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para os mistérios do universo 2- P 5 . a a Ps . “ae a : . : Com a aria da relatividade geral, a mais cotidiana Fee ce ea oer PEC SU me CS Se mS Ue mun meu resultado de uma forga e passou a ser visto como efet aeral da geometria curva do univers Da ‘criagdo’, evolugdo e (ainda misteriosa) constituigdo do universo aos abismos de tempo e espaco escondidos no interior dos buracos negros, a relatividade geral eee OnE oe) transformou para sem Mesmo depois de um século, essa teoria continua Ce er onc ed vislumbrar aspectos da natureza que ainda escapam Cn Pee Cee PaO er oes gos que mudariam a face da fisica -, 0 jo- Seer a one ere ety (1879-1955) tomou para si a tarefa de encon: eee ee ery Pott res Senta Pee ret oe err eae tater) a de 2,5 séculos antes pelo fisi een tren recite) podemos citar trés principais marcos: i) a formulagio arene eer de espaco-tempo; iii) a percepcio de que esse espaco- Po err Chrono tn an seen eer cen Newton: todos os objetos caem com a mesma acele Ret Cee eee ee peernnres ty a Pua) ern facut A... Einstein percebeu que esse fato, sozinho, possibilita- va interpretar a forga da gravidade como uma forca de inércia, um tipo de forca cujo exemplo mais comum é a forga centrifuga, aquela que tenta nos jogar para fora de uum carro fazendo uma curva. Mesmo com efeitos bem reais sobre quem esta no carro, essa forca simplesmente deixa de existir quando se adota o ponto de vista de al- ‘guém parado em terra firme, Para esse observador, € a inércia — a tendéncia de os corpos manterem seu estado de movimento retilineo com velocidade constante ~ a responsivel par ‘jogat” 0 ocupante para fora do carro. Para entender o caso da gravidade, vamos recorrer ~ como gpstava Einstein ~ a um experimento mental. Voce acorda e se vé dentro do que parece ser um elevador. De repente, voeé é tomado por uma sensagéo de total ausén- cia de peso, Seus pés mal tocam 0 chio, ¢ seu celular, ‘tendo escapado de sua mio, flutua a seu lado, A conclusio, ‘embora terrivel, parece inevitavel:o elevadore tudo mais dentro dele estio em queda livre, sob a acio da gravidade. Por mais alto que se encontrasse 0 elevador, logo essa agonia teri fim, pensa vocé. Mas 0 tempo passa sem que nada de tragico aconteca, Com isso, uma esperanca surge ‘em sua mente: “Estaria mesmo o elevador em queda li- vre? Eu néo poderia estar... lutuando no espago sera, Tonge de qualquer planeta ou corpo capaz de provocar savidade?™ Esse ¢ exatamente o teor do principio de equivaléncia de Einstein: ¢ impossivel distinguir a situagio de queda livre em um campo gravitacional daquela de estar livre de qualquer forca (ou seja, inercial) no espaco sem gr vidade. Com essa ideia ~ que Einstein qualificaria como “a mais feliz” de sua vida ~, foi dado o primeiro passo ‘em sua busca. Espago-tempo © segundo marco ficou por conta de ‘um ex-professor de Einstein, o matemético alemao Her- mann Minkowski (1864-1909), que percebeu, jé em 1907, que os efeitos da relatividade poderiam ser mais bem compreendidos se tempo e espagofossem conside- rados como meras facetas de um ente mais fundamental, um ‘espaco' fisico com quatro dimensdes (ou diregbes independentes) no qual cada observador perceberia de maneira diferente, dependendo de seu movimento, como ‘essas quatro dimensées se separam nas trés espaciais (comprimento, altura ¢ largura) ¢ uma temporal que ex- Ppenmentamos com nosses sentidos. Nascia, assim, 0 conceito de espaco-tempo. Curiosamente, Einstein néo percebeu de imediato a profundidade da contribuicio de Minkowski. Para ele, a reformulacao de sua teoria em termos de espaco-tempo ndo passava de uma curiosidade matemética, uma “eru- dicho supérflua”. Ele 96 daria importincia a essa ideia por volta de 1912, ao vislumbrar a possibilidade de des- crever a gravidade por meio de um espago-tempo que tivesse sua geometria distorcida, curvada pela presenca de matéria e energia. O ceme da nova teoria da gravidade estava estabele- cido, mas trés anos ainda se passariam até que a nova teoria tomasse sua forma final. Em 25 de novembro de 1915, Einstein chegaria as equagées da gravidade que hoje levam seu nome. Geometria distorcida No tentativa de encontrar uma teoria da gravidade que fosse consistente com telatividade de 1905, Einstein acabou por generalizar ‘esta iltima, que ficou conhecida como teoria da re- atividade restrita (ou especial) e é marcada por dois aspectos gerais: i) a velocidade da luz (300 mil kin/s) € uma constante da natureza; it) espaco tempo deixaram de ser conceitos absolutos - eles, agora, dependiam do estado de movimento de cada observador. Unindo todas as pecas do quebra-cabeca, a teoria da relatividade geral, como foi cha- mada, aboliu 0 conceito de forga gravitacio- ‘nal: agora, uma maga solta no ar cai em Figura |. Em trajetéria 6 queda de uma mag na geometna do espagodistorcde pela massa ‘a Tera. Em B, ota dos planeta no espago istorciopela massa do Se direcio a0 chao nao porque hé uma forca puxando-a para baixo, mas porque a tra- jetdria de queda ¢ a ‘mais retilinea pos- sivel’ na geometria do espaco-tempo distorcida pela massa da Terra, Do mesmo modo, 0 Sol ndo mais ‘exerce uma forga sobre a Terra ¢ 05 outros planetas; apenas deforma a ‘grometria & sua volta, de modo que os tas, livres da acao de qualquer 10 percorrerem as trajetérias ‘mais retilineas possiveis’ nessa geome- tia distorcida, acabam descrevendo as ér- bitas que observamos (figura 1). Em consonincia com o principio de equiva lencia de Einstein, os referenciais em queda livre sio (0s verdadeitos referencias inerciais. Portanto, voc®. lei- tor(a), sentadofa) em sua cadeira ou em pé lendo estas linhas, esté, mesmo parado(a), sendo acelerado(a) para ‘cima - ou seja, sendo tiradofa) a todo instante da traje- tsria que seria inercial, como acorre com 0 ocupante de tum carro fazendo uma curva ~ pela tnica forga que atua sobre voce no momento: a de contato com a cadeira ou © chilo (figura 2). Merciirio € 0 desvio da Uz Esso nova manei- ra de entender a gravidade levou a consequéncias ime- diatas, A primeira delas foi a explicagio de uma anoma- lia na érbita de Merciirio. Sabia-se, desde o século 19, que 0 ponto de maxima aproximagéo entre esse planeta © 0 Sol (periélio) mudava ligeiramente a cada volta, de tum tanto que nio podia ser completamente explicado pela gravitacio de Newton, Einstein verificou que a teoria da relatividade geral dava resultados muito parecidos com os da gravitacio de Newton quando os campos gravitacionais eram fracos. Mas a diferenca entre as duas teorias se acentuava me- ddida que o campo gravitacional fosse mais intenso ~ por ‘exemplo, nas mediagies do Sol. E essa diferenga explica- -va satisfatoriamente a anomalia da érbita de Merciirio. AA relatividade geral ja nascia com um fato empirico a seu favor. Outra consequéncia imediata da teoria: © desvio de raios de luz por campos gravitacionais. Como a gravida- de € apenas um efeito colateral da curvatura do espaco- tempo ~ sobre o qual tudo se propaga, inclusive a luz -, cera inevitavel que @ trajetdria dos raios luminosos tam- bbém fosse afetada, ou seja, encurvada. Einstein calculou qual seria o desvio de um raio de Juz, vindo de uma estrela distante, a0 passar rasante a0 Sol, o que levaria a uma mudanga na pasigéo aparente dessa estrela quando vista da Terra (figura 3). Em 29 de maio de 1919, duas expedigies cientificas britani ‘cas, uma enviada a Sobral, no Ceard, e outra a Ilha do Principe, na costa africana ocidental, fotografaram 0 céu na diregio do Sol durante um eclipse total, de modo Figura. Como oocupante de sm caro fazeno uma curva, ‘desviad a todo instante ds ‘rapa retinea, tum corpo parade sobre a supertcie da Tera est sendo acelerado para cima pea nica orga que atua sobre le: ade cantata com a superficie que as estrelas de fundo pu- ddessem ser vistas. Comparando com registros des- sas mesmas estrelas de outra época do ano ~ quando o Sol ndo estava entre elas e nds -, a dife- renga entre a posicdo real ¢ a posigéo aparente dessas estrelas pide ser medida. E, assim, a previsio feita por Einstein quase quatro anos antes foi confirmada, Energia e matéria escuras As implicagses mais importantes da relatividade geral, no entanto, vio muito além de pequenos efeitos na Terra ou no Sistema Solar. A teoria mudou dramaticamente a maneira como vemos: 0 universo, Logo em 1917, Einstein percebeu que sua teoria néo favorecia a ideia de que 0 universo fosse esta- tico: ele deveria estar ou se expandindo, ou se contraindo, de modo que, no passado, deveria ter sido bem diferente do que € hoje ~ possivelmente, tendo até tido um inicio. Era a primeira vez que essa questio podia ser abor- dada de uma maneira cientifica, Einstein néo era imune ‘a0s preconceitos de sua época € resolveu modificar sua ‘teoria, introduzindo nela a chamada constante cosmolé- gica, para que as equacies se conformassem com um universo estatico ¢ eterno. No entanto, observagies do final da década de 1920 mostraram que as galaxias esta- vam se afastando umas das outras, ou seja, 0 universo estava, de fato, em expansio. Einstein classificou a cons- tante cosmoligica como “o maior erro” de sua vida. Hoje, sabemas que 0 universo ~ cuja idade ¢ de 13,8 bilhdes de anos ~ ndo $6 est se expandindo, mas que faz isso, nos iltimos 6 bilhdes de anos, deforma acelerada. Interpretado & luz da relatividade geral, isso significa que cerca de 70% da energja do universo esta em uma forma exdtica, Denominada energia escura - pois nio pode ser vista’ -, ela é diferente de qualquer coisa que ja detec- tamos nos mais avancades laboratérios de fisica da Terra. Algo semelhante ocorre com outros 25% da energia do universo: a chamada matéria escura s6 pode ser de- tectada por seus efeitos gravitacionais sobre outros cor- ‘pos. Portanto, tudo o que vemos ao nosso redor e no cos- ‘mo (galaxias, estrelas, planetas, humanas, bactérias etc.) corresponde a apenas 5% do contetido de energia do univers ‘xtucumat352| ze 205) 41 >>> lis Portanto, a relatividade geral 6, até o momento, atini- ca ferramenta que nos permite vislumbrar 95% dos ‘constituintes da natureza, 0 mais antigo dos mistérios Apesar de wdo 0 que a relatividade geral possibilitou que apreendés- ‘semos sobre o universo em grandes escalas, é no contex- to estelar que surge sua consequéncia mais fantistica. ‘Quando a ‘morte’ chega para uma estrela que tem cer- ‘cade 10 vezes ou mais a massa do Sol, seu ndcleo “im- plode’ (colapsa sob sua propria gravidade), gerando uma ‘grande explosio, denominada supernova. Se a massa do ‘objeto remanescente desse processo de ‘morte estelar’ for maior do que cerca de trés massas solares, entio nada é capaz de impedir que toda essa matéria continue co lapsando indefinidamente, até se concentrar em uma re- iio de volume efetivamente nulo! Surge assim uma ‘singularidade. ‘A curvatura provocada por essa singularidade no es- ;paco-tempoé tio grande que qualquer coisa que se apro- xime muito dela (inclusive a luz) é inevitavelmente tra~ gada em sua diregdo. Essa regio em torno da singulari- dade ~ de onde nem mesmo a luz consegue escapar ~ é chamada de buraco negro. No centro de nossa galaxia, hé um forte candidato a buraco negro, com cerca de 4,1 milhdes de massas sola- res, Hoje, acredita-se que a maioria das galaxias tem um buraco negro gigante em seu centro ~ alguns com até bilhdes de massas solares. Figura 3.05 raios de uz vides de uma este soften tum desvionas preximidades de um campo gravitacional Intenso no caso, oS) Essa aterar Sona traetria da hz ‘azcom qu a estela sea sta em uma posi do aparente endo em sua psig eal Embora 0 proprio Einstein aparentemente nunca te- nha aceitado a existéncia desses objetos exéticos (frutos de sua prépria teoria), hoje ¢ inconcebivel acomodar to- das as observagées astronémicas sem fazer uso da exis- téncia de buracos negros. Entender as singularidades escondidas em seu inte- rior & uma questo que tem frustrado geragies. No es- ‘copo da relatividade geral, as singularidades sio como “bordas’ do espago-tempo, o ‘fim da linha’ para quem, ‘ou que se dirigir a elas. Na singularidade, as leis da fisica, como as conhecemos. perdem o sentido. Acredita-se que, ha cerca de 13,8 bilhdes de anos, uma singularidade tenha sido 0 ponto de partida para a ssubsequente expansio do universo, Portanto, guardada no interior dos buracos negros, pode estar a chave para ‘o-mais antigo dos mistérios: a origem do universo. Novo paradigma? Cem anos depois de sua formu- lagio, hé quem defenda que a relatividade geral tenha {que ser substituida por uma versio que se adeque a0 paradigma introduzido pela fisica quantica, teoria que lida com o diminuto universo atémico ¢ subatémico ¢ que, ao lado da relatividade geral, é um dos pilares da fisica contemporanea. ‘Ou, talvez, as duas teorias tenham que ser reformu- ladas. O fato é que a busca por essa teoria da *gravidade _quantica’ ~ que, alguns acreditam, possibilitara entender as singularidades ~ tem frustrado os mais brilhantes fi- sicos tedricos de cada geracdo - inclusive Einstein, ‘Assim, nao seré uma grande surpresa se a relativida- ‘de geral completar seu segundo centenario tio em forma ‘quanto completa o primeiro. E, independen- temente do que venha a ocorrer, é quase ‘certo que continuaré sendo uma valiosa fer ramenta na exploracéo do universo. fe Sugestées para leitura ‘BERTRAND, R_ ABC da relatnviade ia de ane: aba, 2005. [MATSAS, Ge VANZELLA D.Buracs segres:rampendo ‘os lintes da So. i de ane aa & ent, 2008, IMATSAS, Ge VANZELA.D. Paria eementares az ds bares negos Ciéma Hoe 21, 182, pp. 2633 2000, ‘SINGH, S. ig Bang Rie lane Recor, 2006, THORNE, KS. Black les and time warps. ‘Ne Yr WW Recon & Compa. 1958. ERA, C.L Ent, reformat do unis. ‘Sto Fale Obpses, 2003 \WOUSON.R.Simplesmene Fasten a Rlatidase esesticada. Ro lane era Gb, 205.

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