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PALESTRAS INTRODUTORIAS A TEOLOGIA SISTEMATICA Por HENRY CLARENCE THIESSEN B. D.,PH.D.,D.D. Antigo Chefe do Corpo Docente da Escola de P6s-Graduagao do Wheaton College, Wheaton, Illinois. Autor de Introdugdo ao Novo Testamento IMPRENSA BATISTA REGULAR DO BRASIL Rua Kansas, 770 - Brooklin 04558 - Sao Paulo - SP Telefones: 530-4232 / 61-3239 1989 Titulo em inglés: Introductory Lectures in Systematic Theology Copyright, 1949, by Wm. B. Eerdmans Publishing Company Primeira edi¢do em portugués — 1987 Segunda impressao em portugués — 1989 Traduzido e publicado com a devida autorizagdo Todos os direitos reservados. E proibida a reprodugao deste livro, no todo ou em parte, sem a permiss4o por escrito dos Editores. ‘Batista ‘Regular ANCELICA PARA O BRASIL” RODRIGUES —8-ssorauo—or Indice do Contetido Introdugao 4 Primeira Edigdo em Portugués... .... T2271 Pee bese anne p esata Nava HMng end EQaRESeRsnaes seaNsGHRP Es EGHENSNarSHBORSSASERENADE “PROLEGOMENA” «0.0.10. eee Capitulo I — A Natureza e Necessidade da Teologia . 1. A Natureza da Teologia 1, Teologia eEtica ............ : 2. Teologia e Religigo .............. 3. Teologia e Filosofia............ A Necessidade da Teologia 1. O Instinto Organizador do Intelecto . 2. A Natureza Difundida da Descrenga de Nossos Dias. 3. A Natureza das Escrituras.............-- 4. O Desenvolvimento de um Carater Crist@o Inicigent 5. As Condigdes para o Servi¢o Cristdo Eficaz. . IL. Capitulo Il — A Possibilidade e Divisdes da Teologia A. A Possibilidade da Teologia 1A Revelagdo de Deus . . 1, A Revelag&o Geral de Deus . 2. A Revelacdo Especial de Deus « II. Os Dons do Homem. 1. Seus Dons Mentais. . . . 2. Seus Dons Espirituais B. As Divisdes da Teologia . . 1. A Teologia Exegética . Il. A Teologia Historica . IIL. A Teologia Sistematica . . tH IV. A Teologia Pritica. . 0.6... cece eee eee rene nee PARTE CRIS MO 2 cereus tee ara aeRO eta coa cee Peoaie dates 23 Capftulo III — Definigdo e Existéncia de Deus. I. A Definigo de Deus . . 1. Os Usos Errados do Termo . 2. Os Nomes Biblicos de Deus. 3. A Formulacao Teolégica da Definiggo A Existéncia de Deus : 1. A Crenga na Existéncia de Deus ¢ Intuitiva. 7 2. A Existéncia de Deus é Assumida nas Escrituras . . 3. A Crenga na Existéncia de Deus é Corroborada por Argumentos I — tii — Capitulo IV — As Opinides do Mundo Nao-Cristfo.... 0.0.2... 02222 eee 1234 I. O Ponto de Vista Ateistico . (/U. 0 Ponto de Vista Agnéstico. Ill. O Ponto de Vista Pantessta . 1. Os Principais Tipos de Panteismo . . . 2. A Refutagio das Teorias Panteistas. IV. O Ponto de Vista Politefsta V. O Ponto de Vista Dualista. . . VI. O Ponto de Vista Deistico. . JIPARTE — BIBLIOLOGIA ... 2.0.0.6. eee eee 44 . O Argumento da Indestrut: IV. O Argumento da Natureza da Biblia V. O Argumento da Influéncia da Biblia VI. O Argumento da Profecia Cumprida . VII. As Reivindicag6es das Préprias Escrituras. Capitulo VI — A Genuinidade, Credibilidade e Canonicidade dos Livros da Biblia . .54 I. A Genuinidade dos Livros da Biblia ..........---.-.- 1, A Genuinidade dos Livros do Velho Testamento . . 2. A Genuinidade dos Livros do Novo Testamento IL. A Credibilidade dos Livros da Biblia. ..... 0.0.0.2... 000002000 e- 1. A Credibilidade dos Livros do Velho Testamento. 2. A Credibilidade dos Livros do Novo Testamento UI. A Canonicidade dos Livros da Biblia... 2.2.0... 6 0.00 e eee 1. A Canonicidade dos Livros do Velho Testamento 2. A Canonicidade dos Livros do Novo Testamento Capitulo VII — A Inspiragdo das Escrituras I. A Definigao de Inspiragdo Il. As Provas de Inspiragao . q 1, A Natureza de Deus........ 2. A Natureza e Afirmag6es da Biblia... . IIL. As ObjegGes a Esta Opiniao da Inspiragao. . 1. Na Ciéncia e na Historia 2. No Milagre e na Profecia. 3. Na Citagdo e na Interpretaggo do Velho Testamento 4. Na Moral e na Religifo. 2 eee WIPARTE—TEOLOGIA. 0.2... 00ers .B Capitulo VIII — A Natureza de Deus: Essénciae Atributos.................74 1. A Esséncia de Deus : 74 1, Espiritualidade .........2.. 74 2. Auto-existéncia. 6... ee eee 76 -iv— 3. Imensidfo 4. Eternidade IL. Atributos de Deus. . . -77 A. Os Atributos Ndo-Morais. 6.6.1... 77 1. Onipresenga. 2.2... eee eee eee eee eee 2. Onisciéncia,.. 6... eee eee we TB 3. Onipoténcia . . . . 79 4, Imutabilidade -80 B. Os Atributos Morais d= Santidade siete certs seeeeeee ree epee gee are Eee eee ane 2. Retidao e Justiga 3. Bondade ...... AAV eT Oade eset eactetitee arate Sean rateiH tater eacaeteteteate Capitulo IX — A Natureza de Deus: Unidadee Trindade ..................86 I. A Uniidade de Deus .................... - 86 Il, A Trindade de Deus........... . 87 1. Insinuagdes no Velho Testamento. -88 2. O Ensino do Novo Testamento. +... 89 3. Algumas Observagbes e Dedugdes Baseadas Nestas Investigactes........ 94 Capitulo X — Os Decretos de Deus... 0. ee eee 96 |. A Definig&o dos Decretos IL. A Prova dosDecretos... 6.6.6... cee eee eee eee eee . III. As Bases dos Decretos ... 2.2.11. eee IV. A Finalidade dos Decretos.... 0.6... cee eee eee ee V. O Contetido e a Ordem dos Dectetos. . 1. No Campo Material e Fisico . . 2. No Campo Moral e Espiritual. . 3. No Campo Social e Politico Capitulo XI — A Obra de Deus: A Criagio I. A Definigdo da Criagfo........ Il. A Prova da Doutrina da Criagio . . 1. O Relato Mosaico da Criagdo. . . . 2, Outras Provas Biblicas da Criagdo........ II. As Teorias Opostas a Doutrina da Criagdo . . . . 1. A Teoria Ateista 2. A Teoria Dualista 3. A Teoria Panteista 4. A Teoria da Criagdo Eterna . . IV. A Hora da Criagdo . V. A Finalidade de Deus na Criagdo . Capitulo XII — As Obras de Deus: Seu Governo Soberano . L.A Doutrina da Preservagdo 1. A Definigdo de Preservagdo . . . 2. A Prova da Doutrina da Preservago . . 3. O Método de Preservagdo IL. A Doutrina da Providéncia ... . 1. A Definigo de Providéncia . . 2. As Provas da Doutrina 3. A Finalidade Para a Qual a Providéncia € Diri ida 4. Os Meios Empregados no Exercicio da Divina Providéncia. 5. As Teorias Opostas 4 Doutrina da Providéncia........ Hated stadt teteeepl 2: 6. A Relagdo da Providéncia a Alguns Problemas Especiais............ 126 TV PARTE — ANGELOLOGIA . Seer tebe eta e ete Hier t sists desire tae st Sete at 128 Capitulo XII — A Origem, Natureza, Queda e Classificagdo dos eal piesa eta 129 I. A Origem dos Anjos. . rao IL. A Natureza dos Anjos. 129 1, Nao Sao Seres Humanos Glorificados . : : ~. 129 2, SdoIncorpéreos ...........- ete » 129 3, S40 um Batalhdo e Nao uma Raga - 130 4, Excedem o Homem em Conhecimento, Apesar de Nao Serem Oniscientes 130 5. Sao Mais Fortes que o Homem, Apesar de Nao Serem Onipotentes 131 Til. A Queda dos Anjos .. .. BL 1. O Fato de Sua Queda . 131 iA Bpoca.de'SumiQueda ite ee caer ey ree 132 3, A Causa de Sua Queda t 132 4, O Resultado de Sua Queda . . . 133 IV. A Classificagdo dos Anjos 133 1, Os Anjos Bons ...... ene eer eeacaec treater eeeeeeeesee ec) Dt Os Anjos Mauser ieee ese 135 Capitulo XIV — A Obra e 0 Destino dos Anjos 139 1.A Obra dos Anjos ..........000005 eee eee eee e139 1. A Obra dos Anjos Bons........ . 139 2. A Obra dos Anjos Maus 141 3. A Obra dos Deménios ..... 142 4. A Obra de Satands.. . . IO Destino dos Anjos 6.0.0... eee eee eee eee 1, O Destino dos Anjos Bons 2. O Destino dos Anjos Maus. 144 3. O Destino de Satands.. 2... 2. eee eee 144 V PARTE ~ ANTROPOLOGIA... 0.0.0... eee 146 Capitulo XV — A Origem e o Cardter Original do Homem.........-...-..- 147 JA Origem do Homem. 0.0... cette eee 147 Il, A Natureza Original do Homem.... 1.2... eee eee 150 1. Nao é uma Semelhanga Fisica... 2.00... . 0 cece eee ee ee ee 150 2. Foi uma Semelhanga Mental ..... 2... 22.2 ISL 3. Foi uma Semelhanga Moral... 0... eee 151 4. Foi uma Semelhanga Social... 6... ee eee eee 152 Capitulo XVI — A Unidade e Constituicdo Permanente do Homem 1. A Unidade do Homem ... 0.0.2... 60.0000 ee eee 1. O Argumento da Historia... eee eee eee ee 2. O Argumento da Fisiologia........... 3. O Argumento da Linguagem............ eee eeeeee 4. O Argumento da Psicologia... 2.6... occ IL. A Constituigéo doHomem ..... 0.0.00 e eee eee 1. A Constituigdo Psicolégica do Homem.......---0 000.0000 e eee 2. A Constituigéo Moral do Homem........-6 0-002 e ee eee eee 3. AOrigem da Alma... 0.2.0.0. e eee eee eee Capitulo XVII — A Queda do Homem: Antecedentes e Problemas I. Antecedentes da Queda .... . 1. A Lei de Deus....... 2. A Natureza do Pecado it II. Problemas Relacionados com a Queda. . 1. Como Péde um Ser Santo Cair? a 2. Como Péde um Deus Justo Permitir que o Homem Fosse Tent do we 174 3. Como Pode um Castigo Tao Grande Ser Vinculado 4 Desobediéncia a uma Ordem Tao Insignificante? ©... 26. cece eee 174 Capitulo XVIII — A Queda do Homem: Fato e Conseqiiéncias Imediatas. I. A Origem do Pecado no Ato Pessoal de Ado 1. O Pecado Nao é Eterno. 2. O Pecado Nao se Origina na Limitagdo do Homem. 3. O Pecado Nao se Origina na Sensualidade 4. O Pecado se Originou no Ato Livre de Adio. . . As Conseqiiéncias Imediatas do Pecado de Addo . 1. Seu Efeito Sobre o Relacionamento Deles com Deus 2. Seu Efeito Sobre Sua Natureza. 3. Seu Efeito Sobre Seus Corpos . 4, Seu Efeito Sobre Seu Meio Ambiente . 176 I Capftulo XIX — A Queda do Homem: ea e Conseqiiéncias Raciais.. .. . . 183 I. A Universalidade do Pecado... 0... 66... eee eee eee eee II. A Imputagdo do Pecado . . . 1. A Teoria Pelagiana. . 2. A Teoria Arminiana . 3. A Teoria Federativa . 4. A Teoria da Imputacdo Mediata . Hee rus 186 5. A Teoria Agostiniana... 2... 2... 2. ee es 187 Capitulo XX — A Queda do Homem: A Natureza e Conseqiiéncias Finais Wo Pecado 22. cece ween tte ent teen sete een ence 190 I. A Natureza e Extensfo da Depravagdo. 1.00... ee eee ee eee 190 1. O Significado da Depravagio.........-- 22 ee eee eee eee ee 190 2. A Extensdo da Depravacdo «1... 6. eee eee eee 190 Il. A Natureza e Grau de Culpa 6... 2... 191 —vii— 1. O Significado de Culpa 2. Os Graus da Culpa...... UL. A Natureza e Cardter do Castigo......-...- 0... See Hue i92 1. O Significado do Castigo... 2.6... ee ee eee ee 192 210) Casddee dip Coking deri eae 193 + VIPARTE —SOTERIOLOGIA.......... Eee tee 194 A, A Provistt da Salvagd 0.0.6 eve eee eevee Pee iene 194 Capftulo XXI — 0 Propésito, Plano e Método de Deus . I. O Propésito de Deus 00... ee cece 1. Na Natureza Humana . 2. Nas Escrituras...... II. O Plano de Deus . . 1. A Revelagdo do Plano de Deus... . 2. O Esquema do Plano de Deus. III. Os Métodos de Deus. 1. No Passado. . . . . 2. No Presente . 3. No Futuro Capitulo XXII — A Pessoa de Cristo: Pontos de Vista Histéricos e o Estado Pré-encarnado . I. Opinides Histéricas . . © 1. Os Ebionitas. . @ 2. Os Gnésticos . 3. Os Arianos. ..... 4. Os Apolindrios . . . 5 6 - Os Nestorianos . . . . Os Eutiquianos.... . . 7. A Opinigo Ortodoxa . . IL. O Cristo Pré-encarnado Capitulo XXIII — A Pessoa de Cristo: A Humithagao de Cristo . 1. As Razdes Para a Encarnagdo.........------- 1. Para Confirmar as Promessas de Deus Para Revelar‘o Pai...... pees Para Se Tornar um Sumo Sacerdote Fiel . Para Destruir as Obras do Diabo . Para Nos Dar o Exemplo de uma Vida Santa. 7. Para Preparar para o Segundo Advento . . A Natureza da Encarnacio fa 3. 4. Para Aniquilar 0 Pecado ihe 6. 1. Ele Esvaziou a Si Mesmo. 2. Tornou-se em Semelhanga de Homem . . viii ~ Capitulo XXIV — A Pessoa de Cristo: As Duas Naturezas e o Cardter Me Cristin ITE ete tacit tite ceretadatite tee ete atatsistertctiie atatstatsbeble letersi I. A Humanidade de Cristo... 66... ieee eee eee 1. Ele Teve Nascimento Humano . . . 2. Ele Teve Desenvolvimento Humano 3. Ele Tinha os Elementos Essenciais da Natureza Humana... . 4, Ele Teve Nomes Humanos...... 0.0... 22. ce eee eee 5. Ele Teve as Fraquezas Nao Pecaminosas da Natureza Humana 6. Ele € Repetidamente Chamado de “Homem” . . IL. A Divindade de Cristo... 6.2... 0. .0.005 III. As Duas Naturezas de Cristo 1. A Prova de Sua Unido. . . 2. A Natureza de Sua Unifo . . . IV. O Carater de Cristo ......... . Ele foi Absolutamente Santo... . . Ele Tinha Amor Genuino ...... . Ele foi Verdadeiramente Humilde . . Ele foi Absolutamente Manso . . . Ele foi Perfeitamente Equilibrado. . Ele Viveu uma Vida de Oragao. . . . Ele foi um Trabalhador Incessante NAUVpPwNe Capitulo XXV — A Obra de Cristo: Sua Morte — Importdncia e Interpretagado Erromea. 6. teen ete - 223 I. A Importancia da Morte de Cristo... 0... ce ee 228 1. E Anunciada no Velho Testamento......-.....02.000 eee e eee 223 . E Proeminente no Novo Testamento ........ 2.2.0. 0000 eee eee 224 . Ea Principal Razfo da Encarnago... . 224 . Eo Tema Fundamental do Evangelho . E Essencial para o Cristianismo .... 2.0.0.0... 0c cece eee eee . E Essencial para a Nossa Salvacao. . . E de Interesse Supremo no Céu . . . .. Interpretagdes Erréneas da Morte de Cristo 1, A Teoria do Acidente.......... . sadedat at eeeeeeie ete ete ce dei tat 2, A Teoria do Martin. 60.1... 6c eee tee et eee eee e tees 3. A Teoria da Influéncia Moral 4. A Teoria Governamental. . 5. A Teoria Comercial NAURWH Capftulo XXVI — A Obra de Cristo: Sua Morte — Seu Significado e Extens4o Reais. I. O Significado da Morte de Cristo . eR Viedrin eee 2. E Satisfagao . 3. Bum Resgate IL. A Extensfo da Morte de Cristo. . . 1. Cristo Morteu Pelos Eleitos..... . 2. Cristo Morreu Pelo Mundo Inteiro Capitulo XXVII — A Obra de Cristo: Sua Ressurreigfo e Ascensfo I. A Ressurreigdo de Cristo... 0. cece eee eee 1. A Importancia da Ressurreigo de Cristo 2. ANatureza da Ressurreigo de Cristo... 2.2... eee eee 3. A Credibilidade da Ressurreigao de Cristo 4. Os Resultados da Ressurreigdo de Cristo IL. A Ascensdo de Cristo... 0... eee 1, As Escrituras Ensinam a Ascensdo de Cristo . . 2. Objegdes a Ascensfo de Cristo Ill. A Exaltagdo de Cristo. ...........- : 1, Coisas Contidas na Exaltagdo de Cristo ..... 2. Resultados da Ascensdo e Exaltaco de Cristo. B. A Aplicagdo da Salvagdo Seedo I — Em Seu Princtpio.. 2.2... eee ee 245 Capitulo XXVIII ~ Eleigo e Vocagio. . . . I. A Doutrina da Eleigao . 1. A Definigdo de Eleigao. . 2. A Prova Deste Ponto de Vista de Eleigdo . 3. Objegdes a Este Ponto de Vista de Eleiggo . IL. A Doutrina da Vocagao .. . 1. As Pessoas Chamadas . . . 2. O Objeto do Chamado . 3. O Significado do Chamado . Capitulo XXIX — Conversfo........ I. O Elemento do Arrependimento. 1. A Importancia do Arrependimento. 2. O Significado do Artependimento. 3. Os Meios de Arrependimento. . . If. O Elemento da Fé... . 1. A Importancia da Fé 2. O Significado da Fé . 3. A Fonte da Fé... 4. Os Resultados da Fé Capitulo XXX — Justificagdo e Regeneragao. I. A Doutrina da Justificagfo 6.2... ee eee 1. A Definigdo de Justificagao 2. O Método de Justificagdo .. 2.2.2. eee eee 3. Os Resultados da Justificagao A Doutrina da Regeneragéo. . . . . 1. O Significado da Regenerago . 2. A Necessidade de Regeneragio. 3. Os Meios de Regeneragao . 4. Os Resultados da Regeneragdo I. Capitulo XXXI — Unido com Cristo e Adogdo ... 6.6.6... eee eee eee 1. A Unido do Crente com Cristo 1. A Natureza Dessa Unido . 2. O Método Desta Unido. . 3. As Conseqiiéncias Desta Unido. II. A Adogfo do Crente . . . 1. A Definig&o de Adogao . 2. O Tempo da Adogado .. . 3. Os Resultados da Adogao . Segio If - Em Sua Continuagdo.. 2.6.0 c vce e eee e eee Capitulo XXXII — Santificagdo 6. eee ee I. Definicdo de Santificagao . 1. Separagdo para Deus « . 2. Imputagao de Cristo como Nossa Santidade . eae eer aera re 3, Purificagdo do Mal Moral... 20.00.00 eee eee ee eee 4. Conformidade com a Imagem de Cristo. . . . See MiG Tempo da Sentificapio uae een eee ae ett 1. O Ato Inicial de Santificagdo. 6... eee eee 2. 0 Processo de Santificagao 3. Santificagdo Completae Final........... 00.0000 Til’ (Os Meios delSantiicagsol esr miu secre Capitulo XXXII — Perseveranga . 6... eee ee 276 I, Prova da Doutrina . 6.6... eee 1. O Propésito de Deus 2. A Mediagao de Cristo eed ese atc 3. A Continua Capacidade de Deus de Nos Guardar..............-05 277 4, A Natureza da Mudanga no Crente - ObjegGes ADoutrina........... Perera Bead 1, Induz a Frouxiddo e Indoléncia . 6.6... ee eee 2. Rouba a Liberdade do Homem. ..... 2.6.6.0 0202s eee e eee e ee 3. As Escrituras Ensinam o Contrario.........-.---+ 000-2024 4, Ha Muitas Adverténcias . 2.2... eee eee Capitulo XXXIV — Os Meios da Graca o I.APalavradeDeus......... oe Eee Ree adic eee tee ete ee 1, Bum Meio de Salvagfo. 0.2. eee 2. Eum Meio de Santificagdo ell. OragGo 2.2... eee 1. A Natureza da Oragdo ... . 2. A Relagdo entre Oragdo e Providéncia...........s.s.sscs0eeee 285 3. O Método e Maneira de Orar. 0 eee eee 285 VII PARTE —ECLESIOLOGIA. 00.2020 c ee cee e eee 288 Capitulo XXXV — Introdutério: Definigio e Fundagdo da Igreja............ 290 1. A Definigdo da Igreja. eect eee eee eee 290 —xi- 1. A Igreja Nao é o Judaismo Melhorado e Continuado 2. A Igreja Nao é 0 “Reino”......... BCE 3. A Igreja Nao é uma “Denominagao” - 4. A Igreja é Considerada em Dois Sentidos . Il. A Fundagao da Igreja. . ; 1. AEpoca de sua Fundagai 2. A Fundagdo de Outras Igrejas Lois. Capitulo XXXVI — A Fundagdo da Igreja; a Maneira da Fundacao e a Organizacado Gee er: Cc RaRasaas EEG ETENENSREPEDEEtStSNarEnarEcte isiAiseFsH SES Aenerer erat evanesa Naseer opis nsnarerertstay L A Fandsgto de igi HCE a Hoar Here tete s ele tee tebe ret tee ee . A Igreja Universal TI. A Maneira da Fundagao .. . . Il. A Organizagao das Igrejas . . 1. O Fato da Organizagao 2. Os Oficiais da Igreja.......-... 2. eee eee 3. O Governo da Igreja.... 2... eee eee eee IE. A Ceia do Senhor ...........--.. 1, O Ensinamento Biblico. 2. O Ensinamento Catélico Romano. 3. O Ensino Luterano e da Igreja Superior Anglicana . 7 7 4. O Ensino Reformado. .. 2.0... eee eee eee eee Capitulo XXXVIII — A Missao e Destino da Igreja. I. A Miss&o da Igreja . Glorificar a Deus... . . Para Edificar a si Propria . Purificar a si Propria. . Para Educar seus Membros . . Para Evangelizar o Mundo. . Para Agir como Forga Restritiva e Iluminadora no Mundo. 7. Para Promover Tudo o que é Bom. |. O Destino da Igreja 1, A Igreja ndo Convertera o Mundo 2. A Igreja Ocupar4 Lugar de Béngdo e Honra NAWAWHE VII PARTE ~ ESCATOLOGIA......-.......--2---- Capitulo XXXIX — A Segunda Vinda de Cristo: Importdncia da Doutrina e Natureza de Sua Vinda 1. A Importéncia da Doutrina 1. Sua Proeminéncia nas Escrituras. 2. E uma Chave para as Escrituras . 3. Ea Esperanga da Igreja. 4. E Incentivo para o Cristianismo Biblico . —xii— 5. Tem Efeito Marcante Sobre Nosso Servigo . . II. A Natureza da Vinda de Cristo......... 1. O Ensinamento Biblico...... i 2. Algumas Interpretag6es Erréneas . Perret Saedadaeae 3. As Fases da Vinda de Cristo... ......-.--+-005 Capitulo XL — A Segunda Vinda de Cristo: O Propésito de Sua Vinda nos Ares . . 324 I. Para Receber os Seus... 6.2... eevee eee ee eee eee 324 1, Os Pré-requisitos 2. AManeira....... Il. Para Julgar e Galardoar 1. O Julgamento do Crente 2. O Galardao dos Crentes . TIL. Para Remover o que Detém Capftulo XLI — A Segunda Vinda de Cristo: 0 Propésito de Sua Vinda a Terra e o Perfodo Entre o Arrebatamento e a Revelagfo................ 331 I. O Propésito da Sua Vinda A Terra... . 2... eee eee eee 331 1. Para Revelar-Se e aos Seus. 2... eee 331 2. Para Julgar a Besta, o Falso Profeta e seus Exércitos.............. 3. Para Prender Satands ©... 6... cee eee eee eee eee 4, Para Salvar Israel... . 5. Para Julgar as NagGes . . 6. Para Livrar e Abencoar a Criacdo . . 7. Para Estabelecer o Seu Reino. 0 Periodo Entre 0 Arrebatamento ¢ a Revelagao 1. A Duracio do Perfodo 2. A Natureza do Periodo. . . 3. O Ator Principal do Perfode . . Capftulo XLII — A Hora da Sua Vinda: Pré-milenar L. OSignificado do Termo............ IL. A Posigao da Igreja Primitiva..............4 Ill. A Prova da Doutrina ... 2.2.2... eee 1. A Maneira e Hora do Estabelecimento do Reino - 340 2. As Béngdos Associadas a Este Reino Futuro........-..........340 3. A Diferenga Entre Receber o Reino e Inauguré-lo............... 340 4. A Promessa aos Apéstolos de Reinarem sobre as Doze Tribos (A Ce Beeaeseensnses eel tse aenarabsstas seeerertedisentrasarcriata a ererirar iota ierersticieir 341 5. A Promessa aos Crentes de que Reinaréo com Cristo ............- 341 6. Predigdo das Condigdes que Existirdo Logo Antes da Sua Volta... . . . 341 ~ . A Ordem dos Acontecimentos.... 6.0.00... ee eee eee eee I. Os Primeiros Ensinamentos Cristaos . . 1 Hermas — xiii — Capftulo XLIV — As Ressurreigdes 1, A Promessa a Igreja de Filadélfia .. 6... 26. .eeeeeeeeeee 345 2. A Natureza da Septuagésima Semana de Daniel... . . wee 346 3. A Natureza e Propésito da Tribulagdo. .... 2.2... - 346 4. Os Vinte e Quatro Ancidos em Relagdo 4 Tribulagdo ..............347 5. A Miss4o do Espirito Santo como Reprimidor............... - 348 6. A Necessidade de um Intervalo Entre o Arrebatamento e a Revelagdo . . . 349 7. As Exortag6es 4 Constante Expectativa da Volta do Senhor.......... 349 I, A Certeza da Ressurrei¢go..........- 1. O Fato e Natureza do Estado Intermedidtio Sere ecet sre ie etait 352 2. O Ensinamento do Velho Testamento Quanto a Ressurreigdo do Corpo . 354 3. O Ensinamento do Novo Testamento Quanto a Ressurreigao do Corpo . 354 . A Natureza da Ressurteigd0. 0.0... cece cece cece eee ee 1. O Fato da Ressurreigdo do Corpo. . . . 2. A Natureza da Ressurreigao do Corpo TH. A Hora das Ressurreiges 2.0.0... cece cece teen Capftulo XLV — Os Julgamentos ... 0000... eee cece eee eee L. A Certeza dos Julgamentos . Il. O Objeto dos Julgamentos. . TIL. O Jui: - TV. Os Varios Julgamentos . . . . Capitulo XLVI — 0 Milenio . L . As Caracteristicas do Milénio. 1. O Julgamento dos Crentes 2. O Julgamento de Israel . 3. O Julgamento da Babilonia ; 4. O Julgamento da Besta, do Falso Profeta e seus Exércitos a - 362 5. O Julgamento das Nagdes .. 2... ee eee 362 6. O Julgamento de Satands e seus ANMJOS. 6... eee cee eee 562 7. O Julgamento dos Mortos Nao-salvos... 22... ee ee eee 363 O Fato de um Milénio . . 1. A Expectativa Humana : 2. A Crenga da Igreja Primitiva . 3. O Ensinamento da Escritura . . . Com Relaco a Cristo... . . Com Relagao a Igreja . . Com Relacdo a Israel ‘ Com Relagao as Nagées . . . Com Relacdo a Stands. . Com Relagao aNatureza. . Com Relagdo as Condigses em Geral NAnVERYWHE Capftulo XLVH ~ O Estado Final... 22... eee 372 I. O Estado Final de Satands.... 6... eee 372 1. Serd Solto de sua Prisfo 6.1... eee eee ee ee 372 2. Serd Finalmente Julgado e Sentenciado..........-...0-.+-005 372 —xiv— II. O Julgamento Final . » 372 IIL. O Reino Final. . 373 IV. A Nova Criagdo. 373 1. O Novo Céue a Nova Terra 373 2. A Nova Jerusalém . 374 —xVv— INTRODUCAO Esta € a primeira edigdo em portugués do Dr. Henry Clarence Thiessen, “Prelegdes em Teologia Sistematica”. E o primeiro volume de Teologia Sistemitica a ser traduzi- do e publicado no Brasil. Em seu escopo, se aproxima em estilo e formato a um li- vro-texto ideal, e de valioso auxilio 4 consulta para todos os sérios estudantes da Pala- vra de Deus. Dr. Thiessen tem o dom de apresentar em uma maneira clara, concisa e erudita as grandes doutrinas da drea de teologia. Este livro é reconhecido e recomendado pe- Jos dirigentes escolares e escolas nos Estados Unidos, e nés estamos convictos de que seré bem recebido pelos professores e alunos de fala portuguesa, e com 0 mesmo en- tusiasmo. Nenhum trabalho é perfeito ou completo e este volume nao é uma excegao, en- tretanto nés sentimos que é o mais precioso livro de Teologia Sistematica acessivel. Sou grato a Deus por Sua béngdo e ajuda na publicagdo deste volume; a Inez McLain por sua valiosa ajuda; a Dna Wanda da Concei¢do pelo excelente trabalho de tradugdo; a minha esposa Thelma, pelas horas gastas no trabalho de leitura e revisio; e a cada um de vocés que tem orado e contribuido, fazendo este projeto possivel. Este livro é dedicado a todos os seminaristas que tem trabalhado através deste material sem os meios adequados para dominar a matéria. E 0 nosso desejo, como foi o do autor, que Deus seja glorificado pelo uso desta obra no preparo de homens para um ministério efetivo de pregagdo do Evangelho de Jesus Cristo. Curitiba, PR — 1986 Rev. Clarence Antrum Nickell PREFACIO Aqueles que j4 conhecem o livro do Dr. H.C. Thiessen, An Outline of Lectures in Systematic Theology, em formato de resumo, se regozijardo com o aparecimento de uma obra mais completa no formato de livro. Quando 0 Dr. Thiessen foi chamado de sua labuta, estava dedicado 4 tarefa de escrever 0 livro. Terminé-lo e revisd-lo desde que ele partiu tem sido a minha tarefa, a pedido da senhora H. C. Thiessen. A primeira terga parte do livro est4 exatamente como ele a escreveu. Aqueles que conhecem o resumo notardo que foi completamente reescrita e arranjada de modo di- ferente. Provavelmente ele teria feito 0 mesmo com o restante do livro se tivesse vivi- do o suficiente para completé-lo. Ele havia feito um esbogo completo dos capitulos e 0 melhor que pude fazer foi seguir 0 esboco e basear-me no material do resumo. Cita- g6es de fontes que nao as do resumo sdo principalmente aquelas que ele havia escrito nas paginas em branco de sua prépria cépia do resumo. Na maior parte, usei apenas aquelas que, a meu ver, reforcavam © argumento, ou ajudavam a tornar mais claro 0 significado. Se fossem apenas notas interessantes, eram rejeitadas. Foi dado o devido crédito nas notas de rodapé a todos os autores citados. Tenho um grande débito para com todos eles, mas especialmente para com Augustus Hopkins Strong, Systematic Theology (Teologia Sistemdtica) (Philadelphia: The Griffith and Rowland Press, 1906) pela segdo sobre Problemas Relacionados com a Queda, a qual Dr. Thiessen seguiu bem de perto em seu resumo. Minha tarefa principal foi a de revisar o material, verificar citagGes, completar declarages, escrever um pardgrafo ou uma curta segdo aqui e ali, arranjar em capitu- los de acordo com o ésbogo a mao, e assim preparar estas pdginas para o editor. Nenhuma obra do homem é jamais perfeita, mas tomou-se grande cuidado para fazer esta obra tio exata quanto possivel. Toda referéncia das Escrituras, a menos que seja tao conhecida quanto Joao 3: 16, foi verificada. Mas ndo houve tempo sufi- ciente para verificar todas as citagdes dos varios outros autores. Como o resumo jé passou por trés revisOes, assumi que elas estavam corretas, pois os exemplos escolhi- dos a esmo e examinados estavam corretos. Expressamos profunda gratiddo ao Dr. Milford L. Baker, presidente do California Baptist Theological Seminary, e ao Dr. H. Vernon Ritter, bibliotecdtio no mesmo semi- nério, por sua bondade e cooperagfo. Esse semindtio havia adquirido a biblioteca do Dr. Thiessen quando ele faleceu, mas com cortesia e generosidade cristas, permitiram- “Nos retirar este ou quaisquer outros livros de sua biblioteca e usd-los pelo tempo que deles necessitdssemos. O Dr. Ritter arranjou tempo para pessoalmente localizar muitos dos livros para nés, para que pudéssemos dar completo crédito literdrio as citagOes usa- das. Estendemos também nossos agradecimentos ao Dr. Richard W. Cramer, chefe da Divisio de Estudos Biblicos e filosofia do Westmont College, em Santa Barbara, na -2 California, que preparou o Indice dos Assuntos, Indice dos Autores e Indice das Pala- vras Gregas; a Srta. Goldie Wiens, professora em Shafter, Califérnia, pela preparagdo do Indice das Escrituras. Minha irma, Srta. Kate I. Thiessen, uma professora secundaria em Oklahoma, datilografou todo o manuscrito. Cito do Prefécio do Dr. Thiessen no sumdrio mimeografado, o seguinte: “Espera-se que a presente edigdo estabelega a verdade mais clara e logicamente, e que o Deus Tritino, Pai, Filho e Espirito Santo, seja glorificado através do seu estudo”. Como nas versGes anteriores, a American Standard Version da Biblia foi a que usamos, como a melhor tradugdo dos idiomas hebreu e grego, exceto quando outra verso for especificada. O livro é apresentado com a prece para que seja usado por Deus e util para treinar homens para 0 ministério eficiente do Evangelho. John Caldwell Thiessen Detroit, Michigan, 1949 PROLEGOMENOS CAPITULO | A Natureza e Necessidade da Teologia Até bem recentemente, a Teologia era considerada como a rainha das ciénciase a - Teologia Sistemdtica como a coroa da rainha. Mas hoje em dia a maior parte dos cha- mados estudos teoldgicos nega a idéia de que ela seja uma ciéncia, e ainda mais a idéia de que possa ser a rainha das ciéncias. James Orr jé dizia hd um bom ntimero de anos atrds: “Todos devem estar cientes de que hd nos dias de hoje um grande preconcei- to contra doutrina — ou, como € muitas vezes chamada — “dogma” — na religiao; uma grande desconfianga e avers4o ao pensamento claro e sistematico a respeito de coisas divinas. Os homens preferem, ndo se pode deixar de notar, viver em uma regio de nebulosidade e indefinigdo com relagfo a esses assuntos. Querem que seu pensamento seja fluido e indefinido — algo que possa ser mudado com os tem- pos, e com as novas luzes que eles acham estarem constantemente aparecendo para ilumind-los, continuamente adquirindo novas formas e deixando o que € velho para trés”. James Orr, Sidelights on Christian Doctrine (Comentarios sobre a Dou- trina Crista) (New York; A. C. Armstrong and Sons, 1909), pag. 3. Isto € ainda mais verdadeiro hoje do que quando Orr escreveu essas palavras; co- mo podemos explicar esse estado de coisas? Orr indica a razdo basica: E a divida dos dias de hoje quanto a podermos chegar a qualquer conclusdo neste campo, que possa ser considerada como certa e final. In- fluenciada pela filosofia corrente de pragmatismo, o tedlogo moderno comega com 0 dictum de que em teologia, como em todos os outros campos de pesquisa, a crenga nunca deve ir além do mero estabelecimento de uma premissa bdsica; nunca deve ser enunciada como algo considerado fixo e final. Tendo rejeitado a Biblia como a infa- livel Palavra de Deus e tendo aceitado a idéia de que tudo estd fluindo, o tedlogo mo- derno afirma que ndo seguro formular quaisquer idéias permanentes a respeito de Deus e da verdade teoldgica. Se ele fizer isto hoje, amanhd pode ser obrigado a mudar sua opinido. Por isso, escritores modernos raramente expressam qualquer certeza com respeito a qualquer idéia que ndo seja das mais gerais em teologia. Mas, gracas a Deus, ainda hd muitos que nao se deixam levar por esta filosofia su- bliminar, que ainda créem que ha algumas coisas no mundo que sfo estaveis e perma- nentes. Eles citam a regularidade dos corpos celestiais, das leis da natureza e da cién- cia da matemdtica como sendo as provas basicas para esta crenga. A ciéncia, como sa- bemos, esté comegando a questionar a regularidade até das leis da natureza, mas o crente em Deus experiente vé nessas aparentes irregularidades a intervencdo de Deus e a manifestagdo do Seu Poder milagroso. Ele sustenta que, ao mesmo tempo que a apreensdo da revelagGo divina é progressiva, a revelacdo em si € tao estdvel quanto a propria retidao e verdade de Deus. Ele, portanto, ainda acredita na possibilidade da Teologia e da Teologia Sistemdtica, e ainda as considera t4o favoravelmente quanto os antigos o faziam. E patente o fato de que mesmo o moderno estudante que nao for- —4- mula suas crengas teolégicas, ainda tem idéias razoavelmente definidas a respeito das quest6es principais nesse campo. A razdo para isso se encontra em sua prdpria consti- tuig4o moral e mental. Falaremos disso quando abordarmos a necessidade de Teolo- gia; mas precisamos primeiro discutir a natureza da Teologia. I. A Natureza da Teologia XO termo “teologia” é usado hoje em um sentido restrito e também em um amplo. E derivado de duas palavras gregas, theos e logos, sendo que a primeira significa “Deus” e a segunda “palavra”, “discurso” e “doutrina”. No sentido mais restrito, portanto, teologia pode ser definida como sendo a doutrina de Deus. Mas no sentido mais ampio e mais comum, o termo vem a significar todas as doutrinas cristas, ndo apenas a doutri- na especffica de Deus, mas também as doutrinas que se referem as relagdes que Deus mantém com 0 universo. Neste sentido amplo, podemos, portanto, definir teologia como a ciéncia de Deus e Suas relagdes para com o universo. Para melhor esclarecer essa idéia, precisamos indicar a seguir as diferengas entre teologia e ética, teologia e re- ligido, e teologia e filosofia. 1. Teologia e Etica. Psicologia lida com comportamento; ética, com conduta. E isto é verdadeiro tanto na ética filoséfica quando da cristd. A psicologia indaga o como ¢ 0 porque do comportamente; a ética, a respeito da qualidade moral da condu- ta. A ética pode ser descritiva ou pritica. A ética descritiva examina a conduta hu- mana 4 luz de um padrdo do que é certo ou errado; a ética prdtica se alicerga na ética descritiva, mas mais particularmente enfatiza as razGes para se tentar viver de acordo com tal padréo. Mas, como é patente, de qualquer maneira a ética filos6fica se desen- volve em uma base puramente naturalista e ndo possui doutrina de pecado, de um Sal- vador, de redengdo, regeneragdo, e habitagdo e poder divinos para se alcangar suas me- tas. A ética cristd difere bastante da ética filoséfica. E mais completa pois, enquanto que a ética filosdfica se restringe aos deveres entre homem e homem, a ética crist@ tam- bém inclui os deveres para com Deus. Além disso, é diferente em sua motivagdo. Na ética filosdfica, o motivo é ou he- donista, utilitarista, perfeicionista, ou uma combinagdo de todos estes, como no huma- nismo; mas na ética crista, o motivo € a afei¢do e submissdo voluntdria a Deus. Mesmo assim, a teologia contém muito mais do que aquilo que pertence a ética crist4. Inclui também as doutrinas da trindade, criag4o, providéncia, a queda, a encarnagdo, reden- go e escatologia. Nenhuma dessas pertence propriamente a ética. 2. Teologia e Religiéo. O termo “religido” é usado no maior ntimero de maneiras imagindveis. E usado para as prdticas de fetichismo na Africa, para o canto dos Hindus ante o Absoluto impessoal, para o palavrear dos sacerdotes chintoistas e dos mahdis maometanos, para os sistemas grego e catélico romano, para a propaganda humanitd- ria de John Haynes Holmes, ¢ para a adoragdo e o culto do protestante oxtodoxo. Por isto, alguns preferem no usar o termo para a verdadeira fé crista. Mas esta questdo deve ser decidida por uma definicdo aproximada de religido. Hegel considerou religiféo como um tipo de conhecimento; mas ele ndo percebeu que o tipo de conhecimento do qual falam as Escrituras inclui ndo apenas 0 intelecto, mas também as afeigdes ¢ a vontade. Schleiermacher a considerou como sendo apenas o sentimento de dependéncia, mas se esqueceu que tal sentimento nfo é religioso a ndo ser que possa ser acoplado get A confianga em Deus, apropriacdo dEle e servigo prestado a Ele. Kant a identificou com a ética. Matthew Amold pensava que ela era moralidade tocada por emogao. E Henry N. Wieman diz: “Religido ¢ a aguda percepgdo que o homem tem do reino de possibilidade inatingida e 0 comportamento resultante dessa percepgao”. Mas nenhuma dessas é adequada. Para comegar, a etimologia do termo “religio” é incerta. A derivago que Agostinho fez de religare, “ligar de novo”, o homem a Deus, é duvidosa; 0 mundo pagfo tinha “religio”, mas ndo tinha uma concepgao tao biblica da natureza do pecado e da necessidade que o homem tem de redengdo quanto € subentendido nesta definig&o. Mais provavel é a idéia de Cicero. Ele o deriva de rele- gere, “considerar”, “rever”; em outras palavras, considerar e observar devotadamente, especialmente aquilo que diz respeito a adorac4o dos deuses. Deste ponto de vista, entdo, todas as priticas e sistemas mencionados acima se encaixariam no termo “‘reli- gido”. Mas para Strong, “religido, em sua idéia essencial, ¢ uma vida em Deus, uma vida vivida em reconhecimento de Deus, em comunh4o com Deus, e sob o controle do Espirito de Deus que habita no crente”, A. H. Strong, Systematic Theology (Teologia Sistemdtica) (Philadelphia: The Griffith and Rowland Press, 1907), pdg. 21. Para ele, s6 hd, estritamente, uma religido, a religido crist@. Se adotarmos este ponto de vista, entdo estariamos justificados em usar o termo para a fé e culto protestante ortodoxos, mas a0 mesmo tempo seriamos obrigados a recusélo a todas as outras chamadas “reli- gides”. A relagao entre teologia e religifo é a de efeitos, em esferas diferentes, produzidas pelas mesmas causas. No campo do pensamento sistemdtico, os fatos que se referem a Deus e Suas relagdes com o universo levam a teologia; na esfera da vida individual e coletiva, eles levam 4 religigo. Em outras palavras, na teologia um homem organiza seus pensamentos com referéncia a Deus e ao universo, e na religido ele expressa, em atitudes e agdes, os efeitos que esses pensamentos — produziram nele. 3. Teologia e Filosofia. Teologia e filosofia tém praticamente os mesmos objeti- vos, mas diferem bastante no enfoque que d&o e no método que usam para atingir es- ses objetivos. Ambas buscam uma visio completa do mundo e da vida. Entretanto, enquanto que a teologia parte da crenga na existéncia de Deus e da idéia de que Ele é a causa de todas as coisas, com exce¢do do pecado, a filosofia parte de uma outra coisa dada e com a idéia de que é suficiente para explicar a existéncia de todas as outras coi- sas. Para os fildsofos gregos, esta coisa dada era ou a agua, ou o ar, ou o fogo, ou dto- mos em movimento, ou nous, ou idéias; para os modernos, é a natureza ou a mente, ou a personalidade, ou a vida, ou alguma outra coisa. A teologia ndo apenas parte da cren- ga na existéncia de Deus, mas também afirma que Ele graciosamente Se revelou. A filosofia nega essas duas idéias. Baseado na idéia de Deus e no estudo da revelagao di- vina, 0 tedlogo desenvolve suas idéias a respeito do mundo e da vida; baseado na coisa dada e nos supostos poderes a ela inerentes, o fildsofo desenvolve suas idéias a respeito do mundo e da vida. E claro, portanto, que a teologia se alicerga sobre uma base sélida e objetiva, en- quanto que a filosofia se alicerga apenas nas suposicgdes — e especulagées do fildsofo. No entanto, a filosofia é definitivamente importante para o tedlogo. Em primeirolu- gar, Oferece a ele certo apoio para a posigdo crista. Kant, na base da consciéncia, de- fendeu a existéncia de Deus, liberdade e imortalidade. Henri Bergson defende a idéia de que os homens adquirem conhecimento através da intuigdo tanto como através da raz4o. Varios filésofos tém defendido a independéncia da mente e do cérebro e tém procurado estabelecer as relagdes entre eles. O tedlogo pode usar tais conclusdes filo- séficas para reforgar a posigdo biblica. Em segundo lugar, revela a ele a incapacidade da razdo para resolver os problemas bisicos da existéncia. Enquanto que o tedlogo aprecia toda a ajuda real que recebe da filosofia, ele logo percebe que a filosofia ndo tem uma teoria real das origens e nenhuma doutrina de providéncia, pecado, salvagao, e uma consumagao final. Como todos esses conceitos s4o muito vitais para uma idéia adequada do mundo e da vida, o tedlogo é irresistivelmente conduzido a Deus ¢ a re- velago que ele fez de Si mesmo para tratar dessas doutrinas. E, em terceiro lugar, dé-Ihe a conhecer as idéias do descrente culto. A filosofia é para o descrente o que a f6 cristé € para o crente; ¢ ele se apega a ela com a mesma tenacidade com a qual o crente se apega 4 sua fé. Conhecer a filosofia de alguém é, portanto, ficar de posse da chave necessdria para compreendé-lo e também para lidar com ele. O crente pode nao conseguir ir muito longe com o fildsofo tedrico, mas poderd ajudar aquele que ainda nao estiver totalmente dominado pelas teorias da especulagao. Il. A Necessidade da Teologia Dissemos acima que mesmo aqueles que se recusam a formular suas crengas teolé- gicas possuem idéias bem definidas com relag&o aos principais assuntos da teologia; isto é, algum tipo de crenga teolégica é necessdrio. Isto se deve 4 natureza do intelec- to humano e as preocupag6es prdticas da vida. Vamos, portanto, considerar brevemen- te o porqué desta necessidade, pensando particularmente de sua necessidade para o cristdo. 1. O Instinto Organizador do Intelecto. O intelecto humano nfo se contenta com uma simples acumulagao de fatos: invariavelmente busca uma unificagdo e sistematiza- ¢40 de seu conhecimento. Hocking diz: “Um ser é uma unidade que nfo pode viver para sempre, ou enfrentar o prospecto de viver para sempre, com desordem mental .. . Nao podemos viver vidas completamente racionais até que aquele acordo latente entre nossas diferentes percepg&es possa ser compreendido como um principio que dé unida- de a todas as idéias a respeito do mundo”. Wm. E. Hocking, Types of Philosophy (Ti- pos de Filosofia) (New York: Charles Scribner’s Sons, 1929), pég. 431. Ele estd, é cla- ro, pensando sobre filosofia, mas o argumento é igualmente verdadeiro na teologia. A mente ndo se satisfaz apenas em descobrir certos fatos a respeito de Deus, do homem, e do universo: ela deseja conhecer as relagGes entre essas pessoas e coisas e organizar suas descobertas em forma de um sistema. Orr diz, falando da mente: “Ela nao se contenta com conhecimento fragmentado, mas tem constantes a tendéncia de passar dos fatos para leis, de leis para leis mais elevadas, e destas para as generalizagdes mais elevadas possiveis”. James Orr, The Christian View of God and the World (O Concei- to Crist€o de Deus e do Mundo) (Wm. B. Eerdmans Publ. co., 1948) pag. 6. E Strong diz: “E apenas na proporgdo dos dons e cultura que o impulso de sistematizar e for- mular aumenta”. Op. cit., pdg. 16. 2. A Natureza Difundida da Descrenca de Nossos Dias. Os perigos que ameacam a igreja véem, nao da ciéncia, mas sim da filosofia. Nossas universidades, faculdades e semindrios esto, na maioria, saturados de atefsmo, agnosticismo, e panteismo. Alguns deles so unitarianos. Através daqueles que se formam nessas instituig6es, as escolas pablicas, os jornais, revistas, rédios e as muitas organizagGes sociais, comerciais, politi- cas e fraternais, esses ensinamentos sdo infundidos em todos os niveis da vida social. Os mais bem instrufdos destes tém um conjunto de idéias relativamente completo egies com relagdo as coisas que os interessam mais de perto. Ora, nfo é bastante citar ver- siculos isolados para homens que defendem as falsas idéias dos dias presentes: preci- samos mostrar a eles que a Biblia é uma solugdo melhor para seus problemas do que aquela que eles adotaram; que Ela tem a resposta para muitos problemas que suas fi- losofias nem tentam responder; e que as Escrituras possuem uma visdo plena e con- sistente do mundo e da vida. O homem que no possui um sistema organizado de pen- samento estd 4 mercé daquele que o tem. Em outras palavras, temos a obrigagdo de ajuntar todos os fatos revelados sobre um dado assunto ou organizé-los sob a forma de um sistema harmonioso se quisermos enfrentar aqueles que estéo profundamente arraigados em algum sistema filosofico de pensamento. 3. A Natureza das Escrituras. A Biblia é para o tedlogo o que a natureza é para o cientista, um conjunto de fatos desorganizados ou apenas parcialmente organizados. Deus nao achou necessério escrever a Biblia na forma de Teologia Sistemdtica; é nos- sa tarefa, portanto, ajuntar os fatos dispersos e colocd-los sob a forma de um sistema légico. Ha certamente algumas doutrinas que sao tratadas com relativa extenso em um dnico contexto; mas ndo hd nenhuma que seja ali tratada exaustivamente. Veja como exemplo de uma doutrina ou tema tratados extensivamente em uma passagem, © significado da morte de Cristo nas cinco ofertas de Lv. 1-7; as qualidades da Pala- vra de Deus nos Sl. 19, 119; os ensinamentos da onipresenga e onisciéncia de Deus no Sl. 139; os sofrimentos, morte, e exaltag4o do Servo de Jeové em Is. 53; a restauragdo a Israel de sua adoragdo no templo, e sua terra, em Ez. 40-48; as predigdes referentes aos tempos dos gentios em Dn. 2 e 7; a volta de Cristo a este mundo e os aconteci- mentos imediatamente ligados a ele em Zc. 14; Ap. 19:11 — 22:6; a Carta Magna do reino em Mt. 5-7; 0 desenvolvimento do cristianismo em Mt. 13; a doutrina da pes- soa de Cristo em Joao 1: 1-18, Fl. 2:5-11, Cl. 1: 15-19; Hb. 1: 1-4; os ensinamentos de Jesus referentes ao Espirito Santo em Joao 14-16; o status dos cristdos gentios com teferéncia 4 lei de Moisés em Atos 15: 1-29; Gl.2:1-10; a doutrina da justificagdo pe- la fé em Rm. 1:17 — 5:21; o status presente e futuro de Israel como nagdo em Rm. 9-11; a questéo dos dons do Espirito em I Co. 12, 14; a caracterizagdo do amor em 1Co. 13; a doutrina da ressurreigdo em I Co. 15; a natureza da igreja em Ef. 2,3; as conquistas da fé em-Hb. 11; e o problema do sofrimento no livro de Jé e em I Pedro: Apesar de ser grande a extensdo do tratamento dado ao tema nessas mensagens, em nenhuma delas é o tema tratado plenamente. E necessdrio, portanto, se quisermos conhecer todos os fatos a respeito de qualquer assunto, ajuntar os ensinamentos dis- persos e colocd-los em um sistema ldgico e harmonioso. 4. O Desenvolvimento de um Cardter Cristo Inteligente. H4 duas opinides errd- neas a respeito deste assunto: (1) Hd pouca ou nenhuma relago entre a crenga de um homem e seu cardter e (2) a teologia tem um efeito entorpecedor sobre a vida espiri- tual. O modernista ds vezes acusa o crente ortodoxo do absurdo de defender as cren- as tradicionais da igreja quando ele vive como um pagio. Seu credo, insiste aquele, nao afeta seu cardter e conduta. O modernista, pelo contrdrio, se disp6e a produzir uma vida boa sem 0 credo ortodoxo. Como podemos responder a essa acusagdo? Replicamos que a mera aceitacdo intelectual de um conjunto de doutrinas é insufi- ciente para produzir resultados espirituais, e infelizmente muitas pessoas chamadas ortodoxas possuem nada mais que uma lealdade intelectual para com a verdade. In- sistimos, além disso, que a verdadeira crenga, envolvendo o intelecto, as sensibilida- des e a vontade, ndo possui um efeito sobre o cardter e a conduta. Os homens agem —8- de acordo com aquilo em que realmente créem e nfo de acordo com aquilo em que eles simplesmente dizem crer. Dizer que a teologia tem um efeito entorpecedor sobre a vida espiritual pode ser verdade apenas se o assunto for tratado como mera teoria. Se for tratado em relagdo 4 vida, se ficar claro que cada um dos atributos de Deus, por exemplo, tem uma in- fluéncia prdtica na conduta; a teologia ndo terd um efeito entorpecedor sobre a vida espiritual; ao invés disso, servird de guia para o pensamento inteligente a respeito de problemas religiosos e um estimulo 4 uma vida santa. Como poderiam idéias plenas e corretas a respeito de Deus, do homem, do pecado, de Cristo, da Biblia, etc., levar a outra coisa? A teologia nfo apenas nos ensina que tipo de vida deverfamos viver, mas nos inspira a viver dessa maneira. Em outras palavras, a teologia no apenas indica as normas de conduta, mas também nos fornece os motivos para tentarmos viver de acor- do com essas normas. 5. As Condigées para o Servigo Cristdo Eficaz. Ha em muitas igrejas hoje em dia uma aversdo a pregages doutrindrias. O pastor sente que as pessoas exigem algo que Seja oratério, que suscite emog6es que levem a acdo imediata, e que ndo requeira con- centragdo de pensamento. Infelizmente, algumas congregag6es sAo assim, mas Cristo € os apéstolos pregavam doutrina (Marcos 4:2; Atos 2:42; II Timédteo 3:10), e so- mos exortados a pregar doutrina (II Timoteo 4:2; Tito 1:9). Pregagdo oratdria, tex- tual ou atual pode prender a congregagao ao pregador, mas quando o pregador for em- bora, 0 povo vai também. Joseph Parker e T. De Talmadge podem ser citados como homens de grande poder oratério que conseguiram grandes congregagdes através de sua oratéria; mas o City Temple em Londres caiu nas maos de R.J. Campbell, funda- dor da Nova Teologia, logo depois da morte de Parker, e o Brooklyn Tabernacle nas mos de Charles T. Russell e da Sociedade chamada de Watchtower Bible and Tract Society (A Torre de Vigia e Sociedade de Folhetos). Tem sido frequentemente de- monstrado que é apenas na medida em que as pessoas forem completamente instrui- das na Palavra de Deus que elas se tornardo cristdos firmes e trabalhadores eficazes por Cristo. Ha, assim, uma relacdo definitiva entre a pregagdo doutrindria e o servigo cris- tao eficaz. CAPITULO II A Possibilidade e Divisées da Tealogia Dissemos no capitulo anterior que os modernistas nfo escrevem obras sobre Teo- logia, especialmente sobre a Teologia Sistemdtica, por crerem que no podemos nunca chegar a qualquer alto grau de certeza nesses assuntos. Temos, entretanto, em oposi- go a esta opinido, mantido a opinifo de que a Teologia, mesmo a Teologia Sistemsti- ca, € ndo apenas possivel mas muito necessdria. Apresentaremos agora a prova em fa- vor da possibilidade da teologia e entdo indicaremos as divisSes comuns da Teologia. A. A POSSIBILIDADE DA TEOLOGIA A possibilidade da Teologia advém de duas coisas: A revela¢do de Deus e os dons do homem. A revelagdo de Deus se faz de duas formas: geral e especial; os dons do homem sdo de dois tipos: mentais e espirituais. Vamos estudd-los com algum cuidado. I. A Revelagao de Deus Pascal falou de Deus como um Deus Absconditus (um Deus escondido); mas afir- mou que este Deus escondido se revelou e portanto pode ser conhecido. Isto é verda- de. Certamente, nunca poderfamos conhecer a Deus se Ele no Se tivesse revelado a nés. Mas o que queremos dizer com “revelagdo”? Para nés, é 0 ato de Deus pelo qual Ele Se mostra ou comunica verdade 4 mente; pelo qual Ele torna manifesto as Suas criaturas aquilo que ndo pode ser conhecido de nenhuma outra maneira. A revelagdo pode ocorrer através de um ato nico, instanténeo ou pode se estender por um longo periodo; e esta comunicagdo de Si Préprio e de Sua verdade pode ser percebida pela mente humana em virios graus de plenitude. Trataremos dos argumentos formais em favor da existéncia de Deus no capitulo IIL, mas veremos que a discussdo da revelag&o de Deus é fundamental as provas da Sua existéncia. Precisamos abordar a revelacdo primeiro para provarmos a possibilidade da teologia. Falando de maneira geral, hd duas espécies de revelagdo: Geral e Especial. Vamos consideré-las brevemente. 1. A Revelacdo Geral de Deus. Ela é encontrada na natureza, na histéria e na consciéneia. E comunicada por meio de fenémenos naturais que ocorrem na natureza ou no decorrer da histéria; é enderegada a todas as criaturas inteligentes de modo geral e € acessivel a todas; tem por objetivo suprir a necessidade natural do homem e a per- suasdo da alma para buscar o Deus verdadeiro, Cada uma das trés formas desta revela- go merece uma breve consideracdo. (1) A Revelaggo de Deus na Natureza. Todos os naturalistas que rejeitam a pré- pria idéia de Deus e afirmam que a natureza é auto-suficiente e auto-explicativa nao véem, é claro, revelagdo alguma de Deus na natureza. Tampouco os panteistas real- Mente véem qualquer revelagdo de Deus na natureza. Alguns deles identificam Deus com o “Todo”, o “Universum”, e “Natureza”; outros falam dEle como o Eterno Po- der de Energia que produz todas as mudangas no mundo dos fendmenos, e ainda outros, One como a Razfo que se externa a si propria no universo. Jd que todos eles possuem uma visdo necessitdria do mundo, nao encontram revelagdo alguma de um Deus extra-ter- restre no universo. Nem mesmo os modernos tedlogos da crise aceitam uma revelacdo significativa de Deus na natureza. Barth, por exemplo, afirma que o homem perdeu to completamente a imagem original de Deus que sem uma agdo sobrenatural em cada caso individual, ele ndo pode ter qualquer conhecimento de Deus. Deus tem que criar a capacidade para uma revelagéo e também comunicd-la ao homem. Brunner afirma que embora o homem tenha perdido o contevido desta imagem, nao perdeu a forma dela. Ele, portanto, cré que o homem pode ver algo de Deus na natureza. Os deistas, por outro lado, afirmavam que a natureza € a suficiente revelagdo de Deus. Diziam que ela nos fornece umas poucas verdades simples e imutdveis a respeito de Deus, da virtude, da imortalidade e da recompensa futura de maneira to clara que ne- nhuma revelag& especial é necessdria. No entanto, a filosofia cética e critica mos- trou que nunca houve na natureza uma revelagdo tal como os deistas dizem ter existi- do. O que eles afirmaram ndo passou de verdades abstratas derivadas, ndo da natureza, mas empfestadas de outras religiGes, especialmente do cristianismo. Esta opinido tem sido grandemente substituida pela crenga de que ndo temos revelagao alguma de Deus na natureza. Mas os homens em gerai sempre viam na natureza uma revelagdo de Deus. Os mais bem dotados muitas vezes expressaram suas convicgdes em linguagem semelhan- te a dos salmistas, dos profetas e dos apdstolos (SI, 8:1,3; 19:1,2; Is. 40:12-14, 26; Atos 14: 15-17; Rm. 1:19, 20). Hume foi um cético mas conta-se que ele disse a Ferguson ao andarem juntos numa noite estrelada: “Adam, hd um Deus!” Diz-se que Voltaire orou em meio a uma tempestade alpina. Muitos homens extraordindrios no campo das ciéncias naturais e biologicas testificaram quanto a convicgdo de que a natureza revela Deus: Apontam o universo como uma manifestagdo do poder, gléria, divindade e bondade de Deus. Mas cientistas crist@os tém também mostrado as limi- tagdes da revelagdo de Deus na natureza. Eles tém insistido que, embora deixe o ho- mem sem nenhuma desculpa, esta revelagdo por si sé é insuficiente para a salvacdo; entretanto, tém a missdo de incitar o homem a buscar uma revelagdo mais plena de Deus e Seu plano de salvago, e constitui um chamado geral de Deus para que 0 ho- mem se volte para Ele. (2) A Revelacéo de Deus na Histéria. Tem sido dito muitas vezes: “Waterloo foi Deus!” Qudo diferente teria sido o destino da Europa se Napoledo tivesse vencido em vez de Wellington! Seguramente, nenhum homem de discernimento pode ques- tionar o fato de que o resultado das guerras recentes do mundo tenha sido também uma manifestagdo de Deus na histéria. Assim, poderfamos voltar atrds e falar da der- rota das nagdes corruptas da antiguidade por parte de nagdes mais viris e retas. E bem verdade que os captores também eram geralmente maus; mas eles néo haviam ainda chegado ao grau de maldade a que os conquistados tinham. O salmista faz a arrojada assergdo de que os destinos dos reis e impérios estéo nas maos de Deus. “Porque ndo € do Oriente, ndo é do Ocidente, nem do deserto que vem 0 auxilio. Deus é 0 juiz; aum abate, a outro exalta”. (Sl. 75:6,7, cf; Rm. 13:1). E Paulo declara que Deus “de um sé fez toda raga humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fi- xado 0s tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitagdo; para busca- rem a Deus se, porventura, tateando 0 possam achar” (Atos 17:26, 27). Concordan- do com isto, o sistema cristo encontra na histéria uma revelago do poder e da pro- vidéncia de Deus. -ll- A Biblia fala igualmente de como Deus lidou com o Egito (Ex. 9: 13-17; Rm. 9: 17; Jr. 46:14-26), Assiria (Is. 10:12-19; Ez.31:1-14; Naum 3:1-7), Babilonia (Ir. 50: 1-16; 51: 1-4), Medo-Pérsia (Is. 44:24 — 45:7), Medo-Pérsia e Grécia jun- tas (Dn. 8: 1-8, 15-21), os quatro reinos que vieram depois da queda do império de Alexandre (Dn. 8:9-14, 22-25; 11:5-35), 0 império romano (Dn.7:7, 23). Toda Ela mostra que “a justiga exalta as nag6es, mas o pecado é oprébrio dos povos” (Pv. 14: 34). Mostra também que apesar de Deus poder, para Seus proprios sdbios e santos propésitos, permitir que uma nacdo mais impia triunfe sobre uma menos impia, Ele no fim tratard a mais impia com maior severidade, do que a menos impia (Hc. 2:20) Notamos, mais particularmente, que Deus revelou a Si Mesmo na histéria de Is- rael: no conceito que Israel tinha de Deus e no tratamento que Deus deu a Israel. Quanto ao primeiro, € realmente extraordinério que numa época eri que o mundo inteiro havia mergulhado na desesperanga do politeismo e panteismo, Abrado, Isaque e Jac6, e seus descendentes chegassem ao conhecimento de Deus como um Deus pes- soalmente infinito, santo, revelando a Si mesmo como 0 Criador, Preservador e Gover- nador do universo. Nao apenas isso, mas que eles tivessem chegado ao conceito de como o homem foi originalmente criado a semelhanga de Deus, caiu desta alta posigao e trouxe o pecado, condenagfo e morte sobre si proprio e sua posteridade. E ainda mais que isto, que eles chegassem a compreensdo do propésito redentor de Deus atra- vés do sacrificio, de libertagdo através da morte de um Messias, da Salvagdo para todas as nag6es e de um reino final em retiddo e paz. Estes conceitos so realmente mara- vilhosos! Nao se devem, entretanto, ao “génio religioso” de Israel, mas sim a revela- go de Deus para seu povo. Vemos Deus aparecendo pessoalmente aos patriarcas; dando a conhecer a Si mesmo e Sua vontade por meio de sonhos, visdes e éxtases; comunicando Sua mensagem diretamente a eles; e revelando Seu Santo Cardter na le- gislagdo Mosaica, o sistema de sacrificios, e os servigos do tabernéculo e do Templo. E vista também na histéria da nagdo. Apesar de Israel ser pequeno, viver em um pequeno e obscuro pais, e manter pouco comércio com o resto do mundo, foi mesmo assim um espetdculo para o mundo todo (Dt. 28: 10). Quando Deus ameagou destruir a nagGo no deserto devido ao seu grave pecado — Moisés suplicou-lhe que poupasse 0 povo por causa da maneira como Sua honra ficaria envolvida na destruig#o (Ex. 32: 12; Dt. 9:28). Quando Israel obedeceu a Deus, conquistou sete nagdes maiores que ele (Dt.7:1; 9:1; Josué 6: 12); mas quando seguiu seus proprios caminhos, Deus os en- tregou a nagGes opressoras e A catividade em terras longinquas. Quando ele se arrepen- deu e clamou a Deus, Ele Ihe mandou um libertador e Ihe deu vitéria sobre seus inimi- gos (Livro de Juizes). Davi triunfou sobre todos os seus inimigos, porque andava nos caminhos de Deus (II Sm. 7:9, 11); e todos os reis tementes a Deus gozavam de pros- peridade doméstica ¢ de triunfo na guerra. Mas toda vez que a nagdo se afastava de Deus era castigada pelas secas, pragas e gafanhotos e reveses na guerra. Pode-se real- mente dizer, portanto, que em todas as experiéncias de Israel Deus Se revelou, ¢ nao apenas a na¢do mas, através da nagdo, ao mundo todo. (3) A Revelagdo de Deus na Consciéncia. Ja dissemos que com base na conscién- cia Kant cria em Deus, na liberdade e na imortalidade. Muitos dos moralistas ingleses eram da mesma opinido. Este ¢ o chamado Argumento Moral em favor da existéncia de Deus e serd tratado mais plenamente no Capitulo VI. Nao podemos dar aqui uma de- finigdo completa de consciéncia: isso serd feito com referéncia a nosso estudo a respei- ae to da constitui¢a0 moral do homem (Capitulo XVI). Basta dizer que a consci8ncid nao € inventiva, mas sim discriminativa e impulsiva. Ela julga se um curso de aco proposto em uma atitude estd ou ndo em harmonia com nossos padrGes morais e insta conosco para fazermos aquilo que estiver em harmonia com eles e nos abstermos de particular aquilo que for de encontro a eles. E a presenga no homem desta ciéncia do que é certo e errado, deste algo discrimi- nativo e impulsivo que constitui a revelagdéo de Deus. Nao é auto-imposta, como fica evidenciado pelo fato de que o homem freqiientemente se livraria de suas opiniGes se pudesse; é o reflexo de Deus na alma. Da mesma maneira que 0 espelho e a superfi- cie tranqiiila do lago refletem o sol e revelam no apenas a sua existéncia, mas também até certo ponto sua natureza, assim a consciéncia no homem revela a existéncia de Deus e, até certo ponto, a natureza de Deus. Isto é, nos revela apenas 0 que Ele é, mas também que Ele faz uma distingao clara entre 0 certo e o errado (Rm. 2: 14-16); que Ele sempre faz 0 que é certo; e que Ele também da a criatura racional a responsabi- lidade de sempre fazer 0 que é certo e se abster do que é errado. Também dda enten- der que a transgressdo serd punida. Concluimos, portanto, que na consciéncia temos outra revelagdo de Deus. Suas proibigdes e ordens, suas decisdes e impulsos no teriam qualquer autoridade real so- bre nds se ndo sentissemos que na consciéncia temos de alguma forma a realidade, algo em nossa natureza que todavia estd acima dessa natureza. Em outras palavras, ela re- vela 0 fato de que hd uma lei absoluta do certo e do érrado no universo e de que hd um Legislador Supremo que encarna esta lei em Sua prépria pessoa e conduta. 2. A Revelagio Especial de Deus. Com revelagéo especial queremos dizer aqueles atos de Deus pelos quais Ele di a conhecer a Si proprio e a Sua verdade em momentos especiais e a povos especificos. Apesar de dada em momentos especiais e a povos es- pecificos, a revelagao nao fica necessariamente circunscrita apenas aquele momento e povo. Na verdade, os homens s¥o conclamados a proclamar os atos e obras maravilho- sas de Deus entre todos os povos da terra (SI. 105: 1, 2). A revelagdo especial é como se fosse um tesouro a ser partilhado com o mundo inteiro (Lucas 2:10; Mt. 28:19, 20; Atos 1:8). E dada ao homem de varias maneiras: na forma de milagres e profe- cia, na pessoa e trabalho de Jesus Cristo, nas Escrituras e na experiéncia pessoal. Vamos considerar brevemente cada uma delas. (1) A Revelagdo de Deus em Milagres. Um milagre genuino é um acontecimento fora do comum, que realiza uma obra util e revela a presenga e o poder de Deus (Ex. 4:2-5; I Reis 18:24; Joao 5:36; 20:30,31; Atos 2:22); um falso milagre, se no for um simples engano, é um capricho de poder, arquitetado para exibi¢do e ostenta- ¢40, e inferior ao verdadeiro milagre (Ex. 7:11, 12,22; Atos 8:9-11; 13:6-8; Mt. 24: 24; I Ts.2:9; Ap. 13:13). Um milagre verdadeiro é um acontecimento fora do co- mum por nao ser o mero produto das chamadas leis naturais. Em relagdo 4 natureza, os milagres se dividem em dois tipos: aqueles nos quais as leis naturais so intensifica- das ou aumentadas, como no dilivio, em algumas ptagas do Egito, na forga de Sansdo, etc.; e aqueles nos quais toda participacao da natureza fica exclu{da, como no floresci- mento da vara de Aro, a obtengdo de agua da rocha, a multiplicagdo dos paes e dos peixes, a cura dos doentes, a ressurreigdo dos mortos, Um milagre genuino realiza uma obra pratica e benevolente. Diz-se que Origenes aplicou este teste quando soube de milagres praticados por santos homens e por sdbios pagdos: “Em que resultaram? O que estabeleceram? Onde esté a sociedade que foi fun- -13- dada com sua ajuda? O que existe na historia do mundo que eles ajudaram a progre- dir?” Contra Celsus, II 51. E nas Pseudo Homilias Clementinas, Pedro aparece con- trastando os milagres de Cristo com aqueles que se diziam ter sido praticados por Si- mao o magico, e concluindo assim. “Se ele praticar milagres inuiteis, é um agente do mal; mas se praticar coisas titeis, é um lider da bondade.” Veja II XXXI-XXXIV. Nés também cremos que 0 teste de um milagre genufno deve ser sempre: Que obra util ele fez ou faz? Milagres genuinos sfo uma revelaco especial da presenga e do poder de Deus. Provam Sua existéncia, cuidado e poder. Sao ocasises nas quais Deus como que sai de seu esconderijo e mostra ao homem que é um Deus vivo, que ainda est4 no trono do universo e que é suficiente para todos os problemas do homem. Se um milagre ndo produz essa convic¢do no tocante a Deus, ent#o provavelmente nao é um milagre ge- nuino. Mas ha muita oposi¢ao hoje aos ensinamentos que dizem respeito a milagres. To- dos os sistemas naturalistas, panteistas e de{stas rejeitam-nos a priori. Para eles, o uni- verso é uma grande maquina auto-sustentada. Hume objetou que milagres sao impossi- veis pois so violagdes da lei da natureza; e que so incriveis pois contradizem a expe- riéncia humana. Enquiry Concerning Human Understanding (Questdo a Respeito da Compreensdo Humana) (Chicago: The Open Court Publishing Co., 1926) pags. 120, 121. Oferecemos as seguintes réplicas a essa posigao. A primeira posigdo assume incorretamente que as leis da natureza s4o auto-sufi- cientes e sem influéncia, diregao ou manutengdo externas. Afirmamos, em vez disso, que elas ndo sao completamente independentes, pois mero poder ndo pode manter-se asi proprio ou funcionar com um proposito: um poder infinito e inteligente é neces- sdrio para fazer isso; e que Deus participa de todas as operagdes, quer da matéria, quer da mente, sem agredi-las. Nos atos maus, entretanto, Ele participa apenas até o ponto deles serem naturais, e ndo na sua maldade. E se Ele fizer isso na operagdo comum das leis da natureza, porque deverfamos considerar isso como uma violagdo delas se em Suas administragdes extraordindrias Ele as intensifica ou aumenta, neutraliza ou age independentemente delas? A segunda proposta de que milagres sfo incriveis porque contradizem a experién- cia humana, assume erradamente que precisamos basear toda a nossa crenga na expe- riéncia humana presente. Os gedlogos falam sobre grandes atividades glaciais no pas- sado e da formagao de mares e baias por intermédio dessas atividades, e no entanto nao vemos nada disso acontecendo hojé.A revelagdo de Deus na natureza, histéria consciéncia nos deveria levar a esperar milagres em diversas ocasides. Os milagres ndo contradizem a experiéncia humana a menos que contradigam toda a experiéncia huma- na, no passado bem como no presente. Isso deixa bem aberta a porta para bem funda- mentada evidéncia sobre o que realmente aconteceu. Além disso, os gedlogos admitem francamente que a vida nGo existiu eternamente neste planeta. Chamberlain e Salisbury dizem: “Condigdes apropriadas de vida nfo existiam até apds algum desenvolvimento notdvel da atmosfera e da hidrosfera”. T.C. Chamberlain e R.D. Salisbury — Geology (Geologia) (New York: Henry Holt & Co., 1937), IL 407. Nao tém explicagdo para a origem da vida, dizendo que essa n@o é uma questao facil de responder. Mas a vida nfo pode ter vindo de substancia inanimada — a teoria da abiogenese j4 morreu faz tempo — s6 pode ter vindo da vida. A introdugdo da vida ~14— neste planeta é portanto em si mesma uma testemunha da realidade dos milagres“~ E agora, positivamente, dirfamos que a prova dos milagres repousa em testemu- nho. Todos cremos em muitas coisas na base do que consideramos testemunho verda- deiro. ‘Quao pouca histéria conheceriamos se acreditassemos apenas naquilo que pes- soalmente observamos e experimentamos!, Os milagres da Biblia repousam sobre tes- temunho vélido. Nao é possivel examinar aqui a evidéncia para todos eles, nem é ne- cessério. Se conseguirmos provar um dos mais importantes milagres da Biblia, teremos aberto o caminho para que também os outros sejam aceitos. Cremos que a ressurrei¢ao fisica de Cristo é um dos fatos mais bem comprovados da historia. Quase todos os relatos que nos falam sobre ela foram escritos de 20 a 30 dias apés o acontecimento; eles nos asseguram: que Cristo havia realmente morrido e sido sepultado; que apesar de Seus seguidores ndo esperarem que Ele ressuscitasse, muitos deles O viram vivo poucos dias apds a crucificagdo; que eles tinham tanta cer- teza de Sua ressurreigo que corajosa e publicamente declararam esse fato em Jerusa- lém um més ¢ meio apds ela haver ocorrido; que nem naquela época nem em qualquer outra época em que o assunto foi mencionado nos tempos apostélicos ela foi posta em davida; que nenhuma prova em contrario do fato jamais chegou até nds, de qual- quer fonte; que os discipulos sacrificaram sua posigdo social, posses materiais e mesmo sua vida por este testemunho; que Paulo ndo argumenta em favor da ressurrei¢do de Cristo, mas a usa como prova do fato de que todos os crentes ressurgirdo da mesma maneira; e que na igreja, no Novo Testamento e no dia do Senhor, temos testemunho corroboratério da historicidade deste grande acontecimento. E se a ressurreigéo de Cristo é um fato histérico, entéo o caminho para a aceitagao de outros milagres esté aberto. E finalmente, acreditamos que milagres ainda acontecem. Nao so contrdrios nem 4 experiéncia dos dias de hoje. Todos os verdadeiros cristdos testificam a res- peito do fato de que Deus responde a oragdes. Na verdade, esto convencidos de que Deus operou milagres em seu favor ou em favor de alguns de seus amigos. Eles tém certeza de que apenas as leis da natureza ndo podem explicar as coisas que viram com seus proprios olhos e experimentado em suas préprias vidas. Nenhuma quanti- dade de oposig¢do por parte dos descrentes vai jamais persuadi-los a pensar de outra maneira. Mais especificamente, temos o sempre recorrente milagre da regeneragao. {O Etiope nao pode mudar sua pele, nem o leopardo suas manchas, mas 0 Senhor po- de mudar e muda 0 coragdo e remove as manchas do pecador. Diremos mais a respei- to deste milagre sob a revelago de Deus na experiéncia cristd. Basta dizer que respos- tas a oragdes e a experiéncia da regeneraco provam que milagres ainda acontecem. >> (2) A Revelagao de Deus na Profecia. Usamos profecia aqui para indicar a predi- ¢40 de acontecimentos, nao por virtude de mera percep¢ao ou presciéncia humana, mas através de uma comunicagdo direta de Deus. Mas por nao podermos saber se uma declaragao foi assim comunicada a um ho- mem enquanto nao chega a hora de ser cumprida ou quando ficar evidente que nao ser cumprida, o valor imediato da profecia como prova da presenga e da sabedoria de Deus fica dependendo da questdo de se aquele que o pronuncia est4 vivendo em contato com Deus. $6 podemos determinar isso com base em seus outros ensinamentos e vida santa. Quanto 20 cumprimento aparente da profecia, precisamos aplicar ainda certos testes antes de podermos ter certeza de que ela foi genuina. Precisamos determinar, por exemplo, se a profecia estava suficientemente distan- -15— te do acontecimento que ela predisse para excluir a possibilidade de mera percepgdo ou presciéncia humanas. Os judeus, nos dias de Jesus, ndo podiam discernir os sinais dos tempos, por exemplo, que os romanos viriam destruir sua cidade e nagdo; mas muitos estadistas podem antever e predizer o futuro com bastante exatidao. Tal pre- digo nfo poderia, entretanto, ser chamada de verdadeira profecia. Temos também que examinar a linguagem da predigdo para percebermos se é ambigua e possivel de mais de uma explicagéo. Creso, dizem, perguntou ao ordculo de Delfos, na época em que estava em guerra com Ciro, se deveria ou nfo levar adiante o empreendimento, e recebeu a resposta de que se o fizesse, destruiria um grande império, Ele prosseguiu, mas 0 império que destruiu foi o seu. Devemos, portanto, insistir que uma declaragdo seja bem clara antes de podermos consideré-la como uma verdadeira profecia. _ As objegdes 4 profecia podem ser encaradas da mesma maneira que as objegdes a milagres. Cristo é, num sentido muito real, a {uz que iluminou todo homem (Jodo 1:9). Shedd diz que “as Escrituras ... relacionam todas as operagdes da razio ao autor do intelecto humano. Nada no consciente humano é€ independente de Deus, e isolado”. Wm. G.T. Shedd, Dogmatic Theology (Teologia Dogmitica) (New York: Charles Scribner’s Sons, 1889), I, 64. Em outras palavras, Deus contribui para os pensamentos do homem da mesma maneira que Ele contribui para as leis da nature- za, sem destruir nenhum dos dois ou Se tornar participante do pecado. E se Ele opera assim nos processos mentais comuns, ndo devemos achar estranho se Ele ocasionalmen- te os transcender ¢ operar independentemente deles. A esta possibilidade de profecia pode ser acrescentada prova direta do cumprimento da profecia: ‘Nao precisamos nos incumbir de provar 0 cumprimento de todas as predigGes bblicas (algumas na realida- de, ainda nfo foram cumpridas, referindo-se ao futuro), mas desejamos mostrar uma linha clara de profecia que ja foi cumprida* Se esta lista de passagens demonstrar ser profecia verdadeira, entdo ninguém pode dizer que essas comunicagGes diretas de Deus sao impossiveis e ndo ocorrem. Estamos falando das predigGes a respeito da primeira vinda de Cristo. Pedir para crermos que sdo devidas 4 mera presciéncia humana ou a coincidéncias fortuitas é pedir para crermos numa improbabilidade muito maior do que crermos que so 0 re- sultado de uma revelagdo direta de Deus. Mesmo que aceitéssemos a iltima data que os liberais dao para 0 ultimo livro do Velho Testamento, cerca de 165 A.C., terfamos ainda mais de um século e meio antes que quaisquer das coisas ditas a respeito de Cristo fossem cumpridas; e se aceitarmos uma data mais conservadora, como 0 faze- mos, entdo mais de quatrocentos anos. Vamos, entdo, prestar atengdo as predigdes a respeito dEle que j foram cumpridas. ~~. Cristo deveria ser (1) nascido de uma virgem (Is. 7:14; Mt. 1:23), (2) da semente de Abrado (Gn. 12:3; Gl. 3:8), (3) da Tribo de Judd (Gn. 49:10; Hb. 7:14), (4) da linhagem de Davi (SI. 10:1, Rm. 1:3). Ele deveria (5) nascer em Belém (Miquéias 5:2; Mt.2:6), (6) ser ungido pelo Espirito (Is.61:1,2; Lucas 4:18, 19), (7) entrar em Jerusalém montado em um asno (Zc.9:9; Mt.21:4,5), (8) ser trafdo por um amigo (SI. 41:9; Joao 13:18), (9) ser vendido por trinta moedas de prata (Zc. 11:12, 13; Mt.26;15; 27:9, 10), (10) ser abandonado por seus discipulos (Zc. 13:7; Mt. 26:31,56), (Il) ter suas mdos e pés traspassados mas ndo ter nenhum osso quebrado (SI. 22:16; 34:20; Jodo 19:36; 20:20, 25). Os homens iriam (12) dar-lhe fel e vinagre a beber (SI. 69:21; Mt. 27:34), (13) repartir Suas vestes e lancar sortes sobre Sua tunica (SI. 22:18; Mt. ~16— ~ _ 27:35). Ele seria (14) abandonado por Deus (SI. 22:1; Mt. 27:46) e (15) enterrado com os ricos (Is. 53:9; Mt. 27: 57-60), Ele iria (16) surgir dos mortos (Sl. 16: 8-11; Atos 2:27), (17) subir 4s alturas (Sl. 68:18; Ef. 4:8) e, (18) assentar 4 méo direita do Pai (SI. 110:1; Mt. 22:43-45). Ser4 que ndo temos nestas predigdes que j4 foram cumpridas uma forte prova do fato que Deus Se revelou por profecia? E se Ele o fez nestas predigdes, 0 que nos impede de crer que O fez em outras também? > (3) A Revelagao de Deus em Jesus Cristo. A revelagdo geral de Deus nfo levou o mundo gentio a uma apreensdo clara da existéncia de Deus, da natureza de Deus ou da vontade de Deus,/ Paulo reclama disto em uma passagem cldssica (Rm. 1: 20-23). Mesmo a filosofia ndo deu aos homens uma concepg4o verdadeira de Deus. Paulo as- sim fala da sabedoria do mundo: “Na sabedoria de Deus o mundo néo O conheceu por sua propria sabedoria” (I Co. 1:21); e declara que a verdadeira sabedoria “nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da Gloria” (I Co. 2:8).!Apesar de revelagdo geral de Deus na na- tureza, na histéria, na consciéncia, o mundo gentio voltou-se para a mitologia, o poli- teismo e a idolatria. Uma revelagdo mais plena se fazia grandemente necesséria. Tao pouco as outras revelagdes especiais de Deus nos milagres, profecia e teofa- nia levaram Israel a um conhecimento real da natureza e da vontade de Deus. Israel cria na existéncia do Deus vivo e verdadeiro, mas possuia nogdes muito imperfeitas e até pervertidas a respeito dEle. Considerava-O principalmente o Grande Legislador e Juiz que insistia no cumprimento escrupuloso da letra da lei, mas que pouco se preocu- pava com a condigao interior do coragdo ¢ a prética da justiga, misericérdia e f& (Mt. 23: 23-28); como Aquele que tinha que ser aplacado com sacriffcios e persuadido com holocaustos, mas que nao precisava de um sacrificio infinito e ndo aborrecia verdadei- ramente o pecado (Is. 1:11-15; Mt.9:13; 12:7; 15:7-9; 23: 32-36); como Aquele que fez da descendéncia de Abrafo a ‘nica condiggo para o Seu favor e béncdo ¢ que considerava os gentios inferiores a eles (Mt. 3:8-12; 12:17-21; Marcos 11:17). Is rael também necessitava de uma revelagdo mais plena de Deus. E a temos na Pessoa e Missdo de Jesus Cristo. Cristo € o centro da histéria e da revelagdo. O escritor dos Hebreus diz: “Haven- do Deus, autrora, falado muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais pelos profetas, nestes tiltimos dias nos falou pelo Filho (Hb. 1: 1,2); e diz que Ele é “o resplendor da gloria e a expresso exata do Seu ser(v. 3). Paulo diz que Ele é “a imagem do Deus invisivel (Cl. 1: 15), e diz que “nEle habita corporalmente toda a plenitude da Divin- dade” (Cl. 2:9). Jogo diz: “‘Ninguém jamais viu a Deus: 0 Deus unigénito, que esta no seio do Pai é quem O revelou” (Joao 1: 18). E 0 Prdprio Jesus disse: “Ninguém conhece o Filho seno o Pai; e ninguém conhece o Pai sendo o Filho, e aquele a quem © Filho quiser revelar” (Mt. 11:27); ainda mais: “Quem me vé a mim vé 0 Pai” (Jodo 14:9). Conseqiientemente, a igreja tem, desde o princfpio, visto em Cristo a Suprema revelagao do Pai. Parece termos em Cristo uma revelagao triplice de Deus: Uma revelagdo de Sua existéncia, de Sua natureza e de Sua vontade. Ele é a melhor prova da existéncia de Deus, pois viveu a vida de Deus entre os homens. Ele tinha nao apenas plena conscién- cia da presenga do Pai em Sua vida e constante comunhdo com Ele (Joao 8:18, 28, 29; 11:41; 12: 28), como também provava por meio de Suas reivindicagdes (Jodo 8:58; 17:5), Sua vida sem pecados (Jodo 8:46), Seus ensinamentos (Mt. 7:28, 29; Jodo 7: 46), obras (Joao 5:36; 10:37,38; 15:24), posigdes ¢ prerrogativas (Mt. 9:2, 6; age Jofo 5:22, 25, 28), e relag6es com o Pai (Mt. 28:19; Jodo 10:38) que Ele Proprio era Deus. Ele revelou a santidade absoluta de Deus (Joao 17: 11,25), o profundo amor de Deus (Jodo 3: 14-16), a Paternidade de Deus, ndo, em verdade, de todos os homens, mas dos crentes verdadeiros (Mt. 6:32; 7:11; Joao 8:41-44; 16:27),ea natureza espiritual de Deus (Jodo 4: 19-26). Ele revelou também a vontade de Deus: de que todos se arrependam (Lucas 13: 1-5), creiam nEle (Jao 6:28, 29), sejam per- feitos como o Pai é perfeito (Mt. 5:48), e que os crentes levem o Evangelho a todo o mundo (Mt. 28: 19, 20). A revelagdo de Deus em Cristo é 0 fato mais profundo da histéria e merece a mais cuidadosa consideragdo, mas como vamos dedicar diversos capitulos deste trabalho a um estudo da pessoa e obra de Cristo, ndo precisamos nos aprofundar mais nesse as- sunto aqui. Voltamo-nos agora para a incorporagdo das revelag6es de Deus nas sagra- das Escrituras. (4) A Revelacdo de Deus nas Escrituras. Tem sido sempre afirmado pelo crente verdadeiro que temos na Biblia uma revelago de Deus, certamente a revelagdo mais clara e a tinica que é infalivel. A Biblia ndo deveria, entretanto, ser considerada como uma revelagao que € coordenada com aquelas previamente mencionadas, mas sim como uma incorporagdo delas. Ela registra, por exemplo, o conhecimento de Deus e de Seu relacionamento com a criatura a que os antigos chegaram através da natureza, da histé- ria e da consciéncia, e também dos milagres, profecias, do Senhor Jesus Cristo, da ex- periéncia intima e da instrugao divina. O cristo, portanto, volta-se para as Escrituras como a Unica fonte suprema e infalivel para a construgfo da sua teologia. Mas como vamos considerar este assunto mais detalhadamente quando chegarmos ao estudo da natureza da Biblia (Capitulo V), nao nos aprofundaremos nele por enquanto. (5) A Revelagdo de Deus na Experiéncia Pessoal. Homens de todas as idades tém professado ter comunhdo direta com Deus. Declaram que o conheceram, nfo simplesmente através da natureza, historia e consciéncia, n4o apenas por meio dos mi- lagres e profecias mas também por experiéncia pessoal direta. Foi assim nos tempos do Velho Testamento. Enoque e No¢ andaram com Deus (Gn. 5:21-24; 6:9); Deus fa- lou a Noé (Gn. 6:13; 7:1; 9:1); a Abra&o (Gn. 12: 1-3); a Isaque (Gn. 26:24); a Jacé (Gn. 28:13; 35:1); a José (Gn. 37:5-11); a Moisés (Ex. 3:3-10; 12:1); a Josué (Josué 1:1); a Gidedo (Juizes 6:25); a Samuel (I Sm. 3:2-4); a Davi (I Sm. 23: 9-12); a Elias (I Reis 17: 2-4); a Isafas (Is. 6:8), etc. Da mesma maneira, no No- vo Testamento Deus falou a Jesus (Mt. 3:16, 17; Jodo 12:27, 28); 2 Pedro, Tiago e Joo (Marcos 9:7); a Felipe (Atos 8:29); a Paulo (Atos 9:4-6; 18:9); ea Ananias (Atos 9: 10). 2 Esta experiéncia de comunhdo com Deus tinha um poder transformador nas vidas daqueles que passavam por ela (SI. 34:5; cf. Ex. 34:29-35). Eles se tornaram cada vez mais parecidos com o Senhor com Quem tinham comunhfo (Atos 6:15, cf. II Co. 3:18). Entre os doze discfpulos, isto parece ter sido especialmente verdadeiro no caso de Jo%o (Jodo 13: 23-25; I Jodo 4:7-11). Mas sentimentos estdticos e cardter trans- formado ngo foram de modo algum o Gnico resultado. Comunhdo com Deus trazia também uma revelacdo das verdades mais profundas de Deus e confiava ao que dela gozava a mensagem de Deus para a igreja e para o mundo. Nao lhe dava apenas a men- sagem mas também a inspiracdo do Espirito Santo para que a pudesse reproduzir clara e infalivelmente (Il Tm. 3:16; II Pedro 1:21): A revelacdo de Deus na experiéncia pessoal é a principal fonte de onde a inspiragdo obteve seu material, mas em um senti- ~18— do mais amplo, podemos dizer que, das varias revelagdes de Deus, ainda experimenta- das pelo homem, o Espirito Santo fez uma selegdo e as fez registrar infalivelmente, por inspiracdo divina, nas Santas Escrituras. Assim, temos nas revelagGes de Deus, par- ticularmente nas que est4o registradas na Biblia, o material a favor da Teologia e sua possibilidade. II. Os Dons do Homem Assumindo entao que Deus Se revelou, perguntamos a seguir como o homem entra de posse dessa revelag¢do? A isto respondemos que nem o mundo exterior nem o infe- rior revelariam qualquer coisa a respeito de Deus sem os dons singulares do homem. JA citamos Shedd em parte deste assunto (acima), vamos citd-lo um pouco mais deta: Ihadamente aqui. Ele diz: “As Escrituras ... relacionam todas as operagdes da razio ao Autor do intelecto humano. Nada no consciente humano é independente de Deus, isolado. Deus é o ‘Pai das Luzes’ de todo Tipo (Tiago 1:17). Deus ‘mostra’ o que quer que seja conhecido através da constituigao humana. Até a razio humana, que na in- tui¢do da matemitica e nas leis da légica parece ser uma faculdade auto-suficiente, é apresentada na Escritura como dependente. O homem consegue perceber intui- tivamente simplesmente porque a Suprema Raz4o o ilumina”. Wm. G.T. Shedd, Op. cit., I, 64. Sao de dois tipos os dons do homem: mentais ¢ espirituais. Vamos examind-los cuidadosamente a seguir. 1. Seus Dons Mentais. O homem que rejeita a idéia de uma revelagdo de Deus ov por parte dEle se volta para a razo para a solugdo de todos os seus problemas. Duran- te o decorrer da histéria apareceram trés tipos de Racionalismo: Atedsta, Panteista e Tersta. Racionalismo ateista apareceu primeiro entre os grandes antigos {ildsofos gre- gos: Tales, Anaximandre, Anaximanes, Empedocles, Herdclito, Lucipo e Demécrito; o Racionalismo panteista, em Anaxagoras e os Estoicos; e 0 Racionalismo teista apa- receu primeiro sob a forma de Deismo inglés e alemao no século dezoito. Mas enquan- to que todas as formas de Racionalista dao autoridade indevida a razdo nos assuntos de religifo, o crente verdadeiro tem a tendéncia de dar-lhe um lugar muito exiguo. Com razdo aqui queremos dizer nao simplesmente os poderes da légica do homem ou sua capacidade de raciocinar, mas seus poderes cognitivos, — sua capacidade de per- ceber, comparar, julgar e organizar. Deus dotou o homem com a razio e o que é erra- do no é 0 uso dela, mas sim o abuso. Nao é aqui possivel discutir todos os abusos da raz4o, mesmo entre teistas professos; mas queremos mencionar quatro usos apropria- dos da raz4o com a qual Deus nos dotou no estudo da teologia. (1) A razdo € o Orgdo ou capacidade de conhecer a verdade. A razdo intuitiva nos fornece as idéias bdsicas de espaco, tempo, causa, substancia, designio, direito, e Deus, que so as condigdes para todo conhecimento subseqiiente. A raz4o apreensiva tecebe os fatos a ela apresentados para cognigdo. Entretanto, deve ser lembrado que hd uma diferenga entre conhecer e compreender uma coisa. Sabemos que uma planta cresce, que a vontade controla os musculos voluntérios, que Jesus Cristo é 0 Deus-ho- ~19— mem, mas n@o compreendemos muito bem como tudo isso possa ser. (2) A tazio deve julgar a credibilidade de uma apresentagio. Com “erivel” que- remos dizer verossimil. Hé coisas que sfo claramente incrfveis, como a vaca que pulou sobre a lua, e as estdrias da carochinha em Alice no Pais das Maravilhas;e é a tarefa da razio declarar se uma apresentagdo é digna de crédito. Nada é incrivel com excegao do impossivel. Uma coisa pode ser estranha, inexplicavel, ininteligente, e mesmo as- sim perfeitamente crivel. A menos que estejamos dispostos a crer no incompreensi- vel, nfo podemos crer em nada. O impossivel é aquilo que envolve uma contradi¢a0; que é inconsistente com o cardter conhecido de Deus; que contradiz as leis da crenga com a qual Ele nos dotou; e que contradiz alguma outra verdade bem autenticada. (3) A razo deve julgar a evidéncia de uma apresentagdo. Como a fé envolve aceitacdo, e aceitagdo é convicgdo produzida por evidéncia, segue-se que fé sem evi- déncia é irracional ou impossivel. Assim, a razfo deve examinar as credenciais das comunicagGes que professam ser, e de documentos que professam registrar, tal reve- lagdo. Ela deve perguntar: Os registros sfo genuinos ou espiirios, sfo puros ou mistos? Esta evidéncia deve ser apropriada 4 natureza da verdade sendo considerada. Verdade histérica exige evidéncia histérica; verdade empirica, o testemunho da experiéncia, verdade matemiatica, evidéncia matematica; verdade moral, evidéncia moral; e “as coisas do Espirito”, a demonstragdo do Espfrito. Em muitos casos, tipos diferen- tes de evidéncia cooperam na corroboragdo da mesma verdade, como a crenga na divindade de Cristo. Além disso, a evidéncia deve nfo apenas ser apropriada, mas também adequada, isto é, de tal modo que possa ser aceita por toda mente bem cons- tituida 4 qual for apresentada. (4) A razdo deve também organizar os fatos apresentados em um sistema. Do mesmo modo que uma pilha de tijolos ndo constitui uma casa, também os simples fatos da revelagdo ndo constituem um sistema Util. A razio deve descobrir o fator integrante e reunir todos os fatos relevantes em torno dele, determinando para cada parte seu lugar apropriado em um sistema coordenado e subordinado. Esta é a capa- cidade sistematizadora da razdo, que é seu impulso instintivo. Assim sendo, fica claro que a razo ocupa um lugar muito importante na teologia. 2. Seus Dons Espirituais. Rejeitamos a opinio do mistico filésofo que afirma que todos os homens podem através de disciplina e contemplagdo rigorosas, chegar a um contato direto com a realidade suprema, que é 0 nome que dao a Deus, sem arre- pendimento e fé em Jesus Cristo. Esta é uma crenga pagd e uma’ parte de uma visio panteista extrema do mundo. Qualquer que seja a experiéncia “religiosa” que esse mistico possa ter, podemos ter a certeza de que no é uma experiéncia crista de comu- nhdo com o Deus verdadeiro, através da mediagao de Jesus Cristo e do Espirito Santo. Rejeitamos também as formas extremas do Pietismo, Quakerismo e Quietismo que surgiram na Europa durante a ultima parte do século dezessete. Os tipos extremos de Pietismo criam na possibilidade de uma unio absoluta com Deus, uma congenialida- de com Ele que foi além do que a Escritura ensina. As formas extremas de Quakeris- mo afirmavam que todos os homens possuem uma “luz intima” que, independente- mente da Biblia, poderia guid-los a uma vida piedosa e santa. As variedades extremas do Quietismo afirmavam que deverfamos buscar uma tal comunhdo com Deus, um tal estado de quietude perfeita na qual todo pensamento, toda atividade eram suspensos ea alma se perdia em Deus Infelizmente, aquilo que é um privilégio precioso do cren- te foi, em muitos casos, levado a extremos e, como em alguns tipos de Quakerismo, —20- até afirmado estar em posse dos nao salvos. Mas apés dar o devido desconto as opiniées nao biblicas que acabamos de mencio- nar, devemos insistir que o homem tem um conhecimento intuitivo de Deus. As Es- crituras ensinam que “porquanto o que'Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisiveis de Deus, assim o Seu eterno poder como também a Sua Prépria divindade, claramente se reconhecem, des- de o principio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens s4o portanto indesculpaveis” (Rm. 1: 19, 20). Mais serd dito a esse res- peito no proximo capitulo. Mais particularmente, mostrarfamos que hd um dom Biblico para o crente por meio do qual ele entra em uma comunh4o com Deus muito real e muito preciosa (IJodo 1:3; [Co.1:9; Rm.8:15,16; Gl. 4:6). Hd um misticismo cristo, uma co- munhfo direta da alma com Deus que ninguém que tenha tido uma experiéncia vital crist& pode negar ou ignorar. Mas hé, além disso, a iluminag&o do Espirito Santo que € concedido a todo crente. Jesus disse: ““Tenho ainda muito que vos dizer, mas vés nao o podeis suportar agora; quando vier porém o Espirito da verdade, ele vos guiard a toda verdade; porque nfo falard por si mesmo, mas dir tudo o que tiver ouvido” (Joao 16: 12, 13). E Paulo diz: “Ora, nds nfo temos recebido o espirito do mundo, e sim o Espirito que vem de Deus, para que conhegamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente” (I Co. 2:12). Isto 6, o Espirito nos levaré a compreensdo da revelagaio que Deus jd fez de Si mesmo, especialmente a revelagdo dEle nas Escrituras. Ha entao para aquele que busca conhecer a verdade, ndo apenas a sua propria raz4o, mas tam- bém 0 auxilio do Espirito Santo. Este iltimo, é claro, esta a disposigfo apenas dos verdadeiros filhos de Deus. B. AS DIVISOES DA TEOLOGIA O vasto campo da Teologia ¢ normalmente dividido em quatro partes: Teologia Exegética, Histérica, Sistematica e Pritica. Indicaremos brevemente a natureza e con- tetido de cada uma dessas partes. 1. A Teologia Exegética se ocupa diretamente do estudo do Texto Sagrado e as- suntos relacionados, tais como auxilio na restauragdo, orientagdo, ilustragdo ¢ interpre- tagdo daquele texto. Inclui ela o estudo das linguas da Biblia, da Arqueologia Biblica, Introdugao Biblica (Geral e Especial), Hermenéutica Biblica e Teologia Biblica. Il. A Teologia Histérica traca a histéria do povo de Deus através da Biblia e da igreja desde a época de Cristo. Ela trata da origem, desenvolvimento e dispersio da verdadeira religido e também de suas doutrinas, organizagées e prdticas. Ela abrange Histéria Biblica, Histéria da Igreja, Historia das Missdes, Historia da Doutrina e a His- toria dos Credos e ConfissGes. Ul. A Teologia Sistemética toma o material fornecido pela Teologia Exegética e Historica e 0 arranja em ordem légica sob os grandes titulos do estudo teoldgico. Mas temos que fazer cuidadosa distingdo‘entre as contribuigdes da Teologia Exegé- tica e da Histérica. A primeira é a tinica fonte real e infalivel da ciéncia; mas a ilti- ma, em sua exibi¢o da apreensdo progressiva das grandes doutrinas da fé por parte da igreja, freqiientemente contribui para uma compreensdo da revelacado Biblica. A Teologia Dogmatica é, estritamente falando, a sistematizagdo e defesa das doutrinas expressas nos simbolos da igreja. Assim, temos Dogmitica Crista, por H. Martensen, eee geet com uma exposigao e defesa da doutrina Luterana; Teologia Dogmitica, por Wm. G.T. Shedd, como uma exposigdo da Confissio de Westminster e de outros simbolos presbiterianos; ¢ Teologia Sistematica, por L. Berkhof, como uma exposigdo da teo- logia reformada. Mas nenhuma dessas obras adere tao rigidamente ao conceito origi- nal da Teologia Dogmética quanto as obras mais antigas; e a Teologia Dogmitica é hoje freqiientemente identificada com a Teologia Sistematica. Sob a Teologia Sis- tematica precisamos certamente incluir também a Apologética, Polémica e Etica Bi- blica. IV. A Teologia Pratica trata da aplicagdo da teologia na regeneragao, santificagdo, edificag@o, educago e servigo dos homens. Ela busca aplicar a vida pritica aquilo que os outros trés departamentos da teologia contribuiram. A Teologia Prdtica abran- ge os cursos de Homilética, Organizagdo e Administragdo da Igreja, Liturgia ou o Pro- grama do Culto, Educago Crist e Missées. -22- PARTE I — TEISMO Voltamo-nos agora para o assunto de Tefsmo. Entretanto, infelizmente, nem todos estdo de acordo com o que “teismo” significa, pois 0 termo € usado hoje em quatro sentidos diferentes. Apesar de apenas o ultimo deles ser realmente satisfato- tio, nfo podemos deixar de olhar brevemente os outros também. O termo “teismo” é usado para, — 1, A crenga em um poder ou poderes sobrenaturais, em um agente ou agentes espirituais, em um ou muitos deuses. Este ponto de vista inclui todas as crengas num deus ou deuses qualquer que seja sua espécie ou numero, e é contrdrio apenas ao ate- ismo. 2. A crenga na existéncia de apenas um Deus, quer pessoal ou impessoal, quer presentemente ativo no universo ou nao. Este ponto de vista inclui o monotefsmo, panteismo e deismo ¢ se opGe ao atefsmo, politeismo e henoteismo. 3. A crenga em um Deus pessoal que é tanto transcendente quanto imanente e existe em uma s6 pessoa, Esta é a concep¢do judaica, maometana e unitdria de Deus, € se opde ao atefsmo, politefsmo, pantefsmo e deismo. 4. A crenga em um Deus pessoal, tanto imanente quanto transcendente, que exis- te em trés pessoas distintas, conhecidas respectivamente como Pai, Filho e Espirito Santo. Esta é a posigao do Teismo cristdo e se opde a todos os outros conceitos men- cionados. E uma forma de monotefsmo, s6 que nao do tipo unitério e sim do trinit4- tio. O cristdo afirma que, como todas as outras crengas mencionadas possuem uma con- cepcao falsa de Deus, seu ponto de vista é 0 unico realmente tefsta. Como jé dissemos acima, estaé a tinica interpretagdo satisfat6ria do termo,e é 0 que é adotado neste livro. Mostramos no capitulo anterior que Deus Se revelou e que o homem é capaz de apreender esta revelagdo. Estes dois fatos formam os fundamentos do estudo teolé- gico. Devemos continuar, nos dois préximos caprtulos, a um maior esclarecimento e estabelecimento do ponto de vista tefstico do mundo. pagal CAPITULO III A Definigao e Existéncia de Deus Neste capitulo tentaremos formular a definigdo de Deus e desenvolver os argumen- tos significativos em favor da existéncia de Deus. Esses dois assuntos merecem consi- deragdo exaustiva pois sio fundamentais a todos os outros estudos teolégicos, mas po- demos apenas tocar brevemente nos conceitos mais importantes a respeito de Deus e os aspectos mais significativos das provas de Sua existéncia. I. A Definigso de Deus A linguagem também tem os seus direitos, e termos que por muito tempo tém sido usados para transmitir um certo significado especifico ndo pode passar a ser usa- do para expressar um significado inteiramente diferente. No entanto, isto tem muitas vezes sido feito na discussdo teolégica. O termo “Deus” tem sido tdo mal empregado recentemente que precisamos restaurar-lhe o sentido original no sistema cristdo. Va- mos examinar alguns desses usos errados, enumerar os nomes biblicos para Deus, e apresentar a formula¢do teolégica do conceito cristo de Deus. 1. Os Usos Errados do Termo. Tanto escritores filoséficos quanto teoldgicos s4o culpados nesta 4rea. Para Plat#o, Deus é a mente eterna, a causa do bem na natu- reza. Aristdteles O considerava como “a primeira causa de todo ser”. Spinoza defi- niu Deus como “a substéncia absoluta, universal, a causa real de cada e de toda exis- téncia; e nao apenas a Causa de todo ser, mas a existéncia completa, da qual cada existéncia especial é apenas uma modificagdo”. Leibnitz diz que a razdo final das coisas é chamada de Deus. Kant definiu Deus como sendo um Ser que, por Sua com- preensdo e vontade, é a Causa da natureza; um Ser que tem todos os direitos e nenhu- ma obrigagdo; o Autor moral do mundo. Para Fichte, Deus era a ordem moral do uni- verso, realmente operando na vida. Hegel considerava Deus como sendo 0 espirito ab- soluto, mas um espirito sem consciéncia até que se torne consciente na razdo e pensa- mentos do homem. Strauss identificou Deus como 0 Universum; Comte, com Humani- dade e Matthew Amold, com a Corrente de Tendéncia que Causa a Retidio. ‘Vamos observar também alguns abusos mais recentes do termo. Estes foram co- lhidos do livro Contemporary Religious Thought (Pensamento Religioso Contempo- raneo) de Thos. Kepler (New York: Abingdon-Cokesbury Press, 1941), pags. 159-211. Kirtly F. Mather, um gedlogo, diz que Deus é um poder espiritual, imanente no univer- s0, que estd envolvido nos caprichos de sua criago (pag. 168). Henry Sloane Coffin “Deus é para mim aquela Forga criadora, por traz do universo ¢ no universo, que manifesta a si proprio na forma de energia, vida, ordem, beleza, pensamento, cons- ciéncia e amor”. Ele prefere dizer que Ele tem relagdes pessoais conosco a dizer que Ele é pessoal (pég. 176). Para Edward S. Ames, até recentemente um professor da —24- Universidade de Chicago, Deus € “a idéia do todo da realidade personalizado, ideali- zado”, semelhante 4 idéia do Tio Sam (pag. 180). Ele acha que Deus é crescente é finito (p4g. 182). Henry N. Wieman diz que pensa muito mais do que o fazia alguns anos atrés em termos dos “simbolos cristdos tradicionais”, sem “qualquer acesso de ortodoxia”. Ele diz que “a mente e a personalidade restringiram o estilo de Deus . . . As abstragdes da mente, ndo importa quao vastas, diminuiriam a grandeza e o poder criador de Deus” (pag. 199). Mas todos podem ver que nenhuma dessas declaragdes alude ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Jé esté na hora de restaurarmos ao termo “Deus” a importancia cristd estabelecida de longa data. 2. Os Nomes Biblicos de Deus. Os nomes biblicos de pessoas e lugares so geral- mente muito significativos, mas, por estranho que parega, pouca ajuda nos dao os no- mes basicos de Deus. Mas vamos observar os fatos. Um dos termos mais amplamente usados para a Divindade nos tempos antigos é El, com seus derivados Elim, Elohim e Eloah. Mas como o Theos grego, o Deus latino e portugués, é um nome genérico, in- cluindo todos os outros membros na classe das divindades. Ele expressa majestade e autoridade, apesar do significado da raiz El estar perdida na obscuridade. Gesenius achou que era parte do verbo ser forte, sendo assim o Forte; Meldeke o ligou 4 raiz drabe para estar na frente, sendo assim Governador ou Lfder; Dillman 0 tragou a uma raiz que dd idéia de poder ou forga; Legarde procurou sua explicagdo numa raiz que significa meta. Mas realmente ndo sabemos. A.B. Davidson, em seu livro “The Theolo- gy of The Old Testament” (A Teologia do Velho Testamento) (New York: Charles Scribner’s Sons, 1907), pég. 39. © plural Elohim é usado regularmente pelos escrito- res do Velho Testamento com verbos e adjetivos no singular para dar a idéia de singu- lar. O substantivo composto El-Elyon O designa como o mais alto, o Altissimo. O sig- nificado de El-Shaddai estd também perdido na obscuridade. Alguns acham que signi- fica O que Satisfaz — mas outros acham que significa 0 Todo-Poderoso. Jeova (ou Yahweh, apesar de que até esta colocagdo das vogais estd agora sob suspeita) é o nome pessoal por exceléncia do Deus de Israel. O significado original e a derivagao da pala- vra também sdo desconhecidos. Os hebreus o ligavam a hayah, o verbo ser, que tem-se crido significar o ‘‘auto-existente”; mas estudiosos hoje desafiam esta derivacdo e in- terpretagZo. Este nome ocorre em uma porgdo de combinagées significativas, assim: Jeova-Jireh: O Senhor proverd (Gn. 22:13, 14); Jeovd-Rapha: O Senhor que sara (Bx. 15:26); Jeova-Nissi: O Senhor nossa Bandeira (Bx. 17:8-15); Jeovd-Shalom: O Senhor ¢ Paz (Suizes 6:24); Jeové-Raah: O Senhor é meu Pastor (Sl. 23:1); Jeo- va-Tsidkenu: O Senhor nossa Justiga (Jt. 23:6); e Jeov4-Shammah: O Senhor est4 Presente (Ez. 48: 35). Adonai, meu Senhor, é um titulo que aparece freqiientemente nos profetas, ex- pressando dependéncia e submiss4o, como a de um servo para com seu senhor, ou de uma esposa para com seu marido. Yahweh-Tsebaoth aparece freqiientemente na lite- ratura profética e pés-exilio (Is. 1:9; 6:3; SI.84: 1, ete.). Alguns acham que o termo se refere a presenga de Deus junto aos exércitos de Israel nos tempos da monarquia (ISm.4:4; 17:45; I Sm. 6:2), mas um significado mais provavel é o da presenga de Deus junto as hostes dos céus, os anjos, sem nenhum sentido marcial (Is. 37: 16; Oséias 12:4, 5; Sl. 80: 1,4; 89:6-8). No Novo Testamento o termo “theos” toma o lugar de El, Elohim e Elyon. Os nomes Shaddai e El-Shaddai se transformam em Pantokrator e Theos Pantokrator. As vezes o nome “Yahweh” é substituido por “o Alfa e Omega”, “que é, que era e que any ee sera”, “o princfpio e o fim”, “o primeiro e o iltimo” (Ap. 1:4, 8, 17; 2:8; 21:6; 22:13). Nas referéncias restantes ele seguiu a Septuaginta, que substituiu Yahweh por Adonai, e depois este por Kurios (gr. kuros, poder). O nome Pater j4 é encontrado na Septuaginta para designar a relagdo de Deus com Israel (Dt. 32:6; Sl. 103: 13; Is. 63:16; Jr.3:4,19; MI. 1:6) e nao aparece apenas no Novo Testamento, apesar de ser ali encontrado mais freqiientemente. Os modemistas desenvolveram uma teoria muito pouco cientffica a respeito da autoria dos livros do Velho Testamento, baseando-se principalmente, nas variagdes dos nomes de Deus nesses livros. A atribuig&o que fazem de varias partes do Penta- teuco (Hexateuco ou Octateuco) a JED P He S é bem conhecida. Mas parece muito estranho supor que um autor conhecesse apenas um nome da Divindade ou ento que ele preferisse tanto esse nome que nao usava nenhum outro. Os liberais jd tiveram que modificar sua posi¢do original de que os nomes geralmente indicavam quem tinha sido 0 autor, pois Elohim aparece em seg6es pertencentes a J (Gn. 7:9; 33:5, 11, etc.) € Jeovd em segdes pertencentes a P (Gn. 7:16; 14:22; 17:1; Ex. 18, seis vezes). Os criticos logo acharam necessdrio dividir o Elohista em dois — o primeiro Elohista, P, e o segundo Elohista, B, e tantos deles. E muito mais correto dizer que os nomes so usados de acordo com o contexto e significado pretendido. Elohim é usado com re- feréncia aos gentios e Jeovd com referéncia a Israel, etc. 3. A Formulacao Teolégica da Definigéo. Antes de darmos diversas boas defini- gOes de Deus, queremos levantar a questao sobre se Deus pode ser definido. Alguns dizem que Ele ndo pode ser definido, pois ao fazé-lo, assumimos conhecer tudo a Seu respeito. Mas respondemos como Smith: “Se, por definig&o, queremos dizer uma visfo completa, de maneira que o assunto possa ser apropriadamente apreendido, para que possamos compreender e, por assim dizer, cobrir todos os aspectos, temos todos que dizer que nao pode- mos dar uma definigdo de divindade. Neste sentido, definir Deus seria restring{- -Lo. Mas a palavra definig&o é usada em outros sentidos. Hi dois sentidos princi- pais pelos quais podemos responder afirmativamente 4 questdo. (1) Uma enume- ragdo dos atributos ou predicados essenciais de qualquer ser, substancia ou coisa. (2) A definigdo légica, que consiste de dar-se o genus e differentia de qualquer sujeito. Nesses dois casos, podemos conseguir uma apreensdo pelo menos apro- ximada do que Deus é”. H.B. Smith, System of Christian Theology (Sistema da Teologia Crista) (New York: A.C. Armstrong and Son, 1897), pag. 7. Em nenhum dos dois sentidos a definiggo é completa mas ndo é por isso inexata. Podemos conhecer uma coisa corretamente até onde a conhecemos, mesmo que néo a conhecamos completamente. Certamente podemos apresentar os atributos de Deus que foram revelados ao homem, e estes devem ser considerados verdadeiros. Podemos também estabelecer o genus a que Deus pertence e notar as differentia que O tornam diferente dos outros do mesmo genus. Uma cadeira é um assento: isto é estabelecer o genus. E um assento mével (simples) para uma sé pessoa com um encosto: isto é estabelecer a differentia. Um banquinho também é um assento para uma s6 pessoa, mas ndo tem encosto; um banco é um assento longo, que normalmente acomoda duas ou mais pessoas. Assim, podemos dizer que Deus é um Ser e entdo indicar as maneiras em que Ele difere dos outros seres. O Breve Catecismo de Westminster diz: -“Deus é espirito, infinito, eterno, imutd- vel, em seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiga, bondade, verdade”. Resposta 4 —26— 42 Pergunta. Chas. Hodge diz que é provavelmente a melhor definigéo de Deus jamais escrita pelo homem. Chas. Hodge, Systematic Theology (Teologia Sistemética) (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publ. Co. 1946). Martensen declara os elementos de sua definigdo de Deus assim: Deus é um Es- pirito (Jodo 4:24). Sendo um Espirito, Ele Se revela em primeiro lugar como “o Se- nhor”, porém no apenas “o Senhor que Se mantém distinto e separado do mundo”, mas “Amor” eterno que reconcilia o mundo Consigo mesmo (I Jodo 4: 16) H. Marten- sen, Christian Dogmatics (Dogmatica Crista) (Edinburgh: T. and T. Clark, 1866) pag. 73. Miley diz: “Deus ¢ um Ser pessoal eterno, de conhecimento, poder e bondade absolutos”. John Miley, Systematic Theology (Teologia Sistemdtica) (New York: Hunt and Eaton, 1893), I, 60. Mas sua definicao é deficiente pois omite diversos dos notéveis atributos de Deus, como sejam Sua espiritualidade e santidade. HB. Smith diz: “Deus é um Espirito, absoluto, pessoal e santo, infinito e eterno em seu ser ¢ atributos, a razdo e causa do universo”. Op. cit., pags. 11, 12. Strong diz: “Deus é o Espirito infinito e perfeito em quem todas as coisas tém a sua fonte, apoio e fim”. Op. cit., pég.52. Para uma definicdo curta e abrangente, esta é provavelmente a melhor. II. A Existéncia de Deus Provamos no Capitulo II que Deus Se revelou e que o homem tem a capacidade de apreender esta revelago. Devemos agora proceder 4 enumeragdo dos argumentos em favor da existéncia de Deus. Eles se dividem em trés largos grupos e vamos agora examiné-los. 1. A Crenga na Existéncia de Deus é Intuitiva. E uma primeira verdade vindo logicamente antes da crenga na Biblia. Uma crenga é intuitiva se for universal e ne- cessdria. Kant diz: “A necessidade e a universalidade sAo testes infaliveis para se di- ferenciar entre 0 conhecimento puro e 0 empirico, e sfo inseparavelmente ligadas uma 4 outra”. Immanuel Kant, The Critique of Pure Reason (A Critica da Razao Pura) (London: George Bell and Sons, 1887), pég.3. Tanto a Escritura como a his- téria provam que a crenga em Deus é universal. Paulo afirma que “porquanto 0 que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles (impios) porque Deus lhes manifes- tou ... por meio das coisas que foram criadas. Tais homens sdo por isso indesculpé- veis; porquanto, tendo conhecimento de Deus nfo o glorificaram como Deus nem Ihe deram gragas ... (Rm. 1; 19-21)”. Hodge, Op. cit. I, 195. Ele diz que mesmo os mais depravados sabem que os que vivem no pecado “sio passiveis de morte” (Rm. 1:32), e que todos os homens tém “a norma da lei gravada em seus coragées” (Rm. 2: 15). A Histéria mostra que 0 elemento religioso de nossa natureza é to universal quan- to o racional ou 0 social. Fr. Schmidt, o antropologista, diz: “Este Ser Supremo é en- contrado entre todos os povos das culturas primitivas, na verdade nfo da mesma forma ou com o mesmo vigor, mas ainda assim suficientemente proeminente em toda parte para tomar indubitdvel sua posigéo de destaque”. Wm. Schmidt, The Origin and Growth of Religion (A Origem e Crescimento da Religido) (New York: The Dial Press, Inc., 1935) pag. 257. A declaragdo de Moffat de que na Africa algumas tribos eram destituidas de qualquer religifo foi, de acordo com Strong, corrigida por seu genro, David Livingstone, por ter dito: “A existéncia de Deus e de uma vida futura é reconhe- cida por toda a Africa”. Op. cit., pag. 56. Schmidt diz: “W. Tessmann fez recente- oa mente a ultima tentativa para encontrar ‘homens sem um deus’ entre os indios de Ucayali, mas isto foi enfaticamente rejeitado pela critica etnolégica”. Op. cit., pdg. 58. A crenga na existéncia de Deus é também necessdria. E necessdria no sentido de que nfo podemos negar Sua existéncia sem violentarmos as préprias leis da nossa na- tureza. Se a negarmos, essa rejeigao é forgada e s6 pode ser temporaria. Assim como © péndulo de um relégio pode ser empurrado para longe do centro por uma forga in- terna ou externa, também um homem pode ser empurrado para longe de sua crenga normal na existéncia de Deus. Mas assim como o péndulo volta a sua posic4o original quando a pressdo é removida, também o homem volta a sua crenga normal em Deus quando ndo estd conscientemente sob a influéncia de uma falsa filosofia. Hodge diz: “Sob 0 controle de uma teoria metaffsica, o homem pode negar a existéncia de um mundo extemo, ou a obrigagao da lei moral; e sua crenca pode ser sincera, e, durante certo tempo, persistente, mas no momento em que as raz6es especula- tivas de sua descrenga ndo mais estiverem presentes em sua mente, ela reverte ne- cessariamente as suas convicg6es originais e normais. £ também possivel que a méao de alguém fique tdo endurecida ou cauterizada a ponto de perder sua sensi- bilidade, mas isso no provaria que a mo humana nfo seja normalmente o grande Orgdo de toque”. Op. cit., 1, 197, 198. Esta crenga universal e necessdria ¢ intuitiva, Ela ndo pode ser explicada como a dedugdo necessdria da razdo, com base no fato de que a evidéncia a favor de Sua exis- téncia é tdo dbvia que a mente é constrangida a aceitd-la pois apenas as pessoas mais cultas sfo capazes deste tipo de generalizagdo, e tanto o agnosticismo quanto o ateis- mo so mais freqiientemente encontrados entre as pessoas cultas do que as mais in- cultas, que ndo foram treinados na arte do raciocinio. Tampouco pode ser explicada como resultante simplesmente da tradig4o. Admitimos que as revelagdes mais antigas de Deus tém sido passadas de geragdo para geragdo, mas nfo cremos que esta é a expli- cago completa da crenga. A Biblia declara que a lei de Deus estd escrita no coragao do homem (Rm. 2: 14-16), e também achamos que a teoria ndo explica a forga da crenga no homem. 2. A Existéncia de Deus é Assumida pelas Escrituras. Jd mostramos diversas ve- zes que na Biblia é ponto pacifico o fato de todos os homens crerem na existéncia de Deus. Por isso, ela nfo tenta provar Sua existéncia. Evans diz: “Nao parece ter ocor- tido a nenhum dos escritores do Velho ou do Novo Testamento tentar provar ou argu- mentar em prél da existéncia de Deus. Em toda a Biblia esse fato é aceito sem ser questionado”. Wm. Evans, The Great Doctrines of the Bible (As Grandes Doutrinas da Biblia) (Chicago: The Bible Institute Colportage Association, 1912) pag. 13. As Escrituras comecam com esta declaracdo majestosa: “No princ{pio...(Gn.1:1), continuam até o fim assumindo Sua existéncia (Gn. 1: 3, 4, etc.). Textos como Sl. 94:9, 10; Is. 40: 12-31 ndo s4o provas da existéncia de Deus, mas sim relatos anali- ticos de tudo que estd inclufdo na idéia de Deus, e admoestag6es para se reconhe- cé-Lo em Sua natureza Divina. Nao apenas isso, mas as Escrituras tampouco argumentam ou provam que Deus possa ser conhecido, nem ainda especulam sobre como o conhecimento de Deus sur- giu na mente dos homens. Davidson diz: “Como poderiam os homens pensar em argumentar que Deus pudesse ser conhecido quando j4 estavam persuadidos de co- nhecé-lo, quando sua consciéncia e toda sua mente estavam cheias e iluminadas com —28 — pensamentos sobre Ele, e quando, através de Seu Espirito, Ele os tocava e esclarecia, e guiava toda sua historia”. Op. cit., pig. 34. Eles tinham as revelagdes geral e espe- cial de Deus e estas eram as bases para sua certeza. 3. A Crenga na Existéncia de Deus é Corroborada por Argumentos. Muitas pes- soas afirmam que Kant mostrou que todos os argumentos racionais absolutamente nada sabem; mas 0 préprio Kant nao reivindica isso. Ao invés disso, ele admite que “apesar da razo especulativa estar longe de ser suficiente para demonstrar a existén- cia de um Ser Supremo, ¢ de mais alta utilidade para corrigir nosso conceito desse ser — supondo que possamos chegar a conhecé-lo por algum outro meio”. Op. cit., pag. 392, Ao nos aproximarmos do estudo desses argumentos precisamos, entretanto, ter © seguinte em mente: (a) Que ndo s4o provas independentes da existéncia de Deus, mas antes corroboragGes e exposigGes de nossa convicgdo inata de Sua existéncia; (b) que, como Deus é um Espirito, ndo devemos insistir no mesmo tipo de prova que exigimos para a existéncia de coisas materiais, mas apenas na evidéncia que seja apro- priada para objetivo da prova; e (c) que a evidéncia é cumulativa, um tnico argu- mento em favor da existéncia de Deus sendo inadequado, mas diversos deles juntos sendo suficientes para prender a consciéncia e levar 4 crenga. Voltamo-nos, portanto, para um breve estudo destes argumentos. (1) O Argumento Cosmoldgico. Este argumento pode ser enunciado assim: Tudo que foi comegado tem que ter uma causa adequada; o universo foi comegado, portanto 0 universo deve ter uma causa adequada para ter sido produzido. A premissa principal esta subentendida em Hb.3:4: ‘“Pois toda casa é estabelecida por alguém, mas aquele que estabeleceu todas as coisas é Deus”. Com excegaio de Hume'e seus se- guidores, e de alguns cientistas em tempos recentes, esta premissa nao é contestada. Hume a rejeitou porque ndo pode ser provada racionalmente. Mas o estudo de seus escritos mostra que ele se contradiz e que, como o resto de nés, ele no final das contas cré em causa na base da intuigéo. David Hume, A Treatise of Human Nature (Um Tra- tado sobre a Natureza Humana) (London: J.M. Dent & Sons, Ltd, 1928), 1,95; An Enquiry Concerning Human Understanding (Uma Indagagdo a Respeito da Compreen- so humana) (Chicago; The Open Conrt Publishing Co., 1926), pég. 143. Alguns cien- tistas, eliminando a possibilidade da atividade de Deus, concluem que quando ndo conseguem descobrir qualquer causa fisica, provavelmente ndo hd nenhuma. Assim, a premissa principal continua valida. A premissa secunddria é contestada por muitos. Eles afirmam ou que o universo € eterno ou que tem sido eternamente criado. Mas os célculos de certos gedlogos e an- tropdlogos da grande era do homem s4o contraditos por estudiosos como Zahm, Dawson, Wright, Pattison e Pfaff. Alex Patterson, The Other Side of Evolution (O Ou- tro Lado da Evolugo), (Chicago: The Bible Institute Colportage Association, 1903), pags. 88-97. A astronomia mostra que houve grandes mudangas no espago sideral ¢ a geologia que houve grandes mudangas na terra. Tudo isto mostra que a ordem presen- te nfo é eterna. Além disso, a existéncia do mundo é contingente, i. e., dependente. O préprio Kant diz: Baseado na suposigdo de que alguma coisa existe, ndo posso evi- tar a conclusto de que ela existe por necessidade”. Op. cit., pig. 378. Na pagina se- guinte desta obra, ele admite a natureza dependente do mundo. Cada parte ¢ depen- dente de outras partes e permanece em uma definida relag4o a elas. Pode o todo ser auto-existente quando as diversas partes que o compdem sfo dependentes? Hé tam- bém sucessdo nos efeitos. Causas produzem efeitos, mas elas mesmas sao os efeitos de alguma outra coisa. Deve, portanto, haver Uma Causa Primeira, ou uma série eterna 29 — de causas. Mas essa ultima é inconcebivel. Stirling diz: “Se cada elo da corrente esti- ver pendurado em outro, o todo estard pendurado e apenas pendurado mesmo na eter- nidade, solto, como uma serpente rigida, a menos que se encontre um gancho para ela, Acrescente fraqueza a fraqueza, em qualquer quantidade, e vocé nunca conseguii forga”. J.H. Stinling, Philosophy and Theology (Filosofia ¢ Teologia) (Edinburgh: T &T Clark, 1890), pég. 262. Lembramos novamente o leitor da declaragao de James Jean que o universo estd deteriorando. Se estd deteriorando, entdo ndo é auto-susten- tado; e se nao é auto-sustentado, ent&o deve ter tido um principio. James Jeans, The Mysterious Universe (O Universo Misterioso) (New York: The Macmillan Compa- ny, 1933) pags. 180, 181. O que é que este argumento prova? Nao apenas que hé um ser necessdrio, quer neste mundo, quer fora dele, pessoal ou impessoal; mas como Hodge afirma, ele “pra- ticamente prova que este ser é extra-terreno pois o principio das causas é o de que tu- do que é contingente, tem que ter a causa de sua existéncia fora de si proprio”. Op. cit., 1, 215. E como Shedd diz, devido “ao mundo da mente finita ser parte do uni- verso”, a causa Primeira deve ser inteligente. Op. cit., I, 242. Portanto, concluimos que o argumento que o universo foi trazido a existéncia por uma causa adequada; ele também prova razoavelmente que esta causa estava fora do universo e era inteli- gente. As ultimas duas idéias sdo, entretanto, mais claramente estabelecidas pelos ar- gumentos subseqilentes apresentados. (2) O Argumento Teoldgico. O argumento teoldgico pode ser enunciado assim: Ordem e organizacao util em um sistema evidenciam inteligéncia e propdsito na causa que © originou; o universo é caracterizado por ordem e organizacao util; portanto, o universo tem uma causa inteligente e livre. A premissa principal é sugerida pelo SI. 94:9: “O que fez o ouvido, acaso nfo ouviria? O que formou os olhos, serd que nfo enxerga?” Tem sido, em verdade, alegado que pode haver ordem e organizagdo util sem plano, isto é, essas coisas podem resultar de opera¢ao da lei ou acaso. Mas a natu- reza dependente das leis da natureza, exclui a primeira idéia. Essas leis nao sao auto- -originadas nem auto-sustentadas; elas pressupGem um legislador e alguém que susten- te a lei. A lei da gravitagdo, por exemplo, nao é auto-explicativa; ainda perguntamos “Por que ela age dessa maneira?” Ea doutrina matemdtica das probabilidades desqua- lifica a Ultima. Shedd diz: “A probabilidade da matéria agir desta maneira ndo é uma em milhoes. A adaptagdo natural, baseada nesta teoria, seria um fendmeno to raro quanto um milagre”. Op. cit., I, 246. A. premissa secundaria é raramente disputada hoje. Até Kant diz: “Observamos no mundo sinais manifestos de uma organizagdo muito proposital, executada com grande sabedoria e existente em um todo de contetido incrivelmente variado, e de uma extensdo sem limites”. Op. cit., pég. 384. Strong diz: “A premissa secundédria expressa um principio bdsico de toda a ciéncia, a saber, que todas as coisas tém seus usos, que a ordem permeia 0 universo e que os métodos da natureza so racionais”. Op. cit., pag. 77. As estruturas ¢ adaptaces nos mundos da planta e do animal, in- cluindo o homem, indicam ordem e desfgnio. Plantas, animais e o homem s4o cons- truidos de tal forma que podem apropriar o alimento necessdrio, crescer, e reprodu- zir-se segundo a sua propria espécie. Os planetas, asterdides, satélites, cometas, meted- ros € constelagées de. estrelas so todos mantidos em seus cursos pelas grandes forcas centrifuga e centripeta do universo. O dtomo apresenta uma organizacao ordeira de prétons, neutrons, deutrons, mesotrons, eléctrons, etc. Vemos entdo uma relagdo ~30— entre os mundos animado e inanimado. Luz, ar, calor, agua e solo sdo fornecidos para a manutengdo da vida das plantas e dos animais. A isto podemos acrescentar a unifor- midade geral das leis da natureza, de maneira que o homem possa semear e colher suas lavouras e usar suas descobertas cientificas para o progresso do seu bem estar. O que prova este argumento? Tem sido alegado que tanto homens como animais possuem 6rgdos intiteis, “estruturas - vestigio”, e que, portanto, o argumento teleolo- gico é invélido. Mas a ciéncia est sempre descobrindo que esses drgios “initeis” nao sdo mais inuteis no final das contas, e a conjetura é que aqueles cujas finalidades ainda ndo foram descobertas podem também vir a té-las. Kant disse que 0 argumento teleo- légico pode, no maximo, demonstrar a existéncia de um arquiteto do mundo, ndo de um criador do mundo, a quem todas as coisas esto sujeitas”. Op. cit., pag. 385. Mas apesar do que disse Kant, continuamos a afirmar que 0 argumento mostra ndo apenas que a Causa Primeira é inteligente e livre, mas também que esta fora do universo; pois designio € visto emanando no simplesmente de dentro para fora, mas também é prin- cipalmente de fora para dentro, pela adaptagdo de coisas externas aos organismos e pela disposigdo e organizacéio ordeira de enormes corpos de matéria, separados por milhdes e bilhdes de quilémetros. Conclufmos, portanto, que o argumento prova que a Causa Primeira ¢ inteligente, livre, extra-terrena, e incompreensivelmente grande. (3) © Argumento Antolégico. Como é comumente enunciado, este argumento encontra na prépria iddia de Deus a prova de Sua existéncia. Afirma que todos os ho- mens tém a idéia de Deus intuitivamente, e dai tentam encontrar prova de Sua existén- cia na prpria idéia. Anselmo (1033-1109), Descartes (1596-1650) e Clarke (1675- 1729) declararam isso, cada um de uma maneira diferente. Nenhuma das declara- ges é realmente satisfatoria, mas a de Anselmo é melhor que a dos outros dois. No Monologium, ele focaliza a questo da existéncia de Deus do ponto de vista da causa e efeito; no Proslogium ele a focaliza do ponto de vista da raz4o. Seu argu- mento nesse ultimo pode ser enunciado assim: Temos a idéia de um Ser absolutamen- te perfeito: mas existéncia é um atributo da perfeig#0; um Ser absolutamente perfei- to deve portanto existir. Mas isto é pouco mais que um sofisma légico. Kant disse: “E evidente, pelo que foi dito, que o conceito de um ser absolutamente necessério é uma mera idéia, da qual a realidade objetiva estd Jonge de ser estabelecida pelo mero fato de ser uma necessidade da razdo”. Op. cit., pdg. 364. Concordamos que nfo po- demos deduzir existéncia real de mero pensamento abstrato; a idéia de Deus no trés em seu bojo a prova de Sua existéncia. Mas apesar do argumento ontoldgico nao pro- var a existéncia de Deus, ele mostra o que Deus deve ser, se Ele existir. Como os argu- mentos cosmolégicos e teoldgicos j4 provaram a existéncia de uma Causa e Planejador pessoal, externo ao universo, o presente argumento prova que este Ser é infinito e perfeito, ndo por serem suas qualidades notoriamente dEle, mas porque nossa cons- tituigéo mental ndo nos permitiré pensar de outra maneira, Strong, Op. cit. , pag. 87. Orr acha que T.H. Green enunciou da melhor maneira possivel este argumento. Green afirma que “o pensamento é necessdrio prius de tudo 0 que ¢ — até mesmo que toda existéncia possivel ou concebivel”. Ele declara “que a razo é a fonte dos princfpios universais e necessdrios que brotam de sua esséncia e que sdo as condig6es para todo conhecimento possivel. Mas isto, sua propria natureza essencial, a razZo encontra refletida pelo mundo ao seu redor. Um mundo existe, constituido através destes préprios principios que encontra- mos dentro de nés mesmos — em espago e tempo, através de ntimero e quanti- Hag fe dade, substancia e qualidade, causa e efeito etc., — e portanto conhecivel para nés, e capaz de se tornar um objeto de nossa experiéncia. Chegamos, portanto, a isto — que o mundo é constituido através de uma razo semelhante a nossa”. The Christian View of God and the World (A Visdo Crista de Deus e do Mundo) (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publ. Co., 1948) pags. 104-106. Mas estas condig6es universais e necessdrias de toda verdade e conhecimento nao tém a base de sua existéncia em minha mente individual; tém sua sede e base em uma Razdo absoluta — O Prius absoluto de tudo que é. Ibid. (4) © Argumento Moral. Kant mostra que as provas tedricas néo podem nos dar nenhum conhecimento de Deus como um Ser moral; para isto, dependemos da Ra- zo Pritica. Ele afirmou que o fato da obrigagdo e do dever era pelo menos to garan- tido como o fato da existéncia. Com base na consciéncia, ele argumenta em favor da liberdade, imortalidade e Deus. A Biblia apela também para o argumento moral para provar a existéncia de Deus (por ex. Rm. 1: 19, 32; 2:14-16). Strong assim enuncia 0 argumento: A consciéncia reconhece a existéncia de uma lei moral que tem autoridade suprema; violages conhecidas desta lei moral so acompanhadas de sentimen- tos de desmerecimento e medo do julgamento; esta lei moral, como nao é auto- -imposta, e estas ameagas de julgamento, como nao sfo auto-executaveis, argumen- tam respectivamente em favor da existéncia de uma vontade santa que imps a lei, e de um poder punitivo que executard as ameagas de natureza moral ... A vontade expressa no imperativo moral é superior 4 nossa, pois de outra forma no emitiria ordens. Op. cit., pags. 82, 83. Primeiro de tudo, essa lei moral permanente existe, e ela possui autoridade supre- ma e permanente sobre nds. Os evolucionistas no gostam de admitir isto, Eles gos- tam de pensar em tudo como se fosse fluido em constante mudanga. Mas que a cons- ciéncia ndo é auto-imposta nem se desenvolveu a partir de nossos instintos através de nossa vida em sociedade é evidente pelo fato de que o sentimento de obrigacdo ndo leva em consideragdo nossas inclinag6es, prazeres ou fortunas, nem as prdticas da sociedade, mas estd freqiientemente em conflito com elas. Entretanto, a cons- ciéncia, no nos diz o que fazer; simplesmente insiste que hd uma lei moral fundamen- tal no universo e que é nosso dever observé-la. Em segundo lugar, violagdes conhecidas desta lei moral s4o acompanhadas de sentimentos de desmerecimento e temor de jul- gamento. Davi é um bom exemplo disto na Biblia (SI. 32:3, 4; 38: 1-4). Agostinho testifica a respeito da mesma coisa. Ele diz: “Estava assim oprimido e atormentado, acusando-me a mim mesmo com muito mais severidade do que meu costume, rolando e me debatendo em minhas cadeias, até que estivessem completamente despedacadas, pelas quais cu s6 nfo era justo, mas ainda preso”. The Confessions of St. Augustine (As Confissdes de Sto. Agostinho) (New York: E.P. Dutton and Co., Inc. 1932), VIII. xi,25. Shakespeare mostra como Lady Macbeth foi perseguida por uma consciéncia maléfica apdés o assassinato do Rei Duncan, mesmo durante seu sono. Macbeth, Ato V, Cena I. Devemos concluir portanto que como esta lei moral n4o é auto-imposta e esse te- mor de julgamento nfo é auto-executavel, existe uma vontade santa que impoe esta lei e um poder punitivo que executard as ameagas de nossa natureza moral. Nossa cons- ciéncia clama: “Ele te declarou, 6 homem,.o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti” (Miquéias 6:8); e “Porque Deus hé de trazer a juizo todas as obras até as que oie estdo escondidas, quer sejam boas, quer sejam més” (Ec. 12:14). Em outras palavras, a consciéncia reconhece a existéncia de um grande Legislador, Deus, e a certeza do cas- tigo para toda violago de Sua lei”. (5) O Argumento da Congruidade. Este argumento é baseado na crenga de que © postulado que melhor explica os fatos relacionados é provavelmente verdadeiro. No que se refere 4 presente discussao, ele é enunciado assim: A crenga na existéncia de Deus melhor explica os fatos de nossa natureza mental, moral e religiosa, bem como os fatos do universo material; portanto Deus existe. Ele afirma que sem este postula- do os fatos relacionados sao realmente inexplicaveis. E este um argumento valido? Respondemos que este tipo de argumento tem dado resultados maravilhosos na ciéncia. Percival Lowell havia notado certas variagSes nos movimentos de Netuno. Ele concluiu que deveria haver algum grande corpo celeste na regido que causava as suas variagdes. Estudos cuidadosos daquela parte dos céus com poderosos telescépios em 1930 levaram a descoberta do até ento desconhecido planeta Plutao. E o membro mais longinquo do sistema solar. Este principio pode ser também ilustrado no mundo microscépico. As particulas que formam um détomo nao podem ser descobertas por ob- servago direta: deduz-se a sua existéncia pelos efeitos que produzem e as combina- gOes que formam. Tanto em nossos estudos telescdpicos quanto nos microscépicos assuminos que um postulado que explica e harmoniza os fatos relacionados é verda- deiro. Seré que nfo deverfamos concluir, por este mesmo principio, que existe um Deus, ji que o postulado teista esté em harmonia com todos os fatos de nossa nature- za mental, moral e religiosa, bem como com os fatos do universo material? Patton responde esta pergunta com uma afirmativa. Ele diz: Sabemos que temos a chave errada quando ela nfo se encaixa em todas as frinchas da fechadura. Por outro lado, é argumento poderoso em favor da vera- cidade de uma teoria o fato dela explicar todas as facetas de um caso. A crencaem um Deus pessoal auto-existente esta em harmonia com todos os fatos de nossa natureza moral e mental bem como com todos os fendmenos do mundo material. Se Deus existe, uma crenga universal em sua existéncia é bem natural; o impulso irresistivel de buscar uma causa primeira estd explicado; nossa natureza religiosa tem um objeto; a uniformidade da Lei natural encontra uma explicagao adequada ea historia humana se redime da acusagdo de ser uma imensa impostura. O ateis- mo deixa todos esses aspectos sem qualquer explicagao, e faz ndo apenas da his- toria, mas de nossa propria natureza intelectual, uma impostura e uma mentira. Francis L. Patton, A Summary of Christian Doctrine (Um Sumdrio da Doutrina Crista) (Philadelphia: The Westminster Press, 1911), pag. 15 segs. Podemos concluir, portanto, também por este argumento, que um Deus pessoal, extra-terreno, ético e auto-revelador existe. a CAPITULO IV As Opiniées do Mundo Nao-Cristdo A qualquer pessoa que considerar cuidadosamente as provas da existéncia de Deus jé apresentadas, a evidéncia parece conclusiva. Ela pode apenas exclamar: Certamente existe um Deus! O Proprio Deus considera a evidéncia como conclusiva. Deduzimos isto no apenas pelo fato de que se nfo o considerasse assim, Ele nos teria dado mais, como também por expressas declaragGes a esse respeito (Rm. 1; 18-20; Atos 14:17; 17: 24-29). Acreditar na existéncia de Deus é, portanto, a coisa normal e natural a ser feita, e 0 agnosticismo e atefsmo so as posigdes anormais e contrarias a natureza. Na realidade, as ultimas equivalem a dizer que Deus ndo nos forneceu evidéncia suficiente de Sua existéncia. Tais atitudes sfo uma critica a um Deus benevolente e santo, € sfo pecaminosas. N&o obstante, geralmente, os homens tém desprezado o conhecimento de Deus (Rm. 1:28). © pecado tem de tal maneira distorcido sua visfo e corrompido seus co- ragGes que os leva a rejeitar a evidéncia e continuar sem um Deus ou a inventar seus proprios deuses. Examinaremos a seguir, portanto, as principais opini6es do mundo nfo cristdo e dar-thes-emos uma resposta. Elas se dividem em seis grandes grupos a seguir: I. O Ponto de Vista Ateistico Em um certo sentido, todas as religides ndo-cristas sfo ateistas: no sentido de que ndo reconhecem o tinico Deus verdadeiro. Mas em um sentido mais restrito, o termo “ateismo” é limitado a trés tipos distintos: aquele que é conhecido como ateista pré- tico, 0 ateista dogmatico e o atefsta virtual. Vamos notar as diferengas entre eles. O Ateismo Prdtico é encontrado entre muitas pessoas iletradas. Elas ficam desapon- tadas com certos “cristos” e decidem precipitadamente que toda religifo é falsa. Po- rém, ndo é tanto que elas tenham perdido a fé na existéncia de Deus, mas sim nas pes- soas que se dizem Seus filhos e deixam de corresponder a essa posigdo em suas vidas. Pessoas assim normalmente nao sao atefstas confirmadas; elas simplesmente descul- pam sua indiferenga baseando-se nas inconsisténcias de certos cristdos professos. Elas podem, entretanto, ser chamadas ateistas prdticos no que toca a seus interesses reli- giosos. . O Ateismo Dogmitico € 0 tipo que professa o ateismo abertamente. A maior parte das pessoas nfo alardeiam atrevidamente seu atefsmo diante dos homens, pois € um termo de reprovagao, mas h4 alguns que nfo se intimidam em declarar-se ateis- tas. Em anos recentes tem havido um reavivamento deste tipo de ateismo na Améri- ca. Em 1925, Charles Smith, um ex-estudante de teologia, fundou a Associagao Ame- ricana para o Progresso do Ateismo, e ela tem conseguido algum éxito em nossas fa- —34— culdades e universidades. Mas no numero de agosto de 1944 da revista Scientific Monthly, A.J. Carlson, presidente da Associagfo Americana para o Progresso da Ciéncia, ele préprio um descrente professo, diz: “O pequeno grupo de pessoas libe- tais e informadas que conseguiram sair de um casulo de supernaturalismo, nem mes- mo constitui um fermento respeitdvel no grupo dos bacharéis”. Paul B. Anderson diz que o plano de cinco anos da Sociedade Ateista da Russia (durante 1928-1933) ndo conseguiu mais do que um tergo de sua meta para membros. Paul B. Anderson, People, Church, and State in Modern Russia (Povo, Igreja e Estado na Russia Moderna) (New York: The Macmillan Company, 1944), pdg. 115. Durante os anos 1933-37, © rol dos membros da Liga de Atesstas Militantes diminuiu na realidade de cinco mi- Ihdes para dois milhdes. O Ateismo Virtual € 0 tipo que se firma em princfpios que ndo s4o consistentes com a crenga em Deus ou que O definem em termos que violentam 0 uso comum da linguagem. A maioria dos naturalistas consumados do passado e do presente perten- cem 4 primeira destas variedades. O naturalismo afirma que a natureza é 0 todo da realidade. Em tempos recentes, tem aparecido como materialismo, positivismo e ener- gismo. O materialismo se desprestigiou recentemente junto ao cientista ¢ ao fil6sofo pela decomposigéo do dtomo e pela descoberta de que a realidade iiltima nao ¢ séli- da, mas uma carga, uma carga elétrica. positivismo é na realidade um tipo agnésti- co e serd anotado sob esse titulo. O Energismo ainda nao formulou uma filosofia completa; ainda no conseguiu expiicar a mente em termos de energia pura. Os que definem Deus com abstrag6es tais como “um princ{pio ativo na natur a “ordem moral do universo”, o “fluxo césmico”, a “consciéncia social”, o “ir cognoscivel” sdo ateistas da segunda destas variedades. Eles esto, na realidade, vio- lentando ao significado estabelecido do termo “Deus”. Também o teismo tem sua nomenclatura bem estabelecida e ela ndo pode ser manipulada a vontade para servir aos caprichos da crenga moderna. A posico ateista é muito insatisfatéria, instdvel e arrogante. E insatisfatoria porque falta a todos os atefstas a garantia do perdio de seus pecados, todos levam uma vida fria e vazia e nada sabem a respeito de paz e comunhao com Deus. E ins- tavel porque é contréria as convicgdes mais profundas do homem. Tanto a Escritura como a histéria mostram que o homem acredita necessariamente e universalmente na existéncia de Deus. O ateista virtual testifica este fato por adotar uma abstragdo para explicar o mundo e sua vida. E arrogante porque realmente pretende ser onis- ciente. Conhecimento limitado pode deduzir a existéncia de Deus, mas conheci- mento pleno de todas as coisas, inteliggncias e tempos ¢ exigido para declarar dogma- ticamente que nenhum Deus existe. O ateista dogmatico deve ser explicado como estando em uma posi¢éo anormal. Assim como o péndulo de um relégio pode ser empurrado para fora do centro por uma forga externa ou interna, assim pode a men- te do homem ser empurrada para fora de sua posic¢go normal por uma filosofia falsa. Quando a forga é removida, tanto o péndulo como a mente humana retornam a sua posigdo normal. IL. O Ponto de Vista Agnéstico O termo “agnéstico” é aplicado as vezes a qualquer doutrina que afirma a impos- sibilidade de qualquer conhecimento verdadeiro, afirmando que todo conhecimento é relativo, e portanto incerto. Neste sentido os sofistas e céticos gregos bem como —35— todos os empiricistas desde Aristételes até Hume foram agnésticos, Entretanto, na teologia, o termo é limitado aos pontos de vista que afirmam que nem a existéncia nem a natureza de Deus, sem ainda a natureza suprema do universo s4o conhecidos ou cognosciveis. Herbert Spencer (1820-1903) e Thomas H. Huxley (1825-1895) so freqiientemente chamados de agnésticos no sentido teoldgico do termo. EF claro que é verdade quanto a Huxley, mas Spencer foi, na realidade, uma combinagdo de positivista-panteista. Geo. P. Fisher, Grounds of Theistic and Christian Belief (Funda- mentos da Crenga Teistica e Crista) (New York: Charles Scribner's sons, 1902), pag. 81. Albert Ritschl (1822-1889) e seus seguidores também foram realmente agnés- ticos. © positivismo na ciéncia e o pragmatismo na filosofia e na teologia sfo os mais importantes tipos de agnosticismo em tempos recentes. Auguste Comte (1798-1859), o fundador do positivismo, decidiu nada aceitar como verdadeiro além dos detalhes dos fatos observados, e como a idéia de Deus nfo poderia assim ser submetida a um exame, ele a omitiu e se devotou inteiramente ao estudo dos fendmenos. Mas a teo- ria da relatividade de Einstein mostrou que temos que levar intangiveis em considera- ¢do, por exemplo, tempo e espago, até mesmo o estudo do mundo fisico. Sua teoria desferiu um golpe mortal no positivismo. O pragmatismo na filosofia e na teologia, como o positivismo na ciéncia, rejeita uma revelacdo especial e a competéncia da razdo no estudo da realidade suprema. Ele argumenta, entretanto, que como a incerteza do julgamento ¢ nao apenas dolorosa, mas muitas vezes custosa e impossivel, deverfamos adotar o ponto de vista que dé melhor resultado. De acordo com isso, Albert Ritschl e William James (1842-1910) adotam um fiat Deus, uma postulac4o pragmatica de Sua existéncia para poder obter certos resultados desejaveis. John Dewey (1859) se contenta em postular abstragées vagas. ‘A posig&o agnéstica também é altamente insatisfatoria e instavel e freqientemente demonstra uma falsa humildade. E insatisfatéria por sofrer do mesmo empobrecimen- to espiritual que a atefsta, mas também é insatisfatoria do ponto de vista intelectual O agnosticismo prova isto em sua adogdo de opinides tentativas como premissas b: cas. E instavel por admitir que ndo conseguiu chegar 4 certeza absoluta. Ritschl e James diziam ter chegado a uma estabilidade razodvel em suas crengas, mas Dewey afirma que suas crengas sfo bem tempordrias. E freqiientemente demonstra falsa hu- mildade, por dizer conhecer to pouco. Outros, alguns agndsticos acusam, orgulhosa- mente, fingem ter uma compreensdo superior, mas eles francamente reconhecem as verdadeiras limitagdes do conhecimento! Ora, do ponto de vista cristo, esta é uma falsa humildade pois ele considera a evidéncia em favor da existéncia de um Deus pes- soal, extra-terreno, todo poderoso e santo como ampla e conclusiva. I. 0 Ponto de Vista Panteista Flint define Panteismo como “a teoria que considera todas as coisas finitas sim- plesmente como aspectos, modificagdes ou partes de um ser eterno e auto-existente; que enxerga todos os objetos materiais, e todas as mentes particulares, como sendo ne- cessariamente derivadas de uma tinica substancia infinita”. Robert Flint, Anti-Theistic Theories (Teorias Anti-Teisticas) (Edingurgh: Wm. Blackwood and Sons, 1899), pag. 336, Ela aparece em uma variedade de formas hoje, algumas das quais também pos- suem elementos ateisticos, politeisticos e tefsticos. Os seguidores do pantefsmo geral- ~36— mente consideram suas crengas como uma religifio, dando-lhes uma espécie de submis- so reverente. Por esse motivo, a insuficiéncia do panteismo precisa ser apreendida ainda com mais clareza. Vamos mostrar, da maneira mais breve possivel, a natureza dos principais tipos de pantefsmo e ento apresentar a réplica crist@ a eles. 1. Os Principais Tipos de Pantefsmo. Sgo os seguintes os principais tipos de pan- teismo: (1) O Panteismo Materialista afirma que a matéria é a causa de toda a vida e mente. David Strauss (1808-1874) acreditava na eternidade da matéria e na geracdo esponta- nea da vida. Ele afirmava que 0 universo, a totalidade da existéncia que chamamos de natureza, é 0 unico Deus que o homem modemo, iluminado pela ciéncia, pode con- sentir em adorar. Joseph Ernest Renan (1823-1892) e Ernst Haeckel (1834-1919) também foram panteistas materialistas. Mas a crenga na eternidade da matéria é uma suposigdo ilégica e a doutrina da geragdo espontdnea jd foi abandonada pelos cientis- tas. (2) Hilogoismo e Panpsiquismo sfo mais antigos e mais recentes nomes para a mesma coisa. Ha, entretanto, dois tipos desta teoria. O primeiro afirma que toda particula de matéria tem, além de suas propriedades fisicas, também, um principio de vida. A forma mais antiga enfatizava as propriedades fisicas e era praticamente um ti- po de materialismo. A forma moderna se reporta a G.W. Leibnitz (1646-1716) que en- fatizou as propriedades fisicas. Ele afirmou que as unidades finais ndo s4o os 4tomos mas sim némades, pequenas almas, com poder de percepgfo e apetite. A segunda afir- ma que a mente e a matéria sfo distintas mas intima e inseparavelmente unidas. Deus, por este ponto de vista, é a alma do mundo. Os estoicos afirmavam esta forma de hi- lozoismo. Gustav T. Feshner (1801-1887) reviveu esta forma de panpsiquismo. Os dois tipos so formas de panteismo. (3) O Neutralismo ¢ uma forma de monismo que afirma que a realidade ultima ndo é nem a mente nem a matéria, mas algo neutro do qual a mente e a matéria sfo apenas aparéncias ou aspectos. Baruch Spinoza (1632-1677) é o melhor representante deste tipo. Ele afirmou que s6 havia uma substancia com dois atributos, pensamento e extensdo, ou mente e matéria, e a totalidade dos dois é que é Deus. F.W.J. Shelling (1775-1854) assumiu a doutrina monjfstica de Spinoza. Ele chamou esta realidade ul- tima de “energia do mundo, Santa, sempre-criativa, original, que gera e ativamente en- volve todas as coisas a partir de si propria”. Bertrand Russell (1872) também afirma um tipo de monismo neutro, mas é um monismo que admite uma multiplicidade de acontecimentos. Neutralismo é 0 tipo classico de pantefsmo. (4) O Idealismo afirma que a realidade altima é da natureza da mente e que o mun- do € 0 produto da mente, ou da mente individual ou da mente infinita. George Berke- ly (1685-1753), um idealista subjetivo, afirmou que os objetos dos quais eu me aperce- bo sdo minhas percepgdes e ndo as préprias coisas, isto é, tudo existe apenas em minha mente. Entretanto, respondemos que se tudo existe apenas em minha mente, entéo outras pessoas e Deus também existem apenas desta maneira. Na realidade, eu tenho que logicamente concluir que apenas eu existo, o que reduz a teoria a um absurdo. George W.F. Hegel (1770-1831) que, como Fichte e Schelling, comegou como estudante de teologia, tomou a especulagéo tese-antitese-sintese de Fichte e a desenvolveu até sua conclusfo légica. Ele é considerado o idealista ob- jetivo tipico. O idealismo objetivo é também conhecido como idealismo absoluto. O idealismo subjetivo diz que 0 mundo é minha idéia; 0 idealismo objetivo diz que é idéia. Hegel diz que a realidade € egy “pensamento, razdo. O mundo é um grande processo de pensamento. E, pode- riamos dizer, Deus pensando. Temos apenas que descobrir as leis do pensamen- to pata conhecer as leis da realidade. O que chamamos de natureza € 0 pensa- mento externalizado; é a Razdo Absoluta que se revela em forma externa. Mas a natureza ndo é seu objetivo final. Voltando, ela se expressa mais plenamente na auto-consciéncia humana e finalmente encontra sua completa realizagdo na arte, religido e filosofia. Geo. T.W. Patrick, An Introduction to Philosophy (Uma In- trodugao a Filosofia) (New York: Houghton Mifflin Co., 1935) pag. 221. Ha dois tipos principais de idealismo absoluto correntes hoje: absolutismo im- personalista e absolutismo personalista. O absolutismo impersonalista afirma que a realidade ultima é uma tinica mente ou um sistema unificado; ele nega que esta mente ‘ou sistema seja pessoal. FH. Bradley (1846-1924) e Bernard Bosanquet (1848-1923), do movimento idealista britdnico, so talvez os representantes mais conhecidos deste ponto de vista. O absolutismo personalista afirma que o absoluto é uma pessoa. Ele inclui dentro de Si mesmo todos os seres finitos e partilha das experiéncias destes se- tes, pois sio numericamente uma parte dEle, enquanto que Ele também tem pensa- mentos além dos seus pensamentos. Thomas H. Green (1836-1882), Edward Caird (1835-1908), Josiah Royce (1835-1916), Mary W. Calkins e Wm. E. Hocking so re- presentantes deste ponto de vista. (5) Misticismo Filoséfico é 0 tipo mais absoluto de monismo em existéncia. O idealista ainda distingue entre 0 mundo externo e ele préprio, o grande Ser e todos os seres finitos; mas para o mistico, o sentimento de diversidade cai completamente por terra e © que conhece percebe que esta identificado com o ser intimo de seu sujeito. A realidade ultima é uma unidade, é indescritivel; 0 ser humano nao é apenas da mes- ma espécie que ela, mas identificada com ela; e unido com este absoluto é realizada mais por esforgo moral do que por abstrag6es tedricas. Muitos dos grandes moralis- tas e homens das letras da Inglaterra e da América tém distintas tendéncias misticas. Por exemplo, os Platonistas de Cambridge (Cudworth, More, Smith e os Transceden- talistas Americanos (Thoreau, Emerson). Muitos grandes poetas também tém elemen- tos misticos em suas obras. Concluindo este levantamento dos pontos de vista panteisticos, recorreriamos 4 declaragdo feita no comego desta sego, de que alguns panteistas tém também elemen- tos atefsticos, politeisticos e tefsticos em suas teorias. Os cinco tipos acima foram tra- tados como panteisticos simplesmente por ser essa sua natureza real ou principal. Os erros e natureza destrutiva deles devem ser agora mostrados brevemente. 2. A Refutagdo das Teorias Panteisticas. A mente humana ¢ peculiarmente atraida pelos pontos de vista monisticos do mundo. Ela gosta de pensar que toda existéncia teve uma causa ou principio comum de origem. Os fildsofos afirmam que esta causa ou principio esta inteiramente dentro do mundo. Os cristéos também acreditam que ha uma causa comum origindria, mas eles afirmam que esté fora do mundo bem como dentro dele. O primeiro ponto de vista é conhecido como monismo, o segundo como monoteismo. Devido ao profundo significado religioso associado as crengas pantefsti- cas, consideramos necessdrio oferecer uma refutacdo mais ampla a elas. Rejeitamos to- das as teorias panteisticas porque: (1) Sao Deterministas. Spinoza concedia a Deus uma espécie de “livre necessi- dade” mas até isso ele negava a todas as existéncias concretas. Toda a liberdade de segundas causas é negada; tudo existe e age pela necessidade. O pantefsmo materia- 38 — listico pensa em termos de necessidade dindmica, enquanto que o idealismo absoluto pensa em termos da necessidade légica. Contra isto, afirmamos que temos a conscién- cia de que somos agentes livres e de que respondemos por nossa conduta. E devido a esta convicgdo que instituimos governos e punimos os criminosos por suas més ages. (2) Destroem as Fundagdes da Moral. Se todas as coisas resultam da necessidade, entfo 0 erro e o pecado também resultam da necessidade. Mas se isto for verdade, en- to trés coisas se seguem: (a) O pecado no é aquilo que nfo deveria absolutamente ser, que merece condenacdo. Conseqiientemente, o pantefsmo fala do pecado como uma fraqueza inevitdvel, um estdgio do nosso desenvolvimento. Mas temos a convic- go de que estamos debaixo da condenagao e da ira de um Deus santo. (b) Entdo nfo temos padroes pelos quais fazer a distingdo entre o certo e o errado. Se fazemos tudo levados pela necessidade, como entdo podemos saber quando fazemos 0 certo e quan- do 0 errado? Os pantejstas fazem da conveniéncia o teste moral. (c) Entdo 0 Proprio Deus é pecador, pois se Ele necessita de todas as coisas, entdo Ele no fundo deve ser ignorante ou mau. Se ignorante, como entdo pode ser a luz limpida e a verdade perfei- ta? Se mau, como pode punir o pecado? Nos paises pagdos, onde o pantefsmo rece- beu um maior significado religioso, esta idéia tem levado os homens a endeusar 0 mal a reverenciar e adorar as divindades que mais representam o mal. O pantefsmo des- tr6i as fundages da moral. (3) Tornam Impossivel Toda a Religido Racional. Alguns ndo considerariam isso como uma obje¢ao ao pantefsmo, mas do ponto de vista da filosofia da religiao isto é muito importante. Ao enfatizar a unido metafisica do homem com o divino, as idéias panteisticas tendem a destruir a individualidade humana. Isto acontece especialmen- te no idealismo absoluto e no misticismo. Mas a verdadeira religiao é possivel apenas entre pessoas que retém suas individualidades, distintamente, pois a verdadeira reli- gifo é a adoragao e 0 culto oferecido por um ser humano a um ser divino. Quando essas distingdes desaparecem ou a medida que desaparecem, a verdadeira religifo se torna impossivel. O que alguns homens ainda chamariam de religifo pode, nesse caso, ser apenas a adoragdo do prdprio ser. (4) Negam a Imortalidade Pessoal. Se o homem nada mais é do que parte do in- finito, ele também nada é do que um momento na vida de Deus, uma onda na super- ficie do oceano. Quando o corpo perece, a personalidade cessa e a superficie do mar se torna lisa novamente. Portanto, nao hd existéncia consciente para o homem apés a morte. O tinico tipo de imortalidade que os panteistas podem esperar ter é a sobre- vivéncia na meméria dos outros e a absor¢do na grande realidade final. Mas temos consciéncia do fato de que estamos na relag4o de responsabilidade pessoal para com Deus e que teremos que prestar contas das agdes praticadas no corpo, tanto boas quan- to més. Sabemos que tanto apés a morte como em vida, haverd uma diferenga entre o bem e 0 mal; isto é, que nossa identidade e individualidade serao preservadas. (S) Elas Endeusam o Homem por Fazé-lo uma Parte de Deus. O panteismo adu- Ja o homem e encoraja o orgulho humano. Se tudo o que existe é uma manifestagao de Deus, ¢ Deus nao passa a vida consciente a nao ser no homem, entdo o homem é a mais alta manifestag&o de Deus no mundo. Na realidade, podemos medir a grandeza teligiosa de um homem pelo tanto em que ele realiza sua identidade com Deus. Os pantefstas dizem que Jesus Cristo foi o primeiro que conseguiu uma realizagao perfei- ta desta grande verdade, quando Ele disse: “Eu e o Pai somos um”. E o hindu pensa que quando puder dizer: “Eu sou brahma!”, entdo o momento de sua absorgdo no —39- infinito ter4 chegado. Mas nfo temos o direito de dizermos a nés mesmos o que Jesus podia dizer de Si Proprio, pois somos criaturas pecaminosas enquanto que Ele é 0 eter- no Filho de Deus. O cristianismo dé ao homem a mais alta posigAo abaixo de Deus, mas ndo faz dele parte de Deus. (6) Elas Nao Podem Explicar a Realidade Concreta. O panteismo materialisti- co descarta o assunto dizendo que a matéria em movimento sempre existiu; mas isso é uma afirmagdo e nfo uma prova. Se o universo estd se deteriorando, como afirma James Jeans, ento ele nao é auto-sustentado e se ndo é auto-sustentado, entdo deve ter tido um comego. Op. cit., pags. 180, 181. Tampouco pode o panteismo materia- listico explicar a mente, pois a matéria inanimada nao pode concebivelmente gerar vida ou mente. E 0 panteismo idealista se esquece de que pensamento sem um pen- sador é uma mera abstragdo. A realidade é sempre substantiva, é um agente. Sem um agente nao hd atividade, quer mental, quer fisica. Como diz Knudson: “Abstra- ges logicas no podem ser engrossadas até se tornarem realidade”. Albert C. Knudson, The Philosophy of Personalism (A Filosofia do Personalismo) (New York: The Abing- don Press, 1927), pég. 380. Tampouco podem existéncias individuais serem produzi- das por universalidades abstratas. Assim o pantefsmo nao pode explicar a realidade concreta. IV. 0 Ponto de Vista Politeista O: momoteismo foi a religifo original da humanidade, conforme mostrado nfo apenas na Biblia, mas também conforme alguns dos melhores antropologistas moder- nos tém mostrado. Andrew Lang da Escécia e Wm. Schmidt da Austria, por exemplo. O primeiro afastamento do monoteismo parece ter sido em diregao a adoragao da na- tureza. O sol, a lua, as estrelas, os grandes representantes da natureza, e 0 fogo, o ar, a dgua, os grandes representantes da terra, se tornaram objeto da adorag4o popular. Nos Vedas, encontramos hinos dirigidos a estes elementos naturais. Primeiro eles eram simplesmente personificados; depois, os homens passaram a acreditar que seres perso- nalizados presidiam sobre eles, Na India, o politefsmo sem fim dos hindts se desenvolveu do panteismo. Tudo que era extraordindrio veio a ser chamado de “avatar”, uma encarnagdo de Deus ou em Brahma, ou em Vishnvou em Shiva. O Egito também tinha muitos deuses e se preocupava com 0 futuro. Ra ou Re, o deus-sol, era a divindade principal. Os faraés se diziam descendentes deles. Outros deuses egipcios eram Osiris e Seth. Esse tltimo se transformou no Satd da mitologia posterior egipcia. Os gregos tinham a testa de seu pantedo elaborado um concilio de doze membros, seis deuses e seis deusas. Entre eles Zeus, Atenas e Apolo formavam uma espécie de triade. Outros deuses gregos bem conhecidos eram Poseidon, Apolo e Ares. Jupiter era o cabeca do pantedo romano, idéntico em todas as qualidades essenciais ao Zeus grego. Ele era o protetor especial do povo romano. A ele, juntamente com Juno, sua esposa, e Minerva, a deusa da sa- bedoria, um templo magnifico foi consagrado no Monte do Capitélio. Marte era o deus da guerra. Jupiter, Juno e Minerva constitufam uma espécie de triade romana. Quando consideramos 0 fato de que literalmente centenas de milhdes de pessoas ainda se curvam diante de paus e de pedras, néo podemos deixar de perceber a podero- sa afinidade que o politeismo tem com a natureza humana decaida. Apesar de nao ser um desenvolvimento de qualquer sistema filoséfico, exceto nos paises onde nasceu de uma base panteistica, ele constitue um grande obstdculo ao progresso da religifo ver- ~40— dadeira. Hoje, assim como na época da Biblia, os homens estdo “entregues aos idolos” (Oséias 4: 17) e encontram muita dificuldade para se separarem deles. Mas a idolatria nao apenas deixa o coragdo vazio, mas também degrada a mente e retarda a civiliza- aio. Na Biblia, os deuses dos pagios so as vezes declarados como “vaidade” e “nada, meros seres imagindrios, sem poder para ferir ou para salvar (SI. 106: 28, 29; Is. 41: 24,29; 42:17; 44:9-20; Jr. 2:26-28), e, em outras ocasides, os representantes, se nao a encarnagdo, dos deménios (I Co. 10:20). Isto parece indicar que a adoragao de idolos é adoragdo de deménios. Na literatura grega, um “deménio” era conside- rado como um deus menos importante, mas na Escritura 0 termo parece sempre deno- tar um espirito mau. Este conceito da natureza da idolatria constitui uma razdo pode- rosa para se levar o Evangelho aos paises onde a idolatria impera. V. O Ponto de Vista Dualista Esta teoria assume que ha duas substancias ou princfpios distintos e irredutiveis. Em epistemologia, elas sdo idéia e objeto; em metafisica, mente e matéria; na ética, o bem e o mal; na religido, o bem (Deus) e o mal (Satands). O cristdo, entretanto, nfo cré que Satands seja co-eterno com Deus, mas sim uma criatura de Deus e sujeito a Ele. Kant, Sidgwick, os filésofos personalistas modernos, os cristdos, e o homem co- mum se apegam ao dualismo epistemoldgico. Para eles, o pensamento e coisa so duas entidades distintas. Os antigos fildsofos gregos tais como Tales, Empedocles, Anaxago- ras e Pitdgoras sdo geralmente classificados de monistas, mas sdo, na realidade, dualis- tas metafisicos. Eles faziam distingdo entre os dois principios da mente e da matéria. Até Platdo, ao fazer uma clara diferenciagdo entre as Idéias e o mundo real foi, afinal de contas, dualista. Kant e todos os moralistas ingleses, que afirmavam que hé um certo ¢ errado absolutos no universo, foram dualistas éticos. Eles erguiam, portanto, padrGes do certo absoluto. Mais importantes, do ponto de vista cristdo, so os dua- listas religiosos. Originando principalnente do Zoroastrismo_persa, o gnosticismo eo maniquea- nismo surgiram para atormentar a igteja primitiva. Os gndsticos parecem ter surgido durante a tiltima metade do primeiro século. Eles tentaram solucionar o problema do mal, postulando dois deuses: Um Deus Supremo e um Semideus. O Deus do Velho Testamento ndo é o Deus Supremo, pois o Deus Supremo é¢ inteiramente bom; é 0 Semideus que criou o universo. Ha um conflito constante entre esses dois deuses, um conflito entre o bem e o mal. Essa luta é travada principalmente nos seres humanos entre os seres humanos. Cerinthus, Basilides, Valentinus e Marcion sdo gnésticos im- portantes do segundo século. Mani, aparentemente tendo sido criado dentro de uma velha seita babilénica, tornou-se o fundador do maniqueismo. Quando entrou em con- tato com o cristianismo, ele concebeu a idéia (ca. 238) de combinar o dualismo orien- tal com 0 cristianismo, em um todo harmonioso. Ele se considerava um apéstolo de Cristo e o Paracleto prometido. Ele se dispés a eliminar todos os elementos judaicos do cristianismo e substitui- -los pelo zoroastrismo. Seus ensinamentos fizeram uma clara distingdo entre o reino da escuridao e o reino da luz e os mostravam em perpétuo conflito de um com 0 outro. Agostinho foi um membro dessa seita por alguns anos antes de sua conversao. Neste ultimo século, o problema da origem e da presenca do mal no mundo tem novamente chamado a aten¢4o. Isso tem levado alguns a retornarem a uma forma an- ay tiga de dualismo: Deus e a matéria (alguns diriam Deus e Satands) so ambos eternos. Deus é limitado em poder e talvez em conhecimento, mas ndo na qualidade do cardter. Deus esta fazendo o melhor que pode com um mundo recalcitrante e no fim vencé-lo- -4 completamente. O homem deveria prestar assisténcia a Deus nesta luta e apressar a queda completa do mal. Damos a seguir os nomes dos que créem em um Deus finito: J. Stuart Mill (1806-1873), Wm. James (1842-1919), F.H. Bradley (1846-1924), Hastings Rashdall (1858-1924), Leonard T. Hobhouse (1846-1929), A.N. Whitehead (1861 - ), H.G. Wells (1866 - ) e E.S. Brightman (1844 -). © pregador inglés, Frede- rick W. Robertson (1816-1853) parece ter pensado de modo semelhante. O problema do mal é certamente dificil em qualquer teoria, mas ndo cremos que a doutrina do dualismo seja uma solugao real desse problema. Em primeiro lugar, um Deus finito nao pode satisfazer o corago humano, pois que garantia pode um tal Deus oferecer quanto ao triunfo final do bem? Algum imprevisto pode acontecer a qualquer momento e frustrar todas as Suas boas intengdes; e como poderemos manter a fé na oragdo baseados nessa teoria? Ainda mais, o fato de ser finito ndo livra Deus da res- ponsabilidade pelo mal mais do que o ponto de vista tradicional — nem tanto. A maio- ria dos seguidores desta teoria ensinaria que Deus cria, de alguma maneira, embora fi- zessem da criagdo um processo eterno. Crendo que criar envolve a necessidade do mal, eles ndo isentam Deus da responsabilidade de criar um tal mundo. Ainda mais, a dou- trina envolve a crenga em um Deus em desenvolvimento, em crescimento. Ele se torna cada vez mais bem sucedido, talvez Ele proprio se tore cada vez melhor. Mas isto é um claro desrespeito as muitas indicagdes biblicas de que Ele é perfeito e imutavel em Sua sabedoria, poder, justiga, bondade e verdade e nao satisfaz nossa idéia de Deus. E finalmente, ela ignora ou nega a existéncia de Satands, 0 inimigo supremo, que na Es- critura € mostrado como muito responsdvel pelo mal dos dias de hoje. VI. O Ponto de Vista Deistico Da mesma forma que o panteismo afirma a imanéncia de Deus as custas da sua transcendéncia, também o deismo afirma a transcendéncia 4s custas de Sua imanén- cia. Para o deismo, Deus esta presente na cria¢do apenas através do Seu poder, nfo por Sua Prépria pessoa e natureza. Ele dotou a criagdo de leis invaridveis sobre as quais Ele simplesmente exerce uma supervisdo. Ele concedeu a Suas criaturas certas proprieda- des, colocou-as sob Suas leis invaridveis e as deixou para que estabelecam seus destinos por seus proprios poderes. O deismo nega uma revelacdo especial, os milagres, a pro- vidéncia. Ele afirma que todas as verdades a respeito de Deus so descobertas pela razfo, e que a Biblia é simplesmente um livro sobre os principios da religido natural, que so determinados pela luz da natureza. O defsmo inglés surgiu como resultado de quase dois séculos de controvérsia sobre questdes religiosas. As descobertas de Copérnico e os trabalhos de Francis Bacon tam- bém contribufram um pouco para a sua ascens4o. Lord Herbert, de Cherbury (1581- 1648), € conhecido como o pai do defsmo. Thomas Hobbes (1588-1679), Charles Blount (1654-1693), Anthony Collins (1676-1729), Matthew Tindal (1657-1733), Lord Bolingbroke (1678-1751), e Thomas Paine (1737-1809), foram deistas ingleses. Na Franga, 0 movimento defsta nfo cresceu até um século apés sua ascensfo na Inglater- ra. Voltaire (1694-1778) e Rousseau (1712-1778) podem ser clasificados de defstas franceses. Algumas teorias evoluciondrias modernas sao deisticas em sua explicagdo do universo. —42- O cristdo rejeita o deismo porque acredita que temos uma revelacgo especial de Deus na Biblia; que Deus est presente no universo em Seu ser bem como em Seu po- der; que Deus exerce um controle providencial constante sobre toda Sua criagao; que Ele as vezes usa milagres para o cumprimento de Seus propésitos; que Deus responde oragdes; e que os deistas tiram muitos de seus dogmas religiosos da Biblia e nao apenas da natureza e da razao. Ele afirma que um Deus deistico, ausente, nfo é muito melhor que nfo ter Deus algum. —43— PARTE I: BIBLIOLOGIA Tendo agora mostrado que Deus Se revelou e tendo conseqiientemente provado Sua existéncia através de muitas provas, desejamos a seguir saber onde podemos desco- brir mais a respeito dEle. Em outras palavras, buscamos descobrir as fontes da teolo- gia, informagoes exatas e infaliveis a respeito dEle e de Suas relagdes com o universo, Ha quatro diregdes nas quais 0 homem busca essas fontes: Raz4o, visdo mfstica, a Igreja e as Escrituras. Jé mostramos no Capitulo II o lugar apropriado e também as limitagdes da razo e da visio mistica. Resta-nos perguntar se Deus concedeu tal au- toridade a Igreja ou se as Escrituras so a unica fonte real de autoridade. O Catolicismo Romano afirma que Deus fez da Igreja, a Igreja Catélica Romana, a mestra autorizada e infalfvel. Ela baseia esta afirmativa na pretengdo de que Deus comunicou todas as Suas revelagdes a ela, escritas ou nfo, e que a Igreja tem a pre- senga constante e a diregfo do Espirito Santo, preservando-a de qualquer erro nos ensinos. A infalibilidade se estende nfo apenas a questdes de fé e moral, mas a todas as coisas que a Igreja declara serem parte da revelagdo de Deus. A teoria episcopal afirma que os bispos, em sua autoridade coletiva, so infaliveis; a teoria papal, que ain- da prevalece, afirma que o Papa é 0 érgio através do qual o julgamento infalivel da Igreja é expressado. Ele pode ser imoral, herético, ou até mesmo infiel, mas quando ele fala ex cathedra é 0 6rgdo do Espirito Santo. Replicando, dirfamos que ndo hd a menor particula de prova de que Deus tenha concedido tal autoridade a qualquer organizagdo visivel. E valido, ao se decidir um ponto de doutrina sendo discutido, consultar-se a opiniao do verdadeiro povo de Deus, mas nfo para verificar as opiniées de uma simples organizagdo externa. Além disso, Deus nao estd presente na organizagdo visivel como tal, mas nos coragdes de Seus ver- dadeiros seguidores; e a orientagdo progressiva para a verdade prometida em Jodo 16: 12, 13 ndo se estende além dos homens para quem ela foi prometida, exceto no sen- tido de capacitd-los a compreender as coisas livremente dadas a eles por Deus (I Co. 2:12), isto é, as coisas registradas na Escritura. Mais uma vez, Deus n4o investiu ne- nhum corpo visivel com autoridade em assuntos fora da fé e da prética. Nenhuma or- ganizag4o dentro da igreja tem autoridade para regular e controlar os detalhes da vida social, econémica, politica ou mesmo religiosa. E Deus certamente nao investiu ho- mem algum com poder infalivel para ser Seu porta voz em matérias religiosas. Nao, absolutamente ndo existe base para a afirmagdo do catolicismo romano de que tem autoridade suprema e infalivel em tais assuntos. E que tal a autoridade das Escrituras? Existe hoje uma rejeigdo geral da idéia que antes prevalecia de que a Biblia é a autoridade infalivel. Fosdick, por exemplo, diz: “Nossas idéias quanto ao método de inspiraggo mudaram; ditado verbal, manuscritos infaliveis, uniformidade da doutrina entre 1000 A.C. e 70 A.D., todas essas idéias se tornaram inacreditaveis quando confrontadas com os fatos”. Harry Emerson Fosdick, The Modern Use of the Bible (O Uso Moderno da Biblia) (New York: The Macmillan Co., 1924), pags. 30, 31. EB Wright, em artigo publicado recentemente em uma revista, —~44— ao mesmo tempo que fala da Biblia como sendo a “palavra de Deus”, argumenta que “€ axiomatico dizer-se que a autoridade da Biblia ndo repousa nas quest6es da ciéncia e da histéria, para cujo discernimento e descoberta foi-nos dada a mente, mas antes nas verdades salyadoras que chegam ao cora¢do do crente e que sGo necessdrias para a salvagdo”. Ele teme “transferir a infalibilidade do Proprio Deus para as capas e estru- tura de um Livro”. G. Ernest Wright, “The Christian Interpreter”, Interpretation, I (O Intérprete Cristao, Interpretagao, 1) (Abril, 1947), pags. 146, 150. Mas a igreja primitiva recebia a Biblia como a autoridade final. Gaussen diz: “Com excego unicamente de Theodore de Mopsuestia, tem sido impossi- vel encontrar, a0 longo dos oito primeiros séculos do cristianismo, um tinico doutor que tenha negado a inspiracdo plena das Escrituras, a menos que fosse no seio das mais violentas heresias que tém atormentado a igreja cristd; isso equivale a dizer, entre os gnésticos, os maniquefstas, os anomistas e os maome- tanos”. L.Gaussen, Theopneustia (Chicago: The Bible Institute Colportage Ass'n n. d.), pags. 139 e segs. Esta tem sido também a opinifo que a igreja verdadeira tem mantido. Ela baseia sua opinifo na crenga de que a Biblia € a incorporagao da revelacao divina, e que os registros que contém a revelag&o so genuinos, dignos de crédito, candnicos, e sobre- naturalmente inspirados. Bibliologia (de biblos ¢ logos) examina as Escrituras para ver se essas crengas a respeito da Biblia so verdadeiras. Crendo que esses assuntos pertencem unicamente ao campo da Critica Biblica e assumindo que eles j4 foram estabelecidos do modo tradicional, alguns tedlogos, como HB. Smith e L. Berkhof, nem tratam deles. Outros, sentindo que ainda algo deveria ser dito a esse respeito em suas teologias, como Martensen e Mullins, os abordam mui- to brevemente; e ainda outros, como Miley, tratam deles somente uo Apéndice. Mas 08 tedlogos que buscam um tratamento pleno, como Charles Hodge, A.A. Hodge, J.J. Van Oosterzee, Wm. G.T. Shedd e Augustus H. Strong, lhes dedicam consideravel espaco. Devido a presente oposi¢ao geral ao ponto de vista tradicional, consideraremos brevemente cada um desses t6picos. —45~— CAPITULO V As Escrituras — A Incorporagdo de uma Revelagéo Divina Mostramos no Capitulo II, que a possibilidade da teologia advém da revelagdo de Deus e dos dons com que o homem foi dotado. A segunda dessas duas idéias j foi suficientemente discutida por enquanto, mas a primeira precisa ser tratada mais am- piamente aqui. Portanto, a proxima questéo deve ser se a revelag&o de Deus teve uma incorporagao por escrito. A idéia crist@ tem sempre sido a de que temos uma tal incor- poragdo nas Escrituras e que elas constituem, portanto, a fonte suprema para a teolo- gia. Vamos apresentar provas para esta crenga. 1. 0 Argumento A PRIORI Este é, estritamente falando, um argumento que vai de algo anterior para algo pos- terior. No que diz respeito a presente discussdo, ele pode ser assim enunciado: Sendo o homem o que é, e sendo Deus 0 que é, podemos possivelmente esperar uma revela- go da parte de Deus bem como uma incorporagdo das partes da revelagdo que forem necessdrias para fornecer uma fonte confidvel e infalivel de verdade teoldgica. Vamos examinar mais de perto as partes deste argumento. © homem nfo apenas é um pecador debaixo da condenagdo da morte eterna, como ele também se inclina para longe de Deus, ignorante a respeito dos propésitos e dos métodos de salvagao de Deus, incapaz de retornar para Deus por suas proprias forgas. Ele se encontra, em outras palavras, em uma condigdo desesperadora, da qual ele apenas parcialmente tem consciéncia, e nfo sabe se pode ser salvo dessa condig&0 e nem, se isso for possivel, como fazé-lo. As revelagdes ndo escritas geral e especial de Deus nao oferecem respostas reais a esta questo. Vé-se claramente, portanto, que ele precisa de instrugdo infalivel a respeito de seu mais importante problema na vida: seu bem eterno. Acima desta necessidade profunda do homem, temos os atributos e carater singu- Jares de Deus que tornam possivel, se nao provavel, a satisfacao desta necessidade. O Deus cristdo é onisciente, santo, amoroso ¢ bom, e onipotente. Como Ele é oniscien- te, Ele conhece tudo sobre a necessidade do homem; como Ele é santo, ndo pode des- culpar o pecado e aceitar comungar com o homem enquanto ele estiver nessa condig40; como Ele é amoroso e.bom, pode ser levado a procurar e a por em funcionamento um plano de salvagdo; e como Ele é onipotente, pode nao apenas revelar a Si préprio, mas também dar por escrito as revelagdes a Seu respeito que forem necessérias para a experiéncia da salvaggo. £ certo que este argumento nfo nos leva além da mera possibilidade, ou, quando muito, da probabilidade. Apesar de sabermos que Deus é amor e que Ele exerce esse atributo em Sua divindade, se nfo tivermos uma revelagdo clara a esse respeito, ndo —46— poderemos ter certeza de que Ele ama ao pecador.. No podemos fazer de Seu amor uma atitude necessdria da parte dEle, ou entdo o amor nfo sera mais amor, e a mise- ricérdia ndo serd mais misericérdia, e a graga nfo serd mais graca. O elemento de vo- luntariedade tem que ser mantido em todos eles, ja que o homem perdeu todo o direi- to ao amor, a misericérdia e a graca. Mas, mesmo assim, o argumento tem um certo valor por inspirar a esperanga de que Deus pode satisfazer as mais profundas necessi- dades do homem. If. O Argumento da Analogia Este é um argumento resultante da correspondéncia entre as proporgdes ou rela- g6es entre coisas. Ele fortalece o argumento anterior em dirego a probabilidade de uma incorporacdo da revela¢do divina. O argumento pode ser apresentado em duas partes, Primeiro, na regio de nosso mundo onde a comunicagao entre individuos possuidores de algum tipo de inteligéncia se faz necessdria, encontramos a “revelagao”. Existe pronunciamento direto. Até mesmo os animais inferiores expressam com suas vozes seus diferentes sentimentos. E quando entramos no dominio da vida humana, percebemos uma presenga correspondente aos poderes notados nas criaturas inferio- res. Observamos algum tipo de fala por toda a sociedade. Existe comunicagio direta de um para o outro, uma revelacdo constante e imediata de pensamentos e sentimen- tos intimos, expressa de maneira a ser claramente compreendida. Consequentemen- te, ndo pode haver oposigao prima facie ao fato de uma revelagdo direta, clara e ver- dadeira, tirada de analogia com a natureza. Apesar que este argumento ndo pode ser valido para provar que a revelagdo de Deus vai ser incorporada em um livro, ele con- tribui para essa opiniao. Em segundo lugar, observamos que na natureza hd sinais de bondade reparadora, e na vida dos individuos e nagGes ha evidéncia de paciéncia em agdes providenciais que permitem a esperanga de que, como diz Strong: “enquanto a justiga for exercida, Deus pode ainda dar a conhecer alguma maneira de restaurar os pecadores”. Op. cit., pag. 113. Strong acha que este fato esta subentendido “nas providéncias para a cura de machucaduras em plantas e pela restauragdo de ossos quebrados na cria¢do animal, na proviso de agentes medicinais para a cura das enfermidades humanas, e especialmente na demora para infligir castigo ao transgressor e a graga a ele dada para o arrependimento”. Ibid. Esses fatos todos fornecem alguma base para se pensar que o Deus da natureza é um Deus de paciéncia e misericérdia. Dissemos no comego desta seg4o que este argumento nos leva um pouco mais lon- ge do que o argumento a priori. O primeiro simplesmente oferece a esperanga de que Deus possa vir em socorro de um ser decaido; o segundo, mostrando que Deus provi- denciou a cura de muitos males nos mundos animal e vegetal, e que Ele lida paciente e benevolamente com a humanidade em geral, prova que Ele realmente vem em socorro de Suas criaturas carentes. Mais uma vez, porém, podemos derivar deste argumento, apenas de maneira muito geral, a garantia de que Ele incorporard Seus planos e promes- sas em registro escrito. HI. O Argumento da Indestrutibilidade da Biblia Quando nos lembramos de que apenas uma porcentagem muito pequena de livros —47—

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