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ree os mic Toioto toto (os Ee Uae CATT Co) es ence aa NO BRASIL ~ UM OLHAR RETROSPECTIVO TRAVESSIA Revista do Migrante CEM - Centro de Estudos Migratérios (Federagao dos CEMs J.B.Scalabrini) Publicagto quadrimestral, voltada ao estudo e divul- ganao da realidade do migrante a parti dos diferentes. amos do contiecimento: social, politico, econémico, educacional, cultural ee Diretor Sidney da Siva Editores Direeu Cutt ‘Sidnei M. Dornelas Jornalista Responsavel ‘Antonio Garcia Peres (MiB 3081) Conselhio Editorial Carlos B. Vainer Dulee Baptista Francisco Nunes Heinz Dieter Heidemann Helioa Pavoa Neto José G. Bacearin José Guilherme C, Magnani José 1. Gebara Lalz Bassegio Marilda A. Menezes Oswaldo M.S. Truzzi ‘Teresa Sales Conselhe Consultivo Alfredo J. Goncalves Claudio Ambrozio Edgard Malagodi Erminia Marieato Marla P. Sposito Milton Schwantes Capa’ ‘Arte: 2M Criagio Editorial Editoracto Eletronica Dirceu Cutt Impressio Grifica e Editora Peres Luda - Fone:(011)3609 138 Endereco para Correspondéncia Rusa Vasco Pereira, 35-1 DISI4-030 Sio Paulo'SP -£ Fone: (O11)278.6227- Fax: (0112 SOCIEDADES INDIGENAS EM NOVO PERFIL ALGUNS DESAFIOS Dominique Tiliin Gallois.. SINCRETISMO OU AFRICANIZAGAO? ‘08 SENTIDOS DA DUPLA PERTENGA Josildeth Gomes Consorte... ESTADO E MIGRACOES NO BRASIL ANOTACOES PARA UMA HISTORIA DAS POLITICAS MIGRATORIAS: Carlos B. Vaineressesescceesessese MIGRACOES INTERNAS E INTERNACIONAIS NO BRASIL PANORAMA DESTE SECLLO Teresa Sales Rosana Baeninger... 33 SIMILACAO DOS IMIGRSNTES NO BRASIL TRAVESSIA ESTADO E MIGRACOES NO BRASIL Anotacoes para uma historia das politicas migratorias 1. INTRODUGAO' Qualquer olhar medianamente atento Jangado sobre historia patria bastard para evidenciar a importancia das polfticas mi- srat6rias*, Nao seria exagero afirmar que a historia da constituigdo © evolugao do Estado brasileiro tem sido, também, em boa medida, a histéria de conceitos,insti- tuigdese préticas voltadas para equacionar ¢ administrar a mobilizagao ¢ localizagao de populagées. essa perspectiva, nfo deixa de sersin- tomético que em 31 de margo de 1824, menos de uma semana apés a promulga- 80 da primeira constituigao brasileira, que pode ser tomada como simbolo do préprio nascimento do estado nacional, D. Pedro 1 tenha assinado a Decisio n° 80, de 31 de rmargo, mandando demarcar as terras da coldnia alema Sao Leopoldo, “a qual nao pode deivar de ser reconhecida de util dade para este Império, pela superior van- tagem de se empregar gente branca livre € indusiriosa, tanto nas artes quanto na agricultura” (apud. Demoto, 1960, p. 32), A partir de entéo, virias sisteméticas fo ram as iniciativas para povoar com gente branca livre e industriosa as vastas terras de um estranho ¢ esquizofrénico Império tropical, que acalentava o sonho de trans- formar-se numa nagdo branca enquanto sugava sofregamente sobretrabalho dos escravos negros. Mas a prépria escravidio, por muito tempo, constitu obstéeulo notavel a que 6 Brasil acothesse os bragos que as revo- oes agricola e industrial iam tornando excedentérios na Europa. © fracasso da Carlos B. Vainer* experiéncia de importagdo de trabalhado- res suigos e alemies promovida pelo Se- nador Vergueiro, que terminou com o le- vante dos parceiros da Fazenda Ibicaba mostrou os limites da tentativa de ‘mobilizago maciga de bragos livres en- quanto perdurasse o trabalho escravo, E quando se anuncia a aproximacio do fim da escravidio, porém, que a questi da mobilizagl0 do trabalho comeca a se colocar de maneira premente —e, em certa ‘medida, angustiante. Como assegurar bra- gos para a lavoura? Como substituir o tra- balho escravo? Inicia-se, entdo, longa fi tervengio do Estado no ‘mobilizagdo e localizagao terrtoriais do trabalho. Na tentativa de recuperar os gran- des tragos dessa trajet6ria, acreditamos ser possivel identfiear grandes estraté- sgias de mobilizagio ¢ localizag2o de po- pulagdes que marcaram diferentes perio- dos da hist6ria das politicas migratérias, a saber ~ Transig&o para otrabalho livre ea estratégia de transformagao do es- crayo liberto em proletario moder- nno, que se inaugura com o fim do trf- 60 € vai até 0s anos 80 do século pas- sado; ~ Substituigéo de eseravo por imi grantes e a estratégia imigrantista- agrarista, que dominow a ago estatal do titimo quartel do século XTX até 0 final dos anos 40, com o interregno da A~Parceria a la Vergueiro Em 1845, Nicolau Vergueiro touxea primeira leva de parceiros ~ 64 familias alemas~ para sua fazenda Ibicaba, em Limeira, Com o fim do trfico, em 1 850, Vergueiro inensificau sua aco de intermedidrio, recrutando, transportando e “entregando” parceros a varios fazen+ deiros, Em 1857, entre alemies ¢ sufgos, havia sob contrato de parceria no Oeste Paulista ‘mais de 1,000 sugos, segundo Doan (1977, p. 99) e mais 6e 2.000, segundo Furtado 2000, p. 131), Recrutado na Europa, o imigrante assinava contrato comprometendo-se a no abendonar a agenda até ressarcir 0 fazendeiro pelos custos de transporte, alimentaedo e demais adianta- ‘mentos feitos para sua instalacSo; o rigor do regime de parceria, os pregos cobrados no Darracio, os descontos, e mil outros expedientes, porém, acabavam inviablizando a quita- ‘0 e tansformavam, na pritica, 0 parceiro supostamente livre num eseravo por divida — dlivida pela qual, por sinal, a familia era solidéria caso falecesse scu chefe, Em 1857, 0s parceiros se revoltaram, O levante, as dentincias de escravidsio brancareper- ccutiram na Europa, criando clima francamente desfavoravel & emigracio para o Brasil. CCantdes suigos ¢estados alemées simplesmente proibiram o recrutamento e embarque para 6 Brasil em seus teritrios. Sobre o sistema de “parceria" do Senador Vergueiro, vero extraordindrio relato do pastor ‘Thomas Davatz (1941), Segunda Guerra Mundial, quando ga- nhou destaque a mobilizacdo do traba- lhador nacional; = Migragées internas ¢ a estratégia de gestio regional dos excedentes, que predominou nas décadas de 50 © 60; = Integragio nacional e a estratégia de racionalizagao territorial dos flu- xos migratérios, que caracterizou as concepsdes e projetos da ditadura mi- litar; + Fragmentagio territorial, violén- cia ea estratégia da gestio social dos miigrantes, que parece marcar a etapa neo-liberal Embora apresentadas acima como st- ‘cessivas, em muitos momentos as diferen- tes estratégias coexistiram - algumas ve- zesharmoniosamente, outa de forma con- traditoria, expressando tanto a complexi- dade do proprio processo hist6rico quanto a heterogeneidade de interesses das dife- rentes fracées dominantes que, a0 fongo do period analisado, tém compattilhado e disputado 0 poder de Estado. As sessbes seguintes buscatao caractei destas estratégias © 08 p foram dominantes, registrando, sempre de rmaneira bastante sucinta, as prineipais po- Iiticas, entendidas como compostas simul- taneamente por concepgbes hegeménicas e intervengdes governamentais especificas. Il. TRANSICAO PARA O TRABALHO LIVRE E A ESTRA- TEGIA DE TRANSFORMAGAO DO ESCRAVO LIBERTO EM PROLETARIO MODERNO (OU FORGANDO EX-ESCRAVOS AO TRARAIHO LIVRE) A inlerrupgao do trafico negreiro anun- ciou © principio do fim do regime escravista que, no Brasil, sempre foi de~ pendente do aporte de novos contingentes = “sem negros niio hd Pemambuco, esem Angola ndo hei negros”,assinalava de for- ‘ma lapidar o jesufta Ant6nio Vieira. Queo fim propriamente dito tenha tardado de varias décadas 6 apenas o indicador das dificuldades para vencet a resistencia dos donos de escravos ¢ para encontrar 05 ca rminhos que propiciassem aemergéncia de novas relagées de trabalho € a consttui- ao de um contingente de trabalhadores livres. Nos anos 1860, otrfico interprovincial vai favorecer as zonas mais présperas, conde se expande a cafeicultura. Mas no faltardo iniciativas para submeter homens livres ao trabalho forgado, Conrad infor- ‘maque, no Cearé, “as autoridacles gover- namentais forcaram pessoas livres « tra- balharem de graa nas plantacdes de al- sgoddio e de agticar” e que, em 185 tos dos habitantes dos quitombos da pro vineia paraense eram homens livres que tinham fugido para as florestas para evi- taro trabatho forcado” (Conrad, 1975, p. 59), Estes mecanismos, porém, apenas adi- avam o enffentamento da questo central colocada historicamente pela transigio da eseravio para o trabalho livre: como in- duziro ex-eseravo, uma vez liberto, a con tinuar trabalhando para 0 antigo senhor? Na sociedade eseravista s6 eram percebi- dos como livres aqueles que nao precisas- sem irabalhar; como explicar agora, aos re- cém-libertos, que deveriam trabalhar para um patrdo? Para convencé-fos de que. com a tran- homens livres também deveriam tra- balhar pelo menos aqueles que, alm de juridicamente livres, fossem também despossuidos dos meins de producdo esub- sisténcia — a legislagio vai progressiva- ‘mente impor aos fibertos uma série de constrangimentos. A Lei do Ventre Livre, de 1871, € prédiga em mecanismos que restringem sua liberdade — libertos sim li- ves niio, Assim, por exemplo, os ingénu- 6 (fills livres de mies escravas) poderi- ‘am ser guardados pelos proprietarios esub- rmetidos a diseiplina da fazenda até a ida- de de 21 anos*. Quanto aiqueles que obti- vvessem a alforria, gragas i distribuigio de recursos do Funda de Emancipagao cria- do pela lei ou mesmo gragas a seu préprio pecilio, tinham como altemativa perma- riecerem a servigo de seus ex-propriet 0 por 5 anos ou serem considerados vadi 05 e submetidos a trabalhos forgades em obras pubic © esforeo para controlar os desloce- iientos de libertos ¢ escravos fugides e, desta forma, mobilizar seu trabalho, apa- recia de maneira explicita na Lei Saraiva- Cotegipe, dita das Sexagenstios, de 1885, apenas trés anos antes da aboligao. ‘E domicttio obrigado por tempo de cinco anos, contadas da data da liber- tagdo do liberto pelo Pundo de eman- cipagao, 0 municipio onde tver sido alforriado,excetoo das capita” ‘0 que se ausentar de sew domicttio serd considerado vagabundo e apre ‘endido pela policia para ser emprega do em tabaihes piblices ou coldnias agrtcolas." *<...> qualquer liberto encontrado sem ocupacio serd obrigado a empre- (gar-se ou a comratar seus services no pprazo que the for marcado pela Poti- cia.” (Lei Saraiva-Cotegipe, art. 3% §§ 13, 14 17) E como se isso nfo fosse suficiente, a lei ainda obrigava os libertos a prestarem 3 anos de servicos gratuitosa seus ex-pro- prietétios ... a titulo de indenizacdo! (0s grandes proprietirios e senhores de escravos, 35 anos apés o fim do tréfico, continuavam temerosos de que 6 finn da ceseravidio se transformasse em fim de todo ¢ qualquer trabalho, Em consulta realiza- da junto is CAmaras Municipais da Pro- vineia de Sio Paulo, em 1886, as 23 que responderam se manifestaram, todas, con- twirias A aboligio imediata (Dean, 1977, p.138). Anténio Prado explicava que 0s pro- prictérios absolutamente nio eram contra aabolig&o, mas precisariam conservar seus escravos até poder substitui-los por novos trabalhadores; em vistado que defendia um programa cujas etapas seriam: libertago ddos escravos da Provincia de Sa0 Paulo até 1890. transformagao do sistema de tra- balho escravo em outro que garantisse a permanéneia dos libertos no trabalho pelo ‘menos até que se pudesse dar o salto para © trabalho livre incondicional (Conrad, 1975, p27). © fato € que a aboligao pretendia li- bertar os escravos da eseravidao, mas nao do trabalho para outrem; antes pelo con- ‘ratio, desde a Lei de Terras, de 1850, pre- oy {er Wravensia/daneio-Aba700 B - Atiradas & liberdade pela “desarticulacio brusca” da escravidiio Durante as primeitas décadas do sSculo XX, muitos serfio aqueles para quem nossos problemas term resultado da excessiva rapidez com que se dera a aboligio: "Quanto d crise de bragos que nos vem perseguindo desde longos anos ela nada mais é do ‘que unt rebentolegitimo da impericia, da inabilidade de nessos homens e wna consequéncia do desvio por que passou a forga de nosso destino. Ora, como foi feita a Aboligfo? <...> tal assunto joi sempre abordado pelo lado sentimental, em vez de se reparar a massa escrava convenientemente para o trabalho livre. Howve, realmente, muito tempo para que ficessem da pobre ‘massa escrava, entregue ao mais completo anaifabetismo, inconsciente, animalisade, um punhado de individuas trabalhadores ‘Mas o que se fez foi coisa muito diversa e depois de alguns anos de propaganda em que prevaleceu o sentimentalismo piegas ¢ Ise foi rulo: os pobres negros, inteiramente desaparethados, foram singularmente atirados & lberdade, que para eles nada mais era do que 0 nie trabathar, a miséria e o viclo” (Niemeyer, 1920, p. 42 ~ grilo nosso) ‘Vargas compartilhou deste diagndstico, como se percebe na passagem seguinte: “A propaganda abolicionista <,..> restringiu-se, exclusivamente, & libertacdo dos cativas, sem cogitar do grave problema da substiuigao, pela atividade livre, do trabalho eseravo, sobre 0 qual repousava a nossa economia, Muitas reeides do pais outrora opulentas, ainda hoje sentem, decadenter, ax consequéncias nefastas dessa desarticulacdo brusea” (Discurso de Gesilio Vargas, pronunciado na Bahia, em 1933: apud Neiva, 1942, p. 31 ~ grifo nosso) Estes discursos parecem ecoar as preocupagdes expressas por umm ministro do Império, que havia advertido que a aboligdo “pre Cipitaria o Brasil em wn abismo profundo e infinito <...> Pelo menos meio milhdo de pessoas seriam perdidas para a forca de trabalho nacional <...> alguns escravos libertados trabalhariam por salérias, mas mates outros tornar-se-iam vagabundas ou iriam para as cidades” (apud Conrad, 1975, p. 97). Nao devemos esquecer que a cidade era vista como improdutiva e seus habitantes, quase todos, como ociosos e inteis para a produc da riqueza da nacio, conforme perspectiva fisiocrética que predominou por muito tempo enire nossas elites dominantes, seyundo 2 qual o Brasil tinha vocagio essencialmente agricola tendeu-se evitar qualquer forma de acesso A propriedade da terra que nio fosse atra- vés da compra, deixando claro que o tra- batho devia submeter-se a propriedade, a0 invés de submeté-la a sua légica reprodutiva Mas, como é sabido, a maciga fuza de escravos assim como a mobilizagiio eres- cente do que havia de opiniao publica aca- baram precipitando a aboligao. E a subs- tituigfo do trabalho do negro escravo no vai ser feta, principalmente, pelo trabalho do liberto ... mas por um outro contingen- tede trabalhadores que 0 Estado brasiei ro havia comegado a recrutar, transportar localizar: 0 trabalhador branco e livre da Europa. © fracasso da experiéneia de imigra- clo a la Vergueiro, 0 fracasso dos esfor- 0s de mobilizagao da populagao negra li berte, o continuado ¢ permanente compro- isso das elites dominantes com sonho do branqueamento da nagio, tudo concor- reu para que, progressivamente, se fosse construindo a estratégia imigrantista, agrarista, que assegurara, por muitos € muitos anos, a permanéncia da plantation exportadora © da hegemonia da cafeicul- tura na economia e na sociedade brasilei +as, Solugdo pata os grandes proprictirios de terra, sobretudo de Sdo Paulo, que, no entanto, iria projetar-se como sombra so- bre 0 futuro dos negros e dos trabalhado- res nacionais de modo geral, empurrados pelos préximos 30 ou 40 anos para o sub- proletariado, para as camadas inferiores da classe trabalhadora, ¢ definitivamente ex- cluidos da propriedade da terra Ill. SUBSTITUIGAO DE ESGRA- VOS POR IMIGRANTES E A ESTRATEGIA IMIGRANTISTA- AGRARISTA (OU BRAGOS BRANCOS PARA A LAVOURA) 311. A Solugio Imigrantista ‘Ao apagar das luzes do Impétio, face as dificuldades para engajar os ex-escra- vos ¢ 0s homens livres da ordem ceseravocrata nos duros trabalhos das gran- des fazendas, o sonho do povoamento com brancos industriosos torna-se necessidade pratice’ Se por vitias décadas 0 Império viu a imigracdo sobretudo como mecanismo que permitiria ocuparo teritério com brancos, bem como incrementar a produgo alimen- tar complementar & monocultura exporta- dora do latifindio, eada vez mais se vai impor a necessidade de bracos para a la- voura. As eriticas aos nicleos coloniais distantes ou nas fronteiras das areas domi- nadas pelo latifindio comecam a se inten- sificar. 1é om 1878 so duras e claramente direcionadas as criticas langadas as col6- nias instituidas segundo o modelo de Sao Leopoldo (RS) e Nova Friburgo (RJ): “Até hoje nio se pode tirar dos niicle- 9s coloniais os beneficios esperados: eles nem abasteceram os mercados com os produtos da pequena agricul- tura, nem forneceram bracos para a preparacéo, limpeza e cotheita dos ‘frutos da grande agricultura. Na opi- nido dos técnicos « natureza dos soles do se adapta & cultura de cereais €a distancia em que se encontram as.co- lonias dos centros agricolas torna di ficil a oferta de trabatho a salarios mé- dicos” (“Relat6rio com que o Exmo. St. D. Jo%0 Baplista Pereira, Presiden- te da Provincia de Sao Paulo passou a Administragio 20 2° Vice-Presidente Exmo, Sr. Bardo de Trés Rios”; apud. Martins, 1973, p. 58 - gtifo nosso)’. A implantagao da estratégia de suprir ‘2 grande layoura com o brago imigrante implicava numa requalificagio do discur- 0 sobre o lugar do europeu branco na so- ciedade: ao invés de pequeno produtorin- dependente, brago para a grande lavoura, Travessia/Janeiro- Aba/ 00-77 C- Da imigragio colonizadora imigragdo-trabalho ‘Martins (1973) expde de maneira esclarecedora a progressiva reconfiguraso das estratég- as politicas c ideolégicas que sustentaram a passagem da imigragio eolonizadora para a imigragio de bragos. O autor cita, por exemplo, Antonio Prado, que propunha que o im sgrante fizesse um "estdgio preparatério” na grande fazeruia antes de se aventurar na aqui sigdo de sua propria pequena propriedade. “A experiéncia cemonstrow, ao menos na pro vincia de Sao Paulo, que a colocagdo dos migrantes nas fazendas é 9 melhor sistema, ois apds trés ou quatro anos, a familia assim colocada, se é sabria e laboriosa, tera ‘acunulado um pecitio suficiente para a compra de uma terra, onde sew trabalho serd tanto mais frutifero que ela jd estard aclimatada, conheceré a lingua nacional e teré adguirido as nogées especiais necesérias i agricultura, que nao vem senao da pritica e so to diferentes na Europa e no Brasil” (apud. Martins, 1973, p.110 -grife nosso). Nessa nova etapa, o Estado interveio para evita a repetigdo da experiéncia Verguciro, na «qual, segundo Martins, ndo se realizara plenamente a dissociaglo entre forga de trabalho e Utabalhador, favorecendo, “na mente do fazendeiro, as concepgdes préprias do regime eseravisia” (Martins, 1973, p. 54), No lugar dos contratos assinados na Europa, “o gover no tomava 0 assunto em mdos <...> pagando a viagem dos migrantes para o Brasil” (Prado Junior, 1974, p. 192). Como destacou Dean, “gualquer edleulo da viabiidade do sistema da grande lavoura depois da aboligéo da escravatura deve partir desse fato espan- 1050: ndo foi ela que pagou pela substituigao de bragos, e sim a populapao inteira, inclusi= ve 9s libertas” (Dean, 1977, p. 1S2Y" Eenquanto na Europa nossos agentes con- sulares distribufam prospectos anuncian- do a abundancia de terra e as amenidades climdticas do pats, aqui se montava a es- trutura logfstica para conduzir os imigra- dos ao devido lugar: as fazendas. “Os imigrantes, que chegavamem gru- os numierosos, eram depois de desem- barcados em Santos, imediatamente {fechados ¢ trancadas nos vagdes da ‘companhia de estrada de ferro. O trem ‘que os conduzia para Sao Paulo (e do qual tinham a oportunidade de adm rar as belezas da Serra do Mar, como firma um depoimento apologético da imigragdo subvencionada), deposita- va-os diretamente no pio da Hospe- daria dos Imigrantes, que pensada- ‘mente se localizava a margem dos tri- thos da SPR., hoje Estada de Ferro Santos-Jundiat. Durante sua estadia nna capital, os imigrantes alojados na hospedaria nao podiam afastar-se dela, e af permaneciam como numa verdadeira prisio. Uma vez determi- nado o destino do imigrante, a fazen da para.a qual fora destinado (assun: 10 em que ele ndo era consultado) era novamente embarcado na prépria es- tagdo da Hospedaria; e mais una vex, sob estreita vigillincia, transportado para « estagdo mais préxima daguela {facenda, onde jd 0 aguardava o fe- zendeiro ou seu preposto para receber € tomar posse de seu novo trabatha- dor” (Prado Jinior, 197, p. 240)° ‘Sio Paulo, que entre 1882 ¢ 1885 ha- via acolhido anualmente, em média, 4.800 estrangeiros, assistiu a um crescimento vertiginoso da imigragiio: 9.500 em 1886, 32.100 em 1887, Nos trés anos seguintes, © ingresso médio anual foi de 68.500 pes- soas, © ndimero de imigrantes subiu de 120.000, entre 1851-1860, para 1.125.000, filtima década do século, (Cano, 1983, al de alguns anos © Estado bra- sileiro havia conseguido conduzir a tran- sigo ao trabalho livre através de uma dispendiosa, sistemticae complexa inter- ‘vengio que envolvia propaganda, reeruta- mento, embarque, acolhida e distribuigéo de migrantes. E assim constituiu-se 0 exér- cito de trabalhadores aptos que viabilizaram tanto acontinuagao da expan- sio cafeeira quanto o primeito surto urba- 1no- industrial do pais'. Nio deixa de cons- tituirum paradoxo que um Estado que pro- fessava 0 credo liberal, lido nos classicos ingleses e aprendido na pritica com os co- merciantes ¢ banqueiros da velha ilha, nfo se sentisse constrangido de intervir de modo to amplo ¢ radical no ritmo normal do livre jogo das forgas do mercado ... de trabalho! 3.2. © Compromisso Republicano com oImigrantismo-Agrarista A Repiiblica rapidamente deixou cla- ro seu compromisso em dar continuidade A cstratégia inaugurada ao final dos anos 1870. Assim como o Império nasceu ins- talando colonos brancas nas terras livres, a Repiblica nascente edita regulamenta: cao do Servigo de Introdugio e Localiza- ‘o de Imigrantes, afirmando sua opca0 racista e branqueadora. “Artigo 10 -Einteiramente livre aen- trada, nos portos da Repiblica, dos in- dividuos aptos para o trabalho, gue 1ndo se acharem sujeitos @ agao crimi- nal do seu pats, excetuados os indige- nas da Asia ou da Africa?, que somen- te mediante autorizagao do Congres- so Nacional poderéo ser admitides de acordo com as condigdes que forem estipuladas” (Decreto n. 528, de 28/ (06/1890 - grifo nosso)" Trabalhador, morigerado¢ ccugenicamente apto aconiribuir com afor- magio do povo brasileiro: eis 0 imigrado ideal que emerge do conjunto dos debates politicas arespeito daimigragio, da ocu- pegdo do territério, da oferta de trabalho, Neste ambiente cultural ¢ politico, a grandiosa tarefa da consttuigio do povo e da nacionalidade, verdadeito processo de etnogénese cuja responsabilidade 0 Esta- do se auto-atribuiu", foi concebida como tum esforgo para atender, simultaneamente a trés ordens de questées (ou necessida- des) - a necessidade econdmica, isto é, de bragos adestrados e disciplinados a necessidade eugénica, isto é,de do- ses crescentes de sangue branco; - a necessidade nacional, isto é, de construed de um povo nacionalmente Unificado ¢ integrado sob padrées cul- Lurais homogéneos. A razio de Estado expressa-se, pois, ideaimente, como a sintese da razio eco- nidmica, da razao racial e da razao cultu- ralfideolégica. Quando a razio econémi- cca (necessidade de bragos) se impée-de forma absoluta e sem restrigdes, os demais seerteeereraremensnre ear —SSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSsSs objetivos da politica imigratéria podem ficar comprometidos. E este o sentido da critica as politicas vigentes que se 18 na Plataforma da Alianga Liberal, ertica que seditige sobretudo aos paulistas, defenso- res decididos da imigrago japonesa “Durante muitos anos encaramos a imigragdo exclusivemente, sob os seus aspectos imediatos. E oportuno entrar a obedecer ao critério étnico, subme- tendo a solugio do problema do povo- amento as conveniéncias fundamentals da nacionalidade” (apud Neiva, 1942, p29)" Mas para entender em todas as suas facetas as concepgdes que informaram a estratégia imigrantista-agrarista que domi- ‘now as politicas migratorias brasileiras ak elo menos, os anos 50, 6 necessério aten- lar para 0 conceito fundamental de assi- milapdo, que estrutura e unifica, ideal € praticamente, 0 processo de construgiia da nacionalidade ao qual o imigrante vinha, ou pelo menos deveria ter vindo, integrar- se io basta trazer 0 europeu, traballha- dor, branco, explorando simultaneamente suas duas potencialidades migicas: fazer frutifcar a grande plantagio latifundidria ¢ fazer proliferar a gente branea de nossa terra. E necessétio integré-lo & naciorali- ade, tomo solidério ¢ fiel a0 pats de D_- 0 japonés: bom trabalhador, estrangeiro inassimilavel Pra ilustrar 0 que eram consideradas as vitudles “econdmicas” do japonés, bastam duas citagGes. adogio, Ja desde 0 inicio do século Silvio Romera havia declarado guerra aberta con- traas coldnias alemas, dystos evhnicas, que, segundo ele e, mais tarde, Oliveira Vianna, apenas contribufam para reforcar os lagos do imigrante com a patria de origem. A luta de Romero contra os kystos germénicos, que poderiam suscitar um Zanzibar sul-americano, assim como a ba- talha de Miguel Couto e Xavier de Olivei- Facontraaameaga de mandchurizagdo das colénias nipénicas, ambas ilustram a pre- senga de argumentos geopoliticas na luta contra o que viam como ameaga & nacio- nalidade e propria integridade territorial do pais (cf. Romero, 1906; Reis e Faria, 1924; Couto, 1942; Oliveira, 1937). A_ partir de 30, 0 discurso assimilacionista vai ganhar grande impul- 80, ancorado numa retérica patriética centralizadora e autoritéria, que alardeia 05 tiscos representados pelo alienfgena. Oliveira Vianna", brihante arauto da fir- ‘me intervencdo estatal para assegurar a arianizagiio de nossa populagio © a defesa da nacionalidade, vai responsabilizar 0 li- beralismo da Primeira Repiblica pelo surgimento dos kystos ethnicos, denunei- ando-o pela abdicagdo de qualquer poltti- ca assimilacionista ‘Outrora, sob o liberalismo da vetha Constituigdo e das nossas leis de imi- gracio e colonizagdo <...> O proble- ma da interagao do colono na nossa sociedade, a sua incorporagdo & na- cionalidade como elemento plastico ¢ .ndo hd quem negue as qualidades de caviter as aptiddes de trabalho, a moralidade de costumes, as normas de discipli ‘na, 08 sentimentos profindos de respeito as leis, 0 acatamento as instituigdes, o afastamento sisiemdtico as lutas da polfica nacional, que singularizam o povo japonés” (Clovis de Carvalho, Sub-Dicetor do Departamento Estadual do Trabalho de $40 Paulo; epud Lobo, 1935, p. 101). ‘Qual é 0 auiliar de fezendeiro pantista que resist, tl como o fe 0 japonés, ds medidas impostas periodicamente pela ‘economia brasileira, determinar que representa muitas vezes a impossibi- dade de pagamento dos colonos agricultores por parte dos facendeivos? Colonos estrangeiras, de péemn punto, fizeram em Sito Paulo os facendeiros passar momentos dificeis em 1930¢ 193], enquanto mesmo entre as suas dificuldades, sorriam os colonos Japoneses, 0 que jusiiea plenamente a defesa destes por parte da agricultura paulista, em especial pela Sociedade Rurel de Sao Paulo e principalmente pelo Pov Paulista” (Labo, 1935, p. 35) pregos baixos e proibicdo de exportagio de café, Do lado oposto, vale citar Vianna, segundo o qual o japonés era indesejével porque “é como o envofie:insolivet" . 208), Mais completo ¢0 diagndstico do médicoe consttuinte Xavier de Oliveira: “O amareloéindesejavel porque éinassimilvel <> Se le éinassimilével, sob o ponto de vista da antropologia propriamente, mais ainda o éde maneira integral, do porto de vista do seu psiquismo. Isto como una caracieristica de sew normo-tipo racial ¢, mais até, por sua prépria consttuigao intra Dsiquica, sem esquecer, nem pér de lado, as razdes mais profs, divi, de seu mistcismo religiose, mesclado com o fanatismo paristico” (Oliveira, 1937, p. 28), Vienna, 1954, esttitamente énica, seja, sobretudo, na for- ‘ma dominante de razaio nacional. Isto por- {que 0 japonés foi visto e representado como, simultancamente, © melhor traba- Thador dentre os que se podia importar ¢ 0 mais inassimilvel de todos os estrangei- 105 - o mais estrangeiro dos estrangeiros, Necessirio € perigoso, o japonés apa- rece como portador de todos os atributos, positivos enegativos, comuns, em diferen- les graus, a todos 0s estrangeiros. Neste sentido, o debate acerea da imigragio ja- ponesa sintctiza o sentido © as contradi- Ggées de uma estratégia imigrantista que, simultaneamente: (a) desqualificava o na- cional enquanto trabalhador para justifiear a imigragho estrangeira, ©, (b) desqualificava o imigrante enquanto es- trangeiro, para justificar medidas discriminat6rias", Neste contexto ideot6- gico estruturou-se 0 discurso da constru- «40 do trabalho disciplinado, da confor- ragtio da nacionalidade ¢ Ua constituigo de um povo homogeneizado sob a égide de uma cultura nacional que, no mais das vezes, no era senio a imagem colonizada de elites que sempre se quiseram européi- as e modernas. {A vitéria do partido anti-nip6nico no 0 sentido legitimo do nosso imperialisma € crescer dentro de nés ‘mesnios e levar as nossas fronteiras econdmicas até o limite das fronteiras oliticas, fazendo assim com que todo © Brasil prospere harmoniosamente” (Discurso proferido em 18/11/1939, apud Vargas, A nova politica do Bra- sil). Mas esta geopoliticainstaura uma pers- pectiva que, a partir de entio, constitu elemento fundamental das estratégias es- tatais de organizagao territorial e gestio de fluxos migratérios: © espago vazio pode acother excedentes de populagao que pres- sionam o latifiindioem zonas de ocupacéo id consolidada “'<,..> 0 programa “Rumo ao Ovste” €0 reatamento da campanha dos cons: trutores da nacionalidade, dos bandei- rantes € dos sertanistas, com a integragdo dos modernos processos de cultura, Precisamos promover esta arrancada, sob todos os aspectos e com todos os métodos, afim de supri- mirmos os vacuos demograjicos do nosso territorio e fazermos com que as Jronteiras econdmicas coincidan com as fronteiras politicas. Eis o nosso int erialismo. Nao ambicionamos um palmo de territério que ndo seja nos- G - Colénias Agricolas Também para os Nacionais ‘Nao se pode que a Marcha para o Oeste tena consisiido num programa de governo, mo sentido de ter reunido wm conjunto articulado de medidas e politicas. Na verdede, wna das eficdcias do lena residia no fato de que, ao tratar da Marcha de forma abrangente, dispensava a apresentagdo de medidas coerentes e coordenadas, permitindo que se assacias se. posteriori d Marcha iniciaivas govemnamentais que poderiam ter sido adotadas independentemente dela, ow ainda que se previssem realizagdes nem sempre cumpridas. A medida mais completa de fato adotada pelo Estas Novo com o sentido de concreticar a Marcha para 0 Oeste foi a criagdo das colénias agricalas nacionais, em fevereiro de 1941 pelo Decreto-lei #3059" (Azevedo, 1985, p,51). Em 1940, foram criadas a Coldnia Agricola Nacional de Goids (CANG) e ado Amazonas. No ano seguine, decretou-se a criagdo da colonia de Monte Alegre, no Pard, ea de Barra do Corda, no Maranhao, Ato final {0 Estado Novo foram ainda criadas mais trés: em 1943, General Ox6rio, no Parané, e Dourados, no entdo Territério Federal de Ponta Pord (Mato Grosso do Sul); em 194, a de Osiras, no Piaut O caréter amplo conferido pelo Governo seus propagandistas a0 conceito mesmo de Marcha para o Oeste permitisslhes, em vrias ocasides, associar-Ihe a Batalha da Borracha, 50, mas temos um expansionismo, que €0 de crescermos dentro das nossas préprias fronteiras” (Improviso, 8/08/ 1940, apud Vargas, As diretrizes da nova politica do Brasil). Mas, nas anos 30, prevalecia ainda uma visio que considerava o trabalhador naci- onal inapto para o trabalho sistemitico. A Marcha para Oeste, com seu projeto de Jmplantar colnias agricolas com trabalha- dores nacionais vai, por esta razio. dar-se por tarefa discipliné-los ¢ edues-los para 6 tabalho, Hustram bem esta perspectiva orelat6rio enviado em 1943. a0 Minis- tro da Agricultura por José Oliveira Marques, Diretor da Divisio de Terras e Cotonizacio, registrando as inspegdes re- alizadas em col6nias agricolas nacionais: “Obras de engenharia ¢ localizaedo do.colono em um lote demarcado, com casa de residéncia, por sis6,ndo cons- tituem a solucdo do complexo proble- ma de radicagdo do homem a gleba como pequeno proprietério rural, so- bretudo se se tem em conta que a ado em geral terd de se desenvolver em toro de individuos rudes, por veces dementalidade ndmade, rebelde, por- tanto, & disciplina e aos hébitos de sedentariedade que a agricultura exi- ze” (apud. Azevedo, 1985, p. 85- eri fo nosso). Somente saneado e educado poderia 0 trabalhador nacional cumprir as grandio- sas tarofas civilizat6rias a que estava des- tinado: “Enfraquecido pelas endemias, 0 nos- so caboclo ndo tem disposicdo para o trabalho e, desajustado, fracassa em qualquer iniciativa que toma. Impoe- se, portanto, a adocdo sistemdtica de tuna politica imigratéria e colonizado- 1a, econdmica e financeira, sanitaria e educativa” (Oliveira, 1943, p. 73). Mas tal objetivo dependia de um pro- Jjeto centralizado, racionalizado, cientiti- ‘co, que submeteria 2 tutela do estado tra- Jjet6ria~ migrat6ria © moral ~ do trabalhia- dor feito colono. “Preocupa-se hoje o Estado com a politica das migragdes planificadas, que é sempre dirigida no sentido de reajustaras populagies dentro de seus ‘eTravessla naka AbnI700 ns H.-A Marcha para Oeste Inaugurou a Estratégia de Ocupacio da Fronteira como Mecanismo de Preservacio do Latifiindio aparecen no discurso des govemantese idedlogos efetva do regime de exploragdo da terrae sim & icitamente, ao descongestionamento de dreas onde nsies sociais que ameagavam a ordem vigente (cidades e itordnea). Ndo se cogitava um retalhamento do latifinio, ue deslocasse « populagite desocu- nas devoluzas” (Esterci, 1972, p, ocupaga grassa pada e sem terra para 0 interior do Pats, Procuva.se resolver os problemas do trabalhador nacional, <...> passbilitande-lhe @ | posse da terra, sem comprometer a estrusura agraria da faixa litordnea e linitofe, i ‘ocupada” (Dayrell, 1974, p. 6). “A alternativa que se apresenta na épaca 6 viabilizar a pequena propriedade na fronteira desocupada, onde havia terras devolutas, o que vinha equacionar varios problemas: o dos ‘espacas vazios, oda produgao e 0 do coufrontamento diveio, que o Govemo queria evita, enireo laifnndioe « pequena propriedade, pois na fonteira ~e provavelmente-s6 ali eles territérios, de maneira a dissolver pressies e impedir os desequilfbrios locais <...> ndo é facil tarefa recrutar trabathadores, retiré-losde suas zonas de origem, a que tanto se apegam , para colocé-los numa outra, que se supde previamente estudada, ¢ ainda mais devidamente aparethada para possibilitar os objetivos visados” (Oli- voira, 1943, p, 60) Educar esse trabalhador 6, pois, tam- bém, “despertar-the <...> 0 interesse, in- ‘cutindo-lhes habites deatividade e de eco- rnomia” porque, afinal de contas, “a medi- da da wtilidade social do homem é dada pela sua capacidade de produgao” (De- partamento de Imprensa e Propaganda, 1941; apud. Azevedo, 1985, p. 92). As- sim, a vida nas coldnias agricolas devia submeter-se a rigidos regulamentos, exi- gindo-se dos colonos “uma conduta or- deira e que nao perturbe sob nenhum pre- texto a comunhéo geral”, jé que “a or- dem & condigao indispensével ao traba- tho, a prosperidade das nacdes como dos individuos” (Departamento de Imprensa e Propaganda, 1941; apud Azevedo, p. 84). Mais ou menos & mesma época, defi- nnindo como deveriam ser as colDnias que iriam transformar os nordestinos retiran- tes em produtivos colonos itrigantes, Dur que escrevia: 1ndo seriam excedentes <...>” (Cmara Neiva, 1984, p. 58) ‘0 colono irrigante precisa ser mot- dado, trabathado, formado nas minticias de qualidades morais e nos conkecimentos técnicos para a nova vida. O posto deve ser a verdadeira escola profissional agricola, 0 quar tel da disciplina do trabatho ¢ a igre- ja da formacao espiritual capaz de transformar 0 elemento indtil — flagelado~ em célula produtiva ~ co- ono irrigante” (Duque, 1939, p.155— tif nosso). Face aeste tipo de concepgto, nfo sur- preende a constatacio do gedgrafo Waibel, ‘emseu interessante trabalho sobre a Colé- nia Agricola Nacional de Goiis: “Ao en- trar-se na Colénia compreende-se desde 0 primeiro momento que aqui € uma érea de vida planejada” (Waibel, 1979, p. 173). 3.4, A Permangneia e Con da Estratégia Imigrantista e Racista ~ 0 Conselho de Imigragio e Colonizagio Nem a dréstica redugdo dos fluxos imigratdrios, nem as agGes governamen- tais voltadas para a mobilizagao & disciplinarizagio do trabalhador nacional, znem as crescentes migragSes interregionais. ~ que ja se faziam sentir desde a segunda ‘metade dos anos 30 ¢ que iriam explodir nos anos 50 -, nada disso impediu que, durante a guetra, a oped imigrantistaper- manecesse como estratégia central do Es- tado e das classes dominantes brasiliras As propostas e providencias do Con- selhode Imigragdo e Colonizagiomostram de maneira inequtvoea a permanéncia de uma perspectiva que continua conceben- 0.0 pais como um imenso espago vazio & espera do vitalizador influxo de correntes ccuropéias brancas, das quais dependeria nilo apenas o desenvolvimento e a ocupa- 60 do terrt6rio, mas a propria constitui- silo da nacionalidade. Assim, ja norelaté- rio de atividades do primeiro ano de exis- tencia do C-LC.,Ié-se “<...>a politica imigratbria que mais convém é a que tem em vista evitar os elementos indesejdveis e os de dificil assimilagdo e promover a entrada de boas correntesimigratsvias em harmo- nia com a expansdo econdmica do pais, mas, principalmente, como fator de formagao anacionatidade" (CCI Secretaria do Conselho, 1940, p. 7) Mais explicita 6a manifestagio do Pre- sidente do C.LC., na apresentagao que fez < primeito ntimero da Revista de Imigra- «Ho e Colonizagao, érglo oficial do Con- selho. “Para um pais de fraca densidade como o Brasil e que se acha em plena formagdo, a acessibilidade a certas ‘formas de assimilagdo émica e conta to social é condigao essencial de pro- gresso <...> Nenlwn outro pats ofe- rece maior extensdo de terras colonizdveis pela raga branca do que 0 Brasil, abaixo do paralelo 20, a absorver una larga imigragao européia” (Muniz, 1940, p. 4). Estratégia imigrantista, agrarista e ra- cista, expressa também nas palavras do vice-presidente do C.LC. com absoluta cla- reza! “Ora, como temos absolutanecessida- de de importar bracos, principalmen- te para. lavoura, s6 uma solugao nos resta: selecionar as racas que néo déem lugar a fendmenos de inferiori- dade na respectiva descendéncia” (CA- ‘mara, 1940, p. 661), Nao deixa de ser oso 0 favo de que 1-O C.LC. ea Trajetéria Institucional da Questio ()Migratéria Criado pelo Decreto-Lei a! 405 (4/5/1938), enquanto érglo supraministeria diretaments subordinado ao Presidente da Repdblica ~o que denota a importancia conferia ao drgio e | questdo da imigragio -, 0 Conselho de Imigrago e Colonizagdo representa, por assim dizet, o auge da trajt6ria seguids pela questo imigratiria-racial no aparelho de estado Entre as competéncias do C.L.C, destacavam-se as seguintes: fixar a quota anual de cada nacionalidade (conforme o regime de quotas, que foi preservadio na Consttuigso de 1937), propor 20 presidente divetizes gerais de politica, coordenar os viios ministérios e éxgaos ‘governameniais envolvides com a selego, embarque, desembarque, recep, localizagi0 e controle de esirangeiros (Relagbes Exteriores, Agricuturs, Trabalho, Policia ..) Em 1954 0CLC. vai ser sucedico pelo Instituto Nacional de Imigraglo ¢ Colenizagio, eujo herdeiro seré, ap6s 0 golpe militar de 1964, 0 Instituto Nacional de Colonizagto e Reforma Agraria, ambos vinculados ao Minisigrio da Agricultura, Esta trajetria institucional sinali- ‘2.38 mudaneas ocorridas nos anos 50 60: a) a questo imigratéria se retira de eena, dando lugar as migragdes intemas; b) a questo migrat6ria é diretae imediatamente subordinada & {questo agriria, conferindo 2 politica de colonizagio © papel de ersatz de uma roforma agra nunca realizada ~a colonizagao das fronteiras agricolas como mecanismo de deslo- car e reduzit a pressio demogrifica e politica sobre a estruturaIatifundisria das zonas de ‘ocupagio antiga. Nos anos 70, como se vers 2 seguir, a questa das migracbes vai ser separada da questo ageia eatribuida ao Ministério do Interior. enquanto estavam completamente estanca- dos 0s fluxos imiigratérios, o principal or- ganismo estatal responsével por politicas nesta rea insistisse em propugnar uma estratégia ¢ uma politica que a realidade desafiava abertamente. Esta miopia ideo- l6gica, porém, estava longe de constituir apanagio de uma intelligentsia racista encastelada no aparetho do estado autori- Uirio. Para provar a adesto das elites do- rminantes a este projeto de nagio fundado ‘na imigragio européia, nada melhor do que recuperar a resolugio sobre Politica de Povoamento aprovada na Conferéncia das Classes Produtoras (Teresépolis, 1945)"; além de reafirmar a importancia de asse- gurar a continuidade e amptiaao dos flu- xos imigrat6rios, aresolugio indica que as classes produtoras ““<...> pensam que deve ser mantida a tradicional politica de miscige- nagdo que vem sendo seguida J Imigragio e miscigenago: caminho para o brangueamento Arthur Hehl Neiva foi um dos mais prolificas colaboradores da Revista de Imigragio e CColonizagao, memibro do C.1.C.,espéeie de portz-voz autorizado das potficas estadonovistas, teria verdadeinanente absurdlo pretendermos, nun pats onde a maioria da populagio proveniente do caldeamento mais diverso, e que foi durante quatro séculos, un dos gran des cadinhos da humanidade, dar-nos ao luxo de ter preconceito de raga, Nio, tata-se ‘apenas de um desejo de methoria perfeitamentejusificado, em face da incontestavel realidde de que, atualmente, a raga branca domina o mundo pelo mais elevado grav de civilizagdan ‘aque atingin” (Neiva, 1945, p. 23). “E ponto paetfico, hoje, entre nds que s6 nos convém a imigracdo branca, Nao porque 0 Brasil seja racista. Mas porque, se quisermos fazer prosseguir 0 branqueamento ...> deveremos ausiliar esta tendéncia, abrindo nossas portas & imigragdo branca <...> 1830 do quer dizer que proibamos a entrada de elementos de cor, soladamente, mesmo en carter permanente; significa apenas que desejanos cer brancos dagui a alguns séculos ¢ Ccontinuaremos intemamente nossa sabia politica de miscigenapdo ampla” (Neiva, 1944, p. 239). mmultissecularmente pelo Brasil, preser vando-se, entretanto as caracteristicas de ascendéncia européia da maioria de seu povo” (Conferéncia de TTeres6polis, in Boletim Geogrstico, ‘ano IIL junho/1945, p. (74) ‘Tao arraigadas estiveram estas concep- ges no estado brasileiro que ainda encon- {ramos em mensagem enviada por Jusceli- no Kubitschek ao Congresso a afirmagio de que seria necessério promover: "<...> uma prospecgéo cuidadosa dos varios mercados potenciais de imi- grantes com o objetivo de aprimorar cada vez mais no futuro, do ponto de vista moral, profissional e eugénico, os contingentes de imigrantes (Kubitschek de Oliveira, 1957, p. 388 ~ srifo nosso). Ecos, sem dtivida, itimos remanescen- tes de uma concepcao de nagio e de uma estratégia imigratoria que por 70 anos foi hegeménica no estado brasilei. IV. MIGRAGOES INTERNAS E A ESTRATEGIA DA GESTAO REGIONAL DOS EXCENDENTES O anacronismo tinha durado demais, ¢ 1 miopia ideol6gica no conseguia mais cesconder a verdade de um pais atravessa- do por fluxos internos cada vez mais volu- ‘mosos. Com os anos 50 impde-se uma re- alidade totalmente nova: éxodo rural, in- tensas migragdes intertegionais. Nos cor- redores da Hospedaria dos Imigrantes, em Sho Paulo, ao se ouvem mais 0 italiano € ‘-espanhol, agora substitufdos pelos sota- ques nordestino e mineiro ...afinal de con- tas, Sfo Paulo, que no pode parar,jé ha- via descoberto desde os anos 40 que os nordestinos e mineitos, os trabalhadores nacionais, podem sereducados/ciseiplina- dos para o trabalho ... no préprio traba- tho, Estas migragbes, que fundam também © Intenso processo de urbanizagio, sio saudadas como um sinal de que o progres- so, Finalmente, batia & nossa porta. O mo- delo desenvolvimentista dualista saudava com otimismo o enxugamento do campo e a transferéncia de grandes contingentes populacionais para as cidades ¢ para as BT Travensia/ Janeiro -ADaTO0 regides mais ricas, vendo nestes proces- 508 vetores que viriam contribuir para o crescimento do sector modero e, ‘consequentemente, para aelevacio da pro- dutividade ¢ do bem estar médios na so- ciedade, Produtivizagiio do trabalho, é sob esla dtica que serdo vistas os novos flu- ‘A introdugdo de téenicas mais apri- moradas de lavoura e peewdiria <,..> condluzem a melhores safras e tenden a reducir 0 volume de méo-de-obra correspondente a uma determinada producéo. Cria-se, em consequéncia, L- A Sobrevida da Estratégia Imigrantista-Agrarista no Pés- Guerra Emborainviabilizada pelas novas reali ddades nacional ¢ internacional, a estraté- siaimigrantistaagrarsta manteve-se pre- sente, cuando nao dominante, nos 10 anos que seguiram o fim da Segunda Guerra Mundial Em 1946, Antonio Queiroz Teles, presi dente da Sociedade Nacional de Agricul- ‘ura, insist: “Nao hd dlivida, pois, de (que Sto Paulo <...> precisade quinken 105 mil por ano, dentro de tun lustro. Bm seguida, outro tanto, nas Imesmas proporgoes, ou maiores, ater dendo-se ao fato de serem agricultores € consttuidos em familias” (Teles, 1946, . 752) Em 1949, 0 Presidente da C.LC., abrin- «do 0s trabalhos da I Conferéneia Brasi- leica de Imigragio © Colonizagio, em Goidnia, exortava de que nesta assembléia se firme a idéia para ser propagada, de que o Brasil de- seja tonificar-se, erguer- se com 0 san- ‘gue europe” (apud. CILC., 1949), ‘So meus votos a Em 1954, Tenente Coronel Menezes Cortes, membo do C.L.C. representan- te brasileiro na Comissio Mista de Imi- ‘gragzo Italiana, insistia: “Mais do que a Savor da imigragao, somos por seu in- ‘cremento em escata crescente ainda por nuitose nuitosanos <...> nda resta di vida que, ioje em dia, o potencial huma- 1 € fat exsencial no Poder das NagBes ‘que mais do que quanttaaivamente in flu seu valor quatitativo” (Cortes, 1954, p. 75). tum excedente de populagao, que fica disponivel para outras atividades. $8 a industriatizagdo poderd absorver esse excedente, proporcionando-the trabalho e novas oportunidades para horia de seu padrao de vida. O éxodo rurat serd um stoma de pro- agresso se tiver como causa real um due remto da produsividade da agrieultu- 10, paralelo a uma demanda corres- pondente de irabatho nas indistrias e servigos urbanos” (Kubitschek de Oli- veira, 1955, p. 125 — grifo nosso) Importante destacar a presenga, neste discurso, da idéia de que existiria um ex- cedente de populacao no interior do pré- prio pais, mobilizavel. Certamente esta idgia jd havia germinado durante 0 sub- petfodo do interregno, aque nos referimos za seo anterior; trata-se, porém, agora, de uma concepa0 muito mais consistente e orginica: a perspectiva que representava © pais como um imenso territ6rio vazio, cuja populacdo estava por ser constituida ¢ conformada, cede Iugar & imagem de tum pais, de um tervtério, em que coexisti- am espagos cheios — isto é, com exceden- tes demogréficos, espagos vatios (rema- nescentes) ¢ espagos em que cresciam as necessidades nao satisfeitas de mio-de- obra, Ora, as migragées intemas constitui- riam, neste novo pafs, o mecanismo natu- ral parao equacionamento harmonioso tan- to dos problemas das regives superpovoa- das quanto das tegives carentes de bra- ¢os. E assim como nos anos 40 se sonhava em trazer centenas de milhares de euro- peus para Sio Paulo, nos anos 50) se trata- ni de eriar as condigées para esvaziar 0 Nordeste de centenas de mithares de ser- tanejos, ¢, desta forma, amenizar a crise agriria—ou, dito de outra maneira, a pres- siio que estas multid6es exercem, cada vez, mais fortemente, sobre a estrutura latifun- discia, <...> de imediato a viabitidade de promover uma corrente imigratéria or ‘ganizada em diregdo ao interior rmaranhense € goiano ¢ a outras regi es da periferia do Peligono, onde ja exista ou esteja em construgdo uma infra-estrutura de estradas. O Gover- no terd como tarefa delimitar as regi- Ges onde conviria abrir uma frente de 789% Foto: Arquivo CEM imigragdo nordestina, indicar os tipos de unidade produtiva agropecuéria recomendavets <...>, estimar 05 cus- tos de translado e de instalagao dessa populacdo, indicar 0 tipo de assistén- cia técnica e financeira que deverd ser proporcionada é mesma, sugerir as cculsaras que devem ser fomentades, indicar aformade comercializagao re- comendédvel <...> 0 objetivo iiltino {que se tem em vista é transferir da re= ‘ido semi-drida algumas centenas de milhares de pessoas, criar nessa re- ido wma economia com menor poten- ‘cial demogréfico e mais elevado nivel de produtividade, ¢ deslocara frontei- ra agricola do Nordeste” (GID. 1959, p. 85 ~ grifo nosso), Nao seria exagero dizer que a SUDENE, em seu nascedouro foi também uma agéncia voltada para a gestio regio- nal de fluxos migratérios. E no primeiro Boletim Econémico da Superintendéncia, © Procurador Geral da Republica explicitava claramente 0 entendimento governamental de que esta gestio regio- nal de excedentes populacionais constituia mecanismo estratégico de controle politi- social “A crescente pressizo demogréfica que se constata no Nordeste tem suscitado problemas sociais € potiticos de suma gravidade que podem ser sintetizados nos seguintes fatos: a) clima geral de insatisfagao; 6) criagao de ressenti: ‘menios em relagéo as Greas mais de- senvotvidas do pats; ¢) aparecimento de associagdes camponesas com vise tas a resolver o problema imediato do acesso a terra” (apud. Oliveira, 1981, p. 114), Como se vé, a configuragio de exce- dentes populacionais a serem administra- dos através de uma politica regional é an- tes um fato politico que demogrifico: é a pressio dos camponeses sobre 0 latifiin- dio, oavango de sua organizagiio ¢ sua in- satisfacdo que recomendam politicas regi- onais. A transformacao da questio agréria tem questdo regional (e, como vimos, em questio migratéria, no Ambito da qual se enfrentaria 0 problema do “excedente de populacio”) foi claramente identificada por Medeiros: “Com odesenvolvimento das lutas o- ciais no campo, a questo comecou a tomar seus contornos mais caracterts- ticos, colocando em jogo o pacto pol- tico vigente. Nesse contexto, intensif caram-se os debates sobre a questo ao nivel das classes dominantes, num esforgo de responder nao mais em ter- ‘mos retdricos, mas sim concretamen- te, dincipiente estruturagao de novas resposias que poderiant romper radi- calmente com as relagdes de poder dominantes. A primeira respostaa esse {ato foi a eriagao da SUDENE. No fi nal do gaverno Kubitschek, a questo agréria era transformada na Questéo Nordeste. Buscava-se, assim, matiz- la regionalmente, criar condigdes para resolvé-la tecnicamente . O problema, que era de confronto de classes, aparecia como um desequilibrio regional” (Medeiros, 1982, p. 109)". estes termos, sejado pontode vista do projeto desenvolvimentista modernizador, seja do ponto de vista da preservagio do pacto hegem@nico, construido sobre a intocabilidade do latifindio, as migragdes internas apareciam antes como solueo do que como problema. A reforma agriria poderia ter modifi- ado 0 sentido e 0s rumas do processo his- tric? E bastante provavel que sim, mas ela foi derrotada, Com 0 golpe militar © sobretudo pds 64, com 0 (reJestabelecimento da pax agraria latifus- didria, 0 planejamento tegional vai ofere- cer osuporteestatal paraa passagem aum. territério nacional integrado, funcionalizado, submetido a uma centrali- zagao indiscutivel. As regides, e 0 Nordes- te, em particular, como observou Oliveira (1981), so abertas e integradas ... © a integraco nacional do mercado de traba- Iho esta longe de ser o aspecto menos im- portante do processo de integragaio nacio- nal, do qual a ditadura militar daré contri- buigdo decisiva, V. INTEGRAGAO NACIONAL E A ESTRATEGIA DA RACIONA- LIZACAO TERRITORIAL DOS FLUXOS MIGRATORIOS Se até'a metade do século XX a ques- tio migratéria, enquanto questio de esta- do, foi dominada pelo binémio raga-tra- balho, ela foi, também, desde sempre, um discurso sobre o territ6rio, Terras livres, territGrio vazio, estas e outras expresses permanentemente mantiveram nia pauta, ‘embora nem sempre e necessariamente no centro do debate, a condicdo americana da sociedade brasileira, Virios como, no perfodo da Marcha do Oeste, a mobilizagio “Travessia/ Janeiro Ar 00-28 do trabalhador nacional foi associada a uma retdrica de conquista do teritério. Pois €estetertitério que, nos anos 70, dei- xard de ser simples imagem retérica para se transformar, empiricamente, em escala © unidade da agdo do estado central - ¢ centralizador. Com efeito, no inicio dos anos 70, 0 padro de planejamento regional con rado pela SUDENE jé cumprira seu pa- pel. Aolado dapax agraria, imposta a fer- 10, fogo ¢ modernizagio subsidiada do capitalismo agricola o crescimento acele- rado da economia ¢ a integracio comerci- al, industrial e financeira (Guimaraes, 1986) jd baviam submetido o Nordeste eo conjunto das regides e economias regi nais & dindmica nacional da acumulagio comandada por Siio Paulo. A superagao do planejamento regional - — ¢, consequentemente, da estratégia de gestio regional dos excedentes — nao era sendo a expresstio da emergéncia de um novo es- ago econémicoe politico ede novascon- cepgoes de teritério € de ago estatal © novo perfodo que se abre sera ca- racterizado pelo planejamento territorial nacionalmenteintegrado. Ao invés de uma perspectiva em que, como a época da cria- ‘a0 da SUDENE, tinham predominado as, diferencase desequilfbrios regionais, agora vai emergir um olhar de eonjunto em que a nova totalidade (nacional) se impde as particularidades regionais. Este olhar de conjunto permitiré decompor analitica- mente o territério, para recompé-lo & funcionalizé-lo segundo umaracionalidade totalizante e, por que nao dizé-Lo, totalit ria. A politica de desenvolvimento regio- nal ésubstitufda pela politica de integragdo nacional, composta de infinitos programas € projetos, plos e regiGes que sistemati- camente enfatizam a necesséria subordi- nagio funcional da regio ao todo, ‘OI Plano Nacional de Desenvolvimen- to nao deixa dividas que “a estratégia de desenvolvimento regional consistird,espe- cialmemte, na politica de integragdo em sentido amplo” (Presidéncia da Rept ca, 1971, p. 25), razao pela qual a regio, como unidade de planejamento e gestio deve ser repelida “A Politica de Integragao Nacional <...> repele a limitagao regional, a curto e médio prazos, do processo eco- némico brasileiro” (Presidéncia da Repiilica, 1971, p. 27) E no Ambito, pois, de um movimento geral de centralizagio e racionalizagio tecnoeréticas que se deve pensar sentido © 0 Significado da criagio do Ministério do Interior, a quem seré atribuida a com peténcia pare atuar na drea de “radicagdo de populacses, acupagao do territério e migracées internas” (Decreto-lei n! 200, 1967) Certamente que a questao agriria¢nor- destina nio desapareceu totalmente doce- nitio, como o demonstram o proprio Pro- grama de Integraco Nacional/PIN, que se Propée a “integrar a estratégia de ocupe: {¢do econdmica da Amazonia e a estraté gia de desenvolvimento do Nordeste, rom- pendo wn quadro de solugdes limitadas para ambas as regides” (Presidéncia da Repiiblica, 1970, p. 28), ecujo slogan, lan- «gado por Garrastazv Médici, parecia eco- ar a retérica estadonavista: “Os homens sem terra do Nordeste para as terras sem omen da Amazénia’ Mas a questo urbana, sobretudo apés 2 publicacio dos resultados do censo de 1970, parece impor-se progressivamente: ‘macrocefalia urbana, necessidade de dis- {ribuir de mancira equilibradaa populagio no tertitério, desenvolvimento das cidades médias, eis 0s novos conceitos e ideais que se projetam no territério, agora reconfigurado como espago unificado & unitétio da valorizagao do capital ¢ da racionalidade técnica, Neste novo contex- to, tudo coneorre para a configuragio pro- gressiva de um projeto, em certa medida ut6pico, de racionalizagao territorial da populagio— ou, se se prefere, racionaliza- ‘so demogrifica do territério, Menos por seus efeitos concretos, & ‘mais pelos caminhos que tomoue concep- {g0es que consolidou, a trajetdria das pol ticas migratérias a0 longo dos anos 70 ‘merece registro, sobretudo porque ainda est por ser mais profundamente estuda- da Seria possivel identificar algumas ca- racteristicas que emergem do processo de celaboracdo que vai conduzir & aprovagio, «em 1980, do Programa Nacional de Apoio as Migraces Internas. Em primeito lugar, cabe destacar 0 consenso mais ou menos universal quanto a necessidade de ocupar as Sronteiras e reduzir os fluxos em dire- fo as Regides Metropolitanas, favorecen do a descentralizagio populacional que deveria acompanhar a descentralizagao das atividades econdmicas, Martine e Camargo chainaram a atengio para a falta de con cia das proposias e divengéncias so- bore a distribuigdo ideal da populagio, ¢ pera a “natureza quase intuitiva” de muitas das diretrizes, tais como, "descen tralizar interiorizar, desconcentrar, oct. par espacos vacios, ete” (Martine & Camargo, 1984, p. 133). O carater intuit ‘yo epouco fundamentado nfo impediu que os teenocratas de plantio, com a imodéstia, que Ihes € caracteristica, pretendessem “elaborar e manter atualizada uma estraté- sia global de distribuigdo espacial da po- pulagio, explicitando as alternativas de ‘ocupagao territorial e de remanejamento populacional” (MINTER, 1980, p. 13) Na verdade, 0 conjunto da politica mi- gratria, pensada sistematicamente como elemento componente de uma estratégia territorial abrangente, esteve permanente- mente confrontada a essa necessidade de formular a imagem de um espaco ideal desejado, para a consecugio do qual os fluxos migratérios deveriam ser reorientados. Martine, de modo perspi- az, assinalava adequadamente o proble- ‘ma quando escrevia sist ‘Julgando-se necessério, ou para re iros efeitos negativos da migragéo, ou para aumentar sua eficiéncia, redirecionar os fluxos, entao séo im. prescindiveis algumas diretrizes de que fuxos devem ser aumentados, diminu- ‘dos, redirigidas, estimulados ou des- viados. Isto é, para aplicar uma poli- tica de racionalizagao de investimen- os € populacdo sobre o territério, é necessdria uma idealizagio prévia de como deveria ser alocada a popula cao sobre o espaco a médio e longo prazos” (Martine, 1978, p. 32 ~ grifo nosso)" Cocrente com a _pretensdo racionalizadora, o Programa Nacional de Apoio as Migragdes Internas vai-se estraturar sobre dois sub-programas com- plementares: O SIMI e 0 SAMI. O SIMI — Sistema de Informagao so- bre Migracdes Intemas -pretendia im M~—Anos 70: iniasty cariter nacional de migragdes internas”, nacional 5103/1974 — Com Margo/1873 ~ MINTER prepara o Programa de Trabalho sobre Migragiies In Preliminar, “a serem impressas na condugdo dos esforgos requerides para a solugtio dos problemas subjacemtes a0 fendmeno migratsrio rajetéria do Programa Nacional de Apoio as Migragées Internas Portaria Interministerial n* 3345 cria comissiio mista MTPS-MINTER-SUDENE-SUDAM, a fim de examinar problemas concernentes & mio-de-obra ¢ migragées internas, 11/02/1972 Portaria MINTER ni 0001, consttui com jo MINTER/Ministério do Planejamento para cooperagio técnica na dtea de pesquisas de campo em migeagSes internas, ‘coma finalidade de oferecer os elementos indispensiveis& formulagde de uma politica migratéria nacional” 16/09/1974 — Portaria Interministevial n° 01299, ciando « Comissio Executiva Nacional de Migeagées Invemas (CENMIG). 1974 — Projeto Nacional de Ceniros de Triagem e Encaminhamento de Migrantes. Verso Preliminar, Junho/1975 — Primeira versao e discussto do documento "Sistema de [nformagées sobte Migrages Internas ~ SIMI” 18/06/1979 - Exposigio de Motives 1! 089/79 eria 0 Grupo de Trabalho sobre Migragdes Intemas, com representago do MINTER, SEPLAN © Minisérios da Agricultura, Fazenda, Trabalho, Indisiria ¢ Comércio, Sade e Previdéneia Socal 5103/1980 ~ Aprovagio do Programa Nacional de Apoio is Migragdes Internas Go para “analisar documentos elaborados pelo IPEA ¢ IBGE para uma pesquisa de nas, documento com plano de pesquisa e disetrz de carter plantar, nos principais trajetos e cru- zanientos migratérios, postos que per- Imitissem a agilizagito da coleta de in- formagdes sobre “diregio, dimensio, caracter(sticas ¢ consequencias dos flu- xos migratérios” a fim de fornecer “subsidios para a agiio do governo nes- sa drea” (MINTER, 1980, p. 2! Aqui a utopia racionalista e cotalit parece ter sido levada a extremos, posto {que o SIMI fundava-se na suposigdo de que seria possfvel, num pais complexo como a Brasil do anos 70 ¢ 80, nos niveis prevale- centes de organizagdo © cobertura territorial do aparato estatal brasileiro, implantar um sistema que: a) coletasse in- Formagoes de maneira sistemétiea ¢ per ‘manente; b) processasse e analisasse estas informacbes; c) repassasse dados e anéli- ses aesfera de tomada de decisdes; ) per mitisse a tomada de decisdes que condu- zissem & inducao, reorientago ou fomen- tode fluxos migrat6rios*, Texto datado de 1974 6 claro na definicdo do modelo ideal de politica migratéria a ser buscada “<...> poder-se-ia afirmar que ume politica migratdria bem sucedida se- ria aquela que conseguisse racionali- zar os movimentos populacionais de acordo com as diferencas espaciaisde oportunidades de trabalho, e que ca Pacitasse os migrantes para assumir os empregos disponiveis e que, porter 10, 05 fixasse no mercado de trabalho, Nesta dtica, os Centros de Migrantes assumiriam 0 papel de agentes de redistribuigao e capacitacdo de pop lagdo migrante de acordo com as ne- cessidades do mercado de trabalho (MINTER, 1974, p. 4 ~ grifo nosso). Extes Centros constituram a base do segundo sub-programa, 0 SAMI ~ Servi- G08 de Apoio aos Migrantes. Os Centros de Triagem © Encaminhamento de Migrantes ~CETREMIs deveriam ser im- plantadosem éreas de passagem e atracio, sendo algumas uniddades vinculadas a gran- {es projetos —Itaipu, Tucurut, Tubario, ete ~ ca portas de entradas em seas de fron- teita ~ Vilhena. No modelo projetado, os CETREMIs teriam dupla funcio: de um Jado, prestar assist. nites (al- bergue transitério, documentagao, ete); de outro lado, aplicar diretamente sobre as correntes migratérias, ou melhor, sobre os rmigrantes as diretrizes de reorientagao de fluxos e de redistribuigdo territorial de populagdo (por exemplo, recomendando eterminadas diregdes, oferecendo facili- dades de deslocamento para certos luga- res, etc). Assim, deveria caber 0 SAMI, aos CETREMIs como sua estrutura operativa: ‘proporcionar apoio e orientagéio ime- diata aos migrantes recém-chegados nos centros urbanos; proporcionar «apoio e mecanismos de subsistencia & populacdo potenciaimente migrante localizada em areas de expulsao dlemosrafica;reorientar os fluxes mis ‘gratérios, criando condigdes para que a mao-de-obra migramte renhe acesso @ oportunidades mais adequadas de emprego” (MINTER, 1980, . 5 ~ ari fonosso) Embora tenham ficado longe de atin giros objetivos pretendidos, praticamente Timitados as suas fungdes assistenciais, os (CETREMIS se multiplicaram enormemen- te:em 1979 estavam em funcionamento 3, no final de 1980¢ram 85¢ chegarama 112, por todo o pais, em 1984”. Seria muito dificil avaliar se e em que ‘medida as politicas terrtoriais, e migrat6- rias em particular, interferiram nos proces- 08 reais de circulaio e redistribuicdo es- pacial de populagies no periodo. Ainda hoje, entre economistas e planejadores re- sgionais, permanece a controvérsia quanto Reficdcia e consequéncies das politicas de desconcentragai industrial levadas a cabo ‘nos anos 70 e parte dos 80. Tampouco pa- rece simples medir que parcela dos fluxos para as fronteiras oeste e amazénica ape- nas deram continuidade a movimentos demogriticos jé tradicionais, que parcelas resultam dos investimentos rodovisiios, publicitétiose instnucionais que buscaram induzir migragSes nesta dirego. Do mes- —_- Ss Ta N- A Nova Geografia Regional do Estado Brasileiro nos Anos 70 A simples listagem dos programas plos que marcaram a politica territorial ds ditaduraé suficiente para demonstraro processo de fragmentagso a que foram submetidas as regioes tradicionais. Programa Especial do Vale do Sao Francisco, Programa de Desenvolvimento In rma de Pélos Agropecusrios e Agrominerais da Amazénia, P A Desenvolvimento do Pantanal, Programa Especial da Regio Geogconémica de Brasilia, Programa Especial de Apoio ao Desen- volvimento da Regio Semi-Arida do Nordeste, Programa de Recuperagio Socioeconémica do Nordeste do Parana, Programa Especial do Oeste do Parané, Programa de Desenvo vimento do Cerrado. Programa Especial da Regio da Grande Doutados, Programa Especial do Norte Fluminense. Programa Especial de Desenvolvimento Integrado da Bacia Aragusia-Tocantins, Pro. agrama de Desenvolvimento Regional integrado do Nordeste de Minas Gerais, Programa Especial de Desenvolvimento do Estado {do Mato Grosso do Sul, Programa Especial de Desenvolvimento do Estado do Mato Grosso, Programa de Desenvolvimento do ado do Litoral Sul de Santa Catarina, Progr sadas do Nonleste, Programa Especial de Noroeste do Brasil, Programa de Desenvolvimento Integrado do Nordeste de Minas Gerais, e muitos outros mais. ‘mo modo, quem seria capaz de estimar se © crescimento das cidades médias ¢ 0 artefecimento do crescimento metropoli- uno constituem efeitos das politicas ou simples afirmagdo de tendéncias auténo- ‘mas que se imporiam em quaisquer cir- cunstincias? Seja como for, niio ha diivida de que durante a ditadura militar, o Estado brasi- leiro perseverou e, mesmo, reforgou seu compromisso com uma politica migraté iaativae fortemente dirigista, centraliza- da, simultaneamente inspirada em, e inspiradora de, um projeto global de terri- {rio e de nagio. VI. FRAGMENTACAO. TERRITORIAL, VIOLENCIA E A ESTRATEGIA DA GESTAO. SOCIAL DOS MIGRANTES mente; de outro lado, foi reduzida a um conjunto de microlocalizagdes, onde se iam establecendo pos e grandes projetos de investimento, Assim, o terrtitério naci onalmente integrado era, paradoxalmente, ‘muito mais fragmentado que aquele que o antecedera, como o comprova a miriade de programas ¢ projetos e pélos microrregionais. Tratava-se, quase sempre, de capturar localizadamente recursos, cap. tara cujo formato tipico serdio Grande Pro- jeto de Investimento” Em alguns casos, os grandes projetos vio envolver importantes esforgos de ‘mobitizagiio de populagao: atrair mao-de- obra para a implantagdo do projeto, mas também, em muitos easos, promover a limpeza de terreno. Em Itaipu sto 42.000 pessoas deslo- ocadas compulsoriamen- mismo, que na nova eta que se anuncia, a populagdo excedentéria passa a. ser per- cebida como um verdadeiro abstéculo & va- lorizagio do territério, Nao se trata mais de levé-las ao trabalho e produtivizé-las; trata-se isso sim, de liberaro espago de uma Populagio que 0 ocupa improdutivamen- que 0 imobiliza ou bloqueia. De re- cursos hummanos a serem valorizados, a populagiio vai progressivamente se tans- formando em custo ... custo a ser contabilizado no orgamento do projet gue, ele sim, vai valorizar o terit6rio, © que se assiste na escala do grande rojeto de investimento & apenas a meti- fora do que comega a acontecer no con- © - “Pais Nao Tem Lugar Para Migrantes”” Com esta chamada de primeira piigina, o Jornal do Brasil Publicou matéria associando saques e migragées internas, ‘contribuindo, desta manera, para produzirsocialmentea per ‘cepgio de que a violencia na cidade pode, em alguna medi- da, seratibutda as migragSes eaos migrantes, Por outro lado, ‘a matéria sugere a falta de Iugarno pats para parcelas de sew préprio povo, te; no Vale da Sao Fran- cisco as barragens expul- sam mais de 100.000 #i- beirinos. Estamos, ago- ra, nos antipodas daque- Jas politicas que, desde 0 Império, passando pela Marcha para Oeste, mabi- lizavam populagdes para ‘ocupar 0 territério; agora, podemos dizer que se tra- ta de mobilizar popula Ges para desocupar 6 ter- rit6rio, Pode-se afirmar, sem qualquer retsrica ou eufe- (OU UM PAIS DE EMIGRACAO?) Como observamos na sesso anterior, ‘08 anos 70 foram também os anos da su= peragdo do modelo de planejamento regi ‘onal pela abordagem territorial nacional ‘mente integrada. Ao repelir as limitagbes regionais, 0 poder central, autoritério e centralizador, langava ao lixo da historia as velhas regies fechadas e insialava no- vos recortes territoriais, Pode-se dizer que a velha regio tradi- cional - ¢ com ela o velho planejamento regional - sofreu um ataque em pinga: de lum lado, a regido foi dissolvida no espago nacional, ao qual se integrou funcional: 28 Travessia/danairo-ABaIT00 “De iodos os pontos do pats esto partindo levas de bras: leiros, atvas de casa e trabalho, mas difcilmente eles sera bem recebidos em algun lugar <...> Até Rondénia, que jé {foi eldorado, gastou este ano Cr8 2 milhdes em passagens para devolver os retirames ds suas regides <..> O fantas ‘ma de abril de 1983 ~ quando a cidade viveu wn dos seus piaves momentos com sagues ¢ quebra-quebra ~ comeca a voltar <...> Durante o iltimo fin de semana, 36 na Zona Leste da cidade, seis supermercades forar saxqueados" (Jor nal do Brasil, 12/07/1987). —. . convém lembrar que os grandes ‘contingentes abservadas ents 1887 ¢ 1698 carrespenderam as faolidades de transports ofe- recidas aos imigrares e que o grande pico de 1891 Cainae exatamente com o aumento sensivel das verbas fegerais, ue passaram a reforpa a poll 18 de fnanciamento da Imigrapao qué © Estado de S40 Paulo vin tazzndo em prol de custo des wagons cos imigrantes” (Cores, 1984p. 18), ‘ApOs destacar que Neuve Um deseaseimo'a part ‘e 1897, qu tera sua expicagaona redugao drés- lica Gos subsidies, o aulor destaca que o "novo ico migratéro, entre 1908 @ 1914, cence exa- tamente cam o ressuginento de uma peiftiea de custeio de passagens” (Cortes, 1954, 9.19). 8 - Ente 1890 e 1894, Ingressaram no Brasil (60.735 imgranies. Sao Paulo recebeu 420.515 (70%), cos quals 382.655 (91%) wveram a imigra- (Ho subsidiada (Marrick & Granam, 1979, p. 125), 8 -Em 1921, projeto dos deputados Andrade Ge- zea 8 Cincnato Braga propunna,ertre outas oo 4586, 8 proii¢do da entrada de “hnaiveuos uma os cas racas do cor pret (Proeton® 291, de 28/ 7/1928), de modo a bloquear também 0 kigiesso de negibs do su! dos Estados Unidos @ das Anti ‘has. 10- Nelo século depois, 2 nal da Segunda Guer- a Mundial, a Republica dara provas da perma éncia das mesmes concepeoes: “Atenderse-d ra adinissto dos iigrantes, a necassidade de reservar e desenvolver, na composiao stni- (ca da populagso, as caracterisicas mais con venientas da sua ascendencia européla, assim cama. defesa do rabalhad nacional (Decteto- lein* 7.067, de 6108/1945 - gio nossa). A final dle uma guerra que hava lovado & deroia a Ale ‘manna hitloricia © cou mites racstas, nto deixa ie ser curproendanta eranqueza com que nossa, legisegao ovidoncia oracomo de noesa decanta ia democracia racial! 11 Lennaro, em seu excelente trabalho, expres S0u de mansia falizo paradox de um estaco que fala em noms de um pove que se prozoa a cans- tui °O Esiado que faz a Napa ¢ projetace como Seu anterior, capaz do resgatar @ Dreslisade @ onfmela"(Lenharo, 1885, p. 68). J8 no iniio do séeulo, Albano Torres, enfentando a questo _geopoltioa, haviasublnthado esta enipresenva 2, ‘em corto sentido, precedéncia do Estado em rola (80 A Sociedade: "Assim como tivemas govsrno nies de or povo ~ Tomé de Souza chegou antes ‘de qualquer residado domograica constant, as- sim camo surgi a chefla do Esiedo artes co quel (quer ergo da Estado <,.» assim fnarroe os lint 48s de nosso lortéio nacional antes do habitan- as para ole." (Tores, 1978, $3), A rteréncia @ Alberto Toros serve também pata destacar um limgortanieinspiader de muitas das ideias expo sadas a patie de 1990, inclusive através de uma speci ce clube pelticoe insletualiniulade So- sisdade dos Amigos de ‘Alberto Torres 142 Para.uma visto de coo. Junto das conceposes domi nantes no Estado Novo, ver também Nowa, 1949, 13- nttecual do dostagu Vianna foi referencia cone. tants na polémisa sobre imix ‘rapaa,, particularmenta ripdnica, © assimiacao que 2 iravou na Assamblia Corstiuints do 1932-1034, tendo sido também respon: sfvel pela claboragao do ante-projeto de lel da leis: laca imigratria pas-Cane- Ituins. Vianna eombateu aberamente a imigracso je pponesa, s2boargumento da inassimillabilidade dos ripoes. 14 » Sobre estos debates, vor Luizetio (1975) de quam divergimos quanco sugera ‘quo, a patr de 1920, o Es ‘ado brasieio teria abando- nado a perspectiva lmigrentista e assumigo @ eletiva defesa do trebalha- or nacional. Posio im lar & de Luizalto € defend ‘dapor varios autores que, @ ‘nosso ver, decxara-se infu enciar pela retdrica estadonovita eau por aspects paricuares de pala govenmena como per scope oa. Esmismo (por exp, Carer 163) 15 -As meas doctors ma tigroeas quando eo ingress do Bre 0 oes alado, dwar a Segunda Guora, singin, so Brtude ma no apenes sano aso Foneses, Netiel, deste pon devia {io douse ce Inguasestangotas om pitieoe a fampanha pla naconalzagio da escola come Iocan do moi da cla adore 16-Apnaaproposa para aiglatato, ene nis, do slstoma de quoi expeliaco ro rosso Torte-ameteano to! fa so aue parece, plo se putado rides Res, na boo de tna cape Glaramento acta #anbeiponca.O projet sos Ie deputco esabele a prabia ta mage nega resting anraca de etre das fanaa a "numero covespordente a 5% doe Givais desea argon extontes ropa (re. ten aot de aonoroes 17 - Um inst paitapr-ipic assim Sc mantesto sobre sistema "Ne apardnca Gs 0s pow do ang por esea restipio > E ovaonteo ar pata prob no Bas sence Ge nirartasjaponeses sabdo quo numero de ‘elon ftanos pores snes singe ‘econo a manes <> (co, 188 p10) 16 Ha astmatvas de qo hava no Disa Fede- 13, em fash mats Se 60.090 dsorrapats. 1A egopio engin qu 80% coe igen de cada nacnaidad,ebrgetarements Sa Sites, fssom lcazados no campo. 20- Ver tabi Azad, 186. 21 Realzada soba egie de Rcboto Simonse, srengncontsivl insta 9 co moss mais amp, da burgunela pala Confer do Toresdpols representa historicamente uma es pécie de manifesto das classes produtoras, as ‘uals, no momento da redemocratizacéo, unem. se em toro a um desenvolvimentismo industralizante, em que liberalismo @ Intervancionismo estalal se combinam de manel ra equlbrada, Prova da importéncia que ine ers atulda, a Poltic de ImigragSo fo tema dua das 10 sessbes da conforencia, para a qual sind- calos e confederapées patronals de todo © pais ppuderam submeterpropostas 22-Nomesmo sentido, vertambém Olvera, 1881 Camargo, 1981; Cohn, 1976, 23. Evocamos aqil a nogio de via americana de esenveluimenta do capitaismo, tal como ‘ortu Tada por Lenine, quo enfalizave, em seu estudo sobre os slads Unidos (1960), a ausércia de relagées foutais a possilidade do livre desen volvimento de uma producdo captalsta (armen ra agriullura. A opedo pela expressi0 condipao ‘americana — jrras lives -, a0 invés do us0 da ‘ogdolencista de via amencana dve-se 20 fate de que, ene nds, a ocupagdo co teiteio, a nfo ser em algunas franas ao su do pais (zoras co- long, fl feta sob a hegernonia do land 24-Em alguns momentos os documents oficiais parecem deirar escapar uma cera cansencia cr tiea da parte dos téenioos responsdveis por sua laboragds quanto & mati ttatria que subjez ‘20 planejamento centralista-autortario- tecrocsilice. A passagom seguite parece-nos reveladora: ‘Nao pretende 0 Governo contolag, ‘igidamente, mas coordenaro proceso de deslo- ‘camanto populacional. A opgio seria um proces: 20 de orlontagdo e de esclarecimento <..> a fre {e canigirceras aspectos respansivels pela ocr ‘pagdo pauce racional do teritério" (SERFHAU, 4974, p. 16). Tentagao raconalizadara e vecapo totaitrias fram, no eftanto,certamente, as c= racterstioas gerals do planejamento estaal neste Periodo,¢ das polticas migrataias em particular. 25-O modelo ideal destes posto era instalado fm Viera, entrada de Rondoria, por onde pas savam praticamente todos 08 que se ciriiam ‘Aqusa fonteira, permitndo, como numa sitagio de laoratélo, uma espécie de corpo a corpo com todas 08 migrantes, que eram obrigados a res- pondor aos questonatios SIM 26 - curioso como esta utopia totaltiria também steve presente entre o8 formuladoras de poit teas migratéias nos anes $0.14 9 Deereto 19,670 te 4102/1931 encarragara 0 Departamento Nacio- ral de Povoamerso da “organizacdo do Escrito Oficial da Informapéas 0 Colscagso de Trzbalha oras @ a manutangao de agénaas puicas nos pontas mais convenianias. Mas fal ¢ Oecreto-eh FF 5010, de 20108/1938, que consoidava » legis lagdo sobre entvada localizagao do estiange! £98, que velo detalhar 0 plano mirabolanie, que testabelaca caber ao Escitério Yazer um ooletim tlero de oferta © procure do méo-de-obra e ds temas piblcas” Este Escrtéro recaberia informs: bes das reparictes olcils do Estado, dos sina {aos de classe 6 oo paricuaresreferentes a oferta ® -condigses de trabalho local de destino, cond hes de vida, slic, pssibiidade de prosresso, Tppograla ecima, garantiascferecdas, bert como pedidos individuals para conratarcolonos ou tr balhadores divers, compra au arendemento 63 35, colocegdo de colonos ou tbalhadores as- saleriados, elo, Todo um sstema de cometores 63 terrae de trabalho deveria ser montado para dar cperacionaidade a0 Escrito. 27 - E verdade que nem todos esies novos can twos foram criados polo SAMI, jé que muitas inst- luigdes assistonclais pré-exisients filaramrse 20 Programa Nacional de Apoio as Migragbes Inter- has, de modo a concorrer aos recursos ‘dsponbitzados, Este € 0 caso, por axemplo, do ‘Albergue wloae XI, no lo de Janel, assim como da antiga Hospedatia dos Imigrantes, em ‘Sao Paulo (cf. Vainer, 1882), 28 - 0 Grande Projto pode ser um pélo minero ‘etalrgico, un péle agro-pecusri, uma hidrelé- ‘ica de grande porte, um porto. Ja vimos como mutes CETREMIs foram mplantados em assoc ‘¢80 deta com alguns destes grances projtos. 20 - Evidentemerte esta “improduvidada" & par- {te ¢o diagnostca dos estudes de viabildade dos srandes projeos, que pretendem damonstrar que fs populagoes presents na dea a ser apropri=~ {a nfo s8o produtvas .. ou s8o muito atrasadas, srgumento suciante para jusiicar sua expulsao, 90.- Como se sabe, a ocupacto da fronteira, no Centro-Oesta como na Amazénia, ocoreu 0b 9 predominio da grande propriedadelundiria, oque {aterminau, de maneita muito esta, tanto @ c= pacidade de absorcdo demogrdica desias exter S588 dreas como também aque confit funda ‘ue thes é caracteristico, Por euto lado, nao hia mo néa associar o chamado "esgotamento das ‘ronteras" ao ractudeseimenta dos confites ag ros nas zonas tradicionas de ocupaya0. ‘31 -Omedele do Comunidade Soicra, que egén- ‘as multiaoias, como 0 Banco Mundial, dun dem na América Latina, parece sero paradigma do acio social focalzagso sécioetoril, que, Tonge de pretender encontrar carsinnos para un enfreniamento dos mecanismas que produzem 3 rapracuzem a miséria 2 08 miseréves, proriza a criagéo de instrumentos aptos a geronciar Tocalzadamente siuagses consideradas critcas, REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ‘Azovedo, Vania Masia Ramos de (1985) Marcha para o Oeste: direito & propriedade e sujeiedo do trabalho. 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