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A CORRECCAO DE DENTADO EM RODAS CILINDRICAS DE ENGRENAGENS EXTERIORES REDUTORAS E MULTIPLICADORAS José Anténio dos Santos Almacinha * Jorge Humberto Oliveira Seabra ** CETRIB - Unidade de Tribologia e Manutencao Industrial DEMEGI - Departamento de Engenharia Mecanica e Gestao Industrial FEUP - Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Rua dos Bragas - 4099 Porto codex - Portugal RESUMO: Uma correcgao de dentado, com uma escolha criteriosa dos desvios a impor as rodas de uma engrenagem, com dentes de perfil em evolvente de circulo, pode modificar muito favoravelmente caracteristicas importantes do engrenamento ou permitir 0 seu funcionamento com um entre-eixo diferente do normal, imposto por raz0es construtivas. Neste texto, aps uma breve referéncia a geometria do dentado com perfil em evolvente de circulo ¢ a algumas das caracteristicas fundamentals de um engrenamento, apresentam-se, de forma sucinta, alguns dos sistemas de correcgéo de dentado mals difundidos ¢ que fornecem solugoes satisfatdrias em problemas correntes. Finalmente, apresentam-se alguns exemplos de aplicagao dos sistemas expostos, de modo a permitir constatar as suas vantagens e inconvenientes. * — Assistente - DEMEGI - FEUP. ** Professor Auxiliar - DEMEGI - FEUP. \Ai8- CETAID- EME! - FEUP - 1901 NOMENCLATURA a ~ Entre-eixo normal a ~ Entre-eixo de funcionamento b = Largura do dentado ¢ _- Folga no fundo do dente d= Diametro primitive de core ds - Diémetro da cabega (addendum) d, _ - Diametro de base (d cos a,) dy - Didmetro do pé (dedyendum) @q _- Intervalo entre dentes do butil (ep = e, - intervalo normal) @; _ - Intervalo aparente entre dentes (e,/ cos 9) 9s» Taz Escorregamentos especificos no pinhao @ na roda h = Altura do dente h, —_ - Altura da cabega do dente - Altura da cabega do dente da ferramenta de corte - Altura do pé do dente iar Médulo do buril = médulo normat ~ Médulo aparente (transversal) (m, / cos p) n - Passo primitivo de corte = passo primitive normal - Passo de base aparente (p,¢0s. a) - Passo primitivo aparente (p,/ cos 9) - Espessura do dente do buril (89 = §,, espessura normal do dente) - Espessura normal da cabeca do dente ~ Espessura aparente do dente (s, / cos 6) - Razo de engrenamento ~ Velocidade linear - Velocidade de escorregamento ~ Coeficiente de desvio (desvio) z - Némero de dentes z = NUmero de dentes minimo para evitar a interferéncia de corte z, — - Némero de dentes virtuais (z / cos? p) F, _ - Carga nominal tangencial transmitida sobre o primitivo K —_- Factor de alteragao da cabeca dos dentes W —~Cota tangencial sobre k dentes Gg=dp - Angulo de pressao de corte = Angulo de pressao normal a, — - Angulo de pressao aparente (tan a, = tan o,/ cos 8) a’, — - Angulo de pressao aparente de funcionamento 6 = Angulo de hélice primitiva Eq _~ Razao de condugao aparente & _ ~ Razao de condugao complementar (de recobrimento) (b tan 6 M(st m,)) ey —_ ~ Raz4o de condugao total Pao ~ Raio de concordancia da ponta da cabega da ferramenta o4 — ~ Pressao superficial © = Velocidade angular inv a = Involuta de a (tan « - a) indicet - para quantidades associadas & menor roda_da engrenagem (PINHAO) indice2 - para quantidades associadas a maior roda da engrenagem (RODA) {80S - CETAIB- EME! - FEUP - 1901 INTRODUGAO Em teoria, os dentes das rodas dentadas podem apresentar multiplas formas e pertis. ‘As curvas consideradas mals apropriadas para a execuedo dos flancos dos dentes sao: a cicloide, a epicicioide, a hipocicioide, a pericicloide @ a evolvente de ofroulo. As quatro primeiras curvas sao, teoricamente, mais exactas, apresentando as engrenagens nelas baseadas um atrito entre dentes e um desgaste muito pequenos. No entanto, a necessidade da existéncia de um entre-eixo de funcionamento rigorosamente igual & distancia entre eixos normal, para que o engrenamento se faga de forma correcta, levaram a0 dosintoresse da sua utllizagao na esmagadora maioria das aplicagdes industrials. Actualmente, a sua utilizagao cinge-se a certas engrenagens de relojoaria, alguns mecanismos muito pequencs, compressor Root € pouco mais [1,2]. Em contrapartida, o dentado em evolvente de cfroulo tem a vantagem de permitir um funcionamento perteito mesmo quando a distancia entre eixos varia dentro de certos limites. G. Grant, no seu "Tratado de Engrenagens" (1890), mostrou as vantagens do perfil em evolvente comparativamente ao cicloidal [3]. As primeiras rodas com perfil em evolvente eram sempre concebidas para funcionar, tal como as cicloidais, com um entre-eixo normal. Este tipo de engrenagens continua a ser recomendado para sistemas mecanicos correntes, cuja principal caracteristica seja a necessidade de intermutabilidade, No entanto, a utilizagao de engrenagens de dentado normal 6 cada vez mais restrita, sendo a maioria das rodas dentadas projectada para responder eficazmente aos requisitos de cada aplicagao particular. © projectista de uma engrenagem tem uma razoavel flexibilidade na escolha dos valores das distancias entre eixos, espessuras dos dentes @ didmetros dos corpos das rodas. A nica restrigao que deve, normalmente, ser aceite é a de as rodas serem talnadas recorrendo apenas a ferramentas normalizadas. ‘As engrenagens que funcionam, por exemplo, com uma disténcia entre eixos n&o normal, diferem em varios aspectos das concebidas para operarem com um entre-cixo normal. A principal vantagem das engrenagens de perfil em evolvente de circulo ¢ a Possibilidade da talhagem de rodas com dentes de perfil ndo normal, designadas por rodas de dentado corrigido, com ferramentas normalizadas. 1+ A GEOMETRIA DO DENTADO COM PERFIL EM EVOLVENTE DE CIRCULO 1.1 = O Dentado Normal A figura 1.1 define os elementos geométricos da cremalheira de corte normalizada e do dentado, no caso particular de Bi = 0 (dentado recto), de rodas para engrenagens cilindricas de mecinica geral ¢ mecanica grosseira [2, 4, 5). Lina de roferdned Sa PrInAUra Er rte Figura 1.1 - Elementos geométricos da cremalhelra de corte normalizada e do dentado normal. Um dentado normalizado diz-se normal quando, durante a sua geragao, a linha primitiva de talhagem (corte) da cremalheira de corte coincide com a sua linha de referéncia, que ¢ 0 lugar geométrico em que as espessuras dos dentes sq ¢ 0s respectivos intervalos eg S20 iguais a metade do passo primitivo Pp, Isto 6, 89 = eq = T Mo /2. 1.2 - Dentado Corrigido Um dentado normalizado diz-se corrigido, quando a linha primitiva de talhagem da crematheira de corte nao coincide com a sua linha de referéncia. Uma anélise efectuada num plano perpendicular ao eixo da roda (secgao transversal), para possibilitar um tratamento unificado dos dentados recto e helicoidal, permite verificar que, no primitivo de talhagem, 8;#€,, como mostra a figura 1.2 Figura 1.2 - Comparacio entre dentados: a) Dentado normal (x = 0); b) Dentado corrigido positivamente (x > 0); 6) Dentado corrigido negativamente (x < 0) ‘As nogdes de linha e diametro primitive de corte s8o essencialmente cinematicas, estando ligadas a condi¢ao de rolamento sem escorregamento entre a ferramenta de corte @ a roda a talhar, 0 que implica a iqualdade de arcos percorridos, nos dois corpos, pelo ponto de contacto, figura 1.3. O diametro primitivo de corte 6 um valor bem definido, fundamentaimente imposto pelo médulo do buril e expresso por, d=zm,/ cos B (aay f \ asae1z = a) ») Figura 1.3 - Movimento de geracao do dentado em evolvente de circulo, A correceao do perfil dos dentes em evolvente de circulo pode ser obtida através de qualquer processo de geragao por cremalheira de corte, fresa-mae ou buril-pinhdio. ‘A soma dos raios primitivos de corte das duas rodas de uma engrenagem define 0 entre-eixo normal a= (2, +29) my! (2 cos B) (1.2) Quando 0 entre-eixo de funcionamento de uma engrenagem 6 igual ao seu entre-eixo normal, 0s circulos primitivos de funcionamento contundem-se com os circulos primitivos de corte. Naturalmente que, para ter um funcionamento correcto com entre-eixo normal, as espessuras 811 € Sip dos dentes das duas rodas, nos primitivos de corte, devem satisfazer a relagdo 84, + 8 = x m, Sempre que 8; + 82% 7 Mm, , 0 entre-eixo de funcionamento deverd ser diferente do entre-eixo normal Assim, se as duas rodas de uma engrenagem sao de dentado normal, 0 seu entre-eixo sera normal. Se as rodas tiverem dentado corrigido, podem ocorrer duas situacoe: a) O entre-eixo de funcionamento 6 igual ao entre-eixo normal - correcgéo de dentado sem variagao de entre-eixo; b) O entre-eixo de funcionamento 6 diferente do entre-eixo normal - correceao de dentado com variagao de entre-eixo. A modificagao (correcgao) do perfil dos dentes em evolvente de circulo obtidos por geracdo através da varlacao do posicionamento radial da ferramenta de corte, corresponde a alterar o entre-eixo de funcionamento da operagao de corte. As fresas de forma s6 sao usadas para talhar engrenagens que vao operar com um ‘ontre-eixo normal. Estas fresas sao concebidas de modo a que a espessura dos dentes no primitivo seja igual a metade do passo circular, com uma pequena reducdo de modo a permitir a existéncia de uma folga de engrenamento, designada na literatura inglesa por “backlash” [3]. Uns = CETAID = DEMEGI FEUP 1991 Por convengao, considera-se que a correccao do dentado é positiva quando a linha de referéncia da cremalheira de corte & exterior ao citculo primitive de corte da roda, & negativa no caso contrario, figura 1.2. A distancia entre estas duas linhas designa-se por desvio ou correceao absoluta @ & expressa em milimetros. O quociente desta grandeza pelo modulo do buril my designa-se por desvio, correceao relativa ou coeficiente de desvio x. = Correcgao de dentado sem variac¢do de entre-eixo (© functonamento de uma engrenagem com entre-eixo normal obriga a que a soma dos desvios impostos as duas rodas deva ser nula, xX, +%_=0 (1.3) Na tabela 1.1, resumom-se as caracteristicas dos dentes de uma engrenagem cortigidos nestas condicdes, comparativamente ao dentado normal. A justificagéo para a atribuigao de um desvio positivo ao pinhdo e negativo & roda pode ser encontrada nas secgbes seguintes. Dentado_normal Dentado_corrigido (x1_+ x2 = 0) Pinhao e Roda Pinhao Roda. ha=M a= Mn+ 41 My ha = My > X2 Mp he= 1.25 my fy = 1.25 my = x1 Mn y= 1.25 mp + x2 My h= 2.25 my h= 2.25 my he 25 my a = (24+Z2) ma M(2cosB) {z4+22) Mp I (2 cos) oe = a oh = a Tabela 1.1 A espessura dos dentes medida nos circulos primitives de corte, na sua seceao ‘transversal, est modificada de uma quantidade 2 x my tan ay. A variagdo da espessura, medida numa secgao normal do dente segundo a direcgao normal ao perfil, ou seja, a variagao da espessura sobre © circulo de base, vem expressa por 2x m, Sin Gp, 0 que vai influenciar a cota nominal de controlo tangencial sobre k dentes w ke AUS - CETAI-DEMEG! - PEUP = 1991 1.4 - Correcgao de dentado com variacdo de entre-eixo ‘Como se constataré mais adiante, por vezes, torna-se necessério abandonar o entre eixo normal, adoptando desvios x, © x, para 0 pinhdo ¢ roda, tals que a sua soma algébrica vem diferente de zero; Xytmy>0 —> ara Xp tQ axa Convem referir que a diferenca entre o entre-eixo de funcionamento a’ ¢ 0 entre-eixo normal, ou seja a modificagao do entre-sixo, 6 sempre menor que a soma dos desvios efectuados sobre o pinhdo e a roda, figura 1.4, para que nao haja folga no engrenamento quando se consideram apenas dimensdes nominais, logo: a -a<(x,+X2) My (1.4) Jl ake Stone ss tte re cy Figura 1.4 - Correccao de dentado com variagao de entre-eixo. Atendendo a que [2]: Inv a’, = inv oy + 2 tan ay (Ky * Xp) / (24 + 29) (1.5) @ determinando a’, recorrendo a uma tabela de involutas, através do método numérico de Newton ou por resolugao da expressao [3]: a = are cos (1.0 / (1.0 + 1.04004 q + 0.32451 q? - 0.00321 q3 - 0.00894 g4 + + 0.00319 g5 - 0.00048 q8)) em que, q = (inv a) 2/3; © entre-eixo de funcionamento vem expresso por: 608 4/608 0’ (1.8) Quando se aproximam as duas rodas de modo a funcionarem com um entre-eixo a’, a folga normalizada no fundo dos dentes ¢ = 0.25 my diminui, a menos que se diminua a altura do dente de uma quantidade, K =(B-B,/ cos 6) (2, + 2) /2 (1.7) em que: B= 2 (x; + x5) I (24 + 2) (1.8) e B, = (cos a;/ cos a’,) - 1 (1.9) Na tabela 1.2, resumem-se as modificagées nas proporgdes do dentado devidas as correcgées dos dentes do pinhdo e da roda. Os valores de x; @ x devem ser considerados: nestas expressoes algébricamente, Dentado_corrigido (Pinhdo e Roda : x1 + x2 + 0) of ict.2 hg = My +X) My - K My Si Mm (x) 2 + 2 x\tan ) hg = 1.25 my, - x) my ey = My (J 2 - 2 x; taN ay) dq = Mp (2 008 B + 2+ 2xj- 2 K) ava dy = Mp ( / 60S B -25 +2 x) oh + aw Tabela 1.2 Convém referir que uma das caracteristicas mais aliciantes do perfil em evolvente de circulo 6 a possibilidade da existéncia de um entre-eixo de funcionamento diferente do entre- eixo normal, com a consequente alteragéo dos diémetros primitivos de funcionamento, no alterar a razio de engrenamento da engrenagem, j4 que os diametros de base dy, nogao cinematica intrinseca de cada uma das rodas nao sofrem alteragao. 2p 12 = Wy! Wy = Opp! dys (1.10) ‘As consideragbes tecidas acerca dos desvios x, @ x» de uma engrenagem, a0 tongo deste texto, sao feitas com base nos seus valores nominais, que possi tedrico com uma folga entre dentes nula. A especificacéo das respectivas tolerancias associadas a qualidade de fabrico pretendida e dos desvios necessérrios & fixagao dos valores lam um engrenamento {hus - CETRIS-DEMEGI-FEUP - 1801 limite maximo @ minimo da folga de engrenamento, imprescindivel ao real funcionamento de uma engrenagem, bem como a referéncia aos respectivos meios de verificago, serao objecto de uma abordagem em trabalho posterior. 2 - CARACTERISTICAS FUNDAMENTAIS AQ FUNCIONAMENTO DE UMA ENGRENAGEM 2.1 - Razdo de Condugao ‘Chama-se razo de condugao (aparente, no caso do dentado helicoidal) €_, ao quociente ‘do comprimento de engrenamento AB pelo passo de base Pye rapresentados na figura 2.1: Eq = AB! Pye (2.1) Figura 2.1 - Engrenagem em que 1 < Eq <2. ‘Uma azo de condugdo grande proporciona um engrenamento mais suave e uma maior capacidade de carga. €q deve ser sempre maior do que 1.0. A norma NF E 23-018 [6}, indica que a raz€o de conducao deve ser sempre igual ou superior a 1.3 (Se Zp / 21 > 5, Ey = 1.26 aceitavel) Se Eq < 1.0, 0 par de rodas engrena com chogue. Quando 1.0 < €q < 2.0, erros de passo circular © de pertil do dente podem ainda originar o aparecimento de choques. Mas s9 2.0 < Eq, < 3.0, esta possibilidade diminul. Com um Angulo de presséo de 20°, 4 nunca é superior a 2.0, valor que pode ser ‘obtido com dig 15° (no entanto, este angulo 6 desfavorével para outras caracteristicas importantes da engrenagem) [7]. Relativamente a capacidade de carga de uma engrenagem, constata-se que 0 ponto mais, esforgado de um dente ao longo da linha de engrenamento , 0 ponto V, (onde, na secgho ‘transversal, 0 nimero de pares de dentes em contacto passa de um para dois, quando, por us -CETRIS- DEMEGI FEU 191 10 exemplo, 1.0 < &q < 20, figura 2.1), deve estar 0 mais préximo possivel do ponto | (tangéncia dos cfrculos primitives). © Método 1SO de determinagao da resisténcia & rotura dos dentes considera, para efeitos de calculo, uma carga nominal tangencial F, transmitida sobre 0 diametro primitivo de corte, na secgao transversal, multiplicada pelo factor 0.25+0.75 | &q, 0 que demonstra 0 interesse em aumentar Eq [8,9]. Para além do recurso a correcgao do dentado, a razdo de conducdo pode ser aumentada através dos seguintes processos: a) Allerago das proporges do dentado, em particular, aumentando a altura da ‘cabeca do dente. $6 por si nao 6 utiizada, por raz6es de resisténcia da base do dente, mas conjugada com uma modificagdo de perfil, da origem aos designados ‘dentes altos’ que podem permitir a obtengao de valores de € maiores do que 2.0, b) Diminuigéo do angulo de pressao, permitindo aumentar o comprimento de ‘engrenamento. ¢) Aumento isolado, ou simultaneo, de z, © 22, mantendo 0s diémetros primitivos constantes. © passo de base diminui, apesar da consequente diminuigao do médulo provocar uma diminuigao, embora menos significativa, do comprimento AB, ) Recurso a0 dentado helicoidal. © aproveltamento da razao complementar 5, resultante da linha de contacto dos dentes néo ser paralela aos eixos da engrenagem, permite obter uma razéo de conducao total « superior a razao de condugao aparente €_. Para utilizar com proveito uma engrenagem helicoidal, c deve ser superior a 1.0. O aumento de eg 6 fungdo do aumento da largura b, limitada por consideragdes de resisténcia © desgaste, de 6 limitado pelo aumento da componente axial da forga transmitida pela engrenagem. 2.2 - Escorregamentos especificos Como se pode observar na figura 2.2, os escorregamentos especificos num ponto M de contacto de dois perfis conjugados resultam das razes entre a velocidade de escorregamento dos pertis aparentes @ a velocidade de cada perfil na direcgéo da tangente comum nesse porto, sendo definidos por: Gorm = (er = Ved) EV Gea, = Wri~ Ved I Veo (2.2) Esta caracteristica 6 um factor preponderante no desgaste dos dentes. Constata-se [2, 4], que estes escorregamentos estao muito desequilibrados no pinhdo © na toda. A figura 2.3 mostra que © escorregamento especifico atinge um valor muito importante no pé do pinhao & um valor muito mais baixo no pé da roda. Existem métodos de correcgao de dentado que permitem equilibrar os escorregamentos especificos nos pontos limite de engrenamento, com evidente beneticio no comportamento ao JAiS - CETAIB-DEMEGI - FEUP 191 "1 desgaste da engrenagem. Para tal, basta determinar os desvios que permitam equilibrar, em valor absoluto,a igualdade entre dy1,8 © Is2,a? (022 T2B = @y TB) 7 (wy TyB) = (wy THA = 2 TaA ) 1 ( 2 T2A ) (2.3) Oy Figura 2.2 - Velocidades num ponto do engrenamento. 2.3 - Gripagem Numa engrenagem, as condiedes combinadas de pressao superficial ¢ de velocidade de escorregamento podem tomar-se propicias ao desenvolvimento de uma temperatura do contacto muito elevada, suficiente para provocar a rotura do filme de Oleo, produzindo-se ‘assim um contacto metal / metal, aumentando a probabilidade de ocorréncia de uma avaria de gripagem. A gripagem manifesta-se entéo por meio de arrancamentos de metal, na direcgo do escorregamento entre dentes. Almen introduziu 0 produto oy Vg (factor de Almen) para ‘quantiticar este efeito. Henriot demonstrou [2.4.7] que, equilibrar os escorregamentos especiticos nos pontos extremos do engrenamento equivale a igualar os factores de Aimen nesses mesmos Pontos 9, consequentemente, fazer baixar 0 seu valor maximo, figura 2.3. A igualdade dos escorregamentos especificos dos tactores de Almen em A B, pressupoe a utilizacao do mesmo material para 0 pinhao e a roda. Esta situacdo ocorre geralmente em aplicagées importantes da indistria automdvel, aviagao, maquinas- ferramenta, etc. No entanto, em mecanica geral é frequente a construgao do pinh&o ser feita num ‘material um pouco mais resistente do que o da roda. A utilzagao do procedimento em questao Sobredimensiona 0 pinh&o em termos de escorregamentos especificos. Tal situagéo 6 “aks - CET - DEVEGI-PEUP - 191 12 vantajosa, pois neste tipo de aplicagoes a utilizagao de diferentes materials prende-se com a existéncia de razdes de engrenamento importantes, @ $0 por si, normalmente, nao melhora muito a resisténcia do pinhao & rotura e ao desgaste. Figura 2.3 - Varlagdio dos escorregamentos especitices, factor de Almen, press&o superticial e carga transmit 1a. a) Dentado normal. b) Dentado corrigido. Henriot afirma que, apesar dos factores de Almen terem visto baixar 0 seu nivel de aceitagao, devido a sua simplicidade, a sua utilizagao na determinacao do patamar de gripagem em aplicagbes bem especificas é de grande utilidade, propondo mesmo alguns valores limite para Oy Vg, [2)- 2.4 - Capacidade de carga da engrenagem A capacidade de carga a pressao superficial (ligada as avarias de "pitting") e € rotura (tenstio na base dos dentes) melhoram com o aumento da soma dos desvios. A espessura na base dos dentes aumenta e a espessura normal da cabega diminui, mantendo constante a altura dos dentes. Um valor demasiado elevado de x pode levar mesmo ao aparecimento de um dente Pontiagudo e encurtado. A espessura normal da cabeca dos dentes n&o deve ser nunca inferior a 0.2 my. As roferéncias [2,8,10] fornecem indicacdes mais pormenorizadas sobre este tema. US -CETRIB- DEWEGI- FEU 1991 13 2.5 - Folga no fundo dos dentes Sempre que o entre-eixo de funcionamento 6 diferente do entre-eixo normal, a manutengao da folga normalizada no fundo dos dentes (¢ = 0.25 m,), figura 1.4, Implica uma redueao K da altura da sua cabeca, obtida através da expresso (1.7). Uma diminuigaéo exagerada da folga ¢, associada a somas de nimeros de dentes pequenas ou a pequenos médulos, pode provocar a ocorréncia de fenémenos nefastos durante 0 funcionamento da engrenagem, tals como: interferéncia, compressao do lubrificante, etc. G. Henriot [7] afirma que, por exemplo, para um médulo m, = 1 mm, uma folga de 0.25 mm é bem necesséi No entanto, para médulos de valor mais significativo, é possivel permitir uma redugéo da folga ¢ até um valor de 0.10 m, (excepcionaimente 0.05 m,) [6,10]. Este procedimento permite aumentar a altura do dente , consequentemente, melhorar a razdo de ‘condugao aparente da engrenagem. 3 - UTILIZAGAO DA CORRECGAO DE DENTADO NA MELHORIA DAS CARACTERISTICAS DE FUNCIONAMENTO DAS ENGRENAGENS: 3.1. - Introdugao Desde que em 1889, Lasche demonstrou empiricamente 0 interesse da corracgao do dentado para a duragao de vida das engrenagens dos cartos eléctricos, varios estudos geomeétricos, cinematicos e dinamicos de engrenagens permitiram verificar a importancia da correcgao de dentado relativamente a todas as suas caracteristicas. ‘Atendendo a que certas caracteristicas fundamentais a considerar no funcionamento de uma engrenagem sao contraditérias, néo se pode pretender determinar condicdes normalizadas de correceao de dentado que sejam as melhores em todas as aplicagbes. Assim, por exemplo, nas engrenagens de uma turbina a trabalhar a velocidade elevada, em que o siléncio de funcionamento 6 fundamental, a razo de condugéo tem uma grande importancia. Para além do aumento do seu numero de dentes, a utilizagao de um angulo de pressdo mais baixo que 0 normal ¢ uma altura de dentes maior do que a altura normalizada contribuem positivamente para o tipo de funcionamento pretendido. Por outro lado, analisando as engrenagens de um laminador, em que o problema do ruido 6 secundario, constata-se que aquelas condigdes de funcionamento so destavoraveis, j4 que a sua velocidade 6 baixa @ a sua resisténcia a rotura 6 a caracteristica fundamental. JAUS - CETAIS- DEMEG! - FEUP 801 14 Nao 6 pois possivel estabelecer um sistema de correcgao aplicdvel em todas as situagdes, mas apenas desenvolver sistemas que fomecem solugdes satisfatérias em problemas correntes. Niemann e Winter enumeraram todos os sistemas de dentado que sucederam ao sistema de dentado normal de Willis (1841) com um Angulo de pressao de 14° 30’, A sociedade Maag (Suica) foi a primeira a tomar comum 0 emprego de um sistema de correceao racional. Maag desenvolveu um sistema de correcgao de dentado com vatiagao de entre-eixo, para ay = 15°. O dentado Stub (ag 0.8 mp), normalizado em 1932 (ASA. B.6.1 - 1932), permitiu baixar o nimero de dentes limite minimo sem interferénoia, mas as suas qualidades globais revelaram-se insuficientes. As normas DIN 867 a 870 estabeleceram um sistema com hg normal, ag = 20° 6 correcgao de dentado permitindo evitar as interferéncias. Mais tarde, a BSS 436 - 1940 estabeleceu um sistema que propunha uma correcgao de dentado com variagao de entra-eixo, quando a soma do niimero de dentes da engrenagem era ‘menor do que 60 @ uma correcgao de dentado sem variagdo de entre-eixo quando essa soma era igual ou superior a 60, [7]. Neste texto, apresentam-se, sucintamente, alguns dos sistemas de correccdo de dentado mais difundidos, fazendo-se uma breve referencia as suas vantagens e inconvenientes que serdo explicitados com os exemplos numéricos que se seguirao. 3.2 - Correcgéo de Dentado sem Entre-eixo Imposto 3.2.1 - Sistema de Correcc4o tendo em conta a Eliminagao da Interferéncia de Corte A primeira utiizagao do dentado cortigido esté ligada & luta contra as questées da Iinterteréncia. Durante muito tempo, este problema fol evitado gragas ao emprego de dentes “baixos’ (tipo Stub ou Fellows), actualmente abandonados apesar da sua boa resisténcia & flexao, pois provocam uma diminui¢ao grande da razéo de condugao, caracteristica muito imponante nas engrenagens modemnas. ‘© numero de dentes minimo 2° de um pinhao talhado, por cremalheira ou fresa-mae, ‘sem interferéncia 6 expresso por: Zz 2 ( (Mao ~ Pao (1 = sin ap) ) J mg ) cos BF sin? a (3.1) Em engrenagens de dentado recto © com uma cremalheira de altura activa unitaria, 2° toma os seguintes valores: 17 (0(=20°), 22 (dig=17° 30°), 30 (ag=15°). Assim, sempre que z; ou 2; @ Z9 S40 Menores do que 2’, tem-se: huss CETRIG- DEMEGI-FEUP - 19 15 a) Se 2, + 22 < 2.2" - correcedio com variagao de entre-eixo. xy (2-212 (3.2) Xp = (2-2) 17 b) Se zy + 2p 2 2 2° - correcgao sem variagao de entre-cixo. X= (2-2) lz (3.3) XQ =X Este sistema, permitindo a eliminacao da interferéncia de corte, constitula a base do antigo sistema DIN 870. No entanto, a sua utilizagéo néo é mais aconselhdvel, por nao contemplar a correccéo do desequilibrio, em termos de escorregamentos especificos ¢ de pressdes superficials, existente nos pontos extremos da linha de engrenamento, que condiciona a resisténcia ao desgaste das rodas da engrenagem [2]. Os desvios calculados por este sistema devem ser considerados apenas como valores minimos. 3.2.2 - Sistema proposto pelo Secretariado da ISO / TC60 - Engrenagens Este sistoma, proposto polo secretariado da ISO / TC60 - Engrenagens, presidido por H. Deby, esteve na origem dos trabalhos de normalizacdo dos desvios (1954) que levaram & elaboragao do relatério técnico ISO/TR 4467 - 1982 {10}. (© dentado helicoidal _conduz a condig6es de interteréncia menos severas do que o dentado recto, ja que o angulo de pressao aparente 6 mais elevado do que o Angulo de pressao da ferramenta de corte, 0 que afasta 0s pontos de interferéncia T, © T2 do ponto primitivo (figura 2.3). Isto permite afirmar que as condigdes de escorregamento especitico, de pressao ‘superficial e do factor de gripagem melhoram sobretudo na zona do pé do pinhao. Assim, uma determinada 32, com dentado helicoidal, necesita de menores desvios do que igual soma de dentes rectos. A consideracao de nimeros de dentes virtuais z, revela-se uma regra pratica ‘Suficiente para permitir uma abordagem unificada das engrenagens cilindricas. a) Se zyy > 30 - dentado normal. b) Se 21 + 2yp > 60 - corecgao sem variagao de antro-eixo. x 0.08 ( 80 - 2; ) (3.4) XQ = ©) Se zy + Zy2 < 60 - correcgdo com variagao de entre-eixo. 16 Xy = 0.03 ( 80 - 2) (3.5) Xp = 0.08 ( 30 - 2y2) mas, quando 32y<30, ( x, + Xp) < + 0.90. No entanto, o relat6rio ISO/TR 4467 elevou, posteriormente, o valor imite superior recomendado para 1.0. Para valores de 2, demasiado pequenos ou relativamente elevados, os valores caloulados de x, ¢ Xp afastam-se ligeiramente dos valores preconizados pelo documento citado. Este sistema 6 particularmente simples @ da bons resultados quando aplicado a problemas de Mecnica Geral [7], apesar do relatorio técnico ISO/TR 4467 vir alterar pontuaimente alguns detes, 3.2.3 - Sistema de Correcgdo de Henriot ‘oma proposto por G. Henriot [4], foi estabelecido com base nos seguintes - Equllibragem dos escorregamentos especificos maxiMOS, dgy,p © Byz,a- NO pinh&o ena roda; ~ Equilibragem dos factores de Almen cy Vg nas extremidades da linha de ‘engrenamento. Este sistema de correcgao, normalmente apresentado em abacos como o da figura 2.1, Para 2, @ Zyg 2 10 € ap= 20°, pode também ser implementado num algoritmo de resolugao numérica. a) Se 2,1 + 22 ® 60 - correccao sem variagao de entre-cixo. X; = - Xp, de modo a equilibrar gg, @ g.em Be A. b) Se 21+ Zy2 < 60 - correcgao com variagao de entre-sixo. X, # Xz, de modo a equilibrar gg; € 9g em B 8 A, conservando a folga normal (c=0.25 m,) no fundo dos dentes. A especificacao de yzy-60, como valor limite inferior para a aplicagao de uma correceao de dentado sem variagao de entre-eixo, permite que 0 valor maximo dos escorregamentos especificos nao seja superior a 3.0, mesmo para uma engrenagem com um pinhio de niémero de dentes pequeno, a menos da zona em que 2y1 ® Zy2 $40 simultansamonte muito pequenos. 17 x tad Byg 30 +4 — Roda. Bat By? Figura 3.1 - Sistema de correccdo de Henriot, Este tipo de correcgao leva a um aumento do Angulo de pressao de funcionamento @ a uma diminuicao da altura da cabega dos dentes para manter a folga no fundo dos dentes, dois factores que tendem a diminuir a razao de condugao, cujo valor é j4 baixo para somas de dontes poquenas. zy 20 18 16 h 2 10 10 12 % 16 1% 20 22 24 26 28 30 Figura 3.2 - Sistema de correcgéo de Henriot para Ezv < 30. Iau - CETAIB-DEMEGI-FEUP -r081 18 Impondo que q, deve ser sempre maior ou igual a 1.2, torna-se necessario modificar os valores dos desvios quando zy +2y < 30, figura 3.2, Nos Abacos referidos, a igualdade da resisténcia & rotura do pinhao @ da roda foi contemplada. 3.3 - Correcgdo de Dentado com Entre-eixo Imposto. Na pratica, hd casos em que uma engrenagem 6 obrigada a trabalhar com um entre- eixo diferente do normal, em geral por razdes construtivas. Tal situagdo aparece com frequéncia em caixas de velocidades ¢ em trens epicicloidals. Nas caixas , por exemplo, cada mecanismo elementar deve assegurar diferentes razées de transmiss8o que, por vezes, nao podem ser satisteitas de forma a que as somas dos nimeros de dentes das suas diferentes engrenagens, com igual médulo, sejam todas iguals. Trata-se, portanto, de situagdes em que o entre-eixo de funcionamento 6 diferente do normal. Conhecido a’, pode determinar-se ct’, através da expressao (1.6) ¢ em soguida obter a soma dos desvios x,+xp recorrendo a (1.5). valor desta soma deve ser verificado recorrendo ao relatério técnico ISO/TR 4467 que fomece solugées adequadas para engrenagens de mecanica geral, com a= 20°, zy > 6 & zz, Sempre 2 20 e de preferéncia > 24. A figura 3.3 fornece 0s limites convencionais @ recomendados de x,+x, @ zonas para casos especials em que uma verificagao das condig6es de funcionamento da engrenagem se torna necessaria. A diferenga entre o entre-eixo de funcionamento @ 0 entre-eixo normal fica assim limitada. [canoe especinis ine conan dade ror Gaves tepecials cferesece a Pe “a4 <8) a a a a tals € recomendados de Zx e zonas para casos especiais. Figura 3.3 - Limites convenci DeMEa:- Feu - 18 Por sua vez, a norma NF E 23-013 [6], especifica, de acordo com a experiéncia dos t6cnicos franceses, a influéncia dos desvios sobre certas caracteristicas da engrenagem, como se pode obsorvar na figura 3.4. O aumento de »x corresponde a um aumento da capacidade de carga & rotura @ qualquer diminui¢&o implica um aumento da razdo de conducéo. No entanto, fora dos limites convencionals, a detetminagao dos desvios necesita de um estudo especial. ‘ork Be ngmajon lamenice grat Figura 3.4 - Zonas preferenciais para aplicagées especiticas. A soleccaio de cada um dos desvios pode ser feita recorrendo aos documentos técnicos reteridos, através das expressoes: X= A U= 1s (Ut Nt ERI (uF 1) (3.6) Xg EX em que u = 29 / 2; 6 a raz8o de engrenamento. Se u 2 5 0 célculo deve ser feito tomando u=5. O valor de A deve estar compreendido entre os seguintes valores: 0.5 < d < 0.75 - em engrenagens redutoras. 0 valor de A aumenta quando yzy diminui; 0.0 < ) < 0.50 - em engrenagens muttiplicadoras. G. Henriot [2] preconiza neste caso um valor = 0.0. © procedimento adoptado é resultado da consideracdo do efeito negativo do atrito no ‘engrenamento. A aceao F do dente da roda mandante sobre o dente da mandada nao & dirigida segundo a linha de engrenamento, mas esta inclinada do valor do angulo de attito, figura 3.5. Atendendo a que F tende a dirigir-se para 0 eixo do orgéo mandado, durante 0 periodo de aproximagao, este deve ser diminuido, impondo a roda mandada o desvio menor possivel. Para uma dada soma de desvios, isto corresponde a escolher para a roda mandante 0 desvio maior possivel, que tem como consequéncia 0 aumento simultaneo do comprimento de afastamento, de modo a evitar a diminuigao dréstica do rendimento das engrenagens. Estas condiges favoraveis s4o autométicamente realizadas em engrenagens redutoras, com o aumento de hy do pinhao em detrimento da roda. JAS - CETRI -DENEAI- FEUP 1901 20 mevide Pinhio Figura 3.5 - Efeito do atrito na direcr&o da forca de engrenamento F. © mesmo procedimento nas engrenagens multiplicadoras revela-se negativo. Se a razio de engrenamento 6 importante @ o numero de dentes do pinhao 6 pequeno, o suporte de F aproxima-se perigosamente do elxo do pinhdo, verificando-se um mau rendimento ou mesmo © encravamento da engrenagem. Assim, deve escother-se sempre um desvio o mais pequeno possfvel para a roda mandada. Numa engrenagem muttiplicadora, uma boa solugéo pode consistir na utiizagao de um dentado praticamente normal, em que o pinhao deve ter um nimero de dentes sempre igual ou superior a 30. = ~ (ee ot eipetiais ‘ne Rcd por oo » ©» @ 7 Figura 3.6 - Limites convencionais @ recomendados de x © zonas para casos especiais. 24 A figura 3.6 apresenta os limites convencionais @ recomendados para x, © X2 , bem como zonas para casos especiais para as quais se torna necessario proceder a verificagoes sobre as caracteristicas de funcionamento, atendendo a que: um desvio demasiado baixo pode dar lugar a uma interferéncia de corte; um desvio muito elevado pode produzir um dente pontiagudo ou mesmo encurtado [10}. 4 - EXEMPLOS DE APLICACAO ‘Seguidamente, apresentam-se alguns de exemplos de aplicagao dos concaites expostos. Os valores indicados foram obtidos por intermédio de um algoritmo de resolugéo numérica desenvolvido na Unidade de Tribologia ¢ Manutencao Industrial - CETRIB, do DEMEGI. Este algortmo permite a definicao da geometria das rodas dentadas cilindricas de uma engrenagem paralela de dentado com peril em evolvente de circulo, para mecanica geral @ mecanica grosseira. , ‘A partir da prévia definigaio dos parametros independentes de uma engrenagem 6 possivel determinar, entre outras coisas, os coeticientes de desvio © as caracteristicas da ‘geometria do engrenamento 4.1 - Correcgdo sem entre-eixo imposto a) 21 = 125 z = 12; aq = 20% f = 0° my = 5; ¢ = 0.25 m, [sistemas |x1+x2| x1 | x2 | gsi | ose | ca | Kk | Sant | Sena lHenriot +0.620/+0.310/+0.310| 3.27 | azz | 1.208 | 0.080 | 2.768 | 2.768 lEquit. gsi __|+0.970| +0.485|+0.485| 2.94 | 2.94 | 1.106 | 0.168 | 2.861 | 2.861 liso/tc6o~ |+0.900] +0.450] +0.450| 2.53 | 2.63 | 1.126 | 0.148 | 2.831 | 2.831 lintert_corte|+0.588| +0.294|+0.294} 3.92 | 3.92 | 1.217 | 0.073 | 2.768 | 2.768 Normal oo | oo | oo J e+ prs tre tre | re pet Tabela 4.1 (* Métedo do Deby ; ** Rodas com interieréncia de corte) Neste exemplo, em que 22, < 30, verifica-se que uma correccao de dentado que s6 tenha em vista 0 equilibrio ¢ diminuigao dos valores dos escorregamentos especificos pode originar uma razao de condugao interior ao limite minimo, geralmente considerado como necessério ao bom funcionamento de uma engrenagem. INS - CETRIB- DEVE! - FEUP - 901 22 No entanto, a observacao das figuras 3.3 e 3.6 permite concluir que o ISO/TR 4457 privilegia a diminuigo dos escorregamentos especificos em problemas correntes. u by zy = 10; 2 = at 0°; mp = 5; ¢ = 0.25 m, lsiatamas |xs+xa| x1 | x2 | gor | os2 | co | Kk Henriot +0.283| +0.865) -0.922] 2.71 | 2.71 | 1.354 | 0.007 is0/TC60-"| +0.120| +0.600] -0.480| 2.13 | 3.03 | 1.961 | 0.002 lintert corte} 0.0 | +0.410}-0.410| 15.72] 2.85 | 1.495] 0.0 Normal oo | 00 | oo Jere |rre| ree | ree lsosrraae7-| 0.0 | +0.482| -0.482| 5.62 | 3.02 | 1.410] 0.0 | 1.078 | 4.157 Tabola 4.2 ¢ Som variagao do entre-cixo; ** Método da Deby; * Pinhao talhado com interteréncia da corte) Este exemplo, para além de mostrar que a obtengao de escorregamentos especificos inferiores a 3.0, quando yz, < 60, necesita do recurso a uma correcgao com variagao de entre-eixo, permite também verificar que isso conseguido, neste caso em que z; = 10, a custa de uma espessura normal da cabega do pinh3o Saq; inferior 2 0.2 m,, cor indicagdes do ISO/TR 4467 [10]. mando as ©) 2) = 125 Zp = 100; ay = 20°; B = 0% mp = 5; 6 = 0.25 my Iststomas [xy+x2| x1 | x2 | 991 | os2 | eg | Kk | sant | sane | lHenriot 0.0 |+0.539]-0.539| 1.95 | 1.95 | 1.442] 0.0 | 1.265 | 4.196 isovrceo- | 0.0 | +0.540]-0.640] 1.94 | 1.95 | 1.442] 0.0 | 1.262 | 4.196 lintert_corte] 0.0 | +0.204|-0.204| 25.42| 1.66 | 1.938] 0.0 | 2.199 | 4.141 Normal oo | oo | oo Jes prs | es prs | ss | ee Tabola 4.8 (* Método de Deby ; ** Pinhdo tahado com inteferéncia de corte) Este exemplo permite constatar que a correcgao da interferéncia de corte, 86 por si, tal como nos exemplos anteriores, ndo permite a melhoria das condigdes de desgaste normal do pinh&o. Como szy > 60, a correcgao pode ser felta sem variagao de entre-eixo, com a ‘obtengao de bons resultados. ous - CENRIB -DEMESI -FEUP- 1981 23 d) 2y = 17; 22 = 90; ay = 20% b = 30; my = 3; ¢ = 0.25 m, 6 _|xsexol_ x4 | x2 | 961 | gs2 | co | ey | & | sant| sana 0° | 0.0 |+o418]-0.41a] 1.51 | 1.51 | 1.558] ¢ | 0.0 | 1.407] 2.501 iso: | 0° | 0.0 |+0.s00]-0.200] 1.68 | 1.48 | 1.567) 4 | 0.0 | 1.455] 2.497 Normal] 0° | 0.0 | 0.0 | 0.0 | 16.94) 1.07 |1.6a7| / | 0.0 | 2.022] 2.414 Henriot} 15° | 0.0 |+0.392|-0,392| 1.85 | 1.35 | 1.496] 2.320] 0.0 | 1.845] 2.500 iso | 15° | 0.0 |+0.30)-0.990) 1.67 | 1.29 | 1.515} 2.389] 0.0 | 1.639] 2.491 Norma] 16° | 0.0 | oo | oo | 200 | 0.98 | 1.598] 2.412] 0.0 | 2.065] 2.422 Tabela 4.4 (* ISO/TCEO - Método de Deby) Neste exemplo, pode observar-se o excelente equillbrio dos valores dos escorregamentos especificos obtido pela correccao de dentado, no entanto, @ custa de uma ligeira quebra da raz4o de condugao aparente, comparativamente aos resultados consequidos com um dentado normal (ver também a figura 2.3). Por outro lado, podem também verificar-se as condigdes menos severas em tormos de ‘escorregamentos especificos e melhores razbes de conducdo totais existentes no dentado helicoidal e a necessidade de desvios menores, do que no dentado recto, para efectuar as correcgées. 4,2 - Correccdo com entre-eixo imposto a! = 125; 2; = 19; 2) = 91; aq = 20% f = 0% mo = 2,25; ¢ = 0.25 m, a) Engrenagem redutora xarx2| 2d x4 x2_| os1 | gs2 | ca k_| sant _| sana +0.576 | 0.523 | +0.442| +0.194| 1.14 | 1.44 | 1.518 | 0.02 | 1.162 | 1.818 Tabola 4.6 Neste exemplo, em que 0 entre-eixo é imposto, apresentam-se os resultados obtidos para uma engrenagem redutora e outra multiplicadora caracterizadas por parametros iguais. Na engrenagem redutora, é possivel encontrar uma distribuicdo de x, @ x2 que permite equilibrar os escorregamentos especificos. Aus - CETRIB- DENEG! - FEUP 891 24 b) Engrenagem multiplicadora xyeno| x | x1 | x2 | 961 | gaz | cae | K | sant| sana] al | iB +0.576] 0.500 | +0.427] +0149] 1.19 | 1.13 | 1,522] 0.02 | 1.180] 1.814] 6.177] 3.931 +0.876| 0.030 | +0.119] +0.457] 2.98 | 0.87 | 1.592] 0.02 | 1.501 | 1.729 | 4.935] 5.689 +0.576| 0.0 |+0.099}+0.877] 3.19 | 0.85 | 1.595] 0.02 | 1.518] 1.723] 4.852] 4.744 Tabela 4.6 ( Al- Comprimento de aproximacao; IB - Comprimento de afastamento ) Na engrenagem muttiplicadora, verifica-se que a tentativa de equilfbrio dos escorregamentos especificos s6 @ conseguida & custa de um aumento do comprimento de aproximagao (fig. 3.6), a0 contrario do que acontece nas redutoras, 0 que 6 nogativo em termos de rendimento devido ao efeito nocivo do atrito no engrenamento. Torna-se assim necessario escolher uma solug&o que contemple de forma equilibrada aquelas duas caracteristicas. CONCLUSOES A correcco de dentado ¢ uma técnica utilizada na talhagem, por geracao, de rodas dentadas com dentes de perfil em evolvente de circulo, que permite modificar favoravelmente caracteristicas importantes de um engrenamento © possibilita o funcionamento correcto de uma engrenagem com um entre-eixo diferente do normal, imposto por razdes construtivas, apesar de implicar a perda da sua intermutabitidade funcional. A importancia da correceao de dentado pode ser caracterizada, genericamente, através da infiuéncia exercida nos parametros seguintes: = A alteraczio do prego de revenda das rodas de uma engrenagem, provocada pela correcgao, 6 nula na maior parte dos casos. - A possibilidade de diminuigo da importancia dos escorregamentos especiticos dos flancos dos dentes tem como consequéncia a diminuigdo da taxa de desgaste normal dos dentes. - 0 equilibrio dos escorregamentos especiticos nos pontos extremos do engrenamento equivale a igualar os factores de Almen nesses pontos, diminuindo a probabilidade de ocorréncia de uma avaria de gripagem - © aumento da soma dos desvios 6 benefico tanto no plano da capacidade de carga presséo superficial como no da resisténcia & rotura. -O aumento do coeficiente de desvio dos dentes provoca um aumento da espessura do pé @ uma diminuig&o da espessura da cabeca, mantendo constante a altura total dos Js - CETRIB- DEVE FEUP - 191 25 dentes. A consideragao de valores negativos para o desvio tem um efeito contrario. Para cada toda, existe um valor maximo de desvio que conduz a um dente pontiagudo © um valor minimo que provoca uma interferéncia de corte no seu pé. - A razo de condugao diminui ligelramente com 0 aumento da soma dos desvios, 0 que Provoca uma diminuigao da reqularidade da velocidade da roda mandada ¢ um aumento do nivel de vibragées, quanto maiores forem as velocidades no primitivo. Os desvios das rodas de engrenagens para grandes velocidades devem privilegiar a ‘obtencao de razSes de condugdo elevadas. ~ A folga no pé dos dentes diminui com 0 aumento da soma dos desvios. Quando o ntimero de dentes da engrenagem e/ou o médulo so pequenos esta diminuigao pode ser exagerada, tormando-se necessério diminuir a altura da cabega dos dentes. - Nas engrenagens redutoras, 0 pinhao deve ser corrigido com um desvio positive e a roda com um desvio negativo. Nas engrenagens multiplicadoras, este procedimento 6 desfavoravel, devendo, sempre que possivel, optar-se por um dentado praticamente normal em que © pinhao deve ter um nimero de dentes maior ou igual a 30. Assim, limitando correctamente os coeficientes de desvio dos dentes das rodas de uma ‘engrenagem podem-se evitar os inconvenientes que essa correcgao eventualmente pudesse rovocar, ao mesmo tempo que, uma escolha judiciosa da sua soma @ respectiva repartigao pelo pinhao @ roda podem modificar muito favoravelmente propriedades muito importantes da ‘engrenagem, No entanto, tendo em conta que estas propriedades s40 por vezes contraditorias, no 6 possivel determinar condigoes normalizadas de correcgao de dentado que sejam as mais indicadas em todas as aplicagbes, mas apenas desenvolver sistemas que fornecem solugdes satisfatérias em problemas correntes. As engrenagens para aplicacdes especiais devem ser objecto de um tratamento diferenciado que contemple de uma forma adequada as caracteristicas consideradas fundamentais para 0 seu correcto desempenho. REFERENCIAS [1] - CARRERAS SOTO, T. - Engrenajes. 1" ed. 1942 [2] - HENRIOT, G. - Traité Théorique et Pratique des Engrenages. 6* ed. Paris: Dunod, 1979 tome 1. [3] - COLBOURNE, J.R. - The Geometry of Involute Gears. USA: Springer-Verlag, 1987. [4] - HENRIOT, G. - Etude des Corrections de Denture. Bulletin de la S.£.LE. France.1953, n® 20. [5] - ISO 53, 1974 - Engrenages cylindriques de mécanique génerale et de grosse mécanique - Crémaillére de référence, ISO. JAS -GETRIB- EMEA FEUP 901 26 [6] - NF E 23-013, 1980 - Déport des dentures des roues cylindriques pour engrenages extériours réducteurs, AFNOR, [7] - HENRIOT, G. - L’Etat Actuel du Probleme des Corrections de Denture. Bulletin de la S.E.LE. France.1955, n° 26. [8] - NF E 23-015. 1982 - Détermination de la capacité de charge des engrenages oylindriques extérieures de mécanique générale. AFNOR. [9] - ISO/DIS 6336. 1983 - Calculation of load capacity of spur and helical gears. ISO [10] - ISO/TR 4467. 1982 - Déport des dentures des roves cylindriques pour engrenages ‘extérieurs réducteurs et multiplicateurs. ISO. ss -CETRIG- DENEGI- FEU - 1901

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