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te 3 rabalnos que om poems it taster: ham 0 esforeo cue 6s \udosos #profsionsis da droa de Ser G0 Social vir fazando no serio de de Sarnelverom umataretateanco pralleade introiccpinaridade, Quer nopanoda re fexaoteorica, quar neque da patos do ensino, da pesquisa e da ntarvengao so ial, © que se revela nestos tabalhos ¢ © aracurecimerio de urna nova concepeo Soeabor cape de saeeguret na su in Sade eorganiodade numa perspectva tareiseipinar que rocorinacendoe weep landa dierent 9 eepociicndades, rope fronteas entre discipinas e postiras, {compose Fagmeriagses e recanstl cor vergéncias, Est perspectia de taba nlctecpl- nar 6 vista como exigéncia intngeca do propre saber, como viina sabre o asp Tolberal burguss captalstacom quesete vestuatondénciapostivica &oxpociaiza (Ge, comacaminho novo paraumaexple Tago mais ica dos problemas da analse ‘oda intorvangio sadais bom como ext legaetioaz paraodeseimeniodesausia. iniead poltca yy ISBN 85-289-0197-7 9 | 78852419019. SERVICO SOCIAL TERDISCIPLINARIDADE « 1008 FUNDAMENTOS FILOSOFICOS APRATICA INTERDISCIPLINAR NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSAO JEANETEL. MARTINS DE SA ORGANIZADORA ANTONIO Josquld SEVERING “LAUDIA CULLEM SAMPAO Davy Ross! JEANETE Liascl MARTINS OF SA Maria 00 Carwo Bison MARIA THEREZINHA CORREA MARQUES Marivena Co.ooo Mapicena Pinto Rawal Ho Marisa. C. Taco TANAREGINA SASSI +H edigao Sa ob MODA E OTRABALHO — O-serhuma. noma recorce amsaupenaareanh ‘Seu agit Reconhece-se na forma que dao seu mundo. Quando seu mundose ae Fagment tig mira-se.a horem em um espelho parida, cule de- ‘lve dee tho cstorcida imagem same cheia denise: Iginidede, Cassrer chserva que.a aisede conheamen: lode homernaobie simesma em nossos tempos, Yen dda ousr@nci de uma diva dadoe nuns artes oo Inheedos sore. reaidacde hurmana —cladas si0}0g eas, psicaidgioos,soeloiogioes, madicos ee. — despre vicos de una “espinha corsa" capaz de ariculer i260 nnumarosos dads nume grande esttura decornpreer~ ‘40 Ioto 6. nunca tvemos tania inlormiagao eotwe nos {20 meemo tempo, unea nos can neaarrie 189 Pau: co.some agora Etéclcompreender que umatal "espinna dorsal" <6 pad cova leericarnehia de ua arbstaneial nd: Mentagao tlasdtca canceia com 9 imagineria de nas 0 tempo e do qual promana a sua produce smb a; @ metodolog earmanta, deumprojetointerdisipinar ‘qusneaitue paraalomdaquioquetoium madsmo nos anos 70. Estarao muita bornaquisies que sobrexiveran ‘20 poder impiosiva do modisma, ¢ que soguom owe profundando um projeto que laga converor analses feta de angulos cistintos pata um proceso cataica dsabordagemdorealqueconduzaao lerceire momen: to oda sintese Anaise - cataise -sinieca, Els porques Unirsidase precisa vlan agora mais ‘ririosamenta, ab discurse.que jaamearenn abando: ar na refx da andademogisme Eis lamoem por ‘que, a0 sa pensar a ja consagrada rade: ensina pes: uica ¢ oxtennt, fea neosaeariamante engrandoada o fazer universténioquandos propasio aconieudo dase volume: Sorupa soci infedecipinaritace— cosiun ameniasflosdicos 4 price iniecscipinay no ensino, ‘pesquia cexienssn Isle ar razio de quo agora v8 dé forma berciia que scented odtkcutha e qe se atrocaiiniersubjelva de impresses pode aproximar 0 Clentiico de uma possibitadie maar do abarto Taiver sé assim asppatslogias da fagmontagdo do sa ber possam coragar a ser combats, rompanda os ‘iquas cis aspeciaismo sem desrospats a alga carac: {eristico da complaxiicagde social as especialzngses. Inpottanissimo @ cavarcanais de comunicacao entre discipinas quo iin vide num solamento este, pois {ais veios se raneiorardo em vas de inlelecundacdo ‘2 possolicade de saber como careirugae dislaioa Individual coletiva. Depois do festival a moda, aforca slencioca do abana. 9 5 gis de Morais SERVIG¢O Social E INTERDISCIPLINARIDADE +O 009 7 Os Registro: 000970 f er ORR V OVO fre Dados Internacionais de Catalogagao na Publicagao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) de Sa (on). —4. ed. ~ Sto Paula » Carter; 2002, Bibliogratia ISBN’ 85-249-0197-7 L Inverdisciplinaridade e conhecimento, 2. Serviga social — igo social — Filosofia 4. Sevvigo in0, Antonio Joaquim, L941 CDD-361.007081 “361.001 89-1914 “361 0972081 indices para catdlogo sistematico: 1, Brasil :Servigo social ; Estudo e ensing 361.0708) 2. Brasil: Servign 1 361.0072081 3. Servigo social: Fi on 4, Inverdisciplinaridadl social 361.001 5. Sorvign social e imerdiseiplinaridade 361.001 Avowo Joni Severino-CLAUDIA CULLEN SAMPAIO Data Rossi-JeaNeTe Lissc MARTINS DE Si ‘Maps 0 Caro Bison Vania THEREZint CORREA MARQUES Martena Couooo-Maritena Pinto Ramat no Marisa A. C. Tacca-TANa REGINA Sassi JEANETE L. MARTINS DE SA ORGANIZADORA SERVICO SOCIAL E INTERDISCIPLINARIDADE DOS FUNDAMENTOS FILOSOFICOS APRATICAINTERDISCIPLINAR,_ NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSAO 4 edicio SERVICO SOCIAL E INTERDISCIPLINARIDADE — Dos Junclamentas filostieos 8 pritica inentisciplinae no ensino, pesquisa ¢ exensio AiG Joaquim Severina Claudia Callen Sasapsio le Dalva Rosi Seanete Liases Maetns de 86 (Org) Maria do Corina Biajoni Maia Therezinka Corsa Marques Malena Colo Mariteus Pino Ramat Marisa A.C. Tooeo "Tania Regina Savas ‘ansellioedturiat:Adceic Alves Sltva, Maria Lieia Sis Watroco eM iva, Did one, Matta Leia Carvate Ua lara Rosingets Batsion\ Copa: Maria Regina Klein, sobre Kandinsky Jae, Rouge en {1925}, devas ‘evisao: Ana Maia Barbosa, Carte Tt Costa NNeninnma pore cesta bra pode ser repreduci ot dupticada sent arizagao expressa dos atares © da ecto © 1989 by Autores Direitos para esta ed CORTEZ EDITORS Rua Bora, 317 = Perizes 125009.000 ~ Sto Paulo — SP Tels (11) 3864-0111 Fax: (11) 3864-4290 Erunail cortez Georiexediora com br ‘ww comtezeiitora comer Lnopresso no Brasil ~ juno de 2002 SUMARIO Apresentagao SJeanctc Liasch Martins de Si Substiios para wna reflextio sobre novos caminhos dda interdiseiplinaridade Anténio Joaquim Severino E-specialivagfin veess Interdisciplinaridade; wna proposta alternativa Jeanete Liasch Martins de S4 Os movimentos ecoldgicas e a interdisciplinaridade Maria Therezinha Corréa Marques Marilena Pinto Ramalho Interdisciplinaridade em questo: andlise de uma politica de saidie voltada & muther Claudia Cullen Sampaio Dalva Rossi Maria do Carmo Biajoni Marilena Colodo Marisa A. C. Tacco ‘Tania Regina Savassi APRESENTAGAO ‘A questo da interdisciplinaridade vem fineando suas raf- zes hé muito tempo na Faculdade de Servigo Social da Pontifi- cia Universidade Catética de Campinas, inquietando, estimu- lando ao estudo mais profundo do tema e sugerindo propostas no nivel do ensino graduado ¢ p6s-graduado, no nivel da pes- quisa ¢ da extensio. (© que nos tem impulsionado em diregao a interdisciplina~ ridade como proposta altemnativa é 0 fato de reconhecermos a faléncia do modelo de organizacéo curricular por matérias iso Jadas, pautado na racionalidade cientifica de cunho neopositi- vista. De forma contraditsria, este mesmo modelo tem servido, ‘com pequenos arranjos, a projetos pedagégicos pretensamente comprometidos com a transformagio social. Atribui-se, entio, a virtude de “mudanga’” ao contetido programético de determi- hadas disciplinas, sem a necesséria revisio nas bases episte- molégicas da formagao profissional. Com isto, os curriculos acabam evidenciando mecanismos de manutengio de estruturas educativas funcionalistas ¢ trabalhando espagos muito reduzi- dos para a sua superacao. A dimenséo da contradicéo ¢ da totalidade, tio necesséria 20 processo educativo, se esvazia no momento em que a frag- mentagdo do saber vai, por conseqiiéncia, permitindo uma aproximacdo estruturalista da realidade, numa aniilise unilate, ral. A somatéria de refeténcias ao contexto social néo é auto maticamente representativa deste contexto € nio estabelece, Por si 86, relagées entre os contetidos. A repercussao destas distorgoes toma-se evidente no ensino, na pesquisa, na ex. tensio e, por conseguinte, na acdo profissional, Hé que se construir um novo modelo de organizagaio cur- rieular, que privilegie a unidade e a organicidavte do saber, que Procure articular as aproximagées com o real, de forma sis, tematica, que permita uma relagdo entre sujeito © objeto de forma constituinte e no constituida A tarefa é extremamente érdua, num momento histérico dominado pela légica do processo cientifico, A especializagao © @ tecnocracia penetram, enquanto ideologia de fundo, nas Consciéncias © nas estruturas sociais, gerando forga legitimadora, Além de set um empreendimento de orem filosofica, cientifica ¢ educativa, a busca da interdisciplinaridade corres. Ponce a um desafio, por se constituir num ato politico de ex. frema relevancia para a consecugio do atual projeto de for- mago profissional do assistente social. Este ato implica um redimensionamento da fungao educativa da relagio escola. comuntdade € docentes-profissionais-grupos das classes popu- nee. Bis af as razdes essenciais de nossa proposta, as quais Julgamos oportuno acrescentar a contribuigdo do Curso de Mestraco em Filosofia da PUCCAMP, que vem permitindo, a um ntimero significative de docentes assistentes sociais, 0 acesso a um referencial teérico fundamental & compreensio do aspecto interdiseiplinar. Foi com imenso prazer que convidamos 0 Professor Ant6nio Joaquim Severino, primeiro coordenador do referido Curso, a abordar a questo em suas bases filosGficas, apontan- do 0s novos caminhos da interdisciplinaridade. A unidade do 8 1 como expresso natural do conhe~ ipo estan penesee Hnlade, fompo histreo encar ena de quebrar essa unidade, comprometida em penal ode itrsipiridae. A oasea dena i culo & propria interdisciplit AD me ati- tae inerdiscptaar, quer na esfera da pesquisa, da praticn of cial ou do ensino, deve ser precedida de uma reavaliagdo dy “papel da Cigncia e do Saber em suas relagdes com 0 poder”. io se trata de criar umn superciéneia, mas de busear @ con corréncia solidéria das varias disciplinas na construgéo lidade humana, ; © segundo texto analisa do ponto de vista sees ee Brasil, © proceso de desenvolvimento siento, ation projelo politico liberal-burgués capitalist, que desemboce no vel do ensino e pesquisa nos eursos de pés-graduagio, ov, de modo mais especffico, nos cursos de eepenialingio.E ies uma das principais contradig6es, que corresponde & rel fo en tre © nivel l6gico © 0 poltico-ideolégico da formagio profis. sional pés-graduada © apresonta uma proposta alters aes Tnterdsciplinaridade ~, que se contrapde 60 prtero aaa at “Bspecializagio”. A experiéncia bésica comesponde a sore Trabalhes Comunitérios ¢ lnterdiscipinaridede + minis~ trado na Faculdade de Servigo Social da PUCCAMP. ‘Como resultado dessa experiéncia, apresentam-se os ass textos seguintes, fruto da. pesquisa realivada durante 05 ees semestres letivos, por profissionais, que cursavam a Esp* zagio. / ° 0 texto sobre “Os movimentos ecoldgicos ¢ a isin plinaridade’” aborda um tema atual, pouco explorado pelos ee fssionsis do Servigo Social ¢ que, por sua natuezaypressupse a. ago interdisciplinar aliada & participacéo politica ae dadios, na luta pela defesa da qualidade de vida. Toma por ba se a experiéneia vivenciada pelo movimento sookigiea "Gn eo Cheiro Verde’, na cidade industial de Americana, Estado de Sio Paulo, tendo como principais protagonistas © Estado, populagio € a indiisiria. © quarto © iltimo texto “Interdiscipi auestio: anélise de ume politica de sade volada 2 mulher” procura estudar a interdisciplinaridade no atendimento prestado as mulheres nos Ambulatérios de Obstetricia do Centto de Ateneo Integral a Satide da Mulher (CAISM), da UNICAMP. ‘ agio interdisciplinar surge como proposta, numa organ Zag que vive a conttadicdo inerente & questao “sate da mu Ther": de um lado, vista sob 0 prisma dos movimentos poptla- res, de outro, sob a dptica das politicas sociais. Os depoimen tos dos profissionais de diferentes ‘reas so ricos em “in. ‘engées interdisciplinares”, embora, no entender das autores, a pratica ainda se caracterize como multidisciplinar, numa fase intermediaria, rumo a interdisciplinaridade . Jeanete Liasch Martins de Sé SUBS{DIOS PARA UMA REPLEXAO SOBRE NOVOS CAMINHOS DA INTERDISCIPLINARIDADE Anténio Toaguim Severino Introdugao ‘A conceituacéo de interdisciplinatidade é, sem diivida, uma tarefa inacabada: até hoje nfo conseguimos definir com preciso o que vem a ser essa “vineulago, essa reciprocidade, essa interagio, essa comunidade de sentido ou essa comple- mentaridade entre as vérias disciplinas". E que a situacao de interdisciplinaridade é uma situacio da qual nao tivemos ainda ‘uma experiéncia vivida e explicitada, sua prética concreta sen- do ainda processo tatcante na claboragdo do saber, na atividade de ensino e de pesquisa ¢ na acéo social. Bla é antes algo pres- sentido, desejado ¢ buscado, mas ainda nio atingido. Por isso, todo investimento que pensadores, pesquisadores, educadores, profissionais e especialistas de todos os campos de pensamento ago fazem, no sentido de uma prética concreta da interdisci- plinaridade, representa um esforco significative rumo A consti- uicdo do interdisciplinar. © Dour ety Filosafin Professor de Filosofia da Pauengho, da Faouldade de Balveagso da USP. uw Este texto se propde apenas refletir sobre esta questo, fundamental para a Ciéncia ¢ para a Filosofia contempordneas, trazendo, quem sabe, alguns subsidios para a discusséo que o Conjunto dos trabalhos deste livro esté colocando com relagao & teoria, ao ensino, & pesquisa e a atuacao profissional no cam po do Servigo Social A unidade do Saber: uma presenga arquetipica Sem pretender entéo elaborar uma teoria original da in- terdisciplinaridade, vou partir da afirmacdo geral de gue ela diz respeito, fundamentalmente, a uma tentativa unidade do Saber, estgja ele posto em agéo no ensino, na pesquisa ou na pritica social. E desde ja cabe reiterar a intima ligaco de toda ativi- dade da consciéncia com a demanda do agit. Com efeito, a propria consciéncia surge no bojo do esforgo do homem para conservar sua existéncia material, produzindo-a a0 prover os meios de sua conservacdo © a0 se reproduzir como espécie. Assim, o conhecimento enquanto instrumento de sobrevivencia da espécie humana é, de fato, uma forma diferenciada de agir, ampliando o alcance © 0 poder efetivo dos homens na criagao © recriagdo de seus meios de existéncia, pela reorganizacao dos recursos naturais, que Ihe sio oferecidos. Essa capacidade é 0 dado novo: a disponibilidade de um equipamento, que thes permite modificar, de acordo com uma intenc&o subjetivada, a ordem mecénica do mundo natural ea ordem transitiva do ins- tinto. Assim, 0 pensamento surge imanente vida, enquanto consciéncia origindia ¢ originante, o que nao cabe, pois, justi- ficar. Enquanto tal, & base arqueolégica de toda forma de consciéncia, bastando-se a si mesma, nao contando com outros recursos para dar conta de si, Portanto, 0 cardter pragmatico do conhecimento the € intrfnseco e constitutivo desde suas ori- gens, © seus tragos se encontram presentes em todas as formas de expressio da consciéncia, Essa é a primeira dimensao da unidade do Saber: na sua génese propriamente epistemolégica, assim como na sua finali- 12 dade fundamental, a atividade da consciéneia ¢ como que guiada por essa exigéncia de unidade. E essa origem fundante de todo Saber jé devia nos convencer da significacao da rele~ vante prioridade ¢ da naturalidade da expressio interdisciplinar do conhecimento. A perda da unidade do Saber no tempo histérico eo testemunho do mito, da Metafisica e da Ciencia Porém, no desdobramento da experiéncia histérica dos homens e no constituir-se da complexidade da experiéncia psf- quica ¢ social, essa intimidade da consciéncia com a pratica foi se obscurecendo, cada vez mais. E quanto mais a consciéncia se “autonomizou”, quanto mais foi deixando de fazer corpo com sua vivéncia natural, mais foi perdendo sua unidade, apre~ sentando-se & sua propria reflexdo como Saber diversificado, como miiltiplas sendas, que guiam para a variada multiplicida~ de dos objetos da experiéncia. Quanto mais a consciéncia dei- xa de ser subjetividade vivenciada rumo & pretensiio de uma re~ flexio pura, mais ela passa a pressupor a distingdo ¢ a multi- plicidade do real. Com efeito, a suposta pluratidade dos caminhos do pen- sar vai também produzit a suposta multiplicidade dos aspectos do real. O sujeito se separa cada vez mais do objeto e 0 uni- verso sc transforma num pluriverso, Como tudo, porém, que esti inserito de forma arquetipica na experiéncia da espécie, a exigéncia da unidade se impée como forga originéria. Ainda quando negada pela consciéneia explicita, ela se insinua sub-repticiamente e se faz, também pre- sente e atuante de forma implicita. B 0 que nos revelam os di- verses momentos significativos dessa longa e épica historia da consciéncia no tecido da historia da vida social ¢ cultural da Humanidade. Com efeito, € interessante constatar que, tio logo © ho- mem comeca a registrar seu pensamento jé possuidor de algu- B tna intencionalidede, uma primeira oposicdo o perturba: a traposingo caosicosmos. © mundo gue precisa sor pons compreendido ¢ explicado e, eventualmente, subjugedo, aparc: 2 de inicio como caos, multiplicidade desordenada e confuse, carecendo, portanto, de ordenagio, que se dari pela unifi, cagio. Compreender ¢ explicar, dar conta do universo, € con. seguir ordenar 0 caos, dar-the ordem. E assim que o 2 ‘mito jé revela essa exigencia da unidade, exigéncia que se ox pressa pela busea incessante de uma génese attibuivel a um principio gerador ou constitutivo bem como de “leis” que gar Tantam a permanéncia de sua atuacao eficar, meen __O que dizer entdo da consciéncia filosdfica desde sua Origem até as suas mais elaboradas expresses metafisicas? Nao exigem os filésofos pré-socriticos que 0 universo tenha uma arqué © que o olbar filoséfico seja um caminho tinico ¢ verdadeiro de sua apreensio? Parménides chega mesmo a for- mular unidade, a unicidade, a universalidade ¢ a necessidade desse prinefpio fundamental que € 0 ser. A Metatisica clissica, fanto sob inspiracao platOnica como aristotélica, depée de foe ima explicita a favor, nfo s6 da unidade do ser, mas tambsin a Gor Gnaucla do conhecer. Alis, enquanto transcendentalida- ©, set, verdade, unidade ¢ bondade so intrinsecamente sind- nimos e idénticos. Ens, unum, verum et bonwn convertuntur! Por isso, 0 mult sti lo-se , iplo, o diverso castico € iluséi plano das aparéncias ey itandose n9 Contudo, a exigéncia da uni ia apenas uma ius ingénna da Notatce Goose Sree quando a Tazo iluminista, questionando com radicalidade as Pretensdes da Metafisica, consti a Ciéncia como nove cane co caminho de acesso ao real. Também para a Ciéncia, dont dade do real se da através da unidade da Natureza, constituida jsedlonte "igoroso encadeamento de relagées causais constan- cs entre os fendmenos, de tal modo que a complexidade di aparéncia possa ser redutivel & unidade do sistema explicativo, ue sintetiza teorias, leis e fendmenos ” rt © projeto positivista ¢ © comprometimento da interdisciplinaridade 0s iniciadores da Ciéneia nao perderam de vista essa am- bigao do Saber. Perseguit-os a idéia da unidade “cdsmica” da Natureza, que inclufa até mesmo o homem, dela parte integran- te e continua, Todavia, a imposigio © a predominancia he- geménica de uma metodologia positivista levaram os cientistas a uma fragmentacao do Saber © ao sacrificio da unidade do real, Escravizando-se demais a0 protocol da experiéncia, 0 Saber da Ciéncia positivista leva necessariamente & autonomi- zacio dos varios aspectos de manifestacdo do real. Assim, as intengées manifestas do Positivismo comtiano acabam perden- do terreno para suas implicagées latentes: a afirmagdo das espe- cialidades prevalece sobre a busca do sistema do universo, con- vertendo-se antes na afirmagio da sistematicidade do método. © Positivismo torna-se, portanto, no limiar da contempo- raneidade, o maior responsavel pela fragmentagao do Saber ¢ 0 maior obstéculo & propria interdisciplinaridade. E. com toda razao, dado que ele se apresenta fundamentalmente como uma Filosofia da Cigneia, tematizando de modo especifico a questo da natureza, do processo ¢ do alcance ¢ validade do Saber cientifico, tendo, portanto, muita autoridade. Marcou profundamente as feigdes da cultura contemporanea, de modo particular no aspecto epistemoldgico. Consagra a proposta das especializacées, que, se no chegaram a comprometer 0 esfor- o de unificagao no fimbito das Ciéncias Naturais, comprome- toto, de forma inevitével, no Ambito das Ciéncias Humanas. Por isso, buscar hoje caminhos de interdisciplinaridade & tarefa que inclui um necessario acerto de contas com 0 Positi- vismo bem como uma reavaliacao de sua heranga. E bom en- tender, no entanto, que esta busca ndo significa a defesa de um saber genérico, enciclopédico, eclético ou sinerético, Nao se trata de substituir as especialidades por generalidades, nem 0 seu saber por um saber geral, sem especificagées ¢ delimi- tages. Assim, j4 que se esclarece um pouco mais o que vem a ser a unidade no interdisciplinar: 0 que se busca € a substi- 15 tuigtio de uma Ciéncia fragmentada por uma Ciéneia unificada, ou melhor, pleitcia-se por uma concepgdo unitéria contra uma concepsao fragmentéria do Saber cientifico, 0 que repereutira de igual modo nas concepgGes de ensino, da pesquisa ¢ da ex- tensio. Se, de um lado, € de se creditar ao projeto iluminista/po- sitivista uma valiosa contribuigao ao denunciar e superar a ge~ neralidade da construgio do Saber metafisico, livrando-nos as- sim do medo do mundo da naturalidade, impée-se hoje, de ou- tro, debitar-he 0 énus da fragmentacao do Saber, o que exige igualmente a prética de uma dentincia ¢ 0 esforco de superagin dessa etapa da evolugée do Saber. E isso nao s6 por motivos exclusivamente epistemolégicos mas também por motivos poli ticos. A concepgao fragmentéria da Ciéneia, tal qual foi conso- lidada pelo Positivismo no contexto do mundo contemporaneo, relaciona-se de forma intima com um proceso de divisio téc- nica do trabalho humano, que arrasta consigo uma correspon- dente divisao social do trabalho, dilufdo no taylorismo da agao ‘nico-profissional. Isso tem graves conseqiiéncias na estrutu ragio da sociedade € na alocagtio do poder politico entre as classes sociais. Além de base epistemoldgica do desenvolvi- mento cientifico ¢ técnico, o Positivismo passou a ser também © sustentéculo ideoldgico, extremamente consistente ¢ resisten- te, do sistema de poder social e politico reinante nas socieda- des modernas, sistema de poder este que se tem manifestado de modo fundamental come sistema de opressio, pelo que contra~ diz radicalmente as inteng6es declaradas do projeto iluminista de fazer da Ciéneia um instrumento de libertacao dos homens. 6 por isso que se pode afirmar com toda seguranga que nenhuma revisdo do Positivismo se faré de forma vélida num plano puramente epistemolésico, sem uma critica também radi- cal de suas aliangas € compromissos ideoldgicos. Nao basta tomé-lo tecnicamente mais rigoroso, como pretende 0 empitis- ‘mo I6gico, nem suplanti-lo no terreno das relagées epistémicas entre sujeito © objeto, como o faz, © mais das vezes, a Feno- menologia. Nao existe, isento de implicagées ideolégicas, um 16 positivismo superior. Na realidade, a critica epistemolégica ao Positivismo nao tem a ver apenas com critérios téenicos © éti- cos: ela € necessariamente politica, Em busca de uma atitude interdisciplinar E nessa linha de consideragées que o problema do inter- disciplinar se redimensiona, Nao se trata tanto de contrapor Epistemologin & Epistemologia, mas de|reavaliar © papel da Ciéncia e do Saber em suas relagGes com o poder. Dai, se uma visdo interdisciplinar, unilivada © convergente, se faz necessé ria no Ambito da teoria, ela serd exigida igualmente no émbito da prética, scja esta a pritica da intervengéo social, a pritica pedagégica ou a pritica da pesquisa Assim, @ questo da interdisciplinaridade se aguga no campo das Ciéncias Humanas, campo em que 0 Positivismo, para além do mérito de ter ousado tomar 0 homem como objeto da abordagem cientifica, pouco pode avangar no conhecimento do mesmo. Sua insisténcia nessa empreitada s6 tem acarretado © surgimento de novos grilhées de dominagéio e opressio. O homem é uma unidade que s6 pode ser apreendida numa abor- dagem sintentizadora ¢ nunca mediante uma acumulagao de visdes parciais. De nada adianta proceder por decomposigao, andlise © recomposicao de aspectos: esta soma nfo dari a tota- Tidade humana. E preciso, pois, no ambito dos estorgos com vistas ao conhecimento da realidade humana, praticar, inten- cional e sistematicamente, uma dialética entre as partes € 0 to- do, 0 conhecimento das partes formecendo elementos para a construgio de um sentido total, enquanto © conhecimento da olalidade elucidaré © préprio sentido que as partes, autono- mamente, poderiam ter. Isto nos chama a atengéo para uma série de conseqién- cias, que dizem respeito 4 interdisciplinaridade, relativas & nossa atuacdo nos varios campos ligados ao Saber. "7 A dissolucao das fronteiras entre as disciplinas Em primeiro lugar, as fronteiras entre as varias éreas e Ciéncias relativas ao homem ficam radicalmente diluidas. A compartimentalizagao do Saber € um residuo da conformacao positivista. A autonomia, 2 identidade propria de cada especia- lidade cientifica, néo pode ser levada ao extremo, sob pena de isolar, de forma inadequada, uma parte, um aspecto da realida- de humana, isolamento este que tende a uma objetivagao, que comprometeré a condicdo viva de sujeito de que o homem no pode se privar sem deixar de ser homem. Resgatando a idéia da finalidade pragmética de todo co- nhecimento, cabe dizer que as Ciéncias Humanas, ao buscarem claborar uma imagem cientifica do ser do homem, estio bus- cando construir um sentido para sua existéncia, estéo buscando atingir uma compreensiio. Contudo, para além da descoberta das estruturas objetivas da existéncia natural dos homens e da abertura de espagos para a intervencao técnica sobre elas — fins imediatos de cerater pragmatic — existe presente, nas Ciencias Humanas, uma tentativa de fomecer aos homens uma imagem da totalidade de sua propria existéncia, com 0 objetivo de Ihes possibilitar 9 domfnio de elementos, que contribuam para fomé-la cada vez mais adequada, no plano de sua expansio es pecificamente humana. Ora, esse objetivo retine 0 que 0 Posi- tivismo separou. Néo ha diivida de que ha uma convergéncia de todas as Ciéncias Humanas para uma visio sintetizante do homem, da sociedade e da Humanidade. Nessa espécie de “an tropologia geral”, as fronteiras das especialidades se diluem, a interdisciplinaridade pode se efetivar e a Ciéncia reencontra a propria Filosofia, A interdisciplinaridade na pesquisa Bm segundo lugar ¢ em consegiiéncia da afirmacao ante- rior, a produgéo da Ciéncia, de modo particular na grea das Ciéncias Humanas, exige um esforgo de interdisciplinaridade. Assim, também na esfora da pesquisa, a exigéncia da interdis- 18 7 ciplinaridade se faz presente. Isto nfo quer dizer a submissio das varias Ciéncias do Homem a uma metodologia inica, mas a sensibilidade de cada uma as contribuigées, enfoques pers- pectivas das outras. Trata-se, sem dtivida, de uma atitude de predisposigio & intersubjetividade, a uma comunidade constru- tiva de sentido. Toda conchiso obtida numa érea fica como ‘que incompleta, aberta, com “encaixes” preparados para rece- ber complementacfo de outra area. Conseqiiéncia para a prética social Em terceiro lugar, chega-se & conclusio de que, no con- cemente as préticas de intervengdo social, também se faz: pre~ sente a necessidade de uma postura interdisciplinar. Se 0 traba- Iho prético visando tornar as condigées concrotas de existéncia dos homens mais adequadas, de todes os pontos de vista, esti fundamentado numa concepgao articulada, construida mediante a contribuigéo deconhecimentos empiticos ¢ teéricos, nfo se reduzindo a puro ativismo espontanefsta, entiio € dbvio que es- sc trabalho tem de Ievar em conta a complementaridade de to- dos os elementos envolvidos. Toda acéo social, atravessada pe- la anélise cientifica e pela reflexdo filoséfica, € uma praxis e, portanto, integra as cxigéncias de eficécia do agir tanto quanto aquelas de elucidagao do pensar. Por isso mesmo, ela necessita da contribuigio miltipla ¢ complementar dos subsidios forne- cidos pelns virins Cigncias. A intervencio prévica é 0 cortes- pondente social e concreto da “antropologia geral” de que se falou acima, Pressup6e, de forma necesséria, uma convergente colaborag’o dos especialistas das varias dreas das Ciéncias Humanas, evitando-se assim uma hipertrofia, seja de uma fun- damentaco unidimensional, seja de uma intervengao puramen- te técnico-profissional. Acio pedagégica ¢ interdisciplinaridade Bm quarto lugar, cabe destacar a extrema relevancia da pritica da interdisciplinaridade na esfera do ensino. A questo 19 aqui se torna crucial, dado o efeito multiplicador da ado pe- dagégica. A Educacao é, aliés, 0 exemplo, dos mais evidentes, da nevessidade de uma abordagem interdisciplinar, seja como objeto de conhecimento ¢ de pesquisa, seja como espago de in- tervencao sociocultural. De modo geral, porém, como formar 0 profissional ¢ 0 cientista a nao ser sob um enfoque interdisciplinar? A luz do que j4 explicitei a respeito da natureza da Cigncia e da pro- dugio do conhecimento, € inevitével concluir que a auténtica iniciagdo & Cigncia e a prética da pesquisa passa, de forma ne~ cesatria, por uma metodologia vazada na interdiseiplinaridads. Lamentavelmente, os curriculos plenos dos virios cursos, na maioria dos casos, nfo garantem, com sistematicidade, essa exigéncia que € pertinente também para os cursos profissiona- fizantes, Conclusio Uma concepeio unitéria do Saber, tal qual visualizada numa perspectiva de interdisciplinaridade, nao significa que ceva ser constitufda uma espécie de superciéncia tinica nem que 0 real seja algo intrinsecamente, homogéneo ¢ indiferencia~ do. As diversas disciplinas continuam como vilidas perspecti- vas de abordagem dos diferentes aspectos do real. Para se constituir, a perspectiva interdisciplinar néo opera uma elimi nagio das diferengas: tanto quanto na vida em geral, reconhece as diferencas ¢ as especificidades, convive com elas, sabendo contudo que elas se reencontram ¢ se complementam, contra- dit6ria e dialeticamente. O que de fato est em questao na pos- tura de interdisciplinaridade, fundando-a, € 0 pressuposto epi temoldgico de acordo com 0 qual a verdade completa no ocor- re numa Ciéncia isolada, mas ela s6 se constitui num processo de concorréncia solidaria de varias disciplinas. Além disso, a interdisciplinaridade implica, no plano pré- tico-operacional, que se estabelegam mecanismos e estratégias de efetivacio desse didlogo solidério no trabalho cientifico, tanto na pratica da pesquisa, como naquela do ensino ¢ da 20 prestagdo de servigos. Nao basta, por exemplo, uma estrutura curricular com justaposicZo de disciplinas, se nfo houver em ago um proceso vivificador de discussio, que explicite as correlagées e reciprocidades de significacio. Finalmente gostaria de observar que a atitude interdisoi- plinar exige ainda a superago da preconceituosa afirmagao de incompatibilidade entre a Ciéncia ¢ a Filosofia. O Saber huma~ no vive hoje uma grande época tanto para a Ciéncia como para a Filosofia, que parecem ter encontrado 0 segredo de uma coe~ xisténcia pacifica, Essa convivéncia, porém, nao é aquela que decorreria da dissolugao de uma na outra ou do predominio de uma sobre a outra, ou ainda da pressuposigio da homogenci~ dade de seus objetos ou de seus métodos; a0 contrario, € aque- Ja da autonomia bem definida de cada uma, da seguranga da propria identidade assumida ¢ cultivada, Esto definitivamente superados tanto um metafisicismo dogmético como um cientifi- cismo exacerbado. Hoje, as Ciéncias dedicam-se, com a abrangéncia que seu método Ihes permite, ao desvendamento de todas as relagées, que tecem a realidade fenomenal, enquan- to a Filosofia se expande em todas as diregGes, com toda a li- berdade de investigagao que a razdo natural Ihe assegura, pro~ curando constituir 0 sentido, a significagio dessa realidade. Enfim, consagra-se 0 reconhecimento da multiplicidade dos olhares do espitito sobre uma realidade multiforme. Todavia, 10 mesmo tempo, consolida-se a conviegio de que essa multipli- cidade constitui uma rede nica a testemunhar, que, na origem de tudo, esta um espirito tnico a olla para um tinico mundo, Referéncias bibliogréficas ANDERY, bf. 4. ct ali, Pere campnencer cnc won persectva hist, Pig de facia, Lt Bapago.e TempollsDUC, 198s. a PAZENDA, N. hivegracao ctterdaciplnaridade no ensino rasta, Sio Paulo, Leoyoti 1979. “ — GUSDORITG, Paasé, présnt ot avenir de a recherche interdisiplinais, Rov. Sov. neste, ¥-29, 197 thes seleces de fone sont des sciences hnenaints. S rashoure, 1967. IAPIASSO, U, Interdiscipinardaite ¢ patologia do saber. Ria de Jeasito, lmao, 1976, a BSPECIALIZACAO VERSUS INTERDISCIPLINARIDADE: UMA PROPOSTA ALTERNATIVA (Um estudo sobre os Cursos de Pés-Graduagao no Brasil, enfocando a especializacéo em Servigo Social) Jeanete Liasch Martins de Sd* Introdugao A politica brasileira de desenvolvimento cientifico ¢ tec~ nolégico vem traduzindo os interesses governamentais, de for~ ma explicita, desde 1973, através dos Planos Basicos de De- senyolvimento Cientifico ¢ Tecnol6gico (PBDCT). ‘A formagao © © aperfeigoamento de recursos humanos sao destacados nesses planos como elementos de fundamental impor cia para o desenvolvimento nacional. Fstabeleceram-se microobjetivos a screm alcangados em todas as Areas do conhecimento, através de um processo global fe integrado de desenvolvimento cientifico, destacando-se as atividades de pesquisa como fonte de inovagées tecnolégicas num deteminado setor. A busca de maior autonomia ¢ de controle do processo de desenvolvimento nacional, atrelado a Ciéncia e & Tecnologia, © Poutorannla em Servigo Social pela PUCESP, Mestra ern Filosofia da Fdseagho, ‘Bitetora da Faculdade de Servigo Secial da PUCCA MP. 23 faz parte de um projeto politico liberal-burgués capitalista e tem suas rafzes na década de 50, quando se observa a preocu- pacdo com a sistematizagao do trabalho cientifico e tecnolégie~ co, Corresponde a esse perfodo a criagdo dos primeiros Cursos dle Mestrado (apesar da falta de uma conceituacio de P6s-Gra- Guagéo, através de dispositivos legais), bem como & instituigéo do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) da Campanha de Aperfeigoamento do Pessoal de Ensino Superior (CAPES). © modelo de desenvolvimento adotado no Brasil na dé- cada de 60 foi propicio ao estreitamento da relagéo Ciéncia- ‘Tecnologia ¢ Aperfeicoamento do Ensino Superior. E em meio & criagdo ¢ dinamizagao de recursos para via- bilizar o projeto desenvolvimentista, que se implanta oficial- mente, em 1972, a Pés-Graduagio stricto sensu em Servigo Social nas PUCs do Rio de Janeiro e Séo Paulo. Uma ripida anélise dos Planos de Desenvolvimento Cientifico Tecnolégico, no que tange a formagio de recursos humanos, toma evidentes suas pretensées basicas: — atingir um nivel de competéncia nacional para propor solugdes ¢ realizar projetos; — crescente capacitagiio cientifica; = maior autonomia tecnolégica; = voltar-se politica ¢ estrategicamente para a solugdo dos problemas nacionais, que resultem na acdo social adequada & melhoria das condigées de vida da populacio. Em resumo, 08 PDCTs buscam a ampliagio e solidifi- cagao da competéncia nacional associada & sua adequada utili- zacio. Trata-sc, na verdade, de mais um mecanismo do Estado brasileiro para regular suas relagdes com a Economia, situando a Cincia ¢ a Técnica como elementos de dinamizacdo das for- as produtivas. Diante do projeto politico ¢ das exigéncias govemamen- ais, como se colocam, de fato, os Cursos de Pés-Graduacdo stricto € tato sensu’? 24 E de se supor, em principio, que haja uma adequagao da dinfmica dos cursos & modernidade mesma do projeto e As suas exigéncias de eficdcia e otimizagio de recursos. No entanto, contraditoriamente, 0 que se constata, através dos resultados da Pés-Graduacio, & que 0 mesmo projeto que visa atender as demandas do sistema capitalista liberal-burgués tem permitido a formacao de intelectuais erfticos em relagio a esse mesmo sistema. Nas profissées, cujo caréter técnico se subordina a uma dimenséo polities de reforgo aos interesses populares, que & @ situagio especifica do Servigo Social, essa contradicio se acentua, acrescentando uma série de desafios. Um deles cor- responde & relacio entre © nivel I6gico € 0 politico-ideolsgico da formagio profissional. Longe de estabelecer um vinculo mecanicista entre o pli- no de estudos © a proposta politica, esta questio, sem divida, se coloca no seio das relagdes contraditérias. Corresponde & busca da racionalidade da matriz. teérico-metodolégiea, que in~ forma a organizagdo curricular de um curso pés-graduado, em relacio aos objetivos pretendidos. Implica a revisio do concei- to de Ciéncia ¢ a busca de modelos alternatives de prética edu- cativa. Se, de um lado, 0 Estado estabelece estrategicamente e de forma competente suas politicas educacionais, para atender ans interesses dominantes ¢ se hd contradigéo no processo, & preci- 0 reconhecé-la ¢ trabalhd-la também com competéncia e es- tratégia, 0 que passa a ser um dos atos politicos mais importan- tes © necessarios ao processo educative. Com freqiiéncia, os Cursos de Pés-Graduagao adotam, uma atitude muito critica em relagio & sociedade, porém, bas- tante consorvadora em relagio & maneira como tratam e refle- ‘tem essa mesma sociedade, em especial no que concerne ao en- sino ¢ &s formas de ensinar. Esta postura é extensiva aos Cur sos de Graduagao ¢ as Universidades em geral. 25 Com relagio aos cursos lato sensu, existe um agravante — @ sua natureza de “especializagdo” propriamente dita — que vai se somar ao elenco de fatores entio caracteristicos da formagao profissional pés-graduada: ___~ compartimentalizagao ¢ atomizacao do curriculo (orga~ nizacao dos programas por disciplinas relativamente auténo- mas); ~ individualismo nas pesquisas e escolha aleatéria de te- mas: ~ falta cle nticleos bésicos ou linhas explicitas de investi- gagio; ~ disténeia do curso como um todo e das pesquisas com ‘08 problemas sociais concretos; ~ consideragio da pesquisa apenas como atividade com- plementar aos cursos. Atenta a tais fatores, a Faculdade de Servigo Social da PUCCAMP procurou estabelecer orientagées bisicas para seus cursos de Especializacao, que devem buscar: ~ uma organizagio mais dinimica (orgéinica) do conhe~ cimento; um fluxo constante de inter-relago entre elementos leéricos € priticos € a unio progressiva de conhecimentos ¢ exigéncias da realidade social; — uma perspectiva interdisciplinar de conhecimento € operagao sobre uma realidade multifacética e complexa, ou se~ Ja, uma organizacio Iégica de disciplinas © contesidns, sem perda da identidade profissional; — a relagio e conexio entre profissionais do social, que atuam num determinado espago social, com um projeto sécio- politico semelhante; ~ a investigacio da totalidade de um processo definido por problemas sociais concretos, através de aproximagées sis- teméticas ¢ rigorosas; ~ projetos altemnativos de ago profissional, que reforcem 0s interesses das classes trabalhadoras ou o seu projeto politico, ___ Nessa perspectiva, a Faculdade organizou, em 1985, 0 Curso de Especializacéo “Trabalhos Comunitérios e Interdis- 26 ciplinaridades”, para profissionais do Servigo Social e de éreas afins, ministrando-o para duas turmas até 1988. 1. Antecedentes histéricos & Pés-Graduagao no Brasil A Pés-Graduagéo no Brasil desenvolveu-se, de forma sis- tematizada, na década de 1960 e s6 em 1974 teve sua politica devidamente explicitada, através do I Plano Nacional de Pé Graduagio, voltado, de forma prioritéria, para © aperfeigoa- mento de docentes do ensino superior. No perfodo anterior (1911 a 1961), a preparacéo para o magistétio superior, através do Doutorado, era episédica e sem grande expresso. A tradicional “‘cétedra” era provida por meio de Concurso de Titulos © Provas, sendo a tinica insti- tuicfo a que se atribufam prerrogativas ¢ vantagens, alé que a Reforma Francisco Campos, em 1931, equiparou o Concurso de Habilitagao 4 Livre-Docéncia ao Concurso de Professor Ca- tedritico. A Livre-Docéncia, instituida pela Lei Orgénica do Ensino Superior ¢ do Fundamental-Decreto n° 8.659, de 5 de abril de 1911, mais conhecica como Reforma Rivadavia Cor- reia, prestou relevantes servigos no preparo para o magistério superior, funcionando como verdadciro dispositive de f magdo de doutores ¢ aperfeigoamento de docentes (Sucupira, p. 480). Duas correntes universitérias influenciaram a P6s-Gra- duagao brasileira: a européia, adotada pela Universidade de Sio Paulo, ¢ a norte-americana, introduzida no Instituto Tec- nolégico da Aerondutica (ITA), de Sao José dos Campos, na Universidade Federal de Vigosa (MG) e na Universidade Fede- ral do Rio de Janeiro, © modelo norte-americano acabou prevalecendo, por razGes hisiGricas, que teremos oportunidade de ubordar logo em seguida. Antes, porém, € importante que nos detenhamos, ainda que rapidamente, na experiéncia da Universidade de So Paulo (USP), por sua relevancia no ensino superior. 27 ‘A USP, pautada nos modelos das universidades dlema ¢ francesa, j& havia acumulado, nas décadas de 40 e 50, expe- rigncias em micleos de pesquisa, exigindo dos docentes 0 titulo de Doutor. Foi na década de 30, no entanto, ou, de modo mais es- pecifico, desde 1934, que a Universidade de Séo Paulo se des- tacou, através da Faculdade de Educacio, Ciéncias e Letras, criada nesse ano e que procurava uma organizacio de ensino voltada para a pesquisa pura © os estudos nos dominios das Cigncias e das Letras, sem visar ao interesse profissional ime- diato, Este era 0 legado dos decretos de Francisco Campos, que, por sua vez, demonstrou uma concepsao hicida da insti- tuigdo universitéria, na década de 30, atribuindo-Ihe “duplo objetivo de equipar tecnicamente as elites profissionais do Pais € de proporcionar ambiente propfeio 4s vocagées especulativas € desinteressadas, cujo destino imprescindivel & formago da cultura nacional é o da pesquisa, da investigagio e da Ciéneia pura”(Sucupira, p. 486) A experiéncia da USP buscava a integragao de discipli- nas © a especializagao a partir de um niicleo bisico fornecido pela Filosofia, propugnado por uma unidade organica do ensi- no universitétio. Correspondeu, a nosso ver, a um dos momen- tos mais avangados na hist6ria do Ensino Superior no Brasil, em termos de coeréncia entre a proposta ¢ a ago, tomando-se com seleréucia » quadro tedtico, que a informava. No Brasil, no entanto, 0 “profissionalismo” tinha raizes profundas, sendo cultivado, hd mais de um século, evidencian- do contradigées: “os problemas suscitados continuavam sendo ttatados sem nenhuma formagao técnica e por técnicos sem ne- nhuma formagio cientifica” (Azevedo, p. 747). Esse fato, aliado & tradi¢ao antiuniversitéria brasileira ¢ & burocracia ministerial de um Estado cada vez mais yoltado pa- ra a racionalidade do sistema capitalista em expansio, contri- buiram para a descaracterizacao da experiéncia da USP e seu malogro enquanto projeto global. 28 ‘A Faculdade de Filosofia, Ciéncias ¢ Letras passou a ter cardter profissionalizante, voltado para a formacao de profes- sores do ensino secundério, incorporando, em 1930, a segiio de Educagéo da Universidade de Sio Paulo ¢ transformando-se, progressivamente, em “escola normal superior”. Nao obstante, a Universidade continuou desenvolvendo pesquisas sob a in- fluéncia européia. Digarse de passagem que as raz6es aqui apontadas sao as josie eae levaram a Unido a extinguir, em 1938, a Universi- dade do Distrito Federal, que havia criado em 1935 “A um Governo Central autonitario, cuja politica visave, antes de tudo, & eficdcia do sistema educacional como instru- mento de controle, nio interessava, apesar de as ter criado, manter universidades orgdnicas, integradas, com possibilidades cada vez mais amplas de autonomia, Afinal, a justaposigéo de faculdades ¢ institutos e a fragmentacio do saber eram mais convenientes ¢ acabaram prevalecendo” (Martins de S4, p. 77). Os reais interesses € compromissos do Estado tornam-se evidentes quando se destaca, no contexto, 0 que vinha ocor- rendo com © ensino profissionalizante, introduzido com a Constituicio de 1937, visando as classes “menos privilegia- das” (Nébrega, p. 33, Art. 129). Com 0 franco desenvolvimento do processo de industria- lizagio, mediatizado pelo Estado, 0 processo educativo sofreu, no Ambito dus uovas relagées sociais, uma reconversio. A qua~ lificagao e diversificagio da forga de trabalho passaram a ser exigéncias basicas dos distintos ramos industriais. Surge entio denominado “exército de reserva” para “o bem da nagio”, pelo Ministro Capanema’, que correspondia ao recru- tamento de técnicos para as empresas privadas, em escala pro- porcionalmente surpreendente, no periodo do Estado Novo, conforme se pode observar no Quadro 1. a taca apresentas por LOURENGO FILSIO om: Alguns 1 ot eras Sado ds fyobemas do Ensian Secundio, Revita Brastora ieBeudes Pedagaptecs, 80 29 Quadro 1 ‘Quadro domonstrativo do crescimento do ensino téenico-proflesfonalizants no Brasilentro 1933.6 1948 ey NP to ostabelecimantas le sino enico-ndusiiah — N'dematteuias 1990 138 14,080 vos (Fim do Estado Novo} hse aed Competia aos setores médios ¢ baixos da burguesia e & burguesia ascendente fomecer a forga de trabalho necessiria e, ara responder o interesse das forgas produtivas, era preciso que o Estado investisse nesse sentido. Com isto, 0 ensino supe- rior continuava sendo privilégio de uma restrita minoria, Apesar da descaracterizagio das fungées i pretendidas para 1 Faculdade de Filosofia, Cigncias e Letras, era praticamente impossivel ao Governo Federal suprimi-la de todo, 0 que 0 lo- vou, de forma estratégica, a criar, pela Lei n? 452, em julho de 1937, a Faculdade Nacional de Filosofia, padronizando o ensi- no superior destinado & preparagdo do magistério secundério, ek ue das finalidades estabelecidas para essa instituigéo ixa claro seu caréter elitista de profissionalizacdo: “preparar trabalhadores intelectuais para o exercicio Gio clon itd culturais de ordem desinteressada técr " . - ou técnica” (Nobrega, p. A investigacao cientifica e a elevagao do nivel da cultura geral, tidas como prioritérias nos fins do ensino universitatio, estabelecidos em 1931 (REITORIA DA USP, p. 61), passam a ser subsididrias na Faculdade-padrio de Filosofia, © ensino academicista e intelectualista tinha defensores ardorosos, como o grupo catslico de intelectuais leigos. Em Contrapartida, os educadores da Escola Nova propunham a re- forma das escolas ¢ preconizavam uma educagéo voltada para a 30 formagéo da forga produtora da riqueza nacional. Para estes, © ensino deveria corresponder as exigéncias sdcio-econémicas da época, ou seja, a0 processo econémico capitalista, Individualismo, liberdade de iniciativa, solidariedade & igualdade perante a Lei eram os ideais defendidos pela corren- te do escolanovismo, fundamentada na matriz. liberal. A influéneia de autores estrangeiros toma-se marcante, Anisio Teixeira defende 0 pensamento de Dewey; Fernando de ‘Azevedo liga-se a Durkheim; Lourengo Filho, Hermes Lima, Almeida Jtinior, entre outros, deixam-se influenciar por Killpa- trick, Decrolly, Kerschensteiner. Sfio idéias e valores gerados com base no estigio de evo- lugao das sociedades capitalistas mais avangadas que vao sen- do introduzidos em detrimento dos préprios valores culturais da Nagéo. A importagao de técnicas fundamentadas no ideétio libe- ral, seja para a Educagao, seja para os demais setores da Politi- ‘ca Social, corresponde, na verdade, & forca indutora da moder- nizagdo imposta pelo capitalismo mundial ¢ faz. parte da ldgica inserida nos processos de acumulacdo transnacionalizada do capital ¢ na diviso internacional do trabalho. E certo que este mecanismo ganha contornos mais nitidos apés a Il Guerra Mundial, com a influéncia politico-econémica ‘dos Estados Unidos, mas, jf na década de 30, 0 impulso exter- no tem repercussoes profundas no processo de acumulagao de capital, preparando o terreno para o doménio posterior da ideo- logia norte-americana no Brasil © que se impoe “de fora”, nessa época, é a crise mundial de 1929, que afeta a economia cafeeira, abrindo, de modo pa- radoxal, a oportunidade de investimentos industriais no Brasil, com o deslocamento de capitais para outros setores produtivos. A substituicao de importagdes, a queda vertical do poder aqui- sitivo externo, a politica de defesa do café, permitixam ao Es- tado a manutengao do poder aquisitive interno, 31 Criou-se uma situacdo praticamente nova na economia brasileira, com relagéo ao processo de formagao de capital ~ a preponderdncia do sctor ligado ao mercado interno, que passou a ser o principal fator dinamico. Entre 1929 e 1937, a pro- dugiio industrial cresceu em cerea de 50% e a produc primé- ria em mais de 40% (Furtado, p. 200). A burguesia industrial € financeira em ascenséio, consoli dando-se no poder, percebeu ser necessirio adotar técnicas de mando, manipular as diversas forcas politicas da sociedade, re~ definir as relagdes com outros paises, reformar setores estraté~ gicos do sistema econémico-social e politico, com vistas & ex- pansdo do sistema capitalista, Nesse sentido, sucederam-se as reformas institucionais, a comecar pela propria Constituigéio de 1934 ea de 1937. © que se pretendia, com essas reformas, era adaptar as relagdes de producdo as condicées ¢ tendéncias das forgas pro- dutivas ou &s condigées de formagao € desenvolvimento do ca- pitalismo industrial brasileiro. Com isso, as instituigées, ativi- dades, agées, classes sociais, individuos, enfim, a organizagio social passou a ser atingida pela raciofalidade propria do sis- tema capitalista (Ianni, p. 23-30). Destaca-se, nese processo, a influéncia cada vez mais intensa dos meios de comunicagdo de massa. Com o fim da II Guerra, restabelecem-se os lagos de de- pendéncia do Brasil com os demais paises, através do capital estrangeito — novo protagonista no cenfirio econémico brasilei- 10, introduzido com vistas & abertura de frentes novas de inves~ timento substitutivo, Reorganiza-se, no contexto internacional, a economia brasileira, com amplas repercussées sociais. © governo norte-americano, na disputa com a Unio So- vistica, investe nos paises latino-americanos através dos pro- gtamas de assisténcia técnica e financeira. A partir de 1942, 0 Brasil celebra convénios © acordos com os Estados Unidos, re~ cebendo, de forma intensiva, sua influéncia ¢ colaboragio no setor rural, educacional e industrial. 32 ‘A. preparago de especialistas brasileiros nos Estados Unidos, em diferentes setores, foi um dos meios de garantir a veiculacio da ideologia ¢ interesses norte-americanos. A re- percussio dessa formagdo se fez sentir de forma marcante no ensino, na pesquisa e, de modo especifico, na P6s-Graduagao. Como resultado da influéncia norte-americana criam-se, na década de 50, novas universidades: surge a preocupagtio ‘com a sistematizacio do trabalho cientifico ¢ tecnolégico; ins- talam-se os primeiros Cursos de Mestrado; criam-se © Conse- Iho Nacional de Pesquisa (CNPq — 1951) ¢ a Campanha de Aperfeigoamento do Pessoal de Ensino Superior (CAPES), es- ta incumbida do apoio A formagao de recursos humanos de alto nivel para a melhoria do ensino superior. Em seguida, surge 0 Conselho Nacional de P6s-Graduagao e, em 1958, a Comissio Supervisora do Plano dos Institutos (COSUPI), embrido da Re- forma Universitéria Brasileira de dez anos depois. 2. A origem ¢ desenvolvimento dos Cursos de P6s-Graduagao no Bras A criagio dos Cursos de Pés-Graduacio no Brasil cor- responde a uma resposta a nova ordem industrial e téenica in- troduzida através da politica econémica nacional-desenvolvi- mentista ¢ reforgada pela passagem deste modelo ao capitalis- mo associado, que traz consigo & Weologia da mdetuizagiv, a racionalizagio e eficiéncia da aco ¢ a institucionalizagao das empresas publicas e privadas. Atendendo 20 binémio educacdo-desenvolvimento, os e tudos pés-graduados passaram a fazer parte da planificagéo do Estado, no sentido de dar respaldo ao mercado de trabalho, através do quadro de docentes € pessoal técnico. Eta preciso agir em relagio & defasagem qualitativa ¢ quantitativa na for magdo de recursos humanos especializaclos, necessirios a indiistria brasileira, que se via obrigada a buscé-los no exte- rior 33, Funcionando por mais de uma década sem dispositivos legais que a conceituassem, a P6s-Graduaco passou, em 1965, sob a égide do modelo norte-anericano, a contar com um mo- delo nacional, sistematizado pelo Parecer 977/65 do Conselho Federal de Educagio, elaborado pelo Professor Newton Sucu- pira. As caracteristicas basicas desse modelo correspondem & distincée eaure @ Mestrado ¢ 0 Doutorado, o curso académico e ‘a elaboracdo de dissertacdo ou tese, além da diferenciagao dos dois segmentos: stricto sensu ¢ lato sensu. Ao primeiro segmento, 0 Parecer atribui, através de cur s08 de Mestrado ¢ Doutorado, 0 objetive da formacio de pro- fessores para 0 magistério universitério; de pesquisadores para © trabalho cientifico e de profissionais de alto nivel para os di- ferentes setores do desenvolvimento nacional. © segundo segmento refere-se a formagao de aperfeigoa- mento © cspecializagao restrita, através de cursos menos temifticos, que néo conduzem & obtengao de graus acadéi Dao dircito a certificado de freqiiéncia e aproveitamento. © Conselho Federal «le Bducagéio (CFE), ao referendar 0 Parecer 977/65, através do Estatuto do Magistério Superior, conceituou a Pés-Graduacao, explicitando seus fundamentos legais, definindo ¢ caracterizando Mestrado ¢ Doutorado © consubstanciando, em dezesseis conclusées, « parte coneeitual © de aplicagao® is os. Essas conelusies fazem referéneias a: — aprofundamento da formagéo graduada e obtengdo de grau académico; = niveis de formago pés-graduada — Mestrado e Douto- rado, com a respectiva finalidade; — teas do Doutorado e qualificacio do Mestrado: 2. Documenta (48) 67-86, 34 — duragao € estrutura dos cursos, rea de concentracio, exigéncias didético-pedagdgicas, tipos de trabalhos, exigéncia de dissertagdo ou tese; = requisitos para matricula, sclecao, niimero de alunos, regime de tempo; — requisitos para registro de diplomas.Em 1969, 0 CFE fixou normas para o credenciamento dos Cursos de Mestrado € Doutorado, pelo Parecer n? 77/69, que especifica exigéncias isicas, como: dlisponibilidade de recursos financeiros, insta- laces, equipamentos, laboratsrios, bibliotecas € outros requi~ sitos necessérios a um satisfatérie desenvolvimento dos enrsos. Ciencia, Tecnologia ¢ Bducagao estreitavam-se, em fungio da pressa do desenvolvimento ¢ de suas exigéncias quanto a respostas tecnolégicas répidas. Como base do sistema produtor dessas tecnologias, en- contra-se a formagdo de recursos humanos de alto nfvel para os ‘mais vatiados campos do conhecimento. virtude de escassez desses recursos, utilizaram-se mecanismos da CAPES ¢ do CNPq para a formagao de pessoal no exterior, 0 que permitiu consolidar, paulatinamente, os cen- tros nacionais de producdo cientifica, através de uma massa critica minima de docentes ¢ pesquisadores. Ainda na década de 60, sob pressiio do erescimento econdmico, surgiu, dentro do Banco Nacional de Desenvolvi- mento Econémico (BNDE), 0 FUNTEC, principal mecanismo de apoio financciro aos centros de pés-graduagao © pesquisa, que passaria a ser exercido, posteriormente, na década de 70, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tec nol6gico (FNDCT), administrado pela FINEP (Finaneeira de Estudos € Projetos). Com a promulgagéo da Lei de Diretrizes € Bases da Edu- cago Nacional (Lei 5.540 de 28/11/68), os Cursos de Pés- Graduagio tiveram definidas as suas caracteristicas, sob 0 pressuposto da “indissociabilidade do ensino ¢ da pesquisa” — concepgio humboldtiana a servico da produgao técnico-cienti- fica. 35 Em 1969, com a elaboracdo do I Plano Nacional de De- senvolvimento (I PND) definia-se, como um dos pontos bési- cos do Pafs, a transferéncia e criagdo de tecnologia, organizan- do-se 0 Sistema Nacional de Desenvolvimento Cientifico ¢ Tecnolégico (SNDCT). Elaborou-se o I Plano Basico de De- senvolvimento Cientifico e Tecnolégico (I PBDCT), que “fir- mava 0 empenho do governo em organizar, de forma sistémica, as atividades de Ciéncia e Tecnologia, além de buscar a supe- ragfio dos problemas mais graves com que se defrontava a co- munidade cientifica nacional” (Souza, p. 211). Em 1974, 0 CNPq vinculou-se A Secretaria de Planeja- mento (SEPLAN) transformando-se em Fundagao de Direito Privado, denominada Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnolégico (CNDCT), com ampliagao de suas fungées ¢ responsabilidades. No mesmo ano, o Governo Fede- ral criou 0 Conselho Nacional de Pés-Graduagio (CNPG), a quem coube a incumbéncia da ‘‘formagao de uma politica na cional, o estabelecimento de metas prioritérias e proposicao de um orgamento unificado, que atenda ao planejamento em fungiio das necessidades de nosso desenvolvimento sécio- econémico” (CNPq, IIT PBDCT, 1984, p. 14). Figura 1 Fungoes da P6s-Graduagao (CAPES, p. 14) Formagio de OOF CZ. de | tiie rosramacio profisionais Centros de atividades eriativas permanentes 36 Em 1975, foi aprovado o Plano Nacional de Pés-Gra- duagio (PNPG), estabelecenclo fung6es para o ensino pés-gra- duado: — a formagao de professores para o magistério université- rio; — a formagao de pesquisadores para o trabalho cientifico; — a preparacdo de profissionais de nfvel elevado. Com a inter-relacdo das trés fungées, 0 PNPG pretendia transformar as Universidades em verdadeitos centtos de ativi- dades criativas permancntes, na medida em que o cistema de Pés-Graduagao fosse cficiente em suas fungées normativas, in- vestigando ¢ analisando “todos os campos ¢ temas do conhe- cimento humano e da cultura brasileira” (Ibid. A ctiagio do PNPG pelo Ministério de Educagao ¢ Cultu- ra (MEC) deve-se & instalagdo e expansio acclerada dos Cur- sos de Pés-Graduagio em todo o Pals, exigindo do Governo Federal 0 estabelecimento de medidas para disciplinar o seu desenvolvimento. Questées como “estabilizagio institucional, financeira, académica ¢ administrativa e problemas de nivel insuficiente de desempenho, além de problemas ligados a sua distribuigio geogréfica A sua expansio desordenada” (CAPES, p. 15), cor respondem aos antecendentes para a criagio do PNPG. Em sintese, 0 I Plano Nacional de Pés-Graduagao procu- raya: ~ definir a politica governamental a nivel do Pés-Gra- Guacio, como instrumento de correcio das insuficiéncias de recursos humanos, que se refletem diretamente na qualidade do ensino superior: — aprimorar o pessoal docente; — contribuir, de forma direta, no aceleramento da melho- ria qualitativa do setor profissionalizante; — propulsionar 0 desenvolvimento sdcio-econémico au- to-sustentado ¢ autogerado; 0 g a ge is 4 | esempenho iuago Pos. prac ono 9 (eo |UNIVERSIDADES PROPOSTA DE SOLUCAO PROBLEMAS DE PRODUCAO OBJETIVOS 5 FUNGOES — integrar © Ministério de Educagéo ¢ Cultura com os demais Srgios governamentais financiadores © com as insti- tuig6es publicas ¢ privadas de ensino superior ¢ de pesquisa (Sousa, p. 211). Atribuindo as atividades de Pés-Graduagéo uma im- portincia estratégica crescente, 0 1 PNPG estabeleceu como principais diretrizes: a institucionalizagéo do sistema de Pés- Graduagio; a clevagio dos padrées de desempenhos o planeja- mento da expansao. A década de 70 caracterizou-se pela abundancia de recur- sos ligados a Ciéncia e & Tecnologia ¢ com o atendimento de parte significativa dos interesses governamentais ¢ da comuni- dade cientifica. Conforme documento do MEC (CAPES, p. 9-95), no fi- nal de 1978, cerca de 58 instituigées do ensino superior pos- sufam Cursos de Mestrado ¢ Doutorado: ~ Regitio Norte ~ 2 instituigses ~ Regidio Nordeste — 7 instituicées — Regio Sudeste ~ 39 instituigdes — Regido Sul ~ 8 instituigées — Regio Centro-Oeste — 2 instituicées Essas instituigdes concentravam cerca de 876 cursos, sendo 648 de Mestrado (403 credenciados pelo CFE) e 228 de Doutorado (119 credenciados). (Os cursos na area de Engenharia apresentam, no perfodo de 1974 a 1978, 0 maior indice de credenciamento. Quanto & dependéncia juridico-administrativa, as insti- tuigdes federais concentram, no periodo, 50,46% dos cursos, as estaduais, 37,56%, ¢ as particulares, 11,98%. Nas particulares, 67% dos cursos concentram-se_nas areas de Ciéneias Humanas ¢ Sociais enquanto nas federais, 64% dos cursos voltam-se para Ciéncias Exatas, Engenharia, Ciéneias Biol6gicas ¢ Profissdes da Saiide. 29

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