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Considerag6es sobre tecnologias de informacao e comunica¢ao, cotidiano e ensino: desafios ao trabalho docente Eucioto Arrvoa! Introdugao O tema Tecnologias de Informagao e Comunicagao (TIC) tem sido cada vez mais objeto de estudos de pesquisadores no Bra- sil eno exterior. De acordo com Gongalves (1999), nos tltimos 20 anos houve grande produgao académica sobre o assunto. J Nascimento (2002) levanta o problema da disténcia entre a pro- dugao académica sobre o uso de TIC € seu uso efetivo na esco: la, uma vez que somente a partir de meados da década de 1990 ha um recrudescimento da introdugao e da implantacao de tais tecnologias nas escolas de nivel basico e superior’. Neste artigo, pretende-se abordar as transformagées culturais, @ didaiticas necessarias para a introdugao de tecnologias de in- formagao e comunicagao na pratica docente do ensino basico e superior. 1 Protec on Fact ede CancisHumanes i nerds FUMED 2, Poder otar camo ‘empis LITN (198, SELON! (199, 2000 6 200), SANCHO (1008, 2001), PAWA (1398), ‘ALVA (2008), BASTOS (2001, dene otros. 5. Em arose prog ‘nas pabbios ce ine (oe wo de nase. obs nbseas, podemos taro aine Programe acto entra rascal). Pa aires Gates sabe o none ‘rw pronto me gob 153 PAIDEIA Tecnologias: : inova¢oes no cotidiano Partindo de pressupostos tedricos de Jameson (2001), no ink cio do desenvolvimento das midias havia uma espécie de semi- autonomia do radio, da televisdo e do cinema, ao passo que na ‘evolugao atual o desenvolvimento das midias se da sob novas tecnologias, jé estabelecidas. No entanto, “o.que acontece é que a tecnologia 6 o que as pessoas da drea de informatica chamam de informagao comegam a deslizar impercep- tivelmente na dirego de aniincios e publicidad, do marketing pos- modemo e, finalmente, de exportacdo de programas de TV" (JAMESON, 2001, p. 13). Para Setton (2002, p. 109), a contemporaneidade caracteriza- se por ser uma era em que a produgao de bens culturais, a circularidade da informagéo, ocupa um papel de destaque na for ‘magao moral, psicolégica e cognitiva do homem. Portanto, refle- x6es sobre as implicagdes da insereao das TIC no mundo con- tempordneo tornam-se cada vez mais importantes, visto que to- dos os Ambitos e classes sociais vém tendo, cotidianamente, cada vez mais acesso a tais tecnologias. ‘Segundo analise de Jameson (2001), 0 coneeito “aparentemen- te comunicacional” das TIC na contemporaneidade transformou- se em uma viséio do mercado mundial com sua interdependéncia recém-descoberta, uma diviséo global do trabalho (...), com no- vas rotas de comércio eletrénico incansavelmente percorridas tan- to pelo comércio quanto pelas finangas. O carater mercantil de nossa sociedade “molda”, de certa forma, o papel que as TIC exercem no nosso cotidiano. Nessas circunstancias as tecnologias apontam para um recrudescimento do cardter individualista e concorrencial de nossa sociedade. O papel das tecnologias na educagao aparentemente nao tem ConsideraGes sobre tecnologia de inormagdoe comunicado,ctiians ¢ sine: desis ao trabalho docente sido diferente: cada vez mais elas s4o vistas como elementos diferenciadores da formagao dos sujeitos. A diferenca na forma- 80 ndo reside na apreensao de novas linguagens, novos olha- €s Sabre 0 conhecimento, mas sim no simples fato de o sujeito possuir uma “certificagdo” que Ihe garanta uma diferenga no mercado de trabalho. Vivemos diante de um “determinismo” tecnolagico em nossas vidas, em que deixamos de ser sujeitos e nos transformamos em objeto frente as tecnologias. Talvez seja por isso que, apesar de muitos trabalhos aponta- rem para as transformagdes advindas das TIC no ensino-apren- dizagem, autores como Green & Bigun (1995) e Nascimento (2001 € 2002) visualizam a escola como um “reftigio” da crianca diante do fluxo constante de TIC Green & Bigun (1995) constataram que a escola, pais e socie- dade parecem acreditar que as TIC s4o simplesmente mais al- {gUns recursos tecnolégicos que hoje distanciam a nova geragao da anterior, mas que, com 0 tempo, reconfortariam e acomodari ‘am os adolescentes no seu devido lugar na tela de relag6es soci ais. Ou seja, tende-se a ignorar, nessa perspeotiva, aquilo que 6 menos visivel - isto é, a natureza especifica da tecnologia que envolve (GREEN & BIGUN, 1995, p. 233). Alava (2002, p. 54) afirma que essas novas tecnologias dizem respeito sobretude aos educadores, mas so vistas como ele- mentos técnicas que “renovam” o ensino somente através da introdugao do maquinério na escola. No entanto, este autor afir- ma que as novas tecnologias da informagao e comunicagao ofe- recem novas possibilidades de aprender e devem deixar o esta- tuto de simples auxiliar (na aprendizagem) para tornar-se centro de uma outra forma de aprender, que leva em consideragao, principalmente, novos parametros comunicacionais © lingiisticos. De certa forma, as novas tecnologias significam uma nova maneira de nos comunicarmos, de estabelecermos uma lingua- 155 PAIDEIA 4 Poses conser ern ress rain gubes que perm a reg nee res msc uo, $e, om, igen as fou anes. ce arate ‘loaptecasso comune. ln eae prea: Velaro dee uses nepas oo ‘reso secu. 156 gem, mas néo uma forma de simplificarmos a mesma, uma vez que, & medida que o homem desenvolve diferentes mecanismos de linguagem, esta se torna cada vez mais complexa. Tecnologias: alterag6es no ensino Levy (1997) considera o computador e a rede de informagdes (Internet) um terceiro processo de desenvolvimento das “tecnologias intelectuais", sendo o primeiro a passagem da oralidade para a utilizagao da esorita e o segundo 0 advento da imprensa, que acelerou enormemente a disseminagao do conhe- cimento por meio de livros. Esses processos caracterizam modi- ficagées histéricas nas formas de apreensao e construcéo do conhecimento, devido a utilizacao de processos cognitivos dife- rentes (linguagens oral, escrita e “simulacdo” por computador) ~ © que caracteriza a complexidade dos meios comunicacionais contempordineos. De acordo com Bianchetti (2001, p. 28), novas TIC apresentam-se como 08 meios que possibiltan que a forma de transmitir 0 contetido transmitido possam ser agrega- dos € veiculados num novo espago € nufn novo tempo, perfeita- Mente adequados a esta época em que as nogbes de espago- tempo esto passando por um revolucionamento sem preceden- to Barreto (2001, p. 116) acentua a valorizagao dada pela escola & aprendizagem pelo material impresso e confirma a ruptura advinda da introdugéo das TIC - que a autora chama de multimidia* No que diz respelto ao processo de ensino-aprendi- zagem, a multimiia & a tecnologia que permite a coexisténcia de distintas ordens de materiaidade em um mesmo espaco. Isso porque es- sas tecnologias produzem sentido e significados sob diversas for- Consideracses sve trcnolosias de informacdo €comunica,cotidiano e ensino:desafis ao trabalho docente mas, por melo de registros semisticos distintos: linguagem natu- ral, inguagens visuais, audiovisuais, textos visuals, etc. (PERAYA, 2002, p. 30) Bianchetti (2001) acredita que as novas tecnologias tornam 0 processo educativo policéntrico e difuso, trazendo conseqiiénci- aS para 0 Surgimento de outros processos educativos e novos agentes pedagégicos, além daqueles representados pela esco- la, crescendo em importancia as aprendizagens no préprio local de trabalho. A informatizagao da sociedade estaria promovendo uma ‘pedagogizagao da vida cotidiana’ Machado, (1998 citado por BIANCHETTI, 2001, p. 28) A autora ainda salienta 0 perigo da introdugao de TIC na escola de maneira inconseaiiente, uma vez que isso, por sis6, no garante ‘novas abordagens e pode servir como legitmagao das velhas. ‘Nada pode prejudicar mais a educagao do que nela introduzir modernizagoes tecnolégicas sem antes mudar 0 modelo de co- municagéo que esté por debaixo do sistema escolar” (BARRETO,2001, p. 184). Uma alteracéo pedagégica, seja na educagao basica ou no ensino superior, passa nao sé pela introdugao de novas tecnologias no ensino, mas por toda uma reinterpretacao dos aspectos lingliisticos envolvidos nessas tecnologias. Talvez este seja 0 grande desafio do docente: estabelecer maneiras de co- nhecer essas tecnologias, a luz de suas significacdes cotidianas, para produzir transformagées legitimas na pratica docente e no processo de ensino-aprendizagem. No contexto atual de desenvolvimento sécio-politico-econémi- 0, as novas tecnologias acarretam no somente novas possibi- lidades comunicacionais midiatizadas, mas também sao sinéni- mo de progresso nos moldes do positivismo (que pensavamos ter abandonado). As TIC sao extremamente valorizadas nos di- versos niveis de ensino exatamente por terem como significado, dentre outras coisas, poder e dominagao, haja vista que os paises que hoje detém controle sobre o desenvolvimento de tecnologias 157 PAIDEIA Pua BERINO (1900, 3 Fare coneeis os, 8 meredon te uachomicase comove Tor sua objetidae de vate aoe do eater ok oprocesso depo ‘ago em qu o vaso haa pate expessar una garda as re Sons tea. mts. feng poss ar eso comoresnldo pa aa Sessa areca. Aes himaras aoe oes asco fer trocada par autos tens au iter, 158 de Uitima geracao so exatamente aqueles que exercem grande influéncia no cenario politico ¢ econémico mundial Informagao e conhecimento assumem hoje um papel de gran- de importancia na Nova Ordem Mundial, principalmente devido s suas caracteristicas de intangibilidade e possibilidades de re- produgao a custos quase irrelevantes. Nascimento (2001a) cha- ma a atengdo para essas caracteristicas das novas tecnologias. no mundo capitalista. Baseado em conceitos marxianos para analise do processo de produgae de valor de troca e de uso® de: determinada mercadoria, atenta para a caracteristica “virtual” das. TIC, 0 quo torna dificil estabelecer valores de troca para uma mercadoria que nao é baseada em processos industriais como conhecemos. A nova organizagao sécio-politico-econémica é de tal forma dinamica que torna muito préximos inovagao e obsolescéncia, ou Sea, as tecnologias s40 desenvolvidas em tal velocidade que aquilo que hoje era inovador amanha jd nao tem valor como tal. Nao 86 0s equipamentos, mas o proprio sujeito, vém sofrendo tal transformagao. Cabe ao homem hoje buscar a sua qualificagao, ou a sua “inovagao” constante, para manter-se no topo dos em- pregos formais. A flexibilidade do trabalhador leva, inclusive, 0 préprio ensino superior a buscar respostas para tais demandas, incorporando tecnologias de informacao e comunicagao nos cursos de gradu- ago e pés-graduacéo, seja na forma de incorporacao de recur S08 nas aulas ou criacdo de disciplinas especificas sobre 0 uso de tais tecnologias na formacao de seus alunos. Essa busca de desenvolvimento tecnolégico constante, de for- magao em nivel superior que garanta a entrada desse sujeito na constante flexivel do mundo contemporaneo, leva as pessoas a viverem naquilo que Jameson (1997) chama de presente cont nuo ou esquizofrenia cotidiana ~ quer dizer, vivemos somente 0 hoje porque o ontem ja se obsoletizou, No mundo midiético a Consderagds sobre tenologias de infermagao e comunicaga, cotidiano ¢ensino: desafios ap trabalho docente memiéria é recente e deleta tudo aquilo que considera sem im- portancia, ou obsolete. Virilio (1996) vai mais longe ao afirmar que © homem procura equipar-se com 0s instrumentos tecnolégicos, buscando estabe- lecer uma velocidade de transformacao tipica do capitalismo atu- al, ou Seja, incorporar ao corpo humano equipamentos que es- to de acordo com a velocidade que a dinamica econdmico-po- 0-social exige do homem contemporaneo. Em outro trabalho, Virilio (1999) discorre sobre o espago-tem- po no mundo contemporaneo, Numa sociedade digitalizada, tem- po € espaco so integrados Virtualmente, de tal maneira que per- demos suas referéncias, 0 que significa uma alteragao em toda a légica construida de tempos-espacos distintos, apontada por Giddens (1991) como caracteristica da modermidade. Para 0 autor, a modemidade arranca 0 espace e o tempo da linearidade e presenca de atividades iocalizadas para uma rela- ao de “ausentes, localmente distantes de qualquer situacéo dada ou interacao face atace. Em condigdes de modernidade, o lugar se torna cada vez mais fantasmagérico: isto &, os locais séo comple- tamente penetrados e moidados em termos de influéncias socials bem distantes deles.” (GIDDENS, 1991, p. 27, grifos do autor). Esta nova configuragae significa também novos paradigmas de aprendizagem, uma vez que @ comunicacdo sem fronteiras espaco-temporais cria novas maneiras de o sujeito estabelecer contatos com a aprendizagem, em tempo instantaneo. Ha sempre embutida uma contradigao inerente as TIC: por um lado, deve-se utllizé-las no ensino da graduagdo para que o cur- so seja de “ponta”, atenda as novas demandas do puiblico aprendente; mas, por outro lado, ha sério risco de tals disciplinas significarem uma mera atengao & demanda dos discursos mercadolégicos, nao implicando qualquer vivéncia tecnolégica no cotidiano do aluno ou do professor. 159 PAIDEIA 160 Pensar as TIC na educacao é retomar a discussao de Hernandez @ outros (2000, p. 19) sobre inovacao na escola: ‘Em termos gerais, pode-se dizer que inovagao 6, como assi- nala HORD (1997), ‘qualquer aspecto novo para um individuo dentro de um sistema’. No entanto, a inovagao naéo é a mesma coisa para quem a promove, para quem a facilita, para quem a pée em pratica ou para quem recebe os seus efeitos” E de suma importancia considerar 0 uso de TIC na educacao. como uma inovagao, assim como o 6 o desenvolvimento de no- vas praticas pedagégicas, novos curriculos que estabelecem re- lag6es diferentes na construgao do conhecimento escolar, novos processos didaticos que colocam docente e discente em novas relagées sociais na sala de aula, ou até mesmo inovagées organizacionais da escola, como eleicao de diretores e modifica- des no gerenciamento. Assim como esses processos, as TIC também sao amplos e complexos inovadores de ensino-aprendi- zagem. Dessa forma, as novas tecnologias nao podem ser vistas so- mente no seu aspecto técnico, na sua objetividade, mas como objetivacao do homem e como elemento que permite tecer rela- ges de aprendizagem na interagao entre professores, alunos saberes produzidos dessa relagéo: “A tecnologia nao é s6 mediagao com 0 mundo e com os outros, ‘mas funciona para nés como possibilidade de entendimento dele, através de crencas/valores interiorizados no contato com ela e que nos levam a determinadas ages com elas e por elas" (ALVES, 2000, p. 4) Alves (2000, p. 9) aponta ainda para uma caracteristica das TIC no cotidiano social ao afirmar que: “Ao mesmo tempo em que um grande entusiasmo no uso da tecnologia fica patente quando estudamos a existéncia dos mii los artefatos tecnolégicos no contexto familiar, a sua entrada neste cotidiano a transforma em algo comum.” CConsideragdes sobre tecnologias de informasdo ¢ comunicagio, cotidiano ¢ ensino: desafos ao trabalho docente No entanto, na pratica escolar a introdugao de TIC nao se trans- forma em algo comum, e sim algo a ser “impedido”, como se a resisténcia significasse a defesa do ultimo territério que diferen- ciasse a escola dos outros lugares socials “comuns”. Ha hoje necessidade de ura educagao cada vez mais vincula- da a esta configuragdo social, cuja tecnologia da informacao e comunicagéo apresenta-se cada vez mais desenvolvida. Nao s6 no que diz respeito ao estreitamento de relagées entre Educa- G0, Informagao e Comunicagéo, mas também porque deter | tecnologia hoje ¢ sinénimo de poder e dominago, e tora-se extremamente necessaria a constante reflexdo sobre as TIC, de maneira que possamos oferecer uma educacao que dé conta dos desafios educacionais dessas tecnologias @ de suas rela- goes no dia-a-dia do homem. As dificuldades encontradas pelo docente em lidar com TIC poderiam ser explicadas pelo modelo ridigo da organizagao es- colar, mas Perrenoud (1999, p. 12) salienta que este é um proble- ma enfrentado pelas caracteristicas do trabalho docente. “A despeito das novas tecnologias, da modernizagao dos curricu- los, da renovacao das idéias pedagégicas, o trabalho dos profes- sores evolui lentamente, porque depende pouco do progresso téc- nico, porque a relagao educativa obedece a uma trama bastante estavel e porque suas condigdes de trabalho e sua cultura profis- sional instalam os professores em rotinas” (grifo do autor). Mesmo em face dessa lenta “evolugao” do corpo docente, Marcovitch (2002) salienta que a educagao hoje, a despeito de posig6es retrégradas de certos setores da prépria escola, deve uilizar 0s recursos datelemtica® (HOUAISS, 2001) como pode- 5 cou te ene rosa forca difusora do saber. Além disso, 6 desatio da educago Sess uns tn se arquitetar novas mentalidades, em face da nova perspectiva ““™" ‘ecnolégica por que passa a sociedade atual. A escola néo pode falar do cotidiano de seus alunos se nao consegue demonstrar exceléncia no uso das tecnologias presentes na vida deles. Percebe-se um problema merecedor de consideragao: 0 uso PAIDEIA 162 de TIC no ensino nao deve ser pautado somente na aprendiza- gem com computador, mas no estabelecimento de compreen- sdes das peculiaridades e da complexidade da linguagem, em seu sentido singular em relacdo a tecnologias anteriores ¢ no sentido de tornar mais densa a maneira como os sujeitos estabe- lecem comunicagdes midiaticas. ‘Também é necessario estudar o que, na relagdo com o saber, no sentido dado por Charlot (2000), de relagéo com 0 mundo e também consigo mesmo e relagéo com os outros, implicando tam: ‘bém uma forma de atividade e uma relagao com a linguagem e também com 0 tempo, os professores € alunos, sujeitos do pro- cesso de aprendizagem, estabelecem na sua pratica e na sua percepedo das TIC no tecido social. Em termos sécio-histéricos, até meados da década de 1970 0 desenvolvimento tecnolégico caminhava a passos medianos, mas, com a chamada revolucdo microeletrénica, o desenvolvimento de TIC tornou-se extremamente veloz, ficando cada vez mais dif cil ao homem acompanhé-lo. O desenvolvimento quase instanta- neo das TIC é um fator que torna dificil para o docente estabele- cer qualquer relagao ou reflexéo sobre tais tecnologias. Dessa forma, as TIC acabam sendo “ligadas” as geracées mais novas, que possuem maior facilidade no seu uso, mas no esto devidamente maduras, intelectualmente, para relacionar-se com elas. Vivemos hoje baseados em novas regras de comunicagao, interacao e produgao do conhecimento, em que a integracao de midias, além de modificar a forma com que o homem relaciona- se com a produgao do conhecimento, transfere o foco da valori- zacao do textual para o imagético, para um mundo de conhecl- mentos baseados em uma plataforma muito mais complexa, a0 Unir multimidia e velocidade de producao ¢ reproducao dos sa- beres. Aié mesmo 0 estabelecimento de teorias que busquem o dié- logo com essa realidade tecnolégica se torna dificil, em fungao CConsideragbes sobre tecnologias de informagio ¢ comunicagio,cotidiano e ensino: desafios ao trabalho docente do dinamismo do desenvolvimento dessas tecnologias. No en- tanto, 0 estabelecimento de tais teorias, com base em pressu- postos filoséficos e sociolégicos, é fundamental para a consol dacao dessa Area do saber, téo proficua em produgées académi- cas, porém ainda repleta de lacunas tedricas. a sg Referéncias Bibliograficas ALAVA, Séraphin otal. Ciberespaco e formagées abertas: rumo a novas praticas ‘educacionais? Porto Alegre: Arimed, 2002. LAVA, Séraphin, Uma abordagem pedagégica e midiética de ciberespago. Patio: Rov. Pedagdgica, Porto Alegre, p. 8-11, 2003. ARRUDA, Eucidlo. As novas tecnologias educacionais no ensino presencia! @ suas implicagdes no trabalho docente: virtualidades reais ou ambivaléncias Virals? 2002. Dissertagao (Mestrado) - Faculdade de Educaséo, UFMG, Belo Horizonte, ARRUDA, Eucidio. Trabalho docente @ novas tecnologias educacionais: vitalgade positiva ou realidade confitanto? In: PIMENTA, Solange Marla: CORREA, Maria Laetitia (Orgs.) Gestéo, trabalho e tecnologia: novas arliculagoes. 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Pautamos por uma discussao que leve em consideragao néo sé a dimenséo do trabalho docente, mas também dos aspectos comunicacionais que envolvem as possiveis alteragSes na sua pratica pedagégica em uma sociedade Cuja dindmica de desenvolvimento tecnolégico 6 intensa. Apesar do elevado niimero de trabalho publicados no campo da tecnologia e educacao, percebemos lacunas tedricas no que diz respeito as alteragdes comunicacionals necessdrias para o trabalho ‘com novas tecnologias de informaeao e comunicagao (TIC) no cotidiano escolar. A grande velocidade com que as TIC vem se apresentando no cotidiano das pessoas fazem com que a sua introdugao na escola sefa analisada de maneira cuidadosa, uma vez que as novas tecnologias destroem fronteiras espago-temporais até entéo tides como intransponiveis. Um problema merecedor de grande destaque diz respeito a formacao dos professores para ensinar em um mundo de constantes transtormagées tecnolégicas. Tal mundo signitica para o professor uma transformagao de mentalidades, que passa necessariamente pela transformagao da propria organizaeao escolar, uma vez que nao podemos desvincular prética pedagégica de outras insténcias da escola. Por titimo, discutimos de forma preliminar alguns desafios da educagao na atualidade como as dificuldades da escola em lidar com © conhecimento estabelecico e com as constantes transformacdes do mundo mediatizado trazido pelo aluno no interior das insttuigées educacionais. Resumo Palavras-chave: Educagéo e Tecnologia, Comunicagao € Educacao, Trabalho Docente, Pratica Pedagégica e Tecnologia. 165 PAIDEeErA Abstract 166 CONSIDERATIONS ON INFORMATION AND COMMUNICATION TECHNOLOGY, EVERYDAY LIFE AND TEACHING: CHALLENGES FOR TEACHERS’ WORK The present article aims to start up theoretical discussions on the teacher's pedagogy practice in a society surrounded by ongoing ‘dynamic changes. We advocate a discussion that takes into account not only the teacher's work dimension, but also the communication aspects involving potential changes in pedagogy practices within a society whose technological development dynamics is intense. In spite of the high number of studies published in the fields of technology and education, we perceive theoretical gaps conceming the communication changes required to work with new information and ‘communication technologies (ICT) in the school everyday ite. The great speed in which ICT have been changing in people's ‘everyday life requires its introduction in school to be carefully analyzed, since new technologies destroy space-time frontiers so far regarded as unbreakable. A problem that deserves being highlighted is the formation of teachers to teach in a world marked by ever-changing technologies. Such a world means to the teacher a mindset change that necessarily goes through the school organization itself, since we cannot disentangle pedagogy practice and other schoo! instances. Last but not least, we go through a preliminary discussion about some challenges currently faced by education, such as difficulties to deal with the gained knowledge as well as the ongoing changes of the {information world brought by the stuclent to the inside of education Key words: Education and technology; communication and education; teachers’ work; pedagogy practice and technology. CONSIDERATIONS SUR LES TECHNOLOGIES D'INFORMATIONS ET DE COMMUNICATION, SUR LE QUOTIDIEN ET LES ENSEIGNEMENT : DEFIS DU TRAVAIL ENSEIGNANT Dans cet article on propose d’entamer des discussions théoriques sur Ja pratique pédagogique at professeur dans une société pleine de transformations de caractere médiatique. Nous somme favorables & une discussion qui considére non seulement la dimension du travail ‘enseignant mais aussi les aspects de la communication qui englobent les altérations possibles de la pratique pédagogique, et cela dans une société dont fa dynamique du développement technologique est intense. Malgré le grand nombre de travaux publiés dans le domaine de la technologie et de l'éducation, on pergoit des lacunes théoriques liées aux altérations dans Je domaine de la communication qui sont néanmoins nécessaires au travail avec les nouvelles technologies d'information et de communication (TIC) dans le quotidien scolaire. Le rythme présenté par les TIC dans le quotiaien demande que son introduction dans le miteu scolaire soit analysée avec précaution vu que ies nouvelles technologies tranchissent des frontiéres spatiales et temporelles considérées jusqu’ici comme infranchissables. Un probleme qui mérite d’étre mis en évidence est celui de la formation des professeurs qui enseignent dans un monde ot les transformations technologiques sont constantes. Ce monde signifi, pour ’enseignant, une transformation des mentalités passant forcément par la transformation de organisation scolaire - car il n'est pas possible de séparer la pratique pédagogique des autres instances de Nécole. Pour conelure, on discute de facon sommaire de quelques défis de 'éducation aujourd'hui, comme par exemple la dificulté qu'a l'école de se débrouiller avec le Savoir établi et avec fes transformations constantes d'un monde médiatisé que les étudiants amanent & ‘‘intérieur des institutions scolaires. Mots-clés: Education et technologie; communication et éducation; travail enseignant; pratique pédagogique; technologie. Résumé 167

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