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31 39 53 79 1 121 15/1995 indice O IMAGINARIO DO IMPERIO Nota do director Juan Gil A apropriagao da ideia de Império pelos reinos da Peninsula Ibérica: Castela Antonio Manuel Hespanha Ascens&o e queda do imagindrio imperial Valentim Alexandre A Africa no imaginério politico portugués (séculos xIx-xx) Maria Irene Ramalho de Sousa Santos Um imperialismo de poetas. Fernando Pessoa e 0 imagindrio do Império Luis Moita Os centros e as periferias na ordem politica internacional Estudos Mafalda Soares da Cunha e Nuno Gongalo Monteiro Vice-reis, governadores e conselheiros de governo do Estado da India (1505-1834). Recrutamento e caracterizagio social Arlindo Manuel Caldeira Poder e meméria nacional. Herdis e vildes na mitologia salazarista 143 157 17 191 199 Em debate: Abolicionismo (11) Joao Pedro Marques Avaliar as provas. Resposta a Valentim Alexandre Valentim Alexandre «Crimes and misunderstandings». Réplica a Joao Pedro Marques Ensino da Historia Luts Filipe Santos Os programas de Histéria no ensino secundario nas duas tiltimas décadas (1974-94) Leituras Recensées de Mafalda Soares da Cunha, Rui Santos, ¢ José das Candeias Sales Noticias OS PROGRAMAS DE HISTORIA DO ENSINO SECUNDARIO NAS DUAS ULTIMAS DECADAS (1974-94) Luis Filipe Santos Professor de Histéria do ensino secundério ¢ membro da Direcgio da Associagao de Professores de Histéria De acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo de 1986, os alunos com idades compreendidas, grosso modo, entre os 12 € os 18 anos encontram- -se divididos por dois niveis de ensino: basico (3° ciclo: 7°, 8° e 9° anos de escolaridade, em que a disciplina de Histéria € parte integrante do curriculo obrigatério) e secundario (10°, 11° e 12°, onde é, apenas, uma disciplina de opgio no ambito da Formagao Especifica). Espera-se, contudo, que esta continue como disciplina escolhida pelos alunos de Humanidades (Agru- pamento 4). Contudo, de acordo com os princfpios € a natureza da organiza- ¢%o curricular do 3° ciclo do Ensino Basico portugués, consideramos que este, de facto, se trata de um Ensino Secundario, desvalorizando neste sentido a divisio existente, por se relacionar sobretudo com a escolaridade obrigatéria alargada ento até ao 9° ano de escolaridade. CO ensino da Histéria ministrado nestes anos de escolaridade surge na sequéncia da disciplina de Histéria e Geografia de Portugal, do 22 ciclo do Ensino Basico (5° ¢ 6° anos de escolaridade) e, também, de uma sensibilizagao 4 Historia, realizada na area de Estudos do Mcio, no decurso do 1° ciclo do Ensino Basico (do 1° ao 4° ano de escolaridade). Neste artigo, a abordagem dos programas de disciplina para os anos de escolaridade em anilise ¢ a problematizagao do lugar da Histéria enquanto disciplina nos curricula, bem como a avaliagao das situagGes que se colocam no quotidiano a pratica pedagégica no decurso do processo de ensino- -aprendizagem serdo efectuadas em intima relagao com os contextos socio- politicos que os enformam e enquadram. 172 Penélope: Ensino da Histéria 1. O contexto sociopolitico dos programas e 0 estatuto da disciplina de Hist6ria na estrutura curricular. A elaboragio dos programas da disciplina para os varios anos de esco- laridade relativos ao Ensino Secundario, esta intimamente relacionada com 0 curriculo do nivel e/ou ciclo de ensino em que sc integra, nao deixando este de se inserir e reflectir naturalmente 0 contexto socio-politico da sua época. Os programas em anilise correspondem essencialmente ao perfodo iniciado com 0 25 de Abril de 1974, mas nao deixarao de ser feitas referéncias Aqueles que vigoravam no perfodo da ditadura, nomeadamente a sua fase final (1968-74). Contudo, as suas diferengas nfo se explicam apenas em fung&o da natureza politica do regime, porque muitas vezes as conjunturas pesaram na definigao da politica educativa ¢ de adopgao/substituigao de programas. De facto, o perfodo de autoritarismo em que o pajs vivia a data do 25 de Abril de 1974, nao é comparavel, sobretudo do ponto de vista educativo, ao perfodo dureo do salazarismo, em que o obscurantismo fazia parte da matriz cultural do regime, quando até insignes historiadores como Alfredo Pimenta defendiam que «Ensinar 0 povo portugués a ler € a escrever (...) para tomar conhecimento das doutrinas corrosivas de panfletarios sem escripulos, ou das facécias malcheirosas que no seu beco escuro vomitam todos os dias qualquer garoto de vida airada, ou das mentiras criminosas dos foliculdrios politicos, é inadmissfvel. Logo concluo eu: para a péssima educagio que possui, e para a natureza de instrugao que lhe vao dar, 0 povo portugués ja sabe demais»', € em que o ensino da Histéria constituia uma verdadeira instrumentalizagao ideolégica por parte do Governo, pois «ao Estado com- pete fixar as normas a que deve obedecer o ensino da Histéria (...) porque pode ¢ deve definir a verdade nacional, quer dizer, a verdade que convém a Nagio»’, devidamente crivada pelo livro tinico oficial, que «deve contribuir para que os estudantes aprendam nas suas paginas a sentir que Portugal é a mais bela, a mais nobre e a mais valiosa das Patrias, que os Portugueses nao podem ter outro sentimento que nao seja o de Portugal acima de tudo»*. Hé, contudo, que estabelecer as diferengas considerdveis entre os pro- gramas da disciplina em vigor nos anos iniciais da ditadura (1926-30) ou no perfodo dureo do salazarismo (décadas de 30 ¢ 40) em que, mesmo quando os contetidos dos programas nao explicitavam a sua natureza marcadamente ideolégica, se podia constatar a sua instrumentalizagao através da «acumula- ¢do de nomes de batalhas, de chefes guerreiros, de construtores de impérios; no destaque conferido as estratégias a as organizagdes militares; na insisténcia Santos: Os programas do secundério: 1974-94 173 sobre os momentos de reforgo da autoridade pessoal ou do Estado; no enquadramento politico de evolugao, que acompanha muitas vezes a suces- so dos reinados, na sobrevalorizagao dos factos religiosos»* ¢ aqueles que, no contexto da reforma de 1947, contém alguma mudanga significativa em telagéo 4 concepgao de Historia ¢ aos principios pedagégicos, que, com ligeiras alteragdes, se mantém em vigor até as propostas de mudanga signi- ficativa no sistema educativo da década de 70. Na realidade, a revolugao de 25 de Abril de 1974 surgiu numa época em que havia «muitas contradigées que esfrangalhavam o sistema, permitiam uma pratica mais liberta do constrangimento ideolégico, por um lado menos vigiada (cessou o regime de livro Gnico), por outro enriquecida pelo acesso as fontes de informacdo que iam rompendo o bloqueio intelectual da sociedade portuguesa» e, decorria um «ensaio geral» de reforma educativa enquadrada na explosio escolar dos anos 60-70 e, curiosamente, apelidada de «demo- cratizagdo do ensino» num regime que recusava a democracia. Desde a instauragao da democracia em 1974, sucederam-se profundas ¢ sucessivas mudangas no sistema educativo, destacando-se no campo do Ensino Secundario a criagdo de um ensino unificado, pondo termo a divisao em ensino secundario liceal e técnico, assente em «situagdes discriminatérias de base socioeconémica, consubstanciadas na experiéncia de duas vias per- feitamente dispares na sua dignidade social, cultural e educativa»®, ¢ que também obrigava a uma escolha prematura de um futuro profissional aos 12 anos de idade. As alteragdes entéo produzidas, quer ao nivel da estrutura do ensino, quer ao nivel do curriculo, programas, etc., reflectiam a correlagao de forgas politico-partiddrias e até militares da sociedade portuguesa de entao. Estas conjunturas politicas nao deixaram, obviamente, de se reflectir no papel e no peso da Histéria no curriculo do Ensino Secundario, porque a luz de uma foi introduzida a disciplina de Introdugao as Ciéncias Sociais no Ensino Secun- dario Unificado, em substituigéo da Histéria no 7° ano de escolaridade (ano lectivo de 1975-76), para posteriormente 0 ministro socialista da Educagao em 1976, Sottomayor Cardia, ter reintroduzido a disciplina de Histéria. A este propésito, gostarfamos de referir que, no 4mbito da Reforma Educativa do tiltimo Ministro da Educagao do regime autoritério, Veiga Simao, também se introduziu para o ano de escolaridade correspondente a disciplina de Introdugdo as Ciéncias Humanas, destinada a substituir a Historia ¢ a Geografia. Esta inovagéo, em regime de experiéncia num determinado nimero de escolas, nao deixou de ser alvo de criticas no esta- blishement do regime, «Embora aprovasse a inclusao da disciplina no curriculo, 174 Penélope: Ensino da Histéria a Camara Corporativa enunciou ‘sérios reparos’ aos respectivos programas ¢ um deputado acusou-os de marxismo»’, Nao devemos, assim, deixar de discutir as concepgdes de Histéria que parecem estar subjacentes a estas medidas, porque efectivamente aconte- cem em periodos de intensa mudanga social em que a disciplina de Histéria parece, neste contexto, por natureza ou tradicdo, impedir ou dificultar. Contudo, esta questéo tem efectivamente acompanhado o debate acer- ca da reformulagao do sistema educativo portugués, ¢ na discussao acerca da actual Reforma Educativa voltou a ser colocada com preméncia ¢ ndo menos paixao por aqueles que fazem do ensino da Histéria o seu oficio. De facto, 0 Relatério Preliminar da Proposta de Reorganizagao dos Planos Curriculares dos Ensinos Basico e Secundario, voltava a propor, para 0 3° ciclo do Ensino Basico (7°, 8° ¢ 9° anos de escolaridade), a criagao da disciplina de Ciéncias Humanas ¢ Sociais em substituigao da Histéria e Geografia. Esta proposta obteve a concordancia da Direcgao da Associagao de Professores de Historia de ento, desde que os contetidos programaticos da disciplina dessem relevo a «uma perspectiva histérica na abordagem da contemporaneidade, socor- rendo-se de uma historiografia de tipo multidisciplinar, geografica, sociolé- gica e antropolégica»*. Mas, por outro lado, motivou viva discordancia por parte de muitos professores de Histéria que, em miUltiplos Encontros ¢ Debates, a rejeitaram quer a luz das «experiéncias negativas ¢ nao muito distantes no tempo: Ciéncias Sociais em 1975-76, no 72 ano do Curso Geral Diurno (...); programa dos 3° e 4° anos experimentais até 1973-74», quer Porque «o projecto parece também desconhecer a fungdo da Histéria na adaptagao do jovem ao meio € 4 mudanga: parte do erro ou do preconceito de que a preparagao para a mudanga se faz pela informagao, sobre 0 moderno e o imediatamente presente. A apreensio da mudanga pelo recente, torna-a circunstancial, no Ihe da sentido, nao dé a consciéncia do modo como se processa (...) 0 caminho seguro e concreto para adaptagdo 4 mudanga é feito pelo conhecimento da anterioridade histérica»". Na sequéncia do debate entre especialistas e professores, os novos Planos Curriculares dos 3* ciclo do Ensino Basico, aprovados pelo Decreto- -Lei n° 286/89, mantiveram a autonomia da Historia e da Geografia, nos termos até entao vigentes, respeitando a formagao universitaria diferenciada dos docentes, embora as englobasse numa drea de Ciéncias Humanas e Sociais. Esta situagao parece garantir, finalmente, a autonomia curricular da Histéria, em nome do seu potencial pedagégico, porque «na verdade, em todas as propostas de desenvolvimento integrado do Currfculo de Ciéncias Sociais, a Histéria viu-se submetida ao império de uma ou outra das suas Santos: Os programas do secunddrio: 1974-94 175 congéneres, umas vezes a Geografia Humana, outras a Sociologia, desvi tuando-se totalmente a sua identidade»". Afinal, trata-se de «uma Histéria em que se cruzem todos os vectores de andlise das Ciéncias Sociais mas projectados na dinamica temporal ¢ no terreno plural das sociedades concre- tas (...) porque a Histéria, hoje, j4 nao se identifica com o corpo de saber tradicionalmente instituido que dava pelo mesmo nome, ela pode dar resposta as exigéncias de um projecto educacional vocacionado para a inser- Gao no mundo», 2. Os programas da disciplina de Historia. 2.1. Concepgées, temas € perspectivas. Embora os problemas do ensino da Histéria nado se esgotem nos con- tetidos dos programas da disciplina, é contudo a partir daquilo que prescre- vem que 0 processo de ensino-aprendizagem se estrutura € se originam os problemas do quotidiano da pratica pedagégica. Os programas da disciplina correspondentes aos tltimos anos do regime ditatorial liderado por Marcello Caetano desde 1968 tém, assim, de ser devidamente integrados na conjuntura politica de desagregagio do proprio regime e inclufdos numa politica educativa de modernizagio e «demo- cratizagio» do ensino, levada a cabo desde 1970 pelo ministro da Educagio Veiga Simao, com o apoio de técnicos da OCDE. Em relagio aos programas adoptados na sequéncia da revolugao de 1974, importa salientar o Ambito das transformagées operadas no ensino da Histé- tia, entendida agora como «uma disciplina prospectiva»', em que o seu valor pedagégico se afirma porque «habilita o estudante, nao sé a compreender a realidade humana em que vive situado, como a poder intervir conscien- temente no seu curso. Para tanto, impde-se que ao passado se relacionem os aspectos mais relevantes para 0 entendimento dos problemas de hoje, com especial incidéncia sobre 0 passado préximo»'’, expressos nos programas, sob a forma de objectivos ¢ indicagdes metodolégicas que, apesar dos ajustes € reestruturagdes sucessivas de acordo com conjunturas politicas entao vivi- das no Pais, se mantiveram até a revisio de 1980. Nestes programas eviden- ciava-se uma nova concepgio de Histéria, que recusava limitar 0 seu estudo a uma série de factos encadeados através de um discurso narrativo, para se centrar num programa que privilegiava o «cardcter inteligivel do seu estudo, através da caracterizacao essencial das estruturas, de andlise de conjunturas, 176 Ensino da Histéria da compreensao da dinamica global do processo evolutivo»'’, que baseado numa também significativa «tevolugio» metodolégica, queria, recorrendo a didactica do documento, proporcionar ao aluno «uma via de redescoberta ¢ uma iniciagao ao oficio do historiador»'®, Esta nova concepgio, embora nao afastasse a perspectiva diacr6énica, abandonava a divisdo tradicional em pe- tiodos e procurava, através de uma multiplicidade de estratégias, manter a dimensao temporal no estudo da Histéria. Nestes programas do Curso Geral do Ensino Secundario (7°, 8° e 9° anos), introduz-se agora a Histéria de Portugal, devidamente integrada na Histéria das Civilizagdes, procurando integr-la no processo global que, conforme as situagGes, fara ressaltar a sua especificidade ou, através dos documentos e referéncias nacionais, mostrar4 a sua perfeita integrag3o no processo histdrico global. Neste sentido, claramente se infere que os novos Programas se afastam propositadamente das antigas concepgdes para assumirem, expressamente, um «cardcter analitico (...) que apontem apenas para as linhas gerais, as traves mestras da evolugao, ¢ como tal devem ser consideradas. Ha que nao sair da caracterizagao ¢ da inteligibilidade global dos fenédmenos, restringindo os eventos e as figuras ao estritamente essen- cial»!”. Ao nivel dos Cursos Complementares do Ensino Secundario (10° ¢ 11° anos de escolaridade), os primeiros programas de 1974-75, baseavam-se na separagao da Histéria Universal e da Historia de Portugal, porque, por um lado, se queria manter uma articulagao com a estrutura do curriculo anterior €, por outro, pretendia-se tratar a especificidade dos problemas nacionais «ao nivel da profundidade critica, que a idade e a experiéncia adquirida dos jovens j4 permite, as anilises centradas sobre a realidade portuguesa forma- rao consciéncias mais actuantes, aptos a interferir na propria actualidade em processo»™*, Esta perspectiva nao deixa também de apelar a uma metodolo- gia activa, procurando «encaminhar o estudo num sentido de profundidade ¢ exigéncia cientifica e proporcionar uma verdadeira iniciagdo 4 metodologia de pesquisa histérica»", que tera de extravasar o espago da aula para que se «alargassc a consultas mais ousadas na biblioteca, no arquivo ou nas exposi- ges que 0 acaso proporciona. De qualquer modo, é uma direcgdo de constante pesquisa por parte dos jovens»”, Nos programas de 1979-80, para o mesmo ciclo de ensino, sio mais explicitas as concepgdes de Histéria que enformam o novo ensino da Histéria em Portugal, cujo objectivo é «Fundamentalmente (...) apreender na sua complexidade os factos sociais totais (Marcel Mauss) e os factos psiquicos totais (Georges Gurvitch), nas suas diferentes espessuras temporais»”", através Santos: Os programas do secunddrio: 1974-94 ae de uma metodologia de trabalho que deve desenvolver nos alunos as capa- cidades de leitura de artigos e de livros para que «se habituem a trabalhar por si proprios, levantando a bibliografia dos temas, recolhendo fontes ou dados com esses temas relacionados, indo visitar vestigios de toda a ordem, museus, monumentos»”, Esta nova perspectiva nunca deixa de se relacionar com o cardcter formativo que se atribui a disciplina, independentemente dos nfveis ou ciclos de ensino, porque a «Histéria, forma de pensar cientificamente o que so e o que foram os homens - 0 que é ¢ foi o homem -, guia para a accio que os valores escolhidos norteiam, adaptada ao mundo real», Esta dimensio prospectiva da Histéria, aparece ainda mais acentuada em relagao ao Progra- ma do 11° ano que, agora limitado a Historia de Portugal, afirma que 0 seu estudo se insere «na permanente re-situagio do presente em relagio ao futuro ¢ de um e de outro em relacdo ao passado — didlogo constante entre a heranga recebida, que € 0 enriquecimento pela experiéncia que os homens viveram, € os projectos de accdo, a prospectiva que vai transformando o presente em porvir sobre o alicerce do que foi», justificando pragmati- camente esta visio: «Nao esquegamos que ao acabar esta escolaridade o jovem portugués tem o direito de voto, se torna cidaddo responsavel pela formagio da vontade geral, é chamado a ter papel que nao é de mero figurante na vida publica. Como poderé votar em consciéncia se nao conhe- cer as terras e gentcs do scu pais cm toda a espessura temporal de experién- cia colectiva, em toda a variedade de esforgos ¢ até fracassos para ir edifi- cando através dos tempos a nacio que somos e pretendemos ser, num mundo em completa evolugao»*. Neste programa, estruturado sobre uma base cronolégica que percorria as diversas etapas da Hist6ria de Portugal, fazia-se uma continuada insistén- cia cm relagio datagdo, localizagdo ¢ identificago dos agentes histéricos, mas nao deixava de se reflectir numa concepgao de histéria que a identifi- cava como «um estudo cientificamente conduzido estrutural-conjuntural, € por isso os seus campos tematicos e eixos problematicos séo a economia, a sociedade, a técnica, a cultura, a mentalidade, o Estado e as instituigdes, a populagio e suas vicissitudes, as solidariedades fundamentais — familia, vizinhanga, grupos de trabalho e grupos de écio - as etapas de vida de cada individuo, o amor ¢ a motte, a sociabilidade, o sagrado e 0 profano, 0 real ¢ 0 imaginario, os valores ¢ atitudes, a marginalidade (...) por isso a Histéria de Portugal tem de ser concebida de maneira inteiramente nova, repensada nos seus problemas, nogGes operatérias ¢ operages de andlise-sintese, segundo as investigagGes “de ponta’»**, 178 Penélope: Ensino da Historia Esta verdadeira revolugao que, do ponto de vista epistemolégico ¢ metodolégico, percorreu o ensino da Histéria em Portugal, nao resolveu os problemas que herdémos do passado e, concomitantemente, trouxe outros & superficie que, na actual fase da Reforma Educativa, nao deveriam ter deixado de pesar consideravelmente na elaboragdo dos novos programas ou da opiniao dos professores sobre os mesmos. 2.2. A exequibilidade dos programas. O nao-cumprimento dos programas, presente em todas as situagdes analisadas independentemente dos regimes ou das conjunturas politicas, surge como um dos problemas que mais se faz sentir no ensino da Historia em Portugal, estando quase sempre presente em todas as estruturagdes/ falteragdes operadas nos programas ao longo de quase duas décadas. Ha, de facto, referéncias explicitas ao ndo-cumprimento dos programas no ambito deste periodo analisado, desde, pelo menos, os de 1971-72, as quais justifi- cam «uma substancial redugdo de contetidos programaticos como também certa mudanga de orientagio»”, que, curiosamente, se articula com os pro- blemas relacionados com a apreensdo da dimensio diacrénica da Histéria, que tem «de impedir que os nossos alunos fiquem com a errada impressio de que a arte mesopotamica ‘veio depois’ da arte egipcia, que ‘no tempo dos hebreus j4 nao havia Fenicios’, etc., etc.»*, Esta questo foi sendo sucessivamente tratada ao nivel das instincias centrais do Ministério da Educagio que, em circulares ou documentos internos, fazia transparecer a preocupagio pela nao-leccionagao de contetidos ao longo dos sucessivos anos de escolaridade impedindo, assim, 0 normal cumprimento dos programas especificos de cada ano: 1, Programa do 7° ano de escolaridade: deverd ser integralmente cumprido 2. Programa do 8° ano de escolaridade: 2.1, Deve ser integralmente cumprido 2.2, Na impossibilidade de o cumprir integralmente, dever-se-4 atingir a alinea cor- tespondente & Revolugdo Industrial”. ou até a aquisigio de aprendizagens relacionadas com os pré-requisitos do novo ciclo de estudos a iniciar pelos alunos: 3. Programa do 9 ano de escolaridade: 3.1. Tem de ser abordado, ja que o seu contetido € fundamental para o tratamento de temas do 10° ano. Santos: Os programas do secundario: 1974-94 179 3.2. S6 devetio ser considerados os aspectos do 8 ano indispensaveis 4 compreensio do contetido programético do ¥ ano, nos termos em que a situagao seja idéntica & referida em 2.2, A revisio dos programas do Curso Geral do Ensino Secundario, em 1980, inserida num contexto marcado pela vaga de «desideologizagao» apés © perfodo revolucionério, estruturava-se também de maneira a que os pro- gramas fossem «integralmente cumpridos» e pretendia ajusté-los ao «nivel etdrio € as caracteristicas gerais da enorme e heterogénea massa de jovens quc (...) acorre as escolas secundarias»*!. Esta situagao levou o proprio Ministério, na sequéncia de um inquérito feito a todas as escolas secundarias no final do ano lectivo de 1984-85, a apresentar uma proposta de gestio dos programas com o objectivo de dar cumprimento aos programas. Esta proposta de gestio nao pretendia «subs- tituir-se 4 andlise ¢ tratamento didactico que o Grupo Disciplinar efectua do programa». Esta proposta apresentava-se sob a forma de grelha ¢ incluja, para além das rdbricas do programa, uma coluna de sugestées de tratamento didactico, linha conceptual, objectivos especificos e nogdes basicas, devi- damente acompanhada do ntimero de aulas necessario ao seu tratamento. Neste contexto, tendo em conta que os alunos ao terminarem o 9° ano cessam o periodo de escolaridade em que a Hist6ria € disciplina obrigatéria, desenvolveu-se uma intensa discussio acerca do impacto do nao-cumpri- mento dos programas, porque lesava essencialmente o periodo da Histéria Contemporinea que, desde o 25 de Abril, tinha ganho um lugar de relevo nos contetidos programaticos. Esta dimensao, devidamente traduzida nos programas sob a forma de objectivos, pretendia dar ao aluno a possibilidade de se «Habilitar, através do conhecimento do desenrolar hist6rico, nomeada- mente do passado préximo, a participagao consciente e interveniente que é o exercicio da cidadania»®. Esta situagdo coloca-nos uma significativa interrogacio: so os contetidos (programaticos) 0 essencial dos programas, ou as finalidades ¢ objectivos que presidem ao seu ensino? Se a op¢ao for esta, «tera entio que fazer[-se] uma gestio do programa em que dé prioridade a estas grandes finalidades do ensino da Histéria e operacionalizar 0 programa em termos de definigao de objectivos, organizagao de contetidos ¢ selecgao de metodologia, de tal modo que cumpra e concretize as finalidades (...) referidas e enunciadas em termos de grandes principios»*. Mas esta opgao nao nos isenta de duividas: «Faltam- -nos no entanto critérios seguros para operar a selecgio necessaria. Que momentos escolher? Que acontecimentos privilegiar? Que factos apresentar? Que personalidades destacar?»*’; e nao apaga a consequente diversidade de 180 Penélope: Ensino da Histéria situagGes que originaré nas varias escolas do Pais, mesmo que, mercé da inexisténcia de exames nacionais ou regionais, isto nao se reflicta na pro- gressio dos alunos. Esta visio do problema defende uma «planificagio que contempla nao s6 os objectivos cognitivos, mas também os formativos € socio-afectivos, seleccionando e conceptualizando os contetidos ¢ privilegiando as grandes linhas de condugao do processo histérico»®, ¢ nega também «A obriga- toriedade que impomos a nés proprios de esgotar (note-se que nao digo cumprir) determinado programa, até limites cujo critério de definigao foi apenas o do tempo disponivel (...) pdem-se de parte técnicas de aprendiza- gem e metodologias activas indispensdveis»’, que os préprios programas contemplam e os professores defendem. A continuagao deste nao-cumprimento dos programas, impedindo um ensino-aprendizagem da Historia Contempordnea, nao alterou a situagio que o Pafs conhecia anteriormente ao 25 de Abril, em que o século XIX e 0 século XX estavam ausentes dos programas de Historia ou relegados para uma posigéo secundarizada, ¢ rclaciona-se, provavelmente, com «a falta de formagao de professores no 4mbito da Histéria Contemporanca ¢ da sua didactica»* ou, até, por «certos preconceitos enraizados na mentalidade de alguns professores levam a que, na pratica, esse estudo nao seja cumprido»”, Ao nivel dos Cursos Complementares do Ensino Secundario, em que a disciplina de Histéria s6 era obrigatéria na area dos Estudos Humanisticos (situagao que se ir4 alterar em fungao da introdugao da Reforma Curricular nestes anos de escolaridade) ou, disciplina de opgdo na drea dos Estudos Econémico-Sociais, os problemas relacionados com o cumprimento dos programas foi também uma realidade constante que a documentagao oficial fazia eco por «nao ter sido possfvel 4 grande maioria dos professores cumprit integralmente os programas propostos para o 10° € 112 anos de escolari- dade», e serviram sempre como razdo para se fazer 0 ajustamento «no sentido de reduzir sensivelmente as suas dimensdes»"! e indicar a «plani- ficagdo equilibrada das matérias pelos trés periodos de molde a que possa ser dado cumprimento integral aos programas estabelecidos»®. Esta situacao Jevou quer a definigéo de programas minimos para a disciplina® quer & elaboragao de um conjunto de indicagdes metodoldgicas, tendo em vista 0 cumprimento dos actuais programas da disciplina de Histéria dos cursos complementares™, 4 imagem do que se fizera também para 0 Curso Geral Unificado do Ensino Secundario. Esta constatagao nao invalida o enorme manancial de experiéncia acumu- lado ao longo de quase vinte anos de democracia, em que o ensino da Santos: Os programas do secundério: 1974-94 181 Histéria foi profundamente alterado e acompanhado de inovagdes peda- gogicas em miiltiplas actividades e estratégias no quotidiano das nossas escolas quer no espago curricular da disciplina, quer em espagos € tempos extra-curriculares, originando, no 4mbito da chamada «Escola Cultural», a criagéo de Clubes de Histéria, do Patriménio ou outros, onde a Histéria Contemporinea e a Histéria Local serviram para dar cumprimento aos objectivos da disciplina e ao envolvimento activo dos alunos na construgao do préprio saber. 2.3. Concepgdes pedagégicas e didacticas da Reforma Educativa. Nesta discussio acerca da concepgao de Histéria que os programas do Ensino Secundario deviam reflectir, sobretudo nos seus niveis inferiores (7°, 8° ¢ 9° anos), questiona-se se «ser desejavel encetar (...) andlises predomi- nantemente estruturais, sem fixar com solidez os quadros e dados facto- légicos?»*, reflectindo-se, assim, a discussio que em «Franga — que ainda permanece uma das nossas matrizes culturais - onde politicos, pedagogos € historiadores reclamam a revalorizagdo dos acontecimentos, das personagens, de todas as singularidades que compéem os padrées e referéncias da iden- tidade nacional», Neste debate, também os historiadores, que muitas vezes intervieram na qualidade de consultores das equipas autoras dos programas, tomaram posigdo e, embora partidérios das modernas concepgées historiograficas, defenderam a correcg’o de «uma atitude, que ocorreu depois do 25 de Abril, que era a de aplicar a hist6ria estrutural nos liceus, explorando os grandes movimentos ou a hist6ria econémica € social, que sio um excelente campo de investigagio, mas, pedagogicamente, foi desastroso porque os alunos perderam quase por completo a nogio da diacronia, do antes e do depois, as referéncias aos personagens da Hist6ria. Acabavam por confundir uma coisa que se passava no século XVII com uma do século XV, tudo se tornava muito vago, os conhecimentos nao tinham o suporte da diacronia e daquilo que era dado por uma narrativa do tempo. Daf 0 retorno & histéria narrativa, que € uma tendéncia da pesquisa ¢ da historiografia actuais, e que é€ mais util do ponto de vista pedagégico»*”. A publicagao da Lei de Bases do Sistema Educativo em 1986, e a sequente nomeagdo de uma Comissio de Reforma do Sistema Educativo que elaborou o seu Relatério Final. Proposta Global de Reforma, dois anos depois, definiu o 4mbito em que se enquadrariam os novos programas da 182 Penélope: Ensino da Histéria disciplina, deixando claramente expresso que a «reforma curricular em curso, embora nao tenha definitivamente posto termo ao tradicional cen- tralismo do curriculo tinico para todo o pais (...) tem a vantagem, no entanto, de proporcionar aos professores a existéncia de Programas que, para além de nao se confinarem a menos contetdos programaticos»®, articulam com uma nova concepgao de educacao entendida «como um processo de crescimento, desenvolvimento ¢ aperfeigoamento das potencialidades do educando»*, devidamente concretizada nos programas sob a forma de finalidades ¢ objectivos que «procuram contemplar os diversos aspectos da formagao do individuo, conciliando o saber e o saber-fazer com a estruturagio de um sistema de valores que se traduza em atitudes de autonomia e tolerancia, necessérias 4 intervengao democritica na sociedad», Estes principios pressupdem que «Educar para a mudanga é preparar as novas geragdes para controlar e gerir a mudanga, investigando cientifica e tecnologicamente, estimulando e desenvolvendo o pensamento rigoroso, crftico € criativo, flexibilizando as mentes, promovendo o pensamento dina- mico, incrementando a capacidade de pensamento-ac¢io a alta velocidade social»*!, pelo que os novos programas consagram um desdobramento dessas finalidades «em objectivos gerais, organizados em trés grandes dominios: dos valores/atitudes, das capacidades/aptiddes e dos conhecimentos (...) que nao pretende ignorar a unidade da personalidade do aluno, expressa, simul- taneamente, em pensamento e€ accao, desenvolvimento individual € so- cial»®, Estes principios dio forma a uma concepgao de programa que «conce- deu particular atengao 4 selecgéo de finalidades ¢ objectivos gerais que orientam o processo de ensino-aprendizagem e, por outro, se sugeriram metodologias que, articuladas com os objectivos, mobilizem os contetidos de forma a proporcionar aos alunos experiéncias de aprendizagem susceptiveis de promover, de forma equilibrada, o seu desenvolvimento»®, Neste caso, convém ainda referir que os novos programas da disciplina em regime de generalizacao progressiva de acordo com a entrada fascada da reforma curricular, sio acompanhados por um pormenorizado Plano de Organizagio do Ensino-aprendizagem, apresentado sob a forma de grelha que inclui contetidos, conceitos/nogées basicas ¢ observacdes/sugestdes meto- dolégicas e, até, o mtimero de aulas previstas que «sem fungao normativa esclarecessem o professor sobre a articulagao dos varios componentes cur- riculares e lhe facilitassem as tarefas de planificagdo, quer a longo, quer a médio, quer mesmo a curto prazo, tal nao significa, obviamente que se coarcte a liberdade do professor, a quem fica aberto, no que se refere a Santos: Os programas do secunddrio: 1974-94 183 selecgdo das aprendizagens, um largo campo de decisdo, em interacgio com os alunos e de acordo com as situagdes pedagégicas concretas»*. 2.4. O trabalho de Projecto e a Area-Escol: potencialidades. ; novas metodologias e reais Como vimos nos programas do Ensino Secundario (10°, 11° e 12° anos de escolaridade), a Histéria limita-se a ser uma disciplina de opgao cm qualquer 4rea, inclusivamente no Agrupamento 4 (Humanidades), ficando assim dificil de compreender 0 alcance da sua principal finalidade — «levar os alunos a descobrirem na Hist6ria um quadro geral de referéncias que os ajuda a consciencializarem-se sobre o seu lugar no mundo»® — pois, por absurdo, a mesma pode nao ter destinatarios. Nestes programas, a grande particularidade reside na inclusio da Meto- dologia de Trabalho Projecto, com um tempo curricular préprio, no 11° ¢ 12° anos, em cerca de 20 aulas, «uma técnica especialmente adequada ao desenvolvimento das capacidades criativas e da autonomia intelectual € psicossocial dos alunos»®, que na disciplina de Histéria funcionaré como «a primeira técnica verdadeiramente vidvel para identificar 0 aprender histérico com o fazer hist6ria»’, traduzindo assim «o grande desafio que o trabalho de ptojecto coloca ao ensino da Histéria: respeitar a liberdade de pesquisa do aluno, salvaguardando ao mesmo tempo a defesa de um projecto consequen- te de Histéria — uma Hist6ria que mergulha na vivacidade das memérias, mas que nio prescinde de precisao critica ¢ de ordenagao do real». A realizagao do trabalho de Projecto no ambito exclusivo da Histéria de Portugal, é, talvez, uma forma de enfatizar 0 peso da Histéria Nacional nestes programas face aos anteriores, que abarcavam apenas o estudo da Histéria de Portugal, c, em certa medida, uma «concessio» aos professores que, em muitas ocasides de debate do Projecto do Novo Programa, critica- tam a opgdo subjacente ao novo programa em que consideram a Histéria Nacional preterida. Esta interpretagao parece, contudo, nao ser sancionada pelos autores do proprio programa, que consideram que o mesmo trata, integradamente, 0 estudo da histéria nacional, quer em termos de estruturas, quer em con- junturas mais relevantes da evolugao histérica portuguesa. HA, ainda, que considerar as possibilidades que a Histéria pode desen- volver no ambito da Area-Escola, area curricular obrigatéria, embora nio disciplinar, institufda nos planos curriculares de todos os niveis € ciclos de 184 Penélope: Ensino da Hist6ria ensino para, através de projectos interdisciplinares, multidisciplinares, ou mesmo transdisciplinares, contribuir para uma formacdo integral do aluno em que, curiosamente, se cruzam e identificam metodologias, objectivos ¢ estratégias com aquelas que se prescrevem para o ensino da Histéria nos programas, foram consideravelmente reduzidas ao instituir-se a Area-Escola no espaco e tempo curricular das disciplinas. 3. Notas finais. As alteragGes introduzidas nos programas da disciplina de Histéria no 3° ciclo do Ensino Basico (7°, 8° e 9° anos) e nos do Ensino Secundario (10%, 11° e 12° anos) traduzem toda uma reflexdo resultante da experiéncia de muitas € sucessivas reestruturagdes, em que os conceitos ¢ concepgdes de Histéria, pedagogia e diddctica estiveram sempre presentes, determinando uma selec- ¢40 de contetidos, supostamente articulados com as finalidades/objectivos préprios do ensino da Histéria, adequado ao est4dio de desenvolvimento psicolégico dos alunos para que foram concebidos. Ha, contudo, uma questdo que parece estar ausente desta reflexado (im)pessoal sobre 0 ensino da Histéria em Portugal, mas que, na realidade, condicionou as opgées ¢ as polémicas aqui tratadas: de que escola e de que recursos dispomos e€ dispusemos para concretizar este processo de ensino- -aprendizagem da Histéria? Nao podemos compreender o alcance e 0 impacto desta interrogagio para o ensino da Histéria, de hoje e de sempre, se ndo equacionarmos a heranga cducativa da nossa prépria histéria recente — de um longo periodo de ditadura, sucedido por uma década de ensaios ¢ vontade de mudanga, num quadro em que as estruturas materiais de apoio a inovago ¢ 4 qualidade pouco se alteraram. No contexto da Reforma Educativa em curso, Portugal debate-se ainda com problemas que os pafses industrializados enfrentaram nas reformas das décadas de 50 e 70, de que destacamos as infra-estruturas relacionadas com 0 parque ¢ o equipamento escolar, ou a politica de formacao de professores, apesar do inovador quadro legal em criagdo. Agora ha que mobilizar signi- ficativos recursos financeiros ¢ humanos capazes de alterar as condigdes reais em que decorre o processo de ensino-aprendizagem, sem o que nado mudara a pratica pedagégica indispensdvel ao objectivo de «Ensinar melhor, para melhorar as aprendizagens»®, Estranha-se assim que 0 actual programa de formaco continua de Professores (FOCO, 1995) tenha limitado as possibili- Santos: Os programas do secundério: 1974-94 185 dades de organizagio de acgdes de formacao as 4reas relacionadas com as competéncias pedagégicas, 4 excepgao do Portugués e da Matematica, que foram integradas nas reas prioritarias. Deste modo, a realizagao de acgdes do dominio da actualizagio cientifica que sio sempre fundamentais (pois o desenvolvimento de aptiddes/capaci- dades ou atitudes/valores nao se faz no vazio, mas no contexto da apren- dizagem de saberes) ganha uma nova acuidade numa época de generalizagao de novos programas que, ao nivel do ensino secundario, constituem uma alteracdo radical de contetidos que impde um apoio significativo ao trabalho dos docentes dos Ensino Basico e Secundario. Cit. in Rémulo de Carvalho, Historia do Ensino em Portugal. Desde a Fundacdo da Nacionalidade até 40 fim do Regime de Salazar-Caetano, Fundagio Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1986, p. 727, 2 hid. p.744. » Tid. Maria Emilia Diniz, «Que Hist6ria Ensindmos? Que Histéria Ensinamos? no Ensino Secundério», in Boletim da Associagda de Professores de Historia (O Ensino da Histéria em Portugal), 1983, n° 7 (L série), p. 10. 5 Ibid, p.9. M. Tavares Emidio, «Ensino Secundério», in Sistema Educativa em Portugal (coord. Manuela Silva ¢ M. Isabel Tamen), Fundagio Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1981, p. 195. Rogério Fernandes, «Ensino Basico», in Sistema Educativo em Portugal, p. 171. ® In O Ensino da Histéria, Boletim dos Sécios da Associagdo de Professores de Historia, 1988, n°* 5-6, p. 1. ° Ibid. p.V. 10 Tbid., p. IV. 11 Maria Emilia Diniz, «Trabalho de Projecto ¢ Projecto de Historia», in Primeiro Encontro sobre 0 Ensino da Historia. Comunicagées, Fundagio Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1992, p. 351. 12 fbid., pp. 351-52. 55 Ministério da Educagao ¢ Investigagao Cientifica, Programa da Disciplina de Histéria para o Curso Geral do Ensino Secundério, Direcgio-Geral do Ensino Secundatio, 1976. 4 bi 7 Bid. Ministério da Educagio e Cultura, Programa do Curso Complementar dos Liceus, Secretaria de Estado da Orientagiio Pedagégica, 1974-75. "9 id, 2 Ibid. 21 MEC, Programa de Histéria do Curso Complementar, Secretaria de Estado da Educagio e Juventude, 1979. 2 bid. 8 Ibid. * Ibid. 186 Penélope: Ensino da Histéria Ibid. Wid. MEC, Programa de Histéria do I? Ano do Ensino Liceal, Direegio-Geral do Ensino Secundatio, 1971-72. Ibid. MEC, Circular 1? 33 de 30 de Janeiro de 1980, Direcgio-Geral do Ensino Secundério. Wid. MEIC, Programa da Disciplina de Histéria dos 7°, 8 e ¥ anos, Direogio-Geral do Ensino Secundério, 1980. ME, Circular n? 201/86 de 3/11/86, Ditevga0-Geral do Ensino Secundatio. MEIC, Programa da Disciplina de Historia do Curso Secundério Unificado, 1978. Olinda Fernandes, «A gesto dos programas de Histéria. Contributos para uma reflexdo», in 0 Professor, Editorial Caminho, Lisboa, 1988, n? 103, p. 6. Ibid. p. 6. Cristina Kirkby, «Gestio de programas de Histéria do Ensino Secundério. Uma reflexao», in 0 Estudo da Histiria. Boletim dos Sécios da Associagio de Professores de Historia, 1987, n° 3-4 (II série), p. 86. Ibid , p. 87. Wid. Sérgio Campos Matos, «Manual de Histéria como lugar de Meméria», in O Estudo da Historia. Boletim dos Sécios da Associagio de Professores de Histéria, 1988-89, n* 7-9 II série), p. 134. MEIC, Circular af 43 de 3/11/86, da Direogao-Geral do Ensino Secundétio, bie Wid. Conforme consta no Oftcia/Gireular n* 34/83, da Diteogio-Geral do Ensino Secundirio. ME, Gireular n? 200/86, Ditecgio-Geral do Ensino Secundario, Maria Emilia Diniz, «Que Histéria Ensinémos? Que Histéria Ensinamos? no Ensino Secundatio» cit, p. 11. Tid. José Mattoso, «Uma Histéria mais humana», in Ler, 1993, n®21, pp. 60-61. Valdemar Castro Almeida, «Uma anilise dos Novos Programas de Historia na perspectiva curri- cular», in Reflectir sobre a Mudanca para Preparar o Futuro. Comunicagoes do Encontro do Porto, Fevereiro de 1991, Associagao de Professores de Histéria, 1991, p. 52. Comissio de Reforma do Sistema Educativo, Proposta Global de Reforma. 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