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Candido Malta Campos Filho Reinvente seu bairro Caminhos para vocé participar do planejamento de sua cidade om < eatoral4 da circulagio urbana articulado ao do zoneamento do uso do solo, una questo-chave, como demonstrarei, para assegurar a sua qua- lidade de vida. Fm apéndice, acrescento stis textos tornades piiblicos, por jomais ou posicionan com 6rgio governamentais, que destacam falhas hasicas do Pla- ‘a0 Diretor Estratégico do Municipio de Sao Paulo {PDMSP) re- centemente aprovado em agosto de 2002, ¢ um posicionamento nto ein congressos € reunides de trabalho relativo a falhas sendo praticadas pelo poder publico no encami- nhamento da nova legislag3o espe: ciais de agua da mecropole paulstana. de receber seus comen 1 de protegio aos manan Gos: jos sobre o mesmo, cape cialmente os que vicem o seu aperfeigeamento como um instru- mento de conscientizagio do cidadao. ‘Nao tive muito tempo pars elabord-lo, apenas algumas se- ja dos assuntos eavolvidos. Por issin pego manas, devido a urgé ao leitor que compreends as falhas que porventura encontrar, como uma certa repetigio de temas. Essa repet ajuda a compreender a ariiculagao dos temas entre si no entanto, 2 Candide Malea Cumpes Filho Parte [ A LOGICA DE FORMACAO DO TECIDO URBANO, Capitulo 1 © AMBIENTE DE MOR ADIA COMO FOCO DO SEU INTERESSE, CIDADAO DE SAO PAULO. O texto que desenvolvemos ao longo dos capitulos que compiem este livro propde-se a apresentar modos de enilise das questdes urbanas, partindo em um primeiro moment do nivel local para o geral da cidade de Sie Paulo, com foco ma Stica do cidadao comum, O ambien nora do cidade de moradia, uma espécie de no espaco urbano, é 0 nusso ponto de partida, Mas néo sera fo- cado o ambiente interno detalhado de moradia, ou seje,a sua ar- quitetura € 0 que este tipo pressupde especifica, mas sim 0 tio de edificio em que « lacalion, como estilo de vida urbano, Os ediff- do interna pressupiem wma ideia de cidade percebido. Como, por exemple, 1 auséncia de quintais ou espagos de lazer privados no lore da mocadia pro- duz provavelmente uma caréncia a ser resolvida no esoago cole- tivo da rua, da peace ou até em espaces privados ou sersiprivados de visinhos, Ou a produgo doméstica da comida e dh lavagem de roupas, que no gera a necessidade de servigos com essa fina lidade nas suas proximidades. Parece um enfogue estitico em que 05 tipos nao se alteram con 6 passar do tempo. Veremes logo que cios como organi © is50 € poucas ve introduziremos o processo de sua mudanca, de akteracio de sua organizagao interna por forgas externas que 03 condidonam. A partir da moradia como tipo, buscaremos conkecer 0s ti- pos de estruturasdo de baizros ¢ quanto, porexemple ws mesmos esto servidos de comércio e servigns e de equipamentas de edu cago, satide; lazer eu mas de organiza¢io em funcio do nivel de renda e de «stiles cul- turais de vida de cada familia ou grupo social, , distinguindo claramente essas for Reinvente sen bier 5 Em uma primeira abordagem, nav se levard em conta 9 a vel de renda ou ax preferéncias culturais que podemos entender como tipieas, Mais adiante isso sera considerado. A analise desenvolvida por enquanto nie levard em conea os diferentes padrdes sociais dos baitros, tampouco as drcas de problematica assemelhaila conforme foi dividida a cidade de Sio Paulo pelo Plano Diretor, correspondendo a quatro tipos basi- 08 de macrorregides: 1) a do Ceateo Eepandide consolidado; 2) ade uma area a ele adjacente em processo de consolidacio: 3) frea adjacente & segunda, constituida em getal por bairros periféricos em desenvelyimentos e 4) uma quarta regido. constituida por 4 de ccupagio rarefeita ou nio, que derem ter preservacao ambiental (ver Desenho 1). Essas especilicidades setio cbjeto de capitulos posteriotes Desenho 1 1 tpns hasitus de macro Fen 16 Candide Malen Campos Filho Capitulo 2 A ORGANIZACAO URBANA DO COMERCIO, DOS SERVIQOS EM GERAL E DOS SERVIGOS DE EDI Propde-se assim, nesta abordagem inicial, que cadh cidad ccxamine como a sua vida est organizeda para se servie do comér cio € dos servigos, em trés niveis de sua organizacio, Essa questiv sera abordada desde o nivel do espago organ) zado no entorno imediato da moradia ¢, aos pouces, ampliada para quest®es de abrangencia cada ver maior. Esses trés niveis So: 1) © cométcio e servig tende a cer uma frequéncia dideia ou semanal de urilizacio, ¢ racterizado como “local”. Exemplos: 0 agougue, a quicanda, 0 bar dinho, obarbeiro, o de apoio imediato & moradia, que ou boteco, 0 peguens supermercadlo ou mere ocabeleirciro etc. mas de 2) O comércio ¢ servign ainda de apoio & morad. Frequéncia menor de demanda, caracterizado como “d versifica- do”. Exemplos: a Ioja de saparos, de roupas, de eletrodemésticos, ‘ supermercado grande etc 3) O coméecio e servigo de apoio a outras atividades urba tipico de centros de hiecarauia superior de cidade com toda a diversificagio possivel coerente com 0 mer nas, caracterizado con cado para o qual é oferecido, com frequéncia de demauda muito menor, rara¢ até esporidica (frequémia semesteal anaal ou até maior). Exemplos: relojoaria, artigos de cama ¢ mesa, de automé- veis, de equipamentos para indiserias, para a realizagio das ati~ vidades de comércia ¢ servicos ere Fssa abordagem pela frequéncia da demanda tery + quali dade de colocar a questao da mobilidade urbana em foco, que € Reinvente seu bairro 7 ‘© maior problema urbane da cidade. Em principio, podemos di 2er que para 0 morador interessa quo, quanto mai for a frequs cit da demanda, mais {cil deve ser 0 acessa a esse comércio on servigo. Ist0 &, © “local” deve estar & is perto de sua casas 0 “diversificado” pode estar um pouco mais lange, ¢ 0 “sofistica- do” mais longe ainda. Nao que tena que ficar mais longe; t¢-los Por perto significa, como veremos, accitar viver em bairros cen. trais com certo inconvenientes € qualidades préprias. Mas isso seta mais bem discurido a seguir. Dosenho 2 A logica da locaizaran oa muracie fem relagda a0 coméicie e servens CO comércia os sarigas locals, de apoio a meat fa sua ease (I), porto a lente para esigt uma condugau [3h (O'mesno ratiosina pode e dove so fete em relagda an cemércia 8 gos sonignsdiversifeaas, assim come para or eauipamentas do oguergie » saide pom fear led a sarfortvo| a pé (2, ou datante set: 40 us0 nais ev menas toquente 18 Candido Malta Canpes Filho. Capitulo 3 A ESCOLA E 0 POSTO DE SAUDE: ONDE DEVEM FICAR? Com relagio aos servigos de educagio e sade, especialmente 30 didria, como 0 materi censinos fundamental e médio, que atendem criangas ¢ zdolescen- res, podemos dizer que, por sua frequéncia e pelas ques:Bes de se aqueles de I, a pré-ecola © os suranga envolvidas na circulagao urbana, exigem das fanilias uma arengio especial Tenhamos presente que, tanto pata a organizacdo to comér- cive servigos em geral como dos servigos de educagaio, devem ser liscutidos a realidade presente nas diversas configuragies da es- teuturagio urbana € os teeidos corr suas qualidades e dificuldades Deum lado, ha o problema da familia fazer com que crian- «av para a escola em seguranca. Isso ocorrerd tanto coma crian- «@ que precise ser levada no colo ou acompanhada pea mie ou pessoa mais velha de confianca ‘dna, pé ou de vor ce dos caminhos que a crianca terd que percarrer em seguranga, € se vaia pé ou com alguma conducao publica ou privada, coletiva ‘om individual, O grau dessa mobilidade urbana aferaid 0 custo material (tempo) € econémico (gasto com transporte) + 0 envol- vimento maior ou menor de familiares ou amigos acompanhan- tes. De modo gecal, pode-se dizer que a proximidade desses equi- pamentos em relay ‘que a crianga com idade suficiente possa andar a pé sozinha em poucos minutos ¢ com seguranga de sus exsa até e bairros populares desenvolvidos no escritSrio profissional que pondentes, avalienderse as ‘omo com aquiela que pole irso- lucie, Esta questo dependerd da distancia 0 4 moradia é desejivel, de modo a permitir lc. Nos planos Keinvente seu bairro 1 teabo com ¢ arquitero & urbanista Luiz Carlos Costa (Urbe Pla- nejamento, Programagio e Projetos), 800 metros tem side a dis tincia maxima definida como cOmoda para se andar a pé até 0 comércio, servigo ou equipamentos sociais. Essa distancia no € definida tecnicamente. E uma definico dependente de uma op- 0 por se andar a pé maiores ou menores distancias. Ha, por exemplo, aqueles que nao gostam de andar a pé e depois pagam academins de gindstica para gastar energia fisica acurnulada, Um certo contrassenso, admitamos. A questio da escolha do melhor servigo influ: nessa definigao porque muitas veres o melhor ser Vico pode estar mais long: do que se pode percorrer a pé,o que eaigird um esforgo adicional, como pegar um énibus, um taxi ou um automével, Um conjunto de moradores organizadas ¢ tomando conta de uma escola ou posto de satide virinho facilmente acessivel a pée garantindo gualidade de atendimento por uma gestdo com- partilhada, especialmente quando se rata de equipamentos da rede publica estacual ou municipal, parece ser um abjetivo desejavel para a mainria dos cidladsos, ranto os de baixa como os de mé dia rend. Fsse tipo de organizagao urbana tem sido conseguido na maioria das cidades do chamado Primeiro Mundo. Consegui- remos iss0 para nds em $0 Paulo? ey Candilo Maka Campos tilho Capitulo + © COMERCIO DEVE HGAR ENCOSTADO, PERTO OU LONGE DE SUA MORADIA? A proximidade espacial do comeétcio dos servigos estar definida pelo mescado imobilisio,em grande medida, quando no houver planejamento publico ou privado interterindo ressa legi- ‘ea, no que se refere aqueles que sao ferecidos pelo se-or priv «do, Aqueles que dependem de oferta piblica ficarao na cependen- cia de critérios piblicos de localizagao de seus equipanentos de educagao, satide e lazer. Nem sempre a l6gica locacional do mescado imokilidtio ou a do poder piiblico atende o interesse da maioria, Muitis vezes 0 poder piiblico, movide pela necessidade de dar a maice visibili- dade possivel a suas aces para obter o necessério apo o nas ut- nas, lovaliza esses equipamentos em lugares barulhentos e peri 29808 devido ao tréfegn de vefcalos, quando seria melhor que os mmesmos, especialmente os destinados a mates, idosos e eriangas, estivessem em lugares tranquilos de um hairro. Verifique no seu baisro qual crtério foi uilizado na localizagao das escolas e ere- ches ot outro equipamento destinade a pessoas mais veins Entendendo que o comércio ¢ os servigas diversiicados se beneficiam da alea acessibilidade das vias movimentacas, assim como as delegacias de policia, os postos de bombeiros. as insta- lagdes de eduicagao e wide que dependam da acessibiidade ge rada por corredores de transporte, especialmente as que atendem jovens eadultes, muitos uebanistas defendem diretriz pibliea ‘se mesmo sentido, embora o mercado jd tenda a localizar tas ati- vidades nesses locais quando sio atividades privadas. Esses ar banistas, entre cs quais me incluo, querem que o poder ptblico Reinvents seu haiero 2 distinga claramente as atividades que se beneficiam da localiza ‘lo nos corredores de transporte das que sio prejudicadas por essa mesma localizagao. Tais urbanistas defendem assim uma diretriz, urbanistica de planejamento que — pelo zoneamenta e pelo di- recionamente: do investimento piblico, come nos planos de ni ‘ional, como nas sabprefeituras, seia cle no hairro ¢ nas operagdes urbana, estes “locais” inscridos naquele vel local, seja ele r “regional” — distinga clara e enfaticamente as “ilhas de tranqui- lidade™ dos ios de téfego inzenso” 2 Candido Malea Campos fitho Capitulo 5 © CONCEITO DE UNIDADE AMBIENTAL DE MORADIA © conceito de unidade ambiental de moradia (verDesenho 3) consagra essa diretriz como unidade territorial de um estilo de morar, pelo qual as chergias fisicas e cmocionais gastes na luta pela vida durante 0 trahalho so recompostas no espaco de mo- rar, propiciada essa recomposicio pela tranquilidade do bal onde Desento 3 © conceta de unidade antiental da moradia A o | Vien de tags ioe Reinvest seu baited E este espage de morar, ao invés de estar confinado no es he wre, verde quando possivel e desejado pelos moradores — se es- aco interno do lore — mesmo que este inciua algum espa praiaria para o espaco de uso colerive des rad da praca (quando existe) ¢ dos pargues (estes muito raros nas cidades brasileiras) Esse espraiamento da tranquilidade encontra-se hoje com Ritando cont o uso cada vez mats intenso dos veicutos, que pro vocam a degradacio ambiental do espaco de use coletivo. Incl sivea violencia urbana do ronbo, do assalto e do sequestro, por xz, s© soma 4 poluigéo ambiental trazida pelo excesio ‘culos, © conjuntamente empurram os cidadé tris de grades ¢ paredes ¢ traneas ¢ sis sofisticados mas cade vex ma de alarme ¢ supervisio, isolando-os do espacu de ust coletive, separande ¢ isolando ws cidade De cidadios, enriquecidos culturalmente com os contatos hu: manos vatiads, diversificados e aré certo ponto imprevisiveis que a cidade propik séncia do conceita de “uthanidade”, que éae vio pasando a simples individuos, perdendo sua humanidade, cada vez mais dependentes de meios eletrinices para se conn carem entre si, Tal modalidade de comunicacio nao consegue substituir 0 contato pessoal fisico, envalvende todas os cemtides, eo emocional, que se enriquece com esse maior envoltimento. das pessoas que vivem nas cidac banguilo para morar, podendo dispor de opsdes de ambie rostaria de ter um espaco mais te indvel. de more mans intensos ¢ agitados, quando isso é desejado 01 in: da cidade em wuidades ambiental § organizag: dia de qualidade variada propicia essa diversidade ambiental. Sempre haveri na cidade reas com ambientes mais raido- 508 ¢ ogitados tanto durante o di como duran: assim prelerir, Podemos charles deambientes, noite, para quem 2Ahoras”, co ‘mo algumas reas de vila motarna intensa, ou algumas raas¢ pra gas que av longo da historia de uma cidade confermacam tal am biente ou foram produridos por intencio deliberada do planeja- menco urbano, come as chamadas “ruas 24 horas” 4 (Candide Maha Caspos Filho o deniveis de F possivel, portante, idertificar wma grad. tranquilidade no espaco de una cidade, Desde o mais tranquilo possivel, o de uma rua apenay com moradias © sem saida (assim denominada equivacadamente, poisse sai por onde se ertrat), até ‘mais barulhenco, junro a casas de festas € shows, bares € rex rourantes quaadlo se absem para o espago urbano do estorno. O cidaiao deve, ao avaliaro tecido urbano onde mora, vert ficar o nivel de tranguilidade que hoje possui, ¢ 0 nivel de trangui- lidade para o qual bairro se dirige, dado o processo detra a por que passa a regido onde mora e especialmente rua onde vive. Oni je0s. Dois fatores se conjugam nesse >rocessor cl de ruido pode ser medido por ‘o tipo de mobilidade das pessoas, por onde passam e quis meios de transporte utlizam,e por quais vias tendem a eransitire quais, mmeios de transporte tendem a usar, mudando seas meios atuiais, F claro que, analisando 0 conjanto de uma macro-regiio & no caso de Sao Paulo, o municipio inserido na regiio metropoli- ais cransformagies ficam mais claras. Eo que se busca le a cada der anos e agora a cada cinco anos com resquisas destined tndfego na metrépole. § primeira pesquisa foi feita em 1967, a segunda, a terceira, € a quarta, em 1977, 1987 ¢ 1997, € agora, em 2002,a quinta peswuisa. Sao pes pica muito earas, por amostragem éomiciliar (5% ies domict lios, o que ¢ uma amostra cieuttfica) e por linhas de contorno de reas especificas centrais, Centro Expandido e do conjure d urbanizada, onde se mede diretamente o trafego nas principals vias. £ um trabalho que pode e deve set feito com grarde s dade, pois dele se exiraem as conclustes sistematieas, centificas. Teco & feito mediante ns caleulo que utiliza metodologir téenico cientifica da capacidade de suporte para cada regito, on fungao do sistenea de cireulagio existonte do que se pretend? implan tar. Na Fscola Politécnica da USP, por exemplo, professores en sinam © aberfiicoam tais técnicae, Nos FLA, 0 govern eenteal 86 da dinheiro as prefcituras para impla Gio se tais métodos comprovam a aecessidade ¢ adequaga dos ar projetos ce circula- Reinvente su burro 2s investimentos, Aquino Brasil ainda nite definimos legalments tal obrigatoriedade, Mas em Sao Paulo, pelo Plano Dieter, tal obriga toriedade foi incroduzida. Os Planos Diretores amteciores imuni-

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