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Quando Jesus de Nazaré, no julgamento peranteo prefor romano, admin ser rei, disse ele: “Nascie vim a este mundo para dar testema~ no da verdade.” Ao que Pilatos perguntou: “O que € a verdade?” ‘Cétieo, romano obviamente no esperava resposta a essa pergunta, © 0 Santo também nio a deu, Dar testemunho da verdade nfo era 0 cessencial em sua missio como rei messidnico. Ele nascera para dar {estemunho da justiga, quel justiga que Ele desejava concretizar no reno de Deus. E, por ess justiga, morreuw na cruz essa forma, emerge da pergunia de Pistos ~o que €a verdade? -, através do sangue do crucificado, uma outre questo, Bem mais vee- ‘mente, a eterna questo ds humanidade: o que & a justiga? Nenhuma outra questi foi to passionalmente discutida; por ‘nenhunca outa foram derramadias tantas lfgrimas amargas, tanto san- ae precioso; sobre nenhuma outra, ainds, as mentes mais ilustres ~ ‘de Platéo a Kant - meditaram tio profundamente. E, no entanto, ela continua até hoje sem resposta. Talvez por se tratar de uma dessas questdes para as guais vale o resignado saber de que o homem munca encontrard uma resposta definitive; deverd apenas tentar perguntar melhor. 2 ous é usniga? A JUSTIGA COMO UM PROBLEMA DE RESOLUCAO DE CONFLITOS DE INTERESSES OU DE VALORES 1A justiga & antes de tudo, uma caracterstica possivel, porém ‘io necesséria, de uma ordem social. Como virtude do homem, en: contra-se em segundo plano, pois um homem é justo quando seu com- Dortamenta correspond 4 ums ordem dada como juste. Mae © que Significa uma ordem ser juste? Significa essa ordem regular 0 com- portamento dos homens de modo a contentar a tados, todos eneon- trarem sob ela felicidade. O anseio por justiga é 0 eterno anseio do ‘homem por felicidade. No podendo encontré-a como individu iso- ldo, procura essa felicidade dentro da sociedade, Justiga felicidade social, é a felicidade garantida por uma ordem social. Nesse sentido iatao identifica justiga a felicidad, quando afirma que s6 0 justo & feliz. 0 injuso, infelie. Com a afirmasio de que justia ¢ felicidade, a pergunta, obvi ‘mente, ainda ndo esté respondida, apenas protelada, Coloca-se agora ‘uma outra questio: oque €felicidade? 2. £ evidente que nfo pode haver uma ordem just, isto 6, que roporcione felicidade a todos, so entendermos por felicidade, can- forme o sentido original da palavra, © sentimento subjetivo que cada ‘um compreende para si mesmo. E inevitével, eno, que a flicidade de um entre em conflito com a felicidade de outro, Um exemplo: 0 ‘amor € a principal fonte tanto de felicidade como de infelicidade. ‘Suponhamos que dois homens amem a raesma mulher e que cada um ~ com ou sem razo ~ acredite que nfo podlerd ser feliz se no tiver ‘essa mulher s6 para si. Pela lei —¢ raver. também por seus px6prios Sentimentos ~a mulher s6 poders pertencor a um dees. A felicidad de um & sem divida, a infelicdade do outro, Nenhuma ordem social oder solucionar esse problema de forma just, isto &, de mancira ‘que os dois homens possam ser igualmente felizes. Nem mestao a famosa sentenga do sibio rei Salomio, Como se sabe, ele resolveu ividir em duas partes uma erianga por caja posse duas mulheres bri vam; todavia, concordava em entregé-ta aquela que abdicasse de seu ditto, fim de salvar crianga ~ comprovando assitn, segundo 0 rei, amé-le verdadeiramente. A sentenga salomOnica $6 6 justa —se & {que 0 &~ sob a condigo de apenas uma das duas mulheres amar a crianga, Se ambas a amarem ~ 0 que 6 possivel e até provavel, pois o pure rustic? 3 ambes 8 queem —e por essa rao amas abdicarem de seu drei, 0 Tigi permanecerépendente; se, mesmo asim, crianga for final- mente adjudicads a uma das pares a sentenga certamente no sera jsf, pos toma a outa infelz. Nossa feleidade depende requente- mente da satsfagdo de necessidades que neniuma oxéem social pode rem cute exemple: até para er nomeado o comandante dew exército. Dois homens disputam o cargo; somente um, porém,poders ser designado, Pareceindiscutivel que deverd ser designado aquele {que for mais capactado para o cargo, Mas e se ambos forem igual- snentecapacitados? Nese caso, uma slugto justa ser impossvel Soponhamos que um dos dois sejaconsiderado mais atequado por seu isicoebeeza de rags, dando assim a impressdo de uma perso talidade fone, enquanto 0 outro € baixoe inexpressivo em termes de fparéacis, Se 0 primero obtvero cago, o out, deforma agua, consieraradecisio jut Ble dirt: “Porque io tenho aperéncia to toa quanto o out? Por que a natureza me concedeu tio poco atra- tives?” E, de ato, a0 julgarmos a natureza do pouto de vist da just- Ga deveromos dite que els nfo 6 just: a um dé saéde, a outo, Senge: a um inietigéncia, a outro, poucas Imes. Nenhuma ordem social poderd compensar totalmente a injustigasdamatreza. 3. Se justga eicidade,ento una ordem social usta € impos vel, enquamo justia significar felicidad individual. Uma ordem social usta €impossfvel, mesmo dante da premissa de que ela proc ‘e proporcionar, sento felicidad individual de cada um, pelo menos a maior flicidade possvel a0 mar rimero possvel de pessoas. Essa € famosa defnigo de justia frmlada pelo fil6tofoe jurist, inglés Jeremy Bentham. Mas também a formlagdo de Bentham no te aplica se entendermosfelcidade como um valor subjetivo. E que individos diferentes tem concepgées bem diferentes daquilo que sein felicidade A flicidade capaz de ser garantida por uma ordem social 60 é num sentido objeivo-coletivo, nunea num sentido subjetivo- individual, 130 significa que, por felicdede, somente poderemos énlender a satisagao de certas necessidadesreconhecidas como tsis pela autoridade social ~olegisladr-, como a necessidadedealimen taplo,vestidrio, moradia eequivalenes.E inquestonsvel que satis- fagdo de necessidades sovialmente reconhecidas € algo totalmente diverso do sentido original da palavra,o qual, de acordo com sua ca our éwstica? natureza mais profunda, €alamencesubjetivo. O anseio por justiga 6 #o clementr, esté ti profurdamenteenraizado tio caregdo do ho- ‘mem, justameate por exprimir um anseio indestul(vel da ppriafeli- cidade subjetiva 4. O-conceito de felicidad deverdsofer uma radical ransforms- «lo de sentido, a fim de tomar-se uma categoria social: a felicidade da {ustga, A metamorfose através a qual a felicidad individual eubje tiva se transforma na satisfac de necessidadesreconbecidas soci ‘mente se equipara guela a que se deve suctar 0 conceto de iberds-

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