Você está na página 1de 16
rei 90 by ee hie Fred has i eee pre i paint ‘eg id itr fg fe Eg ‘clin pods aamio do prams depart bon, ‘ine coop Nai ad Rega Batons 12 pe simp —De Crit Cao nde mr 1922038) eat Spo Dammeemick hte ted se ‘on gm de CCl ate iin tin: Clic A meméria de meu pai Conclusao_ Das Luzes a Televisa B durante a primeira metadedo século xv que e devosio bbarrocaatinge o parexismo no México: aigreja colegal de Nos sa Senhora de Guadalupe € concluida em 1708, santuério do, Cristo de Chalma & consagrado em 172%; Viegem de Gusdslu- pe adquite uma inwénci que nfo conhece mas limites — cla se toma a padrociraofcial da Cidade do Mésico, em 1737, de ‘Tlaxcala, em 1739, Novas devogoes eclodem no interior: as da Virgem de TIsipujahua, um centro mineio na estrada do Mi choacin da cruz de Tayacapan (1728), ou ada Virgem do Pa- ‘wocinio, de Tepelatinco, que resttu a vidaso fio de um es- cultorindigena em 1759, O franciseano Antonio de la Resa Figueroa, uma des figuras mas ativas da ordem no século xu langaexse novo culto mandando imprimir gravuras da Virgem «em 4 mil exemplares, que, evidentemente, se revel, por su Ver, rmlagrosos.£ verdade que nem todas est devogOes conbecem & ‘mesinalongeviade: depots deter realizado 32 milagres no espa- 0 de trs anos, a imagem de Tepetiatzinco perde 0 fervor dos Seis na segunds metade do séeulo [esse periodojé prevalece outro tom. Em 1774, uma ima- gem milagrosa da Virgem aparece num gro de milho para uma {ndia de Tlamacszapa, pert das minas de prata de Taxco? O en- tsiasmo ea receptividade dos fis iriam, dessa vez, entrar ex choque com uma acolhida mais que moderada das autoridades. Sea efervesctncia barroca ainda se perpetua nas masssrursise ‘urbanas as autoridades coloniais se preparam pars joga otras ‘artas A coroa espanhola abanlona gala barraca por pene ‘war soba égide de uma dinastiafancess, na 6bita do despais- mo exclarecido: com os Bourbon, notademente ob o implode Carios,0 mundo hispanico ¢projetado,vlensnolns, a mo- dernidade. epoca dareformase dss rupturasruidosas:8 Com: panhia de Jesus — que cruzamos nas oigens da imagem bereo- ‘xe que asseguroulargamentesuadifusio eseuéxito— éexpulsa dda Nova Espana em 1767." As lites da metr6pole eda coldniacomecam a se preoen- par com os excesos eas superposigdes que seu ver, nfestam 0 ‘mundo indigena eos meios populares. No quadro da retomada de controle das possesses colonias, a administagio dos Bour- bon exibe um nove modelo de ivilizacto que ultrapase a efor ‘ma institucional eeeonbmicaeataa de fente a sensiblidade re ligiosae esttica ainda dominant. A insalagzo desse modelo intercontinental — de Népoes ao Mérico — repousa na convic- «io de que um abismo incomensurivelsepars a igaordncia das ‘massas es zs das cites A recuperagio abrangente que howve ina era barroca di lugar &reeiggo desdenhosse&repressto fra ‘organizadas pelos burocratas desprovidos do olhar humanista ‘que temperara, no steal xv, viléncia dos religiosos Sob ain Mluéncia das Luzes, ucessvaspausasiriam, se ndo scar, 0 me- ‘nos estanca a grande mare baroca © catecismo elaborado pelo rv Conelio Mexicano (1771) —como, sis, maioria das deisdes da assembléia —demons- tra essa nova mudanga de rumo quando adverte os que se poem “ing milagre, revelagbes reliquias, ainda que ej com o ob- jativo de aumentara devoga0"* Até nto tina havido um lxis- mo muito maior com os que queriam “aumentar a devogio".O timos dectnias do séeulo xx paras reorganiate retomar pé no pais paradoxalmente, é*sobo eine das liberais (1859-1910) que ‘laefeua a reconquists"” Em 1895, 0 coroamento solene da ima- _gem constitu talero apoge oficial do culo &Virgem do Tepe ‘yc, em pretenga de ta a hierarquiaelesistica mas na ausén- «ia do dtador Porfirio Diaz como convem &laiidade ois aprofundow- to divérco entreas lites polities algre- jaeas devosbes populares O liberal Altarirano, visivelmente in- ‘omodado, considera que areligito catslica no Mexico s apa- rentaidlatria ou a fetichismo —termo em moda no século 1x No entanto, ndo consegue deixar de registrar o prestgio do culto a Virgem de Guadalupe. Em 1870, sua festa continua a ser “uma das maiores fests do eatlicismo mexicano seguramente « primeira pela populardade e universolidade, jf que também partcipam os indios eas pessoas de rao”. A unanimidade em tomo da celebragto permaneceu intact, “todas as rags..todas 8 lasses. todas as casas... todas a8 opinides de nosa politica” ‘Altamirano nose cansa de resaltar:“O culto & Virgem mex ‘nao nico lao que os une Sente-se, pos, embarago dese liberl pronto a denunciar 1 superstigfo, a “idolatria ee influéneia clerical, mas também fascinado pelo vigor, pela continuidade eautenticidade — lo e- ‘no — das manifestagbes populares, assim como pela for po- lice e social do simbolo:"€ a igualdade perante a Virgems €& lolatria nacional"® A asvciago do velhotermo “dolatra" com © adjetivo “nacional” tradur a surpreendentetrajet6ria de ume ‘imagem trnsformada em expresso da consctncia nacional, 0, ‘mais exatamente — ea sutileza éde peso —, num substitute que faria as vezes de conscitncia nacional No final do século, teria © culo s tornado "um culto exclusivamentereligioso pacifico’ limitado a esfera tranquilizadoraeviglada de uma religiosdade eutralizada? Pra niso que Altamirano queria acreitar. Seguiro destino dese evolugio até nosios dis implcara a \arefa conserve de retomar ehstia do catoliciemo no Mé- _xic, ¢outraainda mais comovente, que seria ade esruter evo Igo das cultras populares através das fases sucesivas da evo- ug, da urbanizaco da industrialiasSo do pals Até que ponto ‘com que formas ocrstanismo barraco se mostrou capaz de sobrevivere resist aos asaltos do iberalismo do séulo xX, de- pois da Revolusio Mexicana, que retoma na ConstitugSo de 1917 ‘bandeira do antclericalismo? Os pueblos, que se deslocam na torment revoluciondrislevindo seus santos padroiros ou are- volta dos Cristeros,que ensengienta os anos 1920, razem el. smentos de resposta que revelam a influénca de wm critsnismo popular que,no segundo caso, se desdobra ne reeigd obstinada A laicidade pregada pelo Estado mexicano. O que hoje subsste as cultuasindigenas demonstra o lugar que conservarem para imagem, desdeasetampas dos oratrios doméstcosatéas mis- cares esculpidas, desde a festas de aldea até os deslocamentos multitudinérios pera os grandes santuérios de Chala, da Vir- _gem de os Remedios ou da Virgem de Guadalupe. Sem esquecer ‘o submunda das favelas e dos prolerdios desenraizados que se oam, mais numerosos ainds, em torno dessas imagens € de muitas outs” ‘Asim sendo, parece — masse trata apenas de ums hipéte te de trabalho — que, fata de uma descrstianizasio profunds ede uma industralizaco real Mésico preservou até a Segun- «da Guerra Mundial, uma receptividade imagem herdada da re- ligiosidade edo imagindvio barrocos —receptvidade que expli- ct tanto expansio como, em certos aspects, os limites da cexperitacia do murals, ‘A Revolugso Mexicana, em busea de um universoimagéico enovado, ger 0 muralismo. Rivera, Orozco, Siqueiros lust ram, cada um a seu moda, que foi uma das grandes experita- cas plisticas da primeira metade do sfeulo x Sea imagem bar roca tinha sueedido a dos missionérios, uma nova Imagem Aiditics, por suave, a sucedeu, Quatro séulos depois da expe- riénca franciscan, 2 imagem dos“muraists"eobriy com ares os gigantescos 0 muros dos prédios pablics para a edifcagio ‘rewolucionira da populagt0, antes de reluirdiante de wm ava tar da imagem barroc,igualmenteonipresente e milagroso,di- andido por milhares de tela cintiantes, ‘Uma das primeitasobsergoes que hes fi fi de que deviamos ar im & epoca do guadro de aioe resale pintura mural ‘ea grande tea ].0 verdadio arta deve tabular par ate «pare areligito,e«rlgito moderns, oftche moderna £0 Es- tao soils organzado para Bem comm |. Minha etti- ‘xem pinturaresume-ea dot termos: rapier e superficie ito que ees pntem ecubram muitoe mos [io é Pedro de Gand exortando os dieipulos, mas Vasconcelos, iministo de Educacio Pablica, que se dria nesses terme, no Inco dos anos 1920, aos melhores artists mexicanos* Pode parecer paradoxal descobrr no muralismo mexicano eco distante, em verso lia, da imagem fanciacana. Eno en- tanto, os pr6prios textos convidam 2 esa aproximagio, Beate ‘mos um dos mestesetebricos do muralismo mexicano, Oro oy voltar em 1947 aos rags maiores dessa escola, uma corzenede propaganda revolucionti esoilistaem que aparece com criss perssténei ieonograi cite seus ne ‘mines mts, suas persue, seus milagre seus profes, seus santos padres, seus vanglisas seus soberanospontces; 0 Juv Final infra eo cu, osjustos os pecans ot heeps os imino wiuno da geja® Além da repetisfiesiconogréticas, dos repetidos emprésti- ‘mosa um "conjunto de imagens ultrapasadas"(Oro2co) «88 ¥e= 96 205 da sombra dos primitivo italisnosc do Quatrocentos (em Diego Rivera), delineiam se engrenagens comuns muito mais profundas 0 impeto utépico,o projet de difundir um dseurso ideolgico agressivoe acessvel as massas,a vontade de impor ‘uma ate redentorae de combate, desejo de rejeitar toda pin- ‘ura que, a exemplo do batroc, transcendess os grupos eas clas- ‘8 para destilar os fustos de uma unenimidade lusria. Os mu- ‘ale: dos anos 1920-50 fazem eco aos muros de imagens que se Aligiam expressamente aos indi do século x0. Restara, entre mil outras coisas, estabelecer em que medida ess aftescos com ptetensio hstérica retomados pelo ensno peloslivos escola. 1s, conseguiram animar eenaizar entre as populages do Méxi> coyde forma dradoura, um universo imagético nacionalista. Os hers da Independéncia eda Revolug jamais receberam cul= to que continuava a ser dedicado is grandes imagens religioas, ainda que sia inegivel que ailustragio 0s enha popularizado ‘em todo o pats. As novasliturgias aias no parecem ter td o impacto decisvo das grandes liturgasbarrocas —provavelmente Ihesaltou tempo, tanto quanto ofascnio da“imagem prodigios. TELEVISA: 0 “qUINTO PODER” ‘Scomuraismo lembra em certosaspectosasambigdesevan- alizadoras dos mestes dos afescos do século x, fabulsa ex- pansio da televisio comercial mexicana sob a ide da empress ‘Televisa, nfo deixa de evocar um retorno forte imagem mila- ‘gros invasora dos tempos barrocos." Aesafrescosentranhada- ‘mente mexicanos— pensemos na infuéncia do foleloreindige- ‘ana pintor Diego Rivers — se substitu a emanacio de uma cultura eletrdnia sem vinclos nacionais. Decerto,oadvento da imagem elevsiva fi precedido pelo cinema, que jé em 1895 ext bia"cratras to ersts como nés eto snimadas plas amas co- ‘mo nés” A nova ténica ais, 6 secularzava os espritos"para recomesar a semear de milagres 0 universo psiquico de seus e- pectadores As imagens do cinema mexicano sobretado em sua ‘dade de our, prepararam as massascamponesas eurbanas para ‘traumatismo da industialiaago dos nos 140; vecularama um {magindrio que, em harmonia com o ridio, sueesivamente mi- ‘now ow atulizou a tradigao iniciando as masss no mundo mo- emo através desu figuras emblemdticss, como Pedro Armen- dariz, Dolores del Rio, Maria Flix etantos outros A partir do final dos anos 1930 o Huxo de imagens cinematogrfica eis um ‘novo consens,cujo exo doravant eram os valores novos da c- dade eda tecnologia, a ilstes do consumo ¢ mesmo aasimila- {0 dos estereétipos no mais das vezes os mais denegridores* Por suas esolhas politics eculturas por suas esratégas, a televsto privada mexicana relangs a ofensva das imagens, f- zendo o contri, assim como o cinema comercial, do murlis- ‘mo de Estado. A experitncia da Televisa éexcepcional porque derruba as fronteirse estende sua influéncia sobre as popua- .6eshispnicas dos Estados Unidos edo resto da América Lat- 1a, antes de, hoje, penetrar na Espanha, numa conquista pelo avesso — reviravola imprevista ce uma guerra de imagens que jf dura cinco steulos. 0 &xito continental da Televisa est apoia- “Bm 19460 Festi de Canoes «Bop desea cinema meen € ‘pla Maria Candelaria de Emil eran," ini mei ea ‘Soir. se fmeaeo com um cil de amare alton eum eo “rvoceddenigns — tari conte a hist due imagens un gu “to, snbol do Mexico moder, ccandsiza campos dea lh (ge sem poder dai aad ino pian meioente Mati Jovem nique erie de modelo Nea pectoris eae {israel 9 prio do Mle dd que dem (rotons sum rine (Ver Raber ann rep dc nda Pai, Bora, 198, 1,9 978) {do numa poténcia comercial e numa hegemonia cultural e pol tica que atingem proporgbesquase miticas: até mesmo se empre- go, a seu respeit a nogto de“quinto poder” Sem abusar dos _galifcativos ¢forgosoreconhecer que no campo crucial daima- gem contemporinea o México adquitiv um dominio que iguala ‘eatéultrapass oda grande época barroca. © dispositiv insta- lado rompe com a dependéncia européia ee irradia num espa- ‘0 que transborda amplament o antigo territério da Nova Es- ‘nba. Fle difunde, desde 1950, uma imagem triunfalista que joga nas redes de uma culture comum e “apolitica" os setores ainda uo contrastados da populacio mexicana e participa com efics- ia desuasubmissdo ao poder insalado; uma imagem hab xa recuperar, para neuralié-lasecanalié-asvsualmente, a aspi- rages mais dsparatadas; uma imagem niveladora,destinada a provocar um consenso —"atlevsio deve sero trago de unio ‘entre todos os mexicanos™* — construldo sobre um modelo wni- versal de inspre¢do norte-americana ‘Acscamotessio da transeendéncia eda religifo em beneli- cio do consumo — fazendo assim, daquilo que e das engrenagens do imaginriobarroco, um fim em si mesmo — €0 abismo que separa a Televisa eo dispositive colonial. Uma exploracao sstemitica da atrago, da ubiquidade e da magia da imagem, a uniformizao dosimaginérios,arecuperagt das ‘mas populares —a lenda da Guadalupe f posi o ritmo ea ef- cca das novelas — os aproximam, [Nessa perspectiva talvezseexpiquen melhor os faustos de ‘uma exposigio deca pea Televisa Virgem de Guadalupe em 1988." Homenagem calculada, ents tentativa de recuperapdo fu transmissio dos poderes da imagem? No saguio, 0 rosto da ‘Virgem se inserevi, multiplicado, nas telas de video enquanto desfilavam incansavelmente os nomes dos generosos doadore. ‘Transigo suave, a dscrigo da prea 6 se igual 8 dscrigzo da spenas uma ‘Tlevisaobstinada em fazer esquocer a ambigio a logiceacima

Você também pode gostar