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EXPOSIO DE

FLORES
Antnio Torrado
escreveu e
Cristina Malaquias ilustrou

Aqui perto, houve uma exposio de flores. De flores


naturais, fiquem sabendo Nem fazia sentido que a
exposio fosse de flores de plstico. Ou de pano. Ou de
papel. Ou de flores pintadas em quadros.
As flores, em qualquer jardim, esto sempre em
exposio.
Admirem as nossas cores dizem as rosas.
Apreciem o vigor do nosso caule e a elegncia da nossa
corola dizem os jarros, a que os brasileiros chamam
"copos de leite". Porque ser?
Extasiem-se com a delicada pintura das nossas ptalas
dizem os amores-perfeitos.
As flores de jardim so umas vaidosas. Na exposio,
dispostas em jarros ou em vasos, encantavam quem por
elas passava.
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APENA - APDD Cofinanciado pelo POSI e pela Presidncia do Conselho de Ministros

entrada, mas do lado de fora do festival das flores,


uma papoila chama-me a ateno.
No me deixaram entrar queixou-se ela. Dizem que
a exposio s para flores cultivadas. Acho uma injustia.
Tambm achei o mesmo. Por isso, para repor a justia e
homenagear as flores do campo, que tm tanto de
humildade como de beleza, peguei na papoila e prendi-a na
lapela. Depois, entrei na exposio como se trouxesse ao
peito uma condecorao de fazer inveja a generais.
Houve escndalo entre as flores a concurso.
O que que esta paspalhona provinciana tem de estar
aqui a exibir-se? perguntavam umas s outras.
Mas os visitantes da exposio olhavam para ns para
a papoila e para mim e sorriam.
A minha papoila, muito ruborizada, sentia-se a rainha da
festa. Nunca concentrara sobre ela tantos olhares, tanta
ateno, tanta simpatia. Era emoo demais para uma
papoila to frgil. Antes que eu chegasse ao fim da
exposio as ptalas da minha papoila voaram. Para onde?
No importa. Aquele tinha sido o momento mais glorioso
da sua curta vida.
FIM

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