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Maria Cecilia de Vilhena Moraes Silva TAT Aplicagdo e Interpretacdéo do Teste de Apercepcao Temiatica Dados de CatalogacBo na Publicagée (CIP) Internacional (Cémara Brasileira do Livro, SP. Brasi) Siva, Mi Coe de Vihens Macs ‘TAT: eplcno e nterpretacio do este de oparcap¢ ao tematic MerioCocto de Viera Moraes Sika. ~ Sin Pao. EPL 1980, ecology Bbiogata "SBN 05.12.64010-4 1 Apwicepeto iomitoo — Testes Tuo I Thala: Aponcdoe ‘nuurpretaeto vo ceste de apercepeo txatca. Mh. Si. ‘39.0827 on0.188.2844 Indices para sistemético: 1, Apercencto tamdtiea: Testes: Paceogia 166.784 2 TAT: Teste de apercoocan tamdtien"Patologis 156.2844 4.1, Andlise de Conteido 4.2, Andlise Formal 4.3. Andlise de Seqiéncia .. 5. Comsiderasdes finais S.L. A Elaboragdo da 5.2. TAT na Pritica Clinica ‘Anexo 1 — ‘*Folha de Sistematizazio” de Vica Shentoub .. Bibliogratin.. Este livro destina-se ao aluno de Psicologia que deseja entrar em conta- com um des instrumentos fundamentais para a investigagdo da perso” O Taste de Apereepgto Tmitica de Henry Murray Foi claborado de modo a possibilitar que 0 leitor va formulando suas hipéteses medida que amplia a interpretaydo de relatos reais, ‘a passo, além de procurar sistematizar as principais formas de se abor- ‘0 protocolo: aquela mais voltada para 0 contetido do relato, consistin- ‘na anélise mais tradicional, ¢ aqucla que enfatiza o como o sujeite rea- recentemente desenvolvido por Vica tais como a observagao lidica, a entrevista, a i ‘0 proprio discurso em situagdes de terapia. Isto porque em todos es- :portamento. ‘ou ni verbal. A utilizacao do material eliciado por pranchas pa- ‘sua integrag#o com os dados do comportamento do sujcito forma como este se desincumbe da tarefa proposta pelo teste, possibi- {do raciocinio clinica, subjacente as varias situaedes em que se prO- ‘compreender um individuo em niveis mais profundos. Vit 1x ‘Maria Cecilia de Vilhena Moraes Silva s1, As tGcnicas projetivas: entre as técnicas de que dispoe 0 psicélogo para a investigagio da sobressaem-se 08 métodos projetivos como aqueles que por ‘uma apreensio profunda de contetidos dos quais nem sempre “Acexpresséo “métodos projetivos” foi eriads por L-K. Frank, em 1939, designar um conjunto de instrumentos que procurava abordar o| @ naquilo que ele apresenta de - Enfatiza os aspectos quali- 0s e psicoldgicos, em oposigao i psicométrica, a qual visava ‘classificacdo com procedimentos basicamente quantitativos ¢ nor- os. A nogdio de “projesio””, ‘quando so fala de tecaicas projetivas, te sentido, a proposta por Laplanche-Pontalis (1974) es ece este conczito: ‘0 sujelto percebe o meio ambiente e responde a0 o em fungao de seus proprios interesses, atitudes, habitos, duradouros ou momentdineos, esperanigas, desejas etc." (p. 318). ‘palavras, o individuo estrutura ou interpreta a sua realidade Auma emits esta percepeiio Fr canifcatva dt d Balak (947) prope ote d ment ~ Deacordo com esta definicdo, a apreensio dos dados do mundo exter- teri sempre um componente subjetivo. A percepcao que tenho do ‘préprias caracteristicas. 105 objets do mundo eterno ¢o mundo interno terceira Papel onde escrevo estas linhas sera diferente daquela do papel em que de- mensais ou escrevo uma car- fe de amor. Modificam-se as. condigdes internas, ocontexto em que me di- ijo ao objeto. Entretanto, reconhego. ‘sempre a existéncia de uma folha de et ‘Se estou faminta e ando elas ruas da cidade, estarei mais atenta Possibilidades de saciar minha fome: placas de lanchonete, carrinhos decachorro-quente ou sorvetes facilmente captarao minha ateneio, Bree: tualmente posso até mesmo confundir a placa de um banco com. adeum : alsear’"a realidade, er ‘astlcamente uma possbilidade de gratticarao que, na verdade ete Pode-se dizer, entio, que existe um continuum no que tange & pecten: {40 aue iti, teoticamente, desde uma percepedo totalmente obyerra oc $cistoreto apercetiva exirema, que implicaria uma perda de otal com 1 APERCERGAO eroepsfio per de comtato “objetva”” “com a reallade. Normalmente percorremos uma certa amplitude deste conti acord com as demands exeras,o rau de defngto disp ic 80 estado fisico ¢ disposigdes do momento. Assim, por exemplo. em cera, dio de fadiga tendemos a ser mais subjetivos em nossas percepyoes, ene Suma tarefa de cunho intelectual, como frente a um teste de inteligéncia, Procuramos apreender adequadamente os dados da realidade extern “A. de inteligéncia (dctalha- 14 nas t€enicas projetivas, o que se procura & justamente favorecer maximo o apareimenio do uno imerno do texan E heehee tnlnimo de elementos externos, suficientes apenas para eliciar a resposta J eginitir uma avaliacto do contato com a realidade. Abt (qpud Anzieu, amo de fore que, sendo esruturado, sendlo pouco estruturado, predominardio os fatores 4qdASSM, oS esimalos que constituem 9 materia is tani ne, Tam ser pouco estruturados, o que impede que o sujeito se apdie em informagBes convencionais ¢ favorece o aparecimento dos fatorse mien now Isto se aplica tanta ao material em si (pranchas, palavras isoladas, materiais diversos) como as instrupdes, as quais propiciam a liberdade no 2 do material apresentado, evitando & inducdo ou direcionamento da sta (“complete a frase... ‘conte uma histéria..."", “com que isso ”", “desenhe uma pessoa...""). Segundo Anzieu (1978), deve- ‘contar ainda com o desconhecimento, por parte do sujeito, de como interpretadas as respostas, a fim de que este no venha a modificar, iente e sistematicamente, a essBncia de suas respostas ‘Teste de Apercepeao Tematica de Henry Murray (TAT) faz parte conjunto de técnicas. Através do uso de figuras que represeatam situagdes frente 4s quais 0 sujeito deve criar uma histéria (dai lum teste remdtico), procede-se & exploracio da personalidade do io. TAT — Hist6rico ¢ fundamentos teéricos TAT constitui-se hoje num dos principais instrumentos de que dis- © psicdlogo elinico para a investigagio da personalidade. Criado em por Morgan e Murray, teve sua forma definitiva publicada por seu em 1943, por ocasitio de sua segunda revisio. icamente, 0 teste consiste no uso de gravuras que representam ce- s diversas, com diferentes graus de estruturacio e realismo, a partir das otestando ¢solicitado a desenvolver um tema, narrar uma historia. spose deste material, opsic6logo teria condigées de identificar a. do individuo frente a diversas situagSes, seus temores, desejos, difi- idades, cnfim, a dindmica de sua peryonalidade, dia de que as produeées artisticas revelam a personalidade de quer odurin ¢ anterior a Freud. Leonardo da Vinci dizia que “‘a pessoa desenha ou pinta tende a cmprestar as figuras que esboca a sua pro- experiéncia corporal, se niio se proteger contra isso por longos anos rudo” (Kriss, apud Hammer, 1978). Em 1855, Burckhardt (apud An- 1978) analisou obras da Renascenga, procurando identificar a per- de seus autores. O proprio Freud cogitava desta possibilidade 1907 publicou uma andlise do romance Gradiva, de Jansen. Mas ciro precursor doTAT foi a provade Brittain, criada para inves- imaginacao, neste mesmo ano, j4 utilizando material figurative estimulo para a criagio de histérias (Anzieu, 1978), partiu do pressuposto de que diferentes individuos, frente a ‘mesma situagdo vital, experimenté-la-2o cada um a seu modo, de ‘com sua perspectiva pessoal. Esta forma pessoal de elaborar uma in revelaria « atitude e estrutura do individuo frente a realidade jentada. Assim, expondo-se o sujeito a uma série de situagtes so- tipicas ¢ possibilitando-Ihe a expressdo de sentimentos, imagens, idéias ibrancas vividos em cada uma destas confrontagdes, ter-tein acesso lade subjacente (Korchin, 1975). Assim, este procedimento le- 3 Varia 0 sujeito a “‘projetar"’, no: sentido geométrico do termo, o seu mun- do interno nas situagdes apresentadas. A Partir dai, Murray procedeu & escolha do material: reproducdes de situagées dramaticas selecionadas, de contornos imprecisos, impressio difusa € ‘tema inexplicito. Expasto a ‘este material, 0 individuo, sem perceber, identifica-se com uma persona- com total iberdade, comunica, através de‘uma historia completa, sua experigncia perceptive, mnémica, imaginativa cemo- sional. Desta forma, pode-se conhecer quas situagdes e relagdes suysrom a0 individuo temor, desejos, dificuldades, assim como as necessidades ¢ aera oe itais na dingmica subjacente de sua personalidacle (Mar. ray, 1951), ‘A condusao da interpretarao, de acordo com 0 autor, se faria a partir ia identificacio das necessidades ¢ presses percebidas pelo sujeito, con, prancha poss sr itl cada uma das figuras representando um aspecto do sujeito. psubindo as escadas (meninas) Fraeha. 10. tentversed) ‘ésemelhante & dos meninos. 0 abraco — segundo Murray (1943), a prancha evoca conflites do casal (universal) eatltude frente a separacao, Para Kron (1953) ¢ Vilhena M, Silva (1983), esta prancha favoreve a projegao de relagbes heterossexuais satisfatorias. O contetido tem-se mostrado mais rico quando hi distorgaio de sexo das figuras. Quando nao ha distorcao, ¢ freqiiente a ocorréncia de relatos sem 4 presenga de conflites (Vilheaa M. Silva, 1983). Prancha 11 — (universal) Paisagem primitiva de pedra — trata-se de estimulo de grande impacto, J que pode ser considerado um dos mais indefinidos de toda a série. A temética mais freqiiente refere-se a atitudes frente ao desconhecido, 10 perigo, a0 instintivo. A presenga de elementos primitivos e fantdsticos fa- vorece uma anélise simbélica, que revelaria a atitude do sujeito frente aos contetidos inconscientes. Por outro lado, pode levar a relatos descritivos mais distanciados (Vilhena M. Silva, 1983). Em casos de aplicagdes em 2sessdes, ndo se deve comerar pela prancha 11. E preferivel modificar-s¢ seqiiéncia ¢ apresenté-la em terceiro ou quarto lugar na 2 sesso, ou deixé-la como a titima da 1! aplicacio, 14 — os temas mais freqtientes referem-s¢ a0 autoquestio- iplagdo e aspiragao (Vilhena M. Silva, 1983). Se o homem entrando no quarto, pode haver conteridos sexuais. Tendén- também podem se revelar frente a este estimulo (Murray, 1943). ig —cvoca relagdo com a morte, culpa, castigo. Segundo Mur- morta representa alguém a quem o sujeito dirige sua ‘prementes do individuo ou seré reflexo da relagio transferencial 0 de teste (Murray, 1943), Is Prancha 17 — (masculina — feminina) Oacrobata — masculina — segundo Murray, no provoca nenhum tema significativo freqiente. As histGrias refletirdo mais situagdes em que o he- 161 €0 centro das atengdes. Podem estar associadas a desejos de reconhe- cimento, narcisismo, exibicionismo. Reasdes fremle a emergéncias também podem se revelar A ponte — feminina — evoca temas de frustragdo, depressio, suicidio (Murray, 1943). Prancha 18 — (masculine — feminina) Atacado por trés — masculina — trata-se da tinica prancha em que a figu- ra masculina, explicitamente, sofre uma agressio. A tematica referente ‘vicios ou maies fisicos também pode ser evocada. ‘Muther que estrangula — feminina —é a anica situarao em que a figura femininaé agente do comportamento agressivo. Abarca ainda as relagdes entre figuras femininas (Murray, 1943). Eventualmente 0 cunho agressive € transformado em ajuda, apoio. Prancha 19 — (universal) Cabana na neve — trata’se de estimulo desconcertantec que convida a fan- tasia. Contedidas referentes a necessidade de protesdo ¢ amparo frente a um ambiente indspito so os mais freauentes. Prancha 20 — (universal) ‘$6 sob a luz — traduz um clima de expectativa. Pode-se considerd-la co- mo 0 fecho do protocolo, indicando as principais afligdes ¢ perspectivas do sujeito. Neste sentido, ¢ importante que scja a ultima prancha a sec apresentada, Compreendendo a situacao ‘poder analisar ¢ interpretar o comportamento do individuo fren- {do TAT, faz-se necessirio, em primeiro lugar, compreen- -consiste a situacio de aplicagAo ¢ a tarefa solicitada ao sujeito. (1943), esquematicamente, assim resume 0 processo de elabo- resposta ao TAT: ‘a prancha dispara uma atividade percep- a em uma visualizagdo ativa (seletiva) do texto; este pro uM Processo ass fivo que evoca contetidos mnémicos de ex- ‘vividas € conhecimentos, (32) fantasias ¢ (4°) uma resposia Shentoub (1983), isto ndo chega a abranger toda a situacéo gio nem diferencia a resposta & prancha das associagdes livres, sonhos. Ela entende a aplicacio do TAT como uma situagdo mecanismos mentas expecifios esto envolvidos ae tarefa de se eriar uma fantasia a partir finde A ese conjunto de mecanismos mentas abu ono SSO TAT, o qual 56 pode ser compreencido levando-se em comuns ao material, instrugées € & postura do estes trés elementos que situam o sujeito frente A aplica- constata que todos propdem o contato com a fantasia, 40 mipo em que fixam os limites da realidade, é relativamente “‘objetivo’’, na medida em que apresenta: iveis, como 0 sexo cidade das personagens, algo seme- (que de Murstein, Trata-se do conteido manifesto, cuja apreen- basicamente © contato com a realidade do individuo, sua ” capacidade de ver © mundo como a maioria das pessoas v8. Revelaria o aspecto adaptativo da resposta, equivalente as respostas F+ do Rorschach, Este dado objetivo fixaria os limites da realidade — ‘imagine uma histé- ‘mas fasa-o a partir destes dados”. Por outro lado, as pranchas suge- Fem um conteiido latente, associado aos “conflitos universals™. Para en- ‘trax em contato com os mesmos, é necesséria uma regressio &s represen tagdes inconscientes, acompanhadas de afetos — “perceba estes dados, ‘mas erie algo @ partir deles"’. Estabelece-se assim uma sicuagio de confli. to, caracterizada pela oposicao entre o principio do prazer (subjacente 0 contato com os fantasmas originais) o principio da realidade (subja- ente & distinco entre 0 contedido latente evocado ¢ 0s «lados objetivos da prancha), A instrupie: a0 se solicitar ao sujeito que imagine uma historia sobre ‘prancha, faz-se, novamente, um apelo contraditério ao principio do prazee ¢ a0 da realidade. O individuo ¢ convidado a lancar mio do material in- consciente, cujas representagdes sii desorganizadas, nfo verbais (imagens), com tendéncia & descarga imediata ¢ 4 repeticio das experiéncias antigas satisfatérias ou insatisfatorias, altamente carregadas de afetos. Caracierizam.se assim os processos primérios, modo de funcionamento. das esirucuras inconscientes, necessArios para que o sujeito imagine uma historia. Entretanto, seu discurso cevera ser verbal, ldgico, coerente, na medida em que é solicitado a relatar a histéria ao aplicador. O material inconsciente devera, portanto, ser organizado, submetido aos processos secundérios, modo de funcionamento das estruluras conscientes. Como bem aponta Shentoub (1983), “...processos primarios e secundasios sao, igavo uuu mesino movimento: deixar-se levar, mas se controlando, de modo a transformar as representapdes de coisas em representagdes de pa- lavras; admitir as cargas afetivas, de modo a que o movimento regres as libere, mas domando-as para que possam ser captadas pelo pensamen. to” (p.119). Ocxaminador: © papel do examinador ¢ fundamental na aplicagio. qualquer técnica projetiva, e muitos aspectos referentes a sua influen ‘has respostas do sujeito ainda permanecem sem resposta, como ja apon- tou Masling (1965). Shentoub destaca a importincia da coeréncia da pos- tura do aplicador com toda a situagio de aplicagio do TAT. Para ela, 0 plicador ja tem sua representagio feita pelo sujeito, antes mesmo de ser percebido, Tal representagdo tem um caraiter maniqueista: o aplicador é imaginado como totalmente bom ou totalmente mau. A conduta do apli- cador deverd tracuzir a dualidade de seu papel: ao mesmo tempo em que Se apresenta neutro, sem perguntas, sem julgamentos, impde o material ‘eas insirucdes. Daf a importiincia de nio se fazer o inquérito, o que pode ser encarado como uma atitude de reprovacdo e insatisfac&o (no caso de Fepresentagio negativa), ou como uma atituce de apoio ¢ ajuda (no lum representacdo positiva). Como aponta Shentoub (1983), cle 10 o conjunto da situapdo, portadar da regra que incita o desejo ¢ 2" (p. 119). fica-se, assim, que todos os elementos fornecidos a0 sujeito dentro io de aplicagdo do TAT configuram uma situagdo de contlito, ‘observa a oposiciio entre principio do prazer eo da realidade; re- ado clo objeto € representacdo pela palavra; desejo defesa: ou ratives conscientes e imperativos inconscientes. O modo singu- ual o individuo lida com esta situacio permitira a generalizagio jer outra situagdo de conflito. E sob esta dtica que Shentoub 8 interpretastio dos protocolos do TAT. feito estas considerardes, podemos agora esquematizar 0 pro- slaboragio das respostas ao TAT: 0 Sujeito percebe 0 conteido manifesto das imagens, as instrugdes ¢ o conteiide latente desencadeiam a regressio e as re- ‘PresentagSes inconscicates, acompanhadas dos afeios a elas ligados, este complexo desorganizado de representagbes — afetos seri ou ‘no apreendido ao nivel consciente — pré-consciente, para ser sim- izado verbalmente, de acordo com as possibilidades de integra do e£0. Protocolo revelari o equilfbrio (ow nao) entre processos prima ‘esecundérios, os modos e possibilidades de relagio entre estes tes niveis de funcionamento mental (Shentoub, 1983). iT) Bases para a interpretacado -um protocolo 86 terd sentido se nfo se perder de vista ‘um todo, assim como 0s dados, de observacto. traballa- se com hipOteses, cuja confirmacao se dard a partir da coeréncia com es- ta organizasdo geral. Trata-se, assim, de um raciocinio helicoidal, onde cada nova apreensdo amplia, aprofunda e esclarece o funcionamento da- wndo. Esta io concentrada no sol que nilo percebe que es- ‘quele individuo em particular. © pensamento analitico é, desta forma, . (..) O cara também no percebcu, cla passa como sempre um auxitiar de uma abordagem holistica, global, esta sim, prioritaria. inguém percebe. Buscam-se padres de comportamento, a0 mesmo tempo em que se estd lento a mudancas destes padres. Podemos chamar este modo de apreen- sto dos dados de “‘raclocinio clinico”’. Basicamente ele consiste em ver isharrete, chega nesse lugar onde tem a escola, as criangas espe- &de manhi. (...) A mora gravida olhando 0 sol, nem percebew " segundos alm do manifesto, do ébvio, do literal, procurando captar a mensagem 3 minutos Subjacente a0 discurso, & narrativa, ao desenho, ao comportamento *O que tem aqui? observavel. jm, na interpretagdo de qualquer teste projetivo, o primeiro passo consiste em familiarizar-se com a totalidade das respostas do st caso do TAT, deve-se ler 0 pratocolo varias vezes, até que se con! ter as virias hist6rias, a ponto de a interpretacio prancha por prancha estar sempre vinculada a totalidade da produgdo. A fim de se desenvol- ver 0 raciocinio sintético, pode-se escrever a impressiio geral causada pe- Jo protocolo, a qual devera ser contraposta a interpretagiio posterior. Neste Primeiro momento, identifica-se a linha-mestra do protocolo, os dados ‘que saltam a vista, os padres que se repetem com maior freqiiéncia. A analise posterior esclarecerd as nuances e desvios destes padres, como se revelam ¢ outras possibilidades de atuacao do individuo, ‘Tomemos agora, como exemplo, uma seqiiéncia de trés pranchas, pa ra exercitar esta apreensto global. {...) Parece que-ela perdeu alguma coisa ¢ tava procurando pela -casa essa coisa que tava perdida e 0 que ela achou nao sabe 0 ‘que é. Sente-se cansada c senta para descansar. Antes cla esteve procurando na cozinha, pelo quarto, s6 faltava a sala ema sala fra o lugar que ela menos gosta de ficar. (...) Parece que iss0 ‘que cla achou incomoda muito a ela, traz. uma recordagiio que la ndo gosta, nao sei 0 que seja.’ histérias observa-se a insatisfacdo da personagem central. O tristeza, recordagdes de algo que foi perdido. © contato com € inevitavel (procura algo que quer ¢ encontra 0 que nfo quer 3), € preciso que algo externo ovorra para interromper este con- jque bate A porta na prancha 1), mas nem sempre aqueles que isso (prancha 2). As personagens ficam passivas, nao safdas por si mesmas. Caso 4 ‘que caracteriza este individuo, a partir desta pequena amostra Sujeito: sexo ferninino, , 64 insatisfacdo no plano afetivo, a senscdo de perda, dade: 33 anos iva de vir a scr gratificada neste plano, pois sente que os ou dio atencio. Prancha 1 também Verificar como ela entra em contato com seus con- icha 1, uma resposta nio-cliché, portanto mais pessoal, 0 ‘tristeza aparece de imediato, a hist6ria flui apés um tempo amédio. Na prancha 2 0 tempo ¢ mais curto, mas o relato apre- ppercebe-se que est mais diffcil contar a histéria. O relato forma descrtiva, a8 personagens identificadas pelas suas fun- trabalhador, gestante). Apenas no final o contetido emo- Isto indica o aumento das defesas, mas que acabam por ia do conflito. Ja na prancha 3.0 tempo de latencia TiL, — 20 segundos TT, — 2 minutos ‘Bom, é... 0 menino perdew a mic, que tocava violino, ¢ agora td olhando o violino, recordando a imagem da mae através do ‘iolne, Depois das alguém bate na porta pare chamar para brin- car e ele vai.” Prancha 2 ‘TL. — 10 segundos TT. — 4 minutos “A moga é uma professora ¢ té chegando para dar aula numa escola rural. © homem ta arando o campo ¢ a moga ti esperan- do um filho (...) A professora, depois de andar muitos quiléme- /sujeito frente & prancha, cujo conteido de tristezaé tao dbvio. ‘o relato ¢ truncado por pausas e por fim seu desagrado se ex- ‘9 mesmo padirdo da prancha 2, além de mostrar o dispén- ara a manutencio das defesas (detalhes indefinidos, atri- leansago a personagem). a Peroebe-se assim que esté se tornando penoso 0 confrontamento com seus contevidos mobilizados pelo Teste. ‘A disposicao inicial ea resposta esponténea ja no se abservamn nit se- ‘gunda e terceira pranchas, onde aumentam as pausas ¢ o relato se torna ais vago, inespecifico (prancha 3), Por esta rdpida discussso, podemos verificar 0s dois modos de se abor- dar a produgio do sujeito. ‘Um enfoca 0 que. sujeito contou, a trama montada, sua evoluiio, as reagées das personagens. Trata-se da anzilise de contenido. A outra abor- ‘dagem volta-r¢ a0 como o sujcito exiruturou seu relato, como desincumbiu- se da tarefa. Trata-se da andlise formal. Estas duas anélises podem ainda se complementadas ¢ enriquecidas pela andilise de seqiiéncla, que apreen- dea disposicdo do individuo de prancha para prancha, seu movimento de aproximagio ¢ distanciamento ao longo do protocolo. Consideremos, detalhadamente, cada uma destas abordagens. 4.1, Aniilise de conteddo. ‘Como vimos acima, a andlise de conteiido enfoca o tema levantado pe- lo individuo ¢ 0 mode como desenvolve o mesmo, Tal enfoque basea-se ‘na hipdtese de que o individuo identifica-se com uma (eventtialmente mais ‘de uma) personagem, atribuindo a esta suas proprias caracteristicas © ne- cessidades, além de configurar a situagdo ¢ demais personagens do modo ‘como configura sua percepsao do ambiente e relasiio com 0 mesmo. A.ex- ploracao do desenvolvimento dos temas possibilita, assim, a investigagdo da dindmica da pessonalidade do testando cm suas varias dimensdes: £o- mo se pereebe, suas principais necessidades e contlitos, como percebe 0 ambiente que 0 cerca, perspectivas de resolugio de suas dificuldaces. Deve-se ter em mente que os dados obtides através desta andlise referem- ‘se a0 modo pessoal como o individuo v8. si e aos outros. NAo é, necessa- riamente, um retrato da realidade objetiva, mas sim da subjetiva. Esta abordagem, a mais tradicional em termos de interpretasio do TAT, foi desenvolvida por Murray, Bellak, Tomkins, Stein, Henry e outros (Kor- chin, 1975). Para se proveder a interpretasao do conteido, pode-se usar uni esque ‘ma interpretativo que aurilia a decodificacio da mensagem, o acesso ao contetido latentea partir do manifesto. Talesquema, por um lado, auxilia a apreensdo dos dados mais significativo de cada hist6ria, mas pode pre- judicar a apreensio global por atomizar as respostas. Novamente, cabe recomendar a necessidade de se ter em mente, sempre, 0 protocolo como um todo, a fim de que no se perca o individuo real que se procura compreender. ESQUEMA DE INTERPRETACAO DA ANALISE DE CONTECDO: ‘Getiak, 1954) 1, TEMA: ‘A anilise do tema consiste em identificar a esséncia do relato, a mensa- ‘gem fundamental subjacenteao discurso. Apés a leitura exaustiva do pro- tocolo, a identificacio do tema costuma ser o primeiro passo da anilise prancha por prancha. Evencualmente pode-se sentir dificuldades nesta . Nestes casos, sugere-se que esta etapa seja a titima na inter~ pretacao do conteddo da prancha, favorecida entao pela andlise dos de~ mais elementos da histéria. “A investigagao do tema inicia-se por um resumo do contetido manifes- to, numa sintese da histéria propriamente dita (nivel deseritivo). “0 passo seguinte consiste em ampliar ou generalizar amensagem do re- Jato, nao mais.em termos do que éespecificamente demoustrado pela pran- ‘cha, mas sim jd se visualizando 0 contetido latente. Dito de outra forma, ‘asituagdo concreta proposta pela prancha deve ser considerada como um ‘exemplo de uma categoria mais ampla, « qual se procura, aqui, identfi- ‘ar. Tal nivel, chamado interpretativo, pode ser enunciado através da for- mula *“se...entao... ‘Uma vez identificado o nivel interpretativo, busca-seo nivel diagndsti- co; 0 conteido latente ¢0 modo como 0 individluo o elabora sao explicita- dos em termos psicoldgicos, com base num referencial tedrico, Pode-se ainda verificar o nivel simbdlico, 0 que implica num conheci- mento profundo da psicandlise. A prancha 11 eeventualmente at 16 seriam ‘as que mais favorecem este tipo de interpretagao. ‘Quando se faz a andlise do tema, o objetivo & chegar-se ao nivel diag- néstico, Ox niveis anteriores favorecem a aproximacko ao entendimento ‘da dindmica revelada pelo sujeito, ndo tendo, em si, qualquer valor maior. ‘Tomemos um exemplo para praticar a identificacao dos tr&s niveis iniciais. Caso — 5 ‘Sujeito: sexo masculine idade —: 26 anos Prancha 13 — HF T.L, — 30 segundos T.T, — 4 minutos ‘Um médico que foi chamaclo as pressas para tender uma moga que no estava pasando muito bem. Fez 0 possivel, deu tudo de ‘i, para que tentasse alguma coisa que fazesse (sic) que cla voltas- sea vida, Mas cla jé estava caminhando para aoutra vida. E com Co esforce que o médico teve, tentou de toda maneira possivel traze- 2s Jana nossa vida, mas ele chegou (...) ele (...) chegou do ¢ de todo esforgo que ele fez de nada adiantou. E com 0 esforgo que ele teve ele ficou pensando, analisando o que poderia ter feito para trazé- Ta na nossa vida.” ‘Nivel descritivo — Um médico é chamado para atender uma moga, mas ‘chega atrasado ¢ por mais que se esforce nao consegue salvé-la; fica pen- sando sobre o que poderia ter feito. ‘Mivel interpretarivo — A situagao, em termos mais gerais, éade alguém ‘que chamacdo para ausiliar, prestar socorro. Entretanto, niio consegue aten- der ao que Ihe &solicitado, fracassando. Procura refletir sobre o que ocorreu: ‘se sou chamado, atendo se preciso ajudar (ou realizar) nio consigo, fracasso se fracasso procuro rever 0 que fiz ‘Nivel diagndstico — Embora necessite realizar-se e corresponder iis ex- pectativas do ambiente, o sujeito sente-se incapaz de uma atuacao eficiente, Na andlise do tema, deve-se ainda verificar se se trata de uma historia cliché ou nio-cliehé. No exemplo acima, trata-se de historia ndo-cliché; norma indica como mais freqiientes os temas referentes as relagies hete- rossexuais ¢ & agressividade, mas o sujeito aborda o tema da realizacto, capacidade de atuacao, Podemos, nesse momento (¢ na auséncia do res- tante do protocolo) levantar as seguintes hipéteses: 19) ha conflitos na area do relacionamento heterossexual ¢/ou agressi- ‘idade que nio esto sendo elaborados devido & atuagio de mesanismos de defesa, 7°) preneupacan com a propria eficiencia ¢ realizacto é to premente {que se sobrepie a outras dreas da vida do individuo (Fieando 0 relaciona- mento heterossexual em segundo plano). ‘Aeelucidacto destas hipSteses 56 sera possivel através das evidéncias que surgirem ao longo do protocolo. 2, IDENTIFICAGAO DO HERO: ‘Oherdi é a personagem principal, aquela em toro da qual gira a tra- ma, aquela sob cujo ponto de vista a hist6ria é narrada. Em geral (mas no necessariamente)€ & sm que mais se aproxima do sujeito-em termos de sexo ¢ idade. E considerada a figura de identificagio, aquela nna qual 0 sujeito projeta suas préprias caracteristicas, reais ou ideais. ‘Assim, deve-se, neste momento, distinguir as caracteristicas do herdi, no 56 através da expressiio direta das mesmas pelo sujeito como também aquelas que transparecem através do desempenho do herdi na historia. "No exemple citado acima temos: heréi — adulto, sexo masculino, com formasio académica (médico), disponivel para o ambiente (atende a cha- ‘mado), esforcado (observe o mimeo de vezes que aparece & palayra “es- 26 forgo"”), ineficiente (a moca morre), reflexivo e autocritico (ele pensa so- bre 0 que fez © procura analisar). 3. NECESSIDADES DO HERO: ‘A identificagao das necessidades se faz através das declaragdes expiici- tas do sujeito (“,,.ele quer...”, ‘cla procura...”, ‘eles desejam..."), ow a partir do comportamento do herdi na histori "As necessidades expressariam. assim. aquilo que o individuo busca sa- tisfazer, o impulso bisico que determina suas ages. Continuando com © mesmo exemplo, temos: — necessidade dle corresponder fs demandas do ambiente (o herdi aten- de 20 chamado). — necessidaade de ser efieiente (0 herdi esforea-se em salvar a paciente). — necessidade de ser melhor, se questionar (o herdi reve seu procedi- mento, analisa). Deve'se considerar que muitas necessidades expressas no TAT podem pertencer estritamente ao dominio da fantasia. Varias eriticas referentes ‘a0 TAT questionam justamente esta relacdo entre o que é expresso no teste € 0 comportamento real do individuo, Novamente deve-se ter em vista 0 protocolo como um todo, verificando-se quais necessidades apa- recem com maior freqiigncia, sob que condigées. Deve-se estar atento ainda Aquelas que esto absolutamente ausentes, o que pode significar um con- trole consciente ou, ainda, repressaio. Dados de entrevista, de observagdo. demais evidéncias do protocolo devem formar um todo eoerente que norieard a decisio de quais necessidades realmente tendem a ser expres- sas no comportamento do individuo, quais cle nlio se permite perceber € quais sio gratificadas na fantasia. 4. FIGURAS, OBIETOS OU CIRCUNSTANCIAS INTRODUZIDAS: A introdugio de elementos ausentes na prancha pode indicar uma ne- ‘cessidade mais premente do individuo, principalmente se isio se dé com ‘uma certa freqiiéncia no protocolo, Se 0 sujeito introduz situacdes de alimentacéo pode-se pensar em ne~ ceessidade de gratificasio oral; se a figura da mae aparece mesmo quando iio hé personagens femininas, pode-se pensar em dependéncia. Parie-se do pressuposto de que tais introdusdcs extdo a servigo de uma nocessida- de, cuja identificagio deverd ser confirmada pelo restante da protocolo. © mesmo sujeito apresentou na prancha 2 0 seguinte relato: TLL, — 15 segundos T.T. — 5 minutos “Bom...aqui tem um homem, um camponés, trabalhando na la- 7 youra, Trabalhando ao lado de um cavalo que puxava um arado. ‘ko lado havia uma senhora, uma mulher observando o trabalho ‘do homem ¢ olhando, admirando a natureza... que o terreno da rogito ¢ todo scidentado. Entio ele concluiu que $6 coma ajuda do animal poderia fazer com que 0 trabalho fosse mais facil... Eeem primeiro plano aparese uma jovem com os livros, vindo ou vvoltando — veltando da escola, onde ela tinha aprendido ports- jguds, matemitica ¢ observava alguma coisa, Observava uma ou- tra paisagent. Tava muito pensativa... pensava em alguma coisa ‘que ela tinha aprendido na escola... ou as tarefas que ela tinha ‘que fazer em casa... algum problema que ela no conseguit re- Solver na classe e a professora falou que ela tentasse novamen- te... chegou em casae tentou resolver o problema que & professo- 1a tinha ajudado.”” (Observa-se nesta prancha a introdugio da figura da professora, como ‘elemento de orientasio ¢ ajuda. A servico de que ocorreria esta introdu- (Gao? Nota-se que as personagens slo estaticas ou precisam de ajuda para ‘empreender @ ago: 0 ‘animal que auxilia 0 camponés, a professora que ajuda ¢ orienta a aluna. Pode-se pensar, entao, na necessidade constante de se sentir auxiliado pelo ambiente. O relato da prancha 13 corrobora es- ta hipdtese: quando solicitado a agir por si, fracassa. 5. FIGURAS, OBJETOS E CIRCUNSTANCIAS OMITIDAS OU DISTORCIDAS: A omissio de elementos significativos da prancha pode ser interpreta- ‘da como a necessidade de ndo entrar em contato com comtedius a cles aa- sociados. A distoredo pode ter a mesma interpreta¢do ou ainda sugerir 2 Dpreddomindncia de outros impulsos que acabam por comprometer @ sensi- Jilidade & realidade objetiva. Tais hipdteses devem, logicamente, ser con- firmadas a partir de outras evidéncias. No caso 5, que estamos acompanhando, verificamos a omisséio de qual- quer alusio & sexualidade na prancha 13; da mesma forma, o conteldo agressivo é trans ‘eeficiéneia seja to premente que nto deixa espago para a. utros aspectos pessoais ov contamine outras reas de atuaclo, no cas0, © desempenho viril. 6. CONCEPGAO DO AMBIENTE: © modo como 0 sujeito configura o ambiente em seus relatos ¢ uma 8 ‘complexa mistura de autopetcepgao ¢ distorgdo aperceptiva de estimules, seamreio RAGS IED Condesa conn) eableelateia b contaniclges evolve o herdi, incluindo-se as demais personagens evocadas. No nosso ‘e450 Yemos que, na prancha 2, este ambiente € coafigurado como dificil, ‘que erige esfargn (0 que ocorre também na prancha 13), masque também ‘oferece apoio ¢ ajuda. 7, FIGURAS PERCEBIDAS COMO... REACAO DO HEROI Neste tOpico verificamos, mais detalhadamente, como o suicito peroebe ‘eserelaciona com outros individuos: pais, amigos, rivais, companhciros etc. Retomando nosso sujeito, verificamos que na prancha 2 nfo foram ex- plorados os vinculos familiares, Na prancha 13 a mulher mal ¢ percebida ‘enquanto tal, reduzindo-se & condigo de “‘paciente’. Na prancha 7 RH temos um relato onde aparece a figura paterna: T.L. — 10 segundos HLT. ~ $ min. 25 og ““Um pai ¢ um filbo. Estavam conversando, dialogando sobre... um beat que o filho havi passado c tava podindo 8 plait do pal. que le nao sabia resolver. E, como o pai tem um pouco mais de experiencia, no tipo de problema que o filho vai passar, tentava aconselhé-lo da me- Thor maneira possivel. E esse problema que o filho tava pasando era s0- ‘brea dificuldade que ele encontrava no trabalho dele, Ento...bom... com ‘acxperiéncia do pai cle mostrou o caminho que ele, o filho, poderia resol- ver... mais facil. 0 filo, mais preocupado e 6 pai... mais... calmo diante da situagao... indicando alguma solugdo.”” ‘Como 0 pai ¢ percebido? Como fonte de apoio ¢ orientagao. Como {lho reage? Acsitando, provaveimente. Verifica-se que a relago com a Firs pater sd ns mesmos molds que com o ambiente em ge como ja vimos acima, A esta.altura jd temos maior -afirmar Aue ai relagbes se dio de modo indifereciado, vokadas predominante- mente para a possbilidade de ober auxiio, seja de quem for. 8, CONFLITOS SIGNIFICATIVOS: ‘Os conilitos referem-se a desejos incompativeis e concomitantes, todos através das neceeidades do he, ou a impulsos que se opdem 50 superego (agressio, desejo sexual, impulsos anti-sociais de uma maneira gral) ou a0 ambiente. F interessante identificar nao s6 0 conflito em si, ‘como também as defesas que o individu ea utiliza contra a ansiedade por ‘Nosso sujeito apresenta, basicamente, o conflito entre o descjo de rea~ lizagio e 0 sentimento de incapacidade, ou seja, hi uma oposisaio entre ‘o que ele deseja ser ¢ 0 modo como sente que é. Que detesas utiliza na co. locagio deste conflito? Para responder « esta questo, temos agora que ‘muudar nosso referencial. Jd nao podemos falar do herdi, mas sim do su- Jeito, do modo como articula a trama de seu relato, Retomemos entio as pranchas que analisamos: ‘na prancha 2— 0 terreno € todo acidentado, por isso 0 camponés preci- sade auxtio docavalo —o sentimento de incapacidade ndo. ito evden. te. Ha uma justficativa légica para as dificuldades da personagem, emtifica-se a presenca da racionalizacao. — a aluna nio conseguiu realizar os problemas em classe, vai tentar de novo — as dificuldades tornam-se mais explicitas, 0 sujeito niio escla- rece s¢ 0 her6i vai conseguir ou no, 0 conflito ¢ mais evidente, Portanto, imho ha defesas significativas. ‘na prancha 7— 0 filho tem (ou ter’) problemas, mas uma pessoa expe- riente saberia resolvé-los — novamente as dificuldades tém um motivo: ‘2 inexperiéncia. © mecanismo da racionalizagio aparece outra vez. ‘na prancha 13 — quando o médico chega, ela jd esta passando para a ‘outra vida. Ble fica peasando sobre © que poderia ter feito — a racionali- za¢io é ulilizada (ja era tarde demais...), porém, sem muita eficiéncia, j4 ‘que hd um questionamento da atuagao do herdi, ao final do relato, 9, ANSIEDADE: Asansiedades referem-se a0 que esté por tris do conflito, aquilode que realmente sujetose defende, o motivo iltimo da configuracao doconflito. No nosso caso, o que incomoda o sujeito? O que cle gostaria de nio perceber, no tomar conscigncia? O que ele esta tentando preservar? ‘A resposia é clara: sua aulu-inugen. Deve} manter 0 amor proprio, nilo se sentir tio ineficiente e indbil frente As demandas da realidade. Por isso as justificativas, as situages em aberto. Tals defesas, entretanto, n&o sio muitocficientes, jd que o fracasso ea dependéncia de elementos exter- nos permeiam todo 0 protocolo. As ansiedades mais freqiientemente observadas so as relativas a: — Auto-imagem, prépria capacidade = sexualidade abandon, perda do objeto de amor, solidio depressdo, tristeza, desespero punigio, desaprovagio males ot danos fisicos privagto — destruigio, morte, loucura — impoténeia, passividade, submissio — agressividade, conteddos internos de um modo geral 30 ‘As defesas mais facilmente apreendidas no TAT sio: — racionatizardo —evidencis-se pelo uso de argumento lozico, que pode ncente ou nio, para justificar uma atitude do herdi ou uma agdo la, como vimos no exemplo acima. — negapdo — manifesta-se através da negacdo do contetido ansidgeno. inemplo: Pr. 3RH — ‘Ele nao esté triste, ndio, nfo poderia estar..." —anulogdo — revela-se pela substituigio da histéria por outra. Exemplo: Prancha 13 HF —““Ele matou sua mulher..., nfo, ele esta cansado, mas precisa ir trabathar. = isolamento — segundo Haworth (opud Montagns, 1988), apresenta-se sob a forma de uma atitade displicente do sujeito, auséncia de resposta ‘ou comentarios sobre a prancha, Pode ainda evidenciar-se pela auséncia de emogao no relato. Exemplo: Prancha 18 MF —"*...nio me diz nada... dduas mulheres, talvez, uma segurando a outa... $0.” — formacio reativa — em todo o protocolo, determinado contetido espe- rado apresenta-se sob a forma de seu oposto. Por exemplo, todas as pran- chas que sugerem agressividade apresentam contetidos de apoio, ajuda, — projecdio — determinados contetidos se apresentam apenas no compor- tamento das personagens secundérias e nao no do herdi. E freqiente a in- troduciio de personagens que sirvam de receptdculo a estes conteiidos, Exemplo: Prancha 13 HF — “.,.cle est desesperado... chegou em casa sua mulher estava morta... alguém a maton, um lado talvez...”” — repressio — ¢o mais eficiente dos mecanismos de defesa. Assim sendo, ‘manifesta-se justamente pela auséncia de qualquer referéncia ao conteddo ‘ansiégeno, a0 longo de todo o protocolo. Exemplo: auséncia ce qualquer ‘contetido referente & agressividade, sexualidade etc. — regresso — 0 comportameato do herdi ¢ inadequado & faixa etdria a fle atribuida on a pednrin disenrsa da sujeita encantra-se infantilizado. ito do sexo masculino, 27 anos: prancha 6 RH —“'...coita- ‘mami, eu nfo agiiento mais, assim néo di’... ‘calma, meu fillho, tudo vai dar certo”... ele esta tristinho, mesmo, 10, ADEQUAGAO DO SUPEREGO Analisamos aqui a relago entre a manifestagio do impulso e as conse- ‘qiiéncias desta manifestacao para 0 herdi. Verifica-se, em principio, se a “‘castigo" € proporcional ao “‘crime™. Um superego tigido levard a rela- tos em que o herdié punide de forma drastica e definitiva pelo menor des- lize. Um superego atuante leva a uma punigda compativel com a ofensa. 0 flexivel permite certs deslizes sem conseqiiéncias maiores ¢ 0 frdgil nio presenta qualquer punigo aos atos anti-sociais do herdi. O rigor do su- pperego pode evidenciar-se ainda pela propria censura que o sujeito utiliza frente a determinados conteidos. ‘Exempl prancha 6 RH —‘“Um filho se despedindo da vida... Agora que ela mais precisa dele... ele core — Rigido. — “Um rapaz que estd partind... ele deseja ir embora mas tem pena de deixar a mae 50... mas ¢ importante que parta... ele vai e pode, tam- bém, algum dia, sentir-se 56”. — Atuante, — “Ele arranjou um emprego em outra cidade e esth dando a noticia ara a mie, Os dois estdo sofrendo.... mas ¢ importante para ele, cuidar da propria vida. Ele vai embors’ — Flexivel. —"A mile estd pedindo para o filho nfo partir, pois ela esti doente. Mas cle niio ouve, jd se imagina bem longe dali, Vai se dar bem, fiear rico J, INTEGRAGAO DO EGO: Neste ponto, verificamos 0 quanto o sujeito estd consciente deseus con- tetidos e sua capacidade para elabord-los. Em termos gerais, considera-se ‘aqui a qualidade do relato, a riqueza das historias, a interferéncia da an- siedade, 0 uso ea cficiéncia das defesas ¢ 0s desenlaces das tramas criadas pelo sujeito. Como vemos, sio, basicamente dados de andlise formal, que serio vistos mais detalhadamense na abordagem de Vica Shentoub. A grosso modo, entretanto, podemos considerar: boa integracdo de ego: o individuo consegue manter um bom nivel de vocabuldrio de riqueza de contetido das histérias; hd um uso adequado de defesas, que nio impedem a emergéncia de aspectos mais pessoais; os esenlaces sao realistas, apresentando solucdes acequadas, Caso 6 Exemplo: sujeito: sexo masculino, 21 anos Proncha 7 RH T.L. — 35 segundos T.T. — 3 min, 30 segundos ee ee >, seu pa... Ele pareve um pouco reprimido, o pai dele parce: um pouco com idtias fixas do Futuro do filho, querendo tudo de bom para 0 filho, mas do modo dele, ¢ 0 filho parece desgostoso com a idéia do pai, queren- «do fugir de tudo isto, mas nfo sabendo exatamente por onde... Antes eles ‘eram um pai ¢ um filho muito amigos, ele até un pouco mimado pelo pai, tudo que o pai fazia cle gostava, aquilo que todo pai para o filho, aquele hetdi de sempre, o pai satisfazendo todos os seus gostos, tavam interliga- dos os gostos deles, tentando educar da forma que ele acha certo, 0 filho vai ereseendo, vendo © mundo como ele é, conhecendo novas pessoas, 2 idias, mas parece que o pai nfo esti muito disposto a compartilharasno- vas idéias do filho... Depois daqui, desta cena, parece que 0 filho ¢ o pai rnio vio mais ser 05 mesmos, ndo vai mais ter a afinidade de um tempo atrds, vai comegar a aparecer uma certa barreira entre eles, ele vai chegar alé a ter uma certa dificuldade em contar as coisas dele, no vio conseguir {er 0 didlogo que tinha, Bom, o filho 14 meio desapontado, vai ver que impossivel harmonizar a vida dele com as idéias do pai. E 0 pai, talvez pela idade, por ter acostumado tanto com aqucla crianga, o filho dele que viva to submisso a seus gostos, ni estd se preocupando com isso, achando ‘que € uma bobeira que nao vai levar a nada.” ‘Observa-se, neste C480, que 0 sujeito teve um tempo de latneia alto, mas seu relato flui em seguida. A problemstica é colocada claramente, © ‘que indica que nllo ha uso excessivo de defesas sendo a ansiedade contro lada. Otestando demonstra que estd elaborando a questi de seu proprio crescimento, de sua afirmacdo enquanto individuo. Embora 0 desenlace cesteja em aberto, indicando que o conffito nao esta resolvido, o caminho para a solugao esta jd insinuado, O contetilo é rico e a historia relativa- ‘mente estruturada, Pode-se, entao, dizer queha uma boa iniegragdo de ego, Razodvel integrapdo de ego: manifesta-se em individuos que permitem ‘co aparecimento do conflito, mas sem que haja uma claboragio, quer pelo ‘aumento das defesas, quer pela superficialidade com que lida com a pro- Blemitica (desenlaces irreais fantasticos ou dependentes de elementos externos), ‘0 caso que acompanhamos ao longo dos itens anteriores (caso 5) de- ‘monstra esta titima possibilidade. Suas defesas nio so eficientes a ponto ‘de impedir a emergéncia do conflito. Entretanto, a consciéneia de suas di- ficuldades nao leva o testandeva busca de solucdes. Ao contrario, justifica ‘sua passividadee dependéncia do ambiente; nao hi perspectivas para uma saida de crescimento ¢ atuagao. (O seguinte relato indica a auséncia de elaboragao pelo aumento das defesas: Caso —7 Sujeito: sexo masculino, 32 anos Prancha 5: “Bem, essa é uma mulher que ouviu um barulho na sala, Ela cstava sozinha em casa...e... bem, ficou muitoassustada, apar- valhada mesmo... perplexa. Poderia ser uim ladrdo... alguém ‘que entrasse na sala sem permissio... entio ela vai ver, na sa- la... eencontra... ahn... a luz acesa... era s6 a luz acesa, que devia ter estalado, coisa assim." Peroebe-se que 0 sujeito choga a explorar a tematica do medo, da inva- ‘do, do inesperado, Entretanto a historia se empobreve, 0 contedido se es- vazia, retornando ao trivial, A temitica que gerava ansiedade foi assim afastada, inviabilizando a elaboracio. 3 Fraca integracio de ego: nestes casos, a emergéncia do conflito ¢ impe- dda através do uso intenso de mecanismos de defesa. O relato, em geral, é pobre ¢ descritivo, ou hesitante e contraditério. © individuo reluta em entrar em contato consigo mesmo. ‘Omesmo sujeito que deu a resposta a prancha S (caso 7), demonstran- do razodvel integragao, deu a seguinte resposte & prancha 13 HF: “Bem, ‘aqui, nfo, nfo pode ser, ela nao estaria largada assim... espera um pouco, <ééum tempo... ento 0 que... bem, o cara estudow a noite toda, vooe pode Obdservass a ignorat totalmente a figura ferninina, O relato se em- pobrece, a histbria torna-se trivial. HA ainda uma quarta possibilidade, que seria a da desestruturagao do ‘ego. Nestes casas, hd uma invasdo dos contevidos inconscientes, sem qual- quer possibilidade de defesa. © contato com a realidade fica comprometi- do co relato tem pouca ou nenhuma relagao com 0 estimulo. Caso — 8 ‘Exemplo: sujeito: sexo masculino, 43 anos Prancha 9 RH — ‘Cena diabolica. Homens desaudos, sexualidade agres- . Felapdes desgastantes; Um ‘O nivel de integragto de ego pode variar de prancha para prancha, de- pendendo da disponibilidade que o testando tem em relacaoa érea mobili- ‘ada pela estimulo, Navamente a apreensdo do protocolo como um todo dard a configuragio geral de como 0 individuo lida ou pode lidar com sua problematica. A andlise formal e a analise de seqiiéncia forneserdo os ele- ‘mentos que esclarecerdo 0 modo de funcionamento caracteristico de cada sujeito, 4.2 Anilise formal Jivimos que a situagiio de aplicagto do TAT configura-se, basicamen- te, como uma situacio de conifito: para conseguir criar uma histéria, © sujeito deve entrar em contato com seus contetidos internos, langar mio. das representasées inconscientes, cujomodo de funcionamento & 0 de pro- ‘cessos primérios (desorganizados, nao verbais, tendendo a uma descarga imediata, egidos pelo principio do prazer). Ao mesmo tempo, precisatrans- formar este material para atender 4s nstrugdes, ou seja, necessita organiza- oem termos verbais, com uma Iogica e seqiéacia que permitam a comu- nicago com o aplicador, além de manter a relagao do contetido do discur- ‘60 com 0 estimulo apresentado (0 que seria o modo de funcionamento dos ‘processos secundérios, regidos pelo principio da realidade.). Segundo Shentoub, a tarefu de ligacio entre os sistemas do aparelho paiquico deve ser abordada do ponto de vista econdmico, ou: ‘mos de quantidade de energia investida em um ou outro sistema. Quanto mais predominam os processos primdrios, mais comprometidos estario 08 sccundirios, havendo uma perturbagio na apreens%o da realidade € nha qualidade da elaboragao consciente. As historias se mostrardo desor- ‘ganizadas, a percepgio podera estar distorcida, ¢ isto repeeseatard um fra- ‘casso na integragio entre 05 dois sistemas. Fracasso serd também o pre- dominio dos processos secundarios sobre os primérios, conduzindo a re- latos impessoais, cotalmente determinades pelos est{mulos, “...confina- dos ao mundo comum da razio"” (Shentoub, 1987 p. 119). (0 sucesso na integracio dos dois sistemas exclui o predominio de um sobre 0 outro, indicando equilfbrio que transparece por tris de relatos bbem-cstruturados, mas nem por isso carentes de um colorido pessoal. O individuo é capaz de mergulhar em si mesmo ¢ retornar com o material organizado. Como bem assinala Shentoub, esta viagem para dentro de si pode causar uma perturbago passageira, mas a capacidade de reorga- nizacho indica a permeabilidade das estruturas psiquicas ¢ possibilidade ‘de manie-las sob controle. Esta autora compara ainda o PROCESSO TAT ‘ao pracesso criativo, no sentido de que ambos permitem uma “‘regres- io’, devidamente protegida pelos mecanismos de defesa, ¢ 0 retorno com as imagens simbolizadas através da linguagem. ‘A andlise formal, ou seja, 0 modo peculiar pelo qual o individuo se desincumbe da tarefa proposta, indicaria justamente este movimento en- tre 0s dois sistemas, as possibilidades de se aproximar ¢ se afastar das re- presentagdes fantasmiticas 4 medida em que o teste vai se desenrolando, Sem deixar de atender as cemandas da realidude. Verifiquemos ento os elementos basicos a considerar nesta aborda- ‘gem, refletindo ji sobre seu significado, para depois agrupé-los confor- ‘me identifiquem, mais claramente, o predominio de um ou outro sistema, DADOS A CONSIDERAR NA ANALISE FORMAL 1. Otempo ‘Uma vez defrontado com 0 estimulo, 0 sujeito apresentard uma rea ‘go emocional. Simultaneamente, deverd estruturar uma histéria ¢ pet- mitir que.a fantasia d? movimento a situacao estitica que Ihe ¢ apresenta- da. © controle do tempo permitiré ao aplicador investigar a intensidade deste impacto ¢ a capacidade de retomada de dominio sobre a situag&o, Ievando em conta, naturalmente, a qualidade do relaio posterior. '* tempo de latéacia inicial: intervalo decorrido entre a apresentacdo do estimulo ¢ a primeira verbalizagio do sujeito, seja ela qual for. ‘Segundo Shentoub, a média se situa entre 5 ¢ 25 segundos; é interessante 35 {que se calcule a média do individuo, para identificar-se um ritmo particu- Jar, caso nao haja grandes discrepancias ao longo do protocolo. Em prin- cipio, podemos considerar as seguintes possibilidades: '* tempo de laténcia eurto — indica que o sujeito se lanca na situacao. Se a historia ¢ bem-estruturada, @ individuo demonstra, assim, vivacida- de, capacidade de se adaptar rapidamente as situagSes. Entretanto, se 0 relato é confuso, a indiear que o testando no conseguiu articuld-lo antes de se propor a falar, temos um sinal deimpulsividade ou ainda, segundo Shentoub, de uma ansiedade perturbadora acompanhada de perda de dis- tincia Se o relato inicia-se confuso, passando depois a mostrar-se mais, estruturado, podemos pensar numa impulsividade inicial com capacida- de posterior de adaptacio. * tempo de laténcia longo — 0 individuo se contém. Se 0 relat mostra- se tem articulado, temos um sinal de que 0 sujeito consegue dominar a ansiedade e manter uma distiincia construtiva. Seo relato é truncado, cheio de pausas e hesitagées, niio ha controle adequado sobre a ansiedade, hia- vendo presenca de inibigo ow aumento das defesas. — pausas: interrupg8es significativas durante a narragdo, Segundo Shen- toub é um indice de retracao; tanto pode indicar um freio necessdirio & ‘ousadia do sujeito como um reforyo das defesas. A verbalizago poste~ rrior & pausa esclarecers seu significado: a pausa seguida de uma melhora no discurso indica que 0 individuo esta selecionando e refletindo sobre sua produgao; indica um dominio eficaz da ansicdade, uma retomada de ‘controle sobre a situag&o; entretanto, se nio se observa qualquer progtesso fem termos da qualidade da nacrativa, ocorrendo outras pausas ¢ hesita~ Yor, Icrciius que vousiderar entdo o reforgo de defeoas, « dificuldade fem manter 0 controle sobre a ansiedade ou ainda, tragas de carder hesitante. — tempo total: intervalo decorrido entre a apresentagdo da prancha ¢ © término do relato espontineo do individuo (exclui-se, portanto, a fase de inquérito). fo indice do ritmo individual e 56 tera sentido se examinado ‘em fungdo da extensio da historia. Pacientes orgiinicos tendem a ser mais Ientos. 2, Comporiamentos De acordo com Shentoub (1958), referem-se a manifestagdes observa- ‘eis da ansicdade subjacente ao impacto provocado pela prancha, além de demonstrar modos particulares de se procurar neutralizi-1a. — exclamagdes e comentarios; expresses verbais referentes ao estimulo ‘ou que tradiuzem estacos emocionais do sujeito. Exemplo: “Que horror! “0 que ¢ isso?’"; “Isto nio me diz nada!" etc. ‘Trata-se de expressdes espontineas que, como tais, reflctem impulsivi- dade e labilidade emocional. O individuo perde a distincia em relacdo a0 estimulo, deixa-se levar por ele. 36 — Digressdio: segundo Shentoub (1958), sdo as observagdes nilo pert rnentestsituagao do teste, Como exemplo icriamosquaisquer coment sobre o calor, barulho, ou conversas paralelas (''Vocé viu o programa na ‘TV ontem?"”, "Sua roupa é bonita, onde voce comprou?” etc.) “Tais verbalizagoes indicam 0 desejo do sujeito de sair da situacio, de aliviar aansiedade provocada pele aplicagio ou pelo estimulo apresentado. — Necessidlade de aprovacio: (oda verbalizacao que implique atenc&o, orientacao ou apoio do aplicador ('“E assim que é para fazer?” “Mais, alguma coisa”, “Essa voc® gostou, hein?"”) Indica uma emocionalidade labil ¢ também a presenca de ansiedade.O sujeito procura resgatar sua seguranca através da aprovacto por parte do aplicador. — Ansiedade manifesta: “Toda manifestazio exterior de temor, mal- ‘estar (expressdes verbais, gestuais, mimicas, vasomocoras, posturais), (Shentoub, 1958) Trata-se de verificar frente a qual tematica tais manifes- ‘tages ocorrem ¢ sua interferéncia na narrativa, © comprometimento do discurso devido a presenca da ansiedade indica fracasso no uso das defe- sas, Um relato impecdvel associado & manifestacao da ansiedade seria in- dicio, segundo Shentoub, de uma estruturagaio mais caracterolégica. Se a ansiedade ¢ excessiva, é natural que 0 discurso sofra algum tipo de perturbagao. — Observacdes criticas: toda verbalizagaio que implica uma desvalori- zagio do material do teste, da situagio, do prdprio aplicador, ou, ainda, das personagens. Trata-sedeindicio de agressividade, em fungio do aumento daansieda- de. O sujeito nfio consegue adaptar-se a situagio, o que resulta em hostilidade. Exemplos: Prancha 16: “Opa, essa ¢ bonita! Hisiéria sem fim, Depois de vir caistio, um cara sendo operado, criancinha sentadinha, agora uma folha em branco. Vooé também ¢ sapeca, hein?...” ‘Aqui o sujeito comega com um elogio, mas em seguida critica as pran- chas anteriores ¢, delicadamente, a aplicadora. Nao se trata de um indivi- duo agressivo, mas por ter se envolvido muito com a aplicacio, permitiu- se uma descarga de agressividade na prancha em branco, apds 0 que pros- seguiu com um relato bem-estruturado nas pranchas subsequentes. Bem diferente & 6 caso que se segue: Prancha 17 RH: “Ti dodo, voot sé mostracoisa esquisita, isto nflo écara ‘que se apresente, no dé nem pra ver se & gente, fantasma, O que é. 1a, alma de defunto. Morreu e td indo pro céu ou descendo pro inferno...” Por jd estar no final, cansado, 0 sujeito atacao teste que tanto o mobili- zou. A descarga nfo o ajudou a dominar a snsiedade. —Cinismos reflete umacarga de agressividade associada a certo afasta- ‘mento, indicando assim @ presenga mais identificada nas verbalizagdes desdenhosas cm relagdo a situaso ou ao material, prancha 12 MF: “‘Bonitinha a mocinha aqui de trés. A da frente vai usar ‘© mesmo creminho pra ficar com a pele lisinks assim... lindinha...” ‘Através da ironia o sujeito conscguit evitar @ contato com os conflitos cliciados pelo estimulo, — Recusa: o sujeito recuss-se @ contar uma histéria, rejeitando a prancha, Segundo Shentoub, pode revelar uma intensa agressividade, rompen- do seu compromisso com as instrugdes ¢ com o aplicador. Pode também testemunhar um bloqueio, situasio em que o sujeito realmente ndio con- segue elaborar a hisi6ria. ‘Exemplo: Prancha 9 MF: *“Pode nao ter idéia? Eu nfo tenho ideia... Pode fala‘? Pode? Nao tem importincia? Elas esto, acho, fuginde de alguma coisa... nfo sei mais o que falar.” ‘Evidentemente trata-se de bloqueio. O nivel de ansiedade ¢ altissimo, ‘© por mais que @ sujcito tente nfo consegue desenvolver nenhum tema. Prancha 3 RH: “Um cara desesperado. Pode ver o que quiser? Entio no vejo nada, & $0 i880 Neste exemplo, 0 sujeito praticamente langa um desafio 4 aplicadora. “Apesar de ter dado hist6rias relativamente ricas as pranchas 1 ¢ 2, par- tir deste momento limitou-se a relatos de uma frase, rejeitando pratica- mente todos os estimulos. Trata-se, no caso, de manifestacdo de intensa agressividade e total ruptura de compromisso com 0 aplicador. 3. Blenentos ee linguagem (Os elementos de linguagem constituem fonte riquissima de dados, niio ‘86 de natureze intelectual, como também da dinfimtica e estrutura da per- sonalidade do individuo. A presenca de atos falhos, a escolha de determi- nado vocibulo ou certo tempo de verbo, podem nos dat informagbes s0- brea natureza do conflito evocado ou a alitude do individuo frente aque- le estimulo em particular ou mesmo em relacdo & figura do aplicador. ‘Vejamos alguns aspectos que podem ser considerados, conforme le- vantados por Shentoub (1958). — Estilo falho ou frustrado — expresso verbal pobre, vocabuildrio pobre ou inadequado, ‘A presenga de tim vocabuliirio restrito pode ser indice de retardo inte- Jectual ou de poucas oportunidades educacionais em fungdo de um nivel socio-ccondmico baixo. Entretanto, muitas vezes, a historia de vida do sujeito nos leva a afastar a possibilidade de um rebaixamento intelectual. NNestes casos pensa-se entdio numa problemética emocional que esteja com prometendo producto do individuo. 'No caso de problematica emocional, observa-se que no hé uma Tinea 38 ridade ou homogeneidade da produgdo. Eventualmente ha o emprego de {ermos que implicam uma maior diferenciasdo, ov a queda na produgiio apenas momentinea. Tais casos podem implicar organicidade, proble- ‘mas de origem psicossomatica, ou, ainda, situacdes em que a ansi se torna incontrolivel, perturbando a produgo imediata do sujcito. © sujeito que acompanhamos ao longo da anilise de conteiido (caso 5) deu a segiinte resposta a prancha 1: “Como narrar? contar uma hist6ria? um garoto observa um violino. Bele té observando esse violino. Ele... observa o formato tem (sic) quan- tas cordas tem e td pensando se ja ouviu esse instrumento, se é facil de aprender a tocar, de manejé-lo, como cle podcria usiclo. Pensa com quem cle poderin aprender. E se ele terd vocagiio para esse instrumento, que fis vezes uns gostam, outros nao gostam. Depois ele viu — aqui tem a ‘vara e ele viu que poderia tocar simplesmente com os dedos. Depois ob- servou que tinha a vareta, 0 serrote e saia sons diferentes de cada corda. Aj com a... vareta, e vendo com a posigilo que coloca no queixo — por- ‘que cle tina visto alguém usar do violino — porque ele sabia que era um violino — comesou a manejar, tocar. Até que depois ele parou e fi- cou observando novamente como essas cordas produzem esses sons — a corda com o serrote. E ficou observando, ‘Como vimos pelas outras tespostas desse sujeito, a prancha 1, que nor- ‘malmente nao € ameagadora, mobiliza justamente uma drea de intensos conflitos deste individuo: a capacidade de realizagio. B de se esperar, en- to, que sua ansiedade aumente frente a essa temitica, o que pode ser ‘observado pela irregularidade na qualidade de sua verbalizagio. Eaquanto fala do herdi e oa apronimagdo ao instrumento hd falhas de construcio dla frase ¢ uso inadequado de termos para se referir ao arco (vara, varcta, — que so accitavels — ¢ até serrote!), Ao se referir a experigncias ante- riores ou pardmetros externos, o vocabulirio melhora sensivelmente, de- caindo novamente ao referir-se a0 manejo do instramento. Dados com- plementates afastam a hipétese de problematica intelectual, reforgando 105 confflitos afetivos (obteve QI médio no WAIS e é formado em concei- twada universidade), — Estilo rebuseado: refore-se b afetagio ov pedantismo nas verbaliza- ‘gbes, sendo 0 exemplo mais patente o uso do tempo mais-que-perfeito, bastante raro na linguagem cologuial. Aparece em individuos inseguros, ‘com sentimentos de inferioridade, que desejam mostrar ou provar uma certa erudicio. Eventualmente, quando tal comportamento niio ¢ siste- ridlico, reflete uma tentativa de distanciamento do estimulo. Se por tris ‘do formalismo da verbalizacio observa-se um contevdo confuso ou va- io, pode-se pensar numa manifestaedo patolégica mais séria, na linha das psicoses, principalmente se isto se repete ao longo do protocolo. Exemplo: prancha 2: ““Lembra-me Jane Eyre, personagem de grande ‘determinacdo frene a uma sociedade repressora. Langa-se desafios ¢ busca 39 superar barreitas, por vezes intransponiveis. Serd bem-sucedida, pois & possuidora de forca inguebrantavel."” (Narrada por sujeito de 28 anos, ‘que acabava de perder 0 emprego ¢ com sérios problemas na relago con- jugal. Este comportamento apareceu apenas nesta prancha, ‘— Expresses surrealistas: efeitos verbais que nao levam em conta a logica da lingua, “Trata-se de verbalizagdes estranhas, de significado incompreensivel, Re- ‘letem perda de critica ¢ perturbacko do pensamento, sendo freqilentes ina esquizofrenia, Deve-se tomar certo cuidado, eniretanto, no sentido de diferenciar 0 esquizafrénica do sujeito que deseja mostrar-se criativo © original, Exemplo: ‘“Dois caminhos se encontram ¢ gritam: Viva Pétain” (Shen- toub, 1958). — Neologismos: Invenco de palavras novas, que no existem. — Perturbagiies no decurso do pensamento: linguajar sem nexo, sem uma diretriz, sem um fio conduior do pensamento. — Fluider verbal: linguajar dominado por associacdio de idias su- cessivas, ‘So caracteristicas de individuos com perturbagées graves, com com- prometimento das funcGes intelectuais. Sdo tipicos da esquizofrenia, sen- do a fluidez verbal mais freqiiente nos quadros maniacos. — emprego de clichés: o individuo se utitiza de formulas verbais pré- fabricadas ou convencionais. “Tal mecanismo € utilizado com a finalidade de evitar um envolvimen- to pessoal. Utilizando-se de férmulas pré-fabricadas, o individuo esvazia eu discurso de conteddos pessosis, devcompromete.ce ant relaclo A Sta producio. Excmplo: Prancha | — ‘6 um menino que esté um violino... Deseja ser um grande muisico.., Conseguira, pois quem espera sempre alcanca ‘Segundo Shentoub, trata-se de defesa earacterial, encontrada em in vviduos do tipo obsessivo. Estereotipins: repeticZo de formulas desprovidas de contetido afetivo. igualmente, uma recusa no engajamento dos afetos, mas atra~ ‘vés do uso de verbalizagies mais individuais, sem 0 apoio do convencio- nal, Para Shentoub, revela uma estrutura psicdtica, Tanto a estereotipia ‘quanto 6 emprego de clichés implicam no uso repetide destas {6rmulas vazias de significado pessoal, ao longo do protocolo. — Contradigéo entre tema ¢ expresso: a expressiio facial, mimica ou ‘verbal do narrador ¢ inadequada ao tema. Pode ocorrer tanto em sujeitos normais quanto em esquizofrénivos, segundo Shentoub, No primeiro ca- 50, observa-se uma relutincia, por parte do testando, em mostrar seus afe- tos, oqleo condu a uma manifestagdo discordante em relacloao conted do, $4 nos esquizofrénicos a discordincia émais acentunda e mais frequente. 40. Exemplo: prancha 13 HF: “Um homem chorando ¢ uma mulher nua deitada na cama (tisos), Pode ser um homicidio, pode ser uma simples dis- ‘ussao... Estavam juntos na cama (risos) conversando... Parece arrepen~ dido do que fez... parece que elaestiicormindo, ou talvez morta, ou talver desmaiada (risos) ou eansada’” ‘Ja vimos um outro relato desta pessoa, 0 Caso 3, Cap. 2.3., onde apare- ce. mesmo padro de comportamento. O sujeito procura se esquivar do tema cliciado, procurando atenud-to, sem muito sucesso. A ansiedade au- menta, manifestando-se através do discurso interrompido ¢ dos risos ina- dequados ao contexto. Tal comportamento, além de servir como descarga da ansiedade, parece transmitir a mensagem de que o individuo deseja colocar-se de modo distante do que percebe na prancha, ‘— Expresses do tipo “Isto poderia ser...”": toda expressiio que procu~ ra deixar claro que 0 Sujeito nao se compromete com 0 relato, deixando ‘de fazer afirmagdes diretas. ‘Aparecem ¢m individuos que desejam manter uma distncia do teste, segundo Shentoub, prineipalmente nos hesitantes com estrutura obsessi- ”, “Pode-se pensar que...", “Talvez. _que indica um engajamento pessoal do sujeito com uma afirmagao direta (Shentoub). © individuo perde a distincia em 0 estimulo,identificando-se ‘com ele. Exemplos: “E claroque...”,“Eevidenteque...”, “Nao hi divi- da que. ‘Ao analisar tanto os tempos quanto os comportamentos ¢ 05 elementos de lingnagem, deve-se ter em mente que nio se trata de uma mera identifi- ‘cagilo de ial ou qual tipo de manifestag&o 0 sujeito apresentou. B preciso compreender por que o individuo agiu desta maneira, @ servigo de que tal ‘comportamento ocorreu e que conseqiiéncias teveem termos da qualidade do relatoe do objetivo de seu emprego. A situarao do teste ¢ a apresenta- ‘Glo do estimulo geram ansiedade, ¢ tais dados nos permitem verificar até {Que ponto ela pode ser controlada ¢ como o sujeito procura neutralizé-ta ‘owé por ela dominado. Ao afastar-se da situacdo ou perdendoa distancia ‘em rélagaa a ela, o individu nos indica os recursos de qué dispde para Ii dar coma ansiedade e quai as areas frente is quais sente-se mais fortaleci- ‘dou fragilizado. A flexibilidade no uso destes recursos ¢ sempre mais po- sitiva que oemprego das mesmas taticas de controle da ansiedade ao longo do protocolo. 4. Estruturagdo dindmica do tema “Através da andlise da estruturagto dindmica do tema, pode-seaveriguar a atitudedo individuo frente ao estimuloe aoteste de um modo geral. Esta al atitude revelard o maior investimento de energia frente As estruturas cons-

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