Você está na página 1de 2

Casimiro de Abreu

Amor e medo
Oh! no me chames corao de gelo!
Bem vs: tra-me no fatal segredo.
Se de ti fujo que te adoro e muito,
s bela eu moo; tens amor, eu medo!
No lar
Longe da ptria, sob um cu diverso
Onde o sol como aqui tanto no arde
Chorei saudades do meu lar querido
- Ave sem ninho que suspira tarde. No mar de noite solitrio e triste
Fitando os lumes que no cu tremiam,
vido e louco nos meus sonhos d'alma
Folguei nos campos que meus olhos viam.
Era ptria e famlia e vida e tudo,
Glria, amores, mocidade e crena,
E, todo em choros, vim beijar as praias
Por que chorara nessa longa ausncia.

lvares de Azevedo Lira dos vinte anos


Minha desgraa
Minha desgraa, no, no ser poeta,
Nem na terra de amor no ter eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se a um boneco
[]
Minha desgraa, cndida donzela,
O que faz que o meu peito assim blasfema,
ter para escrever todo um poema,
E no ter um vintm para uma vela.
Soneto
Plida luz da lmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,

Como a lua por noite embalsamada,


Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela mar das guas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando
Negros olhos as plpebras abrindo
Formas nas no leito resvalando
No te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti as noites eu velei chorando,
Por ti nos sonhos morrerei sorrindo!
Teresa
No acordes to cedo! Enquanto dormes
Eu posso dar-te beijos em segredo
Mas, quando nos teus olhos raia a vida
No ouso te fitar eu tenho medo!
Enquanto dormes, eu te sonho amante,
Irm de serafins, doce donzela;
Sou teu noivo respiro em teus cabelos
E teu seio venturas me revela...
Fagundes Varela
Cntico do calvrio
Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angstias conduzia
O ramo da esperana. _ Eras a estrela
Que entre as nvoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegueiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idlio de um amor sublime.
Eras a glria, - a inspirao, - a ptria
O porvir de teu pai! Ah! No entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Astro, - engoliu-te o temporal do norte!
Teto caste! - Crena, j no vives!

Você também pode gostar