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Revista de Economia Politica, vol. 21, n° 3 (84), julbo-setembrol2001 Resenhas Indiistria Cultural, Informagao e Capitalismo César Bolafio Sao Paulo: Hucitec/Polis, 2000 No mbito da tradigao critica ligada a eco- nomia politica da cultura e da comunicagio, o au- tor se propde a estudar as indstrias culturais no capitalismo monopolista. E preciso ressaltar, pri- meiramente, a importancia crescente das ativida des ligadas & cultura, a comunicagao ¢ a informa- ‘io; tal desenvolvimento caracteriza o capitalismo contemporineo. Por outro lado, conforme apon- tam boa parte dos relatdrios oficiais, esses setores se tornaram setores-chaves no que diz respeite provesso de crescimento. Assim, hoje, nao & mais possivel limitar a se da cultura e das produgées intelectuais a0 nivel da superestrutura, ou seja, considerar, ape- nas, a dimensdo ligada aos aspectos ideoldgicos, ani como 0 fazia a sociologia até a metade dos anos comunicagdo apresentam, hoje, uma tripla dimensio: i) como produgdes simbél cas, elas se relacionam com as dimensdes super- estruturais ligadas 8 Estética ¢ Ideologias ii) como setor econdmico no qual os capitalistas investem, possuem um infra-estrutura ligada as especificida- des desta economia; ii) finalmente, 0 sistema cul- acional cumpre fungbes socioldgi- cas e econdmicas, no seio do sistema global Ea partir dessas trés dimensdes que o autor lisar as indstrias culturais no capitalismo. ‘Tal abordagem implica em elaborar uma reflexdo a respeito do método e do objeto da ciéneia eco- nomica: no Ambito de uma abordagem histérica e marxista, 0 autor parte do principio segundo o qual, contrariamente & analise do mainstream, 0 mercado no pode ser concebido como uma ins- 70. A cultura © tural e cor incia abstrata, sem fundamentos historicos, socio ligicos ¢ simbélicos. A reprodugio do sistema, nas suas diferentes fases, implica na sua reprodugio material e simbdlicas nesta perspectiva, sero ana- as inddstrias culturais, A démarche geral adotada por Ci €a seguinte: cle deriva as formas que a informa- lisad: ‘ar Bolailo. 40 pode adquirir no capitalismo monopolista: a forma propaganda, que se relaciona diretamente com as fungdes ideol6gicas da cultura e coma cons tituicio do Fstadlo Moderno, que precisa unit econémica ¢ culturalmente, determinado espago e constituir assim uma naga; e a forma publicida de, que representa a mercantilizagao da informa. io a partir da venda de audigneia fa mercadoria “puiblico”) realizada pelos meios de comunicagio, is e principalmente as redes de televisio, os jor as rédios. A funcdo publicidade, que corresponde 4 fase monopolista do capitalismo, cumpre, ob mente, uma funcao econdmica: cla permite imple- ‘mentar a realizagio das mercadorias produzidas, no setor produtivo e, mais especificamente, con- tribui para aumentar a taxa de luero, aumentan- doo ntimero de rotagdes do capital. As inddstrias culturais sao analis. tir desta dupla perspectiva: uma ligada as suas fun- {goes ideolégicas e a outra a sua dimensao econd- mica. Por esta razao, a abordagem é intrinsecamen- te interdisciplinar; nao obstante, a problematica geral ndo deixa de ser econémica, quer em relagio 4s fungdes macroecondmicas assumidas por essas industrias, quer no que diz respeito as especifici- dades da economia deste setor. Por outro lado, esta interdisciplinaridade se justifica pelo fato, hoje re- conhecido pela maior parte dos trabalhos de an- ropologia, histéria ¢ sociologia econdmica, de que 6 funcionamento conereto dos mercados depende diretamente de certas mediagies simbélicas sem as quais ele ndo existe. F justamente esta fungio de mediagao que a indiistria cultural esta cumprindo. Num segundo momento, Bolaio faz. uma re. visdo bibliogritica critica dos diferentes trabalhos. realizados em rermos de economia politica da cul tura e da comunicagio: uma atencio particular & dada a escola francesa, ¢ as teses de autores como, Miege, Salaiin, Flichy, Beaud, Zallo e Herscovici, so amplamente estudadas. Trés temas relevantes, caracteristicos das especificidades desta economia da cultura e da comunicagio, sto aqui discutidos com profundidade: i) as especificidades ec ‘cas que permitem explicar por que a valoriza dos produtos culturais 6, intrinsecamente, aleats- ria; it) as modalidades particulares de insercao do, trabalho artistico/intelectual nos processos de pro: dugao semi-industrializados dos produtos e servi ‘cos culturais; ji) as diferentes formas de subsunga0 do trabalho ao capital Esta andlise ressalta as dificuldades de expli- cara economia deste tipo de produgio a partir dos instrumentos construidos em fungao de uma pro- dugio industrial; a este respeito, nem é preciso lem- brara posigao de Adam Smith no que conceme aos cantores, comediantes efe., nem a de Ricardo a respeito dos bens nao reprodutiveis. O produto artistico caraeteri © pelo fato de que as receitas {que ele gera no tém relago nenhuma com a quan: tidade de trabalho necessiria 4 sua produgio. Fm fangio da teoria marxista do valor, duras questies sio colocadas: i) em que medida, para este tipo de produ- io, esti havendo um processo de redugio do tra- balho concreto em trabalho abstrato, ou seja, so- Gialmente necessério? Isto ressalta o fato de que o capitalismo contemporaneo ca cteriza-se por um dluplo movimento: se, por um lado, existe uma ten: déncia 4 homogeneizacao (abstra¢ao) do trabalho intelectual, por outro, ha também uma diferencia- Go (coneretizaca0} do trahalho utilizado nos pro- cessos industriais, no ambito de uma “economia do signo”; ii) @ partir dessas particularidades, como é possivel explicar a aleatoriedade da valorizagao econdmica dessas produgdes?s esta se dé na esfe~ ra da produgio ou na da realizagao? Apesar de existirem, no ambito de uma abordagem marxia- nna, outros elementos de resposta que assimilam este tipo de produtos ao capital fieticio (produtos que valor, pelo fato de nao serem o produto de trabalho social), © autor ex- tém prego mas que ndo té plica esta aleatoriedade a partir das condigdes de recep 4o, ou seja, de realizagao desses produtos. No tiltimo capitulo sao analisadas as moda- lidades conereras da concorréncia nos mercados culturais. Para isto, Bolafio ressalta os limites da anilise neoelassica que vé na televisao uma forma particular de monopélio natural, devido & indi- visibilidade do servico oferecido; da mesma mane: ra, descarta um estudo da concorréncia baseada nperfeigdes” do mercado. No Ambito de uma perspectiva ligada a “industrial organization da, Bolafio estuda concorréncia nesses mercados: uma utilizagao ori ginal do conceito de “padrao tecno-estético” (con- ceito que foi originalmente trabalhado por Do: minique Leroy ¢ Alain Herscovici) the permite fa: zer tal analise, sobre o estudo das © ao conceito de barreiras 4 entra- s modalidades coneretas da Finalmente, este livro traz contribuigdes im- portantes no que diz. respeito & andlise econdmica da cultura e da comunicagao, isto pelas seguintes razdes: fornece elementos que permitem ir além dos resultados das andlises neoe! pecificidades desta econon conjunto da formagao social & 0 papel simbalico Lissicas; salienta as es- a, suas relagdes com 0 e econdmico que cla cumpre no seio desta for- magio social. Ressalta os limites de certas andli- ses de cunho liberal ¢ *ideatlistas", sejam clas so ciolégieas, antropol6gicas ou econdmmicas, que es tudam essas indistriase essas novas tecroogias da informagio e da comunicagio a partir do pres- suposto (contestivel) segundo o qual existiria u logica puramente econdmica ou tecnoléxiea, in dependentemente da formagao social e do perio: do estudados. Alain Herscovici Doutor em Economia pelas Universidades de Paris | Panthéon-Sorbonne e de Amiens, coordenador do Grupo de Fstudo em Macroeconomia (GREM) do Departamento de Economia da UFES. 235 Economia Monetaria e Financeiri Fernando José Cardim de Carvalho et al. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2000 © que € um “manual de Eeonomia”? Eo produto de um trabalho intelectual fei mos? (No caso, a cinco maos, ou melhor, a dez, considerando que todos os autores digitam.) E um. ivro que contém nogdes essenciais acerca de 4 10 colocadas a0 Jo € tao sim- parte da ciéncia econdmica, que ficil alcance das maos do leitor ples dizer 0 que é 0 epitome... f dificil tratar 0 complexo com simples palavras. Para que serve um manual? Ah, isso € sabi: do. De inicio, quando novo, especialmente se for bem grosso € caro, com autoria de aigum estran- gciro que vive aparecendo na midia, serve para dar status a quem 0 carrega pelos corredores das fax culdades. Revela uma firme determinagao em ler até 900 paginas no novo semestre letivo! Logo, ar tanto peso (da responsabili dade), 0 estudante o coloca no papel de peso de eansado de carr Papel. Inerte, o manual cumpre a grave missio de segurar as cpias das anoragoes em aula do “ead f." da turma, Se 0 estudante tirar algum proveito do curso, tratard de passé-lo adiante, vendendo-o em estado “zero km” para algum calouro ineauto. Os autores de ma justigados. Até mesmo pelos proprios colegas. Por exemplo, no preficio do livro resenhado, seus au- tores afirmam que “sio poucos os manuais existen- tes no Brasil nesta srea”. Tei considerando que ha 187 cursos de Economia no pa de 9.393 estudantes por ano e, principalmente, des: considerando a indistria da copiografia. Na maior livraria, encontramos dez manuais. Com titulo de “Economia Monetaria” sio quatro: uais Si muitas vezes in- lo Lopes e Ros- setti, cua primeira edigdo € de fevereiro de 1980, do Santi, do Hillbrecht, e do Berchielli. Com titulos. proximos, ha o de Gudin (o decano}, © de Mayer, Duesenberry ¢ Aliber, © de Marinho ¢ 0 de Gal braith, Com o titulo de “Economia Monetaria c Financeira” tinha © meu, editado dois anos antes pela MAKRON Books, ¢ agora tem também 0 dos meus coleyas do Grupo da Moeda e do Sistema Fi- ‘0, no IF-UER]. Os subtitulos os distinguem: Uma Abordagem Pluralista tem 0 meu, Teoria ¢ Politica (pico nas edigbes da Campus) tem o dees, Enrretanto, eles sentiram a necessidade de argumentar que “os livros-texto disponiveis no mer names cado brasileiro (...) sofrem com algumas lacunas que, em nossa opiniao, criavam o espago para uma nova iniciativa nesta rea”. A primeira lacuna apon- 236 : Teoria e Politica tada diz respeito 4 auséncia das instituigdes finan ceiras brasileiras em manuais traduzidos do exte- rior, Essa critica s6 pode ser dirigida ao caso do livro de Mayer, Duesenberry e Aliber. Alias, ele padece também de uma ma revisio técnica. A ou tra critica dirigida a seus concorrentes 6 qu Angulo privilegiado de abordagem da questo mo- netiria deveria ser colocado através da chamada restrigao orgamentria do governo”. Na visio di les, figis pds-keynesianos fundamentalistas, “0 n- gulo privilegiado deve sera natureza da moeda como uma forma de riqueza”. Nao ereio que essa distingdo enquadre todos 0s outros livros-texto disponiveis no mercado brasileiro. A terccira e tilrima “lacuna” apontada nos ou- tros mantis refere-se ao fato de tratarem da ope. 20 de “economias fechadas”. Também ai acho que no foram felizes na critica, A “abertura eco- distinta que propuseram restringiu-se, fe tivamente, ao diltimo capitulo, Como eles mesmos afirmam na pagina 429, a economia fechada foi “estudada em outros [21 eapitulos”. Somente no capitulo 22, estudaram as rel: do monetirio eo cambial — e, especificamente, entre a determinagao da taxa de juros e de eam: bio — sob diferentes arranjos institucionais, expon doa politi Mundell-Fleming, Reconhecem, no entanto, que “o modelo Mundell-Fleming & apresentado cm pra ticamente todos os manuais de macroeconomia € economia internacional” (p. 454). Assim, nao con- sexuli ver o motivo para tanto estardalhaco no pre facto. Mais humilde foi Hicks. Quando questio- nado por que os grandes autores da teoria monet Ges entre o merca- monetiria de acordo com 0 modelo, ‘ia no contemplaram uma economia aberta, ele sim plesmente respondeu que foi porque eles focaliza ram uma economia fechada em escala planetaia Nao sendo essas.as verdadciras distingSes des- teem relagio a outros manuais disponiveis no mer cado editorial brasileiro, o que o distingue? Creio que & 0 proprio mérito dos autores. Sao brilhantes pesquisadores te6ricos, dominando per! strata que tratam. Rigorosos, didaticos, itamente a materia atualizados, a formagio e a dedicagao profissional os credenciam “para uma iniciativa nesta area”, sem aiores justificativas. Afinal, quase todas universi dades que se destacam tém autores entre seus pro- fessores. Eles no $6 tém o dircito como a obriga- 40 de compartilhar seus conhecimentos com seus pares ¢ estudantes. Quase todos sio professores de jicas (UFRJ, UFF e UER]} ¢ rece~ beram bolsas para seus mestrados, doutoramentos univ’ idades pil € pés-doutoramentos, no Brasil e no exterior. Mas o autor de uma resenha nao pode ape- nas demonstrar o orgulho de ver seus colegas bra- sileiros produzindo uma obra de folego, Fle tem fo dever de expor também a seus leitores 0 que 0 incomodou em sua leitura. Fvidentemente, isso mio retira em absoluto o mérito do trabalho. Em primeiro lugar, os autores teriam todas as condixes de dar maior originalidade ao livro. Fles fazem tudo certinho, igual a qualquer ma- nual, Estao la os pequenos t6picos, os quadros com balancetes estilizados, os boxes, as representagdes gréficas, as formalizagoes, 0 resumo final, os ter mos-chave, as questoes para discussao, a bibliogra- fia comentada, tudo que se tornou convencional em manuais. Aparentemente, s6 falrou a lista de enderegos para pesquisa na Internet... A gente vai lendo-o e reconhecendo tudo. f, tudo muito conhecido. E, afinal de contas, muito semelhante aos outros. A gente vai buscando 0 po- sicionamento pessoal dos autores nas pole da além da elegiin expostas, mas nao encontr cia académica. Aparentam o tempo todo uma itt= parcialidade quanto ao objeto cientifico, quase tuma assepsia quanto as ideologias. Parece que, s os autores antagdnicos em ra- undo eles, todo zaot Ninguém recebe uma critica contundente, To- dos vio tendo 1asteorias expostas, sem nenhuma consideragao importuna, com total neutralidade, Pode See inscira 6 argumentar quc pluralismo ¢ isso. ‘ente tolerante com pasigdies adversa » fazendo nenhuma restrigiio, Nao creio. ar com rigor e honestidade intelectual teo- rias que voeé ndo adota ndo significa isenti-las de criticas abertas. Mesmo porgue nao so somente “teorias cientificas” inoperantes na realidade, Sio sustentaculos de uma politica econdmica q ie muitas vidas, afeta a sociedade. Parece que 0 objetivo do manual seria s mente apresentar © que ja € conhecido entre os profissionais, para os que ainda n: Também nao acho que deva ser s6 isso. Aprov tando a (rara) oportunidade de uma grande editora > conhecem. publicar uma obra tedrica de autores brasileiros, cles deveriam dizer “a que vieram”, isto & expor claramente qual € sua contribuiglo especifiea nessa fire deveriam ficar $6 expondo as teorias dos outros, quase todos estrangeiros, Assim, os autores brasileiros ficam padecen: do de um complexe de inferioridade em relagio aos do *Primeiro Mundo”. Nas bibliografias come} tadas, ao final de cada um dos 22 capitulos, s6 aparece a obra de um brasileiro, além dos outros livros dos proprios autores — 0 livro publicado no exterior pelo F.C. Carvalho (Mr. Keynes and the Post Keynesian) ¢ 0 livro organizado por J. Sies, L. Bde Paula, G. T. Lima (Macroeconomia Mo: derna). Fa tese de doutoramento de Marcos Tor- res (Operacionalidade da Politica Monetairia no Brasil), defendida na Unicamp. Afinal, os tinicos capitulos onde aparevem as instituigies brasileiras — osétimo ¢ 0 oitavo — foram, reconhecidamente, haseados nessa tese. Marcos Torres, economista do Banco Central do Brasil, foi o autor do capitulo sobre esse mesmo tema em meu livro, Os autores apresentam muita pesquisa ted- rica ou internacional. Mas fica faltando, no liveo, agao de resultados de pesquisa empirica oO quadro 16.4, com trés paginas, é muito insuficiente para diferen cié-lo em relacao aos “manuais estrangeiros traduzi- dos”... Por exemplo, nao hi nada sobre a crise, a con: centragao ea desnacionalizagao bancaria brasileira a aprese sobre o sistema financeiro brasil’ A impressdo que fica & que este manual po. deria ser perfeitamente traduzido para o inglés sem maiores adaptagdes, a nao ser cortando algumas pouicas coisas referentes a0 nosso “exotismo eco- nico”. Os artigos citados sao todos estrange Fos, Os aurores esto perfeitamente 4 vontade com © debate tedrico internacional, Entretanto, no se posicionam em debates relevantes na cena na nal, por exemple, quanto A independéncia do Ban: co Central do Brasil. Também nao entendi a au- séncia de referéncia as teorias brasileiras de infla- ante de deduzir que a tinica teoria de inflagao existente é a derivada da Teoria Quantitativa da Moeda. ‘Outra lacuna que ndo compreendi foi a do Minsky, a meu ver o autor pos-keynesiano de con- tribuig sivos”. Nisso, ele superou o proprio Keynes, que nao tratou adequada endividamento, Entretanto, a hipérese da instabi- » mais original, o grande “tedrico dos pas nente de uma economia de lidade finaneeira n: 0 aparece nesse livro de auro- res assumidamente pos-keynesianos. Por que no divulgé-la? Acho que falta aos outros pés-keyne- sianos justamente seguir seu exemplo: tentar st rar a mera reproducao das “idéias origi Keynes, Fazer 0 que Albert Hirschman den de auto-subversio, Questionar as proprias idéias A controvérsia entre opinides divergentes & fator de progresso intelectual. Ela niio deve ser es- camoreada: Fernando Nogueira da Costa Professor Associado do IE-UNICAM Coordenador da Area de Economia da FAPESP. Contabilidade Social, 0 Novo ‘ Carmem Aparecida Feijé et al. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2001 A Nova Contabilidade Social Marcio Braga ¢ Leda Paulani Sao Paulo: Editora Saraiva, 2001 ‘A Nova Contabilidade Social entre dois livros Numa res apenas a exposido e avaliagio de um live, Oxorre gue professores e pesquisadores de Contabilidade Social sentiram-se motivados a ofertar novos li enha apresenta-se normalmente vros-texto frente 4 nova metodologia de sistema- tizagio apresentada pelas Nagdes Unidas em 1993 e adotada pelo IBGE a partir do mesmo momen- to. Dois livros se encaixaram dentro desta visio, motivando assim uma resenha conjunta: Contabi- lidade Social, o Novo Sistema de Contas Nacionais do Brasil (CS), de Feij6, Ramos, Young, Li Galvao, da Editora Campus, e A Nova Contabiti dade Social (NCS), de Braga e Paulani, da Edito- ra Saraiva, Para nao realizarmos um trabalho iso do de » de cada livro dentro desta resenha e par avali ajudarmos na escotha de um dos livros por parte dos usuarios segundo seus objetivos, estabelecere- ‘mos uma visio comparativa dos mesmos. Primei ro apresentaremos um comentario sobre as simi laridades ¢ diferengas gerais de ambos os livros para depois entrarmos nos capitulos, dentro da mesma finalidade. A divisio interna dos capitulos no apresenta muita diferenga em ambos os livros. Ressalta apenas a busca constante de ambos em facilitar a aprendizagem sobre o assunto a ser tratado. A es- eros 6 a seguinte: exposigdo do assunto, desta- que para conceitos-chave, questoes para sedimen- taro conhecimento e referéncia bibliogedfica para 16s que desejarem expandir o seu conhecimento so- bre © que foi abordado. Diferengas gerais existem e devem ser men- cionadas. No CS, em temas similares aos apresen- tados no NCS, a profundidade no desenvolvimento E maior, embora, em certos momentos, 0 conjun- tw de equages — as restrigdes contabeis — difi- cultem a leitura pela forma escothida na exposicao. Deixou-se antes do capitulo 1 uma lista de defini gio das variaveis utilizadas diga-se de passagem, um niimero excessive, que entre a ida ¢ vinda do capitulo para a lista de va- cada capitulo, 238 tema de Contas Nacionais do Brasil ridveis trunca a seqiiéncia da leitura. Talvez, se as definigdes fossem apresentadas no proprio capitu: lo, este problema deixaria de existir. Este recurso didatico, embora com a intengao de ajudar, trun- eva leitura dado 0 excessivo nimero de definigdes, Outra diferenga importante entre os livros € que ao final de cada capitulo da NCS existe um con- junto de enderegos eletronicos que ajudam o lei- tor na busca de dados disponiveis pela internet, Muito bom para quem deseja ampliar sua pesqui- sa, principalmente na parte empirica. Em alguns dos sites existe a possibilidade de se baixar a base de dados para aproximar o aprendizado de expe: riéncias reais, com que todo pesquisador, cedo ou tarde, acaba se defrontando. Vejamos as diferengas de contetido nos ca- pitulos. Por mais incrivel que possa parecer, am- bos os livros possuem nove capitulos, embora os mesmos tenham escolha de ordenagao dos assun: tos 1m pouco diferente. Passemos a elas No primeiro capitulo, ambos destacaram a importancia da macroecenomia keynesiana no sur gimento das Contas Nacionais, as identidades bi sicas ¢ a base da sua mensuragao: o fluxo mone- tirio e circular da renda. Embora o livre de CS apres nte uma discussdo sobre o desenvolvimen- to sustentavel ¢ 0 indice de desenvolvimento hu mano (IDH) no anexo do primeiro capitulo, 0 li vro da NC no Giltimo capitulo, reservado a apresentagio de Indicadores Sociais. No segundo capitulo de ambos, comegam propriamente as diferengas no assunto a ser trata- do. No livro da NCS mostra-se a antiga forma de apresentagao das Contas Nacionais pelas cinco grandes contas a partir do método das partidas dobradas: Producao, Apropriagao, Capital, Gover no € Contas Externas (*Contas nacionais: estra- resenta a mesma discussio apenas tura basica”). Bem ao estilo do apresentado no livro de Macroeconomia de Simonsen & C} [1996] da Editora Campus. No livro CS, os auto Fes mencionam esta apresentagao antiga em vari- 0 pontos de seu segundo capitulo mas nao a apre- sentam tio detalhadamente. Optam por entrar di reto na discussao da nova mensuracio das Con- tas Nacionais ( nais do Brasil: as contas econdmicas integradas & 9 novo sistema de contas nacio- as tabelas de recursos ¢ usos”) com uma aplicagio para o ano de 1995, Para quem deseja apresentar em aula ou conhecer © velho sistema de Contas Nacionais, esta é uma dica importante, Voltando ainda ao segundo capitulo da NCS, no anexo é apresentada a matriz de insumo-pro- duto. Didiitico, com um exemplo, mas nada pare cido, por exemplo, com o que se apresenta no ter ceiro capitulo da CS (*O modelo de insumo-pro- duo”). Aliés, existe na seqiiéncia de capitulos deste livro — do terceiro a0 quinto capitulo — uma ex- posicdo muito profunda da matriz de insumo-pro- duro, do céleulo efetivo dos coeficientes técnicos —o efetivo vem da discussdo da possibilidade de apli a matriz, A quem de- seja enfatizar sua leitura e aprendizado no assun- se obter 0s coefivientes na pratiea — € un cagio muito bemfeita de to, fica registrada a mengio. Antes de falarmos do quarto capitulo da NCS, que expde a nova Contabilidade Social, & importante mencionar que o terceiro capitulo desta mesma obra € dedicado a problemas de mensura- 40 nas Contas Nacionais (“Contas nacionais: pro- blemas de mensuragdo”): a diferenga entre real e nominal {importante separagio em momentos de elevada inflacio), economia informal e questOes ambientais (mensuragao de externalidades). Abrin do um paréntese as externalidades, 0 livro da CS dedica seu dltimo cap contas satélites que necessitam ser desenvolvidas para se tratar desta € de outras questoes (“Renda, recursos naturais € contabilidade nacional”). Existe uma bela expos ntas Ambientais, inclusive com 0 do sobre as acompanhamento dos dados para a economia brasi- leita, uma boa alternativa para quem deseja conhi cer um pouco melhor o tratamento desta questo. Voltemos 20 quarto capitulo da NCS, onde ‘o novo Sistema de Contas Nacionais (*As contas nacionais no Brasil”) € apresentado. Comparando- 6 com 0 segundo capitulo da CS, a NCS apresen- ta um forte componente didatico que contrasta com a profundidade de discussio do primeiro li- vo, jd ressaltada anteriormente com uma diferen- ciagdo basica no contetido dos livros. Balango de Pagamentos ¢ Sistema Moneta: rig sao temas tratados nos dois livros. Em ambos, © Balango de Pagamentos ¢ apresentado em um capitulo apenas ja o Sistema Monetirio, o N trabalha em dois capitulos (“A moeda: importin- cia c fungdes” € “O Sistema monetério”), enquanto ‘© CS dedica apenas um capitulo ao assunto (“Con- tas monetarias e financeiras”). A NCS utiliza um dos dois capitulos para destacar a importancia da moeda. Basicamente tuma parte do que se veria normalmente num livro, de Economia Monetiria. Se 0 sew assunto for ex- clusivamente Contas Nacionais, 0 sexto capitulo (0 sistema monetario”), onde este assunto € tra- tado, seria plenamente dispensavel Nuimeros-indice na € um capitulo com e (nome do capi ste uma discussie muito abrang tulo idéntico ao assunto). Na N sunto tratado rapidamente no apéndice do capitulo terceiro. Acho necessario em Contabilidade Social uma boa discussao em niimeros-indice Da leitura mais apurada que fizemos entre 0s dois livros, nao nos parece que se possa desear- tar um dos livros em detrimento do outro. O que existe, ¢ é isto que procuramos destacar, s30 alga mas opydes que podem agradar um leitor e/ou pes guisador de acordo com 6 enfoque ou assunto que este julgar relevante. A escolha por um dos livros depende desta opgao. Os erros que porventura se possam encontrar fo: pequenos no conju valioso das obras. Espero que esta resenha tenha ajudado a apresentar estas duas novas opgies. Boa leitura Paulo Roberto Arvate Escola de Administragio de Empresas da Fundagdo Gevilio Vargas/Sio Paulo, Pontificia Universidade CatélicalSao Paule

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