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UMA TEORIA DA JUSTICA John Rawls Martins Fontes 1 Indice Precio a edigao brasileira sens M tenn Precio Xx fc TEORIA wee | ‘Capito —dustiga como eqatdade 3 epee 1.0 popet da justia 3 “Ser 2.O objeto da justia. 7 7 eects 3. Adi principal da cra da justia. 2 4 posi orginal sua usietva. 9 “soe 5. Otltaramo cisco. 4 Sc eens 6 Algumas dsperdades interelaionadas 30 eit ae , 7.0 iticionimo, 36 oe Es ‘8, O problema da prioridade. “4 seat 9. Algumas obseriades Sobre a teaia aa ° 1 Me ge te Capitulo Os prineipios da jstiga 37 some ene 10, As instuigdes a jutga FEMA sncnnnee $7 = J 1.0 dis principio da jutiga oh 12. Imerpretagdes do segundo principio. ° ate 1A igualade democrats © 0 principio da dif ieee ees eee sak » “ss le ht 7 14, A igual eqitatva de oportunidades oust iia fa te a eesetiecel ner “ » i tmnt ‘pmo 15. Os bens soins primaries como a base ds ex- pectaivas 16, Posigdes soca relevantes. 17. tendéncia digualdade 18 Pincipios para indviduos: 0 principio de eqi- dade 19, Princpios par indivduos: os deveres maura Capitulo Il A posigo origina 20. A natura do argumento 2 favor das concep ‘bes da justia 21. Aapresetagio as alternativas 22. Ascircunsincias a justign 23. As restrigdes formats d coneeto de justo 24.0 veu de ignorincia, 25, Aracionaldade das partes 26.0 raciosnio que conduz 20s dois principios da justia 27.0 raticinio que conduz 20 principio da wilida- demédia.. ie 28, Algumasdifieuldades do principio da vilidade média 29, Alguns argumentosprincipai favor dos dois Principios da justia 30, Utiltarisme clisio, imparcalidade e benevo- lencia| SEGUNDA PARTE INSTITUIGOES Capitulo 1V ~ Liberdade igual 31. A sencia de quatro estigi oso 32. O conceit de liberdade 43, Igual liberdade de consign, : 101 107 16 m ray mw Bt 136 40 6 153, 10 mB 179 190 200 aut au 218 223 14. A tolerinca eo interessecomum 38. A tolerncia para com os intolerant. 36, A justiga politica ea constiugio. 37, Limitagbes do principio de paricipaszo. 38. Ocsado dedireto 39, Defnigho da priridae da liberdade 40, A interpreta Kantiana da jusiga como eati- ade, Capitulo VAs parcelas dstributivas 4. 0 conceito de justga na economia poica 42. Algumas observapies sobre os sistemas econd- 48. Insttuigdesbasias da justia disibutva ‘44.0 problema da justiga entre peraées 45, Preferénca temporal 46, Outros casos de prioidade 47, Os precios da justia 48, Expoctatvas legitimas e méito moral 49, Compara com coneepydes misas. 50.0 principio da pefeigto Capitulo VI ~ Dever e obrigasi 51. Os argumentos a favor dos pri natural 52.0s argumenios «favor do principio da equi- dade 7 153.0 dever de obodecer a una ie inj 54. importncia da regra da maior 55. A definigio de desobeditcia civil 56. A definigio da objeto de conscitnia, 57. A justfcativa da desobediénca civil 58. A justificativa da objego de conseigncia 58,0 papel da desobedicia cv 229 2s 24 249 237 215 2s 286 293 303 314 34 329 335 3a 348 359 369 369 380 388 395, 402 407 an a8 a3 "TERCEIRA PARTE ‘OBIETIVos Capitulo VIt~ A virtude come racionalidade, 60. A necessidade de uma teoria do bem 61. A definigao de bem para cass mais simples. 162, Uma nota sobre o significado. (63. A definigio de bem para panos devia. (64. A racionalidde deliberativa, {65.0 prinipio aistotlico, 16. A defini do bem apicada bs pessous (6. Auto-estima, exceléncase vergonha. 68. Vrias dferenas enteo justo eo bom Capitulo VII -O sense de justiga. 69. 0 concito de sociedad bem-organizada 70: A moralidade de autoridade 71; A moralidade de grup. 72: A moraidade de priaeipios 7. Caracterstias dos sentimentos mora 74, A lgagio ene as atitudes moraise a8 ates ature 15. Os prinepios da psicologia moral. 16.0 problema da estbiidaderelaiva ‘7. Atbae da igualdade Capitulo IX - 0 bem da justia 78, Autonomiae objetividade 79, iia de unido social 80,0 problema da inveja 81 Inejaeigualdade. 82. Os fundaentos para a prioridade ds liberdade. 13, Felicidade e objetivos dominant, 4, O hedonisme como um método de escola, 85. A unidade do eu a7 a7 “7 450 469 479 487 34 503 04 512 S18 524 532 339 ss 560 sm sn 319 539) 602 610 617 o 86, O bem do senso de justiga 87, Consideragies Finals expicativas Novas Indice remissivo. 630 683 657 703 Para Mard Preficio @ edigdo brasileira £8 com grande prazer que escrevo este preicio& edigho ‘brasileira de Uma tora da usta, que sogue oda edict fras- cosa de 1987. Apesar das virasexticas& obra, ainda aceito ‘suas principals coordenadas edefendo suas douttinas cents. ‘Sem dividae como se podeia esperar, gostara deter proce de forma diferente em alguns potos, atualmente fri varias ‘evishes importantes, Mas se esvesse reescrevendo Uma teo- ria da justice, nlo esrevera, como algunas vers dizem 08 ‘autores, um vo completamente diferente ‘Como o preficio i edigio ances fio primeiro eo in ‘0 que escrevi para as edigdestraduidas,aproveito esta opor- ‘tunidade para repetic que em fevereiro emargo de 1975 o texto ‘original em ingles foi consderavelmenterevisado para a ed- ‘fo alem, qu fot publcads naguele ano. At onde sei essas Tevises foram incuidas em todas a tradugesSeguntes en30 foi feta mais nenhuma desde ento.Portanto, todas as tadu- es, incluindo esta, fram fits a partir do mesmo text revie Sado. Como esse texto inclu o que acreito serem importantes aperfeigoamentos as edges traduzidas (uma vez preserva 8 ecisse io superiores&edico em lingua ingles ‘Antes de comentat sabe as mais importantes revisbes © por que elas foram feta, quer enfatizar a concepsio da justi- fa apresentada em Una teora da justca, uma concepeio que chamo de “jstiga como eqidade”. Consider as idias co ob- {etivs centras dessa concepeio como os de uma concepeso Tilosica para uma democracia consttucional. Minka espe- anga€a de que a justia como eqlidade paregarazoivel iil, xv ‘uma THOR Da sesnica mesmo que no sja totalmente convincente, para ma grande tEama de orenagbespolteas ponderadas, e portant expresse ‘uma pare essencil do nicl comum da radio democrtia. Fiteferéncia aos objets eidasceiras dessa coneep- slo no preficio i edigio em lingua inglesa. Como explicado ai {ho segundo ¢ no torceira parigrafos desse preficio) minha ‘ntengdo fo formulae uma concepsio da justiga que fornecese ‘uma alternative razoavelment sistemsiica a uiitarismo, que, dd uma frm ou de our, dominou por um longo tempo atradi- ‘lo anglo-saxi do pensamento politico. Arazio principal para buscar ess altenativa &,no mew modo de pensar afagildade da doutrina utiltrsta como fundameato das instiuiges da ‘éemocracia constitucional. Em particular, ndo acredito que 0 uilitarmo possa expliat a liberdades direitos biseos dos ‘idadios como pessoas livres eiguas, uma exigéncia de im ‘prtinciasbsolstamente primordial para uma consideraso das Instiuigdes democritics, Uilizi uma versio mais geral © that ia do contrato social usando para iso aide da po- ‘Siglo original, Uma explieagio das liberdades e direitos isi- ‘os, ¢ também de sua prioidade, foo primeitocbjtivo dajus- tiga como eqidade. Um segundo objetivo foi inteprar essa ex- plcagio a um entendimento da igualdade democratic, © que ‘onduziu o principio da igualdade eqitativa de oportunida- ‘des a0 principio da dfereng’. ‘Nas revisdes feta em 1975, enc era certs defiién- cing da edigdo em lingua inglsa, Teta! indicélas agora, em- bora receie que muito do que drei nio seja inteligivel sem um ‘onhecimento previo do texto, Deixando de ado essa preocupa- ‘ho, uma das ais sriaedeficiéncias ea explicapio da ber- ‘ade, cujos pontos acs foram apontados por H. L.A. Hatem ‘ua diseusso erica feta em 1973), Comegando com a Sesi0 11 do Capitulo I, iz revisdes para eslarecer vis as dficul- ads notadas por Hart. Enretanto, devo dizer que a explicago ‘presenada no texto revisado,embora bastante melhorad, ain- 4a nfo 6 totalmente satisfairia. Uma versio melhor pode ser encontrada em um ensio de 198, initulado "Basic Liberties tnd Their Priority” ["As liberdades hiscase sua priviade”): PREFACIO | sDICHO BRaSILEIRA xv Esse ensaio tena responder o que vim a considerar como sendo as mais importantes objegdes de Har, Afirmase ali que a8 Tivertades e direitos bisicos e sua prioidade garantem igual- mente par todos 0s cidadios as condigies saints esenciis para 0 deseavlvimento adequado ¢ para 0 execicio pleno © conseiente de seus dois poderes moras ~ sua capacidade para lum senso de justia sua capacidade pera uma concepcio do ‘bem =naguilo que chemo deos doi esos fundamentas. Rest- ‘midamente, 0 primeiro caso fundamental éaapicago dos pin- cipios da justia esratua bisica da sociedad pelo exericio o senso de justia dos cidadios.O segundo caso fundamental & ‘apliagdo ds poderes de raiocnioe pensamentocrtico dos ‘idadios na formasio, na revisio e na busca racial de sua ‘concepeo do em, As liberdades politica iuais,incluindo 0 ‘seu valor eqUitaive (uma ideiainroduzida na Secio 36), a liber de pensamento,alberdade de conscéncia © liber- dade de associa, devern garantr que oexercicio dos poderes ‘moraispossa ser live, consiente ¢ efetivo nesses dois casos. ‘Considero que essas mudangas na explicago da liberdade po- dem se encaixar confortaveimente na etutua da justia como ‘eqlidade apeesentada no texto revisao. ‘Uma outa dficinci sia da edico original em lingua ingles foi a anise dos bens priméros.Afirmarae neve texto ‘gue os bens primiros so a8 coisas que as pestoasraconais ‘desejam, independentemente de quaisquer ous coisas que elas desejem; a defini dessas coisas ea suajutificativa de- veram se explicadas pela andise do bem fit no Capitlo VIL Infeizmente, essa andlise era ambigua quanto &questio de © estatuto de bem primairo dependerunicamente dos fatosnatu- ‘ais da picologia humana ou também depender de ua con cepelo moral de uma pessoa que incorpora um certo ideal sa ambitidade deve ser reslvida em Favor da segunda b= pites: devemos considerar que as pessoas tm dois poderes ‘moras (mencionadosacima)¢ intereses de uma ordem supe- rior no desenvolvimento ¢ no exericio desses poderes, OS bens primaris sto agora caracterizados como aquile de que as pessoas necesstam em sua congo de cidadios ives igus, xv ‘use mon Da sUsTICA ‘ede membros normals totalmente cooperatives da sociedade Aurante toda uma vida. Comparagesinterpesoais para propd- sits de justia politica dever ser fitas em terms de uma lista ‘ordenada de bens primérios dos cidadios, e considera que esses bens respondem as suas necessidades como cidados, em opesigio as sus preferénciase desejos. Comesando pela Se- ‘ho 15, fizrevisdes para expressr essa mudanga de visbo, mas esas revises ficam aquém da exposigio mui completa que fiz-num ensaio posterior, também de 1982, intitulado * ros"). Como acontece com as mudancasna consideragio das Tiberdades bisicas, jlgo que as mudangasexigida por essa eclarapio podem se incorporadasnaestrtura do text revie sad, ‘Muitas outa revises foram feitas, especialmente no Ca- pitulo I e também, emibora nlo tans, no Capitulo IV. No Capitulo I eu simplesmente tent tomar 0 racioeinio mais claro ou menos abertoamal-entendidos. As revises sfo muito ‘numerosa para seem indicadas aqui mas, na minha opnido, ‘io desviam de forma significatva da visio apresentads na ‘edigdo em lingua inglest. Do Capitulo TV em diante howve joucas mudangas. Revise a Seplo 44 do Capitulo V sobre oupanca just, mais uma vez na tentative de torn-lo mais claro; rescrevi também os seis primeirosparigrafos da Sexo 2 do Capitalo IX para corrigit um ero sériono argument a favor da priridadedaliberdade; eh outas medangas no res- to dessa seco, Tendo identficado © que considera serem as duas mudancas importantes, as mudangas feta nas considera~ es das liberdades basics © dos bens primis, talvez essas inicagtes seam suficientes para transitr a natureza ea ex- tensio ds revises. Se estivesseescrevendo Uma teoria da justga agora, hb das coisas que trataria de modo diferente. Uma diz respeto a como apresentar © argumento a favor dos dois principio da justia (ver Capitulo TD partir d posi orginal (ver Capi- ‘ulo I), Tera sido melhor apreseat-lo em termos de duas comparagbes. Na primeira as partes decidiiam entre os dois PREF{CIO A EDIGHO BRASILEIRG xv rincipios de justiga, consierados como uma uniade,¢opit- ipo de utildade (media) como otineo principio de justia Na segunda comparasio, as partes decidiriam entre os dois prineios de justice esses mesmosprincipios mas com uma rmudanga importante: 0 principio da diferenca & substiuido pelo principio da uildade (media) (Os dois principios, aps «ssa substitug2o,passaram a ser chamados de uma eoncep¢0 mist, e aqui se entende que o principio da utilidade deve ser aplicado obedecendo as restigdes dos principios anteriores: 0 principio das liberdades iguais eo principio da igualdae eg tatva de oportunidades,) A ullzagao dessa duas compara- es temo merit de separa o argumentosa favor das liberda- des bsicas igus com sua respectva prordade dos argumen- 10s favor do peoprio principio da diferenca. Os argumentos a favor das liberdades bisicas igus so & primeira vista muito ‘mais fortes, enquanto os argumentos a favor do principio da Aierengaenvolvem um equlbrio de considerages mais deli- «ado, O alvo principal da justiga como eqhidade € aingido a parr do momento em que fia claro que 0s dois principios se- iam adotados a primeira comparagio, ov mesmo em ums tet= cvra compara na qual a concepeio mista da segunda com- paragdo fosse adotada substinindo © principio da uilidade Continuo a considera importante o pincpio da diferenga © ainda 0 defenderia,pressupondo (como na segunda compars- lo) uma base institucional qu satistiga os dois principios anteriores, Mas € melhor reconbecer que esse caso & menos cvidente © provavelmente jamais tera frca do argumento a favor dos dos prncipios anteriores. ‘Uma ouca coisa que agora faia de modo diferente & dis- ‘inguir com mais preciso aida de uma democracia da pro- riedade privada (introduzid no Capitulo V) da idkia de esto 4o ber-estar social. Essus iia sto bastante diferentes, mas ‘como ambas permitem a propridade privada de patrimnios prodtves, podemos ser erroneamentelevados a considers ‘como sendo essencialmente a mesma coisa, Uma difernga Principal € que a insttuigdesbisicas da democracis da pro- Driedade pvada, com seu sistema de mercados competiivos xvi Luma TeORA Da sesTICA (vives), tena dspersar a posse de riquezae capital, e desse ‘modo impedie que uma pequens parte da sociedade controle a ‘economia c,indiretamente, a propria vida politica. A democra- ‘ia da propriedadeprvada evita 850 no pela redistrbuigdo de renda em favor daqueles que tfm menos a fim de cada perio- do mas sim asepurando a posse amplamente dfundida dea vos prodtivos e capital humano (qualificagdesprofisionais © habilitagdes técnica) no inicio de eada peiodo, tudo iso so- bre uma base deliberdades hisicas iguais e gualdade eqUitati- ‘ade oportunidades. A iia no €simplesmenteausilaraque- Tes que malogram devido a um aidente ou a uma fla de sorte (cenbora isso deva se feito}, mas sim colocar todos idadios «em posiglo de lidar com seus propos problemas e tomar parte na cooperaso social tendo como sustenticulo 0 respite mi- ‘uo sob condigbes apropriadamenteiguais. "Noter-se aqui ds concepeSes muito diferentes do obje- tive das instiigSespoliias através do tempo. Em um estado do bem-estar social, 0 objetivo & que ninguém fiqueabsixo de ‘um padrio decent de via, e que todos possam recebercetas ‘protegées conta acidentese a ma sorte, por exemplo, Seguro- ‘esemprego eassstincia mica. A reinrbuiglo de rend set- vea esse propSsito quando, ao fim de cada periodo,aqules que precsam de assistacia podem ser identifcados. Esse sistema ode permite grandes desigualdades hereditirias de nqueza {gue slo incompativeis com 0 valor enitativo das Iiberdades Pollticas (apresentado na Seo 36), como também grandes is- aridaes de ganho que violam o principio da dfeenea.Embo- Fa se esforce para asseguar a igualdade eqitatva de oportuni- ciais mais importants. Tomadas em conjunto como um tnico squeta, as insituigdessociit mais importants defen os ‘ietose devees dos homens e influenciam seus projetos de vida, o que eles podem esperar vira sere bem-estar econdmi~ fo que podem almejar. A estrutura sca € o objet primério a justiga porgue seus efeitos so profundos e esto presentes desde 0 comeyo, Nossa nocio inuitiva € que essa estrutura ‘cont vias posgessociaise que omens nascidos em con- figs diferentes em expetaivas de vida diferentes, determi- tas, em parte pelo sistema politico bem como plas cireuns tinciasecondmicas¢ soins. Assim as instiugBes da socieda- de favorecem certos pontos de patida mais que outos Essas ‘ho desigualdades especialmente profundas. No apenas sio ifosas, mas afetam desde 0 inci as possiblidades de vida ‘dos seres humanos; contudo, no podem ser justficadas me- tian um apeio as nogBes de mérto ou valr. Ea esas des fualdades, sopostamente ineitveis na estrutura bisica de ‘qualquer sociedade, que 0s princpios da justia social devem ‘Sr aplicados em primeino lugar. Esss principio, eno, rogue Tama escotha de uma constiuico politi e os elementos pri cipais do sistema econdmicae socal. A justiga de um esquema Sovial dependeessencalmente de come se aribuer direitos tdeveresfundamentais e das oportunidades econdmieas © con- igdesscias que existem nos viros stores da sociedad. ‘0 alcance de nossa indagacio est limitado de dus ma- eiras,Prmiremente preocupame um caso especial do pro- ‘ema da justca. Nio considerarei a justiga de istituigdes € rites sociais em geal, nem, ano ser de passagem, a justia fas leis nicionase das relagBesinteracionais(§ $8). Prtan- to, e supusermes que 0 conceito de justia se apica sempre {que hd uma distibuigio de algo coasiderado racionalmente eon ° ‘vaniajoso ou desvantajos, estaremos interessados em apenas uma instincia de suaaplicacao. Nao hi motivo para super de antemio que os principiosstsftoios para aestruturabasica ‘se mantenham em todos os ea80s Esses principio podem no funcionar para regras © pritcas de associagdes privadss 0 para aquelas de grupos secais menos abrangentes, Podem ser Inelevantes para os diversos usos informalmenteconsagrados «€ comportamentos do di-edia: podem nto elucidar a justia, ‘0 melhor talvez, a egiidade de organizagbes de cooperasi0 voluntr ou procedimentos para ober entendimentos conta- {uais. As condigdes para 0 direito internacional talvez exija principios diferentes descoberes de um mado um poco die- ‘ente. Fieaeisatisfeito se for possivel formular um concep razodvel da justica para a estrutura bsica da sociedade conce- bid por ora como um sistema fechado, solado de outa scie- dades. A importincia dese aso especial ¢ via eno precisa de nenhuma explicagio. E natural conjturar que, assim que tivermos wma tora sida para esse caso, & sua luz 0s proble- ‘as restantes da justiga se revelarao adminisriveis, Com mo- Aiicagdesadequadas esa teoriadeveriafornecer a chave para algumas outas quests. -A outa Timitagdo em nossa discussio & que na maior dos easos examio os principios de justia que deveriam regue laruma sociedade bem-ordenada,Presume- ‘as de vida, Noenanto, uma sociedade que satisfac 0s pri ios da justica como eqidade aproximarse-o miximo possivel eon 1s ‘as deveriam ser planjadas de modo conduzr a0 bem maior essencal ter em mente que numa teoria teleologica © ‘bem se define inependentemente do just, 180 significa duas coisas rimeito, a tora considera nosasavaliages acerea do «ue constitu o bem (nosso julgamentos de vale) como uma cexpécie das avaliagdes que se pode operat intuitivaente pelo senso comum,¢ depois prope a hipdtese de que o justo maxi- eon n ‘mizao bem como algo definido aterormente. Segundo, teo- +a possibilita que alguém julgue o bem em cada caso sem in- ‘daar se coresponde ao qu ¢ justo. Por exemplo, se dizemos {que o prazer € 0 ico bem, entio possvel presumir que os prazeres podem ser reconkccidos clasificados por se valor ‘mediante eiéios que no prssupcm nenhum padio do que justo ou do que normalmentejlgaramos como tl, Ao paso ‘qe sea distibuigo de bens for tumbém considerada como um bem, talvez um bem de ordem superior, es teora nos orien lac a produzir © maximo de beneficios (incluindose entre ‘outros o bem da dstrbuigdo dos bens), jf no temos uma visio teleolGgica no sentido clisice. © problema da distribuigio & abarcado pelo concito de justo como o entendomos intutiva mente, «assim a tora fo tem uma defini independente do bem, A lareza e simplicidade das teoriastcleolipicas clisi- cas deriva em grande parte do fat de qe elas decompem nos $05 jui2os moras em dois tipos de classes, sendo um earateri zado separadamente enguanto 0 outo depois vinevlado a0 primei por um principio de maximizaso. ‘As tora teleogiea difeem, muito claraments em seu ‘modo de especificar a concepsio do bem. Se ee for tomado ‘como a realizagio da exceléncia humana nas diversas formas ‘dos como evidentes, mas ti Sua jutfiagio na sua escolha 46 (es Te0RI4 Da susTI¢® hipotxica, podemios encontrar nas razbes de sua acstagdo al- ‘guna orientagio ou limitagdo acerca de como devem se pon- a como eqiidade € a hipStese segundo a qual os principios aque seriam escolidos na posigh orginal so idntcos quee les que correspondem aos nosss juizes ponderados e, asim, esses principios deserevem 0 nosso senso de justiga. Mas & claro que essa interpretagio excessivamentesimplificads, Na descriqdo do nosso Senso de justiga,deve-se fazer uma conces- slo probabidade de os juizs ponderadosestarem sujitos a 82 ‘ua onic Da sestica ‘eras iegularidades e distorgdes, apesar de serem formula- ‘dos em circunstincias favoriveis, Quando uma pessoa depara ‘com uma explicaao intuit atraente do seu senso de justin (uma, por exemplo, ue engloa vires pressupastos azodve's ‘e natras),ela pode revisar os seus juizos para conform-los am esesfundamentos, mesmo que a explicagio no se adapte perfetament aos novos juizos. Tender especialmente fzé-10 fe puder achar uma expicagzo para as dvergéncias que sola pam sua confiana nos seus juizos inci ese a concepedoapre~ Seotada produc um entendimento qu ela agora pode acetr. Do onto de vista da teoria ia, a melhor explicagio do senso de justia de uma pessoa no é a que combina com suas opinides ‘emitidas antes que ela examine qualquer concepeio de justica, ‘mas ima que coordena os seus juizos em um eqiliriorefeti- do, Como vimos, esse estado €aquele que se atinge depois que ‘uma pessoa avaliou vias concepedesproposts e deci ou ‘evisar seus juizos para coaformar-se com um deles ou mater- se firme nas prprias convicgbes inca ( na concep cor- respondent). Ha, porém, vvias iterpretagBes do equiv refletido. Pois essa nogio vara dependendo de se saber se a pessoa deve ‘onsiderar apenas os ipos que em grau maior oumenor cores- podem as suas opines auas, salvo diserepancias secunds- Tas, ou se deve considerar todas as alternatives porsives com, as quais pudeseplausivelmente conforma seus juizos, junta- mente com tas as demonstragdes filos6ficas pertinentes, No ‘rimeito caso estaramos delinando o senso de justia de una ‘pessoa mais ou menos como ee é,embora permitindo a suvi- Zaglo de certasireguaridads; no segundo cas, senso de {justiga de uma pessoa pode softer ow no uma mudanga rad- ‘al Clare esti que & 0 segundo tipo de equirioreletido que nos prencupa fa filsofia da moral. Ceramente hi divida ‘quanto ase saber se alguém pode sequer ating ese estado Pos, mesmo sea idea de todas as ltrativaspossves ede to- das as demonstragbes ilosbfieas pertinentes estiver bem defi- nid (0 que é questionivel) nio podemos examinar cada um dels. O maximo que podemos fazer & estudar as concepsBes eon 3 a justga que nos si conhecidas através da adic dafloso- fia da moral e quaisquer eutras que nos ocorram, ¢ depois cexaminar cada ums dels, Isso €praticamente o que fae, pois tus apresentagdo da justiga como eqidade comparaei seus rincipiosedemonstragdes com algumas oure concepes co cides. A luz desas observagies, a justia como eqlidade ‘ode ser entenida como a afirmagio de que os dois principios fnteriormente mencionaos seria escohidos na posi or- ‘ginal em detrimento de outa concepgestradicionns de just- ‘2 como, por exemplo, as da uilidade e da perfeigdo; ede que ‘esses principio, aps uma reflexo, combinariam melhor com nostos juizos ponderados do que esas altrativasidentifica- ‘das. Assim, a justia como eqiidade nos apraxima mais do eal filosifico; sem, obviate, ating. sea explicagao do equlirio refletdo sugere imediat- mente vires utr questdes. Por exemplo, seri que existe um ‘uillrio refletido (no sentido do ideal filos6ico)? Se exist, ele nico? Mesmo que sea nico, pode ser atingido? Talvez ‘0s jzos dos quis partimos, ovo pepio curso da reflex, ou a8 duas coisas, afetem o ponte de equiltrio, se houver algum, {que eventualmente venhamos aleangar. Sera, porém, init ‘expecular aqui sobre ssas questées. Esto muito além de oseo aleance. Nem sequer indagatel se os principios que ‘aracterizam os juizos ponderados de ma pessoa s80 05 mes- ‘mos que carsctrizam os de outr,Presumirsi que esses princi- ios so provavelmente os mesmos pra pessoas cyjosjuizos ‘sto em estado de equilib refletid, ov, caso no seam, que Sus juizos se dividem ao longo de algomas linhas mestras representadas pela familia de doutrnastradicionais que vou ‘iscute. (Na ealidade, ums pessoa pode encontrar simulta- neameate dvidida ene concepgdes oposas) Se, Finalmente, ‘car demonstrado que a pessoas tém, ene cas, concepsdes mente todos, e permitam a mais abrangenteliberdade compa tivel com uma igual iberdade para todos. Otnico motivo para ‘ireunscrever a lberdadesbisicas e tomilas menos abran~ fgentes € que, caso contro, elas imererriam umas com as "Alkm diss, quando os principio mencionam pessoas, ot ‘exigem que todos Iuerem com a desigualdade, a referncia & feita a pessoas representatives que ocupam as vir posgGes sociais ou cargos estabelecidos pea esrutura bisica, Assim, ‘0 aplicaro segundo principio, suponto que sejapossve ati= bir uma expectativa de be-estar a indviduos representatives {ue ocupam essas poses. Essa expoctatva indica suas pers pectvas de vida consderadas a partir de sua posigio social Em geal, a expoctatvas das peisoas representativas depen- dem da distribulgho de direitos e deveres em toda a estratura basic. As expecativas esto ligadas:clevando as perspectvas ddo homem representative em uma posiglo, por suposiclo ‘sumentamos ou diminuimos as perspectivas dos representantes fem outas posiges. Uma vez que iso se aplica a formas insi- tucionais, © segundo principio (ou melhor, a primeira parte ele) se refere s expectatvas de indivduos repeseatativos. ‘Como discutie diane (§ 14), nenhum dos dois principios se eon ® aplca a distribuigdes de determinados bens a individ pari- clares que podem ser idetificados por seus préprios names. A sinuago em que alguém ests pensando como distrib ex ‘os bens a pessoas necesstadas que esi conhecidas no ext dent do alcance dos principio. Os principios se proper & regular os sistemas insiucionaisbisicos. Nao devemos supot ‘que haja muta simiaridade, do ponta de vista da justia, etre uma alocago administativa de bens para pessoas espeifieas «a concepeto adequada da sociedade. Noss ituigdes para a primeira. regis pelo senso comum, podem serum guia prees- -ioparaa segunda, ( segundo principio insste que cada pessoa se heneficie das desipualdades permissiveis na estruurahisica Isto signi- fica qu cada home representatvo definido por essa estuti- +. quando a observa como um empreendimento em curso, eve aca razovel prefer as suas perspectives com a desigualda- ‘de is sus perspectva sem ela. No se permite qu dierengas enum, Circles, elses, quando, ngs, ce, so cnn, Esti claro que hi muitos portos ecient, a verde, todos oF ontos da linha AB. O prinipe da efit nip selon por, ‘una dsrbuigo patiulr de mercado como a mas efit Para selevionar ete as dsb eftentes€ nese uh ult inipia, porexempo, ampricipo de sti, De doi pnts, sem end nodes do oto esse pono & superioe plo pincipio ds eficincia Pontos anorcet ou a sade fle podem ser comparsdo. A orenapo defianda pel pric da fica € apenas parcial Assim, apes de nigra &C ser spe ‘hora © D ser superior aF, sebum dos pono da linha AB so Superors on inferior uns em elo as outros. cle dsp top elicientes no pode ser clasifads comparative. AL mes ‘moos ponos extrem AB, nos quai uma ds partes etd, sto ‘Fics, exatamente como or oui pots de AB. ‘Observes que no podemos der q aloer pote dik [AB ¢ superior a odor o& pontos no intenoe de OAB. Ca pot ‘de AB ésuperor apenas agulespontos a iatror qe eto a ‘ocste dle Assim poatoD superior eos o pono qc esto onto do etngulo ndicado pear ine pontihadas gue une D ‘35 poms te. O pono Dndo¢ perce a otto E. Eases potor ‘io podem se clasifenos comparaivamene porto ener 1” vue e084 DausTIC® to, € superior a Es assim como todos os pnts da ina AB eps tencem a peguena regio tanga Sombreads que fem 0 pono E como um de seus extenos or ut ad, omarosa inka com ntinago de 48 como ingcadors do lous de derbi igual (0 supe ua inert ‘lo cardial inrpessal dove, go gue no hava so stposo fas obueragdes presen) s considera ea Tine como tim tse actor de deisdes, eno, considerando tw, o pono D pes refer a0 porto Ce ao poto E. © pont D et muito Tras promo des ina, Podomos a dei que wn pot intior Como deve sr prefer sC, que um ponte ficient Na verde, ‘tustign como etd a prinipos ous sto anteriores acon- ‘Serge deficit alan de forma gra os ports intcrres qe representa dibuigdes juss ero geraiment re- Feriveis em rag a0 pnts efclencs que rpresentam dsb {es jst Com creo, a Fgura epeesnta wma snago mato Simpler nfo pode seraplicada esta isis. © principio da eficincia pode ser aplicado &estrtura bic sien em rferéncia is expectativas dos homens representatives ‘Assim, poderos der que uma oganizaso de dititos edeveres ba estrutura bisa € efcinte se, e somente se, € impossivel Tmudar as regras, redefine 0 esquema de direitos ¢deveres, de modo #sumertar es expectativas de qualquer dos homens re presentativs (elo menos um) em ao mesmo tempo diminuit fs expocativas de um (pelo menos um) outro orem represen- tatvo. E claro que esas altragdos devem ser consstentes com ‘08 outtosprincipios. Ou sea, ao mudarmos a estraturabisica no nos épermiido volo prineipio de liberdade igual ou 3 tvigenia de posigesabertas.O que pode se alterado€ dis- Trbuigdo de renda e riqueza e 0 modo pelo qual aguces em posi de autridad e responsabilidad regulam as atvidades ‘Cooperativas. Consistent com as restrigdes de iberdadee aces- Sbiidade, a alocagdo desses bens primsros pode ser ajustala pure modificar ab expectatives ds indviduosrepresentatvos. {Uma organizago da estruturabisica &efiiente quando no ha tomo mudar es dstribuigao de modo a elevar as perspectivas fd alguns sem diminui as prspecivas d ous. eon 8 Existem, devo super, muitasorganizagBeseficintes da e- ‘ruta isiea, Cada ums dela especifica uma divisio de van tagensadvindas da cooperagio socal.O problema ¢escolher {enue elas, encontrar uma concepelo da justia que elja tans ‘bém como jsta uma dessas distibuigieseficientes, Se conse- uirmos fazer ss, teemos ido além da mera eficiéncia, mas

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