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Silvio Romero ENSAIO DE FILOSOFIA DO DIREITO 40. «ska ROVER tard no futuro. E evidente que aquele que ainda hoje intenta aleny aint jf gastas, ou desconece a primeira pala os pgs pert ‘0 6 pode nutrir-se do que jé est mono tem vigor bastante para ser de seu tempo. A poesia nio € uma sn” tba misantrpica, sem alegrias, sem esperangas, que nio quer acre tir As lots, as glrias do século. Nao é uma forga que vai pendent, a vida, que alo anda, que se sente morte, que desespera desi Cone tudo, cla €forgada a seguir 0 foco de onde se desentranha, a ony que aleva. “Ext foc0, esta onda slo o préprio homem:; se este nlo cansa, a poesia nio deve parar. A poesia vive conosco, palpita no seio de hhumanidade, € um dos seus vanentes. O home interioe reforma-se com as ia © novas inspira. ges se mostram no seio da ia em conservar suas ro rigor, nose estranho que thes for. velhas fantasia. As artes, dando as caus conformam por si dependem de um materi nece a vida: 0 esprio do tempo.” Quatro anos mais tarde, em margo de 1875, no ato solene de ma defesa de teses, que se tomou célebre pelo resultado a que chegov, indagivamas assim a modema transformago do Direito: “A dow (0, pela seu lado cientifico e dirigente em alto gray to descurada entre nds. Nao temos um filésofo, um sibio Direito; nfo existe um s6 livro bra se levante aquela altura de prine de dé leis que deve reinar na esfera dos estudos elevado etna jin mo pode sec uma insituigdo da inti mat extravagant, sem eles com o movimento geral ¢ hat; volved ees, manifestagdes mentais da humanidade. Nao € tapentl€ Sagrada, como cenasenidades pore rides. Dee randes criagdes humanas, 0 Direito no © °m separedo; mas por elas ¢ no meio delas desenvolve A pate ¢ 6 [ENSMO DE FLOSOFIA DO DIREITO. * rar de seu estado ¢ ajustar-se por ele, Acantonade fade muma Babel de textos decrépitos. 0 legista cia nas Deve, pois, indags Hecom a sua vad We Sura se ulga senor das Fontes da vida, porque se vers dc um cede moribent.E um tte ura O aver dt Poa sito Ihe esvapa. A ciéacia nfo std num mundo de fatos o nas vistas do complexe, na seemepato vast e gral do grande todo. eee den lado a pros, tomd-se na lta por uns requ © combate pelo dreito€, em vendade. a poe- wip disse 0 alemto von Ihering. E uma grale © rnobre verdade. “Este insigne romanista trouxe a idéia de luta para a efetividade do Direito, Nao podemes deixar de notar nesse fato uma invaso do ‘espirito darwiniano na jurisprudéns amplexo das cigncias pnatorais rejuvenescendo as velhas nogdes. Foi, parece, a primeira vez que no Br Thering.* ‘Bem se vé que niéo somes suspeitos; queremos 0 grande progresso das cifncias sociais, sem que desejemos que elas se barbarizem, perdendo sua indole especifica, sua linguagem, seus estilos. | se falou em von IV — Aciéncia da Humanidade: Sociologia. Seu lugar entre ‘as ciéncias. Seu método alugto, dé origes a cigncia especial — a Ciencia Jurtdica, todos entram no quadro de uma ogi. Mas existe 3 Sociais dd realm 1 © Dircito, como fato observivel e capaz. de ser estudado em sua ‘ais geral — a S \ cia 0 complexo dos fen verd aga ‘dar antes de passar adiante da sociedade. |. porém em qu: que pese a ferrenhos zoilos, exercew na moderna literatura nacional Em suas ligdes orais e em virias passagens dos seus escritos, o grande professor no cessava de atacar a Sociologia. Seria dificil acom- panhé-lo nessas guerrlhas, se ele nfo tivesse, felizmente, num ensaio a 42 + sitvio ROMERO. re dele nos afastames € & chegada © assunt : seguintes: 1°*O estudo dos fendmenos sociai dade ¢ reduzidos & unidade légica de um fem resultado uma estupenda Pantosofia, evidentemente ‘vel com as forgas do espfrito humano.” (p. 600) 0, € a sociolatria, estagdes da grandeza hu. social, qualquer que seja 0 ‘mana, 6 inconciliével com uma ‘grat de desenvolvimento.” (p. 600) 3 O conceito de liberdade, que inegivel, reduzida mesmo a le positive, ¢ € o que basta, toma impossivl, jaeiénciascilégica, Enquanto no provar gue a vontade. hun nna é uma forca : } iu 10 € apenas uma enorme abstragio sem valor objetivo; tratase ‘ou daquela sociedade humana, geogréfica ou historieamente determinada, no € menor o seu embarago, ¢ temas tantas sociole- ‘gias quantos os grupos sociais.” (p. 638) A admiragio pelas is € que trouxe a mania da Sociologia como cigncia estudével pelos mesmos processos. Mss. {quando se atravessa toda a série dos seres organizados ¢ se chegt ormagées superiores, como o homem, a familia, 0 Estado, a socie~ dade em geral, nfo se pode langar mao de explicagdes mecanicas © mecanicamente inexplicdvel de Kant j& nao € um resto, € qv8s° (pp. 644 ¢ 645) ! Sociologi le wseciedade con aac OETA, ais (Ase 66) “PA Sociologia procede também da mania dla lei, que St Pt ‘ende a tudo aplicar,rala-se abusivamente de uma lei que regula ‘que norma 0 Jade dos crimes outa fei que prescreve a eepetigfo dos incéndias. Tudo isto € Pal ia errénea de considerar 0 Estado “diferentes, dando, lugar.esta umd que € acciéncia do Estado.” (2 iz, como.o calor ou {-¢ i ' | [ENSAO OF MUOSOFIA BO DinETIO #43 mos diante dele na mesma posigdo de Spencer em face lor Froude, atacando este e defendendo aquele a Socio- . porque ali 0 advogado era de e 0 acusador, ‘9 que no & precisamente © nosso jancemos na ‘mesma ordem, T*.Nao vernos 6 motivo pelo qual sociedade humana, submeti- 5 dari ‘uma Pantosofia superior ts forgas de nossa ia, quando 0 mesmo nfo acontece ao mundo fis que 430, & ares de problemas. O mundo da Biologia, por exempl deszritivamente, & muito mais extenso do que o da Sociologia, e 0 mesmo se dé com o mundo da Fisica, 2 perfeitamente definidas, bem equilibradas, progressivas. Tratadas como citncias de leis e princtpios, se 08 seus problemas no sto tio complicados, como os da cigncia social, sZo-no, todavia, imensa- mente, € nem por isso dfo lugar a pantosofias superiores & capaci- dade da razio. Nio € tudo; aquelas cigncias todas abrem margem a Filosofia, que nio é s6 a ertica do conhecimento, mas deve ser também uma sintese das ciéncias, muito mais extensa e complicada do que a sim- nls Sociologia. Se esta ose impose, ola aguela muito mas ainda, __-2°Pelo que toca 20 segundo motivo alegado contra a S isto 6 estarmos nés hoje em dia num periodo sociotitric ‘com a ciéncia da sociedade, por 1 ct 44 + suvio ROMERO ENGAID DE FLOSOFA 00 OMMEITO. #45 ue hoje, como ontem ¢ como sempre, hd de igando em seu jacobinisme filos6fico que serve ‘Opinamos de modo diversi ibendade, e com Spencer veneragio, © espant até, por sdiantada em diversas ditegdes e o ho. ta, que divinizava aspectos vérios da como no Diteito, nio chegesse a Ciéncia, Esse! infelizmente sinda compacthado pelo nosso duoc spor que <6 mecanismas x6 de oi “Tala rao por que ele acres- we enguanto no se provar sera vontade humana uma forga 2, como o calor oun eletnidade, a Sociologia mada vale". Nosso filéxofo, nosso | esse objeto. A Cigneia imem era ainda um pol Natureza. Porque sabemos bem hoje 0 que s20 astros, planetas e estrelag de toda casta, nem por isso 0 aspecto do céu estrelado deixou ainda de encher-nos de poesia e admirago, Porque podemos fazer a bis. {ria da moral humana em todos 0s seus passos, desde a bruteza amigo: provar a existéncia da liberdade ¢ concilié-la com a Cxéncia. primitiva, nem por isso nos causa menos afeto € nos arranca menos | ‘A primeira parte da empresa € quase desnecesséria, porquanto ele preito um her6i do bem, uma dessas almas de ouro, que redargiem préprio admite aliberdade. Ninguém hoje acredita mais, nem defen- 20 mal com o beneficio. Nao foi um selvagem,nem foi um ignoran =e a Iiberdade absoluta,o Liberum arbirium indiferentiae dos te quem disse estas belas palavras: “HA duas coisas que enchem a cacolstcos. Sustenta-se apenas liberdade rel ‘ mninha alma de respeto e admiragio: o ou estrelado por cima ds ‘elda conseiéncia, Reconhecetrse, e Tobias Barreto mai nossas cabegas ¢ a lei moral dentro de nés.” E Kant sabia bem o ‘bém entrou nesta diregao, ser ela um predicado da inteligéncia mais aque erao cfu estrelado, ele, o grande autor da hipStese cosmogénica do que da vontade, Em janciro de 1880, em nossa texe de concurso dos gases de que Laplace apenas fez ocileulo, e sabia melhor ainda f que era a lei mora, ele, um dos mais autorizados predecessors endéncia apenas desenvolvida pot Darwin. los6fica dos Fatos Histéricos”, anterior icas” de Tobias Barreto, j4 nés escrevi= mal compre- | ER lumente preciso. O que nos cumpre é conhecer os problems. dos os problemas da possi «da pobre hurmanidade, com 108 a concluso. Outros, mesmo contra 0 NOS? ‘© contrério, tem repelido a premissi, 0 fato d2 iberdade, para escapar da cor Jo, como se esse fosse 0 verda- dico caminho a seguir. E 0 caso do materialismo desbragado. 46 siuvio ROMERO virtude de uma necessidade I6gica, assim é coma liberdade, Eta sempre precedentes racionais; por isso mesmo ndo &, no pode” que a fu unfos por meio da indiistia; do despotismo dos padres, que se arr garam 0 direito de dispor das conscitncias, ¢ contra o qual ela ng ‘conseguindo vitérias por meio da critica; do despotismo dos trano de todas as formas e tamanhos, que se apossaram do poder de dsp de seus destinos, ¢ contra o qual ela vai obtendo desforras por ‘va, predicado ou princfpio seletor da inteligén autor dos Estudos Alemdes — no sew ensai za complexa destestltimos, em que entram elementos da sensi dade e da intligencia, reunido. Sinteticamente.£ o que, pare acontece coma liberdade; é um sentimento em que entram elemen {Gra inteligéncia e da vontade. E tGo inatacdvel como 0 sa0 0 sen timento do belo, o sentimento da honra, 0 sentimento do amor ou ‘outro qualquer, que tem as suas rafzes nas profundezas mais recin- tida assim a liberdade, no € jo de Kant, abragada por Tobias Barreto. ma injustificdvel pretender que s6 do me- nice pode exist . A razio disto deste desacerto reside 90 fato-de suparein Ses autores que s6 existe previso nos fatos meet ‘das cienclas exatas. J4 Spencer provou contra Froude ue. fa ndio € exata, isto €, provow que em Soc e io € que esta nem Seinpre existe nas cienelss ENBAO DE FLOSORA DO DRETO + 47 Bis aqui esta passagem verdadciramente memordvel: “Porque certosatos da vontade nto podem ser previstos, Froude conch fenhum ato da vontade pode so; ele ignora que os atos de yon Jos quais nossa conduta ordinisia € determinada, sto tio re- res que é fécil preve-los com uma extrema probabilidade. Se, essando uma rua, um homer ve um carro se dirigir sobre e pode-se afoitamente assegurar que em novecentos e noventa eno easos em mil, ele procurari no se deixar esmagar. Se um hormem, pressado em chegar a uma esta para tomar o trem, sabe que por 1 apenas fem que andar uma milha, ¢ que por outro tem <éuas, pode-se afirmar com confianga que tomaré o primeiro; © se teste homem estiver convencido que perdendo o trem perderd wma fortuna, e que $6 dispde de dez minutos, € quase certo que ele se pord a correr ou tomaré um carro. Se ele pode comprar em sua porta {uma mercadoria de consumo difrio © que no outro extremo da cida- de esta mercadora piore mais cara, ser preciso, podemas afirmé- fo, que exista entre ele ¢ o negociante afastado relagio de um géne- ular, para que se decida a comprar a mercadoria md, que Ihe custa mais dinheiro, Se quer se desfazer de uma propriedade, no € intiramente impossivel que a venda aA por mil libras, posto que B the tenha oferecido duas mil; entretant, as razBes que 0 po- dem levar a obrar deste modo soto ins6litas, que no impedem temisso deste principio geral que um homem vende sempre a quem Ihe oferece mais vantagem. Ji que as agdes mais frequents do ci- dadio sio determinadas por motives tio regulars, devem resukar elas fendmenos sociais que se produzam com uma regularidade | correspondente, e mesmo com uma regularidade maior, porque 2 efeitos dos motivos excepeionais se acham perdides no meio. infrios. Pode-se ajuntar outra se de que se prevalece, fazendo | observagdo, Froude exagera aan {a Ciencia um conceto muito estreto, Ele se exprime como se no houvesse ours cincis sendo as cidncasexaas. As previsdescien-f vas, no ter tos © mesmo gra! tag classes de fendmetios, as previ-} | abes sejam apenas aproximativas nose pods dizer que nio. [Uae rene Seegue ld we ecb, “Tomai por exemplo a Meteoroogia. Tem-se visto corer 0 Derby no meio de um furacio de neve e tense algumas vezes acendido fogo em julho: porém estas anomalis nfo nos impedem de estar perfetamente eertos que o verlo proximo ser mas a inverno passado, No outono nossos ventos do sudoeste chegar mais ou menos tarde, ser violentos ou moderados, c¢ jew a [ee ‘mas nds estamos Seguros que nesta é dos ventos do sudoeste, O mesmo relagdes da chuva e do bom tempo para a quantidade de vapor eniste no ar com o peso da coluna atmostérica; pode-se nete wt roximativa, posto que nio se pos Logo, quando mesmo nio houvesse lagBes mais precisas do que aqueas ¢ portantes so muito mais precisas), haveria ainda ugg Poa do ang 8¢ dd com a como em chegarmos 4 este elemno ape | astrénomos; ¢ os resultados que obtém um bom ofi mostram que, em sua aplicag0 aos movimentos que tm lugar na ‘Terra, a Mecinica comporta previsBes muito precisas. Tomemos, pois, a Mecinica como 0 tipo de uma ciéncia muito adiantada e pro- ‘curemos 0 que nos permitira prever a respeito de um fendmeno cor- creto e 0 que devers ficar fora de nossas previs6es. Suponhamas se trata de fazer saltar uma mina e se pergunta o que aconteceré 30s fragmentos de matéria projetados nos ares. Vejamos até que ponto as leis conhecidas da Dindmica nos autorizam a responder. Anies "das observagies da Ciéncia, n6s sabiamos por experiéncia que de- Bois de ter sido projetados mais ou menos alto, os fragmentos ca Jonge. Os mesmos principios que nos permi- deum planeta ou de uma bala, nos ensinam {que cada um dos fragmentos descrevera uma cut todas estas curvas, posto diferentes entre si, serdo da mes gue (so pondo se desprezem os desvios devidos & resisténcia do ar), ses porgdes de elipses bastante exc8ntricas para se confundirem com Paribolas, pelo menos quando a pressao dos gases cessar de accle- Far 0 movimento, Os principios da Mecénica nos permitem prover em prever a ‘4 Emtpos naturais © daf se induzem as kes | dade em perl, pe. sio admissiveie Sac wh OR be TE Hine & ENSHO DE FLOSOFA DO RETO + 49 tudo isto com certeza, mas intecrogarfamos debalde a Cincia a res- peito da sorte particular de cada um dos fragmentos. A parte es- iquerda da massa sobre a qual esté colocada a pélvora saltard em um $6 pedago ov em muitos? Este pedaco serd atirado mais alto do que dos fragmentos serd impedido no seu movimento por gerais ou especiais, somente em parte. Se é assim quando as rela- ‘g8es de causa € efeito sio simples e perfeitamente conbecidas, com mais forte razio deve ser assim quando se tratar de relages mais ‘ca'tomo em Sociologia: acrescentarnss nG¥ ¢ cot “#° A quarta objegao também pode ser desviada. Ou a Sociologia tem por objeto a humanidade inteira e, neste caso, seu abjeto no tem valor objetivo, nfo passando de uma enorme abstraglo, ou trata dos varios grupos da sociedade humana, e existem tantas sociclo- ‘uma imensa abstrago; ou se refere aos varios grupos da animalidade «, nesta hip6tese, temos tantas zoologias quantos so esses grupos. ‘Ws, a Quimica com 05 ee | vagtore @ experimeniagio exis HEE muitos fatos que 850 comuns a todos os homens, como os bs TP peculares as ragas e até aos individoos; mas @ mesmo acontece & Biologia, por exemplo, o que nio the tira 0 cariter de ciéncia. 5° Este argumento é um reforgo do 3°: formagoes superiores. como o homem. a fa c alasira todo aquele dominio superior, € a ciéncia € impos- sivel, sustentava Tobias Barreto. dae ert Yh hen Bari lens Can eee ks FR iv eR Loy 0+ hwo ROMERO, (Lud as gyrormire (6 (0 debate deve ser aqui um pouco mais largo. Assim com autor dos Estudos Alemées, pot admi 1 © Sibig possibitidade de uma ciéncis aropelo e uma certa incom de uma finalidade no mundo viram nesse fato uma fae dade para a Cincia, A Teleologia pode nao ser aceita; nko por seja um embarago & Cincia; mas por qualquer outro motivo, Este¢ 6 atropelo que notamos na argumentago do nosso amigo, A incon: seajiéncia€ esta: sea Sociologia & impossivel por causa da teleologia reinante nos fatos humanos, como o filésofo admitia, grande parte das ciéncias da Natureza também so impossiveis, porquanto a elas também se estende o finalismo, como ensinava Kant, e 0 esecitor brasileiro professava por sua parte. Como, pois, ad no aqui? ‘mem como no Univer isto é, a Teleologia, e negar a conseqiténcia, lade da ciéncia soci gico contra 0 monismo mecanista ¢ achamos nisto um ra ele, para aceitarmos a Sociologia. Eis o que nos cum Alguns pretensiosos tém querido ingerit-se nesta questio, dando por paus e por pedras, sem a menor consciéncia de seu desazo, Con fundem monismo com mecanismo, teleologia com dualisma, ¢ f& ‘em outros desaguisados irris6rios. ‘Como se v8, temos af quatro sistemas, quatro modos diversos de encarar 0 mundo dos fendmenos: a intuigtio monistica ¢ a intuigio dualistica, que se the opde; a teoria teleolégica ¢ a tearia mecanica ‘que Ihe oposta. E um desazo indigno de quem sabe tres palav™s destes assuntos, confundir a tese com a mecanist. pois é & antes o tinha sido Espinost. e dualistic® | caminho; ficou em meio da jornada com Kant, isto é, admitia 0 EXSNO DE FLOSOFIA D0 ORES, ie :m suma: existem tas mecanistas; ha ‘os maometanos, que silo verdadeiros mec: monistas teleol is tros dois a seu desenvolvimento evok trabalho elementar para uso dos prineipiantes, temos desculpas em ddescer a essas minudéncias. Tobias Barreto, que acompanhava, Haeckel nas linbas gerais do transformismo, separava-se dele e apro- ximava-se de Noiré na questio que nos ocupa, Mas Noiré, neste ponto, eid de acordo com von Hartmann, quetemos dizer, tanto um como outro sio monistas €, 20 mesmo tempo, sectirio, de tanto no Universo como no homem ( jurista brasileiro, porém, ndo os acompanhava em todo 0 sew rmecanismo em todo 0 mundo inorginico e nfo 0 aceitava nos ra- ros superiofes da Biologive da citncia do homem.-Admirs com, conhecendo ele a fundo a doutrina de von Hartmanr que cita exa- ; tamente na parte em que este fl6sofo protege Kant dos ataques in- tos de Haeckel, nfo o acompanhou até 0 ponto em que o ilusire tor da Filosofia do Inconsciente demonstrou admiravelmente que teleologia e mecanismo sio duas faces de um s6 e mesmo processus, existindo ambos, portanto, de alto a baixo em toda a Natureza. ‘Aqui nio h& resto nenhum; ndo existe um dominio para 0 finaismo e outro para © mecanismo; estes dois esto por toda a parte 0 velho Kant iludiw-se e Tobias Barreto com ele { Hartmann, uma das mais pro- por mio de homem. Ei-e: “O smente negado a ordem dos fatos; 0 darwinismo reconheccu-a de nt poder explicé-la como 0 resultado de 2390s puramente mecatnicos. Ora, se se admit a ordem da Nat Za como um fato,¢ se se pretende ver nel smativa: ow a ordem dos fe- tnt a 52 sitio AONERO ios que obrem regularments, subsist a duaidade dg gularidade mecinica ¢ da teleologia, que fica inexplicavel no fundo, a posigdo em que se acha Haeckel, que a cada passo ge chamaro acaso em seu auxitio nas combinagdes mais inverossis ° No outro caso, a contri se se repele, como anticientiica w= tervengio do acaso, ¢ se se considera o resultado das ages ry fes de causas mecdnicas como alguma coisa de ligado & essén. das leis mecénicas, chega-se, 6 verdade, a suprimit o dualismo, poréat somente aceitando a idéia de teleologia como parte integrance idéia de mecanismo, 0 que se reduz a reconhecer que pertence net cessariamente &esséncia do mecanismo produzir agdes conformesy tum plano, isto é, ser ele mesmo teleoldgico. E isto é certamente dadeiro (a propria palavra meca mente é preciso entéo renunciar & tendéncia de combater todo o leoldgico, pois que se tem reconhecido um principio que teleol6gico por sua natureza mai hd mister renunciar ao pendor de apresentar como absol re ‘mecanismo e a de teleologia, porque uma encerra a outra, Ef -pensavel vessar dé falar de Mecanismo morto, porquanto €d s€ncia deste mecanismo manifestar-se constantemente co y como a vida orginica mesma, Em suma: se 0 mecanismo das Natureza nio fosse teleol6gice, nto haveria rienhim mecanismo d? Bis agindo de acordo, porém tim estipido caos de poten ) pendentemente entrechocando-se como touros bravos, Ao 2 causalidadé orginicas arruina o sabrenome de leis mor- ia e da ordem que se manifesta por toda parte, merece 0 ‘mecAnica, tal qual um agregado de todas ¢ drgios me- ‘ednicos por miio de homem, que se movem reciprocamente de um 1erece o nome de mecanismo ou méquina, log leologia imanente do todo e de suas diversas logia ¢ o mecanismo se portam ex sem 0 ‘sfo mais do que momentos de um mesmo proces: cessidade légica € 0 principio de unidade que se ap lado sob a aparéncia morta da causalidade das leis nat cas, € de outro sob a forma de teleologia. O que se chama regular de uma causa, denomina-se aqui conseqiiéncia proc! j % aum | | deles, ser seguramente & teleologia: porquanto © meio existe por | causa do fim e nao 0 fim por causa do meio. No fundo ambos no | fégica. Ane: | 1 i aio ada dé EXSNO DE FLOSOFA DO RETO + tum meio empregado; fi ta por uma de suas faces, apa- fece como causalidade, e @causalidade, enquanto opera com ela para ‘chegar a uma certa conclusfo, se mostra co o aparece assim como p de ou dduas proposigBes slo igualmente verdadeiras, uma 56 € porque a ‘outra o € também." Barreto, que conhecia, como jé advertimos, von Hartman | aSvia ter sido mais radical nesse | que eompletou nesse assu deixar de repetir a falha idéia do génio de Koenigsberg, de haver no gia, quando a terdade € que em todo ele hd uma e outa coisa, Devia abandonar 9 quivoco, querido dos materialist extcemos, de supor que 36 de | mecanismo é que hd ciénci MO Se isse em todo o Universo alguma coisa puramente mecdniea, ¢ como se onde houvesse Jogia nao pudesse exisir 0 saber! Assim, por esta inconsequéncia, | se explca a guerra que fez a cincia social 6 Este argumento € de ffeil aprciagio, Diz 0 nosso gia da errénea idéin de considera lade como duas entidades Sep e ficando para ‘Nao nos parece fundada esta critica. Nos livtos dos socislogos dignos deste nome, um Spencer, por exemple, ndo se di tal separa- ‘0. As produgées politicas slo estudadas no seu meio natural entre 4s produgdes dieas, econdmicas € ‘8 humanidade € capaz. 0 fertenho cuto de} ddo-esla é apenas 0 tronco dé que a ou Thais, isto € apenas mera questio de nome: ¢! a-ciéncia, ¢ no se acredite numa | uma sociologia-cigneia. Uma coisa arrasta a outta a, no pensar do professor brasileiro, provinks em parte também do abuso das supostas leis, ue se andam a descobrit © a aplicar por toda a parte: lei dos nascimentos, lei dos dbitos, tei os crimes, lei dos incéndios e, pudera melhor & América do Sul 54 + siuvio ROMERO é Neste ponto nifo hi divida que 0 jurista dos Estudos tem em grande parte razilo, Mas nilo se deve conch ‘uma condenago geral da coisa. Porque alguns fi lima erftica é um reforgo, quase repetigio, axseverar que, assim como nil existe una 36 inca { J ara a Nalureza, também nio pode existr uma citncia geral (7 iad. ; Fos aspectos ‘mas gompletamen gat a diversas cidncias, igual fave soe ! igBes seguintes * Iso evolutivo na sociedude como em a Naturera > “A sociedade por toda a parte tem atravessado fundamer | men. te as mesmas fases “A sociedade gravi , Como O$ compos parag Terra € 0 ‘ “A ev neiagtio constante das suas "Cada alteragio fundamental nas produgdes capitais do pensa- mento repercute em todos os ramos das idéins ow intuigiio geral das coisas.” “Os esforgos combinados silo proporcionalmente mais pros vos do que os esforgos isolados.” Ogun © eeaee mos um conceito exagerado, $e “O cardter do agregado social ¢ determinado pelos carncteres das tunidades component i “Todo agregado estivel tem uma organizagio rel F “Sem uma estrutura governamental segura e durivel, asocieda | de nio atingiria grande desenvolvimento, f ‘A medida que a sociedade cresce, 0 centro regulador imita | : f ’ ieaglo na ia das hipdteses, Destarte a Sociologia enica id quadro. O mais ‘$6 a acdo de uma organizagao que tome obrigatéria a obedien- ‘cia, pode levar as elementos do agregado social a uma ago comur.” “A formagio do 0 como do biol6gico, comers Por uma certa diferenciagiio, cujo resultado € tomar a porgio perifé- rica distinta da porg%o central.” Ecxagero ‘Abordemos a questio do posto da Sociologia na clasificagio das Giéncias e a questio do método. Na velha classificagio das cincias pelo elasscismo: exatas, fisicas, 1 ‘morais", a eigacia social estava neste der- radeiro posto. Na classificagio de Comte pela generaiade decres- cznte e complexidade erescente dos assuntos, produzindo a strie de Matemitica, Astronomia, Fisica, Qufiica, Biologia © Sociologia, «sta, como se ve, est ainda no tkimo posto, porque esta classifica- io ndo passa de um desdobramento da classficagéo do velho Classicismo do Renascimento:* Fe a SOAS Bee Ce A ee ae Bese tivamente de fungoes sntes coordenadores, que dividem™ enire si as fungées do primeico : |, Muitos destes principios, que quase todos se encontram ¢m Spencer, estio verificaos, so verdadeiras leis, que se impoem qU° no podem deixar de ser accitas. Os inimigos da Soci iio tm fora para os refutar 56 + sitvio ROMERO ENSAIO OE FROSOFA G0 DiRE:TO © 87 ton reforgou 0 processo dedutivo, eri 1 estas uas notdvels inovagdes foram seguidas de dias conseqiéncias 1s, uma por Spencer ¢ outra por Huxley em pagi- ' as € que 0 conhecimento cien- imento vulgar A de pela Légica nto “Uma ver n6s grav de sua certeza Divisio esta a tensifo de ser considerada uma classificagdo orgdnica das ciéne mo alguns fantasistas chegaram a supor. Entre as 5a agora neste lugar de método em ge ramos, como & No ultimo grupo, a Teologi tas, como a Astrologia, a Quiro Esta idéia nfo € sem-razio e pode ser desenvolvida com vanta. ger. Passemos a0 método. Os sectdrios do velho dualismo y expiitualista os métodos por assim dizer, sa ap vemitica, Bem Légica mais ov menos o mesmo que a pluralidide das espécies em Biolo- gia. O evolucionismo nio aceita estes fossos de diffi! acesso, ov ‘mesmo invadesves. Huxley responde, depois de fazer um entze as diversas ordens de cigncia, em seu citado discuso: {quer que sejam as formas simples ou complexas que possa revestir 0 ser vivo, ele se distingue do que nio vive por ests tc fendme- nos: produgio, o erescimento, a reprodugio. Se 6 ass aque, passando das eitncias fsico.quimicas ds cic fi £ uma infundada pretensio daqueles, como diz Spencer, que para o Universo.e ‘com no 4 ‘As Matematicas, afirma-se, a dedugdo. i € necessério outro; € mister outr iio ha cigncia.que.os.n82 | fo escapa a essa necessiade a “Tanto quanto podemos dar-nos conta das cvisas, a Ciencia nto & 0 a or, uma modificago da feitigaria adap $08 ni resultam espe- fa Inq a nosso ver, 10 € mais do que o senso comum adestrado e organizado;difere dele demonstrando que a dedus' Presupoe a induso e & por esta preparada, feito que revol¥e” ‘how a Logica e devia ter, desde logo, acabado com as fantasias ‘wn suposto método ra fente do método de observay! ‘com que Hami iets! AL alt OEY 58 siivio roweRo veterano pode diferir de um jovem recruta; seus met. $6 se dstinguem dos do Senso comum como 0s golpes de posts de talho do velho soldado se diferenciam dos golpes de clava gaye desjcitosamente por umn selvager. " ‘Em ambos os casos 0 poder pi ‘gem, que no foi preparado para o servi brago mais vigoroso, O homem da espada tem como v: ‘uma arma pontiaguda, bem afiada, seu olhar lo conhece rdpido 0 ponto fraco do adversério € sta mio & ligeira para fet.i¢ neste lugar, ‘Mas afinal, 0 exercicio da espada no € mais do que o desen. volvimento,o aperfeigoamento das pancadas dadns a toto e a dre, to pelo homem do pat. lo provém de faculdades ocultas: 0s processos intelectuais que nos ho adquirido estes considerdveis resultados, ndo se afastam dagueles que todos fempregamos nos afazeres mais humildes, mais insignificantes da ‘vida, © agente de policia descobre um patife pelo rastro de seus is desaparecidos pelos fragmentos de oss0 achades, arte. E quando, com 0 auxiio de um processo de indugio €e deduglo, uma senhora, que ve em set vestido uma mancha de ular espécie, chega & concluslo que alguém derramsou ali um, iro, seu raciocinio nifo difere, no género, daqueles que fizeram descobrir plantas a Adams ¢ a Leverrier. “0 homem de ciéncia nfo faz. mais do que empregar com uma 1 0S métodos de que todos 6s nos servimos oho ‘mem de negécio, como aquele dentre nds que tenhia mais empalide- 20s, ser ho- mem de cle se possa mostrar de se vet ina toda a sua vida em prosa. Entretanto, se nfo hi diferenga ¢ 08 da vida ordinéria, parece bem improvavel 8 diferengas entre os métodos das di parece, como coist re umn separa fem fisiologistas que repetem esta imputagdo. erate sername eect sora, quando se fala em falta de exatidto, a co sag quer avs méiodos,quee 208 resultados d edn "Miso se pode dizer que os métodos tenham f sue 0s mGtodos so Stic em todas as ciéncias © 0 que & Fe a tanenaie nti io wot fisiogico. “gerdo entfo os re de exatidio? Nio abs fagio se executa Por Astor intermédio do estOmago, que 0 olho € 0 Gro da visto, rae pesilas de um vertebrado ni se abrem nunca lteralmente, po ain sempre de cima para baixo, a0 passo que as de um anelado nic veribrem nunca de cima para baixo c sempre lateralmente, nunc jodas as da Geometria cigncia biolégica? A nosso ver, provém de: favo das nossas predigdes, em relagio 20 circunstancias dadas, serem apenas apro ‘complexidade desta cincia e da multidio das No existe cidncia que snia fora Eimpossive! acompanharo grand. &.suaargumentagdo: basta segu-lo em ts ou quatro pancadas cet- tira dadss no autor do Po ENSAIO DE FLOSOFA 00 OMREHTO + 59 ‘sua coordenagio mais ou menos fntimas."™ Neste ponto se manifesta uma das grandes diferencas que ; , & Ciéncia, isto &, t pelo acon indtvoededtve, pelos procesos da oberg comparagio e classificagio, entrou no quadro da Ciéncia, quate que seja 0 seu dominio, entrou defintivamente e € tio valida qualquer outro assunto, que j Como mesmos processos. O que, por outro lado, & incognoscivel, 0 que nao pode entrar no Esta posigdo 6 muito mais légica do que a do Positivism, que admite 0 ineognosefvel e entre depois a encher a torto e a direi. to a Citncia de coisas ince € © pensimento de pouco além, cigncia deve se compor de conhecimentos pr ENSAIO DE FILOSOFIA DO DIREITO + GI. quanto a dizer que 2s investigagdes anatémicas ¢ fisiol6gicas aus sistermsticas gue as do fico © do quimic, nfo passa so met asserto verdadeiramente inconcebivel inte metodos das cencias Fisica slo sempre os mesma em prin vos silogo, cas pesquises no fossem sistemitica, ence pio tm seu estudo ainda mais depressa do que aqueles que se va de assuntos mais simples.” ni dae metodo. Disse Comte, tratando da compa ‘9, quer dindmico dos corpos vivos, que a arte com- parative propriamente dita pode tomar todo 0 desenvolvimento fi- parca que a caractriza, de modo a nfo poder ser conveniente- Mrente tansportada a nent outro assunto sendo depois dete sido ‘exclusivamente tirada desta fonte primitiva.’”* ‘Responde o grande mestee inglés, famoso anatomistae fi wtemare dito que o método biol6gico € especialmente compare ¢ muita gente aceita favoravelmente este modo de ver. wor que, assim raciocinando sobre sofos especulativos foram leva- im dos ramos mais importantes cr em matéria ant certos 62.» stvio ROMERO Bernard sobre a fungi do figad “Mas nto existe uma s6 fungo dos érB0s do corpo que no tenhg sido determinada purse simplesmente pela experimentagdo, Nag fo, y det alureza da cine 40 que Sir Charles Bell determinoy is? ‘“Temos, porventura, outro meio para conhecer a Fungo de um nervo qualquer, € até como podemos saber que noss0s olhos sip cso aparetho de visto sem fazer experiéncia de os fechar, que o mevido € nosso aparetio de audiglo sem que o tapemos € reconhe. {gamos que deixamos de ouvir? gerra, em verdade, mais exato dizer que, dentre todas as cign- cias a Fisiologia € a ciéncia experimental por exceléncia, aqucly fm que hf menos a aprender por meio da observagdo pura, © aquela fu qual a0 experimentador se depara mais vasto campo a desenvol- ‘yer todas as faculdades que 0 caracter ‘nos pedissem tum modelo da aplicago da logica da expe. no poderfamos indicar melhor do que a obra de Claude isiderado como 6rgito produtor sm cheio, desbaratando as preten ss dos crentes da religido da huma- rem em tudo quanto saiu da pena, de seu mestre. Claro estamos, ¢ era o nosso alvo, ver qual o métode ‘Eo mesmo de.todas.as.ciéncias. siosas e desponderadas pretensBe: nidade que 86 maravilhas descob gerais da ciéncia. A evolugao. Seus principios fundamentais: 0 timo dos quatro sistemas expostos, no € ‘mo criticista, que &, repetimas, a con! do kantismo, e que é a doutrina por nés adotad idéias capitais: a critica do conhecimento ( sie Kant, €0 fier, 0 werden, 0 dévenir constante do smo) que ¥e Universo tumbéry texe um soberbo representante no grande genio & issou a Hegel 50 ver, pas ‘0 célebre filésofo i jva. Daf as 120" slés dos comegos do século XIX, sem a sua correla nas destes dois profundos pensadores. ‘Ambas mais tarde vieram a caber a Herbert Sf wolugdo por yon Baer, spencer, a eriee ‘wallace € ts ‘comuns a rods ¢ modema em 3

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