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Crnica - A BOLA

PROF :RENY 18/10

O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a
sua primeira bola do pai. Uma nmero 5 sem tento oficial de couro. Agora no era mais
de couro, era de plstico. Mas era uma bola.
O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse Legal!. Ou o que os garotos dizem
hoje em dia quando gostam do presente ou no querem magoar o velho. Depois
comeou a girar a bola, procura de alguma coisa.
- Como que liga? perguntou.
- Como, como que liga? No se liga.
O garoto procurou dentro do papel de embrulho.
- No tem manual de instruo?
O pai comeou a desanimar e a pensar que os tempos so outros. Que os tempos so
decididamente outros.
- No precisa manual de instruo?
- O que que ela faz?
- Ela no faz nada. Voc que faz coisas com ela.
- O qu?
- Controla, chuta
- Ah, ento uma bola.
- Claro que uma bola.
- Uma bola, bola. Uma bola mesmo.
- Voc pensou que fosse o qu?
- Nada, no.
O garoto agradeceu, disse Legal de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente
da tev, com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo
chamado Monsters Ball, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola
em forma de blip eletrnico na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir
mutuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha coordenao e raciocnio rpido. Estava
ganhando da mquina.
O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola
no peito do p, como antigamente, e chamou o garoto.
- Filho, olha.
O garoto disse Legal mas no desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as
mo as e a cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. A bola cheirava
a nada. Talvez um manual de instruo fosse uma boa idia, pensou. Mas em ingls,
para a garotada se interessar.

Luis Fernando Verssimo

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