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CAPITULO A Estrutura do Concreto Tradugao e adaptacao Profa. Dra. Maria Alba Cincotto PREAMBULO As relagées estrutura-propriedade constituem a esséncia da moderna ciéncia dos materiais. O concreto tem uma estrutura muito heterégenea e complexa. Conse- quentemente, 6 muito dificil estabelecer modelos exatos, a partir dos quais 0 comportamento do material pode ser previsto com seguranga. Todavia, um conhecimento da estrutura e das propriedades de cada constituinte do concreto e a relagao entre elas 6 Util para se exercer um certo controle sobre as propriedades do material. Neste capitulo, s40 descritos trés constituintes da estrutura do concreto - a pasta, 0 agregado, e a zona de transig&io entre a pasta de cimento @ o agregado. As relagdes estrutura - propriedade ‘so discutidas sob 0 ponto de vista das caracteristicas fundamentais do concreto, tais como resisténcia, estabilidade dimensional e durabilidade. DEFINIGOES O tipo, a quantidade, o tamanho, a forma, e a distribuigao das fases presentes em um s6lido constituem a sua estrutura. Os elementos gratidos da estrutura de um material podem ser vistos facilmente, enquanto os mais finos sio visualisados com auxilio de um microscépio. O termo macroestrutura € geralmente emprega- do para a estrutura grosseira, visivel & vista humana, O limite de resolugao a olho nti € aproximadamente 1/5 de milimetro (200 pm), O temo microestrutura ¢ empregado para a porciio aumentada microscopicamente de uma macroestrutura. A capacidade de aumento dos microscépios eletrénicos modernos é da ordem de 10° vezes; assim, a aplicacio de técnicas de microscopia eletrénica de transmissa e de varredura tornaram possivel analisar a estrutura de materiais até uma frago de micrometro, 18 Conereto: Estrutura, Propriedades e Materiais IMPORTANCIA progresso no campo dos materiais resultou principalmente do reconhecimento do prinefpio de que as propriedades de um material tm origem na sua estrutura interna; em outras palavras, as propriedades podem ser modificadas por mudangas adequadas na estrutura do material, Embora o concreto seja o material estrutural mais amplamente empregado, a sua estrutura é heterogénea e altamente comple- xa, As relacées estrutura-propriedade no concreto ainda nao esto bem desenvol- vidas; todavia, € essencial um entendimento de alguns dos elementos da estrutura do concreto, antes de se discutir os fatores que influenciam as propriedades impor- tantes do concreto, tais como resisténcia (Capitulo 3), elasticidade, retragao, flu- éncia, fissuragdo (Capitulo 4), e durabilidade (Capitulo 5). COMPLEXIDADES No exame de uma segdo transversal do concreto (Fig. 2-1), as duas fases que po- dem ser facilmente distinguidas so particulas de agregado de tamanho e forma variados, e 0 meio ligante, composto de uma massa continua da pasta endurecida. ‘A nivel macrosc6pico, consequentemente, 0 concreto pode ser considerado como um material biffsico, consistindo de partfculas de agregado dispers: matriz de cimento. A nivel microscépico, comecam a aparecer as complexidades da estrutura do concreto. E ébvio que as duas fases da estrutura nao estao distribuidas homogeneamente, uma em relacdo a outra, nem so em si mesmas homogéneas. Por exemplo, em algumas areas a massa de pasta aparece to densa quanto o agre- gado enquanto em outras € altamente porosa (Fig. 2-2). Do mesmo modo, se vari- 0s corpos-de-prova de concreto contendo a mesma quantidade de cimento, mas diferentes quantidades de dgua, so examinados em diferentes intervalos de tem- po, sera observado que, em geral, 0 volume de vazios capilares na pasta decresce com a diminuig&o da relagdo 4gua/cimento ou com a idade crescente de hidratagao. Para uma pasta bem hidratada, a distribuigdo nao homogénea de sélidos e vazios isoladamente pode ser talvez ignorada quando se modela 0 comportamento do material. Todavia, os estudos de microestrutura mostraram que isto n&o pode ser aplicado para a pasta presente no concreto. Na presenga de agregado, a estrutura da pasta, na vizinhanea de particulas grandes de agregado, € comumente muito diferente da estrutura da matriz de pasta ou argamassa do sistema. De fato, muitos aspectos do comportamento do concreto sob tensdo podem ser explicados somen- te quando a interface pasta cimento-agregado € tratada como uma terceira fase da estrutura do concreto. Assim, os aspectos singulares da estrutura do concreto podem ser resumidos como segue. Primeiro, ha uma terceira fase, a zona de transicdo, que representa a regifio interfacial entre as particulas de agregado gratido e a pasta, Sendo uma camada delgada, tipicamente de 10 a 50 ym de espessura ao redor do agregado gratido, a zona de transigdo € geralmente mais fraca do que os outros dois componentes principais do concreto, e, consequentemente, exerce uma influéncia muito maior sobre 0 comportamento mecdnico do concreto do que pode ser esperado pela sua espessura. Segundo, cada uma das fases é de natureza multifasica. Por exemplo, cada particula de agregado pode conter varios minerais, além de microfissuras € AEstrutura do Concreto 19 Figura 2-1 Stedo polida de um corpo-de-prova de concreto A macroestrutura 6 a estrutura grosseira de um material que é vistvel a otho mi. Na macroestrutura do concreto sao facilmente distinguidas duas fases: agregados de diferentes formas tamanho, e 0 meio ligante, o qual consiste de uma massa incoerente de pasta endurecida, vazios. Analogamente, tanto a matriz de pasta como a zona de transigaio contém geralmente uma distribuigdo heterogénea, de diferentes tipos e quantidades de fases sdlidas, poros e microfissuras que serao descritas abaixo. Terceiro, diferen- temente de outros materiais de engenharia, a estrutura do concreto ndo permanece estdvel (i-e., no é uma caracteristica intrinseca do material). Isto porque dois cons- tituintes da estrutura - a pasta e a zona de transigdo - esto sujeitas a modificagdes com o tempo, umidade ambiente e temperatura. A natureza altamente heterogénea e dinémica do concreto € a principal razio porque os modelos teéricos de relacio estrutura-propriedades, de modo geral tio importantes na previsio do comportamento de materiais de engenharia, sio de Pouco uso no caso do concreto. Um conhecimento amplo dos aspectos importan- tes da estrutura dos constituintes individuais do concreto, como apresentados em seguida, é contudo essencial para o entendimento e controle das propriedades do material composto. 20 — Conereto: Estrutura, Propriedades © Materiais Figura 2-2 Microestrutura da pasta endurecida A microestrutura € a estrutura fina de um material, observével com auxtlio de um microscépio. Uma micrografia eletrénica de varrédura de baixo aumento (200x) de uma pasta endurecida mostra que a estrutura ndo € homogénea; enquanto algumas dreas sao densas, outras sao altamente porosas. Em dreas porosas, & pssivel observar fases hidratadas individuais sob aumentos maiores. Por exemplo, podem ser vistos cristais grandes de hidrdxido de cdicio, aguthas finas e longas de etringita e agregacdes de cristais fibrosos pequenos de silicato de edleio hidratado, com aumentos de 2000x e 5000x. A€strutura do Concreto 21 .ESTRUTURA DA FASE AGREGADO A. composigao e as propriedades de diferentes tipos de agregado para concreto estdo descritas em detalhe no Capitulo 7. Por isso, serd apresentada aqui somente uma breve descrigiio dos elementos gerais da estrutura do agregado, os que exer- cem maior influéncia sobre as propriedades do concreto. A fase agregado € predominantemente responsavel pela massa unitéria, médulo de elasticidade, e estabilidade dimensional do concreto. Estas propriedades do concreto dependem em larga extenso da densidade e resisténcia do agregado, que, por sua vez, sfio determinadas mais por caracteristicas fisicas do que por caracteristicas quimicas da estrutura do agregado. Em outras palavras, a composi- do quimica ou mineralégica das fases s6lidas do agregado sfio comumente menos importantes do que caracteristicas fisicas tais como volume, tamanho, ¢ distribui- io de poros. Além da porosidade, a forma e a textura do agregado gratido também afetam as propriedades do concreto. Algumas particulas tipicas do agregado sao mostra- das na Fig. 2-3. Geralmente, o seixo natural tem uma forma arredondada e uma superficie de textura lisa. Rochas britadas t¢m uma textura rugosa; dependendo do tipo de rocha e da escolha do britador, o agregado britado pode conter uma propor- Gao considetavel de particulas chatas ou alongadas, que afetam negativamente muitas propriedades do concreto. Particulas de agregado leve de pedra-pomes, que é altamente celular, so também angulares e de textura rugosa, mas as de argila ou folhelho expandidos so geralmente arredondadas e lisas. Figura 2-3 Forma e textura da su- perficie de particulas de agregado gratido: (a) seixo, arrendondado liso; (b) rocha britada, equidimen- sional; (c) rocha britada, alongada; (@) rocha britada chata; (e) agrega- do leve, anguloso ¢ rugoso: (f) agregado leve, arredondado e liso. 22 Conereto: Estrutura, Propriedades e Materials Sendo geralmente mais resistente do que as duas outras fases do concreto, a fase agregado nio tem influéncia direta sobre a resisténcia do concreto, exceto no caso de alguns agregados altamente porosos e fracos, como 0 agregado de pedra- pomes descrito anteriormente. O tamanho e a forma do agregado gratido podem, no entanto, afetar a resisténcia do conereto de modo indireto. E ébvio que, como indicado na Fig. 2-4, quanto maior o tamanho do agregado no concreto e mais elevada a proporgao de particulas chatas e alongadas, maior serd a tendéncia do filme de 4gua se acumular préximo a superficie do agregado, enfraquecendo as- sim azona de transico pasta-agregado. Este fendmeno, conhecido comoexsudacao interna, serd discutido em detalhe no Capitulo 10. ESTRUTURA DA PASTA ENDURECIDA Deve ser entendido que o termo pasta endurecida, como empregado neste texto, refere-se geralmente a pastas de cimento Portland. Embora a composi¢ao e as propriedades do cimento Portland sejam discutidas em detalhe no Capitulo 6, um resumo da composicao serd dado aqui antes de se discutir como a estrutura da pasta evolui, resultante das reagdes quimicas entre os minerais do cimento Portland ea gua. Exsudagao visivel (a) o) . Figura 2-4 (a) Representagiio esquemitica da exsudagao em conereto recém-langado; (b) Ruptura da aderéncia por cisalhamento em corpo-de-prova de concreto ensaiado a compressio uniaxial A dgua exsudada internamente tende a acumular-se na vizinhanca de particulas de agregado, grandes, ‘alongadas ¢ chatas. Nestas regides, a zona de transicdo existente entre a pasta de cimento e 0 agregado tende a ser mais fraca ¢ facilmente propensa a fissuracdo. Este fendmeno € responsdvel pela ruptura da ‘aderéncia por cisalhamento na superficie da particula do agregado, indicada na fotografia Astrutura do Concreto 23 O cimento Portland anidro é um p6 cinza que consiste de particulas angulares de tamanho comumente entre | e 50 ym. E produzido pela moagem do clinquer com uma pequena quantidade de sulfato de calcio, sendo 0 clinquer uma mistura hete- rogénea de varios minerais produzidos em reagGes a alta temperatura, entre 6xido de cdlcio e silica, alumina e éxido de ferro. A composigao quimica dos minerais! principais do clinquer corresponde aproximadamente a C,S, C,S, C,A ¢ C,AF; no cimento Portland comum as suas respectivas quantidades estéo comumente entre 45 € 60 %, 15 ¢ 30 %, 6 ¢ 12%, € 6 € 8%. Quando 0 cimento é disperso em Agua, 0 sulfato de célcio e os compostos de calcio formados a alta-temperatura tendem a entrar em solugao, ¢ a fase Iiquida toma-se rapidamente saturada em varias espécies iénicas. Como resultado das combinagées entre cilcio, sulfato, aluminato e fons hidroxila, apés alguns minu- tos de hidratacio do cimento Portland, aparecem os primeiros cristais aciculares de um sulfoaluminato de célcio hidratados chamado etringita; algumas horas mais tarde, cristais prisméticos grandes de hidréxido de calcio e pequenos cristais fibrilares de silicatos de calcio hidratado comecam a preencher 0 espago vazio ocupado inicialmente pela 4gua e as particulas de cimento em dissolucdo. Apés alguns dias, dependendo da proporgao alumina-sulfato do cimento Portland, a etringita pode tornar-se instével e decompor-se para formar 0 monossulfato hidratado, que tem a forma de placas hexagonais. A morfologia em placa hexago- nal é tambem caracteristica dos aluminatos de calcio hidratados, os quais se for- mam em pastas hidratadas de cimentos Portland, tanto com baixo teor de sulfato como de elevado teor de C,A. Uma micrografia eletrénica de varredura ilustrando amorfologia tfpica de fases preparadas pela mistura de solucao de aluminato de célcio com solugao de sulfato de célcio é mostrada na Fig. 2-5. Um modelo das fases essenciais presentes na microestrutura de uma pasta de cimento bem hidratada € mostrada na Fig. 2-6. Do modelo da microestrutura da pasta, mostrado na Fig. 2-6, pode-se notar que as varias fases nao esto uniformemente distribuidas nem sao uniformes em tamanho e morfologia. Nos s6lidos, as heterogeneidades microestruturais podem levar a efeitos negativos sobre a resisténcia mecanica e outras propriedades meca- nicas relacionadas a ela, porque estas propriedades so controladas pelos extre- ‘mos microestruturais ¢ ndo pela microestrutura média. Assim, além da evolugao da microestrutura, como resultado das transformages quimicas, que ocorrem de- pois que 0 cimento entra em contacto com a Agua, deve-se levar em conta certas propriedades reol6gicas da pasta fresca de cimento, as quais também influenciam determinantemente a microestrutura da pasta endurecida. Por exemplo, como seré discutido adiante (ver Fig. 8.2c), as particulas anidras de cimento tém tendéncia a se atrairem ¢ formar flocos, os quais aprisionam grande quantidade da dgua de mistura. Obviamente, as variagdes locais na relagaio égua-cimento sao as princi- pais fontes de evolugdo da estrutura porosa ¢ heterogénea. Em sistemas de pasta de cimento altamente floculada nao somente o tamanho e a forma dos poros, mas também os produtos hidratados cristalinos sao diferentes quando comparados aos formados em sistemas consideravelmente dispersos. «6 conveniente manter as abreviagdes empregadas em quimica do cimento: C = CaO; SiO, A = ALO, F=Fe,0,;S=S0;H=H,0 24 Conereto: Estrutura, Propriedades e Materiais Monossilto iertad Figura 2-5 Micrografia eletrOnica de varredura de cristais hexagonais tipi- cos de monossulfato hidratado e ci tais aciculares de etringita formados pela mistura de solugdes de aluminato de calcio de sulfato de calcio (corte- sia de F.W, Locher, Research Institute for Cement Industry, Dusseldorf, Re- paiblica Federal Alem), Sdlidos na Pasta de Cimento Hidratado Os tipos, quantidades, ¢ caracteristicas das quatro fases s6lidas principais geral- mente presentes na pasta, que podem ser observadas ao microscépio eletrOnico, siio as seguintes. Silicato de calcio hidratado. A fase silicato de céleio hidratado, abreviada para C-S-H, constitui de 50 a 60 % do volume de sélidos de uma pasta de cimento Portland completamente hidratado e é, consequentemente, a mais importante na determinagiio das propriedades da pasta. O fato do termo C-S-H ser hifenizado significa que o C-S-H nao é um composto bem definido: a relagao C/S varia entre 1,5 e 2,0.e 0 teor de agua estrutural varia ainda mais. A morfologia do C-S-H varia de fibras pouco cristalinas a um reticulado cristalino. Devido as suas dimensdes coloidais ¢ A tendéncia a aglomerar, os cristais de C-S-H puderam ser observados somente com 0 advento do microscépio eletrdnico. O material é frequentemente citado como C-S-H gel em literatura tradicional. A estrutura cristalina interna do C-S-H também permanece nao totalmente distinguivel. Ela foi anteriormente as. sumida como semelhante A do mineral natural tobermorita; por isto, foi as vezes denominada gel de tobermorita. AEstrutura do Concreto 25 tam Figura 2-6 Modelo de uma pasta de cimento Portland bem hidratada. A representa a agre- ‘gaco de particulas de C-S-H pouco cristalinas, que tem pelo menos uma dimensao coloidal (1a 100 nm). O espagamento entre as partfculas em uma agregacdo € de 0,5 a 3,0 nm (1,5 nm em média). H representa produtos cristalinos hexagonais tais como CH, CAS H,,, C,AH,,, Formam cristais grandes, tipicamente de 1 ym de comprimento. C representa cavi- dades Capilares ou vazios que existem quando os espacos originalmente ocupados pela égua nao foram completamente preenchidos com produtos de hidratacao do cimento, O tamanho dos vazios capilares varia entre 10 nm e 1 pm, mas em pastas consideravelmente hidrata- das, de baixa relagdo égua/cimento, eles sao inferiores @ 100 nm. Embora a estrutura exata do C-S-H nao seja conhecida, alguns modelos foram propostos para se explicar as propriedades dos materiais. De acordo com 0 modelo de Powers - Brunauer*, o material tem uma estrutura em camada com uma drea especifica elevada, Dependendo da técnica de medida, tm sido propostas para 0 C-S-H, Areas espectficas de 100 a 700 m?/g. A resisténcia do material € principal- mente atribuida a forcas de Van der Waals, sendo o tamanho dos poros do gel ou a distancia’ s6lido- s6lido ao redor de 18A . O modelo Feldman - Sereda’ represen- ta a estrutura do C-S-H como sendo composta de um arranjo irregular e dobrado de camadas ao acaso, de modo a formar espagos interlamelares de forma e tama- nho diferentes (5 a 25A). Hidréxido de calcio. Cristais de hidréxido de calcio (também chamado portlandita) constituem 20 a 25 % do volume de sélidos na pasta hidratada. Em con- traste com o C-S-H, 0 hidr6xido de calcio é um composto com uma estequiometria 2 TLC. Powers, J. Am. Ceram. Soc., vol 61, n° 1, pp 1-5, 1958; € S. Brunauer, American Scientist, vol. 50, n® 1, pp 210-29, 1962. * Em literatura mais antiga, as distincias s6lido-sélido entre camadas do C-S-H foram chamadas de poros do gel. Em literatura moderna € habito chamar de espago interlamelar. ‘ “RE Feldman e PJ. Sereda, Engineering Journal (Canadd), Vol. 53, n° 8/9, pp 53-59, 1970. 26 Concreto: Estrutura, Propriedades @ Materiais definida, Ca(OH),. Ele tende a formar cristais grandes, sob a forma de prismas hexagonais distintos. A morfologia dos cristais varia bastante, apresentando des- de formas nao definidas até pilhas de placas geometricamente bem definidas. A morfologia € afetada pelo espaco disponfvel, temperatura de hidratago, e impure- zas presentes no sistema. Comparado ao C-S-H, 0 potencial de contribui¢io do hidréxido de calcio para a resisténcia devido a forgas de Van der Waals é limitado, consequéncia de uma area especifica consideravelmente menor. Além disso, a pre- senga de uma quantidade considerdvel de hidrdxido de célcio no cimento Portland hidratado tem um efeito desfavoravel sobre a resisténcia quimica a solugées dci- das, por ser a solubilidade do hidr6xido de calcio maior do que a do C-S-H. Sulfoaluminatos de célcio. Os sulfoaluminatos de céleio ocupam de 15 a 20% do volume de s6lidos na pasta endurecida e, consequentemente, desempe- nham um papel menor nas relagGes estrutura-propriedade. JA foi estabelecido que, durante os primeiros estagios da hidratagdo a relagao idnica sulfato/alumina da solugao geralmente favorece a formagio de trissulfato hidratado, C,AS ,H,,, tam- bém chamado etringita, o qual forma cristais prismaticos aciculares. Em pastas de cimento Portland comum, a etringita transforma-se eventualmente em monossulfato hidratado, C,AS H,,, que cristaliza em placas hexagonais. A presen- a de monossulfato hidratado em concreto de cimento Portland toma o concreto vulnerdvel ao ataque por sulfato, Deve-se notar que tanto a etringita como 0 monossulfato contém pequenas quantidades de 6xido de ferro, o qual pode substi- tuir.o 6xido de alum{nio na estrutura dos cristais. Graos de clinquer nao hidratado. Dependendo da distribuigao do tamanho das particulas de cimento anidro e do grau de hidratacdo, alguns graos de clinquer nao hidratado podem ser encontrados na microestrutura de pastas de cimento hidratado, mesmo apés longo perfodo de hidratagdo. Como citado anteriormente, as particulas de clinquer em cimentos Portland atuais situam-se geralmente no intervalo de tamanho de 1 a 50 pm. Com a evolugao da hidratagao, primeiro sio dissolvidas as particulas menores (i.e., desaparecem do sistema) e as particulas maiores tornam-se menores, Por causa do espaco disponivel limitado entre as par- ticulas, os produtos de hidratacdo tendem a cristalizar-se muito préximo das parti culas do clinquer em hidratagdo, 0 que dé a aparéncia de formagio de um reve: mento ao redor delas. Em idades posteriores, devido a falta de espaco disponivel, a hidratago in loco de particulas do clinquer resulta na formagao de um produto de hidratacdo muito denso, cuja morfologia as vezes assemelha-se de uma parti- cula do clinquer original. Vazios na pasta endurecida Além dos s6lidos descritos anteriormente, a pasta contem diferentes tipos de vazi- 0s, 0s quais tém uma influéneia importante em suas propriedades. Os tamanhos caracteristicos das fases s6lidas e dos vazios na pasta so vistos na Fig. 2.7. Os varios tipos de vazios ¢ sua quantidade e significado so discutidos em seguida. Espaco interlamelar no C-S-H. Powers assumiu que a largura do espago interlamelar na estrutura do C-S-H €¢ de 18 A e determinou que ele € responsavel por 28 % da porosidade capilar no C-S-H s6lido, porém Feldman e Sereda suge- rem que 0 espaco pode variar de 5 a 25 A. AEstrutura do Concreto 27 noe araeorase 30 0C ene vet 4 irre uanheace Sete do oo nara oe | E panes 0.01pm Oulu Tem 10m 100 Tr 0mm oem 100% 10000 10 10° wn 10am 10° wm Figura 2-7 Intervalo dimensional de s6tidos e poros em uma pasta endurecida. Este tamanho de vazio é muito pequeno para ter um efeito desfavordvel sobre a resistencia e a permeabilidade da pasta. No entanto, como sera discutido em se- guida, a Agua nestes pequenos vazios pode ser retida por pontes de hidrogénio, ¢ a sua remogao sob determinadas condigdes pode contribuir para a retrago por seca- gem e para a fluéncia. Varios capilares. Os vazios capilares representam o espaco nao preenchido pelos componentes sélidos da pasta. O volume total de uma mistura cimento-dgua permanece essencialmente inalterado durante o processo de hidratagdio. A densi- dade média dos produtos* de hidratagio é consideravelmente menor do que a den- sidade do cimento Portland anidro; estima-se que 1 cm’ de cimento, apés hidratagiio completa, requer ao redor de 2 cm? de espaco para acomodar os produtos de hidratagio®. Desse modo, a hidratagao do cimento deve ser considerada como um. processo durante o qual o espago inicialmente ocupado pelo cimento e a Agua vai sendo gradativamente substitufdo pelo espago preenchido pelos produtos de hidratagao. O espago nao ocupado pelo cimento ou pelos produtos de hidratagao consiste de vazios capilares, sendo 0 volume e o tamanho dos capilares determina- do pela distancia inicial entre as particulas de cimento anidro na pasta de cimento recém-misturada (i.e., relago 4gua/cimento) e o grau de hidratagaio do cimento. Um método de célculo do volume total de vazios capilares, popularmente conhe- cido como porosidade, em pastas de cimento Portland, tendo diferentes relagdes Agua/cimento ou diferentes graus de hidratagdo, sera descrito mais tarde. Em pastas bem hidratadas, de baixa relacdo 4gua/cimento, os vazios capilares podem variar entre 10 e 50 jim; em pastas de relagdo 4gua/cimento elevada, nas primeiras idades de hidratacao, os vazios capilares podem atingir de 3 a 5 um. Curvas tipicas de distribuigao do tamanho dos poros de algumas amostras de pasta ensaiadas por técnica de intrusdo de merctirio so mostradas na Fig. 2-8. 5 Deve-se notar que o espaco interlamelar na fase C-S-H é considerado como parte dos sélidos na pasta. © N-T. Trata-se de uma_simplificagdo do modelo de Powers. Em geral niio se consegue hidratar a 100 %; assim, caso isso fosse possfvel, o volume final do “gel hidratado”, ou seja, cimento + 4gua de cristalizagaio + 4gua de gel, superaria os 2 cm’, 28 Estruturas da Pasta Endurecida ° 2 & Volume de merciirio (cm? / g) ° & 02 a a A : egteee 8 26888: 28 etameyews ee _ Diametro do poro, em Ay 05 3 ac07 = 04b 0 20da8 b 00 das ; ost. atano z g o2b Q 3 OE s 00] 150] ipney pare Diametro do poro, em A. Figura 2-8 Distribuigdo do tamanho dos poros em pastas de cimento hidratado (de PK. Mehta e D. Manmohan, Proc. 7% Int. Cong. on the Chemistry of Cements, Patis, 1980) Nao é a porosidade total, mas a distribuicdo do tamanho dos poros que controta efetivamente a resisténcia, @ permeabilidade, e as variacdes de volume em uma pasta de cimento endurecida. A distribuigao do tamanho dos poros € afetada pela relacdo dgualcimento, e pela idade (grau) de hidratacdo do cimento. Os poros grandes influenciam principalmente a resistencia 4 compressao e a permeabilidade; 0s poros pequenos influenciam mais a retracdo por secagem e a fluéncia. Tem sido sugerido que a distribuigdo de tamanhos dos poros, e nao a porosidade capilar total, é o melhor critério para avaliagdo das caracteristicas de vazios capi- lares maiores do que 50 nm de uma pasta, referidos na literatura atual como ‘macroporos, so admitidos como prejudiciais & resistencia e A impermeabilidade, enquanto vazios menores do que 50 nm, referidos como microporos so admitidos como mais importantes para a retragdo por secagem e a fluéncia. Ar incorporado. Enquanto os vazios capilares tém forma irregular, os vazios de ar incorporado sdo geralmente esféricos. Por varias raz6es, discutidas no Capi- tulo 8, os aditivos podem ser adicionados propositadamente ao concreto com a finalidade de incorporar poros muito pequenos na pasta de cimento. O ar pode AEstrutura do Concreto 29 ser aprisionado na pasta fresca de cimento durante a operago de mistura. Os vai 08 de ar aprisionado podem chegar a 3 nm; 0s vazios de ar incorporado variam comumente de 50 a 200 jim. Consequentemente, tanto os vazios do ar aprisionado como do ar incorporado na pasta so muito maiores do que os vazios capilares, sendo capazes de afetar negativamente a sua resisténcia e impermeabilidade. A agua na pasta endurecida Observados ao microscépio eletrénico, os poros na pasta parecem vazios. Isto resulta da técnica de preparo das amostras, da qual consta a sua secagem sob va- cuo. Na realidade, dependendo da umidade ambiente e da sua porosidade, a pasta de cimento nao tratada é capaz de reter uma grande quantidade de Agua. Do mes- mo modo que as fases sélido e vazios discutidas anteriormente, a 4gua pode estar presente na pasta de varias formas. A classificagdo da Agua em diversos tipos esta baseada no grau de dificuldade ou de facilidade com a qual ela pode ser removida. Uma vez que existe uma perda continua de 4gua de uma pasta de cimento saturada, com a diminuigao da umidade relativa, a linha diviséria entre os diferentes estados da agua no é rigida. Apesar disso, a classificacio ¢ ttil na compreensto das pro- priedades da pasta. Além do vapor nos poros vazios ou parcialmente preenchidos, a Agua existe na pasta nos seguintes estados. Agua capilar. Esta é a 4gua presente nos vazios maiores do que 50 A. Pode ser descrita como o volume de dgua que esta livre da influéncia das forgas de atrago exercidas pela superficie sélida. Na verdade, do ponto de vista do compor- tamento na pasta, aconselhdvel dividir a 4gua capilar em duas categorias: a agua em vazios grandes, de diametro > 50 nm (0,05 jim), a qual pode ser considerada como Agua livre, uma vez que a sua remogo no causa qualquer variagdo de volume’e a Agua retida por tensdo capilar em capilares pequenos (5 a 50 nm), cuja remogdo pode causar a retracdo do sistema. Agua adsorvida'. E a agua que est proxima & superficie do sélido; isto €, sob a influéncia de forgas de atragdo, as moléculas de agua esto fisicamente adsorvidas na superficie dos s6lidos na pasta. Tem sido sugerido que podem ser fisicamente retidas por pontes de hidrogénio até seis camadas moleculares de Agua (15 A). Desde que as energias de ligagao de moléculas individuais de égua diminuem com a distancia em relagdo A superficie do s6lido, uma porgo maior da Agua adsorvida pode ser perdida por secagem da pasta a 30 % de umidade relativa. A perda de égua adsorvida é principalmente responsAvel pela retraco da pasta na secagem. 7 NT. Os autores podem ser considerados, neste caso, exageradamente dogmiticos. As tensdes capilares geradas a partir do movimento da 4gua nos poros capilares sio resultado de uma funcao continua e portanto ndo € razodvel estabelecer um limite tZo rigido entre poros que causam problemas de retracdo ¢ poros que nao causam. Melhor & considerar poros com didmetro acima do qual as conseqliéncias nao sio tao graves. ® NT. Neste caso pode ser confundida ou considerada como égua capilar, porém refere- se Aquela junto as paredes dos poros. 30 Estruturas da Pasta Endurecida Agua interlamelar’ . Esta 6 a (gua associada a estrutura do C-S-H. Tem sido sugerido que uma camada monomolecular de gua presente entre as camadas de C-S-H esté fortemente ligada por pontes de hidrogénio. A agua interlamelar é per- dida somente por secagem forte (i.e., abaixo de 11 % de umidade relativa). A estru- tura do C-S-H retrai consideravelmente quando a Agua interlamelar € perdida, Agua quimicamente combinada”. E a agua que é parte integrante da estru- tura de varios produtos hidratados do cimento. Esta 4gua no é perdida na seca- gem: é liberada quando os produtos hidratados so decompostos por aquecimento. Com base no modelo de Feldman e Sereda, os diferentes tipos de agua associados ao C-S-H estio ilustrados na Fig. 2-9. Relagées estrutura-propriedade na pasta endurecida As caracteristicas de engenharia desejéveis para o concreto - resisténcia, estabili- dade dimensional, e durabilidade - so influenciadas nao somente pela proporcio, mas também pelas propriedades da pasta, as quais, por sua vez, dependem de as- pectos microestruturais (i.e., tipo, quantidade, e distribuigdo de s6lidos e vazios). ‘As relagdes estrutura - propriedade da pasta sero discutidas brevemente a seguir. Resisténcia. Deve-se notar que a fonte principal de resisténcia nos produtos s6lidos da pasta é a existéncia de forgas de atragdo de Van der Waals. A adesio entre duas superficies sélidas pode ser atribuida a estas forgas de natureza fisica, sendo 0 grau de aco aderente dependente da extensdo e natureza das superficies envolvidas. Os pequenos cristais de C-S-H, de sulfoaluminatos de calcio hidratados, e de aluminatos de cdlcio hidratados hexagonais possuem rea especifica e capaci- dade de adesio elevadas. Estes produtos de hidratagdo do cimento Portland ten- dem a aderir fortemente, nao somente uns aos outros, mas também a s6lidos de rea especifica baixa, tais como 0 hidréxido de calcio, gros de clinquer anidro, e particulas de agregado mitido e gratido. E fato conhecido que em sélidos h4 uma relagao inversa entre porosidade resisténcia. A resisténcia est4 baseada na parte s6lida de um material; consequentemente, os vazios so prejudiciais & resisténcia. Na pasta, 0 espago interlamelar interno da estrutura do C-S-H e os pequenos vazios que se acham sob a influéncia das forgas de atragdo de Van der Waals nao podem ser consideradas como prejudiciais A resistencia, porque a concentragdo de tensdes e ruptura subsequente sob a agio de carga comega nos grandes vazios capilares e nas microfissuras invariavelmente presentes. Como citado anteriormente, 0 volume de vazios capilares na pasta depende da quantidade de Agua misturada com cimento no inicio da hidratagao e do grau de hidratagao do cimento. Quando se da a pega, a pasta adquire um volume estavel, aproximadamente igual ao volume de cimento mais 0 volume de 4gua, Admitindo que | cm’ de cimento produz 2 cm’ de produto de hidratagao, Powers efetuou um célculo simples para demonstrar as variagdes na porosidade capilar com varios graus de hidrataco em pastas de cimento com dife- rentes relagdes égua/cimento. Com base neste trabalho, siio mostradas na Fig. 2-10 ° NLT. Também conhecida por 4gua de gel. “NT. Também conhecida por égua de cristalizagéo. AEstrutura do Concreto 31 duas ilustragdes sobre 0 processo de redugdo progressiva na porosidade capilar, tanto em.graus de hidratagdo crescentes (caso A) como em relagdes dgua/cimento descrescentes (caso B). Sendo a relago 4gua/cimento geralmente dada em massa, é necessério saber a massa especifica do cimento Portland (aproximadamente 3,14) a fim de se calcular 0 volume de Agua e espago total disponivel, 0 qual é igual & soma dos volumes de gua e de cimento. ‘Agua interlamelar ‘Agua Capilar ‘Agua fsicamente adsorvide Figura 2-9 Tipos de agua associados a0 silicato de célcio hidratado (Basea- do em RF. Feldman e PJ. Sereda, Eng. J. (Canada), Vol. 53, n° 8/9, 1970). ‘Na pasta de cimento hidratado, a dgua pode estar presente sob muitas formas: estas podem ser classificadas dependendo do grau de facilidade com que podem ser removidas. Esta classificagdo é ttl na compreensdo das variagdes de volume da pasta de cimento que estdo associadas a dgua retida nos poros pequenos. No caso A, uma pasta com relacio 4gua/cimento 0,63, contendo 100 cm? de cimento requer 200 cm’ de Agua; isto resulta em 300 cm? de volume de pasta ou de espago total disponivel. O grau de hidratacdo do cimento dependerd das condigdes de cura (duragao da hidratagao, temperatura, e umidade). Assumindo que, sob as condigdes padrées de cura da ASTM", o volume de cimento hidratado a'7, 28 e 365 dias € 50, 75 € 100 %, respectivamente, o volume calculado de s6lidos (ci- mento anidro mais produtos de hidratagdo) é de 150, 175 e 200 cm®. O volume de vazios capilares pode ser obtido pela diferenga entre o volume total disponivel e 0 volume total de sdlidos. Este € de 50, 42 e 33 %, respectivamente aos 7, 28 ¢ 365 dias de hidratagao. No caso B, é admitido o grau de 100 % de hidratagdo para quatro pastas de cimento preparadas com Agua correspondente as relagdes igua/cimento 0.7, 0.6, 0.5 ou 0.4, Para um volume dado de cimento, a pasta com a maior quantidade de Agua terd 0 maior volume de espago total disponivel. No entanto, apés hidratagao completa, todas as pastas devem conter a mesma quantidade de produto s6lido de hidratacio. Conseqiientemente, a pasta com o maior espaco total terminaré com um volume de vazios capilares correspondentemente maior. Assim, 100 cm’ de cimento por hidratagao completa produziriam 200 cm? de produtos s6lidos "A ASTM C 31 - Standard Method of Curing Concrete Test Specimens in the Field especifica cura timida a 23,0 + 1,7 °C (até a idade do ensaio). No Brasil a Norma é NBR ‘5738/83 (MB2/83)-Moldagem e cura de corpos-de-prova de concreto cilindricos ou prismaticos. 32 Estruturas da Pasta Endurecida hidratados em cada caso; porém, dado que 0 espaco total em pastas de relagio 4gua/cimento 0.7, 0.6, 0.5, ou 0.4 era de 320, 288, 257, e 225 cm’, os vazios capilares calculados so de 37, 30, 22 e 11 %, respectivamente, Com o que foi aqui admitido, uma pasta com relacio 4gua/cimento 0,32 nio teria porosidade capilar quando o cimento estivesse completamente hidratado. Para argamassas de cimento normalmente hidratadas, Powers mostrou que hé uma relag&o exponencial do tipo S = kx’ entre a resisténcia 4 compressdo (S) e a relagio sélidos/espago (x), onde k é uma constante igual a 235MPa. Assumindo um dado grau de hidratagao, por exemplo, 25, 50, 75 € 100 %, € possivel calcular CASO A: 100 cm? de cimento, a/e = constante = 0,63, diferentes graus de hidratagao como mostrado 300 . < e & f ee Ie bs 5 250 Ee By R33 s . 5S by S38 Poros g Ig Bx} 3e 83 IS a 3 capilares @ ror Fes) | Fe = ° iB aI se Cimento $ sof |e" a _ st anidro 3 100 | pPreautos a @ : | LA nicratagao i » Ss 4 a FTempo de nidretagio Td 28d Jano Graude_| 7° i radrabaic 50% 75% 100% CASO B: 100 cm® de cimento, 100 % de hidratagao, diferentes relagdes a/c como mostrado stem ~ 300 0u 22% 2 = ni baal § 260 . ‘ tut % @ % rh ¢ g s aT Re) 8 = 150 "Eo sepeiae 2 2 wot} |8x | 18e ss | 13% 2 eles ees] et) ies z sor], (bs | es] ies | ag: an 88 [28 [ayes Liss ac 0.7 06 05 0.4 Figura 2-10 Variagdo na porosidade capilar com relagdes égua/cimento e graus de hi- dratagio diferentes. Fazendo-se certas hipéteses simplicadoras, os edleulos podem ser feitos de modo a mostrar, para uma dada relagio dgualcimento, como poderia variar a porosidade capilar de uma pasta de cimento hidratado em diferentes graus de hidratagdo. Uma outra alternativa é a de determinar, para um dado grau de hidratagao e diferentes relacées dguaicimento, as variacdes na porosidade capilar. A€strutura do Conereto 33 0 efeito do valor crescente da relagdo 4gua/cimento, primeiro sobre a porosidade subsequentemente, sobre a resistencia, empregando-se a formula de Powers. Os resultados estdo representados graficamente na Fig. 2-I1a. A curva de permeabilidade também indicada nessa figura ser discutida mais tarde. Estabilidade dimensional. A pasta saturada nao é dimeisionalmente esté- vel. Enquanto mantida a 100 % de umidade relativa (UR), praticamente nao ocor- rerd variacdo dimensional. No entanto, quando exposta ’ umidade ambiente, que est4 normalmente muito abaixo de 100 %, o material comegard a perder {gua e a retrair. 0 modo como a perda de gua pela pasta saturada esta relacionada 4 UR de um lado, e por outro lado, & retragilo por secagem, é descrita por L’Hermite 4120 {80 _ Permeabiidade Resistencia (a) Resisténcia a compresséo (MPa) T b= L 2 AO. ore: 05 Relacdo solidolespaco (1-P) Coeficiente de permeabilidade (cm/s x 10") os gos E 100% 3 Hidratagao Bop ) 3 2 ost ° on ere ees ere. Porosidade capilar. Fraco de volume P Figura 2-11 Influéncia da relagdo 4gua/cimento ¢ do grau de hidratagdo sobre a resis- téncia e a permeabilidade. A combinacdo de relacdo dgualcimento e grau de hidratagao determina a porosidade da pasta de cimento hidratado. A porosidade e 0 inverso da porosidade (relagao sélidolespaco) estdo relacionados exponencialmente tanto a resisténcia como @ permeabilidade do material. A drea sombreada mostra 0 intervalo de porosidade capitar caracteristico de pastas de cimento hidratado 34 Concreto: Estrutura, Propriedades ¢ Materiais (Fig. 2-12). Assim que a UR cai abaixo de 100 %, a dgua livre retida nas grandes cavidades (por exemplo, > 50 nm) comega a ser evaporada para o ambiente. Como a gua livre no esta presa & estrutura dos produtos hidratados por ligagoes fisico- quimicas fortes, a sua perda nao seria acompanhada de retracao significativa. Isto € mostrado pela curva “A-B” na Fig. 2-12. Assim, uma pasta saturada exposta a uma UR ligeiramente menor do que 100 % pode perder uma quantidade consideravel de gua total evapordvel antes de softer retragdo intensa. Quando a maior parte da dgua livre foi perdida, prosseguindo a secagem, observa-se que uma perda adicional de agua passa a resultar em retragao conside- rivel. Este fendmeno, mostrado pela curva “B-C” na Fig. 2-12, € atribuido princi- palmente a perda de agua adsorvida e de gua retida em pequenos capilares (ver Fig. 2-9). (a) (b) D ¥ 8 a || of : Loe A 2? % Umidade relativa "00 Perda de agua Figura 2-12 (a) Perda de égua em fungao da umidade relativa; (b) retracdo de argamas- sa de cimento em funcao da perda de égua (De R.L’Hermite, Proc. Fourth Int. Symp. on the Chemistry of Cements, Washington, D.C., 1960). Em uma pasta de cimento, a perda de dgua adsorvida é a principal responsdvel pela retragao de secagem. Tem sido sugerido que a égua adsorvida, quando confinada em espacos estreitos entre duas superficies s6lidas, causa pressao de desligamento. A remogao da 4gua adsorvida reduz a pressiio de desligamento e causa retrag&o do sistema, A 4gua interlamelar, presente na forma de um filme monomolecular de 4gua entre as ca- madas da estrutura do C-S-H, pode também ser removida por condigdes severas de secagem, Isto se dé porque 0 contato fntimo da dgua interlamelar com a super- ficie s6lida e o caminho tortuoso da trajetéria de transporte através do reticulado capilar requer uma forea motriz maior, Uma vez que a 4gua em pequenos capilares (5a 50 nm) exerce pressio hidrostatica, a sua remogao tende a induzir uma ten- so de compressio sobre as paredes s6lidas do poro capilar, causando também contragao do sistema. Deve-se aqui ressaltar que os mecanismos responsdveis pela retraco por se- cagem sio também responsdveis pela fluéneia na pasta. No caso da fluéncia, uma tenso externa aplicada torna-se a forca que direciona 0 movimento da gua adsorvida fisicamente e da agua retida nos pequenos capilares. Astrutura do Concreto 35 Durabilidade. O termo durabilidade de um material refere-se ao seu tempo de vida titil sob condigdes ambientais dadas. A pasta é alcalina; consequentemente, a exposigao a aguas Acidas € prejudicial ao material. Nestas condigdes, a impermeabilidade do material, e a estanqueidade da estrutura, tornam-se os principais fatores determinantes da durabilidade. A impermeabilidade da pasta € uma caracteristica altamente apreciada porque se assume que uma pasta imperme- vel resultaria num concreto impermedvel (0 agregado no concreto é assumido geralmente como impermedvel). A permeabilidade ¢ definida como facilidade ‘com que um fluido pode escoar através de um slido. E Sbvio que o tamanho e a continuidade dos poros na estrutura do s6lido determinam a sua permeabilidade. Resisténcia e permeabilidade da pasta so duas faces da mesma moeda, com o sentido de que ambas esto intimamente relacionadas A porosidade capilar e 2 relago s6lido-espago, Isto fica evidente na curva de permeabilidade da Fig. 2-11, a qual baseia-se em valores de permeabilidade determinados experimentalmente por Powers. A relacdo exponencial entre permeabilidade porosidade, ilustrada na Fig. 2-11 pode ser entendida a partir da influéncia que varios tipos de poros exer- cem obre a permeabilidade. Com o prosseguimento da hidratagao, o espago vazio entre as particulas de cimento originalmente distintas comeca a ser preenchido gradativamente pelos produtos de hidratagiio. Foi mostrado (Fig. 2-10) que a rela- G&o Agua/cimento (i.e. espaco capilar original entre particulas de cimento) e 0 grau de hidratagao determinam a porosidade capilar total, a qual diminui com 0 decréscimo da relagao dgua/cimento ou aumento do grau de hidratagao. Estudos 03 o2 Volume de merciirio (em*/g) ot Figura 2-13 Curvas de distribuigao de pequenos poros em pastas de cimento de diferentes relagdes 4gua/cimento. 333888 88 382 (De P.K. Mehta e D, Manmohan, Hee oe . Proc. 7 Int. Congress on Chemistry Diémetro do poro (A) of Cement, Paris, 1980) 45 os 28 dias © 0.6 _Distribuigdo do tamanho de poros menores 04 0.0.7 do.que 1320 A para corpos-de-prova com 6.0.8 Telagio agualcmento de 06, 07,082 09. 8S ans 28 das 3 Quando a representacao grafica dos dados da Fig. 2-8 foi refeita, apés se desprezar os poros grandes (i.e. > 1320 A ), foi observado que uma tinica curva podia representar a distribuicdo de tamanho de poros de pastas de 28 dias, preparadas com quatro relacies dguaicimento diferentes. Isto mostra que em pastas de ccimento endurecidas, 0 aumento na porosidade total, resultante de relacdes dguaicimento crescentes, ‘manifesta-se somente na forma de poros grandes. Esta observacao tem grande significado quanto ao efeito da relacdo dguaicimento sobre a resistencia e a permeabilidade, ambas controladas pelos poros grandes. 36 Conereto: Estrutura, Propriedades e Materiais de porosimetria por intrusao de merctirio em pastas de cimento hidratado, da Fig. 2-8, com diferentes relagdes 4gua/cimento e em varias idades, mostraram que a diminui¢do na porosidade capilar total estava associada & redugo de poros gran- des na pasta (Fig. 2-13). Dos dados da Fig. 2-11 € dbvio que 0 coeficiente de permeabilidade registrou uma queda exponencial quando a frago de volume de poros capilares foi reduzida de 0,4 para 0,3. Conseqiientemente, este intervalo de porosidade capilar parece corresponder ao ponto em que tanto 0 volume como 0 tamanho dos poros capilares na pasta sfo tao reduzidos que se tornam dificeis as conexées entre eles. Como resultado, a permeabilidade de uma pasta completa- mente hidratada pode ser da ordem de 10° vezes menor do que uma pasta de baixa idade. Powers mostrou que mesmo uma pasta de relagio a/c 0,6 com hidratagao completa (100 %), pode tornar-se to impermedvel quanto uma rocha, como o basalto ou o marmore. Deve-se notar que as porosidades representadas pelo espago interlamelar do C-S-He pequenos capilares ndo contribuem para a permeabilidade da pasta. Ao contriirio, com o aumento do grau de hidratagio, embora haja um aumento consi- derdvel no volume de poros, devido ao espaco interlamelar do C-S-H e pequenos capilares, a permeabilidade € acentuadamente reduzida. Na pasta foi notada uma relacdo direta entre a permeabilidade e 0 volume de poros maiores do que cerca de 100 nm’. Isto ocorre provavelmente porque o sistema de poros, formado princi- palmente de pequenos poros, tende a tornar-se descontinuo. A ZONA DE TRANSIGAO NO CONCRETO Significado da zona de transicao Ja se perguntou porque: * Oconcreto é frégil sob tracZo mas duitil em compressio? + Os constituintes do concreto quando ensaiados separadamente & com- pressio uniaxial permanecem elasticos, até & ruptura, enquanto 0 con- creto mostra comportamento elasto-plastico? » A resisténcia & compressio de um concreto € maior do que a sua resis- téncia a tracdo de uma ordem de magnitude? * Para um dado teor de cimento, uma relagdo 4gua/cimento ¢ idade de hidrataco, a argamassa de cimento sera sempre mais resistente do que o concreto correspondente?!? E que também a resistencia do concreto di- minui com o aumento do tamanho do agregado gratido? + A permeabilidade de um concreto, mesmo contendo um agregado muito denso seri maior por uma ordem de magnitude do que a permeabilidade da pasta de cimento correspondente?"* "= PK, Mehta e D. Manmohan, Proceedings of the Seventh International Congress on the Chemistry of Cements, Editions Septima, Vol Ill, Paris, 1980. " N-T. Na maioria das vezes essa diferenga € imperceptivel ¢ fica dentro da varia- bilidade de ensaio. Mantido um mesmo consumo de cimento 0 concreto ter sempre resisténcia maior que o da pasta e da argamassa de mesma relagao a/c. "NLT. Em geral o concreto teré um coeficiente de permeabilidade menor do que o da pasta correspondente, amassada com a mesma telagio a/c. AEstrutura do Concreto 37 + Por exposicao ao fogo, 0 médulo de elasticidade de um concreto cai mais rapidamente do que a sua resisténcia & compressio? As respostas a estas e outras questées enigméticas sobre 0 comportamento do concreto encontram-se na zona de transicdo que existe entre as particulas grandes de agregado e a pasta. Embora constituida dos mesmos elementos que a pasta, a estrutura ¢ as propriedades da zona de transiciio diferem das da matriz de pasta. Consequentemente, é desejavel tratar a zona de transigdo como uma fase distinta da estrutura do concreto. Estrutura da Zona de Transigao Devido a dificuldades experimentais, ha pouca informagio sobre a zona de transicdo no concreto; todavia, com base em uma descrigao dada por Maso!, pode-se ter algum entendimento das suas caracteristicas estruturais acompa- nhando-se a sequéncia do seu desenvolvimento a partir do momento em que o concreto € langado. Primeiro, em concreto recentemente compactado, um filme de gua forma-se ao redor das particulas grandes de agregado. Isto pode levar a uma relaco 4gua/cimento mais elevada na proximidade do agregado gratido do que longe dele (ie., na matriz. de argamassa). Em seguida, analogamente & matriz, os fons de calcio, sulfato, hidroxila, e aluminato formados pela dissolugao dos compostos de sulfato de célcio e de aluminato de célcio, combinam-se para formar etringita ¢ hidréxido de célcio, Devido & relagdo 4gua/cimento elevada, estes produtos cristalinos vizinhos ao agregado gratido consistem de cristais relativamente grandes, € consequentemente, formam uma estrutura mais porosa do que na matriz de pasta de cimento ou na matriz de argamassa. Os cristais em placa de hidréxido de célcio tendem a formar-se em camadas orientadas, por exemplo, com o eixo e perpendicular & superficie do agregado. Finalmente, com o progresso da hidratacio, 0 C-S-H pouco cristalizado € uma segunda geracdo de cristais menores de etringita e de hidroxido de célcio comegam a preencher os espagos vazios entre reticulado criado pelos cristais grandes de ctringita ¢ de hidréxido de calcio. Isto ajuda a aumentar a densidade e, consequentemente, a resisténcia da zona de transigio. Uma representacao diagramatica e uma micrografia eletronica de varredura, da zona de transigao do concreto, so apresentados na Fig. 2-14. Resisténcia da zona de transicao Como no caso da pasta, a causa da adesio entre os produtos de hidratacio e a particula de agregado sao as forcas de atragaio de Van der Waals; portanto, a resis- téncia da zona de transic&o em qualquer ponto depende do volume e do tamanho dos vazios presentes. Mesmo para concreto de baixa relagfo dgua/cimento, nas primeiras idades, 0 volume e tamanho de vazios na zona de transig&o serio maio- res do que na matriz, de argamassa; consequentemente, a zona de transig&o € mais fraca em resisténcia (Fig. 2-15). Contudo, com o aumento da idade, a resisténcia da zona de transig&io pode tornar-se igual ou mesmo maior do que a resistencia da 5 J.C, Maso, Proceedings of the Seventh International Congress on the Chemistry of Cements, Vol. I, Editions Septima, Paris, 1980, 38 — Conoreto: Estrutura, Propriedades @ Materiais Agregado & eo Tansigao ee % Matriz de pasta de cimento Figura 2-14 (a) Micrografia eletsénica de varredura, de cristais de hidr6xido de célcio na zona de transigfio, (b) Representagio diagramitica da zona de transigdo ¢ da matriz de pasta de cimento no conereto Nas primeivas idades, especialmente quando ocorreu uma exsudacio interna considerdvel, 0 tamanho ¢ 0 volume de vazios da zona de transicdo so maiores do que no interior da pasta ou da argamassa, O tamanho ¢ a concentracio dos compostos cristalinos, tais como 0 hidréxido de célcio e a etringita sao também maiores na zona de transigdo. As fissuras formam-se facilmente na direcdo ortogonal ao eixo e. Tais efeitos sao responsdveis pela resisténcia da zonade transigéo, em geral mais baixa do que a da matriz de asta no concreto, A Estrutura do Conereto 39 15,0 s & = © 100 8 3 g 50 Figura 2-15" Efeito da idade na resis- 3 tncia de aderéncia (zona de transigzo) = © Fase € na resisténcia da matriz de pasta de © Zona de transigao cimento (De K.M.Alexander, J. War- Cease eee eed dlaw, ¢ DJ. Gilbert, The Structure of Concrete, Cement and Concrete Asso- Idade (escala log) ciation, Londres, 1968, p. 65). Como resultado da interacdo quimica lenta entre a pasta de cimento e 0 agregado, a maiores idades a resisténcia da zona de transicdo aumenta mats do que a resistencia da matri: de pasta de cimento. matriz de argamassa. Isto poderia acontecer como resultado da cristalizagaio de novos produtos nos vazios da zona de transicao através reagdes quimicas lentas entre constituintes da pasta de cimento e o agregado, formando silicatos de calcio hidratado no caso de agregados silicosos, ou carboaluminatos hidratados em caso de calcério. Tais interagdes contribuem para a resisténcia porque tendem também a reduzir a concentragio de hidr6xido de célcio na zona de transigao. Os cristais grandes de hidrdxido de célcio possuem menor capacidade de adesio, nao somen- te pela rea especifica menor e forcas de atragto de Van der Waals correspon- dentemente mais fracas, mas também porque servem como pontos de clivagem preferencial, devido A sua estrutura orientada. ‘Além do grande volume de vazios capilares e de cristais orientados de hidréxido de célcio, um importante fator responsdvel pela baixa resisténcia da zona de tran- sigdo no concreto € a presenca de microfissuras. A quantidade de microfissuras depende de intimeros pardmetros, incluindo a distribuiga0 granulométrica e tama- nho do agregado, teor de cimento, relagao dgua/cimento, grau de adensamento do concreto fresco, condigdes de cura, umidade ambiente, ¢ hist6ria térmica do con- creto. Por exemplo, uma mistura de concreto contendo agregado com mé distri- buigdo granulométrica é mais suscetfvel A segregagdo durante o adensamento; as- sim, podem formar-se filmes espessos de agua ao redor do agregado gratido, espe- cialmente embaixo da particula. Em idénticas condig6es, quanto maior o tamanho do agregado, mais espesso seré o filme de 4gua. A zona de transigdo formada nestas condigdes seré suscetivel a fissuragdo quando sujeita a influéncia de ten- sdes de tragdo induzidas por movimentos diferenciais entre o agregado e a pasta. Tais movimentos diferenciais surgem comumente tanto na secagem como no esfriamento do concreto. WN.T. O médulo de ruptura é equivalente a resisténcia & tracdo por flexdo. 40 Conereto: Estrutura, Propriedades e Materiais Em outras palavras, 0 concreto tem microfissuras na zona de transigao mesmo antes da estrutura ser carregada. Obviamente, cargas de impacto de curta duragao, retrac&o por secagem, ¢ cargas mantidas a niveis elevados de tensdo terio como efeito o aumento do tamanho e ntimero de microfissuras (Fig. 2-16). Influéncia da zona de transigéo nas propriedades do concreto A zona de transi¢do, geralmente o elo mais fraco da corrente, é considerada a fase de resisténcia limite no concreto. E devido & presenga da zona de transigao que o concreto rompe a um nivel de tensdo consideravelmente mais baixo do que a resis- téncia dos dois constituintes principais. * ta Figura 2-16 Mapas tipicos de fissura¢o em conereto comum (resisténcia média): (a) apés retragdo por secagem; (b) apés carregamento de curto prazo; (c) para carregamen- wee Si to mantido por 60 dias a 65 % da resisténcia & compresséo aos 28 dias (De A.J. Nga FO. Slate, e A.M. Nilson, J. ACI, Proc. Vol. 78, n° 4, 1981). A zona de transigéo contém microfissuras resultantes de carregamento a curto prazo, retragdo por secagem, e fluéncia. Nao sendo necessdrios nfveis elevados de energia para estender as fissuras jé existentes na zona de transig&o, até com tensdes de 40 a 70 % da resisténcia ulti- ma, j4 sdo obtidos maiores incrementos de deformagéo por unidade de forga apli- cada. Isto explica o fato de que os constituintes do concreto (i.e., agregado e pasta ou argamassa) comumente permanecem elésticos até a fratura num ensaio de com- pressiio uniaxial, enquanto o concreto mostra comportamento elasto-plastico. A niveis de tensio maiores do que 70 % da resisténcia tltima, as concentra- Ses de tenso nos poros grandes da matriz de argamassa tornam-se suficiente- mente grandes até iniciar novas fissuras. Com tensdes crescentes, essas novas fissuras da matriz propagam-se gradativamente até se unirem as fissuras originadas na zona de transigao. O siste- ma de fissuras torna-se entdo continuo e o material rompe. E necessdrio uma ener- gia considerdvel para a formacio e propagagao das fissuras na matriz sob carga de compressao. Por outro lado, sob carga de traco, as fissuras propagam-se rapida- mente a um nivel de tensdo muito mais baixo. E por isto que 0 concreto rompe de modo fragil 2 tracdo mas é relativamente dtictil 4 compressdo. Esta € também a Astrutura do Concreto 41 razao porque a resisténcia a tragdo do concreto é mais baixa do que a resisténcia & compressao. Este assunto é discutido em maior profundidade nos Capitulos 3 e 4, A estrutura da zona de transigao, especialmente o volume de vazios e microfissuras presentes, tém grande influéncia sobre a rigidez ou 0 médulo de elasticidade do concreto. No material composto, a zona de transig&o serve de pon- te entre os dois constituintes: a argamassa matriz e as particulas de agregado gratido. Mesmo nos casos em que 0s constituintes individuais tém rigidez elevada, a rigi- dez do material composto pode ser baixa por causa de pontes rompidas (i.e, vazi- os e microfissuras na zona de transig&o), as quais nao permitem transferéncia de energia. Assim, devido A microfissuragéo por exposigao ao fogo, o médulo de elasticidade do concreto cai mais rapidamente do que a resisténcia 4 compressio. As caracteristicas da zona de transigdo também influenciam a durabilidade do concreto. Os elementos em concreto armado e protendido rompem frequentemen- te, devido A corrosao da armadura. A velocidade de corrosdo do aco é enormemen- te influenciada pela permeabilidade do conereto. A existéncia de microfissuras na zona de_transigo na interface com a-armadura-eo agregado gratido é a razio principal do conereto ser mais permedvel do.que-a pasta ou_a argamassa corres- pondente. Deve-se notar que a difusdo do ar e da Agua é um pré-requisito necessé- tio corrosio do ago no concreto. O efeito da relagio 4gua/cimento sobre a permeabilidade/difusividade e a resisténcia do concreto é geralmente atribufdo A dependéncia que existe entre a relagio dégua/cimento e a porosidade da pasta no concreto. A discussio precedente sobre a influéncia da estrutura e das propriedades da zona de transigdo sobre 0 concreto mostra que, de fato, é mais adequado pensar em termos de efeito da relagdo 4gua/cimento sobre a mistura de concreto como um todo. Isto é porque dependendo das caracterfsticas do agregado, tais como distribuigéo granulométrica e dimensio maxima, é possivel ter grandes diferengas na rela¢o égua/cimento entre a matriz de argamassa e a zona de transigdo. Em geral, todos os outros fatores permanecendo os mesmos, quanto maior 0 agregado, maior seré a relagdo dgua/cimento local na zona de transi¢ao, €, consequentemente, menos resistente ¢ mais permedvel”” sera 0 concreto. TESTE O SEU CONHECIMENTO 1. Qual o significado da estrutura de um material? Como vocé define estrutura? 2, Descreva alguns dos aspectos singulares da estrutura do concreto que dificultam a previsio do comportamento do material a partir de sua estrutura. Discuta as caracterfsticas fisico-quimicas do C-S-H, do hidréxido de calcio, e dos sulfoaluminatos de calcio presentes em uma pasta de cimento bem hidratada. 4. Quantos tipos de vazios esto presentes em uma pasta de cimento hidratado? Quais so as suas dimensdes tipicas? Discutir o significado do espago interlamelar com relagdo as propri- edades da pasta de cimento hidratado. "TN.T. Entendendo a permeabilidade como uma propriedade funcdo da existéncia de um gradiente de pressio, a vazio de gua que percola por unidade de drea, ou seja, 0 Coeficiente de permeabilidade da lei de Darcy, em geral diminui com 0 aumento do didmetro e do teor de agregados gratidos. 42 Conereto: Estrutura, Propriedades e Materiais 5. Quantos tipos de Agua esto associados a pasta de cimento saturada? Discutir o significado de cada tipo. Por que é desejaivel fazer-se distingao entre a égua livre em poros capilares € @ gua adsorvida as paredes desses capilares? 6. Qual seria o volume de vazios capilares em uma pasta de relacdo égua/cimento 0,2 que esté somente 50 % hidratada? Calcular também a relagdo égua/cimento necesséria para obter-se porosidade zero em uma pasta de cimento completamente hidratada. 7. Quando a pasta de cimento saturada € seca, a perda de égua nao é diretamente proporcional 2 retragdo por secagem. Explicar porqué. 8. Em uma pasta de cimento em hidratagdo a relagdo entre porosidade ¢ impermeabilidade € exponencial. Explicar porqué. 9. Desenhar um esbogo tipico mostrando como a estrutura dos produtos de hidratagéio na zona de transi¢do pasta de cimento-agregado ¢ diferente da estrutura da pasta de cimento no con- creto, 10. Discutir porqué a resisténcia da zona de transigdo é geralmente mais baixa do que a resistén- cia da matriz. de pasta de cimento. Explicar porqué o concreto rompe de modo frégil A tragio mas nao em compressio. 11, Todos os outros fatores mantidos constantes, a resisténcia de um concreto diminuiré com a introducdo de agregado gratido de tamanho crescente. Explicar porque. SUGESTOES PARA ESTUDO COMPLEMENTAR DIAMOND, S. Proceedings of the Conference on Hydraulic Cement Pastes, Cement and Concrete Association, Wexham Springs, Slough, U.K., pp 2-30, 1976. LEA.EM, The Chemistry of Cement and Concrete, Chemical Publishing Company, Inc., New York, 1971, Cap. 10, The Setting and Hardening of Portland Cement. MINDESS, S. J.F, YOUNG. Concrete, Prentice Hall, Inc., Englewood Cliffs, N.J., 1981, Cap. 4, Hydration of Portland Cement. POWERS, T.C., Properties of Fresh Concrete, John Wiley and Sons, Inc., 1968, Capttulos 2, 9, ¢ 11. Proceedings of the Seventh International Congress on the Chemistry of Cement (Paris, 1980), Eigth Congress (Rio de Janeiro, 1986), e Ninth Congress (New Delhi, 1992). RAMACHANDRAN, VS.R.F. FELDMAN, and J.J. BEAUDOIN, Concrete Science, Heyden & Son Lid., London, 1981, Caps. 1 a 3, Microstruture of Cement Paste, SKALNY, J.P, Ed., Material Science of Concrete, Vol. 1, The American Ceramic Society Inc., 1989.

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