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gua. M32. HERBERT MARCUSE “4 RoC b eet rae | RAZAO E REVOLUCAO HEGEL E © ADVENTO DA TEORIA SOCIAL | AK 4 ie ‘Tradopio de MARILIA BARROSO BIBLIOTECA | : | | | EDITORA SAGA INTRODUCAO 1, O cenario sécio-histérico © idealismo aleméo foi considerado 2 teoria da Revo- lugdo Francesa. Isto no significa que Kant, Fichte, Schelling ¢ Hegel tenham elaborado uma interpretagio tedrica da Re- volucdo Francesa, mas que, em grande parte, escreveram suas filosofies em resposta a0 desafio vindo da Franga & reorga- nizagio do estado e da sociedade em bases racionais, de modo que as instituigdes sociais e politicas se ajustassem & liber- dade © sos interésces do individuo. Apesar de sua severa ccitica ao Terror, os idealistas alemées saudazam undnime- mente a Revolugio, considerande-a 0 despontat de uma nova 8, € sem excecdo, associaram seus principios filoséficas asicos aos ideais que ela promovera, As idéias da Revoluggo Francésa surgem, pois, no = dos sistemas idealistas, determinando, sob muitos aspecfos, sua estrutura conceltual. A Revolugéio Francesa, aos olhos ° dos idealistas alemaes, n8o 56 abolira o absolutismo feudal, substituindo-o pelo sistema econdmico ¢ politico da classe inédia, mas, 20 emancipat © individuo como senhor auto- confiante de sua vida, coimpletara o que a Reforma Alema havia comesado. A situagso do homem no mundo, seu tra- batho e lazer, deveriam, doravante, depender de sua propria atividade racional livre e ndo de qualquer autoridade externa. © homem superara 0 longo periodo de imaturidade, durante © qual fora oprimido por esmagadoras forces natucais © 50- Giais, e se tornara 0 sujeito auténomo de seu préprio desen- volvimento. Dai em diante, a Iuta contra a natureza ¢ contra 1s fa organizagdo social deveria ser orientada por seu proprio progresso no conhecimento. Q_mundo deveria tornar-se uma cordem,de razio. 8° Ge ideals da Revolugéo Francesa .encontraram suporte 1s processos do capitalismo industrial. O império de Napo- Tiquidara com as tendéncias radicats da Revolugio con- solidando, ao mesmo tempo, suas conseqiléncias econdmicas. Os filésofos franceses daquele periodo associeram a realiza- Gio da razdo & expansio da indGstria. A crescente produsgo industrial parecia capaz de fornecer todos os melos necessa- sigs para satisfazer as necessidades do homem. Assim, ao ‘tempo em que Hegel elaborava seu sistema, Saint-Simon, na Franca, exaltava a inddstria como 0 nico poder capaz de conduzi os homens a uma sociedade livre ¢ racional. O pro- cesso econdmico, aparecia como o fundamento da razao, ‘© desenvolvimento econdmico na Alemanha ficara muito atrés do da Franga e Inglaterra. A classe média alema, fraca f dispersada om numerosos territérios com interésses diver- gentes, dificilmente poderia projetar uma revolugéo, Os pou- fos empreendimentos sadustriais existentes eram como que ithas dentro de um sistema feudal que se eternizava, O indi- viduo, na sua existéncia social, ou era escravizado ou escra- vizava seus semelhantes. N&o obstante, poderia ao: menos perceber, enquanto ser pensante, o contraste entre a reali- Gade miserdvel que existia por thda parte € as potencialida- dades humanas que a nova época liberara: ¢, como pessoa moral, poderia preservar a dignidade e a autonomia humanas, pelo menos na sua vida privads, Assim, enguento# Revel fo Francesa comegava por assegurar_a realizacio da liber- Gade, 20 idealismo aleméo cabia apenas se ocupar com_@ idéia da libetdade. Os esforcos histéricos concretos para_o estabelecimento de um tipo de sociedade racional haviam side transpostos, na Alemanha, para_o plano filoséfico e trenspa- feclan nos’ esforgos para elaborar 0 conceito de Tazdo. ? ‘Tal conceito esta no cemne da filosofia de Hegel. Bste sustenta que 0 pensemento filosofico nada.-pressupse al da razdo, que a historia trats da razdo, ¢ sémente da 1 e que ovestado € a realizacio da razdo. Estas alicm no so compreensiveis, porém, se a razA0 {6r tomad 16 1 tim puro conceito metalisico, pois a idéia que Hegel fazia da razdo, preservava, lainda que sob forma idealistica, os esforgos materiais no’ sentido de uma vida livre e rational [A divinizagao da razid por Robespierre, que @ considerava ° Btre supréme * esta correlacionada como a exaltacéo da r3- zo no sistema de Hegel. © nécleo da filosofia de Hegel @ as estrutura formada por conc iberdade, sujeito, espiri ‘Ge Ge Spreende com clareza o sentido de tais conceitos, & fiia intrinseca correlagio, 0 sistema de Hegel apareceré como ¥ obscura metalisica que de fato nunca foi. "© proprio Hegel zelaciona seu conceito de razo 8 Re- Goluggo Francesa, e o faz com grande énfase, A revolucéo = jchavie exigide que “nada fésse reconhecido como valido em “ima constituigo que nfo estivesse de acordo com o dizeito Edda razdo" (1). Hegel elaborou mais precisamente esta exi- EF goncia em suas dissertagdes s6bre a filosofia da historia: “Ain- Fiida néo se havia percebido, desde que 0 sol se fixara no fie- -Cnianiento, os planétas girando a sua volta, que a existéncia BE -Anaxagores foi o primeiro a dizer que 0 Nous ** governa 0 jnundo; nunca, porém, até agora, atingira o homem a com- qual. Todos os séres (O'homem se dispés 2 organizer a reali ° EExigéncias do, seu pensamento racional livee, em lugar d iniplesmente se acomodar & ordem'-éxistente e aos valores 4 W. f | . Sua raze 0 cap de. Blas sustentavam, que “o poder da razfo, e nio a forca lades € as do si dominates. O homem € um ser pensan 6 das armas, propagaria 03 principios da nossa gloriosa Revo- mundo, Ble nao esté, pois & mercé dos fatos que o cercai lugdo.” (3). Em virtude de seu préprio poder, a raz&o triun- mas @ capaz de su aria sobre a irracionalidade social e destruiria os opressores da razéo. Segui da humanidade, "Tédas as ficgbes desaparecem diante da ver-, ‘concepe5es.que.revelam estar a 14240 em conilio;com o estade ~ dade, ¢ todas as loucuras se aquietam diante da razio” ( de coisas existente, Ble ume luta constante_p Komen, Gara poder ‘A rario deveria, em conseqiiéncia, revelar-se imediata. ‘dogma, entretants, nao €confirmado i Hegel scredita, como Robesplerte, no I'da razao. "Este faculdade que o homem pode ideraz como sendo a que Ihe € prépria, elevada cima da morte ¢ da destruigéo... € capaz de tomar decis6es por BE si mesma, Bla se anuncia como razdo. Seu legislar de nade F — depende, e ela néo pode buscar seus critérios em nenkuma Bi outra autoridade, na terra ou nos céus Pare Hegel contudo, a ra2io née pode governas, | Ste a realidade se tenha tornado racio sacionalidade € poativel pela inrapgo do conteido da natureza e da histéria. & esta concepgao que Hegel resume na mais fundamental de suas sent her, que o Ser é, na sua substancia, um significagéo desta sentenca s6 pode ser a preensto da Légica de Hegel, mas tentaremos dar aqui uma Intespretagio proviséria, que seré desenvolvida mais adian~ te (7). chegaré a. percéber que a “berdade, que e individva 7 de propriedade, Bm conseq " deve ser_modificada at 2 ordem social exi raite, No ca dalismo abolidos, a livre compe homens igualados diante da id. O pensamento deve govesnar a redlidade, O s homens pensam ser_verdadeiro, cesto dade como tim processo des sasko de Forgas cor | te 0 eu ou a consdl epistem ig, a saber, aquela de uma unidade que se autode- senvolve em um processo contradit6rio. Tudo 0 que existe 86 “real” na medida em que atua como algo que € “o mesmo” através de tOdas as relagdes contraditérias que constituem sua existéncia; deve, pois, ser considerado como uma espécie de “sujeito” que se autodesenvolve pela revelacio de suas samento que designem normas ¢ condigées universalmente va- lidas, sew pensamento nfo podera pretender governar a lidade. Em consonanci i objetivos, ¢ intrinsecas contradig6es. Por exemplo, uma pedra s6 € uma : Todas luminismo Prancts, e suas suces- peda enguanto continua a ser a mesma, isto €, uma pedra, revolt , definiram a razo como_uma forca através: da agio e da reagéo que apresenta diante das coisas : ica ob ie, uma vez libestada dos grilhdes do € dos processos que com ela se relacionain, A pedra se molha despotismo, faria do mundo um lugar de progresso e felicida- a chuva; sesiste & picareta: suporta um certo impulso até ; se deslocar. Ser-uma-pedra ¢ um cont ser e de ser uma pedra. Certamente 0 nfo € con- sumado pela pedra como o seria por um sujeito consciente A pedra € transformada por suas interagées com a chuva, a picareta eo impulso: ela ndo se transforma a si mesma, fae se desenvolve por si amanhé uma flor, mas passando pela flory © se preserva em si uo processo de vir-a- jo “compreende” éste desenvolvi como set proprio desenvolvimenté to. Ela nao o "real ©; por conseguin jtencialidades até o estado de ser. Tal processo do verdadeiro sujcito, e 96 & _£ atingida_pe cia do homem, 56 o homem tem o poder de aul o poder de serum sujelto que se autodetermi processes do , pois_s6 éle tem. _conhecimento de. “c ‘existéncia € o processo de atuslisacso de sues po- idades, de adaptacio da sua vida as idéias da razio. impo: joria da razio, a “| raako pressupee a liberdade, o poder de 0 conhecimento da verdade, o poder de ajustar a realidade as potenc fins_pertenc senhor desenvolvimenfo_e que compreende suas préprias_potencia- lidades_e_ a8 das coiens a sua v. PressupSe_a raze, pols $6 0 co paclta 6 suj no 0 possul ie & senhor de seu proprio A liberdade, em troca,4 Imento compreensivo ca» reer Esse poder. A pedra mbas © Conhecimento ide real. "Q_homem, € 86 por isso é real. Razao e liber= conhecimento”. (8)... poxém. sabe. que éle dade nada sio sem és A razo desemboca na liberdade, e a liberdade € a exis- tencia do sujeito. A propria razio, por outro lado, 56 existe Et) pois, um ‘A vida da razfo aparece para compreender 0 existente, verdade compreendida des da hi do_cada_um_déles_um_ cada_um_déles_repres lizagdo_ da raze. Cada est iido como uma do pensar e do instituig6es pol sofia. Existem Widadle, modes de realizagio, O £ 0 objeto néo_esiao separados por _um abismo. eravel. pois o objeto €, em si © mundo hist6rico considerado laso ao progressoiracional da humanidade — 0 mundo ico que nao € uma eadeia de atos e acontecimentos, fa incessante, bara adaptar © mundo as crescentes bnidade. um_estagio_definido_da_rea io deve sez apreendido e enten- as. dominantes és de sues xaxo, mas BA apenas uma razio, da mesma forma que _h& apenas uma eta altima € aquela para a Tepouso no m condigées, sua i da cadeia inieia no mais baixo alta’ forma de existéncia, tolalidade © uma verdade;..a. reallzagio_ di a verdadeira rea Uma unidade imediata da radigeida realidade jamais ‘A unidade s6 aparece depois de ios que de quando em quando se consumam, s afora, no imenso altar da terra. Bste € 0 Gi fim que a si mesmo se realiza e perfaz: 0 incessante de aconteci jade". (9) Tongo proceso que J da’ natureza e chega A mais téncia de um su} 2 | f racional, vivendo ¢ agindo na autoconsciéncia de suas po tencialidades, Na medida em que haja qualquer hiato entre © real e 0 potencial,’o primeiro deve ser trabalhado e modi- ficado até se ajustar & razio, Enquanto a sealidade ‘nfo es- iver modelada pela razio, jndo_sianifica tudo. \iranio, se deveria chamar lmodo condizente com os padrées, da razio. “Real” € 0 ns jcionalizavel (cacional), ¢ 86 éste o & Por exemplo, o estado de quando coresponde as potenci dades reais dos homens ¢ permite o pleno desenvolvimento delas. Qualquer forma previa de estado que wvel ainda néo é, ico e polémico. Ble se opbe a toda de_um dado estado de coisas, Ble nega a’ nia de qualquer forma dominante de, existéncia, denun- cigndo os antagonismos que a em em formas. /Procuraremos mosirar que o dé contradigéo” € 2 mola _propulsora do método di de Hegel. (10) Em 1793, Hegel escreveu a ‘A razBo € a lic wam 2 Set 0s nossos prin no ha diferenga entre os sentidos fi léstes ‘que so expressados em guagem revolucionss dos Jacobinos. franceses. Por exemplo, Hegel diz que o sentido da sua época esta no fato de que “a auréola que envolvia os principais opressofes € deuses da terra desapareceu. Os fildsofos evidenciaram a dignidade do homem, 0 povo aprenderé a senti-la e, em vez de continuar simplesmente clamando por seus direitos pisoteados na lama, por si mesmo os haveré de impor, déles se aproprlara. A religido ¢ a politica jogaram o mesmo jégo. A\ primeira pregou 0 que 0 despotismo gostaria de ensinar: 6 desprézo pela humanidade e a conviegio da incapacidade do homem a perfazer o bem ea realizar sua esséncia por seus préprios esforcos”. Encontramos afirmagées até mais indo em que'a realizagio da razéo requer um que contradiga a ordem dada. No Erstes System programm des De encontramos 0 seguinte ha a idéia de uma mnaq Gpksage, € alas de mec 0 que € objeto de iberdade pode ser chamado uma idéia. Devemos, por guinte, transcender 0 Estado, pois cada Estado se I ftratar 0 homem como se éste f0sse um, parafuso em uma m que ele 08 filoséficos de Hegel foram decadéncia. N (1802), Hegel declarava que o estado alema cada do século dezoito, “nao era mais um estado”, Os re- manescentes do mo dominavam ainda a Alemanha, despotismo tores, por 94 principes eclesidsticos e secula- es, 103 bardes, 40 prelados ¢ 51 cidades imperiais, compu aha-se em resumo, de aproximadamente 300 territérios”. O proprio govérno “néo possuia um Gnico soldado, sua renda anual se elevava a apenas alguns havia jurisdigéo centr @ paises estean- Severa censu- \ govérno e seus prop: Sho. (14) A situagio geral foi descrita, por um contempo- Faneo, nos seguines térmos. “Sem lei ou justica, sem prote. ) séo contra a taxagio arbitrétia, incertos quanto a vida de noses fillios e quanto & nossa liberdade e aos nossos direitos imas impotentes do poder despético, faltandd & nossa exis. ia unidade e espitito nacional... — esta é a situacéo de nossa nacido". (15) Em vivo contraste com a Franga, no tinha a Alema- nha uma classe média forte, consciente, politicamente edu- cada, que liderasse a luta contra aquéle absolutismo, A no. breza_teinava sem oposicéo. “Na Alemanha", observou Goethe, “dificiimente alguém havia de se lembrar de invejar esta massa tremendamente privilegiada, ou de Ihe discutit as alegres regalias". (16) A classe média urbana, distribuida fem numerosas municipalidades, cada uma com seu préptio 5 Interésses locals, era impotente para cristalizar e efetuar qualquer oposigio série. Havia contlitos, 6 certo, entre os nobres dirigentes e as guildas e os artesdos, nao atingindo, porém, tais conflitos, em nenhum momento, 88 proporsées de um movimento revolucionario. Os burgueses faciam acompanhar sues peticdes € queixas de uma prece para: ‘que Deus protegesse a Patria do “terror da revolugao". (17) Desde a Reforma Alemé, as massas se haviem habituar do ao fato de que, para elas, a liberdade fésse um "valoh {nterior”, compativel com tédas as formas de servidio, de que 8 obediéncia devida a avtoridade constituida fosse um Pré-requisito para a salvagdo eterna; de que o trabalho arduo € a pobreza fossem uma béngio acs olhios do Scikor. Um, Jongo processo de treinamento disciplinar havia interiorizas do, nés alemées, as exigéncias da liberdade e da razioallm dos papéis detisivos do Protestantismo foi o de indusir os individuos emancipados a aceitarem 0 ndvo sistema social que se havia implantado, desviando do mundo exterior pars a vida interior suas exigéncias e solicitagdes. Lutero coracteri- ara a liberdade cristd como um valor interno a ser realizado dependentemente de t8da ¢ qualquer condigio:exjerne, A realidade social passa a ser indiferente quando 6 Yue est em guestéo € a verdadeiza esséncia do homem, © homem apren- dera a exigit de si mesmo a realizacéo de suas. potenciali- | I Pr se moralidade, que néo podia ser abalado por realidades € i © sistema de Hegel ef alt'ma grande expressio at dades, e a “procurar no interior” de si mesmo, e nio no mundo exterior, a plena realizagéo de sua vida. (18) A cultura alemé € inséparavel de suas origens no Pro- testantismo, ste inaugurara um reino de beleza, liberdade conflitos exteriores; tal reind se apartava do miceravel mun. do social € se fundava na “alma” do individuo. Este desio. camento € fonte de uma tendéncia muito evidente no idea. lismo alemio, qual seja, a disposicio a acomodar-se com fi a realidade social. Esta teadéncia concilitéria des idealstas if * entra muites vézes em conflito com seu .racionalismo critics Em dima andlise, o ideal apontado pela atitude critics saber, a reorgenizagio politica ¢ social do mundo, acabave or se frustrar ¢ se trensformar em um valor espiritual, As classes “educades” no exerciar ocupagées pritica € Incapacitadas por Este motivo para aplicar a propria taco a reforma da sociedade, encontravam satistacao no. mundo da ciéncia, da arte, da filosofia e da 1 fomara, para elas, a “verdadeica realidade”. transcendends | das condicées sociais existentes; era‘o lugee em que se refugiavam a verdade, a bondade, a beleza, a {elicidade « \ © que mais importava, era o lugar em gue se refugiave \~disposiso critica que no se podia submeter a cadeias soc! A cultura era, entio, essencialmente idealistica, ocupsda com des coisas, mais do que com as prd berdade de pensamento era posta acima di @ moral acima da justica pratica, a vida interior acime da vida social do homem. Entretento, justamente porque se manteve distanciada de uma realidade intolerével, conservan- do-se, por isso, intacta ¢ imaculada, aquela cultura idealist. ° ca, ndo obstante a falsidade de suas consolagées e glorificas iy como um zeposilério de verdades que no tinhom das na histéria| ta humanidade, dealismo cultural, a ‘ultind ‘grande tentativa para fazez do da razto e_da‘liberdade. O impulso erica oviginal déste pensainento Foirpigrlin, forte bastante para induzir. Hegel a abaridonar o tradicional afastamenta FINE 9 Mealiomo e a histsia. Ble fee da ilosotia um lato, histérico concreto, e trouxe a histéria & filosofia 25 A historia, porém, quendo plenamente compreendida, destréi o esquema ideaiistico. O sistema de Hegel esta necessdciamente associado a uma dada filosofia politica, e a uma dada :ordem social politica, A dialética entre a sociedade civil ¢ 0 estado da Restauragio-hem € um acidente dentro da filosofia he, nem €, tdo-Sdiféhte, uma seco de sua Filosofia do os prineipios daquela dialética jé faziam pacte da estrutura conceitual do sistema de Hegel. Por outro lado, os conceitos Disicos deste sistema sdo nada menos que o pice de toda tradigao filoséfica ocidental, Bles sé se tocnam, compreen- sivels quando interpretados & luz desta tradigéo. ‘Tentazemos, pois, de modo muito sucinto, situar-og con- ceitos hegelianos no seu cenario histérico concreto, Cabe-nos remontar a0 ponto de partida do sistema de Hegel, as suas origens na situagio filoséfica do seu tempo. 2. O eenério filoséticn empicismo inglés, ¢ a-Iuta,entre as duas escolas no signi- ficava simplesmente o chogie entre duas filosolias diferen- tes, mas uma luta’ em que estava em jdgo a filosofia como tal. A filosofia nunca deixara de seivindicar o direito de: Guar 08 esforgos humanos que visam ao domiaio racional} da natuieza ¢ da sociedade, baseando tal direito no fato de © idealismo aleméo defendia a filosofia dos ataques ral ser ela que elabora os conceitos mais altos e mais gerais que!,| servem ao conkecimento do mundo. A significagao pratica da filosofia assumira, com Descartes, uma nova forma,’ que se ajustava ao imenso progresso das técnicas modernay. Ble! anunciara uma “filosofia prética, pela qual, por conhecer. a° forca € a acéo do fogo, da agua, do ar, dos astros, dos céus € de todos ‘os outros corpos que nos cercam... poderemos emprega-los em todos aquéles usos a que sio apropriados, liseenando-nos assim como que mestres e possuidores da na- Feareza". (19) a A realizagio sempre mais ampla desta tarefa deperidia do estabelecimento de leis e conceitos cognitivos validos univer: 25 Ih} pressupwnhiaa. conhecimento da verdade, e a verdade era universal, em contsaste com a aparéncia’ diversificada des coisas ou com sua forma imediata na percepcao individual, Ja 0s mais antigos esforgos da epistemologia grega haviam Sido animados pelo principio de que a verdede € universal e necessatia, € contraria, pols, a experiéncia ordinaria de mu- danga e acidente Esta concepcio ~ que a verdade contraria os fatos co- muns da existéncia, € independe de individuos contingentes = perdurou por tdda a época histévica em que a vida social do homem foi constituida por antagonismos entre individuos € grupos conflitantes. O universal foi hipostasiado, como numa reagéo filos6fica a0 fato de que, na histéria, tivessem prevalecido tdo-sdmente os interésses individuals, enquanto Que © interésse cofnum 86 se tivesse podido aficmar “A reve- Jia daqueles, O° contraste entre 0 universal e o individual assumiu umia forma exacecbada quando, na era moderna, cres- ceu o clamor de liberdade geral ¢ sustentou-se que uma orden social apropriada 6 se poderia efetivar pelo conhecimento. € a atividade de individuos emancipados. Todos os homens ha- viam sido declarados livres e iguais; todavia, a0 agir de acér do com seu conhecimento ¢ em funcdo de seus interésses, os: homens haviam criado e experimentado uma ordem de depen- déncia, de injustica € de crises periédicas. A competicao geral entre sujeitos econdmicamente livees nfo havia estabelecido- uma comunidade racional que pudesse salvaguardar e satis fazer as necessidades € aos interésses de, todos os homens. A vida dos homens fara sacrificada aos mecanismos econd- micos de um sistema social que relacionara.os individuos uns ‘498 outros como compradores e vendedores isolados de met cadorias, Esta auséncia de fato de uma Comunidade racic nal era responsavel pela busca filoséfica de unidade (Einheit) e.wniversalidade (Allgemeinheit) na sazdo. Poderia, no entanto,"a estrutura do raciocinio individual (a subjetividede) produzir leis e conceitos' gerais que pudes- sem constituir 08 padrées universais da racionalidade? Seria possivel construir-se uma ordem racional universal, fundada a autonomia do individuo? Ao responder afirmativamente or z il! dade, que @ wai ‘confitide pelos Bos fatos sem, alemies, este at 0, & propria lela razao’ Boderia aspizar’ a universali- ide Gi_idedo era apenas uma unidade St pele costume, unidade gi adefia jamais, o9 governar. Segundo os idealistas lade empirica; néo eram fatos. Alem estrutura da realidade empirica parecia cons Tirmar a hipétese de que elas nunca poderiam ser derivadas de © a universal trariando existéncia fatos. Se le as presses e pr ilos6fico, idade de um Weltbiiegerrei de Fichte, € sua construgio de uma sociedade cada e reg nalmente entre lade por meio de sua razdo autnom: a os fatos, teria de expor néo sémente sua homem, pois, niio conseguisse criar a unidade cons ‘ctual, como também sua existéncia material, rocessos desordenados do tipo de vida empi. ica dominante, O problema no era pois um problema mera, mas ligava-se ao destino histérico da. hus ; entre 0 conceite do Eu puro ‘Stalmente jada (der geschlossene, Handelsstaa); ia de razlio, de Hege)) e "tua detinigao 10 dos interésses Comuns e indi tasdo das idéias gerais, Tentaremos mostrar que 9 direito que assistia & razéo de dirigic a realidade, dependia da stpacidade do homem sustentar verdades 2 pero mama lidas em geraf. A razio sidade que seriam, por. sua, gazio, Tais_conce Geis gers dine tendimento, por tle forjadaé para uso propri apenas com simbolos. .. mos o pacticular, resta de gere BPenas 0 que foi nés proprios". (20) Para Hume as idéles traidas do particular, © “reprétentam” o particular. © apence Har. (21) Jamais poderso fornecer regras ou prin- s universais, Se estivermos obrigados a concordar com Hume, teremos de desis lade organizada, pols. como vimos, tal exigéncia se funda na capecidade due fem a razéo de atingir verdades cuja velidez ngo fol derived da experiéncia, verdades que rier (22) Esta conclusio, a gue levai 20s limites do “dado”, coisas ¢ dos acontecimentos. Com ‘mem superar ndo apenas, amento di xe menio € da fé, como poderia o homem como podetia agit de acordo com i nko aceitos ¢ estabeleci da ordem estab resultave néo $6 0 c Oxia, i" jo de o: com'6 desespéro que éle pudesse suscitar, a desespe de,.e que to depressa nos 2c idade de satisfazer'a um de desaparece. Quando percebemos gute limites da razdo humena, tos. (23) igimos os cruzamos os bragos, sa ndo a ver Qiiando por meio deles abandona- poderiam, até mesmo, contra- “Nao 6 a razao que guia a vida, ms to da razéo? Se a ito Fossem as Gnicas fontes ‘do conhedt> it conta o habito, “Pois € certo que nga causa em nés quase que o mesmo efeito da memos com a im- ® proprio desejo 29 Os idealistas alemaes consideravam aguela filosofia a expressio da renincia & razio. Para éles, atsibuit « comers | cia das idéias gerais @ forca do habito. on derivar de meca- ‘nismos psicolégicos os principios pelos quais se apreende a realidade, era. mesmo que (aegar a-verdade € a razao, les percebiam que jo que € psicslégico no honjem ‘esta sujelto @ mudangasy-Orpsicolégico & na verdade, um*dominio de in- certeza € acaso de que nio,\é possivel derivar fualguer is cessidade e universalidade; e as Gnicas garantias da raza ‘so, entretanto, a Gecessidade ea universstidadse lade?"argumenta- vam os idealistas que a realo teria de se curvar aos ditameg dos ensinamentos empiricos, a nao ser que se pudesse mosy jtrar que aquéles conceitos que exigem necessidade ¢ univers, salidade sao mais do que produtos da imaginagio: a nao. ser que se pudesse mostrar que sua validez néo é derivada da— xperiéncia; a néo set, enfim, que se pudesse mostrar seren, les aplicévels & experiencia, sem dela serem provenientes “Por outto ladé, de conhetimenito pot meio da rerio (eo, uahecimento por mefo de conéeitos nio derivados da ex. “periéncia) ignite meialisia, entdo 0 ataque a metafisicn € ao mesmo tempo, um alaque &s condigoes da rece humana, pois o direito que assiste a zazio de dirigie a exp rigncia.-constituia um dos aspectos daquelas condig6es, i an ea addta a opiniaéo dos empiristas,'a saber, a opinizo® | + € limitado pela experigncia: que 36 a experiencia fornece a (Matéria. para os conceités da razig., Néo hd mais forte’ -afirmagdo empiristica do que aquela que esté no eomégo da Critica da Razéo Pura, “Todo pensar, em éltima andlise, deve relacionar-se, diseta ou indiretamente, ... a intuigées, ¢ por- fanto, em nés, a sensibilidade, pois de nenhuma outra ma- neira nos pode ser dado um objeto”. Kant sustenta, poréiiy—~ . “que os empiristas ado demonstraram que a experiéacia de. ‘erminasse também por que meios, e de que maneira, havia de se organizar aquela matéria empitica, A independénci 2 liberiade da raxio estariam salvaguardadas se se de- monstrasse que os principios de organizacio eram Sroptiedade \igata do espitite, Rumano, indo sendo derivados, pols. da ex. Periencia, A propria experiéneia passaria a ser produto da tardo, uma ver gue no mais setia consti plicidade desordenada de sensagdes e impressdes organizagao plenamente inteligivel destes foc Kash mictende provar que o eapiits formas” universais que servem para organiza a mi de de. dados a €le fornecidos pelos sentidos, As pela multi- mas pela Sina.Tals formas. sio_universalmente. vilides oa ole constituem a propria estrutucn dp espn mundo de objetos, como uma ordem io pelo individuo, mas por aguéles atos de intuiséo e conhecimento gue sao comuns a todos os individuos, j& que constituem as condigées mesmas da experiéncia, Esta esteutura, comum. do. espi gnsciencis transcendentil”". Ela consiste nas formas da intuigdo € do entendimento que, conforme & analise he tiana, nfo sao arcabougos estaticos, encontradas tdo-somente nos atos de tito. foi denominada, por 2rasotring Ue causa ¢ efeito, substincia, reciprocktade, eter ® feualidade déste complexo € unificada na “apercepyaa at » que relaciona téda e qualquer experiéncia 20 Eu pensante, dando assim A experiencia a co de ser “minha” experiéncia, Bstes processos de @ priori € comuns 2 todos os espiritos, wniversais portanto, sho interdependentes ¢ se aplicam in foto a cada ato de co- nhecimento, a da epercep- "u penso”, a qual acompanha cada experiéncia, Por meio dela, o.Eu pensante se reconhece como continuo, presente e ativo na sucesso de suas experiéncias. A apercepgao transcendental & por con- a base ditima da unidede do sujeito e, pois, da uni- ide de todas as relacses obj transceridental depende da inatés da pelos sentidos: €. consciéncia transcendental que e massa daquelas impressoes se transforma em um mundo organizado de objetos e relagses coerentes. Jé que, portanto, s6 conhecemos as impresses no contexto de formas a px ‘nao podemos conhecet gue ori bes, Estas coisas-em-si, que presumimos 9 ard a sex mero pr lo-de poder sobre a estrutura ob jo se separa em duas partes: a subjetividade e a, tividade, 0 entendimento ¢ a sensibilidade, 0 pensamento e . Segundo Hegel, esta separagio aio constitui €s- temolégico, Iniimeras vézes ele sujeito e objeto, ou melhor, sua acentuou que-a selagio entre oposisio, denotava um confl le descreveria @ forma hist sio"_(Entfvemdung) do dos objetos, oti sroduto do, trabalho e do conhe ‘mento humano, se tornara independente do homem e pass: a 10 entanto, por meio das operagées da} lo por forges e eis mas. au conhecia. Ao mesmo tempo, o pensamento| idade € a verdade se transformave em um| ideal inoperante preservado pelo pensamento: ‘6 mundo real era deixado tranqtilamente fora da pensamento. Se o homem no co aradas de sev mundo, dentro do campo A frustragio. O papel Bragio geral, era'o dee a_perdida unidade e fotalidade. Hegel expressa éste principio no conceito de razio. Pro- curamos esbosar as raizes sécio-histéricas e [iloséficas déste , que € o conceito que liga as idéias progressistas da Revolucdo Francesa as correntes dominantes da discussao fi- oséfica. A razio € a.verda todos os antagonismos do para constituir a genuinilu todos os dominios do ser sob Os mundos inorg so postos aqui sob odor Hegel considera o caréter sistema | ‘im produto da situacéo:histécica, A bi giv uma eta-l pit na qual € possivel a realizagéo da liberdade humana. A liberdade, entretonto, pressupde a realidade da ta2io, O ho- mem%6 poderia ser livre, s6 poderia desenvolver tédas as fuas potencialidades se seu mundo estivesse dominado por sima vontade racional totalizadora eipelo conhecimento, © sis- fema hegeliano prevé um estado em que esta condicio estives- e-zealizada, O otimismo histérico que éle trenspira fornece bases paca o chamado “panlogismo” de Hegel que considera iéda espécie de ser uma forma da razdo. As transigoes da ica a Filosofia da Natureze ¢ desta sltiita & Filosofia do io de que as leis da natureza io gEE'8. sem solucio de con- is do espirito.-O reino do es cum- 0 da natureza € produzido sob nto das potencialidades ine- 2 sentes & realidade. Hegel se refere a realidade que condigao como sendo "a verdade”, A verdade nfo tem a ver apenas com proposicdes e julzos, isto & ela nao deito se, &.0 gue pode ser, s dades objetivas. Na linguagem de Hegel, pois, idéatico ao seu “conce Q conceito tem uma dupla fungéo. Ele compreende a na- tureza ou esséncia do objelo.em questao, repres 2 apreensio verdadeira déste objeto pelo pensament 10 tempo o conceito se refere & realizag3o efetiva daquela na- ius weisercia concrtis, Todos 08 eon- do sistema hegeliano so caraéterizados iidade, Bles famals & a3 siaz a todas asisuas possibil- ie € verdadeizo é,f Hegel nio pressu- ide mistica do pensamento ¢ da realidade, mas 9 pensamento correto representa a realidade por- iltima, no seu desenvolvimento, atingiu ¢ estagio em -xistindo em, conformidade com a verdade, OQ." pan- juase se transforma no seu oposto: poder- i 0 movimento da 0” expressa uma ocorréncia zeal. Tomemos, por “este homem € um escravo". De acérdo com fol escra- vizado (predicado) mas, émbora escravo, cor omen e, portanto, essencialmente livre e em opt 0 no € a at mas a expresso de um processo real do suj to, pelo qual éste se toma diferente de si mesmo. O sui € 0 proceso mesmo de vir-a-ser o predicado e de o contradt- zer, Rste processo dissolve em uma mi antagonicas os sujeitos estaveis que a légica tradicional assu- [mia A.realidade aparece como uma realidade dinamica, na Ea gual t@das as formas fixas se revelam meras abstragées, Con- seat , quando ica de Hegel os conceltos pas- sam de uma. forma a outra isto significa, para o pensamento Sonreto, que. uma. forma de ser passa & outra ¢ que cada forma particular 86 pode ser determinada pela tofalidade das rela- em que existe. ra Hegel, a sealidade atin- no modo da verdade, Tal exclarecimento. Hegel néo quer eo faca suas potencialidades, mas que o es} autoconsciéncia de sua liberdade, se toraou capaz di a natureza e a sociedade. A realizagio da razdo nao € um fato e sim uma tare jetos aparece "0 simples- de zeguer, pols, a "estado, que 6 dado, do ser. O oti. mismo de Hegel & baseado cin uma concepcéo que destréi o que € dado. Todas as formas so atingidas pelo movimento dissolvente da rezdo, cue as revoga e altera até que corre lam aos seus pséprios conceitos, Bste movimento é que é refle- elo pensamenta no processo de "mediagdo” lung). Se perseguitmos 0 verdadeico contetido de nossas ercepgbes e conceitos, téda delimitacéo de objetos estavels desaparscerd. Os objetos sio dissolvidos em uma multiplic!- dade de relacdes que esgotam seu conteido desenvolvido € gue se reduzem a atividade compreensive' do sujeito, A filosofia de Hegel € na verdade,,aquilo de que foi acusada por seus opositores imediatos: uma tiva, Ela é, na sua origem, m: fats. que aparecem ao 5 verdade $40, na realidad pode. ser conviecio critica. A dialética esta i idéia de. que todas as formas do ser sio perpassadas por a negatividade essen: na seu contetido e movimen ao rigorosa a qualquer forma de positivismo. De Hume aos Whee, fuistas Lagicos da alualldede ¢ prinerols de tol thecche tem sido o prestigio definitive do fato, e seu método funda- mental dé verifica¢ao, a observagio do dado imediato. O po- sitivismo . assumiu, em meados do século XIX, principal- mente em resposta as tendéncias destrutivas do racionalis- mo, a forma de uma “filosofia positiva” que englobaria todo 9 saber, e que ira substituir a metafisica tradicional. As figuras mais eminentes déste positivismo acentuaram com muito vigor a atitude conservadora ¢ acritica de sua filoso- fia: o pensamento era por ela induzido a contentat-se com os fatos, a renunciar a transgredi-los e a submeter-se a si- tuagdo vigente. Para Hegel, os fatos, enquanto fatos, nao tm autoridade. Files so “propostos” (gesetzt) pelo sujeito, que os mediatiza pelo processo de compreensio do seu de- senvolvimento, A verificagio repousa, em altima analise, nes- te proceso, ao qual se relacionam todos os fatos, ¢ que Ihes determina 0 conteddo. Tudo o que € dado tem gue se juis- ficar ante a razio; esta nada mais € que a totalidade daseea- pacidades da natureza e do home. A filosofia de Hegel, entretanto, que comega com a ne- aslo do dado e conserva pot toda a parte tal negatividade, chegaré a concluir que a Historia atingiu a ‘eslidade da’ ra zo. Os conceitos hegelianos basicos esto ainda vinculados a estrutura social do sistema dominante e, sob éste aspécto, pode dizer-se que o idealismo alem&o preservou a heranga da Revolugéo Francesa, Mas a “reconciliagéo da idéia com a realidade”, bio- clamada na Filosofia do Direito, de Hegel, contem, um elé= mento decisivo que anuacia mais do que a mera reconclii- so. Bste elemento foi preservado e utilizado pela doutdina posterior de negagao da filosofia, A filosofia atinge sua meta quando formula a visdo de um mundo no qual se realiza a razdo. Se neste momento a realidade reunir as condigdes necessérias para materializar a razio, 0 pensamento pode deixar de se referir 20 ideal, A verdadg, exigiria entéo a Pratica histérica real para realizar o ideal; ao deixar éste de Jado, a filosofia renuncia & sua terefa ct transferindo-a @ uma outra forca. O pice da filosofia €, pois, ao mesmo 36 tempo sua rentincia. Libertada da preocupacio com o ideal, 8 filosofia desobriga-se também de sua oposigio a realidade. Isto significa que ela deixa de ser filosolia, Nao se conclua, Porém, que o pensamento deva compactuar com a ordem exis. fente. O pensar critico nao cessa, mas assume nova forma. Os:esforcos da cazio voltam-se para a teoria social e para a Pratice s Cubes Com (el lool A filosofia de Hegel apresenta cinco diferentes estée gios de desenvolvimento: : 1. © petiodo de 1790 a 1800 marca a tentativa de for- mular uma fundamentagéo religiosa para a filosofia, como © atesta a coletinea daguele periodo, os Theologische Ju gendscheiften Hp 2. "1800-1801: formulagso do ponto de partida e dos in- ferésses filos6ficos de Hegel, através da discusséo critica dos sistemas filos6licos contemporaneos, especialmente os de Kant, Fichte e Schelling. As obras principais de Hegel, neste petiodo, séo: Differenz des Fichteschen und Schellingschen Systems der Philosophie, Glauben und Wissen, e outros at- tigos no Kritische Joucnal der Philosophie. 3. Os anos de 1801 a 1806. viram, nascer o sistema Jenense, primeita forma do sistemar completo de Hegel. Este Petiodo foi documentado pela Jenenser Logik und Metaphy- sik, Jenenser Realphilosophie, « 0 System der Sittlichkett. 4. 1807: publicagio da Phenomenologie des Geites, 5. Periodo do sistema final. que fora esbogado en- tre 1808-11 na Phifosophische Propideutik mas no se const ~ mara até 1817. A éste periodo pertencem as obras que cons- fituem a parte mais volumosa dos 'escritos de Hegel: Wise senschoft der Logik (1812-16), Enzyklopadie der philoso- phischen Wissenschafter (1817. 1827, 1830), Geundlinien der Philosophie des Rechts’ (1821), ¢ os varios cursos em Ber- lim sobre a filosofia da Historia, Histéria da Filosofia, Es. tetica ¢ Religido. EM A elaboracao, do sistema filoséti Panhada por uma série de textos pol aplicar suas novas idéias filoséficas a de Hegel foi acom- feos que procuravam tages historicas w concretas. Este processo de relacionar conclus6es filosdficas & trama da realidade politica e social comega em 1798 com seus estudos histéricos ¢ politicos; € seguide por Die Verfas- sung Deutschlands em 1802, e continua até 1831, quando Hegel escreveu o estudo sdbre o Reform Bill* inglés. A rela- ao da sua filosofia com os acontecimentos histéricos daquela €poca faz com que os escrites politicos de Hegel sejam paste da sua obra sistematica; ambos devem ser tratados em con junto a fim de que os conceitos hegelianos basicos sejam compreendidos no 36 sob o ponto de vista filoséfico, como istérico € politico. *"Frojeto ae rerorma eteivort, aprovade pelo Pertemento inglés em 1002, B I O Jovem Hegel: Escritos Teolégicos (1790-1800) Se quisermos participar da atmosfera em que se ori- ginou a filosofia de Hegel, devemos voltar-nos para o cenatio cultucal e politico do’ sul da Alemanha, nas décadas finais do século XVIII. Em Wirttemberg. pais dominado por iim despotismo que viera de admitic algumas ins cantes limitacées constitucionais a0 seu poder, as idéias de 1789 estavam comegando a exercer forte impacto, particular- mente sobre.a juventude intelectual, O perfodo anterior, de real despotismo, parecia haver terminadd; termirara aquéle despotismo sob 0 qual 0 pais todo fora oprimide por constan- tes recrutamentos militares para guecsas com 0 estrangeiro: Por pesados impostos arbiteérios; pela coscupgio administra- tiva; pelo estabelecimento de monopélios que espolia- vam as massas e enriqueclam os cofres de um principe extravagante; pelas sibitas prisées, que se seguiam as mais Teves suspeitas ou movimentos de protesto. (1) Qs conllitos entre o dugue Carlos Eugénio ¢ as dietas haviam sido resol- vides em 1770, por meio de um tratado, ficando assim xemo- vido © maior obstéculo ao funcionamento de um govérno centzalizado; o que dai resultara, porém, f6ra apenas a pas- tha do absolutismo entre 0 dominio pessoal do duque © os interésses da oligarquia feudal. © Tluminismo Alemao, enteetanto, que era o comple- mento mais fraco daquela filosofia que, na Feanga ¢ na In- glaterra, havia arruinado o arcabougo ‘deolégico do estado absolutista, infiltrare-se na vide cultural de Wictemberg: 0 duque exa um discipulo do “déspota iluminado” Frederico Ul da Prussia, ¢ no altimo periodo do seu dominio entregara-se a um absolutismo esclarecido; 0 espirito do Huminismo cres- a

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