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Generalidades Terremotos séo vibragdes naturais da crosta ‘terrestre que se propagam por meio de vibracdes, podendo ser percebidos dire- tamente com os sentidos ou por meio de instrumentos, Resultam da liberagao imedia- ta da energia aplicada & rocha, que recebe tensao, tensdo esta que se vai acumulando no décorrer de longo tempo (hé muitos milhares de anos). Distinguem-se, assim, dos demais movimentos tecténicos realiza- dos na crosta terrestre, sempre lentos e reconheefveis somente pelas comparagoes de medidas sucessivas durante milh6es de anos. Muito embora os terremotos sejam conhe- cidos pelo homem desde os primérdios da sua existéncia, apenas em meados do século passado comecaram a ser estudados cienti- ficamente, sendo RoBERT MALLET em 1858 o criador do termo sismologia. O nimero de perturbacées sismicas registradas anual- mente é€ de mais de 1 milhio. Um dos ‘observatorios do Japao vem registrando uma média de 200.000 abalos sismicos por ano. Destas so perceptiveis pelo homem cerca de 5.000. As demais so somente registra- das por instrumentos especiais, sensiveis a abalos imperceptiveis aos nossos sentidos. Como os pontos de observacées sio muito espacados, é altamente provavel que 0 nti- mero seja muito maior. No observatério sismolégico de Brasilia estes instrumentos, denominados sismégrafos, tém registrados Capitulo Xl | | Terremotos muitos milhares de abalos sismicos por ano, provenientes da regiao andina, © Brasil encontra-se em area tectonica- mente estavel, isenta de terremotos fre- qiientes e de vulcanismo, gracas cicatri- zacho definitiva da crosta pré-cambriana onde nos situamos. Apesar desta estabilida- de, ndo estamos de todo livres de abalos sismicos. Sao freqiientes as linhas de fra- queza mesmo no pré-cambriano, e a rea- tivagao destas falhas antigas é um fenéme- no perfeitamente possivel. Foram cadastra- dos os terremotos ocorridos no Brasil até © ano de 1922 pelo Coronel Alipio Gama (Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro, Geographia do Brasil, vol. 1), que assinalou 33 abalos distribuidos nos seguintes estados. 11 em MG, 6 em rt, 2 na BA, RN, PE € GO, ¢ um em SP. ES. CE. PA. RJ @ RS. So quase to- dos fracos, mas um deles se destaca, achan- do-se transcrita a sua descrigao no Annudrio de Minas Gerais para 0 Anno de 1906. Ve- rificou-se na cidade de Serro em 1872, sen- do descrito o seguinte: “Mortes sem conta, casas destruidas © soterradas, morros alui- dos, valles revolvidos, criagdes levadas pela enchente ou entulhadas nos escombros do sélo revolto: eis 0 quadro dantesco desse verdadeiro terremotg, em Minas, descripto a tragos minuciosos nos jornais do tempo”, “tendo o phenomeno comecado por dous grandes estrondos, quasi juntos e logo a terra estremeceo, como abalada em seus fundamentos, comegando 15 minutos de- 305 Taseta 13-1 Niimero de terremotos por ano Designagao enter | bnergia em kWh A? por ano Mundial Sou mais | 25 «10 ou mais u Grande. 19 45 104 —2 x 107° 18 Destrutivo........ 6-69 6 « 107? = 3 x 104 120 Danoso (eve) 5-59 1s 104 = 4 x 10% 820 Leve . 449 1 10° —6 « 10%" 6.200 Geralmente perceptivel 33,9 2« 10 —1% 10% 49,000 Perceptivel com instrumento. 2.29 4 «10'S —2 x 10!" 300.000 pois a inundag&o, com a subida das aguas do rio a 60 palmos acima do nivel natural. terreno, uma legua em roda, ficou redu- zida a lapas, rochedos e brenhas, apés 0 terrivel cataclisma.” Mesmo descontando-se os exageros, foi sem duvida alguma o mais violento de todos. Posteriormente foram re- gistrados alguns no interior do Estado de Sao Paulo ¢ na serra do Mar, porém de pe- quena intensidade. Outro relato dos nossos tremores de terra foi elaborado por H. O. Sternberg (Bol Geogrdfico, Cons. Nac. Geogr. Rio de Janeiro, 1953), que arrolou os terremotos ocorridos na regiao amazénica. Foram cita~ dos 30 no decorrer da primeira metade do atual século, além de uns poucos mais ocorridos anteriormente, ocasifio em que o registro era precdério por falta de obser- vadores. O mais forte de todos ocorreu no ano de 1690, sendo descrito por um missionario alemao, que relata um “intenso tremor que sacudiu as terras desde a regido de Manaus até a umas 300 léguas vale acima”, segundo transcricao de Sternberg, Em meados de outubro de 1972 ocorreu um abalo que atingiu as cidades de Niterdi, Campos, Cachoeiro do Itapemirim e Vitd- ria, citando as mais conhecidas. Outras cidades menores acham-se mais ou menos préximas, indicando claramente um ali- nhamento, que comprova a existéncia de uma linha tecténica orientada para nordeste, mais ou menos paralela & costa, linha esta, que deve corresponder a uma diregdo de fraqueza. O terremoto ter-se-ia originado apés uma ruptura tecténica, assunto a ser explicado adiante. Em 20 de novembro de 306 1980 verificou-se forte tremor na cidade de Pacajus, CE, tendo havido uma morte e muitos feridos, Foi sentido em Fortaleza, Paraiba, Pernambuco, Piauf, Maranhao (So Lufs) e Alagoas (Maceié), a quase 700km de distancia do epicentro, préximo a Pacajus. A partir de agosto de 1986 verificaram-se diversos abalos sismicos no Municipio de Jofio Camara, a 80km de Natal, RN, chegando a levar o panico a populacao. Muitos telhados desabaram e muitas rachaduras afetaram as casas, fican- do algumas irrecuperaveis. Chegou a ser registrada a marca 5,3 na escala Richter (ver pag. 319), intensidade muito rara no Brasil, segundo dados da Imprensa, Os abalos sismicos perigosos ao homem ocor- rem em niimero de cerca de 20 a 30 por ano. Cerca de 5% dos terremotos sao seguidos por outro de mesma intensidade, podendo também ser ainda mais intenso Mais comumente, todavia, apés o terremo- to seguem-se pequenos choques destituidos de periculosidade, © niimero de abalos sismicos por ano vem demonstrar que a crosta terrestre onde vivemos se acha continuamente perturbada por tremores, ora mais fortes, ora mais fra- cos, ora fortissimos, causando a destruigiéo © a morte. Os tremores fracos, os mais co- muns, nao sao perceptiveis aos nossos sen- tidos. S40 constatados por meio de instru- mentos chamados sismografos (do grego seismos, tremor). Estes aparelhos sio fi- xados ao chio por meio de uma espessa base de concreto, que evita as vibragées locais produzidas pela passagem de veicu- Feixe luminoso aa Cilindro rotat ae «4 Embasamento de concreto Fig. 1B Esquemas dos dois tipos de sismografos. A esquerda nota-se o sismégralo do registra dos mo- vimentos verticais, ¢ a direita, dos movimentos. horizontais. estagSes sismograticas possuem dois sismidgrafos horizontais dispostos em Angulo relo, a fim de serem registrados os movimentos de vibragdo de diferentes sentidos (seg. Gilluly e7 al. los. Possuem uma haste alongada (fig. 13-1) que sustenta um peso suscetivel de vibrar com grande fucilidade, gragas sua susten- taco instivel. Este peso possui um peque- no espelho que reflete um feixe de luz, que por sua vez, vai impressionar um filme pre- so ao cilindro rotativo que gira continua- mente, sendo também registrado 0 tempo em décimos de segundo. Existem ainda ou- tros tipos de sismégrafos. Um deles consis te numa bobina suspensa por molas sensi- veis que permitem a sua vibragdo num cam- po imantado. A eletricidade gerada & dev damente amplificada ¢ transmitida a uma fonte luminosa, que registrari da mesma maneita que o sismégrafo de péndulo. ji descrito. As estagdes sismogrificas possuem geralmente varios aparelhos dispostos em diferentes angulos, podendo registrar as vi- bragdes horizontais nas diversas posigdes. bem como as vibragdes verticai Os registros obtidos dos sismégrafos sto denominados sismogramas. Na fig. 13 acham-se os sismogramas de alguns dos terremotos célebres pela sua intensidade e pelos danos que causaram, O estudo inter- pretativo destes registros ¢ de grande im- portancia, no somente no que diz respei- © Krumbah) to a parte humana, mas também ao estudo do interior do nosso planeta, por onde se propagam as vibragdes sismicas com dife- rentes velocidades, sofrendo, por isso, re- fllexdes ¢ refragdes, que evidenciam a exis- téncia de camada de diferentes densidades e graus de rigidez, assumto que sera enca- rado adiante. Alguns terremotos célebres e seus efeitos Os efeitos perceptiveis pelo homem vao desde vibragdes pouco intensas, até grandes catiistrofes, como as de Lisboa, S40 Fran- cisco, Téquio, ete Um dos terremotos mais desastrosos dos tempos historicos foi o de Lishoa, que ocor- reu no dia de Todos os Santos, do ano de 1755. Na ocasido do terremoto grande par- te da populagdo encontrava-se nas igrejas, Com o desmoronamento rapido. milhares, de pessoas foram soterradas ¢ mortas sob os escombros. Maior niimero ainda foi pro- curar refiigio no porto, por ser lugar aber- to, livre dos desmoronamentos, quando uma colossal onda de 15 metros de altura var 307 NCIC iret Omer Valparaiso 17/8/1906 ina 28/12/1908 Téquio oat fons Fig. 132 Sismogramas de alguns terremotos famosos, registrados no observatorio de Kew. um subirbio de Londres. O registro € feito da esquerda para a direita, perfazendo um imtervalo de aproxi- madamente tres horas. Ve-se que o terremoto de Valparaiso, Chile, foi 0 mais duradouro de todos (seg. Milne e Lee) reu toda a cidade baixa, matando os refu- giados por afogamento, Em 6 minutos ape- nas, a quarta parte da populagdo pereceu, tendo sido cerca de 60,000 0 numero de vitimas. Aumentando a destruigdo, verifica- ramese deslizamentos de terras nas encos- tas dos morros mais ingremes e finalmente um grande incéndio totalizou a destruigao Aproveitando-se do trigico ambiente, nu- merosos assaltantes cometeram grandes car 308 nificinas, no s6 se matando mutuamente, como também cometendo birbaros latroci- nios, complementando, desta maneira, a grande tragédia de Lisboa, como se Ié no final da obra O Judeu, de CAMILO CaSTELO Branco. De cada seis casas uma foi total- mente destruida. Em regides situadas a mais de 2.000km de Lisboa o efeito do terremo- to foi perceptivel com a subida dos rios, motivada pelo grande maremoto que se produziu. Em Marrocos, a 650km de dis tancia, também foi grande a destruigo, assim como em toda a Espanha e norte da Africa. Avalia-se que um texgo da superficie da Terra sentiu 0 abalo produzido por este terremoto. Em 16 de dezembro de 1811, uma gran- de drea do vale do Mississipi sofreu uma ripida destrui¢do, ocasionada por um for- tissimo terremoto, que em poucos segundos destruiu por completo todas as casas de uma vasta drea. Come a regifio atingida nao era muito povoada, o niimero de vitime nao foi muito grande. Considerdveis, con- tudo, foram os efeitos na topografia da re- gido. Grandes fendas foram abertas no solo, muitas das quais langaram grande quantida- de de barro ou de areia misturada com gua, tendo coberto vastas areas. No rio Mississipi, muitas ilhas desapareceram, en- quanto que em outros lugares muitas outras surgiram. Em certos locais 0 nivel do solo elevou-se de tal maneira, que muitos pan- tanos foram completamente drenados, en- quanto que em outras areas se deu 0 con- trario. Uma superficie de 240km de com- primento por 55km de largura afundou de 1 a 3 metros, dando origem a pantanos ¢ lagos que nao existiam antes. Um destes lagos tem muitos km de extenso. Durante 15 meses continuaram os tremores, repetin- do-se por mais duas vezes 0 abalo catastré- fico igual ao primeiro. Outro terremoto célebre ¢ importante sob © ponto de vista geoldgico foi o de Sie Francisco, California, pelo fato de relacio- nar-se a célebre falha de Santo André, que se estende por 950km no sentido NNW, passando a 60km da cidade de Sdo Fran- cisco (figs. 13-3 e 13-4). Esta falha é bem visivel no terreno, quando observada em fo- tografias aéreas, gracas a evidéncias morfo- légicas do terreno ¢ pela ocorréncia de ro- chas esmagadas, trituradas, no local da fa- Iha. Com o reavivamento desta falha pre- existente resultou o terremoto, gracas ao airito verificado na ocasiao do falhamento. O terremoto deu-se em 18 de abril de 1906, Fig. 13 Falhamento horizontal verificado na ocasio do ter- remoto de Siio Francisco, em 1906 (falha de Santo André). Um dos sérios problemas humanos ocasionado pelos terremotos & 0 das divisas das propriedades, como % vé na ilustragio, onde a cerca se deslocou de alguns metros, no sentido da linha de falha (foto de G. K. Gilbert). tendo sido grande a destruicdo nos lugares mais baixos, cobertos por sedimentos pouco consolidados. Onde havia rocha fresca, bem consolidada, efeito destrutivo foi bem me- nor. Houve algumas centenas de mortos € feridos, tendo sido mais espetacular a des- truigdo material, O maior dano foi. ocasio- nado por um grande incéndio provocado pela ruptura da tubulagdo de gas. Calcula- se que dos 400 milhdes de dolares de pre- juizo, somente 5% foi causado diretamente pelo terremoto ¢ 0 resto pelo fogo. Estes 5% atingiram principalmente a pavimen- tagdo e a tubulagdo subterranea, além dos edificios desmoronados. Outro igualmente célebre, foi o de Mes- sina, Italia, a 28 de dezembro de 1908, que destruiu as cidades de Messina e Reggio, ocasionando a morte de 80 mil pessoas. Oito minutos apés 0 terremoto, as aguas recuaram, voltando logo em seguida com grande violéncia, subindo mais de 8 metros 309 Fig. Falha de Santo André, rel: So Francisco de 1906. Aqui o des do que o da fig. 13:3, sendo também no sentido hort zontal. Em alguns verifiou-se um desloca- mento pequeno no sentido vert Maithes) em relagdo ao nivel normal, agravando o desastre, como aconteceu em Lisboa E digno de ser mencionado, também, 0 terremoto verificado em 1.° de setembro de 1923 em Téquio e Iocoama, que ceifou a vida de 140 mil pessoas, desastre agravado pelos incéndios enormes provocados pelos terremotos. Nesta ocasido verificaram-se grandes deslocamentos da crosta terrestre, tendo atingido extensas areas, tanto em sentido ascendente como descendente (fig 13-5). Dos terremotos mais recentes, ocortidos nestes tiltimos 10 anos, destaca-se o de Agadir, porto de Marrocos. O niimero de mortos contados ultrapassou 20 mil, pois 310 muitos milhares de pessoas ficarant soterra- das nos escombros. Tal catdstrofe se deu no dia 29 de fevereiro de 1960, € foi classifi- cada como sendo de grau 11 na escala de MERCALLI-SIEBERG, assunto a ser tratado logo adiante. No dia 23 de dezembro de 1972 a capital da Nicaragua foi quase que totalmente destruida, morrendo mais de 50.000 pessoas, segundo a imprensa. O epicentro localizou-se.no préprio local afetado, que por sua vez & constituido de rochas pouco coerentes, de origem vuleani- ca, A fragilidade das rochas onde a cidade foi construida fez aumentar a destruigao, Em junho de 1970 verificou-se violento ter- remoto no Peru, morrendo cerea de 50 mil pessoas, sendo a maior parte soterrada por grandes aludes de lama formados pela que- da de enormes volumes de neve sobre um lago situado topograficamente acima de uma cidade que foi totalmente sepultada, com excegao apenas de cemitério, que se localizava numa colina. Fato curioso é 0 da produgao de sons ou- vidos pouco antes, e ainda depois, de alguns terremotos. Sao ruidos que se assemelham ao de um trovio longinquo, Formam-se pela propagacdo do movimento vibratério na atmosfera, sendo perceptiveis quando o comprimento de onda da vibragio sismica coincide com um dos perceptiveis pelo ou- vido humano. Como a natureza da propa- gagdo das primeiras ondas é semelhante a do som, torna-se ficil a refragao destas. ondas ao ar, produzindo as ondas sonoras. Poderiamos ainda discorrer logamente so- bre os freqilentes terremotos de grandes efeitos destrutivos que ocorrem na regio andina da América do Sul, América Cen- tral e México, Areas tectonicamente insté- veis, ainda hoje afetadas por movimentos orogenéticos iniciados desde os primérdios da Era Cenozéica. Efeitos geolégicos dos terremotos De um modo geral so pequenos, rara- mente afetando a topografia, como foram Continente Wi Levaniamenio 100cm 150 Fundo do mar Levantamento Fig. 13-5 Alteragdes na topografia verificada na ocasiiio do terremoto de Téquio de 1923, tendo-se dado abaixamentos ¢ levantamentos no 6 nas areas continentais, como também no fundo do mar, Na regio continental parece ocorrer uma linha de falha no sentido NE-SW, separando a rea Jevantada, @ direita, da area abatida, i esquerda, No fundo do mar, parece existir outra linha de falha aproximadamente 2 90° da primeira (seg. AA. Sieberg, mod.) 9s casos jd descritos do terremoto do vale do Mississipi e de Téquio, Em regides de grandes espessuras de sedimentos de pie- monte costumam dar-se grandes. deslizes do talus, geralmente instavel no seu equi- Kibrio. Na regido do Alasca tém-se verificado deslizes consideriveis de enormes massas de gelo, ocasionando por vezes a formagao de um grande mimero de icebergs. Tais deslizes também ocorrem nos sedimentos incoerentes das regides mais ingremes dos oceanos, ocasionando muitas vezes a rup- tura de cabos telegrificos submarinos. Foi © que se verificou em 1929 gracas a um terremoto, cujo foco foi localizado a poucos quilémetros da costa oriental do Canada, no Atlantico Norte, tendo sido arrebentados 12 cabos, num total de 28 rupturas, localizados numa area de 600km por 300km de extensdo. Outro efeito comumente verificado em grandes terremotos é 0 aparecimento de fontes, muitas vezes quentes, gracas a infil- tragdo da agua nas regides profundas atin- gidas pelos falhamentos. A agua ascenden- te pode acarretar areia, que se deposita na abertura, formando verdadeiros “diques” 311 de areia. Consegiiéncia muito danosa cos- tuma verificar-se em aterros, que se com- pactam e se acomodam gragas a vibragdo sismica. Cedem As vezes muitos metros, inutilizando grandes trechos de estradas. Fato interessante deu-se no Alasca, no ter- remoto de 27 de margo de 1964. Com a vi- bragdo algumas camadas argilosas saturadas de digua tornaram-se liquefeitas, fluindo pa- ra as partes mais baixas. No vazio resul- tante as camadas superiores se assentaram, originando-se verdadeiros grabens. Em ou- tros locais deu-se o deslize das camadas de cima da argila liquefeita, determinando o deslocamento horizontal de 3 metros de prédios de 6 andares, sem ruptura alguma, a nao ser a das tubulagdes. Tal se verificou gragas a0 congelamento do solo a mais de um metro de profundidade. Fm outro des- lize dessa natureza mediram mais de 500 metros de deslocamento rumo ao oceano Em casos mais raros ocorrem mudangas consideraveis na topografia, como os exem- plos jd citados da regio do Mississipi e Toquio. No Alasca, em 1899, na ocasio de um grande terremoto, a praia elevou-se 14 metros acima do nivel do mar. Gragas a este levantamento, uma grande area do mar tornou-se terra seca. Na fig. 13-5 po- demos observar os efeitos na topografia da regidio de Téquio, por ocasiao do terremoto de sctembro de 1923, tendo-se dado o le- vantamento ¢ 0 abaixamento simultaneo em uma grande drea situada nos arredores da capital japonesa. A fig. 13-6 esquematiza os principais efeitos geolégicos que podem ser produzidos num terremoto de grande inten- sidade, Adiante discutiremos 0 fato de as grandes falhas nao constituirem um efeito, ¢ sim as causas dos terremotos. O mecanis- mo do movimento vibratorio nao permite a formagdo de grandes deslocamentos, por tratar-se de um movimento vibratério que se propaga com grande velocidade, e ndo de um esforco aplicado numa s6 direcio. Na superficie dos oceanos os abalos sis- micos manifestam-se com o levantamento de grandes vagas, como se deu no terremoto de Lisboa, onde as ondas mataram milha- res de pessoas que se refugiaram no porto. Foram observadas ondas gigantescas de até 60 metros.de altura nos mares peninsulares de Camchatea em 1737, A velocidade que tais ondas podem atingir é considerivel. No Pacifico foram medidas velocidades de mais de 700Km por hora. Estas ondas produzidas por terremotos recebem a designagiio de tsunamis, termo japonés. Nos mares do Ja- pao estas ondas gigantescas costumam ter 20 metros, podendo excepcionalmente atin- gir 30 metros de altura. Causas dos terremotos Os antigos filésofos ja discutiam as cau- sas dos abalos sismicos. Assim é que TALES, impressionado com o mar, por ter vivido na ilha de Mileto, imaginava que a terra firme se comportasse como um grande navio, boiando na imensidade das Aguas. Quando a agitagdo das aguas era demasiada, forma- vam-se entio os tremores de terra. Por outro lado, ANAXAGoRAS observando os fe- némenos vulcanicos, admitiu como causa a formacao dos vapores originados do fogo central da Terra. Para ARISTOTELES, era 0 ar, retido nas profundezas terrestres, que escapava explosivamente, determinando os terremotos. Muitos séculos apos, AGRICOLA retoma as idéias de ANAXAGORAS, interpre- tando os terremotos como vibragdes produ- zidas pela combustao explosiva dos gases vulcdnicos. Hoje em dia admite-se que os terremotos sejam originados por trés causas diferentes, motivadas por trés diferentes processos geo- logicos. Desmoronamentos internos _superficiais: provocados pela dissoluc&o de rochas pelas guas subterraneas. Este tipo de terremoto € geralmente de pequena intensidade e lo- cal, afetando somente a drea proxima do colapso. No municipio de Bom Sucesso, Mi- nas Gerais, tém sido registrados alguns des- tes abalos, cujo principal dano, felizmente, Fig. 13-6 Esquemas hipotéticos dos efeitos geolégicos dos grandes terremotos. 1 = Formagio de lago pelo represamento ocasionado pelo deslize de talus, observado em 2. 3 — Falhamento horizontal ¢ destruigdo parcial’ de construgdes, 4 — Cachocira formada pelo rio represado, ao sair da represa, 5 — Rio desviado do seu curso normal, por causa da obstrugio provocada pelo deslize de tilus. 6 — Desaparecimento do rio numa das fendas do solo, observadas nos arredotes do mimero 7. 8 — Graben, que & uma fossa de abertas no solo. 11 — Abatimento do terreno, slo da agua pelas fissuras abertas no solo. abatimento, 12 — Montes de lama acarretada durante a ascen- 13 — Elevago do nivel do continente (seg. A. 9 — Palhamentos escalonados. 10 — Fissuras Sieberg, mod.) 6 0 de produzir pequenas fendas em muros e paredes de menor resisténcia, Trata-se de uma regido caleéria, onde pode dar-se o desmoronamento de cavernas profundas No Estado do Rio de Janeiro e no interior do Estado do Ceara costumam ocorrer tem- porariamente pequenos abalos, cuja causa ainda nao foi esclarecida. Em se tratando de abalos locais e de pequena intensidade, tudo indica tratar-se de causas atecténicas, sendo provivel o fendmeno da dissolugao de rochas calearias e a consegiiente acomo- dagdo dos blocos superiores. Em regides vulcanicas pode verificar-se, também, 0 colapso de parte do edificio vuleanico, pelo vazio formado pela saida de grande quan- tidade de lava, formando-se na parte supe- rior as caldeiras de abatimento. So terre- motos locais de pequena importéncia. Outras vezes di-se a acomodagio de se- dimentos pelo seu proprio peso, no caso de haver camadas espessas de argila, que é uma rocha lisa, escorregadia. Se a posigdo das camadas for favoravel ou se houver planos de fraqueza, por onde se dé uma eventual movimentagéo, verificar-se-do tais movimentos, gracas ao desequilibrio da dis- tribuigdo das cargas sobrejacentes. Muito provavelmente tenha sido esta a causa de pequenos abalos sentidos pelos moradores de 313 apartamentos mais altos, geralmente acima do 7.° andar, da cidade de Sado Paulo. Esta acha-se assentada em sedimentos tercidrios constituidos de leitos irregulares de arenitos eargilas, que, muitas vezes, mostram os espe- lhos de friegdo, indicando movimentos. Estes abalos sao to pequenos que sao perceptiveis apenas nos andares superiores de edificios altos, onde efeito ¢ ampliado, Deve cor- responder a escala I (v. efeitos dos terremo- tos). Contudo, tém sido observadas pequenas falhas nestes sedimentos, sendo que duas de- las so nitidamente de origem tecténica, o que vem demonstrar que a sua estabilidade nav € tdo grande. E, pois, provavel que se trate também de uma causa profunda, relacio- nada a ajustes da crosta, assunto que sera tratado adiante. Felizmente, até agora, tudo tem demonstrado que, realmente, estamos em regido estavel, ¢ portanto livre de ter- remotos violentos Causas vulednicas: as atividades vuledni- cas podem, também, ocasionar terremotos locais, geralmente de pequena intensidade, afetando somente as imediages do centro do abalo. Resultam de explosdes internas ou de colapsos, ou acomodacées verifice das nos vazios resultantes da expulsio do magma, Com certa freqiiéncia os tremores de terra antecedem as erupgdes vuleanicas, como, por exemplo. nas do Vestivio. Causas tectnicas: estas so as mais im- portantes, as responsiveis pela formagao de grandes terremotos, que podem propagar-se por toda a Terra, As vibragdes perceptiveis sem © auxilio de aparelhos, denominadas macrossismos, atingem de um a dois mil quilémetros do local onde se originou o abalo, e as de menor intensidade, os mi- crossismos, s40 muitas vezes registrados em todos os sismégrafos espalhados sobre a Terra. A coincidéncia da localizagio dos focos dos terremotos nas reas sujeitas a vulcanismo recente, ¢ ao mesmo tempo tec- tonicamente instiveis, sujeitas a levanta- 314 mentos, dobramentos ¢ a falha do Tercid- rio até hoje, indicam que os grandes terre- motos se originam de movimentagées tecto- nicas profundas, situadas entre 8 a ISkm abaixo da superficie. Assim é que 42% dos epicentros se situam na orla do Pacifico, no chamado “Circulo de Fogo", pela abun- dancia em vuledes. 25% acham-se locali- zados na regio dos Alpes, Apeninos, Atlas, até o Himalaia, area também afetada pelo dobramento terciirio, como é a area dos Andes ¢ Montanhas Rochosas. 23% lo-- calizam-se em regides de grandes falhas em blocos, como ocorrem na regidio dos Balcds, Asia menor, Africa, etc. Nas regides pré-terciirias, a percentagem de epicentros diminui para 8% enquanto que nos escudos cristalinos estiveis apenas 1 a 1,5%. Ve- mos assim que essa distribuigdo € plena- mente compativel com as causas que de- terminam os grandes terremotos, que sio os ajustes dados principalmente por falha- mentos, freqiientes nas areas tectOnicas ins- taveis, como ja referimos (fig. 13-17). O local onde se originam os terremotos, dentro da crosta terrestre, é denominado hipocentro ou foco. © terremoto cujo foco se situa a menos de 8km (da superficie) ¢ geralmente de alcance local, nao se propa- gando a grandes distincias, O ponto da superficie terrestre situado acima do hipo- centro recebe o nome de epicentro (fig, 13-7). A grande maioria dos hipocentros acha-se localizada a menos de 50km de profundi- dade. Cerca de 4% dos terremotos pare- cem ser provindos de hipocentros situados a grandes profundidades, de 100 a 700km. Muito interessante & a coincidéncia da lo- calizacdo destes hipocentros com as ilhas em arco do oceano Pacifico que se formam em regides de alta atividade tecténica oro- genética (v. Orogénese). Também na regidio dos Andes tém sido observados estes focos profundos de abalos sismicos, cujo grande interesse € 0 de comprovar a rigidez do substrato situado abaixo da crosta terrestre (v. fig. 13-16). E possivel localizar-se o Fig a7 Esquema hipotético da propagagdo dos abalos sismicos a partir do Aipocentra H, ow foco. acima do qual se acha o epicemiro E. na ocasiio do terremoto de Messina, Italia, em 1908 (seg. A Sieberg, mod.). As linhas pontilhadas representam as isossistas, e as linhas retas, a diregdo de propagacio das ondas sismicas. Observa-se que as isossistas Ue graduagio mais forte localizam-se mais préximas ao epicentro e fora da zona montanhosa, que é formada de rochas mais resistentes, cuja amplitude de vibragio & menor do que a das rochas sedimentares pouco consolidadas, onde © efeito destrutivo € bem mais acentuado. epicentro de um terremoto a partir dos sis- mogramas registrados em trés localidades da Terra, como mostra a fig. 13-14. O pro- cesso de localizagao sera aplicado adiante, a0 tratarmos da velocidade de propagagao das ondas. Admite-se que a causa principal dos grandes terremotos seja a formagao de fa- Ihas, que por sua vez se originam dos es- forgos em direcdes preferenciais, atuados sobre as rochas situadas nas areas de insta- bilidade tectonica. As origens destes esfor- gos & que sio discutidas, havendo diversas teorias, que serdo debatidas no capitulo da Orogénese. Desta maneira, nao se deve su- por que os terremotos produzam falhamen- tos e, sim, que os falhamentos € que produ- zem terremotos. Esta afirmativa é baseada em medigdes geodésicas de alta precisio, realizadas em meados do século passado e repetidas por diversas vezes, no Estado da California, E, U. A., regio onde ocorre a célebre falha de Santo André. As medidas (V. fig. 13-9). geodésicas sucessivas mostraram claramen- te um deslocamento continuo ¢ lento de pontos situados de um e de outro lado da linha de falha. Com o progresso do esforgo, a energia vai sendo acumulada, até que se rompa a resistencia das rochas. Foi 0 que se deu no ano de 1906, na ocasiao do terre- moto de Sao Francisco, situado a poucos quilémetros da falha de Santo André. As figuras 13-3 e 13-4 mostram os efeitos des- te falhamento horizontal, que determinou o grande terremoto, Novas medidas geodési- cas, posteriores ao falhamento, mostram que os esforcos continuam, produzindo um deslocamento que prossegue num ritmo de Sem por ano, sempre ao longo do mesmo plano de falha, que é uma zona fraca, sujei- ta a este esforco continuo e ameacador, que podera, no futuro, provocar novos abalos sismicos, quando se romper novamente a resisténcia, como realmente aconteceu em 1971 na cidade de Los Angeles. O mecanis- mo da relagao falha ¢ terremoto acha-se ex- 315 ylicado na fig. 13-8. Inicialmente se verifica _sigao inicial, antes do esforgo), axC e final- a curvatura da camada, curvatura esta que mente DyC. Nesta tiltima posigdo a energia se vai tornando cada vez mais acentuada, aplicada 4 camada acha-se armazenada, passando pelos estédios ABC (que ¢ a po- _havendo um momento em que é rompido o if 20 eA Fig. Explicugdo’ do mecanismo de um terremoto conseqiiente de um falhamento. No alto acha-se representada a rocha submetida aos esforgos, sob estado de tensio. Uma vez ultrapassado 0 Jimite de resisténcia divs 0 rompimento brusco, formando-se a falha, representada logo absixo, eeasiio cm que 0 aitito formado di origem as ondas sismicas. Embaixo, 0 di Presenta as fuses consecutivas, desde a inicial, antes do esforgo (linha ABC). p estadios intermediarios, axC_e DyC. O ponto 4 sofreu um deslocamento, passindo para a finalmente para D. A fase final é a do deslocamento repentino do ponto y ao ponto E, apés a uptura, que se di ao longo da linha fj. que representa o plano da falha (seg. Sicherg © A. C Lawson). 316 limite de elasticidade da rocha. E 0 mo- mento em que se verifica 0 terremoto, com © deslocamento rapido na regiio onde o esforgo é maximo, A curva DyC passa en- tGo bruscamente a reta DE, enquanto que a curva yC também se resolve noutra reta, deslocada no mesmo sentido, voltando ao paralelismo original gragas ao deslocamen- to segundo o plano ff, que € 0 plano da falha. Diversos outros terremotos altamente des- trutivos sio acompanhados de falhamentos visiveis na superficie como se vé na tabela 13-2. Na ocasido em que se verifica a ruptura brusca da falha, é produzido um forte atrito, que se propaga com a formagéio de ondas vibratrias elisticas, de modo semelhante ao da produgdo de vibragdes sonoras produzi- das por um arco de violino numa chapa metilica fina e resistente. Estas vibragdes tornam-se perceptiveis aos olhos se a chapa for coberta por uma fina camada de areia, que vibra na regio do ventre ¢ permanece imével na regio dos nds, formando dese- nhos geométricos. Fenémeno semelhante dé-se com as vibragdes sismicas ao atra- vessarem diferentes tipos de rochas. Quan- to mais rigida for a rocha, menor ser 0 efeito do terremoto, embora, seja maior a velocidade de propagagio, que nada tem a yer com 0 efeito destrutivo. A fig. 13-9 mostra-nos uma seccdo no estreito de Mes- sina, onde foram estudados os efeitos de um dos grandes terremotos da regio. A area constituida por sedimentos recentes, pouco consolidados, sofreu um consideravel dano. Onde os sedimentos ja tinham adqui. rido um certo endurecimento, 0 efeito des- trutivo foi moderado. Finalmente, na regifio de rochas cristalinas do embasamento, o efeito foi insignificante. Mais uma causa ainda, que deve ser ci- tada a parte (pelo fato de nao ser bem es- clarecida até o presente momento), relacio- na-se ao enchimento de grandes represas. A literatura especializada cita a ocorréncia de centenas de terremotos em uma tnica represa,' cuja profundidade maxima é de 360m. Em 10 dias foram registrados 60 choques, sendo alguns de grande violéncia. © abalo coincide sempre com a ascensio do nivel da agua, ¢ a profundidade do hipo- centro varia de 4 a 6km, chegando alguns a até 30km. Como nem todas as barragens produzem terremotos, acredita-se na exis- t@ncia de condigdes preliminarmente favord- veis, ¢ 0 aumento da pressio da agua nas fissuras faria desencadear o fenémeno, No Brasil este tipo de terremoto foi verificado em duas localidades, na represa de Ords, Ceara, ¢ outro no rio Capivari, Parana, no inicio de 1972. Em Ords verificaram-se 3 abalos, sendo o primeiro no dia 13 de ja- neiro, 0 segundo no dia 16 e 0 terceiro, que foi o mais forte dos trés, no dia 23 de fevereiro de 1968, A cidade de Pereiro, si- tuada a 30km da represa, foi afetada pelo sismo, tendo se formado rachaduras em di- versas casas. Segundo informagdes verbais houve uma tnica vitima fatal. Intensidade dos terremotos A distincia do foco em relagao ao local do terremoto influi na sua intensidade. Esta é tanto menor, quanto maior for a distan- cia do foco ao local considerado. Também a heterogeneidade litologica da crosta ter- restre determina, como ja vimos, diferentes graus de intensidade dos abalos sismicos. As figs. 13-7 e 13-9 mostram a propagagiio desigual, irregular, dos diferentes graus de intensidade do terremoto verificado em Mes- sina. As linhas que unem os pontos de igual intensidade denominam-se isossistas. Os terremotos podem ser classificados se- gundo a escala de Mercalli-Sieberg em 12 categorias, de acordo com a intensidade per- ceptivel aos nossos sentidos, e de acordo com o valor da acelerag&o do movimento vibratério das ondas que produzem o abalo sismico, Quanto mais forte for o abalo, maior a aceleragdo das ondas sismicas, cujo valor numérico é medido em milimetros por segundo ao quadrado. 317 TapeLa 13-2 Falhamentos associados a alguns terremotos célebres, Destocamenty | Destocamento Local Dawa vertical horizontal em metros | em metros Assan, india . coe i 1897 10,7 0” Vale Owens, California, 6 Cs. - 1872 10 3.6 Mino-Owari, Japio ae 1891 61 40 Sio Francisco, California, eu. a. ? 1908 9. 63 Sonora, México... Seeeihse 1887 61 0 Vale Pleasant, Nevada, t. U. 1915 49 a Sedimentos parcialmente consolidados (Perturbagao moderada) Rocha firme Sedimentos inconsolidados (Destruicao insig (Destruigo violenta) Estreito de Messina Fig, 13-9 Diferentes cteitos variando com o tipo de roca, na ocasiio do terremoto de Messina (seg. Sieberg, mod.). © efeito mais desirutivo deu-se na drea dos sedimentos inconsolidados, que vibram com maior amplitude, gragas & sua maior mobilidade. Na rocha firme, embora seja maior @ velocidade de propagagio das ondas sismicas, a amplitude do movimento vibratério ¢ menor, pela tigidez da rocha ocasionando menores danos. (V. fig. 13-7.) Esta escala é a seguinte: sagem de um veiculo pesado qualquer. Ace- leragfio de 5 a 10mm/s*. IV — Abulo j perceptive fora de casa, porém muito fracamente. Pertebe-se o tremor das lougas 1 — Abalo quase imperveptivel a locais favordiveis. Acelerai sim mesmo em 0 inferior a Smee cempilhadas e 0 ranger das paredes de madeira, I= Abalo perceptive somente nos andares st- Aceleragdo de 10 a 25mm's?. periores de construgdes havendo um leve ba- V = Abalo perceptivel por todas as pessoas, po- lancear de objetos penduradios. Aceleragio de dendo acordar quem esteja dormindo, As pa- 2.5 a Sms" redes frigeis podem ser trincadas, objetos insti IIL — Abslo pereeptivel nos andares infertores e tam- veis sfo derrubados ¢ péndulos de relogios po- bém em automéveis quando estacionados. As- dem parar, Arvorese postes altos sfo visivelmen- semelha-se a wrepidag8o produzida pela pas- te perturbados. Accleragio de 25 a S0mm(s?, 318 VI — Produz pequenos danos, despregando-se a ar- gamassa de muitas paredes, movimentando méveis pesados ¢ fazendo com que muitas pes- soas saiam de suas casas, para onde 0 perigo é sempre menor. Aceleragio de 50.4 100mm/s* VII — Os danos ja so maiores, podendo causar com- pleta destruigio se a construcdo for fragil. Nas construgdes mais sélidas verificam-se pequenas rachas nas paredes. Algumas chamines sio quebradas. Todas as pessoas fogem de suas casas ¢ 0 abalo é sentido também em automé- veis em movimento, Aceleragiio de 100 a 250mm)s: VIII — As construgées mais sélidas sofrem fendas maiores. As mais {régeis sio completamente destruidas. As chaminés, monumentos e co- unas sio derrubados. Méveis pesades sto derrubados ¢ os automéveis em movimento 30 altamente dificultados em sua marcha. Ace- leragdo de 250 a S00mmis?. Sio considerdveis os danos produzidos em toda @ qualquer construgo, saindo do prumo as paredes, danificando as fundagdes, forman- do-se grandes fendas que podem determinar 0 colapso de muitas paredes. As tubulagées sub- terrdneas sio altamente danificadas. Acelera- #0 de 500 a 1.000mm/s* X —E grande a destruigio dos edificios. Os trilhos de esiradas de ferro encurvam-se ¢ formam-se fendas no solo. Verificam-se destizamentos de terra nas encostas mais abruptas ou nos vales de rios. A agua das represas é derramada através, das fendas abertas. XI — Poucos edificios permanecem em pé. As pontes sio destruidas. As tubulagdes tornam-se com- pletamente imprestaveis. Abrem-se grandes fen- das no solo. XII — A destruigdo € total, chegando a modificar sen- sivelmente @ topogratia do terreno, com altera- ges tanto dos alinhamentos como das cleva- g0es, Conforme a natureza do terreno, podem formar-se ondulagdes na superficie. A violén- cia € tal, que muitos objetos sto langados a0 ar, to forte € a vibragdo produzida pelas ‘ondas sismicas. Os de 9-12 da escala corres- pondem & aceleragio maior que S00mm/s. Esta escala tem interesse mais humano do que geolégico, pois a intensidade das vi- bragdes diminui com a distancia ao foco. A fim de eliminar este fator na classifica- gio dos terremotos, C. F. RICHTER ideali- zou uma escala que se relacionasse 4 quan- tidade de energia desprendida, gasta num terremoto. Para isso, tomou como padrio © valor maximo do movimento horizontal registrado num sismégrafo padronizado a uma disténeia de 100km do epicentro. Este valor é calculado a partir da extrapolagao dos dados fornecidos por outros sismégrafos colocados a diversas distancias conhecidas. Os valores da escala variam geometrice Tapes 13-3 Relagio da intefsidade do terremoto com a distancia do registro e com a profundidade do hipocentro. A grandes distaneias 0 abalo € microssismico, sendo perceptivel somente através do sismégrafo Escala Classe | Resiano merose | Reistro macros Mipocenio X-X1I mundiais 18 a 20.000 1,000 a 2.000 muito fundo a in kan aase superficial reer srandes 10 17000 mals de 500 mnie fundo km im viEX iméaios 5.000 a 9,000 300 «1.000 initio a super km km fsa pequenos 500 a 4.000 menos de 500 pouco fundo im in menos que Toca menos de 500 | menos de 200 pouce fundo VI km km e superficial 319 mente com um fator igual a 60. Assim, um abalo de grandeza 8 equivale 4 energia gasta em 216,000 abalos de grandeza 5, que produzem danos locais mais ou menos proximos da regio do epicentro. Na escala de RICHTER o maior terremoto conhecido até hoje tem o valor igual a 8,6. O de Sao Francisco (1906) equivale a 8,25, e 0 de Téquio (1923), 8,1. O valor 2 correspon- de a um abalo fraco sobre a Area do epi- centro, € 0 valor 7 ja é destrutivo. A energia liberada por um terremoto de grandeza 5 equivale energia da primeira bomba at6- mica testada em 1945 no Novo México, enquanto que um 8,6 ¢ 3 milhdes de vezes mais forte. E importante que se leve em consideracdo que a energia acha-se con- densada no caso da bomba atémica, ao asso que num terremoto a energia acha-se dispersa em grande drea. ‘A energia que determina a formagdo dos terremotos € avaliada em fungdo do poder destrutivo e da distincia ao epicentro. Cal- cula-se que a energia que produza um ter- remoto catastréfico seja aproximadamente 200.000 vezes maior do que a energia de um terremoto de intensidade média, sob as mesmas condigdes de terreno ¢ de distancia do epicentro A intensidade das perturbagées provoca- das pelos movimentos sismicos ¢ a acelera- cdo nao representam uma medida da energia gerada do hipocentro. A energia inicial so- fre modificagées das mais varidveis no seu percurso até superficie do globo terrestre. Procura-se, deste modo, uma estimativa da energia fornecida aos movimentos sis- micos em expressdes tecnoldgicas. Assim © terremoto do Japéo (1923), segundo GUTENBERG, corresponderia a uma energia de cerca de 16 trilhdes de quilowatt-hora (isto é, 20 vezes mais que a energia elétrica mundial, gerada em 1950). O terremoto de Sao Francisco (1906) corresponderia a cerca de 20 trilhdes kW/h ou a energia pro- duzida por queda de um bloco granitico de 26 bilhdes de toneladas, caindo de 280km_ de altura. O terremoto de Lisboa (1755) é considerado 0 maior, com cerca de 350 trilhdes kW/h. Na fig. 13-10 acha-se re presentada (seg. GUTENBERG) a energia si mica produzida neste século até 1946. Ondas sismicas A propagagio dos abalos sismicos da-se pela formagdo de trés tipos de ondas, que se propagam gracas A elasticidade das ro- 8 1 t 180 T 160 5 = i Zio) - E100: & 8 8 a oi = Ee a fa iol Tooitathie 1905 1910 1915 1920 1925 1930 1935 1940 1945, Fig. 13-10 Energia desencadeada pelos terremotos entre os anos 1904-1946 (seg. Gutenberg), 320 chas, que vibram da mesma maneira que © ar ou qualquer outro meio, sélido ou li- quido, durante a propagacdo da vibracdo sonora. Sdo as ondas denominadas P, Se L, abreviagdes de “prima”, “secunda” ¢ “longa”. Assim como o som ¢ a luz tém di- ferentes velocidades de propagacio nos di- versos meios, dependendo da sua rigidez densidade, também as ondas sismicas apre- sentam variadas velocidades de propagagao. A velocidade varia diretamente com a ri- gidez (m) ¢ inversamente com a densidade (@ da rocha atravessada. Este fendmeno é de grande importancia na decifragaio da es- trutura da Terra, em base da propagagéo das ondas sismicas, como sera visto adiante. Ondas P, ou undae primae, sto ondas longitudinais, Por serem as mais répidas, so as que chegam em primeiro lugar, de- terminando as primeiras oscilagdes registra- das nos sismogramas. Sao por isso denomi- nadas undae primae, P, com velocidade de 8,6km por segundo, na superficie. A onda longitudinal é a que vibra no sentido da propagagio, andloga a da vibragdo sonora, tonite TTT) verificando-se a compressdo seguida da di- latagao, alternadamente (fig. 13-11), que se continuam pela transmissio destes impul- sos ais demais partes do sélido elistico, que sofre estas consecutivas mudangas de volu- me sem se alterar na forma. A velocidade das ondas P depende diretamente da resis- téncia 4 mudanga de volume do sélido, K (médulo de volume), da rigidez m (médulo cisalhante), e inversamente da densidade d, segundo a formula: veya sendo K e m as respectivas constantes da- queles valores, constantes estas caracteris- ticas para as diferentes rochas atravessadas pelas ondas. Ondas S, ou wndae secundae, diferem das primeiras na sua velocidade, que ¢ menor, ena natureza do movimento vibratério, que é de carter transversal, andloga a vibragdo da luz, Neste caso, 0 impulso softido pelas Onda longitudinal P Onda transversal S Fig. 13-11 Esquema do mecanismo ¢ da propagagao das ondas longitudinais P ¢ das transversais S. A com- pressio segue-se a dilatagao, cujo movimento de vaivém se propaga no sentido do movimento da onda, Nas ondas S este movimento di-se perpendicularmente ao sentido da propagasdo. 321 particulas vibriteis do sélido da-se no sen- tido perpendicular ao da propagaciio da onda (fig. 13-11). As transversais, cuja ve- locidade € 4,8km por segundo, ow seja, quase metade da velocidade das ondas P chegam depois, recebendo por isso a desig nagdo de ondas S, ou secundae. A veloci- dade das ondas S é dada pela formula Vs de onde se conclui que sto _ oye “Va° mais lentas que as ondas P. Ondas L, ou widae longae, representam uma terceira categoria de onda sismica, de velocidade ainda menor que as precedentes ‘As ondas L propagam-se com a veloci- dade de 3 a 4km por segundo, Estas ondas nao se propagam nas profundezas da Terra. Propagam-se, contudo, ao longo da super- ficie terrestre. S40 ondas superficiais, ¢ no se formam nos terrenos de focos muito pro- fundos. Séo as ondas de efeitos mais des- trutivos, sendo conhecidos dois tipos, a saber: as ondas Love e as Rayleigh, cujos no- mes sao tirados dos respectivos estudiosos que previram a sua existéncia. As ondas Love so mais velozes que as Rayleigh, so 5 Longitudinais Primae undae —>|sécundael Abalos _preliminares Transversais transversais, verificando-se somente 0 mo- vimento horizontal. Sua velocidade é de 4,35km por segundo. As ondas Rayleigh, por sua vez, so também transversais, numa movimentacdo eliptica e vertical em sentido contrdrio ao da propagagdo da onda. Sua velocidade € de 4,1km por segundo. Determinagao do epicentro Quanto maior for a distancia do epicen- tro ao local do sismégrafo, maior sera o atraso verificado entre as duas diferentes ondas, cujas velocidades variam, como ja vimos, gracas 4 natureza das vibragdes. A fig. 13-12 mostra-nos 0 registro de um abalo sismico no qual as ondas S chegaram 3 minutos ¢ 43 segundos apés as primeiras e as ondas superficiais ZL, apds 5 minutos. Foi verificado que a diferenca em minutos, entre a chegada da Pe S menos um, nos da a distancia aproximada em megametros, ou seja, mil quilémetros, Evidentemente, este método empirico é valido somente para os epicentros muito distantes. Assim, no caso da fig. 13-12, 0 atraso de 3,7 minutos, menos 1, corresponde a uma distancia de 2.250km, pouco menor do que a distancia minutos 6 Longae undae ———_—_> Abalos principais Fig. 13-12 Registto tomado em Pulkovo, Russia, de um terremoto de epicentro localizado na Asia Menor (see. C. R. Longwell. As ondas $ chegaram depois de 3 minutos ¢ 43 segundos, 0 que cor- responde a uma distancia de 2.250 km. 9 minutos depois & que se iniciaram as oscilagdes maiz fortes das ondas longas, superficiais e mais lentas. 322

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