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~~ Para Alem Dasg, Mascaras 2 ~ ‘Sonia Ferreira & Carlos Linhares Espelho, espelho meu, existiré no mundo alguma criatura mais narcisista do que eu? Esta nao éa Pergunia apenas da bruxa do conto de fadas ao espelho.Esta 6 a interrogecéo da bruxa dentro de rnés lancada ao espelho, espelho malvado que nos réete precisamente como somes, com nossos defeitos & mostra ¢ com esta sede infinite de maquiegem. odes sofremos desta ansiedade de saber a opiniéo do expelho, E como se ele fosse um cafre ohde se oaulta a verdadeira imagem que nos ameaca e que nés, mesmo loucos por conhecer, néo queremos aceitar... Diante do espelho no hé chance de iluséo, parece uma granja inteira de pés de galinha, surgem Tugas como silabas do tempo na carne, pneus nas curvas, manchas na pele, estrias fartas e todos os Pontziras cruéis dos relégios biolégicos, fsiolégicos e cronolégicos apontam parasa hora do ”” encontro. Um encontro consigo, um auto-enfrentamento, criatura diante de seus limites no tempo. E 0s ponteiros apontam para um tempo onde as coisas néo so como pensamos e estio ali, sem nenhuma piedade, os sinais de decadéncia. Entio aparece um desejo infinito de maquiar as coisa, de manter escondida aquela realidade decadent, aquele eu indesejado. No, eu sou outro, nio sou este... O outro que eu me tornei, este sim sou eu mesmo... A ens 20 asim ahora d eco ernst vd. Oepelo ner sempre spree pend na parede e emoldurado na sala de vistas. As vezes o espelho emerge ma palavra do amigo, num reles telefonema, num livro ou filme que nos espantam, no comportamento do colega de trabalho, nas nossas reacées, af a gente vai se erxergando. S6 quem pode nos detectar para além das méscaras preferidas é 0 olhar do outro, preferenciaimente do outro que conosco corvive ¢ ‘traz vinculos. Este outro & quem percebe toda a atlética capacidade d’agente se mascarar. ' Mas o tempo bate na porta, exige amadurecimento. E a gente sere realmente voritade de questionar © espelho: espelho, espelho meu, existe algum otério mais mascarado do que eu? Espelho, por favor, me responda, seré que somos de fato pessoas ou representantes das pessoas que supomos ser? Pessoas ou atores de personagens escritas e bolados por outros? Talvez Sartre, 0 grande pensador, tivesse razéo quando disse: ndo me pergunte o que posso fazer de mim, mas sim 0 que posso fazer do que fizeram de minha vida. ‘Servigo Deenvahimento de Pescas Recamamos violentamente das romarices de Romario, o rei do mascaramento no campo de futebol, pois ele sozinho quer levar os méritos dos gols e das vitérias. 0 mascarado neste caso rouba a cena s6 para si, esquece os objetivos comuns da equipe e quer aparecer. Sabota o objetivo Comur, toma o lugar da tarefa do grupo. Quem quer aparecer? Romério? Voce? Fulano? Beltrano? Nao importa. Quem aparece mascarado sem cara, aparece descarado ¢ sem identidade. Talvez porque o objetivo comum & que nos dé identidade, que nos estimula a Prosseguir nas copas do mundo e nas organizagées. Na-certa temos alguns ponttos em comum com Romério, em outros campos. Criticamos as articulagés de certa gente muito maquiada mas nosso rosto carrega certa fatiga de sorrisos diplomaticos © eipressées inversamente proporcionais 20 Providenciamos faces no guarda-roupa: esta cara ndo fica bem as segundas-eiras, falar com o chefe exige leve sorriso assim-assado e para liderar € melhor afivelar no rosto um certo ar estressado e carregado de preocupacio. ms Quanto riso, oh, quanta alegria, mais de mil palhacos no salao... AS méscaras tém sua historia na humanidade. Sempre estiveram ligadas ao deserwolvimento da - expressao pessoal. Tiveram importancia crucial em rituais religiosos, espetécules teatrais (como 0 Kabuki, do Japao) e nos famosos bailes de mascarados onde as pessoas sio convidadas a se soltarem lum pouco. Bem, para nao ficar feio, conta-se com a protecdo das méscaras, © teatro em todos os lugares do mundo, empregou a mascara como instrumento cénico pata dar forca ¢ acentuar o poder dramitico dos personagens. A mascara no teatro grego seria a carranca com orificios para a boca e olhos por onde atravessavam a vista e os sons, por onde personavam (Persona, personagern) as frases de um papel, frases que compunham um personagem. Em Roma, 20 tempo dos cézares, a mascara era feita de cera e gerou a palavra sine cera, (sem cera) que queria avisar a0 outro que se tratava da vida real nio pisavam mais o paleo, fingindo Personagens, nao carecia mais mascarar-se e, portartto, convidava o outro a uma atitude sine cera, isto é, sincera. " Parecenos que algumas mascaras nossas nao podem ser deixadas de lado. Se o fizermos, talvez ‘verhamos a ser surpreendidos. Como o cabelo de Sanslo, as miscaras nos do forge. Faciltam as coisas. E a gente se acostumou com estas estratégias de providenciar méscaras. Mas lé no fuundo 0 verdadeiro eu quer participar da festa no saléo.. Servgo Desemotvimento de Pesos As mascaras sto uma realidade entre os humanos, mas seria interessante se perguntar sobre sua funcéo no nosso dia a dia. H4 pessoas que jé plangjam tanto suas condigées de vida cotidiana que quando tentam se desfazer de seus personagens jé no conseguem e contaminam suas outras cenas pessoais, e quando vive muito tempo com as mesmas pessoas jé no podem mais se esconder. As vees fcames pensando como seria o mundo além das mascaras. a Havia maior possibilidade de encontro? Ou de destitcontro? ‘Senvigo Deservetvimenta de Peszas

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