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ADOLESCÊNCIA
INTRODUÇÃO
Adolescência
A adolescência é, costumeiramente, definida, na literatura, como o período em
que se dá a passagem da infância à idade adulta. Ao mesmo tempo em que se tenta
definir, teorizar sobre a adolescência, é para o sujeito um momento de idefinições: não
se é adulto, mas também, não se é criança; é um não lugar. Assim, o sujeito precisa
permanecer numa moratória até que, finalmente, possa pertencer e ser reconhecido
cmoo membro do grupo social. Essa moratória vai ser marcada por rupturas,
turbulências, instabilidades emocionais que caracterizam a “transição entre a cena
familiar e a cena social” (ROSA, 2002).
A adolescência é um período compreendido por alterações físicas, hormonais e
até psíquicas. As mudanças corporais da adolescência impactam ao jovem púbere seja
pela precocidade das mudanças quer seja pela tardiamento destas. Papalia (2000) refere
que muitas sociedades costumam demarcar a transição no desenvolvimento chamada
adolescência com rituais de passagens, seja com benção religiosas, separação da família,
testes, mutilações, entre outros.
Contudo nas sociedades modernas as passagens de demarcação para a vida
adulta são menos difíceis, porém menos simbolizadas. A autora compreende a
adolescência como um longo caminho de transição no desenvolvimento entre a infância
e a idade adulta, com o englobamento de alterações físicas, cognitivas, psicossociais
inter-relacionadas. Sendo compreendido por uma média de 10 anos (dos 11 a 12 anos de
idade até pouco depois dos 20 anos), sem muita clareza na definição de início e término.
Onde os adolescentes possuem comportamentos imaturos provenientes da inexperiência
dos jovens com o pensamento abstrato. Os comportamentos são classificados como:
uma tendência a discutir, uma indecisão, em encontrar defeitos nas figuras de
autoridade, em uma hipocrisia aparente, na autoconsciência, e suposição de
invulnerabilidade (2000, p. 458, apud ELKIND,1998).
Em psicanálise, compreendemos que a adolescência, tomada enquanto trabalho
psíquico a partir do excesso pulsional produzido pela puberdade e pelo novo encontro
do sujeito com o Outro sexo e o Outro da cultura, por definição, tende a escapar a tudo a
aquilo que está instituído (COUTINHO, 2006, p. 45). Onde a clínica com adolescentes é
marcada, já de início, por este fator de difícil manejo: o fato de que, na maioria das
vezes, a demanda inicial por atendimento não parte do adolescente, mas daqueles que
são responsáveis por ele, que podem ser os pais ou os seus responsáveis legais, mas
também podem ser outros profissionais que trabalham junto a eles. Desse modo, parte
do trabalho inicial a ser feito com o adolescente diz respeito a desidentificar a demanda
indireta feita pelos responsáveis ou por outros profissionais da própria demanda de cada
sujeito (COUTINHO, 2006, p. 47).
Oliveira (2007) pontua que durante o período de puberdade, os impulsos são
mais fortes, a atividade de fantasia fica maior e o ego alcança outros objetivos fora
relacionar-se diferentemente com a realidade. Assim como na criança pequena na
puberdade há uma predominância dos movimentos pulsionais e do inconsciente
contribuindo para riqueza de sua vida de fantasia. De forma que o adolescente regride
aos primórdios da infância. Todavia as atividades imaginativas do adolescente estão
mais adaptadas à realidade e aos interesses do ego. Acrescenta-se também seu maior
leque de atividades e suas relações mais sólidas com a realidade onde o caráter de suas
fantasias sofre continuas alterações proporcionando adaptações ao seu contexto. As
fantasias permanecem presentes quanto na infância.
Dolto (2010) nos traz que sobre o encontro inter-humano se diz da periferia
sensorial de um ser humano que percebe outro, pertencendo a um domínio do físico na:
visão, audição, tato, palato e olfato, contudo para ela todo encontro entre seres vivos
define-se também através da expressão em cada um de modificações que são
especificas.
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“Sistema aberto de disposições, ações e percepções que os indivíduos adquirem com o tempo em suas
experiências sociais (tanto na dimensão material, corpórea, quanto simbólica, cultural, entre outras).
O habitus vai, no entanto, além do indivíduo, diz respeito às estruturas relacionais nas quais está inserido,
possibilitando a compreensão tanto de sua posição num campo quanto seu conjunto de capitais. Bourdieu
pretende, assim, superar a antinomia entre objetivismo (no caso, preponderância da estruturas sociais
sobre as ações do sujeito) e subjetivismo (primazia da ação do sujeito em relação às determinações
sociais) nas ciências humanas (ver estratégia). Segundo Maria Drosila Vasconcelos, trata-se de “uma
matriz, determinada pela posição social do indivíduo que lhe permite pensar, ver e agir nas mais variadas
situações. O habitus traduz, dessa forma, estilos de vida, julgamentos políticos, morais, estéticos. Ele é
também um meio de ação que permite criar ou desenvolver estratégias individuais ou coletivas.””
(SOCHA, 2010).
No Capítulo O Sonho da eterna juventude Dolto (2004) diz que “o amor acarreta
um risco de morte de todo um passado sem esperança de futuro”. Pontua que existe uma
incidência maior de desespero entre os adolescentes que acabam por se refugiar em
drogas, no imaginário de morte e no suicídio. Segundo a autora tais comportamentos
revelam a ausência de ritos que demarquem suas novas características de
desenvolvimento humano. Existe uma falta de referência mais clara, que o norteie em
seu atual estado.
Na clínica com adolescentes, temos a oportunidade de acompanhar todo esse
processo, ver a adolescência acontecendo e, mais do que isso, constatarmos que esses
jovens são canais de denúncia às ocorrências do momento social em que vivemos, como
afirma Calligaris (2000) “os adolescentes são barômetro do social”. Na clínica de
Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda – FACHO atendemos
demanda de adolesentes entre 11 e 17 anos de idade, que, em sua maioria, são
solicitadas pelo Conselho Tutelar.
Os pedidos de ajuda trazidos pelos familiares originam-se de uma necessidade
do contexto social principal – famiília e escola. Em suas falas, o/a adolescente, de não
conseguir impor limites e regras. Alguns desses adolescentes estão envolvidos com
pequenos furtos, uso de drogas, tráfico, etc.; outros simplesmente não querem ir à
escola, ou, se vão, não conseguem submeter-se as nortas e exigências institucionais.
Diante desse cenário, o Conselho Tutelar mostra-se como alternativa imediata na
contenção dos atos e condutas desses jovens. Passa esta instância a ocupar um lugar de
capaz e responsável por impor a lei?
Goldenberg (1998) afirma que o pai simbólico está ausente na criança e nos
adolescentes infratores. A partir de uma pesquisa, revelou um dado importante, a saber,
que os adolescentes acompanhados em processo judicial vivem ainda em um modo de
relação dual, imaginária, onde o terceiro não entrou na constelação familiar. O que faz
concluir que esses jovens, num movimento de (re)estruturação psíquica, arrumaram,
inconscientemente, uma maneira de permitir a entrada do terceiro, através do ato
infracional. Este ato levará ao surgimento da lei externa, no caso representada pelo Juiz,
para interditar essa relação dual, já que a lei interna não foi estabelecida
satisfatoriamente. Assim, no contexto em que ocorreram falhas ambientas o juiz passa a
fazer uma suplência paterna no psiquismo do adolescente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim sendo, o presente ensaio científico teve como problematização os
elementos estruturais que constituem o mundo íntimo do psiquismo juvenil da
adolescência que viola regras, que transgride a lei. Trazemos uma reflexão sobre a
importância da função paterna (enquanto constituída na estruturação do sujeito) nos
relacionamentos interpessoais desenvolvidos nos círculos gerais da sociedade. A
família, como bem se sabe, desempenha um papel fundamental na transmissão da
cultura, sendo ela responsável pela educação e repressão dos instintos de seus membros.
Por semelhante razão, indagamos: o que está inerente à constituição psíquica do
adolescente transgressor? Há relação entre transgressão neste período da adolescência e
alguma falha na função paterna?
Nos atendimentos que realizamos, observamos, em alguns casos, que a queda do
Nome-do-Pai tem provocado nos jovens uma desorientação. Para quem do Nome-do-
Pai carece, se encontra com um vazio, há um gozo infinito e imediato, não há limites.
Frente a essa carência, observamos que as famílias têm buscado o Conselho Tutelar, na
expectativa da instituição resgatar a autoridade do pai. Esperam que esta instituição
demarque limites, estabeleça regras, interceda e permita que seus filhos internalizem e
se sujeitem às leis da civilização.
Cabem, entretanto, reflexões sobre a posição que o Conselho tutelar assume
frente à clínica. Mas esta questão fica endereçada ao próximo trabalho sobre o qual
pretendemos nos debruçar: o Conselho Tutelar assume um estatuto de instância do
Nome-do-Pai?
REFERÊNCIAS
DOLTO, Françoise. 1908-1988. A causa dos adolescentes. Aparecida, SP: Idéias &
Letras, 2004.