive 4 moral e bons castes. Nas teoras pedagogicas da escola tradicional eda escola nova reads de social foi substtida pela realidade escolar “A escola se pensou como uma fortaleza da infénca eda juventude, que ‘enbatha para proteger os educandos de si mesios (esoln tradicional) ou das comrupydes da sociedade (escola nova) Umespaco purifcado pela culturs, pan de realizar um ta bao de aperiigosmento das edveandas, fornando-os como pessoas expazes de gervir&sociedae, melhorando-. A es ¢ola se pensou capac de formar cidados pa 4 sociedade Aistansiando-os da mesma sociedad que os teccber cutos, formados. Essa ida perdura nape criando um distenciamento escola-relidade Alpumas idSias que do sustentagio sess “ventas pe Aagigicas” sio parte do ideo liberal e esto também pre Sentes na pscologia. A idgia de uin homem ive, dotado de potencialidadeshumanas naturais, que se desenvelver con forme o homem aproveta eportonidades dadas pelo meio & de forma simplificade, sida-mte dessa pedagoie. Roberto Campos, expoente brasileiro de pensament i beta, expressou exemplarmente, em sua ealuna “Lanteina a Popa”, esse pensanente © principio hasta do iberlsme (também do capitalise) é que primi popiedde do ho. mmem€ ose corpo coma suas farldades E sev primeiro dtc,» execcin doses focudade, so ponto em quo pejuique dicta det estos expretsio "tiga cial i fa sen 123 5. Paci de lucas o,porque ni exis un "jsticiadr" em eit Fie objetivos de juts stibuigso. Numa socio ‘de de homens bes, muitos ero mais do que ‘autos pensam gules merece, engin pen que tem do que merece [As rgras.Jo jag 6 que deve se justas 0 resultado se son ‘re diferent,dependendo da feculgades ce Fongod ead um. Aten tela elisa por governes 6 procua melora as "oportunicads ‘ants, remover obstseulos para que os na. ‘doe exergar o mixin a feeuldades que Dus thes dea] (Campos, 1995-1), [Exemplar ese texto para o que protendemos esclarscer As ideas lberaispartem da nogfo de que somos dotados de faculdades naturais que sero desenvolvidas conforme se ‘aga esforga para desenvelvélas ese aproveite as eportuni- ‘des oferecides pelo meio, A escola surge entdo como sl -vador, pois apresenta as oportunidades das quzia se neces ‘a parao desenvolvimento das potencialidades,Esté mont aa lgica: os homens necessitam estar expostos a “opott nidades de desenvolvimento das faculdades ou poteneiaida: des” e esta tarefu é entegue & escola, que pare cumpt-la bom, isola os educandos da realidade socal eoferece cuts "3, minstrada por professres, que sio seresaperfeicoados, expazes de exmprr com taeta tia divinal NEo hé qualquer neeessdade do contato da escola com arealidade seta, pot © tabalho escolar & desenvolver potencialidades nati, {que ji estéo no educando, pois vieram com ele do bere0. Ot instuments de trabalho tbe no precisa manterqual- ‘quer relaelo com a realidade social, pois a Cultura € algo pronto, universal, que promave o desenvolvimento das fi- culdades/potencialidades. Assim, 0s conteidosexcolaes vio surgir como conheet -matos universais que nada tim a ver com a vida das pes s0as. O aprendizado vai ser concebido como possbilidade de desenvolvimento humana e nfo como canbecimento que ‘contibui para a compreensdo da reaidadeeotiana O pro fessor, como ser quae divino que possvi a verdade es el 12, € visto como capazde transforma educatidos om pessoas calla, evilizadse« educedss O mecanismo de peasamento que opera nesta construgéo a redupio de tudo que € de natueza socal a questdes in Viduais, na medida em que o individu estépensado coma ‘um sujeto natura, que tem sou desenvolvimento guiodo ratureza humana da qual & possuidor Asconseqiéncias, no Smite das idtin peda sto 1) A educagio exige exforgoprépria Passa-se a pensar a edueago como uma oportunidae para desenvolvimento por isso deve serd= qualidade igual pars tdos No entanto, ‘la sozinha nfo ésuiciente pars gaan sa arf. E neces. sivio que. proprio sluno sesforee Retomamos aqui a imac igem que nos é cara do Baro de Minchihausen Heri das ‘isbn infantis, conta que, cert eta, com seu cavalo cain ‘emum péntano Para sir de Is, puxou-se pels propos ex- belo, erguendo seu eavaloe a's préprio. Essa ida de que todos os homens slo dotados de fore ptopria capa e ga rantirseu prdprio proceso de individuasia, como desenvol vimento de suas potencialidades natura, to bem exempli- ficado peta estiria do Bardo de Miinehusen!™ Do aluno & excolacobrati o esforgoe todo fnceso srt ldo como falta de empeno.Oaluno que fraassar sera dingnostcado como alguém que apresenta “problemas de aprendizagem” e ser merecedor de tabalhos reedictivos, als patculaes in. tervengdespsicopedagogicas Acscola fica ientade respor- sabilidade, pois sua tate es curaprindo a conteno:ofere- ‘ee oportnidades iguas. — Hi beck, a8 (3580) Aventuras do Baio do Munters na ‘scoleia Sta Paulo. Gorbeledce 5 — 5. Pacing A perpectva scout 136 2) Bducagdo é vista como deteminante do lugar social do Indvidvo, quando a realdade& invert. Toma-seaedce 0 como um passapore pare a sociedade, que tem sev con provante no diploms, Assim, quanto maior 8 quantidade ce tscolarzagaoe cultura que seem, mas alte deverd sero lugar social do sujet. A escolaridede determina olugat social. De ‘termina? Basta oar s0 redo pra vers que te pasa ex mente oposto:o lugar social dos indviduos penmte que eles sddqiram maior ou menor gra de escolariade. As pesoas de baixo poder aquisiiv tem enorme dfiuldade de se sustent rem escol: dosde a posiilidade de locamover-s até ela, aid tera roupa adequada, os apetrechos escolares,o lugar em asa para estar, o tempo que poe destnar aos etudos, 0 apoio des pais para oaprendizado eaté mesos familaidade como quese ensina na escola. Dares forms, é fe cr dtarmos que alguém das cameds de ato poder aquisiiv, aque ndo queram seguir estudando, saa do lugr social m0 ‘gual ext para un lugar mais “aso 3) Bducagao responsabiliza a india pelo facasso Apesar de é temas ctado esse aspecto,eabe analisi-lo om separado, pois é uma das grandes armadihes a que psiedlo- 08, pedsgogoseprofessores esto sujeitos A iia de queo Honvem tem suas poteniaidades dadas natralimente © que 1 escola deve fazer esforgo para aprovetar a8 oportunida- es que Ihe sa oferecidae para desenvolve-ls ger ai de que aquele que faeassn no fez oesforganecessitia. A nogdo de "facasso escolar” jd carega essa suposgio: al acassou ne escola. A escola fica ienta endo se cont tui uma suposid comrespondente de facasso da escola, A escola nfo poderia ver de outa forma, poi entende 0 homer como det de pcencalidades mauris, © que que- remo fisar€ que para superar ess das, que aqui erica. ‘mos, éprecsosuperara visto de homem que stents noseas teorias pedagépicas dominance. As criangas pobres de nosso pois vo para a escola ele ‘vam com elas tudo que possuem e que as constitu leva suas vivéncias familiares, os pais que possuem com todas as suns dficuldades soci; levam suas Vidas duramente vi vides; le ura, so raga, seu sex, seus traumas, levam tuo paraeseala Mas final, escola é Tuger de alunos spena stds, intligentese felizes? No ‘A-escole€ lugar de edveando e edcando tin vida vivida {Quando um ano carrega ua vida vvidaquethe difeuta 0 aprendizado escolar, a escola precisa saber ensinr a ele de ‘modo efile seu aprendizad, Nig hi dfcldades de apren- Aizagem; hi dificuldades no processo de ensino-aprendiza gem. No se pode responssbiiar apenas © alno eindicar Feeuperagio.t tstamento. A escola deve estar impliada na questio. Por isto, o cescimento de propostaspsicopedao- Bicas pode ser nocivo & eonstruglo de inn educagao de ‘qualidade, pois teoris si0 constrdas para jusiiear 08 frncassos e apresentarslugies para oaluno que no apie de. Asandises quo ineluenta escola a praia do fr 0 %0 powcas c, mvitasvezes, nem sia vist como possi- bilidede de consbuigd para soluto dos chanedos“proble- as de aprendizagem 4) A relagdo do Estado da sociedae com a excalo O Aistanciamenta da escola em eg & sociedad tz conse aignciasqueniosparecem nocotidiane da escola. A relagio 4a escola com o Estado &, muias vezes, ignoradn ot deseo ia, © Estado é pensade como responsivel pela vegrst registros; um drgio buroeritico que cuida de aspectos de funcionamento da escola. Mas nose pode pensar asim. escola € uma insttuig social ecomo tal serve a0 Bxado A escola ensin regras de condata divulge conhesimenos, vilgia valores, rforgavisdes de mundo e leita da reli- dade, ensina uma rela com o trabalho epromave a forma fo paraa producto da vida; a escola interesa a sociedade Porquecumpre esas tarefas'A sociedade, por sus vez, nfo & By — 5. Pacing da dics, A pret sc i | homogénes quanto aos interesses em relagio A escola. Ha Aispuas de projetospolitcas para aeducapdoeisso significa ‘que grupos diferentes desejam, paras escola, fangbe,fnali- aes © atividades diferentes. As diferengas politics ens tentes na sociedade, enqeanto projets sociais (Que sociede dequeremos? Que cidadso queremot),aparecem ma dist dx edueagio. Desde as verbas para educagio, até seu papel € sua relaglo com 0 tabatho © com a soeiedade, vio fazer om que diferentes exigdncas sejum feitas para a escola. Mas como tudo esténaturalzado peas vsdes de potencil dadesnatrais do homem,aeseola aparece como uma ine tiuigio acima dos interesses politicos da soviedede,cum- prindo uma taefadivina de desenvolvimenta do que & nat ‘ale universal e que pr isso, prescinde de qualquer referen- cial politico. A educaglo seri despoitizada, Devemos pensar que a crise da educagio brasileira nfo & uma cise, 6 um projeto, Ae quests da educagio, que temos hoje, no dover ser lidas come questbas decorrentes de uma rise passgeir que fugit a0 nosso controle polities educa onal instal nes anos 90 envolve um projetoedvcacional (em-sucedido) qu valorian a escola como propciadora de indices de qualfeagao de mlo-de-obra para digputts no mer cado internacional. Um projeo que sogue dimes do Banca Mundial e do FMI para Teresito Munda. Ha ui projeto de ipo dos gastos estas com educapio,priaiaando outios Setores,fendo como conseaiéncia 0 sueaeamento da escola piblica. Huma pottica, para responder is exigénits de re Aug de gastos, de prvatiaagfo da educs,20,mantendo aes ‘ola plies bisica(sabe-e& com que qualidade!) reuzin dd cada vez mais os investimentosnasoutaseapas da ercle ridade. Huma responssbilizagio da comunidae escolar em construire desenvolver seu proprio projet pedagogic, utili _zando recursos da propria comunidad. A questi da qualiga- e dos professors é decorrente dessas esolhas¢estéem hat- nia com o projto, pois a msioria das professores estar formada peas escoesparticolares de ssa qualidade © 05 professres seo conratados pelo Estado para dar cules & Populagio pobre que ise esse escolne Tnsitem-se pro- _Bramas gras que dever inspira esse proto instiuem-se ‘ambi formas de vain geal do prot leangao (Enem « Saesp, por exemplo).O que esses aspecos evelam & qu na verdade, as politens pibliea paras eae si cada ‘menos plies, no sentido de que sia eada vez mene ree ponssbilidade do ser public, do Estado. AO mesmo tem, atendem & politica dominant, i poiiea neoliberal do Estado Mas, todas estas questes que sa pias e expressim inte esses de grup seias fim tmadas coma cise ds escola. [No hi rise, hum projeto em desenvolvimento. Darey i bei tinh 230! 5) Desvolorizagio da politica, As quests vivides na escola so, em decorréciadestas concepadese deste aasti- ‘mento, trdusides em questies morsis ee comunicagdo © ‘nunca em questdes sais oupoliticas. Ha, nes desvalorizseio da polities que contri a ed hi uma desvalorizgo dos interesses diferentes que guiam diferentes prtices pedagégicas. Os contlitos, como no $0 lides como embate de ditareatesinteesses, sero interpreta {os come questes que podem ser resolvidas pela conversa {porque sio problemas de comunicagso entre as pessoas que ensam diferestemente) ou pela adogso de uma ea rig 53 (como se a tia aplicada com igo fsseienta eneuta) a dein, afsim, de aprofundaracompreensi da eal fazendo elementos hstéricos que nas permite cotn- proender os eonfltesvividos cya lager destae expla ses com regras mors, fazendo um trabalho de ocultamen to dos conflts de iterese existentes na sociedade 6)A patologizasao da pobreza. Essa & ua das conse qncias mais perverss das teorins pedegégieas dominan tes. E pedimos licenga para retomare vepett& exaust os lias contais que, aqui, buseamos citar dia de que seas. Pacologia t 2 i z Somos sere dotedos de uma natureza humana que carregn potenealidades que devem ser dessnvolvidas a partir decom Aigdesdadas pela sociedadee esfeico prdpro.Oeritério bi sico para a constr de perspectives sobre os indivios ésti dado pele natureze. Somos naturalmenteseres humancs como tal deveremes apressntardeterminadas carneterist- cas: honestidade, empenho no trabalho, capicidade de co- municaglo, sociabilidade, controle da agressividnde, cviat- vidade, afetvidede,capacidade de aprender, ete. Ste facul- dades dos seres humanos. Assim, quando wn individuo nfo spresentar esses caracterstica dever ser analisado e cuide- o, pois presenta alguma patologiaque oom diferente. As teories pedagisicas dominantes constroem todo se ats nal de ids considerando as camadas de alto poder aqusi ‘0, isto porque so torias construldas nos pases de Prime 10 Mundo. Os educandos slo criangas ou jovens, na sua tmaforn brancos, riados cm familia estutradas segundo a burgtesa, com condigdesde vida exccestes, t= rmufadas desde a mais tenra ida, eriadas em ambiente de lingua cli, com acessoa muitos bens eultoras da hutmeni ade, conhecedores de muitos lugnes diferentes, enfin, tscola esa pensada no € sempre ele que estra I, sentado na sala de sula. Ov teas erangas que nfo tém essas condigbes de vids iro tam: bbém @ escola. Deverto ler a eatilha nos livros palaves ara designar coisas que para ela tm out nome, vero fi _Buas brancas valorizadas como hetsis ou pessoas prodti- ‘vas; vedo mulheres submisss a homens competentes er ponsiveis; veréo a cidade com sous automéveis; a praia ‘como lugar de lazer eo campo coma lugar de trabalho na propre tra. Ni estario lia macaxcita (als, nem com putador a conhece),a ergot, o jerimum a secs, a casa sem eto, o pai desempregado ea mie que sustentaa familia, A escola &continuideds de vida das camadas médias © alts; a escola ¢rompimento paraas eamedas de baixo poder hia? O que acontoce & que as dificldedes em acompantt a i, cfc sqisitivo Como nfo ex exiangas que estantam te realidad escolar. Apresentam, com alta Heqlénc

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