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PAUL BRUNTON

UMA TÉCNICA DE AUTODESCOBRIMENTO


ESPIRITUAL PARA O M 50 MODERNO

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E D I T O R A P E N S A M E N T O
P AU L BRU N TO N
O CAMINHO SECRETO
Uma Técnica de Autodescobrimento Espiritual
para o Mundo Moderno
Prefácio de
ALICE A. BAILEY
Tradução de
ZÔFIA D E P. GAFFRON
s
ED I TO RA P EN SAMEN TO
SÃO PAULC
Í N D I C E

P r e f á c i o de Alice A. Bailey 7

CAPÍTULO I. Diante de um sábio do Oriente 9

CAPÍTULO II. O maior enigma da ciência: o homem 22

CAPÍTULO I I I . O misterioso Super-eu 35

CAPÍTULO IV. A Prática do repouso mental 47

CAPÍTULO V. Uma técnica de auto-análise 59

CAPÍTULO VI. Exercício respiratório para controlar os pen-


samentos 72

CAPÍTULO VII. O despertar para a intuição 79

CAPÍTULO V I I I . O despertar para o Super-eu 98

CAPÍTULO IX. O caminho da Beleza Divina 111

CAPÍTULO X. O evangelho da ação inspirada 117

CAPÍTULO XI. A ajuda espiritual em assuntos materiais .... 125

CAPÍTULO XII. O epílogo 135


P R E F A C I O
^ULTIMAMENTE se tem notado
uma curiosa transformação no pensamento ocidental. Hoje se
q
pode falar de alma sem que isso seja considerado religiosidade
fanática ou desequilíbrio mental. Afirma-se ou nega-se a exis-
tência do espírito tão livremente como se discute sobre o átomo
ou as fontes históricas. Isto é um passo adiante, significativo, e
denota nossa sensibilidade crescente para com esse misterioso
"Super-eu", a que se refere nosso autor.
Os psicólogos modernos podem ser divididos a "grosso mo-
do" em duas categorias: os que afirmam a existência do espírito
integrante no ser psíquico e os que admitem só a matéria física
como a única substancial. Existe um eu? Existe uma realidade
subjetiva? Existe algo como uma consciência espiritual? Este é
o problema que hoje enfrentam os pesquisadores no campo da
percepção humana. Como provar-se a existência do eu oculto e
induzir os indivíduos a trilharem o caminho secreto para o san-
tuário onde se pode desvendar o eu?
É evidente a oportunidade deste livro. Expressa êle, com
bastante clareza, verdades que têm sido muitas vezes obscure-
cidas por frases rebuscadas, difíceis simbolismos orientais e um
divagante misticismo. Será bem recebido por todos que, de co-
ração aberto aos problemas do presente, aspiram à revelação es-
piritual. As necessidades profundamente sentidas do homem o
preparam para trilhar o Caminho Secreto.
Atualmente a humanidade se acha no- limiar da reaiidaèf*
O homem começa a aprender, a reconhecer, a i r T r j f l j
do dêsseseTmahprofundo, que se oculta
personalidade. Encontrar esse ser mais profundo, revelar sua
natureza e atuar convenientemente no mundo da verdade onde
mora, tal ê a tarefa imediata paraaaual os anos das angús-
ticas recentes o prepararam. C 2 2 ^ ^
— tal é a mensagem eterna. ^ ^ j ^ l J ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ .íífrf p acuram
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o Caminho Srrrçtn que os prllíaTTM —Ali che-
gados, encontramos as fonj^s d& fôda irupiração,. descobrimos
o ponto onde o intelecto> se transforma^jejn. intuição;. penetra-
rmos nó reino ãaitummação. Ã rerompsnsa aos-que penetram
jtS^çtdadela da alma ê a l^^^FIGURAÇÃO — o esplendor . D I AN TE D E U M SABI O D O O R I E N T E
que~se irradia através da per^malMade em rápida mutação.
Nesse recinto secreto nos juntamos- às fileiras dos Grandes
• ntuitivos, os inspirados Companheiros de Deus. Estaremos en-
ALGUNS ANOS, empreendi um a
tre aqueles que têm por missão redimir a humanidade, pois
longa viagem através da índia, terra calcinada pelo so l causti-
I
iSè tem sido sempre o caminho da salvação para Deus. O apelo
cante dos trópicos; percorri esse vasto continente n a esperança
e hoje é para aqueles que sabem que viram e compreenderam, de encontrar os últimos vestígios desse Orie nte místico, do qual
empreendendo, acatarão a mensagem deste livro e ajudarão a tantos ouviram falar e a tão poucos foi dado conhecer. Duran -
divulgá-la. Esta obra traz à chama da inspiração, da espirituali- te as minhas andanças, encontrei um homem extraordinário, que
dade pratica, do serviço dedicado, que constituem a marca da imediatamente me inspirou profundo respeito e foi alvo da m i-
Alma revelada. Existe algo em nossos dias de que se necessite nha humilde veneração. Em bo ra pertencesse, po r tradição, à
mais intensamente? classe dos Grandes Sábios, classe praticamente desaparecida do
mundo moderno, evitava, no entanto, por todos os meios, revelar
ALICE A . BAILEY sua personalidade e opunha-se a todos os esforços que visassem
dar-lhe publicidade.
Au t o ra d e Do Intelecto à Intuição
O tempo se precipita como impetuosa torrente, levando
consigo a humanidade e sufocando em seu bramido ensurdecedor
os nossos pensamentos mais profundos. Co ntudo este sábio es
tava sentado à parte, tranquilamente firme n a margem gramada,
e contemplava esse gigantesco espetáculo com o semblante ilu -
minado por um calmo sorriso de Buda. O mundo quer que
seus grandes homens pautem suas vidas po r seu padrão m esqui-
nho. Mas ainda não se inventou um padrão para m e dii4he s a
altura, pois tais homens, se merecem realmente esse nom e, não
derivam de si mesmo a sua grandeza, mas de um a o utra fonte.
E,e s s a fonte se estende até o Infinito . Alguns poucos, perdido s
aqui e acolá, vivem ocultos nos diversos retiros da Ásia Ê j
ca, mantendo, quais espectros, as tradições da mais i a*»
bedoria. São como espíritos guardiães velando .-por seus tesou-
ros. E m raça espectral vive apartada, mantendo vivos os d ivi-
nos segredos que a vida e o destino confiaram ao aeu
A hora do nosso primeiro encontro ficou gravada em minha idava, jamais podem ser relatados. Portanto , se hoje queimo
alma e ainda persiste na memória. Enco ntre i-o inesperadamente. um pouco de incenso literário diante da sua efígie, é apenas
Não esboçou nenhuma apresentação form al. Po r um instante, infima parcela do tributo que lhe estou devendo.
seus olhos sibilinos mergulharam nos meus. Fo i o suficiente para
É impossível esquecer aquele semblante, aquele sorriso ma-
êle ver todo o itinerário pecaminoso do meu passado e as flores
ravilhoso e profundo que revelava sabedoria e paz conquistadas
imaculadas que tenham começado a desabrochar-se em m inha al-
pelos sofrimentos e experiências vivido s. Era o ser humano
ma. Naquele ser, sentado à minha frente, estava uma grande
mais comprensivo que jamais me fora dado conhecer. Sempre
força impessoal, que lia todas as etapas da m inha vida num olhar
se podia ter certeza de ouvir dele algumas palavras que esclare-
mais lúcido do que eu jamais poderia alcançar. Eu tinha dormido
ciam o caminho e sempre elas correspondiam ao que o nosso mais
no leito perfumado de Afrodite — e êle o sabia; eu tinha atraí-
íntimo sentimento nos havia sussurrado.
do o génio da minha mente a explorar as profundezas da alma
em busca de estranhas e fascinantes descobertas — e êle tam- E, no entanto, nos momentos de solidão sua fisionomia ti-
bém o sabia. Senti igualmente que se pudesse segui-lo pelos mis- nha uma expresão de profunda melancolia, porém era uma me-
teriosos labirintos do seu pensamento, todas as minhas misérias lancolia serena de renúncia e não essa tristeza amarga e revolta-
se esvaneceriam, todos ressentimentos se transformariam em in - da que se vê frequentemente . Adivinhava-se que aquele ho-
dulgência, e compreenderia enfim a vida sem jamais revoltar-me mem, em algum momento da sua vida, devia ter sofrido atroz-
contra ela. Ainda que sua sabedoria nãáo fosse dessas que se mente . . .
percebem facilmente ou se impõem, a apesar da reserva austera As palavras desse Sábio brilham ainda em minha memória
que o envolvia, êle me inspirou profundo interesse. como luz de um holofote. "Nas minhas raras entrevistas com ho-
mens sábios, colhi alguns frutos de o uro " — lê-se no "d iário "
Rompia seu silêncio costumeiro apenas para responder às do escritor Raif Waldo Em e rso n, e de minha parte posso (fizer,
perguntas de ordem abstraía, tais como a natureza da alma, o sem dúvida alguma, que durante minhas palestras com o Sábio os
mistério de De us, os poderes estranhos ainda inexplorados mas recolhi a mancheias. Nossos mais eminentes filósofos ocidentais
latentes no homem, e assim por diante. Mas quando falava, eu estão muito longe de chegar a seus pés!
sentia estar cativo de um encanto escutando sua voz doce, imo-
bilizado sob o sol ardente ou pálida lua crescente. Po is aque- Contudo, veio a inevitável hora da separação; o tempo pas-
sava e eu devia voltar à Euro pa onde uma porção de coisas me
la voz calma estava investida de autoridade e a inspiração cin-
prendiam. Ultimamente, estava me preparando para partir mais
tilava em seus olhos luminosos. Cada sentença que seu lábio
uma vez para o Orie nte . Almejava nada menos do que atravessar
pronunciavam parecia conter algum precioso fragmento de ver-
a Ásia em toda a sua extensão e o propósito era a mesma antiga
dade esesncial. Os teólogos de um século insuficientemente are-
busca dos derradeiros expoentes vivos da sabedoria e magia o ri-
jado pregaram a doutrina do pecado original do homem; mas este
entais. Espe rava percorrer os amarelentos desertos do Egito , tra-
sábio ensinava doutrina da bondade original do homem.
var relações com os mais esclarecidos xeques do Síria; m isturar-
Em presença desse ser excepcional sentia-se segurança e paz -me aos últimos faquires das aldeias longínquas do Iraque ; e n-
inte rio r.. Sua irradiação espiritual penetrava no âmago da alma. trevistar os antigos místicos sufis da Pérsia, nas mesquitas de
Em sua pessoa aprendi a considerar as verdades sublimes que êle graciosas cúpulas bolbosas e minaretes esguios; testemunhar os
ensinava, e a incrível atmosfera de santidade que o envolvia me milagres dos mágicos iogues à sombra violeta dos templos h in -
levava a prosternar-me em veneração silenciosa. Possuía uma dus; na fronteira do Nepal e Tibete palestrar com os lamas tau-
personalidade deifica, que desafia qualquer descrição. Poderia maturgos; sentar-me nos mosteiros budistas da Birmânia e do
eu ter tomado notas estenografadas das palavras do Sábio, e mes- Ceilão, e entregar-me às mudas conversações telepáticas com os
mo escrevê-las, mas o elemento mais importante das suas reve- Sábios de idade secular, de manto amarelo, no continente chi-
lações, o perfume sereno e sutil de espiritualidade que dele irra- nês e no deserto de Go bL
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Quase toda a minha tralha estava empacotada, meus últi- luz profusa. As horas passavam insensivelmente; o suave zu-
mos papéis estavam sendo postos em dia e pouco me restava nido dos insetos levantava-se em intervalos para logo esvanecer-je
para partir. Desinteressei-me das ruas movimentadas da grande no espaço.
cidade em que residia. "Londres possui poleiros para toda, Minha pena permaneceia inerte entre os dedos. Aguarda-se
espécie de pássaros" — escrevia o arguto Disraeli. Nesse caso, junto à silenciosa praia da mente a vinda de exaltadas musas cujos
devo incluir-me entre os "pássaros" de gosto bem antiquado, pois frágeis corpos são como filandras. Tão ténues são que, se não
aprecio as ruas tranquilas de Londres do século X V I I I , com suas forem apanhadas numa alequada rede, serão mortas ao impacto
velhas praças cheias de nobreza e de cêrcas-vivas bem tratadas; ve- da grosseira linguagem humana. Tão tímidas são que, por vê*
jo-as como oásis no meio do deserto caótico de barulhento mo- zes, se toma necessário esperar-se muito tempo antes que uma des-
dernismo da esfalhafatosa agitação atual. sas acanhadas alienígenas se aventure a entrar na rede. Mas uma
Quando vagueio à noite em volta das praças de lindo gra- vez reunidas algumas cativas, a gente se sente regiamente com-
pensada.
mado, imagino ver perpassar os fantasmas do século findo, com
paletó de seda e calças presas ao joelho. Sinto verdadeira repul- Neste elemento espiritual jazem todas as fragrantes espe-
sa por essa Londres repleta de carros onde ferve multidão afo- ranças do homem, aguardando, tal qual tantas flores ainda não
bada. Quanto mais me atraem o bairro antigo que circunda o lar- colhidas, as mãos delicadas que as juntarão para algum desconhe-
go Tamisa, e lugares como Rotherhithe e Wapping! Lá perambu- cido. Estas visitações de uma elevada musa nos inspira jóias pa-
lando entre os desembarcadouros e velhos cais pitorescos, co- ra nossos escritos. Nesses momentos sagrados, aquele que escre-
bertos de musgo, onde a atmosfera lembra um pouco o cheiro do ve se põe em contacto com o Infinito; as frases parecem for-
mar, olho as barcaças se cruzarem singrando silenciosamente as mar-se por si só, não se sabe bem COÍBO; como que se despren-
águas do rio. Prefiro ver o grande veleiro soprado pelo vento a dem do céu para aterrar em nosso mundo subhinar e alimen-
deslizar-se no Tamisa, aos ônibus pintados de cores berrantes ro- tar a mente. Devemos enttegar-nos a essas musas misteriosas
dando pelas ruas com infernal algazarra, supliciando os nervos. e não oferecer-lhes resistência. Assim nos tornamos um digno
mediador entre os deuses imortais e o homem instável e fraco.
Esse dia foi marcado pelo Destino, quando me refugiei por
algumas horas no parque verde para gozar ali da companhia das Hoje, porém, pensei esperar em vão; fechei o livro, guar-
árvores amigas. Atravessando colinas barrentas, amplos prados e dei minha caneta no bolso. Muito logo, a turva hora do cre-
num bosque próximo de faias silenciosas encontrei minhas ár- púsculo escureceria a face do tempo e os passos silenciosos da
vores. Sentei-me na grama e cerrei os olhos, sentindo um bem- noite se insinuariam pelas arcadas do dia. Então, para regressar
estar tão grande após o barulho estridente e confuso da cidade. à cidade, me levantaria do tronco caído, no qual estivera pon-
Não se ouvia nada. Uma quietude beatífica da Natureza insensi- derando tristemente e em vão, e, em passos lentos, às apalpa-
velmente me penetrava. Contudo, arrastado por um velho hábito, delas, travessarei os prados sombrios e o bosque que as folhas
apanhei no bolso uma caderneta de notas bastante usada e fiquei mortas haviam coberto como de um tapete castanho.
na espectativa, com a caneta na mão, procurando captar o voo
ténue dos pensamentos e belos sonhos que nos passam pela mente De chofre, tive uma impressão estranha de suspensão de
quando tudo está em paz. No silêncio dessa solidão bucólica me vida; uma névoa estendeu-se diante dos meus olhos, a>brindo-os
achava mais à vontade do que no luxuoso salão e, em companhia e tornando-os insensíveis ao ambiente que me rodeava. Ao in-
das faias de tronco prateados, senti uma presença mais sincera e vés do sangue, uma corrente ígnea pareda-me fluir impetuosa-
mais bela do que a dos seres humanos. mente nas veias e brilhar, uma luz dourada dentro do meu co ra-
ção. Uma mão me parecia tocar o ombro; ergui a cabeça e v i um
Era uma amena tarde de outono; o chão em volta de mim rosto cheio de doçura inclinar-se sobre mim. O Sábio que eu tin h a
estava juncado de folhas vermelhas e douradas, caídas em mas-
conhecido no Oriente apareceu diante de mim; «eu grave rosto
sa nessa época do ano. O sol oblíquo inundava a paisagem em sua
barbudo tão claro , tão reconhecível com o se fosse de carne. Ce r- S i m . . . é verdade, festejei sozinho o banquete, saboreando
tamente ê le se apro xim o u de m im co m pasoss silenciosos como realidades eternas. Será que minha alma não vai se empobre-
a queda do o rvalh o . . . Co m a de vo ta hum ildade do m e u cora- cer, murchar, se e u não partilhar com todos os que têm fome
ção , que o ve n e rava, cum prim e nte i-o e n o s seus olhos enigmáticos aquilo que m e foi dado com tanta liberalidade, o dom recebido a o
e lum ino so so pe rce bi u m expressão de ce nsura. silêncio do céu? Poderei rejubilar-me em paz, guardando só para
Fixan do -m e , falo u co m sua vo z m e iga: "Meu filho, isso não mim essas verdades? Quem sabe se, entre as numerosas almas do
está bem. Esqueceste a compaixão? Pretendes partir para au- Unive rso , algumas delas talvez receberão com fervor as ideias
mentar teu cabedal de conhecimentos enquanto outros estão fa- que lhes posso transmitir?
mintos por migalhas de sabedoria? Queres comungar com os O mundo exterior não tem muita simpatia por aqueles
Divinos Seres quando ainda há homens que procuram Deus, mas que se isolam na torre de marfim e mantêm sua alma livre para
só percebem a barreira intransponível do céu; quando há os que contemplar visões às quais não podem ter acesso.) E o mundo
lançam suas preces num vácuo de que não lhes vem nenhuma tem razão. Nó s , videntes e místicos, temos de extrair a última
resposta. Firma teus pés, se necessário, mas não te esqueças de gota da fonte cristalina da visão inspirada, porém aqui começa
teus irmãos na miséria. Não partas para as terras das palmeiras o nosso dever, severo e estrito, de oferecer esta bebida pouco
ondulantes enquanto não houveres meditado bem nestas palavras. usada ao primeiro viajante sedento que queira aceitá-la. Não é
Que a paz esteja sempre contigo. E, de súbito, sem nada mais
n
para nós somente, mas para todos por igual que Netuno lança
dizer, desapareceu de minha visão, tão silenciosa e misteriosa- o seu tridente mágico nos recônditos da alma para nos mostrar
mente como havia aparecido. as imagens fascinantes ali existentes.
* * 1 Se é muito grande o privilégio* de sentar-se aos pés dos es-
* * quecidos, mas sem dúvida poderosos deuses, o dever de divul-
gar sua mensagem ao mundo desatento, mas sofredor, é tão ele-
vado quanto nobre, f Talvez não exista ser humano com mente
Qu an do reto m ei consciência do que me cercava, vi apenas tão encerrada na fealdade que uns ténues raios de beleza interna
árvo re s, po is h avia escurecido ; a luz do dia havia-se apagado e não o possam importunar de vez em quando e fazê-lo levantar
as e stre las cintiliante s começavam a surgir no céu. O s primeiros um pouco a cabeça para as estrelas, ora perplexo antes o signi-
raio s pálidos da lua projetavam sua luz difusa na árvore tom- ficado de tudo isso, ora maravilhado ante a incessante harmonia
bada. Nada mais e u po dia ve r. Levantei-m e para retomar o ca- das esferas.
m in ho de casa. En quan to os pés se afundavam na grama e fo- "Não te esqueças de teus irmãos na miséria", disse-me o
lhas caídas, co m a bengala tremendo em m inha mão e os pensa- estranho visitante. Que poderia então fazer? Não poderia de-
m ento s fixos n a augusta admoestação, compreendi logo que a morar muito neste país ocidental e deixar de realizar minha ex-
sua repreensão e ra perfeitamente justa. Sim , eu só havia pen- pedição transasiática, que minha inclinação natural ç o capricho
sado e m m im ! E u havia seguido a luz da estrela da Ve rdade , a do destino me haviam facilitado. De que forma, por amor aos
e stre la que m ais me atraía em todo o firmamento, mas eu a ha- meus semelhantes, poderia alguém tomar o manto de profeta e
via seguido apenas para m im mesmo. espalhar o que aprendera da verdade? A resposta me veio clara,
D e ixe i meus êxtases de parque e vo lte i à cidade, entrando nítida, sob a forma de um pensamento intuitivo. Eu proporia al-
com estranho temor em suas ruas tão copadas pela escuridão da gumas das coisas que a vida me havia ensinado e deixaria para
no ite . Aq u i estão milhões de seres a quem as exigências da so- depois os trabalhos escritos. Não poderia fazer mais do que des-
ciedade impõem suas le is, que os obrigam a deitar-se ao coman- pertar o interesse de meus contemporâneos e apresentar-ihes al-
do do relógio e levantar-se ao estrondo de um despertador agres- gumas ideias que me haviam sido úteis, e depois retirar-me, ddh
sivo . xando-as cumprir sua missão. Eu não po de m indagar em seu
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nome; quem as aceitasse espontaneamente receberia sem dúvida mistério da parábola do Cristo: " E m verdade vos digo que en-
u m auxílio, também, e quem as rejeitasse teria que buscar em quanto não vos tornardes simples como uma criança, m o entra-
outra parte seu alimento espiritual. Se meu escrito satisfizesse reis no Reino do Céu ', mas~3eaifícil compreensão aos intelec-
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apenas um homem no momento crucial da sua existência, quem tuais, aos espíritos esmiuçadores e aos egocêntricos. JO intelecto é
saberia até onde esse escrito poderia guiá-lo para o Eterno Bem? apenas uma máquina; êle se torna um servo excelente, porém um
Tentarei pôr em palavras escritas minha sabedoria ganha mau senhor. | |j| jÉ
pela experiência dolorosa da vida, sentenças que conservam o Temos tendência a criticar o que não compreendemos. No eiT
cerne dos dias gastos em amarguras, e da pena fluirão frases que tanto, se alguma coisa parecer difícil de entender ou obscura
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embalsamarão lágrimas que então derramei. Escreverei na es- na sua forma, aconselho ao leitor parar um pouco e meditar ate
pcrança de que essa leitura levará cura e consolação àqueles -
descobrir o sentido oculto do escrito.
que a angustia e o desespero abatem, para lhes demonstrar e fa-
zê-los sentir que o homem possui em si mesmo reservas de forças Se eu lograr impulsioná-lo à descoberta do verdadeiro sen-
insuspeitas graças às quais pode enfrentar e vencer, por mais du- tido seu, então lhe terei prestado um serviço bem mais valioso do
ras que sejam as provas de que ninguém escapa. Contudo, nes- que inculcar ensinamentos teóricos. Vivemos numa época em que
se livro nao vai faltar alegria; também se poderá ouvir nele o se lê apenas para matar o tempo; alguns espíritos amadurecidos
eco dos belos cânticos das horas felizes vividas em paz incompa- procuram todavia fazer do seu tempo algo de valor. Meus vo-
rável e algo mais do que um relato de alegria do êxtase di- tos são de que*este livro lhes chegue às mãos.
vino acessível ao homem. Não, não há razão para ser este l i - Fazer Cruzadas para defender minhas ideias não me apraz,
vro sem alegria, e de fato não o será ! As flores devem per- e toda agitação é para mim uma tortura. • Prefiro ser um estí-
der uma por uma suas pétalas, a lua cresce para diminuir em mulo, despertar os demais e não levá-los a aderir a algum credo;
seguida e o canto mais belo da cotovia tem que se calar um dia. antes a pensar por si próprios, e mais profundamente do que os
Mas descobri uma Terra repleta de -flores estranhas que nunca homens convencionais da nossa época. |
murcham, onde a luz do céu nunca diminui e onde todas as coi- Só quando aprofundamos pessoalmente o assunto é que
sas entoam um cântico imortal, que jamais deixou de ressoar des- chegamos a compreendê-lo. fNao posso transmitir ao leitor mi-
de o tempo primevo... nha compreensão da Verdade, mas posso despertar-lfae a facul-
E assim as páginas que se vão seguir tiveram sua génese. dade que lhe trará a percepção espiritual.! Por esta razão o li-
Se elas parecem pouco mais que uma coletânea de pensamentos vro não expõe nenhum sistema estabelecido que deva ser aceito
soltos, vagamente conexos entre si, peço perdão ao leitor indul- como um ato de fé; minhas intenções se limitam apenas a uma
gente, pois tenho dificuldade em ordenar pensamentos que afluem sugestão, um convite ao leitor a pensar por si mesmo. Estas pá-
pela vontade de Deus, em fragmentos esparsos e dissociados. F i - ginas de assunto fora do comum o abastecerão com algumas no-
co admirado dos períodos fáceis dos escritores, cujas sentenças zes — metaforicamente falando — que deverá quebrar com seus
correm fluentemente e sinto vergoáha dos intervalos e desi- próprios dentes. Meditando sobre o que tenha lido* poderá criar
gualdade do meu estilo, que atribuo à inspiração instintiva da mi- um novo sistema do pensamento, um método depignsar que aera
nha mente em repouso, sem o esforço intelectual. Cada vez sêúT~ê não de terceiros!" No" princípio, essas ideias irão talvez
que tomo a pena, uma guerra se declara dentro de mim; a pena surpreendê-lo; fínãímênte, quem sabe? poderão «rvir-lhe de
aceita as limitações que lhe são próprias e de maneira alguma estímulo.
aspira transpô-las para alcançar técnica melhor. Não escrevi este livro para quem já fechou as petsianas d*
Nessas páginas poder-se-ão notar poucas argumentações, em- sua mente e cuidadosamente as fixou para que ^ ^ S S | ^
n
bora seu conteúdo possua bastantes elementos suscetíveis de de luz de novas ideias prenetre e perturbe a sua sono»
JgÉovocá-las. O sentido será PffiflB para aqueles que penetraram o crevi para os poucos que, no meio da confissão das
perturbadoras, querem entrar na terra firme da experiência por cutir o assunto. As ideias que exponho agora nao me vie ram
não verem outro caminho mais seguro a tomar. de argumentações e raciocínos; não, chegaram em consequência
* de prolongadas buscas e próprias vivências. Po rtanto , aquele
* * que bem me entende, deve estar prestes a passar pela mesma
experiência e isso não lhe será difícil se tiver tanto desejo e ar-
dor de encontrar a Verdade como se entrega aos seus negócios e
Aqueles que procuram nesta obra abundância de fato s,.fi-
quefazeres mundanos.
carão desapontados; milhares de outros livro s lhes darão todos os
fatos que desejarem ter, porém ainda melhor é consultar o vo- Creio no entanto qne se encontrei a vida e spiritual m ais
r
lumoso livro da vida, onde poderão sempre verificar cada uma substancial do que a vida material, o mesmo pode ocorrer a tru_
das minhas afirmações. Meu propósito é extrair a essência de Ho leitor deste lis xa—Não gozo nenhum privilégio especial que
todos os fatos, concentrando em traços rápidos aquilo que V I V E outros não possam igualmente gozar e não afirmo ter recebido
atrás de milhares de fatos, experiências e acontecimentos. um favor_qu^_riãQ seja obtido mediante contínuos esforços. O
que encontrei dentro de mim é exatamente aquilo que qualque r
Co m o passei longos anos a disciplinar e torturar minha um de nós, até o mais endurecido dos "gan gste rs" de Ch icago ,
"alm a filosófica", até encontrar a Verdade, hoje não estou dis- também pode descobrir no mais íntimo de si mesmo.
posto a o uvir banalidades convencionais, nem a escrevê-las. É
Se as frases deste livro são ocasionalmente entusiastas, às
certo que não há nada de novo na essência das ideias expostas
vezes cálidas, é por ser êle uma transcrição da vida e não um
neste volume, mas pouco importa que sejam ideias novas ou ti-
amontoado de teorias académicas que impregnam os serenos claus-
radas do longínquo passado; importa mais saber que elas se
tros de Cambridge. Porventura só pode ser um bom filósofo
apoiam na VER D AD E. Em outros tempos, homens como To -
quem escreva friamente sem tomar interesse no assunto? Deiié^
más de Ke m pis e Jacob Bahme expuseram as mesmas ideias, mas
verão suas páginas ser sempre pálidas e mortas; deverá êle ex-
sob uma forma que não me atrai e pode atrair ainda menos os
tirpar delas toda manifestação emocional para serem um a le i-
meus contemporâneos. No entanto, eles se referiam às experiên-
tura recomendável e digna?
cias verdadeiras que todo homem do século XX, querendo, tam-
bém pode repetir. O s que consideram esta experiência como A crítica não pode refutar esta o bra, que não se base ia
algo inconcebível, ou na melhor hipótese, contrária a toda lógica nas opiniões intelectuais dos homens, mas em verdades e te rnas,
racional, fariam melhor, antes de chegar a uma conclusão pre- tão antigas como os céus estrelados que contemplamos à n o ite ,
cipitada e tão peremptória, entregar-se às próprias experiências. verdades que estão presentes tanto na Natureza como no h o -
Em pre n di essa difícil pesquisa do significado da Vida, mas com mem. Essas verdades estão ali, mas devem ser trazidas à to n a.
espírito científico e reverente; outrossim, esforcei-me para apro- Este livro é apenas uma voz que clama no deserto deste
ximar-me da Verdade com amor imparcial e não para confirmar mundo dolorosamente atribulado; há outros e em m uito s paíse s.
ou rejeitar determinadas ideias. O fato de escrever sobre esta- Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha
dos de consciência muito raros, que para a maioria das pessoas literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superio res às
podem parecer fantasia, para mim é verdadeira Ciência. Os que minhas. O Destino , as necessidades de muitas pessoas que m e
receberem essa mensagem com este estado de espírito, verão final- escreveram e o desejo expresso do Sábio do Orie n te , u m do s
mente sua fé recompensada e chegar o tempo em que seu credo meus Guias Espirituais, todos esses fatôres co nspiraram para me
lhes será confirmado por um conhecimento de primeira mão. impor este trabalho. O livro achará seu cyrso nas mãos e xpe c-
tantes de alguns homens e mulheres ansiosos e sedentos da Ve r-
Te n ho a convicção inabalável de poder sustentar minha te- dade. Oxalá lhes seja útil!
se contra toda a espécie de ataques e prová-la a quem quiser,
mas é óbvio que meus contraditores hão de estar dispostos a
iniciar as mesmas experiências que iniciei, antes de poderem dis-
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Esfo rcci-m e po r dar u m relato fie l à Vo z que parece emu- O menor resultado de u m esforço pe rsiste nte , segundo as
decida n a m aio ria dos ho m e ns; po rtanto , espero que este informe
diretrizes expostas neste livro , será to rnar o esforçado estabe-
l seja de algum modo valio so para eles. O fato de que milhões
lecido numa paz in te rn a, que o marcará entre seus co m panhe i-
de seres, que m e ro de iam , vivam preocupados co m assuntos de
ros como alguém de invejável equilíbrio . E depois que h o uve r
outra o rde m , m e in cita a cham ar-lhes a atenção e a lembrar-lhes
achado essa paz, outros virão até ê le , sejam jo vens o u ve lh o s,
que tanto eles como as suas atividades estão sujeitos a desa-
e lhe perguntarão pelo segredo que parece ter-lhes escapado. E
parecer u m dia deste o rbe , mas há u m cam inho aberto qu e po d e
então, po r sua ve z, êle lhes mostrará o c a m i n h o . . .
levá-los aos tesouros imperecíveis da Vi d a Et e r n a . "
Algun s m e classificarão entre o s poucos e cada ve z mais
escassos sonhadores que crêem enco ntrar u m firm am ento estre-
lado no ho m e m . D e fato, não se enganarão de to do, mas pe-
ço-lhes o favor de co nsiderar u m a co isa: eles têm o poder de
co nve rte r m e u sonho e m sua própria re ali d ad e ^ O caminho,
por m in f seguido pode estar afastado do cam inho co m um , mas não
£ tão difícil que não po ssam trilhá-lo também.
| Se um a época insensata como a nossa nos considera um gru-
S po de meros sonhadores, pelo menos temos o consolo de saber
que sonhamos, enquanto os que no s escarnecem dormem ainda o
sono pesado de inconsciência e spiritual.
& % Outro s perguntarão: "Po de -se seguir esta lu z no meio de
tantas tristezas e sofrimentos at u ai s ?" A estes responderei:
"Es t a é precisamente a época e m que se u divino valo r pode ser
melhor e xpe rim e ntado ."
H á certas verdades básicas acerca da vida, certos princípios
fundamentais e inalteráveis que governam os vivo s, que foram
conhecidos pelos sábios de todos os tempos, desde a mais re -
cuada antiguidade até os nossos dias. As s im , pode-se encontrar
cura para todos. Não há ninguém, po r mais abatido que esteja,
mais abalado, mais vergado ao peso do infortúnio, das enfermida-
des, da pobreza e da desgraça, que não encontre um a saída pa-
ra suas dificuldades, o u, como último recurso, a força para supor-
tá-las. | | E assim deve ser porque- todos os homens estão den-
tro da Mente Un ive rsal, que trouxe este mundo a existência.
Mente que é perenemente benévola, insondàvelmente sábia e
eternamente pacíficay Na vida social que nos rodeia, há mui-
tos casos~Tiorrofosos que parecem contradizer esta afirmação;
entretanto, aquele que está disposto a fazer uma experiência e
desenvolver sua visão espiritual latente, descobrirá, a despei-
to de todas as aparências em contrário.
20
de filosofar ou aos crédulos párocos. A busca da Verdade abor-
rece os homens. O que devia representar para nós u m objetivo
atraente se tornou em nossos dias um interesse inconfessável,
assunto de conversão inadmissível na polida sociedade.
iJDeus escreve Sua mensagem na face do nosso redondo pla-
nêta, mas o homem cego é incapaz de ler essa mensagem. U n s
poucos, tendo vista, a interpretam para os outros. \ Contudo, a
massa humana r i cinicamente dos seus esforços e só os poucos
intuitivos entre os espíritos cultos e inteligentes e algumas al-
O M A I O R E N I G M A D A CI ÊN CI A: O H O M E M mas singelas entre os operários e camponeses, recebem essa men-
sagm e a retribuem na afeição aos mensageiros. Não se deve es-
"Conhece-te a ti mesmo, não pretendas escutar Deus, tranhar portanto que a história contemporânea seja uma longa
O estudo que convém à Humanidade é o homem. sequência de tragédias e lágrimas; aliás a história completa da
Colocado neste istmo de um estado intermediário, humanidade não é uma tragédia nem uma comédia: não cai ne-
Um ser obscuramente sábio, e rudemente grande,
Com demasiado conhecimento para o lado dos céticos,
nhuma cortina nem há nenhum fim.
Com demasiada fraqueza para o valor dos estóicos, Sim, a humanidade parece padecer de cegueira e surdez es-
Êle oscila entre ambos; em dúvida se há de agir ou des- pirtiuais. Incapaz de ler as palavras místicas escritas na parede
cansar;
deste mundo, fechando os ouvidos aos poucos que podem en-
E m dúvida se se julgar um deus ou uma fera,
Em dúvida se prefere seu corpo ou sua mente; xergá-las, atravessamos nossos dias apalpando e tropeçando. A s
Nasce só para morrer, raciocina só para errar... advertências e sábios conselhos são rejeitados num gesto de ga-
O estudo que convém à Humanidade é o Homem. bolice pelos incrédulos, feridos no seu amor-próprio como os ju-
deus quando se recusaram a aceitar as Verdades incisivas pro-
Único juiz da Verdade, em infindáveis erros tropeça, feridas pela boca do Cristo. O resultado é que os homens cor-
É a glória, o ridículo e o enigma do mundo!"
rem desesperadamente para cá e para acolá sem saber aonde vão
POPE no meio do caos desvairado do mundo hodierno. Levantomo-nos
doberço natal e agarramo-nos apaixonadamente à vida para logo
apos desaparecer na fria indiferença do túmulo^
(Ensaios sobre o homem) Nossas pequenas personalidades estão totalmente absorvi-
das com a importância das nossas lutas e aspirações ou vitórias
e fWmtflj; Somos escravos dos nossos bens materiais e nos apo-
quentamos e afligimos por causgdeles. Não apodemos cvitó-foji
N O TEATRO DA VIDA O filósofo
pois somos humanos. Entretanto, a j ^ f i n g e ^ erguendo-sejdks
areias do Egito^jconten^lando a raça dos homens mortais 3pfr- f
tem seu lugar reservado nos balcões, donde observa de longe o r i . . j h s o r r i . . . e sorri!
cenário da peça representada no palco. É possível que esta po- O homem, a despeito de tudo, é um ser racional e clama
sição exteriorizada o capacite a fazer julgamentos adequados so- por uma explicação racional das coisas. Êle vive n u m a época
bre tudo aquilo. Aqueles que se sentam nos balcões ante a predominantemente científica e intelectual. Toda a sua |||
pltíbição Passageira deste Mundo têm uma visão mais aproxi- riência é interpertada à luz da razão puramente m at erW isla| ^ A
mada do que aqueles que se sentam na galeria, mas necessaria- vida entretanto parece traçar uma linha inflexível I tôwio do
mente não têm um conceito mais real da representação. mapa da sua própria natureza, deixando uma vast* regiio ines^plo-
O misterioso sentido da vida nada significa para nós. Não
J l p o s que esse problema penetre em nossa consciência. Pre-
inos ^UÊBÊÊÊÊ^ ^ W^°
y l a o s
velhos caducos que gostam
rada, onde a Razão parece incapaz de penetrar. Lendo num dos porânea enterram numa cova profunda as frias especulações dos
antigos ensaios de Bertrand Russel sua delicada mas pessimista cientistas mesovitorianos. Sem embargo, o cientista é tão exal-
confisãão de fé, cito-a como típica da atitude estéril imposta pelos tado pela humanidade atual, que, a não ser que êle dê sua apro-
cientistas que negam toda esperança de qualquer exploração da vação a cada revelação separada do Vidente — um processo que
região desconhecida. Escreveu Russel: nossos próprios olhos têm comprovado durante a última metade
Que o homem é o produto de causas que não tinham deste século — se joga a pérola na poeira como falsa. Subscre-
qualquer previsão do fim que realizavam; que sua origem, vem a ideias dos Videntes.
seu crescimento, suas esperanças e seus temores, amores e A doutrina favorita do bispo Barkeley é uma concepção
crenças são consequências de combinações fortuitas de
átomos; que nenhum fogo, nenhum heroísmo, nenhuma in- muito similar à dos absolutistas da índia. Afirma êle que tudo
tensidade do pensamento e sentimento pode preservar a o que sabemos do universo é a impressão produzida em nós por
vida individual além do túmulo; que todos os trabalhos dos nossa reação ante o universo. A mente, segundo êle, é uma
séculos, toda a devoção, toda a inspiração, todo o brilho vara dimensora da realidade no nosso universo, e por isso con-
fulgurante do génio humano estão destinados a extinguir- siderava a ideia como a realidade primária e fundamental. Sir
-se na vasta imensidão do sistema solar. . . Todas estas coi-
sas, se não estão totalmente além de controvércias, estão James Jeans, por esforços brilhantes, demonstrou como a Física,
no entanto tão perto da verdade, que nenhuma filosofia que partindo da ideia de que o mundo material é a realidade básica,
as rejeite pode subsistir. foi no entanto forçado a considerar favoravelmente a hipótese
de Barkeley.. Ademais, as conclusões de Einstein e de White-
Tais são as teorias pessimistas que têm crédito entre os head contribuíram grandemente para confirmar a asserção do
intelectuais da nossa época. Podemos constatar em volta de nós bispo.
as conquistas estupendas dos cientistas; devemos admirar-lhes a E m O Universo Misterioso Jeans escreve: "Todos "os cor-
avançada intelectualidade; porém eles não podem ensinar-nos o pos que compõem o possante arcabouço do mundo -não têffiHHír
a-bê-cê da vida: ignoram o seu X Y Z . A maioria tem bastante bistância alguma sem a mente". A concepção de Berkeley é ainda
franqueza para reconhecer e confessar sua ignorância das causas reforçada por eminente, físico, Sir Arthur Eddington, que tam-
primárias. O s que desejarem que, nestas questões, nos aco- bém define o Universo como uma Ideia existente no espírito
modemos ao senso comum, desejam enredar-nos num perigoso d e . . . Deus! J3jchega até a negar a existência de qualquer "rea-
cipoal. Esqueceu-se de que o senso comum, sobre ser meramente lidade" além da consciência. Os trabalhos em matéria de física
a opinião geral não instruída, é às vezes sinonimo de ignorância e as investigações espíritas de Sir Oliver Lodge definem 9 esní-
comum. rito humano como a realidade única no transitório mundo da
Aonde poderemos então ir para aprender a soletrar as pri- matéria ilusória. Quanto aos nossos desdenhosos teoristas da
meiras letras do abecedário da Vida? Temos que ir lá aonde a matéria, eles rejeitam essa ideia com um piparote, e os homens
humanidade sempre foi, o único lugar aonde se pode ir. Temos de ciência que a adotam passam por charlatães ou doidivanas • §g|
que i r aos Videntes e Sábios. Enquanto_os cie n tistas pesquisavam É bom notar que esses últimos pertencem à categoria dos cien-
0 universo material, em busca de novos fatos, os Sábios pe-squi- tistas conceituados e não admitiriam uma tese tão audaciosa se-
s a v a m s e u próprio ser e sondavam verdades antigas com suas não após um exame sério e acurado. Perm&tindo-me profetizar
mentesT^põís*~3te gãrãm ~a compreender que apenas podiam recu- um pouco, posso dizer que essa coorte de homens de ciência mar*
perar a Sabedoria antiga do homem. O que o primeiro V i - cha inconscientemente nessa direção.
dente descobriu e revelou há milhares de anos, o último deles Devemos, porém, antes de tudo, nos libertar da ilusão oc
descobre e confirma ainda hoje. Mas aquilo que foi descoberto que nossa personalidade tem proporção exata e ideia clara quan-
anotado pelos primeiros cientistas do século dezenove, os úl- to à consciência. Primeiramente, temos de criar em nós uma hõ*
j p p s ridicularizam e rejeitam. Os resultados da Ciência contem- mildade sincera se queremos nos aproximar da Verdade que M&
liberta. Como o inteligente Descartes, devemo-nos pôr no mes- A filosofia, outrora uma Cinderela tão caçoada, começa a
mo estado mental que estava quando êle escrevia numa de suas reabilitar-se. Homens de Ciência tão eminentes como Jeans e
obras: Eddinngton demonstraram claramente a incapacidade da Ciên-
Percebi que, desde a minha infância, tomei uma por- cia física para se chegar à essência das coisas sem o apoio da fi-
ção de coisas por verdadeiras, que hoje considero falsas; losofia.
não tenho motivo para supor que nada seja mais certo
do que a minha conclusão; provavelmente tudo o que pen- Se analisarmos de perto o curso do pensamento científico
sei e em que acreditei era falso. O que então pode ser esti- desde o ano de 1859, quando Darwin publicou aquele famoso
mado como verdadeiro? Talvez uma coisa... nada no mun- livro que marcou a época: A Origem das Espécies, podemos
do é certo. . . seguir a linha reta que, no século X I X , desce profundamente ao
materialismo para em seguida se levantar até a interpretação do
Assim o velho conceito mecanicista da vida, reconhecido Universo mais espiritualizada do nosso século.
desde o século X V I I pelos fundadores da Ciência moderna, Os materialistas que falam a linguagem dos meados da
começa a desaparecer dos laboratórios e salas de aula. Os físicos época vitoriana com o sotaque darwiniano se tornam ininteligíveis
de então, protagonistas do evangelho da Matéria, sentem-se ago- para as gerações mais ativas de hoje, que seguiram a Ciên-
ra incomodamente inseguros ante o fenómeno psíquico. O alar- cia pela via das descobertas revolucionárias de Jeans, Einstein e
gamento do campo das pesquisas demonstrou que a chamada Lodge.
matéria inanimada pode desenvolver certas propriedades que os Quando Einstein demonstrou a singular curva dos ; raios
anais científicos consideravam até agora como inerentes aos cor- solares antes deles atingirem nosso orbe, o prestígio dos oráculos
pos orgânicos. Aí está a tragédia de nossa época. . . experimen- científicos empalideceu um pouco e os homens tiveram receio de
tamos todas as coisas, analisamos cada ideia e a Ciência continua tomar precipitadamente óbvias conclusões. Da mesma forma, a
nos demonstrando a falsidade dos conceitos vigentes. psioclogia de cinquenta anos atrás hoje nos parece mais que de-
ficiente. Só os estudos "psicológicos dos animais invalidam as
* teorias então tidas como válidas.
A nova ordem dos pesquisadores científicos agora liga-
dos aos problemas do tempo e da causalidade, especialmente os
Quando a nave da Ciência dominou os ventos no século físicos matemáticos, nos abrem perspectivas inteiramente novas.
X V I I com a bússtíla cuidadosamente preparada por Bacon, sua
tripulação ficaria estarrecida se lhe dissessem em que estranhas Além do mais, Einstein nos ensinou a considerar o tempo
águas estaria navegando por volta de 1930. Essa nave esteve como a outra dimensão, ainda que tenhamos compreendido to-
encalhada no posto dos primitivos filósofos que declaravam que da a importância dessa ideia revolucionária. E se suas desco-
o tempo dificilmente existe fora do cérebro humano, e que a bertas ulteriores o levarem a algo, o levarão a encarar a mente
matéria é apenas um agregado de partículas infinitesimais num como a última realidade.
éter interprenetrado de todas as coisas. Vivemos numa época de ciência aplicada; o conhecimento
vem em primeiro lugar, a crença é apenas secundária. Observa-
O século X I X levou ao pinácylo a teoria de que a vida é mos cada fato, todos os acontecimentos do mundo, e como há
um produto da matéria. O século X X está efetuando rapida-
uma causa em cada fenómeno, perguntamos: por quê? O tempo
mente uma meia-volta para assistir à dissolução da matéria em
em que uma coisa desconcertante era explicada como sendo da
"eléctrons", mera coleção de partículas eletrizadas que escapam
vontade de Deus ou como provada por intervenção de um anjo,
ao olhar e aos sentidos! O passo desta etapa para o mundo sem
foi já definitivamente abolido. Doravante, a verdade espiritual
matéria do além não está muito longe... intelectualmente fa-
deve apoiar-se numa base científica e jamais temer perguntas; um
lando.
pesquisador honesto não deve ser tratado como ateu e despre-
zado só porque pede provas antes de crer. nalistas atiram suas flechas oratórias? Até agora, o homem de
ciência não encontrou o menor vestígio químico da alma e não
No decorrer das últimas décadas do século X V I I I e no soube anotar, com todo o cuidado como costuma fazer, as v i -
início do X I X , uma constelação de astros literários e científi- brações, com instrumentos como, por exemplo, o regisfiro que
cos surgiu no firmamento europeu e inaugurou a E r a da Razão; marca o consumo de gás. Muito embora êle não tivesse podido
Deus foi expulso, a Razão tornou-se soberana absoluta da filoso- obter reações químicas ou mecânicas da alma, seria uma lás-
fia. Agora é a ciência que goza do privilégio do nosso culto tima se abandonasse esta desconcertante pesquisa quando há
fervoroso; o cientista é o Papa atual da época, sentado no trono um caminho aberto, uma via de acesso pela qual pode fazer essa
do Vaticano da autoridade mundial temporária. Confianàos em descoberta. Ainda que o caminho não seja convencional, se o
suas eruditas revelações com respeito e temor religioso e cremos cientista amasse a Verdade mais que a convenção e colocasse o
em suas pontificais afirmações como outrora quase toda a Euro- mistério da Vida acima do- estudo de um fragmento da rocha,
pa dava fé aos dogmas e cultos da Igreja. dirigiria suas investigaçõe^nessa direção.
Não é minha intenção abolir arbitrariamente ã ciência e O método que estou expondo é antiquíssimo... retrocede
atacar ou depreciar a ampla estrutura dos fatos tão paciente- tão longe na história da humanidade, que sua origem se perde
mente adquiridos. Sinto profundo respeito pelas faculdades in- na névoa dos tempos pré-históricos; não deixemos porém que este
telectuais e o caráter paciente do cientista. Adio que seu trabalho fato se volte contra nós! Porque os antigos, embora crianças no
tem lugar bastante útil e legítimo na sociedade, porém não creio campo da física, eram gigantes no conhecimento das verdades
que esse lugar seja o mais elevado. espirituais; os modernos são mestres no desenvolvimento da ciên-
cia concreta, mas novatos no que diz respeito ao mistério da
A utilidade prática do método científico não pode ser con-
alma.
testada; só os imbecis desprezariam as maravilhas que a ciência *
oferece ao homem, ainda que bem faremos em nos deter e re- * *
cordar a frase sutil de Disraeli: " O s europeus falam do progresso
porque, com a ajuda de algumas poucas descobertas científicas, Ç) grande filósofo alemão Kant disse que h*uia entre to-
r
formaram uma sociedade que confunde a ideia de civilização com das as maravilhas da criação de Deus duas que deixavam para
r
a do conforto. " O fato dç cientista ter focalizado sua atenção no tfás as outras: nma é acima d*», nós ^ a impnsidãn dos céns m
mundo objetivo em nada deprecia o valor das suas descobertas. trelacLos.; a outra, dentro de nós — o espírito do homem. W
Basta agora êle voltar sua tenção para D E N T R O e aplicar os bora as conquistas da ciência sejam tão prodigiosas no mundo
mesmos métodos de pesquisas e deduções ao mundo subjetivo, exterior, neste século podemos esperar descobertas ainda maio-
cancentrar suas investigações no centro. de sua mente, e pene- res no campo da Psicologia. O homem recuará estupefato quan-
trará na esfera espiritual. do compreender, enfim, o misterioso processo que se desenrola
A ciência avançou a passos gigantescos, mas todo seu es- dentre dos seus hemisférios cranianos ! j|
forço e todo seu progresso convergem numa só direção... isto — A P<;irn1ngia istn é a ciência da alm%j é um estudo que ofe-
j r
é, para fora, sempre para fora. As coisas, sem dúvida, deviam rece as maiores recompensas àquele que dela se aproxima com es
ser assim; hoje porém chegou o tempo em que a ciência deve pírito verdadeiramente científico. Nenhum outro assunto é
interiorizar suas descobertas e dar alma às coisas que criou. ignorado como este e no entanto nenhum deles tem tanta im 1
Será a alma um conceito puramente académico, simples tância pelo fato de possuir uma chave para a felicidade mais
palavra de jogo intelectual dos doutos que a afirmam ou negam? funda do homem.
Será apenas um tema de polémicas teológicas para apoiar vito- A s concepções que comumente se faaem a ^ f l
^ p a m e i ^ p o s sacerdotes na sua tese, ou alvo no qual os racio- com o decorrer do tempo vão sair do limbo das obsoletas noç§(i
teológicas para figurar entre as proposições científicas compro- tado para resolvê-los. ..Quando a Ciência tiver conquistado o
vadas, e então a ciência do futuro estará talvez disposta a ser- Universo donde terá desaparecido todo vestígio de mistério, ain-
vir-se da mente como de um instrumento de experiência, tal da_terá que enfrentar o maior dos enigmas: HOMEM CONHE-
f
como hoje se utiliza do microscópio. O que se considera hoje C E - T E A T I MESMO! f
devaneios absurdos de alguns místicos estonteantes, futuramente Eu teria gostado de viver em Atenas no tempo em que ao
fará parte das verdades controladas da ciência parapsicológica, perambular pelas praças públicas se ouvia um homem de nariz
proclamada sem reservas publicamente. adunco e humor mordaz, um tal Sócrates, interpelar cidadãos e
Ninguém que tenha seguido de perto o esforço e os lon- fazer-lhes em várias ocasiões sua pergunta favorita. Um homem
gos tateios da Ciência, duvidará que o século X X virá desven- como Sócrates não morre e seu admirável génio sobrevive ao
dar algo desse mistério. Já na primeira década, o cérebro perspi- túmulo.
caz do francês Bergson lançou esta profética mensagem: "Explo- Mesmo que tivéssemos estudado toda a literatura e exu-
rar as profundezas mais secretas do inconsciente e trabalhar no mado todos os antigos papiros, não encontraríamos o preceito mais
subsolo da consciência será a principal tarefa da Psicologia no sábio do que o oráculo de Delfos: "Conhece-te~a-tL mesmo"^ e
século que se inicia e não duvido que ainda nos esperam ma- o que exortavam os rischis da índia: "Busca ern.Jtea mtenor".
ravilhosas e mais surpreendentes descobertas nesse terreno." Embora sejam palavras mais antigas do que as múmias do Mu-
seu Britânico, poderiam ter sido escritas numa máquina de es-
Um outro cientista de destaque, Eddington, declarou ser o
crever de um pensador contemporâneo. Os séculos jamais po-
Universo físico pura abstração se não for unido à consciência. derão matar a Verdade e o primeiro homem que a proferiu fará
Agora a mente não pode mais ser considerada um mero produ- ressoar o eco ininterrupto até o fim dos tempos.^
to da matéria. O passo seguinte que os cientistas devem dar é
investigar o fenómeno da consciência, investigação que foi ridi-
cularizada há meio século por Huxley, que considerava tais fe- * *
nómenos como simples sombras oriundas de fenómenos reais.
Vivemos num globo que turbilhona vertiginosamente no
Esta exploração do mundo interior merece com efeito sèr espaço e cuja posição está marcada em algum lugar do grande
tentada, porquanto há algo na mente do homem e do animal que céu entre Vénus e Marte. Há neste fato alguma coisa que pro-
não é a inteligência nem o sentimento, mas é algo ipujtQ-Supe- voca o riso, mas que também dá o que pensar. Embora a dis-
rior, a que se pode aplicar o nome apropriado :£a INTUIÇÃO^ tância que nos separa desses dois astros seja tão imensa que
Quando a Ciência poderá explicar realmente por que o cavalo não confunde a imaginação, o homem a calculou com uma exatidão
perde a rota e leva seu cavaleiro embriagado, durante horas, às surpreendente e no entanto esse homem é incapaz de medir o
escuras, até encontrar o caminho de volta à casa? Por que alcance da sua própria mente! Êle é um mistério para si pró-
as topeiras se fecham em suas tocas antes da chegada do inver- prio, um enigma que permanece insolúvel até a hora em que
no? E por que os carneiros correm para os abrigos antes da bor- o frio abraço da morte chegue, gelando seus ombros...
rasca? Quando a Ciência nos disser quem avisa as tartarugas pa-
ra se recolherem ao seu abrigo antes do aguaceiro, e quando pu- -Não há nisso uma ironia? Pensar que a alma do homem é
der realmente nos esclarecer quem guia a ave de rapina até o menos acessível às pesquisas do que a terra onde mora! Não
animal morto a vários quilómetros de distância... então sabere- é surpreendentemente estranho que o homem esteja tão absor-
mos por que a intuição é bem melhor guia do que o intelecto. A vido em estudar a face do mundo que só em época relativamen-
Ciência arrancou do seio da Natureza muitos segredos surpreen- te recente haja pensado em conhecer o mundo que está nele? t
dentes, mas ainda não descobriu a origem da intuição. i Por que se preocupa êle tanto com a marcha do universo
que, além do mais, não cabe a êle dirigir, enquanto élc deve
O intelecto capaz de expor um número de problemas que
dirigir-se a si mesmo? »
dizem respeito ao Homem, a destino e à Morte, está incapaci-
Í
O sistema solar gira muito bem sem tua ajuda. gir um compêndio sequer que trate do mistério do seu próprio
Vtvet Morrei O universo não se alarma, nem se altera.. ser? E por que razão o que mais nos interessa é a nossa pró-
escreveu Z a n g w i l l , o inteligente e sábio pensador. pria pessoa? Porque a "pessoa" é a única realidade da qual
O homem porém não aprecia muito essa verdade mordaz, estamos certos. Todos os fatos da vida que nos rodeiam, todos
os pensamentos íntimos do nosso ser só existem para nós quando
porque sabe mais coisas sobre o funcionamento do seu automóvel
o nosso " E u " os percebe. O " E u " vê a terra — então a terra
do que do seu próprio ser. No entanto, os antigos ensinaram e existe; o " E u " está consciente de uma ideia — então essa ideia
sábios do nosso tempo confirmaram que no imo da consciência existe.
existe u m veio de mais.puro quilate, veio de ouro resplandecente! Barkeley, por um agudo processo mental, chegou às mes-
Não será então mais sábio se fizermos dessa busca nosso pri- mas conclusões e demonstrou que o mundo físico não existiria
meiro cuidado? se não houvesse mente para percebê-lo.
Comparados outros resultados já obtidos, a Ciência tem O que é exatamente esse " E u " ?
pouca noção no que diz respeito ao homem. Descobriu como ^Não há um segredo no misterioso livro da Natureza que
temperar metais, lançar bombas de meia tonelada sobre cidades não possa ser decifrado com o tempo e a paciência. Não existe
vizinhas e m i l outras coisas de menor relevância. A descoberta um cadeado que não possua uma chave correspondente para*
da Física conheceu, durante os três últimos séculos, uma acele- abri-lo; portanto, podemos julgar a habilidade da Natureza pelo^
ração estupenda, enquanto o conhecimento sobre o homem per- génio do homem^
manece ainda na retaguarda. Sabemos construir pontes gigan- O estudo do " E u " revelar-se-á um dia como chave-mestra
tescas que atravessam rios volumosos, porém não sabemos dar de todas as portas filosóficas, abrindo os cofres de todos os pro-
blemas científicos, de todos os mistérios e de todos os enigmas
u m passo para resolver esse simples problema: Q U E M S O U
aparentemente insolúveis da vida. O " E u " é a última essência. I ,
I E U ? Nossas locomotivas percorrem terras do mundo inteiro, mas a primeira noção que temos de nós e será a derradeira que co-
nossa mente não sabe transpor o mistério do homem. Astrónomos nheceremos ao chegarmos a ser sábios.

chegam a captar com a objetiva de seu telescópio as mais distan-
A verdadeira sapiência, a luz do intelecto, nos vem de den»
tes estrelas, mas se nós lhes perguntássemos se conseguiram do-
tro da esfera do " E u . " Não podemos conhecer o mundo e sa-
m i n a r suas paixões, em resposta baixarão a cabeça, confusos. So-
ber acerca das coisas senão através de certos instrumentos e dos
mos cheios de curiosidade em saber tudo a respeito do nosso pla-
nossos sentidos. Todavia, quem os interpreta e os utiliza é o
neta, mas ficamos indiferentes quando se fala do nosso eu pro-
nosso " E u . " Somos portanto obrigados a reconhecer que o es-
fundo.
I
tudo do " E u " é o mais importante ao qual um pensador deve de-
Temos acumulado informações extremamente minuciosas
dicar-se.
sobre cada coisa que vemos, conhecemos, e sobre o funcionamen-
to, a qualidade e a propriedade de todos os corpos e fenómenos U m sofista, aproximando-se um dia de um sábio da Gré-
terrestres. Mas não nos conhecemos a nós mesmos! Até aque- cia antiga, queria confundi-lo com perguntas embaraçosas; mas
les que se aprofundaram em todas as ciências existentes ignoram de Mileto mostrou-se à altura da prova e respondeu a todas as
os rudimentos da ciência do " E u . " Os cientistas que descobriram perguntas sem vacilar, com a maior exatidão. Eis as perguntai;
o porquê e o como da vida dos micróbios não conhecem o por-
1 . 1 Qual é a coisa mais antiga? /
quê nem o como da sua própria existência! Sabemos o valor de
Deus — porque sempre existiu. 0^
cada coisa, mas ignoramos nosso próprio e inestimável valor!
2. Qual é a coisa mais bela?
Enchemos enciclopédias de milhares de páginas com mi-
O Universo — porque j a obra de Dem.
glhões de informações sobre todas as coisas, mas quem pode redi-
32 t
i s coisas é a maior?
O Espaço — porque contém tudo o que foi criado.
4. Q u a l das coisas é a mais constante?
A Esperança — porque perdura no homem mesmo
depois de ter êle perdido tudo.
5. Qual é a melhor das coisas?
A Virtude — porque sem ela nada pode ser bom.
6. Qual é a mais rápida das coisas?
O Pensamento — porque em menos de segundo per-
O MISTERIOSO SUPER-EU
corre o Universo.
7. Qual é a mais forte de todas as coisas? Afastado, não obstante perto, indiri/oelmente velho e soli-
A Necessidade — porque faz o homem enfrentar to- tário, tem seu trono no santuário mais recôndito do tem-
dos os perigos da vida. plo interno; com as mãos de palmas juntas e semblante
divino: é o Onisdente, o Insondável, o Incognoscível.
8. Qual das coisas é a mais fácil de fazer?
G . F . Williamson
Dar conselhos.
Porém, quando chegou à nona pergunta, o sábio deu a res-
posta paradoxal, cujo sentido profundo — tenho certeza — ja-
mais foi compreendido pelo interlocutor imbuído do saber in-
SANTOS e sábios, pensadores e fi-
lósofos, sacerdotes e cientistas — todos eles, no decorrer dos
telectual, bem como para a maioria das pessoas terá apenas um séculos, tentaram decifrar a enigmática natureza da alma humana.
sentido superficial. Descobriram no homem um ser paradoxal, capaz de baixar aos
• A pergunta foi esta: abismos mais profundos da perversidade e contudo suscitível de
— Qual das coisas é a mais rtiffnl dr rralfcnr? elevar-se aos cumes mais sublimes da nobreza. Encontraram nele
duas criaturas: uma, aparenta os demónios, outra, próxima dos
E o sábio rAcpr^fj^ anjos. O homem está tão admiravelmente constituído, que po-
"Conhecer-se a si mesmo." J de arrancar de sua própria notureza coisas mais adimiráveis co-
Esta foi a mensagem dos sábios dirigida aos homens igno- mo as mais hediondas.
antes pelos antigos sábios; esta é também a mensagem da nos- Somos porventura simples blocos de matéria animada? Não
sa época. terá o homem berço superior ao da carne? O u talvez sejamos
entidades espirituais, belas e radiantes, saídas do seio de Deus e
temporariamente alojadas nos corpos que nos limitam?. j | O u ,
como pensa muita gente, nada mais somos do que macacos aper-
feiçoados, de traços feios que revelam nossa descendência, ou
como alguns acreditam, nada menos do que anjos decaídos?
* Devemos fatalmente ser presas indefesas do Tempo, desti*
nados apenas a surgir em qualquer obscuro canto do planeta para
desaparecer em seguida?
"Quando olho em volta de mim, só percebo discórdias, con- me proponho indicar aqui um outro mundo, que tem sido ex-
tradições, distrações. Quando olho para dentro de mim, só vejo plorado por uns poucos, mas permanece ignorado da maioria.
ignorância e dúvidas. Quem sou eu? De que causa deriva mi* Não faz muito tempo os geógrafos negavam existência a
nha existência? E m que condição retornarei depois? Estou grande parte do mundo. O conceito de uma vasta América des-
confuso e impotente diante de todas essas interrogações angustio- conhecida era então uma das coisas das quais se ria abertamente.
sas e parece-me estar envolto por todos os lados em trevas den-
sas" — escreveu o cético pensador David Hume. Tal tem sido também o caso da noção comum de que aqui-
Ê possível obter uma solução satisfatória a esses problemas lo que presentemente vemos do homem — sua forma carnal —
tão perturbadores? O homem lança perguntas à face da Vida e representa tudo o que êle é e tudo o que nós também seremos.
Esta noção é muito mesquinha, porém muitos, senão a maioria, a
depois espera... e espera... mas não acha nenhuma resposta
consideram verdadeira e encaram a possibilidade de sobrevivên-
até que baixa ao túmulo. Não obstante, os deuses concederam-lhe
cia depois da morte como algo ridículo. Abanam a cabeça e de-
inteligência, faculdade que, embora fracasse ao enfrentar o gran-
claram que não podem compreender o mistério do Espírito, mas
de enigma do Universo, o capacita a descobrir a verdade sobre
prontamente aceitarão a matéria cuja essência, no entanto, não
seu próprio ser.
é menos misteriosa. Proponho-me demonstrar a essas pessoas
Estes são os problemas vitais cujo mistério perturbou ses- que se equivocam ao pensar que a condição da mentalidade
senta gerações de sábios e continuará a inquietar ainda outras humana represente a sua última etapa. É bem verdade que no
mais. As penas mais fluentes, as linguagens mais prolixas e os homem há regiões obscuras e turvas onde rastejam criaturas es-
cérebros mais perspicazes procuraram sondar esse mistério e a tranhas e abjetas; mas também existem nele lugares radiantes
humanidade continua andando às cegas em busca da resposta donde a alma emprende rapidamente seu voo. O psicanalista
que tarda.. .—. • que descobre apenas as primeiras... é porque isso é o que es-
# O homem — imagem da dúvida e desespero — marcha tava buscando.
titubeando pela solidão glacial do mundo e ri cinicamente ante
o nome de Deus^O desespêrojporém é o filho infausto da igno- ir *
rância!^
Deus acendeu uma faísca da Sua Luz divina no coração de Nas tradições orais que nos foram legadas por nossos an-
cada criancinha recém-nascida e essa Luz deve ser acessa. Ocul- tepassados através de toda a literatura mundial, desde os pri-
tamo-la tanto em espessos envoltórios de ignorância que não a meiros manuscritos arcaicos do Oriente até as nossas mais re-
enxergamos mais e no entanto precisamos desvendá-la. Nenhum centes edições modernas, há sempre uma estranha e persisten-
clamor de coração sincero é dado em vão, e se nossa prece for te alusão velada à existência de um "outro eu" no homem. Se-
como ela deve ser — o Deus do nosso próprio coração nos ja qual for o nome que se dê a esse estranho " e u " , quer seja
responderá. ||| alma, sopro, espírito ou fantasma — pouco importa; vale mais
O homem comum lança seus tentáculos à Vida, tateando saber que não existe no mundo uma doutrina de origem tão
em seu caminho à procura de algo que não compreende bem. remota.
Mas percebe que, quando começa a aplicar sua inteligência na so- É sabido que além de certos limites preestabelecidos a cons-
lução do problema de si mesmo — automaticamente resolve os ciência não pode funcionar. Mas nem todos sabem que pode
problemas paralelos de Deus, da Vida, da Alma, da Felicidade, haver alguns intrépidos que desempenharam o papei do rei
etc. Canuto e ordenaram às águas turbulentas do pensamento que
A raça branca palminhou toda a superfície da Terra em bus- retorocedessem até o ponto em que a consciência transcendesse o
a de Novas Américas até que hoje não há praticamente um me- limite normal e se encontrassem nos mundos livres do espírito.
tro de terra onde o homem não tivesse pisado. Entretanto, eu
Estas afirmações da experiência feita por Videntes espiri-
tuais devem ser bem examinadas. O u não passam de sandices era a grandeza da revelação recebida a portas fechadas e vigia-
de lunáticos irreparáveis ou são palavras de tal importância que das.
põem por terra a presente base materialista de nossa vida. Não Ao terminar as solenidades dos Grandes Mistérios, as úl-
creio que seja de muita utilidade averiguar a origem dessa dou- timas palavras ouvidas pelo iniciado eram: Vai em paz! Descre-
trina, porquanto a Verdade é universal e surge simultaneamente vendo suas experiências, os próprios iniciados diziam que a par-
nos cérebros do mundo inteiro, inspirados na mesma Fonte mis- tir desse momento seguiram seu caminho da vida com alma se-
teriosa donde nascem os pensamentos. rena e mente tranquila. A iniciação nada mais era realmente do
que entrar na percepção daquilo que o candidato de fato era.
Podemos às vezes apreender mais lições e mais verdadeiras
Completava a sua formação de homem e quem quer que não a
estudando a Natureza do que lendo livros. A o contemplar um houvesse experimentado era em verdade apenas meio-homem.
verme perfurando u m tronco de madeira, o homem aprendeu o Alguns fragmentos, os pálidos reflexos do que se ensinava nos
princípio da construção dos túneis; hoje, graças a essa simples velhos templos, estão contidos neste volume; procurei porém
observação, os trens correm debaixo de rios e atravessam mon- formular essas antiquíssimas verdades numa linguagem que pos-
tanhas de sólida rocha. sa atrair o homem moderno, falando-lhe delas do ponto de vis-
fi assim que os primeiros Grandes Sábios, observando o ta da sua aplicação na vida prática. A chave do segredo dessa
movimento dos pensamentos da sua própria mente, descobriram antiga instituição dos Mistérios nos foi dada por Plutarco quan-
do escreveu: Os iniciados, no momento da iniciação nos Gran-
(
que 'algo' estava em ação quando o pensamento cessava. Esse
des Mistérios, sentem as mesmas impressões da alma na hora
4
algo' era a primeira insinuação da alma de cuja descoberta nas- da morte"
ceu a ciência que os antigos começaram a ensinar aos homens,
como u m meio de conhecerem a verdade sobre si mesmos. Os eruditos não conseguiram chegar a uma conclusão de-
finitiva quanto à finalidade exata da Grande Pirâmide, essa gi-
T a l ciência foi transmitida por métodos diversos em qya-
gantesca estrutura de pedras cujo interior reflete a quietude eterna
se todas as civilizações pré-cristãs, na Suméria, Egito, Babiló- dos desertos calcinantes do Egito. E como nos últimos tempos os
nia, Caldeia, China, Pérsia, índia, México; entre os índios da ritos funerários dos faraós eram ali celebrados, os historiado-
América do Norte, maias da América Central e os desventura- res chegaram à conclusão, aliás muito natural, ainda que errónea,
dos astecas, assim como entre os judeus da Fraternidade Essê- que essa edificação maravilhosa teria sido planejada com o in-
nia e os gnósticos das cidades mediterrâneas. tuito de servir de túmulos dos reis. Seu verdadeiro propósito,
Contemplando as majestosas ruínas da Grécia antiga, vêem- no entanto, era bem mais elevado. Os candidatos à experiência
-se de pés as imponentes fachadas esburacadas e colunas esfacela- mística, chamada iniciação, vinham ali submeter-se à experiência
das pelo tempo, os restos do famoso Templo em que outrora fo- que os capacitava a obter libertação temporária das limitações
ram celebrados com grande cerimonia sob a égide de Atenas do corpo e pôr-se em contacto com o eu no homem, entre outras
os célebres Mistérios de Elêusis. Poucos são, todavia, aqueles coisas. A experiência era realizada por intervenção externa, por
meio do poderoso auxílio dos sumos sacerdotes de então
que hoje entendem o que se passava exatamente atrás das pare-
des do santuário. A iniciação nesses Mistérios era considerada Quem for ao Museu Britânico, verá ali uma gigantesca
pelos antigos assunto de grande importância, enquanto o homem figura de pedra, trazida há muitos anos por um navio da Ilha
moderno mal lhe conhece o mero significado da palavra.^ Homens Oriental, na altura da costa da América do Sul. Examinando
como Alexandre de Macedónia e Júlio César não vacilaram em bem o dorso da estátua, notar-se-á darainteét^ talhada tttna
submeter-se a essa experiência sublime e inesquecível, saindo cruz de asa. É idêntica a Cruz da Vida ou Gra l Ànsata, qjue
dela fortalecidos, prestes a desempenhar com absoluta consciên- apareceu com tanta frequência nas antigas imagens j o m
cia o papel que lhes fora designado pelo Destino a cumprir, tal as deidades representadas a trazem na mio e à qual se refere
como sendo a C H A V E DOS MISTÉRIOS. Não há nisso ape- nalmente, vi-me forçado a testemunhar que a sabedoria dos
Tias uma simples coincidência, mas uma indicação bastante clara antigos não é uma coisa imaginária. Descobri, em vez de quimé-
de que os Mistérios não eram ignorados pelos povos de outro ricas invenções de alguns cérebros doentios, doutrinas tão estu-
lado do Atlântico. pendas que nós que vivemos e trabalhamos no ensurdecedor e
Existem, aliás, na América Central, edificações estranha- impiedoso mundo de hoje lhes devemos dar fé.
mente similares à da grande pirâmide do Egito, exceto seu in- A mente contemporânea não atende aos sábios conselhos dos
terior, mas cuja finalidade místico-religiosa era a mesma. As antigos para resolver seus problemas e assim perde verdadeiros
práticas estranhas que ali se desenrolaram eram iguais numa e tesouros acumulados; e é possível que a meditação desses sábios
outra e as que foram oficiadas no Templo de Elêusis na Grécia possa dar ainda muitos frutos aos estudiosos da cultura mo-
tiveram os mesmos resultados às do Peru ou do México. Natu- derna. Podemos cortar os liames que nos prendem às grandes
ralmente, havia vários graus de iniciação; contudo, os candida- filosofias de outrora, mas sendo elas baseadas nos princípios eter-
tos que logravam o primeiro grau tinham tais revelações do mun- nos em que se apoia todo verdadeiro pensamento, mais cedo ou
do inexplorado que ao voltarem à vida rotineira agiam como ho- tarde seremos forçados a elas recorrer. A filosofia perde seu poder
mens e mulheres transformados. Durante os momentos passa- quando os demasiadamente intelectualizados a reduzem a meras
dos no santuário, abriam-se-lhes os olhos e a verdade lhes era discussões; retomará seus legítimos direitos quando nas almas
desvendada ao contacto com o seu mais recôndito ser. sofisticadas da nossa época despertar a necessidade de algum pon-
Se essa experiência íntima foi possível no século X antes to de apoio mais seguro do que este que oferecem os ensina-
da E r a Cristã, não há razão para que não o seja no século X X mentos confusos de hoje.
depois de Cristo. A natureza F U N D A M E N T A L do homem não Há no homem algo mais do que o revelam as impressões
mudou nesse intervalo, embora sejamos obrigados a admitir que comuns. As descobertas da Psicologia experimental têm levado
a vida de outrora, mais tranquila e menos complicada, favorecia a interessantes conclusões a este respeito, e confirmado inumerá-
as experiências, tornando mais fácil o seu aprendizado. veis relatos da experiência mística. Que é esse "algo mais" no
Será esse " e u " oculto uma imaginação louca, vaga quimera homem, que o faz defender esplêndidos ideais e conceber nobres ^
de alguns visionários, cuja fama milenar nos foi transmitida atra- pensamentos? Que presença espiritual dentro de seu coração o
vés da história? Os elos que ligam essa longa cadeia de tradição instiga a afastar-se da existência banal, puramente terrena, e tra-
espiritual não terão vínculos mais fortes do que uma simples su- var uma luta constante entre o anjo e a besta que habitam em seu
corpo?
perstição?
Quando nos dizem a nós, homens do século X X , que Deus
Esses mesmos enigmas que hoje nos atormentam, inquieta-
vam também Babilónia, para citar apeíias um exemplo da civi- não é apenas uma simples palavra sobre a qual se argumente e
lização passada. Se os pensadores daquela época chegaram a con- discuta, mas U M E S T A D O D E CONSCIÊNCIA que podemos
clusão idêntica, em sua essência, à dos sábios da Índia, China, realizar agora, em carne, levantamos os olhos, surpresos. Quando v
Egito, Grécia e Roma antiga, valerá talvez o trabalho de investi- se nos afigura a existência de alguns seres que vivem entre nós *
gar essa questão. Pode ser que o resultado de tal exame ou forta- e viram Deus — tocamos a cabeça num gesto significativo.. • e,
leça a nossa posição atual e enfraqueça suas doutrinas secula- ademais, se nos asseguram que temos o Divino dentro de nós e
res, ou talvez desmorone nossas crenças tão cuidadosamente sus- que a Divindade é o nosso verdadeiro Ser, sorrimos, indulgen- ^
tentadas, confirmando a exatidao dos axiomas dos antigos. E tes mas desdenhosos, tomando ares de superioridade/
a investigação é a única que realmente interessa. <^ ^ No entanto, isso nao é nem teoria, nem sentimentos: é uma
E u mesmo me empenhei em averiguar, não sem dificul- certeza inegável, evidente e absoluta para aqueles que se adian-
dade, o que havia de verdadeiro por trás dessas doutrinas. F i - taram um pouco no caminho da percepção espiritual .^^^
40 41
Diante da serena Esfinge, símbolo do verdadeiro ensina-
mento espiritual, o ocidental arregala os olhos, perplexos. Êle Será blasfemar contra Deus divinizar assim o eu? Só os espí-
pode construir navios de dimensões descomunais, inventar mais ritos superficiais poderão formular semelhante acusação, porque
surpreendentes máquinas, transformar nossos lares em mil ma- a verdadeira alma do homem é divina e não pode haver nisso
ravilhas, dotando-os de aparelhos que facilitam e alegram a exis- nenhuma atitude blasfematória.
tência; entretanto, é incapaz de fazer uma coisa tão simples: com-
Temo-nos esquecido do nosso " e u " espiritual que, entretan-
prender o significado da vida! Ê também certo que as cruéis an-
to, nunca nos esquece na sua eterna vigília. Por que será que o
gustias da vida os golpeiam impiedosamente a ponto de esque-
homem sente a nostalgia da religião? Por que amamos a nós
cerem o que são. Podemos trocar nosso parentesco com o mesmos e institntivamente aspiramos à união com o nosso ver-
símio, e com requinte de detalhes e de provas demonstramos dadeiro ser?
essa triste linhagem, porém somos incapazes de nos lembrar do
nosso parentesco com o anjo. O género humano tem a idade que desafia a imaginação;
inúmeros seres, homens, mulheres e crianças que surgiram no
Contentamo-nos em colocar nos altares alguns homens do decorrer dos "eons" em nosso planeta, depois de haverem desem-
passado remoto, dando-lhes a exclusividade da vida espiritual e penhado seu papel, desapareceram, sumindo-se no sono eterno.
banir o resto da humanidade às baixezas cheias de lôdo.jDbfldas Os maiores cérebros, intelectos mais brilhantes do nosso tem-
mos nossa própria natureza divina! Por que não podemos nós po, pesquisam afanosamente, em documentos deixados pelas
também nos aproximar do Cristo, ser semelhantes a Buda ou raças de outrora, vestígios de civilizações desaparecidas e se-
conquistar a sabedoria de Platão? É evidente que o podemos! gredos de um passado fértil em cataclismos. O visionário po-
Mas se não cremos nisso apaixonadamente, correremos o risco de
rém sorri apenas dos adimiráveis e patéticos esforços emprega-
permanecer no estado semelhante ao dos animais.
dos na reconstituição intelectual de um passado, que desafia a
Mas que estás a fazer agora, razão por se estender ao infinito... Segundo as palavras pitores-
Procurando Deus, mas gritando: cas de Sulpício a Cícero: "todas as coisas são lançadas por um
**Eu sou eu, tu és tu; decreto do implacável Destino nas fauces abertas de um olvido
E u sou o ínfimo, tu és o máximo? *
9
E u sou tu, aquele que buscas descobrir. eterno."
Descobre-te a ti mesmo; tu és eu. Se seguirmos os videntes pelos eons agora penetrando nas
ô filhos meus! tão solícitos
Pelo Deus fora de mim, mais sombrias regiões da antiguidade pré-histórica, atingiremos
Não seria eu bastante formoso? um período em que o homem eliminava inteiramente o seu cor-
Seria difícil libertar-se? po de carne e habitava uma forma eletromagnética, um corpo
Contemplai, pois; eu sou convosco radiante de éter. Recuando ainda mais, notaremos uma mudan-
E m vós e de vós;
Observai agora e vede. ça produzir-se em sua natureza interna, em que as paixões, emo-
ções pessoais, todos os sentimentos e desejos, medo, repulsa, ódio,
Hertha, por Algernon C . Swinburne
cobiça, luxúria e inveja desapareceram totalmente. Mas em sua
• consciência ainda atuavam pensamentos, que levantavam ondas
na superfície da sua mente e se ligavam à sua vida pessoal. F
assim o fazemos recuar a uma época em que predominam os pen-
samentos serenos e desaparece a necessidade de pensar numa se-
Alguns expressarão desdém por essa filosofia egocêntrica.
A esses responderei, não com minhas palavras, mas com as ins- quência lógica para adquirir compreensão. Não apenas êle r
piradas palavras do visionário alemão Eckhardt: "Deus está no tinha mais necessidade da faculdade raciocinadora. mas esta se
centro do homem." lhe tornara até um obstáculo,^ O homem havia alcançado a
condição nua do puro Espírito. Talvez tudo isto seja mais
fácil de compreender se dissermos que a raça humana, no de- Juro que para mim hoje nada vale tudo
correr da sua tão extensa história, superpôs um segundo " e u " à o que ignore o indivíduo...
natureza individual com que todos os homens principiaram sua Toda a teoria do Universo se dirige
infalivelmente a um só indivíduo, isto é, a ti.
perigrinação. Este segundo e u " , geralmente chamado pes-
c<
soa, veio à existência através da união do espírito e matéria,
E mais um poema de Whitman, intitulado: A Ti:
através da mistura de partículas da consciência do " E u " real,
sempre consciente, com as partículas de matéria inconsciente, ex- Oh! que de grandezas e glórias poderia eu cantar sobre til
traídas do corpo. Este segundo e último eu é aquele que todos Nunca soubeste o que és; toda a tua vida dormiste sobre
conhecemos, o eu pessoal; mas o primeiro e real eu, que existia ti próprio.
Não és as aparências ridículas;
antes que o pensar e o sentir aparcessem dentro do ser huma- Embaixo e dentro delas te vejo oculto.
no, é aquele que poucos conhecem, que é sutil e não tão evidente, Tudo quanto és, vindica-o tu próprio.
porque nos torna a todos partícipes da natureza da divindade.
Êle vive sempre sobre nossas cabeças, é um ser angelical de ini- Há na vida momentos inesquecíveis em que recebemos do
maginável grandeza e misteriosa sublimidade, e por isso o cha- nosso Super-eu insinuações de uma existência superior, que é
mo Super-eu. possível para o homem. E m tais momentos se abre a nossa
mansão da vida e nela penetram os pálidos raios da aurora. Então
• Por detrás do homem que vemos há um outro ser oculto;
sabemos que os sonhos da alma podem chegar a ser realidades:
por detrás desse corpo carnal vive a consciência resplendescen- que o Amor, a Verdade eja Felicidade são de fato nossa legí-
te e pura. tima herança; mas, aí! o momento fugaz desaparece e com êle
Esta doutrina do verdadeiro " e u " no homem foi admira- a té. De nenhuma valia são então para nós esses brilhantes rap-
velmente definida por um dos antigos videntes da índia: "Invisí- tos e uma existência mais divina? Deixemo-los permancer so-
vel, mas vendo, não ouvido, mas ouvindo, inapercebido, mas per- mo "colunas de nuvem durante o dia, e colunas de fogo du-
cebendo, desconhecido, mas conhecendo... Esse é o teu E u , rante a noite", para nos guiarem através do deserto de nossos
o governante interno, o imortal." tempos modernos.
O materialista jamais se cansa de nos repetir quão tolo Estas ténues e imponderáveis intuições que vêm ao homem
é o visionário que tenta agarrar as nuvens, e o Super-eu sentado em seus mais felizes momentos são semi-sussuros ouvidos de
seu E u maior. O chamado espiritual está sempre tentando fa-
no coração do zombeteiro sorri tolerantemente de toda sua ta-
lar ao coração humano, mas nós não escutamos. Os impulsos es-
garelice lógica,.
pirituais que brotam dos corações dos melhores seres humanos
Ifc-HNas profundezas mais íntimas do nosso ser é que vivemos constituem o melhor sinal de uma possibilidade superior para
a vida real, e não na máscara superficial da personalidade que toda a raça.
mostramos. É mais importante o ser vivente do que sua casa O homem, tol como é, tal como sempre foi a será por tò-
de pedra e da a^tefmdide. é um Ser espiritual. A V™ ** |HB
m Rgna
ín^aitnericano, Walt Whitman, poeta entusiasta, perce- nal não desmente essa afirmação. Os sentidos que pertencem ao
beu a verdade à sua maneira, às vezes algo confusa, e a expressou mundo sensorial físico mantêm o homem cativo sob sugestão hip-
assim no Leaves of Grasse, em versos soltos: nótica e, como são muito reais, à sua maneira nos fazem confun-
di-los com o seu verdadeiro Ser, que êle realmente é. O céu
Juro que começo a perceber o significado dessas coisas. nos rodeia não apenas nos inocentes dias da infância, mas em
Não é a terra, não é a América, que é tão grande, cada instante da nossa vida, ainda que não o notemos. Alguns
Sou eu quem 1 grande ou o será. •. estão tão perto dessa verdade, que inconscientemente esperam
Abaixo do tudo, o indivíduo.
pelo momento milagroso em que lhes será plenamente revelada;
basta falar-lhs com o tom apropriado, logo a esperança ilumina
suas almas. _]àgsg_espcrança é a Voz silenciosa do Super-eu.
Há neste fato uma espécie de ironia: que o próprio eu do
homem — sua verdadeira natureza — se tenha tornado um se-
gredo em nossos d i a s . . . WÈ
O homem percorre as poeirentas estradas da vida como CAPÍTULO IV
aquele viajante dos tempos antigos, que passou os anos vagando
por países estrangeiros em busca de um raro tesouro de que ou- A PRÁTICA D O REPOUSO MENTA L ^ S ^ ^
vira falar, enquanto durante todo aquele tempo êle esteve sendo
procurado como o herdeiro de uma imensa fortuna. Oculto no
âmago mais recôndito da nossa natureza, existe uma jóia de ines-
timável valor e beleza, da qual nada sabemos; ninguém se atre-
verá a avaliá-la, porquanto sua estimação está acima de todos os M A NATUREZA, a soberania per-
valores conhecidos. tence às forças silenciosas. A lua não faz o menor ruído e, não
obstante, arrasta milhões de toneladas de água do mar no vaivém
Devemos pois procurar humildemente esse Super-eu atra- obediente ao seu comando; não ouvimos o sol se levantar, nem
vés de todas as gamas de nossos movimentos íntimos, remon- as estrelas se ocultarem. Assim, a aurora da nova vida surge si-
tondo tão longe quanto possível. Somente então veremos que lenciosamente no homem, sem que nada a anuncie ao mundo.
o corpo e o intelecto são apenas os instrumentos que nos possi- Só na quietude pode o conhecimento do Super-eu manifestar-se.
bilitam a percepção de algo maior — testemunho silencioso, fon- O deslizar da jangada mental sobre as águas do espírito é o pro-
te da paz indizível, sabedoria absoluta e vida eterna — o Su- dígio mais suave que conheço, muito mais silencioso que o cair
per-eu do homem. do orvalho noturno...
Nós, homens deste século prático, temos confiança limitada * Somente em profundo silêncio interior podamos ouvir a
no que diz respeito às ideias abstraías; negamos " a priori" todo yoz_da alma^ os argumentos a ocultam e o excesso de palavras
sistema teórico sem o sólido apoio na matéria. a_ensurdece e abafa. Ao apanhar o peixe, podemos repar-
Se me perguntarem: "Possui o senhor um método prático ti-lo, mas enquanto pescamos, o falar rompe o encanto e afugenta
para chegar-se a esse autoconhecimento que tanto louva? O u o peixe. Se conseguirmos dar menos atividade à laringe e maior
será apenas mais uma doutrina de especulação mental, ornamento atenção às atividades profundas da mente, chegaremos a ter algo
para fachada de algum conceito metafísico, sem nenhuma utili- realmente valioso a dizer. A palavra é um auxílio e não uma obri-
dade prática para os homens que trabalham, amam e sofrem? gação. S E R é o primeiro dever do homem,
Não será mais um sonho fantasmagórico incapaz de enfrentar as A vida nos ensina silenciosamente, enquanto os homens
realidades da nossa vida de cada dia?" instruem em voz alta.
Assim, sem mais delongas, indicarei ao leitor um caminho A preciosa descoberta do verdadeiro E U dentro de nós só
de investigação que poderá seguir e, se o levar a bom termo, res- pode ser feita quando a mente estiver em repouso; as palavras
ponderá por sua vez e com plena convicção às perguntas que dan- \Qtf apenas confirmam a realidade, mas não a explicam e jamais a po-
tes me atormentavam e que talvez sejam as mesmas que hoje derão explicar, pois a Verdade é um E S T A D O D^i SEB * nao
o atormentam. uma torrente de verbosidade. O argumento, por mais inteligen-
te que seja, não substitui a realização pessoal. Devemos expe-
4t
rtmentar se quisermos viver a experiência. A^palayrâJ^pe^w ,,
não terá sêaíido para ipíin antes de^onseguu^D^me^m çon :
própria. • Deus é seu próprio e o melhor intérprete. Encontrai
toctg_cgm_Q_Ahsoluto Deus dentro do vosso próprio coração e comprendereis. por in-
indu£^^ tuição áiTeta, o que todos os grandes instrutores, todos os ver-
dadeiros místicos, todos os autênticos filósofos e homens inspira-
U m pouco de prática leva muito longe; uma série de con- dos—tentaram expKcãrpelo método tortuoso das palavras.
ferências não convencerá os céticos e cem livros não revelarão na Jamais podereis provar ao meu intelecto o fato de que Deus,j/
visão interior aquilo que podem vislumbrar aqueles que apli- o Abosoluto, o Espírito — ou como queirais chamá-LO — exis-
cam fielmente o método indicado nestas páginas. te; mas podeis mostrar-me isto se minha consciência se trans-
As chamadas "provas" científicas e filosóficas da Realida- formar de tal modo que me permita participar da íntima per-
de Absoluta não provam coisa alguma. Kant, o filósofo alemão, cepção do Deus interno em mim.
demonstrou há tempos que a razão não pode definir a Realidade; Não há outro caminho, mas um só caminho para obtermos
assim é com todas as nossas provas, que são apenas mera acu- essa revelação íntima e sabermos "simultaneamente o que de fato
mulação de palavras. Para os que querem negar essa Realidade, somos.jÉsse caminho cõHsíste~em pàSSãr dó"mun<fc^
é igualmente fácil "provar", baseando-se em outra categoria de ( C M ^
evidências ou empregando argumentos contrários. dades externas para ocupar-nos de uma única ativídadejnterna
da mente.
O mundo científico estremeceu quando Einstein revelou sua
""Santo Agostinho monologava assim: "Senhor, como uma
descoberta sobre o desvio dos raios da luz ao passarem perto do
ovelha perdida que anda dg umlado para outro, procurando o
sol; esta observação originou a teoria da R E L A T I V I D A D E . To-
caminho, também eu te buscava no exterior, quando T u estavas
dos pensaram então que esta descoberta o levaria a resultados ém~mim... Percorri ruas e praças da cidade deste mundo, bus-
impressionantes; esperavam investigações mais aprofundadas nes- candoTe sempre. _.. e não Te encontrei porque em vão procurava
se sentido, e nas equações obtidas depois de um cálculo acu- fora o que estava dentro de mim."
rado, a noção da existência de Deus ia acrescentar as teorias
cientificamente demonstráveis. Deixemos o prumo da nossa mente mergulhar nas profunde-
zas do nosso eu. Quanto mais profundamente tocar o abismo,
Qual nada! Aquela ardente antecipação, que atormentava tanto mais fabuloso tesouro poderemos extrair desse calmo mar
cérebros e comovia corações, com o decorrer dos anos retrocedeu de Sargaço ( 1 ) . .O recinto da consciência está no âmago mais
à estaca zero; a Ciência não está ainda à altura de se pronunciar íntimo de nós mesmos; cada um possui uma porta secreta que se
no assunto. abre para a Luz, mas se não quiser fazer o esforço para abri-la,
Os grandes problemas da existência individual, os sublimes condena-se a si próprio a permanecer em trevas.
tormentos da alma que assediam toda pessoa sensata, não podem Se quiserdes uma prova da vossa própria divindade, escu-
ser resolvidos na região limitada do cérebro; ao passo que as res- tai vosso Super-eu. Escolhei entre as horas uma em que este-
postas, plenamente satisfatórias, nos esperam no âmago sem l i - jais seguramente livre de qualquer distração exterior. Estando
mite do nosso próprio ser, na substância divina da nossa natureza a sós, com paciência e muita atenção escutai o que vos dirá •
oculta. O cérebro responde com palavras estéreis enquanto a alma, procedendo da maneira que vou explicar em seguida,
resposta do Espírito é a vivência maravilhosa da iluminação in-T peti esse exercício diariamente, e um dia, quando menos espe
terior. QuenTcleseje praticar assídua e seriamente o método^dcT
concentração mística exposto neste livro, receberá crescente con-~ ( i ) Nome dado a uma vasta região do (eatre
fírmação por experiência própria, da verdade~clã divindade do
r
ilhas dos Açores, as das Canárias e as de Cabo Verde), coberta de
hoinfg». As bíblias e outros escritos similares começarão entao~a" garços (algas), os quais, desprendidos das rochas e levados pel»Sí|j
perder a sua autoridade I medida que êle comece a achar a sua se acumulam nas zonas calmas do mar. ( N . da tradutora).
H
•des, essa prova virá iluminar vossa solidão. Com ela virá uma
Uberdade gloriosa quando vos abrandarem os fardos das teolo- Além das trivialidades da vida diária há uma existência
gias ou os ceticismos forjados pelo homem. mais bela e mais luminosa. Por mais que resistamos a este di-
reito divino sobre nós durante o dia, somos incapazes de resistir
Aprendei a pôr-vos em contacto com o vosso Super-eu e ao eu interno durante o sono profundo e sem sonhos. Então so-
nunca mais vos sentireis atraído por essas reuniões fúteis em mos capturados pela alma; então gozamos repouso em nossa pró-
que os homens levantam a poeira das argumentações teológicas pria natureza, ainda que inconscientemente. E este um pensamen-
ou o ruído dos debates intelectuais. Se tomardes esse caminho, to arrebatador, e a sugestão de uma profunda verdade filosófica.
resolvereis o problema a sós, de forma definitiva e independente Mas como poderia a multidão escrava das experiências e tumultos
do que diga qualquer livro, seja sagrado ou secular. da vida material tornar-se consciente desta verdade maravilhosa?
Alguns chamam de 'meditação' este exercício, nome tão bom Ê por-isso-que òs ~fnais~"-avisados ~adotam -u^pfátiõT^
como outro qualquer. Proponho-me todavia a descrever uma es- Laçalmar a mente e mergulhá-la na profunda e perdurável parque
pécie de meditação que difere, em seu princípio básico, da maio- jaz dentro de nóí~
ria dos métodos que me foram dados, e à qual poderei chamar O general Gordon dedicava todas as manhãs uma hora aos
ccom mais exatidão: TRK^^ seus exercícios espirituais; quantas inspirações para sua vida de
soldado, quanta firmeza e quanto valor não encontrou nesse
A única maneirá^eoatender ò^que significa exatamente a hábito salutar?!
1meditação é praticá-la. "Nem quatro mil volumes de metafísica
William T . Stead, célebre diretor de jornais e defensor dos
vos ensinarão o que é a alma!" — exclamou Voltaire.
V oprimidos, passou três meses encarcerado porque se atrevera a
Como tudo o que tem valor, os resultados_da meditacão_se publicar umas verdades. Muitos anos depois, êle declarou que
ad^uifgg"com muita lentidão, feabalhouf difinildgde; porém foram esses meses os mais proveitosos de sua vida. "Pela primeira
quem a pratica com oespíritp requerido pode estar certo de al- vez tive tempo para sentar-me e pensar, sentar-me e encontrar-
cãn^íria metãV P ^ ^ ^ a r ^ s jpelas jproyas experimentais e termi- -me", disse depois.
namos, jna g g p ^ e ^^ a meditação e pro- O insigne inventor Thomas A . Edison desenvolveu pela
riifam mergumare- prática constante a faculdade de relaxar-se em meio do seu traba-
lho e lançar-se numa condição mediativa, que lhe trouxe soluções
A meditação é uma arte quase perdida no Ocidente. Poucos a muitos de^seus complexos, problema»;—Certa vez disse êle: -
são os que a praticam e, entre esses, ainda menos os que compre- " A s horas que passei com o Sr. Edison me trouxeram as maiores
endem o que estão fazendo. O hábito de dedicar todos os dias recompensas de minha vida; âjisso atribuo Judo o que tgaho
alguns minutos para o recolhimento e o repouso mental, hoje ^ealizado/y*^ s
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prima por sua ausência na vida dos povos ocidentais. A vida Nunca cogitamos da vida interna. Procuramos permadir-n^
moderna exerce sobre nós uma espécie de hipnose, apoderando-se de que não. dispbinõ^ de~rheia~hpra Para auedaMios sentados
do nosso espírito como sanguessuga do corpo. Nosso apático eu junto à tranquila fonte da.Verdade— JJm momento de quietude
consciente aduz toda espécie de desculpas para não iniciar esta mental é encarado como um momento desperdiçado. Daí porque
prática ou para não continuá-la, se a iniciou. Nossa personalidade as massas populares não se poxtam jnais^biamente diu-ante sua
a acha enfadonha, vazia ou demasiado cansativa. Esta luta inicial multidão de ..4lásu<i^
p
para vencer a repugnância do cérebro para com o repouso é talvez Crê o mundo moderno que não há nenhuma utilidade na
a mais árdua, mas deve ser travada. Contudo é um hábito de chamada meditação e frequentemente a condena como uma mera
importância vital, cujos benefícios, se praticado, não podem ser abstração. E em sua atitude usual não está totalmente errado
demasiado exagerados, mas, se negligenciado, conduz a tristezas e nem totalmente certo o mundo moderno. Para indicar só um
flições. exemplo, a história mostra como a religião tem produzido bom
Q H
número de visionários meditativos, que convidaram outros a
entrarem com eles no domínio da pura auto-ilusão e a vag^r no Nestas páginas não estou expondo nenhum sistema com-
reino de fantasias pueris. São essas pessoas desorientadas que plicado; apenas me empenho em descrever uma técnica simples,
têm sido as responsáveis pela noção generalizada de que os v i - cujo resultado permite conhecer o que há de mais elevado em
dentes espirituais são criaturas que permanecem contemplando os nós. Nenhum método de imediatação é fácil em si, pois sua prá-
céus, explorando com suas visões mentais regiões nebulosas sem tica implica em domínio do pensamento e poucas são as coisas
no mundo mais difíceis do que essa. Um método de meditação,
nenhum interesse nem utilidade para os mortais mais sadios. Ês-r
não obstante, pode ser simples. Não há necessidade de complica-
ses são os falsos místicos que vivem em seus mundos fantásticos:
do com tortuosas explicações nem de apresentá-lo numa linguagem
o de que necessitam é de uma dura martelada da realidade.
confusa.
A história também menciona a existência dos sábios de ou-
Já foram ensinados diversos sistemas de meditação; diferen-
tra categoria. Esses são homens -de uma pureza moral absoluta
tes tipos de Ioga foram esboçados tanto na antiguidade como nos
e de uma bondade excepcional; a característica afim desses se-
dias atuais. Porém a técnica que propomos aqui para se conhe-
res é terem passado por uma experiência que lhes proporcionara
cer a si mesmo não se enquadra facilmente em nenhuma dessas
uma "Realização espiritual" inesquecível, mergulhando-os numa
classificações existentes. Essa Arte Interrogativa ou de Auto-re-
felicidade supraterrena. São os místicos verdadeiros, e os rela-
flexão se apoia apenas em sua simplicidade, unicidade, originali-
tos das suas experiências, revelados com toda a humildade, dei-
dade e poder, embora certamente possua pontos de contacto
xam transparecer que, de fato, penetraram no imo do seu cora-
com outros sistemas. Não sustento gug pfgTfiCfl O-TTtfílfalQt ^JBafc
ção, tocaram as regiões mais profundas da alma, enfim encon-
nho, mas, sim, afirmo que oferece um meiç niais rápido e mais
traram a natureza divina do homem, imutável e_ intacta, embora seguro para atingir o autoconhecimenro e s p f f l ^ l dfi gn* a msm^
alojada em corpo tão frágil. Não é minha intenção enumerar ria dos caminhos que conheça. Os diversos ramos da Ioga, esse
todos esses místicos; as obras de Evelin Underhill e de Dean profundo porém muito complicado sistema indiano, são excelen-
Inge dão ideia exata relativamente aos místicos cristãos. te em relação ao povo e à época em que foram apresentados,
A mente humana está demasiado predisposta a se deixar mas quando considerados em relação aos povos ocidentais e às
hipnotizar pelo materialismo que a cerca, e para muito gente a necessidades modernas, resultam evidentemente impraticáveis,
vida espiritual se converteu num mito. É estranho e triste de ve- salvo para uns poucos.
rificar que, enquanto os cientistas mais eminentes e os intelectos
A inquirição do verdadeiro eu é o sistema mais simples de
mais perspicazes estão se achegando à interpretação do universo
e da vida sob o prisma espiritual, as massas cada vez mais se dis- meditação que conheço, e é por isso o mais apropriado para as
tanciam e se entregam ao materialismo grosseiro, que as primei- pessoas atarefadas de hoje. É mais rápido de aprender e mais
ras tentativas torpes da ciência parecem justificar. simples de praticar do que os complicados sistemas de Ioga do
Oriente. Pode ser vantajosamente praticado por quem quer que
Portanto, devemos ser gratos, de certo modo, a esses Visioná- deseje conhecer a verdade sobre sua própria natureaa._5 Ap le-
rios, que se aventuraram por caminhos ainda não explorados pa- vantar-vos petãT manHS^e depois dè tomai vosso banEo, o pri-
ra nos trazer, novamente, fatos confirmatórios de que a vida di- meiro dever, e geralmente o j p a ^ ^ à { ^ l a y - y ^ j ^ ao*
vina é acessível ao homem. A visão verdadeira não é uma amál- \ vosso verdadeiro e u J " A mdoria considera seu primeiro dever
gama de teorias, mas sim uma tremenda experiência. Ninguém que pensar em incómodos presentes, no trabalho a executar, ou nas
a tenha vivido uma vez, ainda que momentaneamente, jamais pessoas que logo vão encontrar. Suas atividades e problemas
a poderá esquecer e não terá sossego enquanto não encontrar ocupam o primeiro lugar na sua mente em vez de se esforçarem
o meio para repeti-la. por obter aquela sabedoria que há de inspirar todas as suas ati-
vidades e solucionar todos os seus problemas. Quando Jesus dis-
se: "Buscai primeiro o reino do céu e sua justiça, a tòdaa t a ou-
trts coisas vos serio dadas por acréscimo", não enunciou ape- me. Uma prática diária e regular de meditação leyará natural-
nas uma regra geral, mas também uma norma para cada um in- mente ao progresso nessa arte. E m outras palavras: será neces-
dividualmente. ft| sário esforço cada vez menor para obter os mesmos resultados.
As palavras "pão dg cada dia" que Jesus usou- no Pui-Nosz, Todo progresso depende da prática.
so demonstram claramente o conselho que deu aos seus seguidores A meditação produzirá os maiores resultados quando é feita
para orarem ou meditarem de manhã. Nesse jconselho existem regularmente e todos os dias e não com interrupções, pois é algo r
profundas razões psicológicas. 7 E pda atitude qus adotaf nnc
du- que "impregna" gradativamente pelos repetidos esforços diários,
tinte a primeira bQtt-depo|s_ap aespgctar^ que podemos fixar a A prática diária do repouso mental deve ser feita tão re- x
tónica dasatividades de todo <^^Ia .A5 atuudades e os desejos da
v gularmente como o comer. O hábito governa nossa vida. O /
vfâa ainda nao começaram a importunar a nossa mente. homem que aprendeu o segredo de criar hábitos poderá controlar j
Se cada manhã o Reino de Deus é a primeira coisa que bus- o que controla a vida. E o melhor hábito que o homem possa V
camos e por sua causa sacrificamos um pouco do tempo, nosso adquirir é o da meditação. Não somente desejo acentuar, mas
trabalho não sofrerá nem nossos problemas serão negligenciados. reacentuar o surprendente valor e a urgente necessidade deste
A corrente contínua de força e de sabedoria espiritual que cria- hábito. Com o tempo descobrireis que o período diário da quie-
mos deste modo fluirá através de todas as atividades e pensamen- tude mental se tornará uma almejada alegria, em vez de um de-
tos do dia. Qualquer coisa que fizermos então a faremos correta- ver disciplinar, como parecia no início, e não permitireis que ^
mente; qualquer decisão que tomarmos será uma decisão justa, nada interfira nele.
porque será o resultado de pensamentos mais calmos e profundos. *
$ Aqueles que julgam uma tolice cuidar da atitude espiritual
antes de atender às atividades mundanas, põem em primeiro lu-
gar as coisas que devem estar em segundo. Para esses, como diz O ponto seguinte a observar é que certas condições fisio-
lógicas e psicológicas são conselháveis se se quer lograr bom êxi-
a escritura hindu: "Não há paz nem neste mundo nem no pró-
to sem muita dificuldade. Uma postura cómoda ç convenientç do
,, <m
corpo ajuda a mente a acalmar-se. O corpo em desconforto ten-
i „ i n -in • mi -
ximoJ:
de a tornar a mente intranqiiila.,
Quer dediquemos cinco minutos ou cinco horas a esta prá-
tica inspiradora da vida, nunca falha em produzir resultados no- A quietude física é o primeiro passo para a quietude men-
táveis de longo alcance. Não vale aplicar diariamente de quin- tal. A postura conYenientej^ppnfqrt^^ çlo^ corpQ repousada
ze a trinta minutos para conseguir o equilíbrio mental e a cons- mente e habilita-nos a iniciar a tarefa de interiorizar-nos. Di -
ciência do domínio interior? rigi-vos cada dia paira o mesmo local ou cómodo tranquilo, ocik*
Praticar a meditação durante dez minyfos ou até meia hora, pai sempre a mesma cadeira ou a mesma cama Spntflí-v^ ereto
uma ou duas vezes por dia, e s S i ^ K ^ ^ i t e uma questão de^ há- e não vos reclineis çm nenhum encôstor-*-Assim^ corpo apre»*
bito! A pessoa vai gradativamente se acostumando até esta prá- de a responder automaticamente até se tornar não-resistente .à
tica tornar-se parte inseparável da sua vida. Na segunda quinzena penetrante influência da Alma. ||
será um pouco mais fácil, na tereceira mais ainda, até chegar a A meditação prosseguirá mais facilmente e dará melhores
hora de dominá-la totalmente. Mesmo o mais atarefado dos ho- frutos se a fizermos nas condições adequadas. Devemos escolher
mens pode incluí-la no seu programa, de sorte que se lhes a hora em que ninguém nos perturbe, quando tudo em volta de
torne tão natural como tomar suas refeições. Criai o hábito e nós esteja quieto, quando o estômago e órgãos digestivos este-
mantendo-o, e sem dúvida o seu valor começará a fazer-se sen- jam em repouso, o corpo se sinta bem e o tempo não seja tem-
tir no progresso consciente. pestuoso. Se for também possível, adornemos com flores nosso
O desenvolvimento espiritual não tem que ser essa coi- melhor aposento e o perfurmemos com incenso. Coloquemos
sa fortuita tão freqiiente entre nós, mas um esforço sério e fir-
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nas paredes apenas belos e sugestivos quadros coloridos. Que
esse recinto se converta num santuário que nos ajude a perma- Até agora talvez tenhamos dado toda a nossa atenção ao mundo
necer por algum tempo entre as coisas divinas. Reservemos esse externo. O homem que aspire a comprender a si mesmo deve
cómodo só para nosso uso pessoal e tanto quanto possível um inverter este processo e periodicamente desviar essa atenção para
lugar onde possamos meditar, orar e estudar as coisas do Espf- explorar o mundo interno.
Quem aspire a tentar conhecer seu Super-eu deve aprender
Empouco tempo notaremos nesse ambiente, o comêçojdgjima a recolher-se em sua mente como a tartaruga se recolhe em sua
marca m^siyel de uma vidamajs Hívina, de maneira que assim concha. A atenção que até agora tem estado dispersa numa
que nele penetr^os. desapare^m^cle nossas preocupações e afli^ sucessão de objetos externos, deve estar agora concentrada num
ções da^^^^^ajãiundana. Destarte, escolhamos um lugar onde simples foco interno.
nossa ^ E d a ^ n ã o se A senda da concentração é fácil de descrever, mas difícil de
líõs incomodem e^ondee^ sentir em harmonia e praticar. O que devemos fazer antes de mais nada é esforçar-nos
p a z ^ N a impossibilidade de obter todas essas condições, consiga- em afastar da nossa mente todo e qualquer pensamento que não
mos as que forem possíveis. Assim, a primeira regra é reservar seja a única linha de reflexão que fixamos como o tema de nossa
uma pequena fraçâo diária de nossa vida, em que possamos de- concentração — mas tentemo-la !
dicar-nos tranquilos e imperturbáveis à prática dos exercícios O controle o pensamento é difícil de se obter e suas difi-
necessários. De início começaremos com dez minutos, procuran- culdades nos surpreenderão. Nosso cérebro se rebelará. Tal qual
do estender esse período até meia hora tão logo sintamos que o mar, a mente humana está incessantemente ativa. Mas tal
podemos fazê-lo sem tensão indevida. Meia hora diária já é mui- controle pode ser feito.
to tempo para o ocidental comum despender na meditação e não No centro de nosso ser mora esse E u maravilhoso, porém
é aconselhável prolongar esse tempo senão sob a supervisão de para atingi-lo temos de abrir um canal através de todas as tou-
um instrutor competente. ceiras de pensamentos que o cercam e que nos fazem prestar in-
SygflEi jÊâgg£ a, jjafcditação nap^ r t r d** manbâijpjas é bem pos- cessante atenção ao mundo material, tomando-o como única rea-
sível a existência de circunstâncias vos impeçam empregar esse lidade. Gostamos tanto de recolher-nos ao nosso interior e
período. Se assim for, aJior§jC££QJ^^ deixar a mente repousar em si mesma — não no mundo dos senti-
ppis^ntãp | mente retorna mais ràpidam^ interior mentos físicos — como de sermos despertados ao alarma do des-
pertador, pela manhã.
do que no meio das; ativi3a3e|^3b 3ia._ Há,uma misteripsa quali-
r
dade no crepúsculo^^^^ovS^ma às grandes correntes^ espiri- Nós, os homens modernos, já começamos a dominar a Natu-
tual^ a Naf^^ reza, mas ainda não aprendemos a dominar-nos a nós mesmos.
Se não pudermos contar com o crepúsculo, a melhor hora Ondas infindáveis de pensamentos nos perseguem e oprimem;
será à noite, antes de nos deitarmos. Se todavia esses três perío- atormentam-nos durante as insónias da noite e durante todo o dia
dos ainda falharem, devemos então procurar meditar em qualquer permanecem grudados sobre nós. $è pudéssemos apenas apren-
meia hora roubada ao nosso programa diário. der o segredo do seu domínio e supressão, poderíamos mergulhar-
nos num maravilhoso repouso, numa paz semelhante § que, se-
A fração de tempo que tivermos escolhido para tão alta gundo São Paulo, "ultrapassa o entendimento.**
finalidade deve ser utilizada de maneira que a isole completa-
mente das outras atividades do dia. E m vez de nos ocuparmos Os cinco sentidos nos prendem ao mundo material como se
com algo que atraia e prenda nossa atenção em assuntos externos, fossem de goma e querem um contacto físico constante em for-
procuremos esquecê-los, pô-los de lado durante todo esse tempo ma de objetos, pessoas, livros, divertimentos, viagens e ativida-
como se nunca houvessem existido, e a dirigir nossos pensamentos des de toda espécie. Só podemos matar o inimigo nos momen-
e sentimentos coiji o ideal da calma interior como nossa meta. tos em que os sentidos guardam silêncio. Quando B B
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o repouso mental, eles protestam imediatamente e gritam.
"Queremos ficar no mundo que conhecemos; temos medo de me-
ditação e desse além desconhecido; é natural que nos agarremos
ao mundo da matéria; deixem-nos!" E assim fazem o possível
para nos manter presos ao mundo sensorial. É essa a verdadeira
razão pela qual cremos que a meditação não nos agrada e nos
afastamos dela quando o momento de realizá-la chega. São os
nossos sentidos que se opõem e não nós; assim, devemos lutar con-
tra eles e tentar dominá-los! Primeiro vem o esforço mental, de-
U M A TÉCNICA D E A U T O - A N A L I S E
pois a quietude compensadora.
_Dominar a mente é d o m i i ^ . a . s L . t ^ g r i o . A alma que con-
i
trola a maré crescente e sempre ativa dos pensamentos, pode ves-
tir a farda de capitão e dar ordens a toda a Natureza. O poder
ÔMODAMENTE sentado numa ca-
de manter-se tenazmente numa linha de pensamento, aferrando-se
deira, ou de pernas à oriental sobre um tapete, respirando tran-
nela como o aguilhão de um escorpião, e sem largá-la — eis o que
quila e regularmente, fechai os olhos e deixai vossos pensamen-
se chama poder de concentração — a força que faz dos homens
tos trabalharem na pergunta do que realmente sois.
V E R D A D E I R O S AMOS E SENHORES D O PENSAMENTO.
Estais prestes a iniciar vossa grande aventura de conhecer-
Se nos sentimos incapazes de nos concentrar, então um pouco vos a vós mesmo. A chave do êxito em vossos exercícios está
de prática diária nos propiciará a capacidade que nos falta. Os em pensar lentamente. A velocidade da roda da mente deve
que procuram meditar, nem que seja durante meio hora, com o ser reduzida e isso a incapacitará para correr de uma coisa para
tempo dominarão a corrente tumutuosa dos seus pensamentos outra, como o fazia antes. Pensai lentamente. Depois formulai
vadios. vossas palavras mentalmente, com muito cuidado e precisão. E s -
Advertência! Quando a debilidade moral e o desequilíbrio colhei e selecionai cada palavra cuidadosamente. Esta prática
emocional se unem às práticas, o resultado será a regressão da clareará vosso pensamento, pois enquanto não o fizerdes não po-
mente ao estado de midiunidade e jamais a elevação da mente até dereis achar uma frase clara e definida para expressá-lo.
a espiritualidade. A prática de meditação não acompanhada do Primeiro, vigiai vosso intelecto em operação. Notai co-
cultivo dos princípios éticos e intelectuais, pode levar a um en- mo os pensamentos acompanham um ao outro em infindável se-
gano sobre si mesmo, ao aumento de egoísmo, à alucinação e f i - quência. Depois procurai compreender que há alguém que pen-
nalmente à loucura. sa. Agora perguntai: "Quem é o Pensador?" Quem é este
Recomenda-se portanto ao aspirante não buscar o caminho " e u " que dorme e acorda; que pensa e sente; que trabalha e
rápido e fácil para chegar às experiências ditas ocultas, mas sim fala? O que é que está em nós e o chamamos o "eu"?
um cuidadoso enobrecimento do caráter, a firmeza de atacar pela Os que julgam que a matéria é a única existente, vos dirão
rais. seus erros e um harmoniso equilíbrio entre a intuição, a que sois o corpo e que o sentimento do "eu sou" surge den-
emoção, o pensamento e a ação. tro do cérebro ao nascer e desaparece na morte ou com desinte-
gração do corpo.
Para entender melhor a verdadeira natureza desse mistério
" e u " e descobrir suas verdadeiras relações com as funções |
corpo e do cérebro, procedei a uma análise profunda da pers
nalidade, o " e u " visível.
ÊSiS Upa de autoconhecimento nict implica apenas umLghg: "Hoje sou feliz, amanhã serei desgraçado..." Esses estados
pies exame e classificaçSo de virtude, VÍ&ÓSLC q u a l i d ^ mentais são incidentes ou acidentes na continuidade do eu. Os
nifica, realmente, uma genetração no espirito ^sencial c l o l S i v i - estados mentais e os do coração se transformam e passam, mas
duo. Êvq<^ q faç^ dentro de nós, é evocar nos- em meio de todos eles o ego se pode designar como aquilo que
sa inteligência espiritual. Quando pudermos entender o que há permanece imutável dentro da mutabilidade, o espectador da
por trás dos olhos que nos miram no espelho cada manhã, en- Pantomima Passageira deste mundo. Tomamos conhecimentos de
tenderemos então o mistério da vida. todas as coisas através do " e u " do "ser"; sem êle nada se per-
ceberia. O sentimento"eu sou" não pode desaparecer. Portanto,
iigf") Se nos detivermos a refletir com inflexível fixidez sobre
:
conhecer-se a si mesmo equivale a encontrar o ponto da consciên-
mistério que está em nós, o mistério divino no homem, êle fi- cia do qual se possa observar estes estados em mutação. É uma
nalmente nos confiará e revelará o seu segredo. Qpando n homem triste indicação de como o homem perdeu a sua centralidade, o
começa a se perguntar o que êle é, já deu o primeiro passo num centro espiritual da gravidade de que este ponto costuma estar
caminho que nao terminará enquântq^nãq obtiver a resposta. totalmente desapercebido.
Porque o nomem enfrenta a sua mente e procura arrancar o véu
que a encobre, seu esfõfeo pe^steirifé obteirS seu jusfó premio. Enquanto esta integridade espiritual não fôr restaurada, o
homem será sempre a vítima infeliz dos seus desejos e pensamen-
O mun^ permanente e o
tos contraditórios.
homem parece uma massa de pensamentos e emoções cambiantes.
Mas se êle fizer uma análise profunda de si mesmo e ponderar "Comumente o homem pensa conhecer o que designa co-
sobre ela tranquilamente, descobrirá finalmente que existe uma mo seu " e u " . Pode duvidar de outras coisas, mas nesse campo
parte de si mesmo que recebe o fluxo de impressões do mundo sente-se seguro. Imagina que com o eu êle compreende logo o
exterior, bem como os sentimentos e pensamentos nascidos des- que é que significa. Naturalmente, o fato da sua própria exis-
sas impressões. Esta parte mais profunda é o verdadeiro " e u " tência em certo sentido está completamente fora de dúvidas.
do homem, a testemunha invisível, o espectador silencioso, o Mas quanto ao sentido em que esta existência é tão certa, já a
história é bem outra" — escreveu P . H . Brandley, um dos pen-
Super-eu.
sadores e filósofos ingleses.
Há uma coisa de que o homem nunca duvida. Há uma cren-
ça à qual todo homem sempre se apega em meio das variadas v i -
cissitudes da vida. É a fé em sua própria existência. Êle nunca
se detém por um momento para indagar: " E x i s t o ? " . Aceita
isto como uma verdade irrefutável. O primeiro passo, portanto, consiste cm analisar a constitui-
" E u existo". Essa consciência é real. Perdura através de ção dp^ ÍKjinem. Ccaae^fflQs poy desçgy jfc £g^S 2 í S niesmos^
n ó
toda nossa vida. Disto podemos estar absolutamente certos; poÍg^jj]_que tCSJd^ o divjpq,
mas de suas limitações à carcaça da carne não podemos estar Donde provém esta consciência do "eu" ? E l a persiste
tão certos. Esforcemo-nos por localizá-la confinando nossa aten- ante todos os estados mutáveis da mente, resiste a todos os flu-
ção apenas à noção do eu. xos de sentimentos, sobrevive a todos os incidentes e vence o
Esse é pois o bom ponto de partida para nossa investigação, tempo. Acaso surge do nosso corpo?
já que é de aceitação universal. O corpo se transforma; êle se Não, isso é impossível! A psicologia supranormal e o es-
debilita ou fortalece, permanece são ou adoece. A mente se piritualismo se unem para dizer-nos que é independente da carne.
transforma; sua visão se altera com o tempo, suas ideias estão E não podemos deixar de reconhecer as experiências de homens
sempre fluindo. Mas a consciência do " e u " subsiste do berço ao como Sir Oliver Lodge, William Crookes e Mac Dougall, bem co-
tumulo, inalterável. mo outros pesquisadores no campo das investigações psíquicas.
Devemos analisá-las e ser fiéis à conclusão lógica — por aterrado-
pessoas reconhecidas como inteligentes, que pensariam duas ou
ra que seja — ou então abandonar a busca da verdade. Não
três vezes antes de atribuir as qualidades da criação mental e o
ousamos admitir nenhum dado que possa reformular as nossas
sentido lógico à tinta, não hesitarão em conceder estas qualidades
teorias. Quem quer que se dê ao trabalho de examinar os in- ao corpo que, sendo matéria, é simplesmente tinta sob outra
formes muito mais numerosos do que se supõe, encontrará nú- forma! É verdade que poucas são as pessoas que se detêm em
mero suficiente de casos para constatar a veracidade desta as- consideração desta questão do eu e daí que sejam poucos os que
serção. chegam ao conhecimento do seu segredo.
A ligação entre a mente e o corpo é tão íntima que a con- Não podemos conceber a ideia de que somos apenas um
cepção popular, seja culta ou não, tem aceito prontamente a su- corpo, porque quando o corpo de um homem é atacado de para-
posição de que o cérebro é a mente e o corpo é o eu; contudo isso lisia, perde o uso de visão, do ouvido, do paladar e do olfato,
não passa de uma suposição. Ê possível que, se o eu consciente e não obstante continua como o mesmo ser autoconsciente.
pode existir separadamente, a concepção popular é errónea e a Cortem-se-lhe as mãos, as pernas; arranquem-se-lhe os olhos e
aparência engana. Vamos examinar esta última concepção e reexa- partes de outros órgãos e não obstante êle se sentirá o mesmo:
miná-la sem a menor ideia preconcebida a favor ou contra a hi- o seu sentimento do " e u " é tão forte como dantes. Por que não
pótese do corpo. admitir que o corpo de carne é apenas uma massa de matéria,
que movo, exercito e utilizo, indicando assim que há alguém que
o move, o exercita e o utiliza?
Para um selvagem, muito aquém na escala da evolução hu- Já que vossa mente está se ocupando da palavra eu, aceitai
mana, a ideia do eu é uma ideia do corpo e seus desejos. Mas o uma estranha ideia para consideração. Vossa primeira resposta a
homem mais evoluído, mentalmente mais desenvolvido, começa a este audacioso pensamento poderá ser uma tentativa para re-
referir-se ao seu corpo como " m e u " , porque começou a sentir jeitá-lo como divagação fantasista; todavia aos poucos sereis for-
que o intelecto é uma parte não menor do " e u " , e uma parte çado a considerá-lo seriamente se quiserdes descobrir a verdade
não menos importante do que o corpo. Certos psicólogos e que encerra. E i s a i d é i a : ^ J Q X O R P O FOSSF O E U M i
DEIKQ, ENTÃO NÃQBQDERIASQ^^ SQHO
filósofos têm formulado a pergunta: "É possível ao ser hu-
NEM A MORTE AWANÇÁ-WJM f
mano divorciar sua mente do seu cérebro físico? Esta per-
gunta evidentemente pressupõe a probabilidade de que o cérebro, * Se o xorpo fosse o eu real, a consciência da nossa p t ^ r i a
apesar das aparências, não é necessariamente o criador de pen- existência deveria persistir, durante vinte--€ quatro horas por
samentos; quando muito é o meio de sua expressão. dfa. O eu está no centro da consc^êncj^^ q^an^n vem o sono,
Não obstante, nosso pensamento está ligado a esse cérebro o eu se retira do corpo, suprimindo dele a percepção, sem
que os anatomistas dissecam, porém da mesma maneira que há lhante à imagem que desaparece ao ser fechada a objetiva.
matrimónios humanos que terminam em divórcio, assim também inconsciência durante o sono é uma indicação de que o eu
é possível ao pensamento e a carne se divorciarem. Aliás já se meramente^ uma visita na casa de carne. |
conseguiram tais resultados mediante a hipnose no Ocidente e Dizer que, quando sonhamos, retemos a percepção do
a Ioga no Oriente. P E nas investigações da psicologia supra- durante o sono, não refuta esta afirmação. O sonho é uma ponto
normal e espiritualismo existem provas suficientes de que a entre o estado de vigília e a total inconsciência do sono profun-
«nte pode ter uma existência própria, separada da carne. do. Representa o limiar que devemos atravessar para entrar tt
Para mim, atribuir o poder do pensamento a este meu sono profundo. Este último estágio é o que devemos extmifM
valeria tanto como atribuí-lo 1 minha caneta-tinteiro. O primeiro, a fim de chegarmos a uma noção mais clara do
J J B P 1 inspirado por alguém que atua tanto quanto estas pala- Mergulhados no sono profundo sem sonhos, tornamo-i
tÊÊÊÈ^ tga
4 l l N P Í d a s por alguém que pensa. Todavia, as
s r a absolutamente inconsciente do corpo; contudo» eu continuo 8

tindo. O que (az o eu durante esse tempo e onde está? Quando cionamento. inquirimo-nos se o corpo é o " e u " e definiticamente
caio num sono sem sonhos, esqueço-me totalmente do mundo. nao pudemos encontrálo ali. A única coisa que podemos dizer
N e m o sofrimento mais intenso do corpo é suficientemente forte com certeza é que o " e u " se utiliza do corpo, mas não podemos
para manter-me permanentemente desperto e mesmo a própria afirmar com igual certeza que o " e u " lhe seja inerente.
ideia do eu é esquecida. Mas a auto-existência, embora tempo- Contudo, o sentimento de sermos nós mesmos persistiu.
rariamente apagada, ainda persiste de fato, pois me desperto de- Que sentimento é esse? Podemos apreendê-lo? Não. Para ex-
pois e me recordo de minha identidade. plorar o mundo mais sutil das ideias e sentimentos em nossa
U m médico * americano, doutor Grille, apresentou alguns busca, somos obrigados a penetrar mais profundamente além do
casos ilustrativos deste princípio, oriundos das * condições anor- corpo, utilizando o bisturi do pensamento agudo, e sondando
nosso eu interno, talvez cheguemos à posição provisória de
mais provocadas pela guerra. Num desses casos êle nos conta
que o corpo é apenas parte do nosso " e u " e de que a fonte
que uma igreja abandonada fora utilizada como hospital provi-
real e essencial da noção do ego não foi até agora delineada.
sório para recolher os soldados sofrendo de terríveis ferimen-
tos recebidos no campo de batalha. O médico entrou na igre- Dei ao estudante apenas um tosco bosquejo do tipo de me-
ja, na calada da noite, e a achou mergulhada em profundo si- ditação que êle há de praticar e não todos os passos do longo
lêncio. Havia cinco dias que os soldados não dormiam e seu percurso que deverá seguir na consideração do eu. Caberá a êle
cansaço era tal que nem as mutilações bárbaras podiam mantê- desenvolver à sua maneira e com mais detalhes estes pensa-
-los despertos, e assim todos dormiam tranquilamente, alheios a mentos sugestivos. Talvez não seja preciso mais do que algumas
seus corpos. meditações para chegar ao ponto de poder aceitar as conclusões
Assim, no sono sem sonhos temos uma indicação de não citadas como certas ou pode ser que lhe custe alguns meses de
sermos apenas um corpo quando a mente está submersa na in- prática. Contudo, enquanto não alcançar esta certeza, não pode-
consciência; quando o cérebro parou de funcionar, o universo rá dar o passo seguinte. Se sua mente vagar, se surgem coisas pa-
criado desaparece de nossa vista, e as ações do corpo físico e dos ru distraí-la e perturbá-la, deverá recomeçar firmemente a sua
ptática.
órgãos dos sentidos estão aparentemente num ponto morto. E
contudo.acordamos com a noção do " e u " novamente, a despeito da A decidida determinação da vontade iluminada de abrir
"quase-morte" do corpo ( 1 ) . Se a autoconsciência no corpo é seu caminho através da sólida montanha de pensamentos e ten-
devido ao fato de o " e u " ser apenas um visitante nele, então se dências do passado que o homem levantou em seu redor, receberá
torna perfeitamente explicável o aparecimento do ser consciente um dia sua justa recompensa. Ao sair por fim do outro lado,
quando entramos em sono profundo. O sentido do eu se desva- verá a Luz e a Paz que ultrapassam a compreensão (intelectual)
neceu, não sabemos onde, e deixou atrás uma forma material humana.
insensível. A atenção deve ser sempre trazida de volta ao tema central;
Temos procurado saber o que devemos pensar a respeito do o interesse deve ser segurado e mantido sobre esse tema. Deve
" e u " . Fizemos uma secção transversal psicológica em nossa persistir em sua pesquisa interna, passando de um pensamento
própria personalidade no esforço de revelar o seu verdadeiro fun- para outro em sequência progressiva. A concentração é simples-
mente a faculdade de controlar a atenção e dirigi-la para m»
objeto. A luz da mente é vaga e difusa no homem comua;, ctbe*
( )
1
No Oriente vêem-se casos autênticos de faquires e iogues que
hibernam como sapos durante dias e semanas, ficando seus órgãos vitais nos encontrá-la até convertê-la num poderoso farol; depois» qual-
quer que seja o objeto em que projetemos esta potente coluna
com as funções suspensas, e contudo emergem desses transes semelhan-
tes à morte, com um ininterrupto senso de personalidade. luminosa, poderemos ver esse farol claramente e P ^ ^ r a a^raj
No meu livro A índia Secreta descrevi um caso pessoalmente obser- conhecimento sobre êle, E este objeto pode ser meramente B n
vado em que um iogue adquiriu o poder de cessação total das palpita- terial como um ideia abstrata.
ções do coração e mesmo de reter a vontade toda a sua respiração.
64
is em que consiste a concentração: apoderar-se de uma só
Ideia e não ter tempo nem pensamento para mais nada5T vertido num introvertido temporário, é uma das empresas mais
valiosas. Ela o capacitará a contemplar picos serenos de puro
U m pedaço de papel de seda pode ficar no aiSo-muito tem-
pensamento. Essa disciplina intelectual pode parecer trabalho in-
po sem que nada lhe ocorra de especial, mas se apanharmos uma tolerável aos que a intentam, mas a recompensa vale mais que
lente e concentrarmos os raios do sol sobre êle, veremos que algo o seu preço.
lhe acontecerá.
/ O homem-comum é um joguete do meio e de influências
Observaremos também que a mente é como um macaco irre- externas. É governado por tendências hereditárias e sugestões
quieto; mas acorrentemo-la ao poste de um simples objeto, sujei- alheias. Ser capaz de controlar seus pensamentos na azáfama e
temo-la à estaca de uma linha de pensamento e então reconhecerá pressão da vida moderna, é uma valiosa conquista, e estes exercí-
seu dono e estará pronta a obedecer às suas ordens. cios produzirão tal controle.
Fixai com firmeza vossa mente no tema destas reflexões, Devemos traspassar com a broca da mente a crosta da atra-
intensificai-a com o necessário esforço da vontade e concentração ção do mundo físico e procurar descobrir a eterna realidade que
e não permitais que o desânimo pelo aparente fracasso ou lento a crosta oculta. Então o segredo da vida, que tem desafiado os
progresso vos faça relaxar o exercício. Pensamentos os mais dis- talentos brilhantes de homens ilustres, será descoberto e se tor-
tituídos de importância vos invadirão o cérebro em meio dos vos- nará nossa jubilosa posse.
sos exercícios; recordações de recentes acontecimentos de alinha-
rão diante de vós, quadros ligados a associações pessoais provavel- * *
mente se apresentarão; desejos, aborrecimentos, trabalhos, etc,
se intrometerão e procurarão dominar o campo de atenção. Con- A segunda fase das nossas pesquisas sobre a natureza do cu
tudo, ao compreender que esta intrusão é fora de propósito, deve ser dedicada a submeter à análise crítica a n o ^ natureza
afastai-a e recomeçai do ponto donde vos desviastes. emocional. Nós tentamos repudiar o^cokpo físico como sendo a
É muito frequente serem os primeiros estágios de medita- soma total do nosso eu consciente e assim passamos agora para
ção os mais difíceis porque a mente então sofre maior invasão a segunda parte principal de nós mesmos. ^
das lembranças do passado, pensamentos flutuantes e distúrbios ç \ Somos desejo, dúvida, ódio, cólera, simpatia, antipatia, pai-
emocionais numa extensão que surprende os que nunca tentaram xão, sensualidade, esperança, medo ou qualquer dos (Jemaisjg
esta prática. O persistente e subconsciente "repuxão" do mundo íimentos que vez após dominam jp ser humanoí^T"
externo se torna evidente quando nos esforçamos assim para O raciocínio que temos adotaàcr pâra^tudar o fenómeno
recolher-nos em meditação. Não nos volvemos para o interior do corpo adormecido podemos também aplicar às emoções ador-
por inclinação. Apegamo-nos à matéria e acomodamo-nos tão mecidas. Quando estas estão completamente tranquilas e mor-
naturalmente como o peiçe na água. tas no sono sem sonho, a noção do eu ainda ressurge à vigília
Embora o homem seja uno com o Poder Superior a que cha-
r após a aparente morte das emoções. E quando no estado de vigí-
mamos Deus, é certo que êle perdeu a consciência dessa unidade lia, as experimentamos nos momentos de completa falta de emo-
E enquanto não se esforçar para fazer meditações regulares, aná- ções, o sentimento do eu pessoal não obstante permanece. Prosse-
lises frequentes de si mesmo, orações sinceras para se desprendei; guindo no mesmo raciocínio, se a autoconsciência aos desejos 1
cada vez mais de sua vida externa, é pouco provável que rcobre emoções é devida ao fato de que o eu é apenas um visitante para
^^^^^^^^^^^^.3 |BUÍ os mesmos, então se explica o desaparecimento do eu conscien-
te ao entrarmos no sono profundo. Desvaneceu-se a sensação
A tentativa voluntária de nos concentarmos num objetivo do eu, não sabemos onde, e deixou atrás um conjunto de sen-
abstrato durante quinze ou trinta minutos, é uma das tarefas mais
timentos nascidos de repulsões e atrações dos f r a g a
difíceis a realizar; converter o homem tão constantemente extro-
do corpo adormecido, senão do intelecto.
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Isto também explicaria por que a sensação do eu perma- dade intelectual racionadora... O intelecto é apenas um nome
nece inalterada ante as modificações das experiências. Sentimen- que damos a uma série de ideias individuais. Esta última asser-
tos, desejos e paixões nos lançam de um lado para outro, mas ção é a mais difícil de sustentar, pois se trata mais de uma ques-
o eu subsiste permanentemente. E é perfeitamente possível a um tão a ser decidida pela experiência pessoal. Quanto a mim, não
homem isolar-se de todas as experiências do mundo externo, e hesito em afirmar que se o intelecto é apenas uma corrente inin-
portanto de todas as emoções que essas experiências trazem em terrupta de pensamentos que passam e repassam como em pro-
si, como no transe consciente dos místicos cristãos medievais ou cissão, então o homem, sob certas condições, pode cessar de
dos iogues hindus modernos, e contudo reter uma clara noção pensar e continuar perfeitamente consciente de si mesmo^ Isto
do eu. Se o eu pode divorciar-se das emoções desta maneira tem ocorrido diversas vezes, e a história do misticismo tanto
e contudo continuar sua existência, então é que o eu e a emoção oriental como europeu, atesta o fato.
são duas coisas diferentes e não podemos mais considerar os Cada argumento que foi aplicado à negação da emoção co-
sentimentos, desejos, temores, simpatias e antipatias e outros es- mo sendo o verdadeiro eu, pode agora ser aplicado à negação
tados emocionais como sendo o nosso ser real. do intelecto. Refleti — e comprenedereis que deve ser assim.
Ademais, o fato de os nossos sentimentos serem tão instá-
5 O intelecto é aquilo que pensa dentro dff nflfa Não é nos-
veis que, por exemplo, podemos gostar de uma pessoa durante
sq eu ,, e isto é indicado pelo fato de que enquanto pensamos,
uma semana e detestá-la na semana seguinte é que os sentimentos
sentimos vagamente, quê j|igo çm n o s ^ g ^ ^eaoBtteÉ^nat-'
são de natureza transitória, enquanto a sensação do eu permane-
sos pensamentos**.
ceu imutável através de todos estes anos.
_AiSSÍ chggâffitôS, à conclusão dê que nem Q corpo^nem a
m Essa foi a famosa atitude de Descartes. £le sus^tavg^ciue
p n i ^ representam flQjggQ gu, real. Quando estivermos conven- o simples ato de pens^^vo lvia a eSstencia dç um Pensador
cidos deste ponto de vista, então poderemos entrar na terceira do ser que realiza estã"n a t ivid ã i^ ^ ^ ^ ^ ^ ""fe pense, donc je
etapa. Por esta época teremos aprofundado nosso poder de con- suis (Penso,logSTsbuT, íÔSL Ima famosa proposição filosófica. Uma
centração; teremos começado, durante os períodos do exercício, afirmação muito ousada, que suscitou violentas controvérsias.
a afastar nossa consciência normal da vista, audição e tato para Logicamente, Descartes se viu obrigado a concluir que êssc Pen-
sador, esse eu", era intrinsecamente imaterial e por conseguin-
44
o nosso interior, e a concentrar firmemente nossos pensamentos
te suficientemente independente para existir fora do corpo fí-
dentro de nós, nesses momentos.
sico com o qual no entanto estava Intimamente ligado. Assim
A terceira etapa xai &&r consagrada-a© es tudo da pergunta: Descartes, se bem que não tenha levado sua cogitação tão longe
"Sou o i n t ^ r f n pen san te?" Ora, o intelecto recebe, habitual- quanto eu me proponho, partiu de uma ideia mui acertada.
mente, seus conhecimentos ou através dos cinco sentidos ou da
memória e dos conhecimentos canalizados pelos sentidos. A ver- Ademais, as atitudes mentais estão em constantes muta-
dade que esperamos encontrar dentro da caixa craniana do ho- ções. Um dia temos uma opinião e no dia seguinte podemos sus-
mem comum, está pois baseada em experiências externas. tentar o contrário. Como então aceitar tal qual um conjunto de
Atrevo-me entretanto a formular uma hipótese que talvez ideias e afirmar: "Isto representa meu eu", se no próximo ano
pareça absurda. Admitindo que a existência do intelecto não esse mesmo ponto de vista vos parecerá inexato? E não obst
dependa unicamente só da carne, sugiro que o intelecto se com- te o sentimento de sermos nós mesmos, a consciência oala"
põe apenas da infindável sequência de ideias, conceitos e memó- ficou, enquanto nossa maneira de ver sofreu grandes transform
rias, que normalmente acompanham a vida cotidiana e que por- ções.
tanto não existe eu verdadeiro nem mesmo no intelecto. Além do mais, quando refletimos certo tempo sobre alg*
Se este agregado de pensamentos pudesse ser eliminado, coisa, sentimos que algo em nós controla os pensamen*||j||
verificaríamos que não existe coisa tal como uma separada facul- aceita uns e rejeita outros. Quem 1 que pensa? O fato
de selecionarmos os pensamentos indica que há uma entidade Penetramos em nosso ser interno e assim aprendemos que o
independente que se serve do nosso mcanismo cerebral. Esse mundo externo, que nos revelam os sentidos, não há de ser a
"algo em nós" — será o " e u " ? Temos estado tão absorvidos em única condição de nossa existência consciente.
nossos pensamentos egoístas, em nossos sentimentos pessoais e Um dos IP8ul,tgdffs {festa- meditação Á££$8£k*&T- * -P^a
nn
atividades físicas, que jamais procuramos fixar a conciência nes- ohsef^gr -ÇQJpp funciona eyjL rplaçiki aa ^g^jffla jg^ggggM^
te "algo" interno. Não temos tentado um instante sequer des- emocional e física, e colocar-nos ^JR3I£ÍÇÍSÍ.,ÚB^OSSQJ^ pessoal»
prender-nos de nossos pensamentos, emoções ou ações. É por Não" Tia perigo Hé este exercício nos tornar demasiado instrospec-
isso que nem mesmo de leve tocamos a questão de saber o que tivos, pois que nos torna mais impessoais em vez de exaltar a
se passa no interior da nossa prisão de carne. personalidade. Êle nos conduz das atitudes puramente pessoais
A prática da meditação, entretanto, nos permite encon- para as totalmente impessoais.
trar os vestígios dessa "alguma coisa em nós" e descobrir o que Mas ainda nos resta sondar a alma. No entanto, não dou
somos na realidade. Nosso verdadeiro ser está sempre ali, mas a demasiada importância à palavra "alma", pois entre pessoas dife-
pressão dos nossos pensamentos e a atenção contínua que pres- rentes ela se reveste de diferentes significados. Foi usada no
tamos às coisas exteriores através dos sentidos abafam a suave sentido mais nobre por elevados espíritos da nossa raça, mas tam-
presença do eu. O pensamento é um poder que tanto pode es- bém tem sido rebaixada cruelmente por mentalidades estreitas
cravizar-nos como libertar-nos. A maioria o emprega inconscien- e por tacanhas e enganosas autoridades religiosas. Gostaria de
temente para escravisar; porém quem pratica o método da pes- excluí-la desse tratado, mas não me é possível. É uma palavra
quisa do eu utiliza conscientemente o pensamento para obter comprometida com o arcaico fardo de obsoletas teologias, com as
libertação. as quais um racionalista como o autor prefere nada ter a ver.
Enquanto que a palavra "eu* 'abarca tudo o que quero dizer em
As incansáveis rodas do nosso cérebro giram incessantemen-
plenitude e justeza que outro termo mais restrito não pode ex-
te, arrastando os pensamentos grandes e pequenos e, quer tra-
pressar.
tem meramente de assuntos triviais ou de temas nobres e ele-
vados, não parece que possamos deter seu movimento. Tal- Os antigos hindus compreendiam-se tão bem que o seu
vez o intelecto seja apenas "uma máquina de pensar, exercendo vocábulo correspondente ao " e u " assemelha-se exatamcnte ao seu
dessa maneira puramente mecânica suas relações com a lógica. vocábulo correspondente à "alma." * Q eu g nrp £SÍ|ÍÉâQ
Os pensamentos surgem incessantemente e perturbam o experiências, pessoais; i|iclu| todas as experiências físicas, mentais
repouso da mente. Este processo se enraizou tanto na história e emocionais, que se engastam ramo pe^róíaâ PPStffi Hfif dft tfop — e
1
do homem, que chegamos a tomá-lo como um estado normal. contudo imerge dentro desse vasto ser impessoal e divino^ que
Fazer a mente retornar a uma calma tranquila, ou melhor, es- constiui a verdadeira g l o t S 2 3 ^ í í á rtfl. homem,,
vaziá-la de pensamentos, o tomamos como uma condição anor- A gente se defronta com as mais profundas dificuldades ao
mal. Temos confundido a tradição com a verdade e seria um tentar tornar estes assuntos subtis perfeitamente compreensíveis
bem inquirirmos até onde se justificam estes nossos valores. Tan- à inteligência comum sem entrar em metafísica abstrusa e abs-
to quanto descobrimos que os limites que até aqui fixamos à no- traía, porém fiz o esforço porque sei que quem quer pacien-
ção do " e u " são fictícios, os pensamentos que, em sua totalidade, temente pondere estas ideias com total isenção de preconceitos,
constituem o intelecto, não serão as barreiras psíquicas que nos será por fim recompensado por um ténue reconhecimento de sua
cerceiam. verdades e por uma ténue compreensão intuitiva do seu signifi-
Por esta análise introspectiva temos submetido nosso pró- cado. Bastará que êle siga esta diretriz segundo a tripla prática
prio ser ao exame crítico e tomado cada uma de suas partes, prin- esboçada neste livro.
cipais, esforçando-nos por descobrir se é o eu essencial que esta-
mos procurando, a base da noção do " e u " .
pessoais; se absorver o seu conteúdo de sorte que a mera leitura
do livro lhe ministre uma experiência interna, então êle irá longe
e logrará um atraente prémio espiritual por seu trabalho.
Se estas páginas forem lidas de maneira correta, com pro-
funda atenção e entranhado sentimento, poderão despertar as
energias secretas latentes no ser humano, e então a própria leitu-
ra proverá o estudante de uma genuína experiência espiritual. Pois
não só traça uma senda para o eu divino, como habilita o estu-
E X E R C Í C I O RESPIRATÓRIO P A R A dante sincero a percorrer toda essa senda.
C O N T R O L A R OS PENSAMENTOS O final desta terceira etapa encerra o período preparatório
da viagem interna do estudante. Até aqui êle tem trabalhado du-
ramente em suas práticas, mas sem muita recompensa tangível;
doravante êle ingressará num curso onde obterá novas experiên-
O E S T U D A N T E que haja comple-
tado a terceira etapa da meditação delineada no capítulo ante-
cias, que lhe prognosticam a esplêndida meta final que o aguar-
da e o compensará amplamente por todo mínimo esforço feito.
rior, revela com isso haver deitado a mão na charrua com paciên- Todas as dúvidas começarão a desaparecer gradativamente, todas
cia beneditina e esforço ardoroso. Encetou uma tarefa que apela as incertezas de desvanecerão progressivamente dele, pois encon-
trou a senda certa para o autoconhecimento.
para algumas das melhores qualidades no caráter humano e al-
gumas das mais inusitadas capacidades mentais. Seu empenho é Até aqui temos sondado os recessos misteriosos do eu,
deveras digno de louvor, porque tem de levá-lo a cabo sozinho, na temos trilhado parte do caminho com a ajuda da faculdade do
solidão de seu próprio cómodo, e sem contar com o estímulo pensamento, mas não se pode chegar à natureza quintessencial do
gregário que o estudo cole ti vo oferece aos alunos de matérias ou- eu apenas com essa ajuda.^ Podemos agora perceber quanto é
tras que não o autoconhecimento. A linha de reflexões que estas o homem esmagado contra as barreiras do mistério tão logo co-
páginas lhe traçam é precisamente a mais bem adequada à medi- meça a pensar de maneira realmente profunda. Onde o pensa-
tação solitária. Tivesse êle a rara felicidade de se achar em es- mento não pode ir, algo mais está para surgir e conduzir-nos
treita associação com um Adepto que demonstrasse em si próprio adiante. O pensamento racional nos proporciona um esplêndido
o alto atingimento que êle busca, e então, com toda a probabili- instrumento para compreender a vida e o mundo até certo ponto,
dade, o labor de tal meditação interrogativa se lhe tornaria bem mas é um erro imaginar que por isso seja o único instrumento
menor. U m tal Instrutor, com um simples e intencional contacto útil para nós.
pessoal acende o fogo da experiência pessoal naqueles que com- O novo elemento é a intuição, a compreensão direta. Quan-
binam suas aspiração pelo ideal com sua fé no Instrutor. Este, do falha o pensamento, podemos encontrar este estado de guia
em poucos minutos, dará mais a um discípulo digno do que se intuitivo, por-meio de uma busca sutil e atenta. Está aqui, den-
poderia obter durante muitos meses de labor solitário. tro de nós, e ao alcance de todos - está a sua descobgjta. É este
Mas 1 sumamente difícil encontrar-se um adepto no mundo o significado da frase de Jesus: Q^BuJcâi^^ Poucos
moderno, conquanto não faltem seus fracos imitadores, e por são os que se dão ao trabalho de mquinr-se mternamente, e
isso estas páginas foram escritas para prestar uma pequena ajuda por isso, poucos são os que acham.
ao estudante que só conta com o seu esforço pessoal. Se ler Como se há despertar a intuição?
estas páginas com aguda atenção, acendrado interesse e genuíno Quando o aWWt n analítica * r*(fápn*A* ffrlffiT"! ã WÊ
desejo de descobrir a verdade à custa de banir os preconceitos
r
atividide, s n t - intuição çncontra jajn <^npo
5n fl
ina-
•nir^i r- i f Quando as vagas de pensamento não mais se le- A respiração é normalmente^ uma fundão, inconsciente da...
v a n t a m nem caem na superfície da mente, esta se torna qual vida._ ^Quãl^^ giteráJfl seuxonge^eá &MÈ$ÊÊ:
l ago calmo e diáfano em que o sol da intuição pode refletir sem n ^ t e nitt^ E assim, o estudante desejoso
empecilhos nem distorções. É , pois', necessário encontrar meios de atetar a sua mentalidade através da respiração, deverá reser-
d e reduzir a constante agitação do intelecto. var breves períodos em que deliberadamente altere o seu ritmo
respiratório. Se estes períodos forem utilizados da maneira
Isso se consegue por um duplo processo. O primeiro con-
adiante descrita, obedecendo cuidadosamente as instruções sim-
siste de u m esfôrpo para dirigir os pensamentos ao longo de um ples que seguem, os efeitos resultantes sobre seus pensamntos
canal simples e de determinada espécie, isto é, da concentração serão no devido tempo os mais marcantes. É, porém, importan-
numa elevada ideia abstrata. Se praticastes rigorosamente os te que não se afaste destas instruções nem jamais as varie.
exercícios de meditação já indicados, ou deliberadamente vos
dedicastes a inspiradas obras artísticas, então parte deste pro- Aqui é essencial uma palavra de advertência contra a prá-
cesso terá inevitavelmente sido executada em grande extensão e tica indiscriminada de respirações, divulgada por publicações so-
começarão a ser percebidos relâmpagos de intuição. bre Ioga indiana. Com um instrutor para guiar e proteger, tor-
na-se segura a senda do controle da respiração da Ioga, mas sem
O segundo processo implica no domínio da respiração.... A tal assistência, é uma senda sumamente perigosa. Como me dis-
razão aísto e que existe uma profunda conexão entre a respi- se certa vez um grande iogue indiano, enquanto estávamos sen-
racao y..q ,jfflP5a "*"fV Os movimentos respiratórios se sincroni-
w
mp
tados à sombra de um pequeno bosque: "Os antigos mestres,
z a m , de maneira muito notável, com os movimentos do pensa- que conheciam os diferentes efeitos das diferentes respirações, nos
mento. O respirar parece um ato demasiado simples, e talvez dizem que através da respiração podemos tornar-nos tão pode-
pareça estranho que deva exercer qualquer efeito sobre a ação rosos como os deuses, como também podemos cair na insânia,
mental, porém as investigações e as experiências provam conclu- em incuráveis moléstias e em morte súbita. Compreendereis
dentemente esse fato. A maioria das pessoas subestima o poder então que onde as recompensas são tão grandes, os perigos não
da respiração, porém os antigos jesuítas no Ocidente e os primi- são menos grandes. E m nosso sistema há exercido para dife-
rentes finalidades, e se alguns são inofensivos, outros, se errônea-
tivos iogues na índia, mais sábios, incluíram os exercícios respi-
amente feitos, poderão ser de graves consequências."
ratórios em seu sistema de treinamento. Os que não estudaram
o assunto não podem compreender as surpreendentes transforma- Todavia, o exrcício respiratório aqui indicado não oferece
ções que se podem produzir no corpo e na mente pela simples perigo e pode ser praticado sem receio. Èçte é o único tipo
mudança do ritmo respiratório. de exercício de Ioga que se pode praticar seguramente, embora
sem a supervisão de um instrutor, ao passo que, por outro lado,
U m a criança compreende que um rápido sopro no leite fer- é tão simples que ninguém pode deixar de praticá-lo acertada-
vendo o esfria, e que o mesmo sopro feito nas mãos geladas as mente. Mas as pessoas que sofrerem de moléstias cardíacas, não
aquece. Contudo nós ainda não compreendemos que tam-
l M deverão praticar qualquer espécie de exercício respiratório.
b é m s e pode empregar a respiração para resistir às moléstias Este exercício consiste em reduzir o ritmo da respiração
do co rp o * s i i ^
IH .pijLIt lo. e modi- até um ponto abaixo da média normal. Não se pode descre-
ficar o teor de nossos pensamentos. Considerai por um momen- ver aqui o ponto preciso, pois varia com os diferentes tipos de
t o q u e ' quando vos ~acnais excitados, vossa respiração se torna pessoas, em parte de acordo com a capacidade variável dos fri|f
c u rt a e rápida, mas quando vos achais mergulhado em profun- mões e em parte de acordo com os diferentes graus de sensibl»
d o s p e n s am e n t o s , ela se torna lenta e silenciosa. Observai um lidade nervosa. A pessoa comum, de boa saúde, respira H H H
h o m e m q u e respire em solavancos tumultuosos e vereis que seus madamente quinze vezes por minuto. Não obstante^
n e rv o s e s tão i gu alm e n t e agitados. Não demonstra isto quanto completa não deve ser feita num golpe; é sempre
$Ée e n t ro s a m e n t o e xi s t e e n t re a respiração e a mente?
74
s alterações gradativamente, e não de maneira vio-
o aparecimento e desaparecimento dos pensamentos, se corres-
enta.
pondem em harmonia peculiar com o ciclo respiratório e podem
^GSíoeçai exalando muito lentamente, depois inalei suave- ser colocados sob domínio.
mente, em seguida retende a respiração momentaneamente, é( O efeito sobre o estudante, causado pelo consciente afrouxa-
afinal expirai de novo. Fazei isto com plena atenção e com os mento do rítimo de sua respiração, será um bom humor, uma
olhos fechados. É importante que o estudante verta toda a calma derivada da constante vibração do pensamento, um óleo
sua consciência nesta respiração, até lhe parecer viver nela dji* santo derramado sobre o agitado mar da vida, e uma condição
TSQffte todo aquele tempgf" mental mais abstraía. E a aplicada concentração de sua aten-
ção o fará esquecer outras coisas durante aquele ato, de sorte
E s t e exercício é para ser praticado pelos principiantes du-
que êle sentirá haver-se tomado um "filho da respiração", por
rante cinco minutos — e não mais. Os estudantes adiantados assim dizer. Êle se engolfa totalmente no processo da respi-
podem estender o período sucessivamente até dez, quinze e vin- ração modificada, funde com êle sua mente, submerge todos os
te minutos, à medida que progridam. Ninguém deverá ultrapas- demais pensamentos em observá-lo, e assim se torna tempora-
sar o último limite. riamente transformado numa pessoa mais sutil e sensível. Uma
Requer-se u m esforço a sós, lento, regular e tranquilo. Não etapa tal não se alcança imeditmente, senão após semanas de
deve haver nenhuma respiração profunda que seja tensa ou. vio- exercícios regulares.
lenta, pois isso frustraria o objetivo do estudante, mas deve A influência destes exercícios tão simples sobre a mente di-
reinar u m completo relaxamento muscular . Pode-se tomar co- ficilmente pode ser apreciada pelos que nunca os puseram em
mo sinal de êxito quando o ritmo da respiração flui suave e prática, restauram um ritmo harmoniso na máquina humana, e
espontaneamente, de tal sorte que não mova uma pluma coloca- podem transformar um coração agoniado num coração pacífico
da diante de suas marinas. Contudo, se a qualquer momento com todo o mundo.
sentir o mais leve incomodo ou ânsia na respiração, deve parar Há anos, um bem conhecido jornalista da Fleet Street (Rua
imediatamente e inteirar-se de que seu exercício está sendo fei- da Esquadra) foi inesperadamente promovido a editor de um
to errado. famoso jornal dominical de Londres. Êle era escocês, e natu-
Q u e respire por ambas as narinas: qualquer estudante eu- ralmente ambicioso, de sorte que resolveu fazer o máximo por
ropeu ou americano que pratique a respiração Iogue alternando "melhorar*" tudo em seu novo posto. Não se poupou nenhum
as narinas, está pondo em grande risco sua saúde e sanidade. esforço, mas conduziu-se como um feitor de escravos para tor-
Abandone-a, pois. Pulmões dilatados constituem o menor peri- nar um êxito a sua função de editor. E trabalhou tão ardua-
rigo. Tais exercícios respiratórios artificiais e contrários à na- mente, sobrecarregou-se de tantas responsabilidades, que soou a
tureza são geralmente praticados tendo em vista a obtenção de hora em que a ultrajada Natureza lhe exigiu o seu inexorável
poderes psíquicos: nada têm de comum com o domínio natural preço. Sofreu um colapso e teve que ser afastado de seu cargo
aqui proposto como meio de aquietar a excitação mental e e de seu posto por exaustão nervosa.
tornar a respiração tão plácida quanto a de um bebe no ventre Passou vários meses num sanatório à beira-mar, recupe-
materno. rando lentamente seus desgastados nervos e depauperado corpo.
Mas foi só depois de lhe haver sido ministrado este exércicio res-
Este exercício se baseia no simples fato de que a respira- piratório, que êle acelerou o seu restabelecimento e pôde re-
ção é um vínculo entre a mente e o corpo, pois ela supre o cé- tornar à Fleet Street, e não apenas como um homem curado,
rebro de sangue arterial. Diminuir o ciclo é encurtar o supri- mas como um homem novo. Toda a sua visão da vida se trans-
mento de sangue ao cérebro, e portanto, retardar o ciclo de pen- formara pela prática deste simples exercício. Daí em diante foi
samentos. ' A respiração é o cavalo e a mente é o cavaleiro", capaz de aprofuntar a vida, de aprender a finalidade espiritual pot
T J n os tibetanos. Assim, J tensão e o relaxamento do cérebro,

trás de todas as coisas e de sentir a divina harmonia subjacente
em todas as discordâncias da existência moderna.
Além deste seu objetivo específico, este exercício também po-
derá ser aplicado em outras ocasiões, durante o dia. Se, em
qualquer ocasião, vosso autodomínio for sacudido por violentas
paixões ou distúrbios emocionais, quaisquer que sejam, recorrei
imediatamente à prática deste exercício respiratório, até que o pe-
rigo tenha passado. Sob tais condições, notar-se-á a sua grande
eficácia.
No entanto, para os propósitos deste exame de si mesmo, o
O D E S P E R T A R PARA A INTUIÇÃO
estudante deve praticar o controle respiratório só imediatamente
dpepois de terminado o exercício de meditação. Êle terá chegado
a um aparente beco sem saida no final de sua meditação, em que
parece haver um branco muro mental. Pois, tendo interrogado o
corpo, os sentimentos e o inteleto, cada um por sua vez, não ^ ^ U A N D O o estudante tiver termi-
terá conseguido encontrar em cada um deles o " e u " ilusório que nado o seu exercício, estará preparado para a próxima etapa desta
busca. Êle se defrontará com o nada, pois o que é que existe prática, o esforço seguinte que se lhe solicita fazer. Se praticou
num homem depois de eliminados o corpo, os sentimentos e o este exercício convenientemente, e com êxito, êle apanhará a mente
intelecto? Com isso êle termina sua meditação, finda com o su- como um passarinho no ninho, detidos os seus voos constantes,
plício de seu cérebro com introspecções pouco comuns, e volve aquietada a sua irrequieta atividade, de sorte que ela permaneça
sua mente para o exercício acima, de controle respiratório. no ninho sem um bater de asas. Êle não deve então tentar retor-
nar à respiração normal por meio de um esforço; antes, deve
A o lograr sucesso nesta prática, começará a obter um estado deixar seu processo respiratório ajustar-se naturalmente. Sua
mental em que os pensamentos jazerão silenciosos como serpen- mente tem agora de ser retirada jdaj&^entração na jrspiraçSa
tes encantadas. Começará a obter a placidez mental, que é um e ser dirigida para o passo seguinte: Q despertar-para -«4nt«íçio.
dos principais objetivos da Ioga indiana, mas o conseguirá sem Digo para a intuição propositadamente, pois a intuição está sem-
ter de suportar a tensão, luta e perigo envolvidos nos exercícios pre presente, acordada, e não necessita de ser despertada.
respiratórios ióguicos que indivíduos insensatos tornaram indis- Êle começa a reverter para a atitude indagadora e pesqui-
criminadamente conhecidos ao Ocidente. sadora que adotara durante a meditação, mas desta vez a sua
interrogação é dirigida, não ao corpo, desejos ou pensamentos,
mas à misteriosa escuridão que envolve sua mente.
Quem sou^euZ
Quem é este ser, que habita dentro diste corpo?
Que o estudante dirija,essas perguntas a si próprio, lentamen-
te, intencionalmente, e com intensa concentração de alma.
Depois aguarde durante uns minutos, meditando silenciosa-
mente, e sem esforço, nestas perguntas.
A seguir, que faça um silencioso è humilde pedido, uma
meia-prece se o prefere, dirigido ao Super-eu no próprio centro
78
e seu ser, para que ine revele sua existência. A s palavras em
bitos de abstração, concentração e profundeza. É por engen-
ue formule tal pedido, podem ser suas próprias, mas têm de ser
drarem o orgulho da erudição e o egoismo da auto-importâada
pies, breves e diretas. Faça o pedido como se estivesse se
que levantam osbstáculos na verdadeira senda. Não constitui pro-
igindo a u m amigo Intimo e a um verdadeiro ser. "Ped i e blema para muitos o domínio de uma dúzia de diferentes siste-
dar-se-vos-á", foi a indicação de Jesus a seus ouvintes; de Jesus, mas filosóficos; contudo, bem mais difícil é o domínio do orgu-
cuja consciência era puramente a do Super-eu. lho pessoal. A humildade vem mais facilmente para os ile-
Havendo feito o pedido ou proferido silenciosamente a trados e ignorantes, pois estão conscientes de suas inferiorida-

prece, que pare e aguarde expectivamente, mesmo confiantemente, des mentais e sociais. E a humildade é condição essencial em
uma resposta. Digo "confiantemente", mas subentendido que cada etapa do Caminho Secreto.
deve haver uma profunda humildade em sua alma, ao solicitar a Os grandes segredos elementares da vida são tão simples que
divina revelação. Humildade é o primeiro passo na senda se- poucos são os que os vêem. São os indivíduos e os intelectos
creta — e também será o último. Porque, antes de a divindade que são complicados, e não a vida. Portanto digo: <Juardai em
começar a instruí-lo através de sua auto-revelaçào, êle tem de vosso coração e retende em vossa mente o admirável enunciado
se tornar instruível, isto é, humilde. de Jesus: " A não ser que vos tornais como uma criancinha, não
A agilidade e instrução intelectuais são coisas admiráveis e entrareis no reino do céu."/ São necessárias tremendas espe-
adornam o indivíduo, mas o orgulho intelectual levanta uma culações teológicas para compreender as verdades simples do
forte barreira entre êle e a vida superior que está sempre chaman- Espírito.
do por êle, conquanto silenciosamente. Os intelecutais orgulhosos Até aqui todos os esforços do estudante por encontrar o
se sentam em seus débeis pedestais e esperam ser adorados, quan- verdadeiro eu foram positivamente dirigidos, e pessoalmente dese-
do existe a todo tempo uma divindade habitando nas profundezas jados, conscientes e voluntários. Êle se acha agora quase no pon-
de seus corações, e que é a única digna de adorações* O eu inte- to em que deve haver uma completa reversão de processos,
lectual enfuna-se como um orgulhoso pavão diante dos olha- em que a personalidade deve cessar de fazer quaisquer esforços
res do mundo; mas o verdadeiro gerador de seus talentos e cria- ulteriores, pois atingiu o fim de sua tarefa.
dor de seus feitos, o ser que o satura do princípio de vida e Todo o processo da meditação consiste simplesmente em
assim lhe permite existir, se satisfaz plenamente com o perma- selecionar dentre a multidão de ideias um tet^a superior de auto-
necer em segundo plano, ignorado e desapercebido dos homens. -indagação, em pensar firmemente tão-só nesse tema e em nada
A mais difícil das tarefas é a gente humilhar-se até a rea- mais. Depois, uma vez desenvolvidas fortemente a atitude e a
lização de sua própria pequenez, ignorância a vaidade. Con- qualidade da concentração, o estudante abandona mesmo esta
tudo, a maior das conquistas nesse sentido conduz diretamente linha especial de reflexão, recolhe-se em seu interior e pergunta
ao encontro da vida divina que Cristo prometeu a todos os que quem é que está pensando. Êle não se esforçará por obter uma
que perdessem a vida pessoal. resposta por meio da reflexão no Pensador; mas começará por
Para comprender estas coisas, não necesitamos do conhe- deixar que todos os pensamentos se desvaneçam, e por fixar sua
cimento e cultura de uma alta mentalidade. Os simples, os ru- atenção em tornar-se apercebido deste ser, que foi encoberto
des e os primitivos podem assimilá-las prontamente por um pela cortina dos intermináveis pensamentos.
ato de fé e oração, e podem mais facilmente assumir a atitude Durante esta pausa, que se segue à sua indagação silencio-
de reverência. sa, êle deve suspender seus pensamentos de sorte a poder adotar
Quando nos aproximarmos do Super-eu pela senda da au- uma atitude de "escutar" uma resposta. Depois de esperar uns
topesquisa, os sazonados estudos do filósofo pouco o avanta- dois ou três minutos, êle pode repetir sua indagação e depois pa-
tajam do homem comum. Não porque tais estudos não tenham rar de novo. Após o segundo período de espera durante três Bjf
valor; ao contrário, servem para treinar a mente em úteis há- ,quatro minutos, êle o pode repetir pela terceira e última ve z .
ntSo deve esperar com paciência e expectativa, durante um pe- força dinâmica que se transvasará e interpenetrará nono corpo
ríodo de cerca de cinco minutos, com seu corpo parado, sua res- com um poder celestial.
piração lenta e calma, e sua mente serena. Este é o final de Há aspectos tão imponderáveis do pensamento, certos ma-
sua meditação. tizes de emoção tão sutis que geralmente não lhe damos atenção
A chave para uma correta compreensão desta etapa está em no decorrer da vida diária; todavia, são precisamente estas as
lembrar que o que mais importa agora é a reação subconsciente experiências deixadas como sem importância que devemos utili-
ao esforço consciente do estudante. A prática consciente da zar, cultivar e desenvolverão estudante deverá nelas se con-
quietude mental foi útil no aguçamento da atenção; é como centrar a qualquer momento em que apareçam, esforçando-se por
tocar a campainha de uma porta; agora o estudante deve aguar- entregar-se a elas por inteiro. Nesses estranhos momentos des-
dar que o subconsciente apareça. Que não se superexcite nem cobrirá o que quase poderia chamar o "seu segundo eu**; talvez
se estafe; que dê ao Super-eu algum crédito de inteligência e sejam raros ou só apareçam em intervalos irregulares; contudo,
iniciativa próprias. a existência desses instantes é uma prova manifesta de que algo
existe, de fato, em nós.
O estudante pode passar por um período em que não ve-
nh;j | nenhuma resposta, em que apenas o "vazio nada" reine su- Esses momentos de êxtase dão uma chave para a verdadeira
premo dentro de sua alma. Antes que possa abandonar esta natureza do homem. E m cada um de nós existem numerosas
"terra de ninguém" da alma, pode acolhê-lo um sentimento de fontes desconhecidas e inaproveitadas de paz e de sabedoria es-
intensa solidão. Não obstante, essa fase passará, finalmente. Se piritual. De quando em vez nos vêem os murmúrios desse se-
não estiver preparado para exercer a paciência durante a sua pre- gundo eu, murmúrios que nos incitam à prática do autodomínio,
a tomar o caminho superior e a transcender o egoísmo. De-
I
paração silenciosa para esta revelação, êle frustará qualquer pos-
sibilidade de sucesso. vemos prestar muita atenção a esses sussurros e aproveitar
sil
esses raros momentos. São lampejos daquilo que podemos che-
JÊÉ importante a paciência. Devemos aguardar humildemente gar a ser. Se essas ocasiões de percepção espiritual pudessem se
a Jrevelação do Infinito que está dentro de nós. Enquanto não soar prolongar, alcançaríamos a verdadeira felicidade. Com efeito,
essa hora sagrada, somos uns pobres órfãos. Aqueles que intro- há algo que ocasionalmente se faz sentir desta maneira nas mis-
duzem qualquer elemento de impaciência em seu período de quie- teriosas profundezas da alma. Não sabemos o que é, mas po-
tude mental, apenas levantam obstáculos a si mesmos. demos saber o que diz. 'Tudg o que há de m p l W ^
Daqui em diante deve o estudante atentar cuidadosamente ISSO sou" — é a s| | a vog silenciosa: É una conosco, c ca»
li i r a os primeiros sinais e indícios confirmatórios de que êle está
no caminho certo para as primeiras e pálidas provas dos estre-
sagrada e posta à parte. A finalidade dos exercidos de repouso
mental é fazer ingressar na região oculta, que os psicólogos cha-
mecimentos de seu mais profundo eu interno. Esses sinais e in- mam o inconsciente.
dícios são mostrados pela alma, porém frequentemente ou são A resposta da intuição despertando unto pode vir no de
mal interpretados ou simplesmente passam desapercebidos. No correr de primeiro exercício que se faça, como só depois de
princípio nos vêm suavemente, como um despontar do sol da manas ou meses de prática diária. O estudante que
aurora atravessa as trevas noturnas, tão suaves que parecem qui- completamente todos os estágios anteriores, está agora em con-
meras, vãos pensamentos ou imaginação da própria mente. Será, dições de se beneficiar notavelmente da ajuda de IM
iletanto, um grave erro rejeitá-los! A voz de nosso Super-eu genuíno, que agora pode fazer-lhe vir rapidamente a p ^ ^ ^ É
J È num sussurro discreto e temos que escutá-la atentamente meio de certos métodos secretos. Se lhe fôr irapo^l£|MJ
quisermos ouví-la; os estremecimentos mais imperceptíveis do praticável o encontro de um tal Adepto, por ase M É I
*Ç$Q devem receber atenção plena e sustida para serem aco- mente difícil no mundo atual, j deverá g B B n p S S H
©01» respeito I veneração dignos, como embaixadores de fielmente as instruções aqui ff
^ ^ ^ H B ^ ^ B ^ G B ^ H o ^ f f i S t i o os arautos de grande
eu com o corpo. A cura e?tá cm dfmH^r gradarívamrnffSZtSÍ
tendências pela reiterada busca dg yçydadeifp eu, o ftuper-qi, nos
momentos de quietude tnenfttl, ç pçla fignstant* auto-observação
Neste estágio, o estudante pode aproveitar consideravelmen- nas horas vagas, durantg^jjjâ. Não importa qual a profundidade
te começando por auto-analisar-se durante o dia, nas horas de da radicação em si destas tendências; por estas práticas elas po-
lazer. Pode deter-se, quase inesperadamente, e observar o que derão ser apagadas progressivamente.
está fazendo, sentindo ou pensando, mas de maneira que sua
O intelecto que seja reiteradamente voltado para o interior,
auto-observação seja feita com espírito desprendido, imparcial e
para esta indagação, tenderá com o tempo a esse hábito, e come-
impessoal. çará automaticamente a apresentar-nos à luz do Super-eu nossas
1UJ
cambiantes emoções, desejos, pensamentos e ações, isto é, como
"Quem está fazendo i s t o ? "
coisas que estão sendo experimentadas dentro de nós mesmos, po-
"Quem está sentindo esta emoção?" rém que não passam de meras respostas mecânicas a estímulos ex-
"Quem está proferindo estas palavras?" tern^^^^-^ *-
"Quem está pensando estes pensamentos?" Um dos resultados inevitáveis desta prática, será uma mu-
dança gradual da atitude do estudante para com as coisas, pessoas
i Que formule esta» pergunta* a d m ^ m n t5n frequentemente
j
e acontecimentos. Começará a expressar qualidades que são na-
quanto o desejar, mas de-maneira abruptay^suhita, e depois espere turais ao Super-eu, as qualidades de nobre visão, perfeita justiça,
silencioso^^expeçtatíYanienffj -alguma.—resp„o_sja i n t u i t i v ^ - ^ e õ tratamento de seu próximo como a si mesmo. --g»* -
; sg
Tanto quanto puder,, qyg alije todos os pensamentos durante Que volte repetidamente sua mente para A Q U E L E que é
esta_pausa* E s a inquirição introspectiva não necessita ocupar o espectador silencioso dentro de si mesmo, e fixe-a ali. Esta in-
mais dojgue u m ou dois m i n u t a hnras vagas Concomitante-
n a g
troversão é um processo mental, uma atividade intelectual basea-
mente com este exercício de auto-observação e auto-inquirição, da numa atitude de auto-inquirição, mas no estágio a seguir há
pode-se induzir proveitosamente uma plácida respiração. uma submissão de todos os pensamentos ao sentido intuitivo que
I
Desta maneira se começará a romper a atitude complacen- brota do interior e que guia nossa percepção até o Mais Intimo»
e que aceita o conceito do eu pessoal baseado no corpo, e a l i - O estudante tem sempre exercitado seu intelecto e emo-
>ertar-se da ilusão do que a pessoa exterior é o ser humano com- ções, mas raramente a sua intuição; daqui em diante deve come-
pleto. A prática de subitamente se observar a si, os seus desejos, çar a mudar de atitude, arrancando seu sentimento intuitivo do
ânimo e ações, é especialmente valiosa porque tende a separar estado latente, tanto quanto possível. Levará tempo esta busca
os pensamentos e desejos da sensação de eu, que normalmente lhes da reta intuição em meio do emaranhado de sentimentos e pen-
é inerente, e assim tende a manter a consciência afastada de sua samentos que normalmente compõem nosso eu interno, porém a
permanente submersão no mar dos cinco sentidos físicos. Ade- inquirição persistente a descobrirá.
mais, reforçará de maneira útil o trabalho que está sendo feito /Não há nenhum momento do dia em que não possa desviar
para penetrar o chamado inconsciente durante os períodos de proveitosamente a corrente de pensamento para procurar dentro
quietude mental. /Com efeito, poderia dizer-se qye a$ três .práti- de si, e afirmar, o Super-eu. Tem de começar a cavalgar o ginete
cas de auto-observação^ quietude diária e ftlácida respiração, são mental e impelí-lo na direção interna. Iniciará esta busca no
complementares. Todo o objetivo consiste cm vencer as tendên- estado comum de escuridão espiritual, na condição comum de
cías para a completa auto-identificação com o corpo, os desejos auto-esquecimento, de vítima dos desejos e repulsas surgidos
e o intelecto, a qual hoje se encara como normal e natural. mecanicamente. Mas se perseverar nestas práticas, sentirá grada-
Desde tempos imemoriais a raça humana tem se comprazido tivamente uma maior liberdade em sua caminhada para o seu
nestas tendências, e daí nasceu a tão comum identificação do interior. .
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Não existe felicidade para o homem que não é livre. Quer
se trate de um rei aprisionado em seu palácio por seus deveres, seu eu primevo e se renova em seu ser real. Se não fosse
ou de um réu confinado na cela de uma prisão, é um truísmo assim, e isto não ocorresse milhares de vezes por dia, o ho-
dizer que sua alma ama a liberdade. | Aqui deparamos com mem não poderia continuar a existir e seu corpo tombaria no
uma indicação quanto à natureza da felicidade. Liberdade eter- isolo como uma massa inerte. Pois o Super-eu é a fonte oculta
na e imutável deve.fazer parte dessa, felicidade, e uma liber- Ide sua vida, cuja força o mantém, e estes constantes retornos
dade desta^_espéde_ jamais se poderá encontrar senão no capacita o homem a "captar" a energia vital de que neces-
Supereji^/ sita para viver, pensar e sentir. Estes ténues fragmentos de
.tempo são experimentados por todos, mas apenas reconhecidos,
Prossegue-se, assim, por graus imperceptíveis, até fazer por poucos quanto ao seu valor. A Q U I L O é externamente,
o pensamento retornar à sua mansão oculta. Enquanto esti- /mas o nosso eu pessoal existe, "emana dele" apenas por algum
j^S9S^^scravojl,do pensamento, a intuição estará fora de nos; [ tempo.
j&jdcance* ti *
^Sigamos o caminho da auto-pesquisa constante e faremos * *
o próprio pensamento servir-nos de um meio para atingir a
libertação; então, as próprias perguntas que nos formulamos
Se fixardes vossa atenção na pergunta "Quem sou eu?",
serão degraus que nos levarão ao estado silencioso do Super-eu./
e tentardes encontrar sua solução com todo o ardor que puder-
Compreenderemos melhor a razoabilidade da tríplice prá- des, época chegará em que, um dia, durante vossa prática de
tica — quietude mental, plácida respiração e auto-observação quietude mental, estareis tão profundamente empenha-
— estudando o quadro seguinte, da relação do homem com dos neste esforço, que ficareis em grande parte alheios ao que
o seu Super-eu. se passa ao vosso redor. Esta condição de intenso devaneio
Podemos dizer que a pessoa existe em virtude da permis- vos propiciará o estado adequado pelo qual se poderá dar o
são do Super-eu através da força vital. Os pensamentos, de- grande acontecimento da auto-revelação.
sejos e ações resultantes de uma pessoa estão normalmente Em verdade, obter acesso à sua própria alma não é uma
quase por inteiro ocupados com as coisas pertencentes ao mun- façanha tão rara como talvez o pareça. Muitos são os que pre-
do externo. Podemos imaginar o eu pessoal sentado dentro param, sem o saber, as condições apropriadas para isso. Fá-lo o
do corpo humano e constantemente ocupado em contemplar artista, quando abstrai sua mente das circunstâncias externas,
o mundo ao redor pela janela dos cinco órgãos sensóricos. O arrebatado e absorvido por sua arte. Êle experimenta o êxtase
resultado desta preocupação com os objetos externos é ser o num grau menor, e esquece-se em sua obra ou visão/ É neste
eu constantemente atraído ou repelido, conforme o caso, pelo estado que os génios produziram as suas mais finas criações,
afanoso pensar, desejar ou ação do corpo, até o ponto de haver suas melhores obras. " É quando sou, por assim dizer, eu mes-
o eu se esquecido totalmente de seu berço natal, que é o Su- mo, inteiramente solitário, e animoso, é nessas ocasiões que
per-eu^i Assim, êle caiu na posição irónica de um ser que minhas ideias fluem melhor e mais abundantemente; donde e
não só perdeu toda recordação de seu Pai, mas, praticamente, como vêm não sei, nem posso forçá-las," confessou Mozart a
nega toda possibilidade da própria existência do Pai. um amigo.
A Q U I L O de que brotam os pensamentos é o verdadeiro Um escritor perdido em lucubrações sobre seu tema, têm
N s e r no homem, o eu real. Entre cada dois pensamentos, entre sua mente tão profundamente mergulhada numa simples se-
/cada duas respirações, existe um hiato desconhecido e desaper- quência de ideias que chega a não reconhecer as coisas, pessoas
I cebido, em que o homem faz uma pausa momentânea durante ou acontecimentos ao seu redor. O pintor se absorve tant§j?
I I rapidíssima fração de um segundo. Durante essa pausa, ve- na contemplação do quadro que está produzindo que se esq?
\Ioz e imensurável como um relâmpago, o homem retorna ao ce do perpassar das horas, e mais que tudo o rapto'iâo>^i
v
86
sico no entusiasmo da composição musical. Todos ê s M s f 5 r
expectativa por uma resposta dimanante do E u interno.§8 É
tão inco^cientemente praticando a meditação! Mas vós^ qu e, uma espécie de auto-hipnotismo, se preferis o termo, mas "fun-
seguis a senda cia auto-pesquisa, a estais pratirflpdf\..rn ( .
WTr eff
ciona", e seu valor há de ser julgado por seus resultados.
temeM^^
Neste estágio, cessareis qualquer esforço, não procurareis
Quando Leonardo da Vinci se sentia minguado de ideias efetuar nada, mas, antes, permitireis que algo seja efetuado em
criadoras, lhe bastava atentar para um monte de cinzas, por vós; substituireis o intelecto argumentador pela fé, pela santa
exemplo, que de sua concentração nascia um devaneio, do qual expectativa e sublime confiança. Daí em diante, o que for
brotavam as ideias que estava necessitando. feito o será pela ação divina e não pela vossa. Não mais
Lorde Tennyson, laureado poeta inglês, numa carta diri- perguntareis, mas vos submetereis, sem questifenàr, àquilo que
apela ao mais íntimo de vosso ser. Deixai que este ser interno^
fiida a um amigo seu, escreveu: "Desde muito criança, quan-
se aposse de vós e vos controle. Instintivamente recuamos
do me encontro a sós, passo frequentemente por uma espécie
amedrontados diante do misterioso estado em que nossos sen-
de transe desperto. Minha intensa consciência de individuali- tidos se perdem; no entanto, é o estado em que não há temor
dade parece dissolver-se e diluir-se na de um ser ilimitado. E e nada a recear.
não se trata aqui de um estado confuso, mas dos mais claros
P O silêncio é Deus") diz um escritor francês. Sim, mas si-
e seguros possíveis, muito além de qualquer descrição. Nesse
lêncio de~cõrpo, pensamentos e desejos, e não meramente si-
estado a morte é quase uma risível impossibilidade, e a perda
lêncio auricular. Neste, momento, sublime^ Deus começa a
da personalidade (por assim dizer) parece não uma extinção, tomar posse de vossa alma; tudp o que yos cabe fazer, é prati-
mas um ingresso na verdadeira vida." car a integral auto-submissão. >
O grande poeta expressou ideia similar nestes lindos Colocar-se nesta atitude de escuta, seguindo o fio da in-
sos: tuição, hão deixa de ser uma curiosa experiência. A maquina
"Se queres ouvir o Inominável, mergulha do mundo parece estacionar, e de dentro deste ponto, que
No Santuário interno de teu próprio ser, sois vós mesmos, o Absoluto começa a emergir. Esta é a hora
E ali, meditando rente ao altar-mor, maravilhosa e transcendental, em que a mente pela primeira
Talvez consigas aprender que Êle tem uma voz, vez rompe o casulo por ela mesmo criado. A resposta à vossa
À qual, se fores sábio, obedecerás". silenciosa invocação chega primeiro sob a forma de pálida e,
no início, imponderável intuição, uma orientação interior. Guia-
Sir Isaac Newton, numa manhã de sol já alto, foi encon- dos pelo fio ariádnico da intuição desperta, sois trazido ao
trado sentado na cama, semi-vestido, mergulhado em medita- vosso lar materno. Ou a resposta pode tomar a forma de
ção, e numa outra ocasião permaneceu por longo tempo em uma mensagem, que será imprimida em vossa mente como ví-
sua adega, onde uma sequência de ideias se havia apossado vidas palavras.
dele ao ir apanhar uma garrafa de vinho para seus hóspedes. Então descobrireis dentro de vós um templo curioso, onde
sereis ao mesmo tempo pregador e ouvinte. Gradativtóaente
Lorde Kitchener tinha atitudes de "ar pensativo", em que surgirá uma misteriosa condição, em que a gente se toma esqui-
seus olhos se revolviam, como que contemplando a raiz de seu sitamente apercebido desta sensação de "ser outrem". É como
nariz. & Então êle parecia como que totalmente alheio ao que se uma parte de nossa natureza observasse o que a outra parte
se passava ao seu redor. Depois emergia dessas atitudes numa não observa. Notareis que este limiar sagrado invisível é real-
condição de inspirada compreensão. mente feliz: "poucos são os que o notam". No entanto, esses
À medida que se aprofunda a concentração, o mundo ex- poucos sabem que as melhores e mais elevadas aspirações do
terno vai sendo lentamente esquecido. As câmaras mentais homem estão bem aquém do tesouro que êle ainda tem de
se tornam vazias de todo pensamento, exceto esta dominante
m
alcançar. O u diante do vosso olho mental pode deliear-se um
brilhante quadro simbólico. Podereis ver uma cruz com um movimento espontâneo, por meio das operações internas do eu
círculo se expandindo em cores gloriosas, ou como uma radian- espiritual "subconsciente"
te estrela pentagonal. O u podereis experimentar, apenas uma A suspensão do pensamento não constitui um meio de
tocante ternura no coração, uma suave sensação de engolfa- atingir a consciência de nosso eu divino; se assim fosse, os epi-
mento num esplêndido repouso. léticos teriam o poder de um Cristo e os lunáticos possuiriam
Os que varam anos solicitando alguma insinuação ou re- a sabedoria de um Buda. Mas a verdade é que cobrimos nos-
velação do seu augusto hóspede interno, com o tempo rece- sa natureza divina de pensamentos e desejos; portanto, deve-
berão uma rica recompensa. U m simples vislumbre que obte- mos passar a descobri-la se quisermos conhecê-la*^ A dife-
nhamos daquele misterioso ser, nos tirará os aborrecimentos rença, e muito vital, que há entre o lunático que fita o vazio
com olhos vítreos, e o místico que fita o vazio aparente com
da vida e os submeterá a nossos pés. Uma santa palavra de
olhos brilhantes, é a mesma existente entre aquele que perdeu
seus lábios oraculares ministra uma bênção que inunda nosso
o poder de pensar mas não atingiu o conhecimento do eu
pequeno eu de alegria cósmica. interno, e aquele que venceu a tirania do pensamento e pode
A s grandes minas de diamantes de De Beer, no Sul da suspender à vontade a sua atividade, ao passo que se man-
África, foram descobertas por uma criança ao arrancar um pe- tém consciente de seu verdadeiro eu espiritual.
daço de cristal negro do muro de uma velha fazenda holandesa,
Nossa maneira comum de pensar é qual um pesado véu
diante do qual, por tantos anos, passara e repassara tanta gente
encobrindo a bela face de nossa divindade interna. Levante-
completamente alheia ao tesouro sob seus calcanhares! Quan-
mos uma ponta do véu deixando nossa mente repousar como
tas pessoas já ouviram o suave murmúrio de seu ser interior
um navio ancorado no porto, e então perceberemos algo de
ou perceberam sua delicada orientação, somente para logo uma beleza que jamais esqueceremos.
apagá-las sem nada entenderem? Quantas rejeitaram como
meros pensamentos as primeiras insinuações da vida mais di- É realmente possível a cessação consciente do pensamento?
vina? Pois este centro magnético profundamente enterrado A melhor resposta a esta pergunta é um apelo à experiência dâ-
na carne do homem, que constitui a sua natureza essencial e reta. Os homens que têm explorado as profundezas da men-
real, que é o pai de todos os seus atos mais delicados, às vezes te, chegaram ultimamente a um ponto em que foram compeli-
revela a sua presença em nada mais tangível do que essas deli- dos a parar com suas pesquisas, pois seus pensamentos se de-
cadas exortações. tiveram num estado de suspensão. Pode-se comparar a mente
a uma roda em constante movimento, e o pensamento é sim-
/As vezes as maiores verdades penetram em nossas mentes
plesmente o resultado automático deste movimento. Se a roda
sem qualquer prenúncio. Apenas sabemos que ontem não po-
é trazida a um ponto morto, seguramente cessa todo pensa-
demos aceitá-las, porém que hoje as sustentamos alegremente.
mento. ...^ gji|
T a l é o que ocorre ao homem; começam a incidir sobre êle os
primeiros raios do sol da imortalidade./ "Muitas pessoas inexperientes objetarão que cessar de pen-
Se vos mantiverdes sempre tranquilos diante destas sen- sar é fazer cessar a consciência. A experiência efetiva do pro-
sações, notareis que vos sentireis menos inclinados a excitar a cesso revela não ser isto assim, porém que uma nova e
mente com ondas de pensamentos, e lhes ordenareis silenciosa- mente vívida percepção eleva a nossa consciência normat
mente que se acalmem. Os pensamentos chegam e partem mister diferenciarmos a pura consciêaç
e m crescente lentidão. Não hesiteis em cessar de pensar, se de p^asarr^*^
puderdes* Mas isto representa um ponto altamente avançado, A morte é o a^grêdo dg^|da
um po n to que não devereis forçar, pois que então não con- qmserijiQst g c r c f a d ^ Quando a
B h H É s e n ã W m í i o n t o artificial. Isto deve vir como um os seus pensamentos, cria-se utn visan
a m ^ a B S n a s uns j ^ u c o ^ ^ g y n d o s Então lhe penetrará um
misterioso fljgm d e j n ^ d i v ^ . É a descida do Espírito Santo. Precisamos experimentar-nos como realmente somos, e não
como prisioneiros do corpo, como cativos na gaiola de pensa-
E neste estado de cessação consciente do pensamento que mentos, ou joguetes das paixões transitórias. Nossa consciên-
a verdade do nosso eu, até então ocultada de nós pelas ativi- cia está jungida a estas várias formas. Toda a arte da medi-
dades, desejos e pensamentos, se revela em sua sublime gran- tação e concentração consiste em livrar-nos de nossas cadeias e
deza espiritual. Detende a corrente de pensamentos, se puder- alçar-nos como espíritos libertos.
des, e contemplai firmemente o Pensador. Fazei o intelecto
:
Num antigo texto indiano deparei com estas linhas:
cair em repouso, e vigiai atentamente o vácuo na consciência,
que pareceria restar. "Porque abdicara de minha unidade contigo,
A consciência do Super-eu equivale ao estado de sono Porque, insensato! me identificara com meu corpo,
rofundo, sem sonhos; é toda frescor e paz, mas ao invés de Porque eu ignorara que habitavas em mim,
trevas e esquecimento, há completa percepção. Se apenas pu- Por isso vaguei por infernos hediondos...
dermos ser bem sucedidos em levantar a ponta do véu da cons- Porque alijara meu próprio eu, fiquei encadeado."
ciência, que o sono profundo implica, poderemos descobrir o
significado do céu e da terra. E tal qual cessa todo pensa-
mento nesse estado, assim também, para o estudante que entrar
nesta condição, morrerão necessariamente todos os pensamentos
que lhe chegarem. À mente europeia é difícil conceber um A descoberta de uma "estrela" de cinema é celebrada pe-
tal estado, em que a consciência humana subsiste sem pensa- la imprensa de todo o mundo, ao passo que a descoberta do eu
mentos, mas poderá constatar isto pela prática e experiência. espiritual de um homem se faz em completo silêncio, sem os
A teoria eletrônica da ciência moderna nos fornece uma louvores do mundo nem de seus órgãos escritos.)
adequada analogia do Super-eu. A ciência representa o átomo Eis a senda que conduz à paz duradoura. Devemos pene-
como um universo em miniatura, semelhante ao nosso sistema trar cada vez mais fundo, com a mente focalizada, até entrar-
solar. No centro desse sistema atómico temos uma carga de mos no reino onde domina a paz bendita. Uma imensa quietude
eletricidade positiva, em torno da qual se revolvem cargas elé- inundará lentamente nosso ser interno, e sentiremos uma deli-
tricas negativas (os elétrons). A s cargas positiva e negativa cada e santa paz cada vez maior.
se equilibram mutuamente, de sorte que os átomos não se des- Conheceremos que estamos ingressando na aura do verda-
fazem. Assim, há uma carga positiva parada no centro e car- deiro eu pela experimentação de um sentimento de felicidade.
gas negativas girando ao redor desse centro. O ponto do Abso- Este é apenas o estágio inicial. O último será uma união ex-
luto epouso em torno do qual se revolvem os elétrons, pode ser tática.
comparado ao verdadeiro eu, e os elétrons aos seus acessórios: Pouco a pouco, irão se desvanecendo todas as nossas im-
o intelecto, a emoção e o corpo. O Super-eu do homem é pressões de tudo que nos rodeia, o mundo e seus interesses
imutável. começarão a afastar-se, pois quando nossas mentes são retraí-
das do buliçoso tumulto de nossa época e encontram uca e||j|
/. Achar a alma significa, simplesmente, retornar ao nosso do natural nos quietos momentos, elas são saturadas de
lo original J | No remoto passado éramos seres puramente sublime paz.
mas não enleados pelos invólucros do pensamento e
Ao ingressarmos no âmago central de §N
Ainda somos seres divinos, mas estes invólucros pos-
gamos a um estado em que o pensamento f£ #>9^UHhlÍÉ^
©©• fizeram esquecer quem somos. Daí que traspas-
e em que no começo parece não ser nada. «meto ^BÊ
^^^^l^^jj^^^^prio eu, j
consciência do Ser, o sublime repouso na Existência Infinita
H a os que quererão sentar-se num solene conclave para
Este é o eu que realmente somos, o Super-eu.
investigar estas asserções. Mais sábios seriam, no entanto, se
"Tendo abandonado as coisas do mundo, investigassem seus próprios eus. Pois não há melhor prova
do eu mterno do que experimentá-lo praticamente.
Esqueci castas e linhagens;
Minha tecedura é agora no silêncio infinito. É desta maneira peculiar que o homem que segue a sen-
da da meditação analítica, começa a acordar para a liderança
Kabir, tendo pesquisado e se pesquisado a si mesmo, de sua intuição. Qundo êle principia a sentir o impulso inte-
Encontrou Deus em seu interior." rior despontar nas profundezas de seu ser; quando começa a
obedecer esse impulso, deixando-o conduzir sua consciência mais
Estas linhas foram escritas há muitos anos por Kabir, o e mais para o seu interior; quando submete totalmente seus -
poeta-tecelão de Benares./ pensamentos, sentimentos e memórias pessoais, e os carreia para
\ Quando, em nossas meditações, procuramos descobrir a torrente da vida impessoal que flui espontaneamente; quando
se subordina a esse profundo comando, então transporá o um-
o nosso eu verdadeiro de suas múltiplas máscaras, chegaremos, por
bral do autoconhecimento e ingressará na câmara interna, onde
último, a um estado interno, que é realmente o mais interes- o aguarda o seu ser real. Uma vez obtida esta experiência, ^
sante da vida. ainda que momentânea, êle compreenderá algo do que quero ^ i
Não é inconsciência. Não é sono. Não é sonho. Dentro dizer ao falar do ser espiritual no homem. Compreenderá que
de seu regaço, tornamo-nos consciente de uma intensa percep- sem a intervenção dos cinco sentidos riem do sonho, entrou
ção do infinito. Entrar temporariamente nesta condição trans- numa condição maravilhosa, em algo que é real e transformador,
figura toda a natureza humana. Quando nos recolhemos à ci- que jamais experimentara.
dadela da alma, começa a desvanecer-se de nossa vista o mo- No silêncio absoluto de sua alma, sentirá que pensar me-
vediço panorama das impressões sensórias. Ao penetrarmos ramente é fazer um ruido sacrílego. Neste estado elevado, ao
Intimamente em nós mesmos, começa a desaparecer o quadro descobrir a presença de seu eu divino, êle percebe que o me-
do mundo, que até então nos encantava e roubava de nossa lhor pagamento por este privilégio, é reunir todos os seus pen-
verdadeira autoconsciência. Quando colocamos nossa mente em samentos num feixe sobre o sagrado altar e sacrificá-los. Neste
repouso e nos recordamos do que somos, nossos esforços não raro momento o intelecto é cremado, e de suas cinzas surge
necessitam mais ser premiados. Garantimos o bálsamo para a fénix do verdadeiro eu, o imperecível Super-eu no homem.
o dia, e toda a vida nos parece boa. Quando a mente huma-
na se detém em sua atividade incessante; quando ela se esva-
zia de toda imagem e ideia, então ela se torna um espelho cla-
ro, em que se reflete a inefável Divindade.
Nossos graves e eruditos céticos nos dirão que estes êxta-
ses espirituais são meros distúrbios do sistema nervoso, e seus
frios irmãos, os médicos, provavelmente os rotularão de "exces-
siva pressão sanguínea", ou outra coisa. Outros confundirão
este estado com os devaneios introspectivos de algum sonha-
dor solitário. Contudo, ao invés de rejeitar, com o prejuízo
desdenhoso da incompreensão, estes vislumbres das gloriosas
possibilidades do homem, seria preferível que eles os admitis-
se m com o demasiado estranhos para serem aceitos por sua ra-
z
^ A f t «jjpeixassem em paz por enquanto.
posteriormente. Poucos são os que avançam muito neste reino
místico, pois a maioria fica marcando passos no umbral, con-
tentando-se com seu brilho seráfico, seu calor espiritual e sua
paz indescritível.
Mas é mister fazer uma advertência. Se no esboço pre-
cedente do Caminho Secreto dei a impressão de que o Auto-
CAPÍTULO V I I I conhecimento é um assunto que se domina simplesmente pela
prática de certos exercícios, obedecendo certas normas e estu-
O DESPERTAR PARA O SUPER-EU dando certas ideias, precisamente como se domina uma maté-
ria mundana, tal como a cultura física, então o estudante não
terá formado um conceito exato do que dele se requer. Tão
esquisitamente sutis e peculiarmente delicadas são as atitudes
que êle há de tomar, que dele se espera mais do que uma
U E M tiver praticado paciente- conformação a um sistema prescrito. E pessoalmente êle é
ente os exercícios de meditaçáo prescritos neste livro, e por impotente para criar esse elemento final mas importante.
meio deles entrado em contato com o seu eu divino, não terá
mais necessidade de repetir estes exercícios de maneira idênti- O despertamento para a consciência espiritual é algo que
ca à até então seguida. A análise minuciosa do eu, que tem não se pode desenvolver apenas por um sistema mecânico e
medido. " A arte acontece!" exclamou Ruskin, e o mesmo
sido o fardo de seus tão repetidos esforços, torna-se desneces-
ocorre com a espiritualidade. O aspirante põe em prática cer-
sária e é finalmente substituída por um mergulho mais ou me-
tos exercícios, sejam de meditação ou relaxamento, sejam de
nos rápido da mente, o que ocorre logo que o estudante haja
auto-observação ou auto-recordação; leva à prática seus esfor-
equilibrado e silenciado os seus pensamentos. Quer dizer, ha-
ços de Reflexão Interrogativa, e um dia a verdadeira consciên-
vendo chegado à firme convicção interna de que o corpo, as
cia parece chegar-se a êle, silenciosa, suave e seguramente. Esse
emoções e o intelecto não são a sua pessoa, não mais precisa
dia não pode ser predeterminado. Poderá vir logo no início
êle repetir a técnica da auto-análise em suas meditações. Basta
de seus esforços, ou somente após longos anos de luta decep-
praticar o exercício respiratório já dado e depois colocar sua
cionante. . . . Pois depende de uma manifestação de Graça de
mente na condição de semi-indagação, semi-oração, já descrita parte do Super-eu, de uma energia mais profunda do que a
no capítulo anterior. Após a necessária pausa, o período de sua vontade pessoal, que agora começa a participar deste jogo
espera em humilde expectativa, surgirá habitualmente a res- celeste. Uma vez que a Graça atue num homem, não há como
posta do Super-eu, e o estudante entrará temporariamente no escapar. Silenciosa, gradativa mas perceptivelmente ela o con-
estado de iluminação parcial ou completa. Por breves instan- duz para o interior.
tes permanecerá silencioso no centro de seu ser, completamente
alheio às agitações e fricções da vida pessoal, e retornando à Não me agrada muito empregar o termo Graça. T&ã
consciente integralidade. tantas implicações teológicas desagradáveis e inexatas ÉfflBffi
pudesse encontrar outro melhor, eu o deixaria de lado. Mm
A corrente da quietude mental o levou, afinal, além do isso não me é possível. Assim, esforçar-me-ei por tggJSBlB
intelecto. -lhe um significado baseado em experiências ^ ^ N M ^ H p M
Não conduzirei o peregrino do Caminho Secreto muito prováveis e não numa crença cega.
além deste umbral. O que lhe suceder daqui em diante, será Graça é o pré-requisito essencial S ^ ^ ^ ^ f f l B B I • I
um assunto individual, e se êle teve coragem e paciência para tudo não podeis propiciá-la; B $ H ^ i f f l ^ ^ ^ H
chegar até aqui, atrairá para si a reta orientação que necessitará um verdadeiro AdeptoM A graça pode mÊt
inesperada celeridade num homem que tenha vivido o que o
mundo chamaria uma vida pecaminosa, e transforme muito iniciamos uma busca de uma Verdade superior à crença que
rapidamente seu coração, mente e consciência. A graça pode até então nos sustentou. Imaginamos, aliás muito natural-
afastar-se de um homem que tenha passado vinte anos estudan- mente, que a mudança se deve a um desenvolvimento mental,
do obras e obras sobre religião e filosofia. Sua operação é ou, às vezes, a mudança de circunstâncias. Mas não é assim.
amiúde ^obscura, às vezes súbita e misteriosa, e não raro secre- Velado atrás do mistério que é vida, move-se o invisível Super-
ta para outros homens. Contudo, pata todos ela não é uma ou, o augusto Ser que assim tão estranhamente interrompeu
nosso sono mortal. »A própria busca da Verdade era simples-
força arbitrária. Possui suas próprias leis e maneiras de ope-
mente uma busca do Super-eu. Talvez encontremos uma filo-
rar, porém só um verdadeiro Adepto está em condições de sofia mais valiosa da Vida, que assim nos aproxime um pouco
verificá-las. mais da verdadeira auto-realização.« Mas os pensamentos e ati-
• Para obter esta Graça, devemos pedi-la. Isto não signi- tudes em ascensão daquele cambiante período — seja de uma
fica que o pedir seja feito apenas por ações verbais. Poderá semana ou de anos — são apenas uma manifestação da Graça,
isto bastar para alguns; para outros, o pedido só poderá ser ou usando um paradoxo, os resultados de um movimento inte-
feito mentalmente. Mas à maioria de nós cabe pedí-la com rior provocado pelo que é Imóvel.
toda a sua vida.j Nossa norma de conduta, nossos sacrifícios Difícil é de conceber esta verdade, de que o apelo aspi-
da senda flórida, nosso tempo útil mesmo, devem mostrar e racional deva vir até nós; não o fazemos vibrar com nosso
expressar este grande desejo. E podemos até ser forçados a próprio acorde. Devemos atirar-nos prostrados aos pés do
inclinar-nos genuflexos, em inesperadas horas da noite ou E u Real e suplicar sua Graça. Quando em nossos corações
do dia, para suplicar que nos seja concedida a Luz. Se isto se desperta o fogo da aspiração divina, podemos saber que nos
acontecer, não lhe resistamos nem nos ressintamos. Cedamos, foi concedido um pouquinho da Graça.
e se sentirmos um ímpeto para chorar ao solicitar a Graça do Nós, os servidores desse majestoso Monarca, devemoa
Super-eu, deixemos então fluir copiosamente as lágrimas que aguardar seu beneplácito. A Graça é uma dádiva, um favor
brotarem. Não as reprimamos. Há grande mérito espiritual a receber das mãos do deus interno. jL Todavia, ela não pode
em chorar pela visitação de um poder superior. Cada lágrima descer em qualquer momento arbitrário. Via de regra, ela vem
dissolverá algo que se interponha entre nós e a divina união. quando estão amadurecidas as condições corpóreas, ambientes
Nunca nos envergonhemos de tais lágrimas, pois caem por uma e experimentais. Não somos nós, mas, o espírito quem escolhe
boa causa. a sua hora. Pois,
Tenho ouvido falar de uns poucos que obtêm a Graça sem "Não podemos acender a nosso talanto
trabalhos nem sacrifícios. Esses poucos que a recebem apa- O fogo que reside no coração;
rentemente como uma súbita dádiva, caida dos céus, não sig- O Espírito sopra e amaina
A alma que vive nos mistérios."
nificam nenhuma exceção à regra de pedir. A diferença é que
Matthew Arnold.
suas aspirações foram expressas e ouvidas em existências ante-
riores, em outras "encarnações". O destino tem algo a fazer O amadurecimento da alma para esta profunda S ^ ^ H H
com a matéria, e ministra detalhadas explicações de seu com- cia da união com o Super-eu se opera gradativamente, tal qual
portamento aparentemente errático somente às almas ardentes o amadurecimento de uma fruta. Mas tão lago esteja I
que obtiveram seu segredo. to o crescimento, a união subjuga a alma súbit$jÉ
Quando a Graça desponta de nosso próprio Super-eu, este mente, e o homem realmente nasce de nova*
desperta um certo anseio no coração e começa a conduzir nos-
sos pensamentos por certos canais. Tornamo-nos satisfeitos
com a vida tal qual ela é; principiamos a aspirar algo melhor;
98
Há certas experiências básicas, de que o homem nunca se
esquece. Uma delas é o primeiro dia em que êle ama uma m Uma vez que empurremos a porta da mente e a mante-
mulher. Outra é o primeiro dia em que aporta num país nhamos ligeiramente entre-aberta, e deixemos a corrente de luz
estrangeiro. A terceira, e a maior de todas, é a primeira vez penetrar, o significado da vida se nos revela silenciosamente. A
em que rompe a crisálida de seu ser para emergir como uma porta pode ser aberta por um minuto ou por uma hora, que
consciente unidade espiritual. nesse período descobriremos o segredo, e nem o monótono tem-
po nem a amarga aflição poderá arrancar-nos aquele inesti-
O Super-eu nada pede ao homem senão que abra seus mável conhecimento. As palavras me caem como folhas mortas
olhos internos para perceber a sua existência. Contudo, o dia quando tento expressar esse significado, mas quem quer que
dessa visão é o mais glorioso de toda a sua vida, pois nesse sinta todo o seu ser diluir-se e dissolver-se no misterioso Infi-
dia êle se vê à beira da eternidade. nito durante essa meditação, como resultado de sua constante
F o i , com efeito, para isto que êle nasceu, e não sim- aspiração ou da Graça de algum Adepto, compreenderá este
plesmente para consertar sapatos ou lidar com algarismos. Mes- pensamento, que com dificuldade procuro transmitir. Na se-
mo que êle negligencie esta divina experiência, a própria Na- rena presença desse intenso poder, a alma caminha mansinha.
tureza não o deixará escapar. Entretanto, ela não se apressa. Esta iluminação da mente e do coração é o mais maravi-
E m alguma parte de seu vasto reino, ela o apanhará e impelirá lhoso momento na vida do homem ou da mulher.
a preencher seu secreto propósito. Quem quer que se empe-
nhe nessa exploração interna, não é um sonhador: êle apenas Descobrí-vos — o vosso Super-eu — e começareis a des-
cobrir o significado da vida e a desvendar o mistério do uni-
antecipa hoje o que a multidão humana terá de fazer amanhã.
verso. Atrás de cada um de nós está este Super-eu: calmo
Memorável é a grandiosidade daquele augusto momento, como o tranquilo firmamento, sábio com as experiências na-
em que o homem contempla pela primeira vez a divindade que turais acumuladas durante milhões de anos de existências, forte
o circunda, porém que, paradoxalmente, se acha no âmago de com o poder de proporcionar-vos o melhor que a vida tem a
seu ser. No "êxtase da quietude", como a chamou Rupert oferecer. Recordemo-nos das palavras de um que se aperce-
Brooke, aprende a saber o que êle realmente é. Como ex- bera perfeitamente disso, do humilde carpinteiro convertido em
pressou James Rhoades em formosos versos: Instrutor e que vagueou pelas praias da Galileia com alguns
E u sou a Aurora, que liberta das trevas; discípulos, há mais de mil e novecentos anos. Êle lhes disse:
E u sou as Profundezas, onde cessam tuas tristezas; "Pedi, e dar-se-vosrá; procurai, e achareis; batei, e abrir-se-
Silencia-tel Silencia-te! E sabe que sou Deus: -vos-a .
Familiariza-te Comigo, e vive em paz!
Estas palavras são tão verdadeiras hoje quanto naquela
Apaga o registro do palimpsesto época. O homem-deus que as proferiu aparentemente se foi
Dentro de ti, impresso pelo escriba do tempo: de nosso meio, mas as divinas palavras que Êle fêz soar, per-
E na superfície limpa, escreve de novo: manecerão sempre com o género humano.
-
E u sou Todo-Sabedoria, Retidão, e Tranquilidade/
Aqueles de nós que lograram um rápido olhar através da
Sou solitário; só tu estás em Mim: porta de seu ser, sentiram-se emudecidos. Recuam, surpresos,
Sou a corrente de Vida que flui através de ti;
Compreendo toda a substância, inundo todo o espaço; ante as inescrutáveis possibilidades do Super-eu. Sendo um
Sou o puro Ser, por quem todas as coisas existem. ser espiritual, o homem possui uma capacidade infinita para a
sabedoria, estonteantes recursos de felicidade. *' Dentro de s>
Sim, sou o Espírito; nas profundezas de teu ser habito: próprio contém todo o infinito divino, e no entanto, contenta-sc
Sê consciente de Minha presença, e tudo estará bem: em prosseguir a entreter-se com insignificantes migalhas da
Atenta bem para isto; tu mesmo és o teu próprio céu.
como se fosse um mero inseto humano.
(Out of the Silence).
uando o homem alcança os pináculos da verdade, é ca-
pas de se satisfazer a si próprio, de obter de dentro' de si a perspectiva de um infortúnio ou se alvoroça ante as pro-
aquela felicidade que até então buscara nas coisas externas. Ver- messas de benefícios externos. Como ousaria dizer-lhe que êle
está auto-hipnotizado tanto pelo desespero como pela soberba,
dade, Beleza, Paz, Poder e Sabedoria são todos atributos do
e no entanto permanece paradoxalmente livre de ambas estas
Super-eu: esse eu que aguarda que o descubramos. O eu divi-
coisas? O "homem do mundo" ridicularizará esta afirmação
no partilha o que quer que haja de idealismo, introspecção e
ao passo que o teólogo a rejeitará.
nobreza em nós. Contudo, temos de aprender o verdadeiro
Há uma resposta definitiva para este enigma embaraçador,
significado do verbo "ser". /
uma única autoridade a quem se pode recorrer para uma solu-
//Nas profundezas de nosso miraculoso ser, podemos desco-
ção. É a autoridade da própria experiência pessoal, a reali-

brir que somos partes de uma grande vida, cuja condição é de zação pelo próprio indivíduo, em primeira mão, de que estas
eterna paz, cujo propósito é sumamente benévolo e cuja exis- coisas são verdadeiras.
tência jamais perecerá. O conhecimento do eu é a base absoluta e essencial para
Sim, esta é o verdadeiro "estado íntimo ' de ser humano.
9
o conhecimento da Verdade. Nosso principal e dominante pen-
Esta condição extra-temporal em que nos descobrimos tem samento é do eu no sentido do " E g o " . Segui este pensamento
sido formosamente descrita pelos Sábios hindus como " O Eter- até a sua origem, e quando houverdes encontrado A Q U E L E
de que o pensamento surge, tereis encontrado o Super-eu, a
no Agora".
Verdade, a Sabedoria: Deus!
' " Q u e m se conhece a si mesmo, conhece o céu", declarou
Meneio, o discípulo chinês de Confúcio. /
O eu espiritual do homem permanece inalterável e im-
perturbável em toda a sua grandeza, enquanto o seu eu pessoal
passa pelas maiores vicissitudes da fortuna. É o indestrutível Alguns objetarão que o santuário interno está inundado de
elemento nele, a testemunha silenciosa e eterna de quem um trevas e que é intransponível o caminho para lá. Não, não
dia êle há de se aproximar para lhe prestar suas homenagens. devemos intimidar-nos com tais receios. O santuário não é
É uma luz que nenhuma força pode extinguir. É o espírito impenetrável, e se parecem poucos os que o encontrariam nesta
imortal do homem, benigno e tolerante, belo e imutável. época, é porque poucos são os que começaram a procurá-lo,
/ Estamos tão próximos do deus interno como sempre o es- A verdade se acha escrita no organismo humano não me-
tivemos. Tudo o que necessitamos fazer, é conhecê-lo provando nos seguramente do que nos livros inspirados. Na vasta so-
e experimentando. A Alma incuba em segredo o seu grande ciedade do universo, o homem possui um estatuto melhor do
tesouro; ingressamos no recesso de nosso ser e desvendamos que o que acaso tenha concebido. Na maioria dos momentos
os diamantes e tubis ali ocultos, i de secreta quietude mental, são-lhe transmitidas insinuações
relativas à grandeza inata da alma.
O Super-eu é o verdadeiro ser, o divino habitante deste
corpo, a Testemunha Silenciosa no interior do homem, m O ser Esta sabedoria é a mais antiga do mundo. Muito aié
humano vive a todo o instante na presença deste divino eu, mas dos limites atingíveis pelas mentes mais capazes, antes que
a membrana da ignorância se estende sobre êle e lhe cobre a primeira pena o descrevesse, milénios antes de Buda e
vista e a razão. Esta doutrina é uma das mais difíceis de tro, esta singela e simples Verdade de que o homem pode
justificar. Como explicar ao inquieto homem mortal que o cientemente unir-se com o divino mesmo habitando u m
espiritual pode existir serenamente 1 parte, auto-suficiente, já foi ensinada aos que a aspiravam.
J M desembaraçado de qualquer condição externa? Temo A universalidade da experiência que acabo de
gpta assertiv%J£arcçi tola para aquele que se assusta ante é testemunha autêntica de sua reaHdadetí As UteMÉNHII
odos os países, as filosofias e religiões de todos os tempos,
'A verdade é a branca luz espiritual que incide sobre o
ão testemunho de sua veracidade. Aparece nas obras dó
prisma do género humano e se fragmenta nas múltiplas cotes
latão grego^ e do Emerson americano; depara-se nas filoso-
pelas quais os indivíduos a interpretam. Assim, a experiência
ias do Porfírio^ romano e do Fichte alemão; recende nas má-
de seu descobrimento é a mesma em todo o mundo: o que di-
ximas do Jesus sírio e brilha nas palavras do Buda indiano. fere é a interpretação de cada um. ^
Para o Vidente real, todos os credos se assemelham; os que Alguns objetarão haver o mundo recebido uma profusão
professam a doutrina de Buda são tão bem-vindos como os que de relatos de seus místicos, que alegam ter "sondado o interior",
professam a dçutrina de Cristo. porém que retornaram com variados relatos sobre o que expe-
Disse, acertadamente, Henry David Thoreau: rimentaram, testemunharam, sentiram e entenderam.
|g A confusão de dogmas religiosos e a interpretação errónea
O entretenimento de um simples pensamento de cer- das experiências pessoais produziram a contraditória massa de
ta elevação unifica todos os homens numa religião. Ê
sempre uma liga de metais inferiores o que cria a dis- doutrinas que, no conjunto, são chamadas de "místicas". A
tinção de seitas. O pensamento se funde com o pensa- inabilidade para adotar uma atitude estritamente científica pa-
mento por sobre os mais amplos hiatos do tempo, numa ra com essa matéria, se deve à ofuscação do primeiro objetivo
impecável camaradagem. Sei, por exemplo, que Sadi aca- da meditação. Idealizaram-se várias "sendas" para lograr este
riciou outrora idêntico pensamento que o meu, e jamais objetivo, porém uma multidão de mentalidades tacanhas to-
pude encontrar diferenças essências entre S a d i í ) e minha
1
pessoa. Para mim, êle não é um persa, não é um antigo,
mou equivocadamente a senda pela meta. Meditação, Ioga,
nem é um estranho. Pela identidade de seus pensamentos Misticismo, etc, têm apenas um propósito fundamental, não
com os meus, êle ainda sobrevive. obstante o que possam dizer os expoentes sectários ou os ade-
rentes equivocados. Esse propósito visa como que pôr em curto
circuito as diversas correntes pensantes, de sorte que se possa
Diferentes povos em diferentes países têm dado diferentes perceber a realidade que o pensamento obscurece. E m outras
nomes a esta experiência secreta. Alguns cristãos a chamam palavras, práticas religiosas avançadas, métodos de meditação,
"União com Deus", ao passo que os santos hindus a chamam culto extático de santos, etc, são todos meios de auxiliar o
"União com o eu espiritual". Certos filósofos a descrevem homem a atenuar a corrente de pensamentos, até finalmente
como "imergir no infinito", e outros como "achar a verdade". fazê-la parar por completo. As mentalidades sectárias se opo-
Não importa o rótulo: os sábios jamais querelarão por isso, rão, sem dúvida, a isto, mas sua negação corresponde simples-
pois as palavras insinuam mas não podem descrever a pleni- mente a uma negação dos verdadeiros fatos. Só as almas ma-
tude desta experiência. duras e perspicazes podem perceber esta verdade J | Tão-só estas,
y O místico hindu e o hebreu, o filósofo platónico e o pita- pelo esclarecimento de sua compreensão sobre este assunto, po-
górico, o moralista chinês e o cristão, falam todos a mesma dem escapar do nevoeiro espiritual em que a maioria dos estu-
linguagem e conversam no mesmo tom, desde que os ouçamos dantes e devotos se movem habitualmente. Tao-só estas sa-
corretamente. Não importam as diferenças de credos nem a bem que a senda religiosa que o indivíduo siga tem menos a
multiplicidade de teologias: Deus sempre foi, é e será o Ser ver com o seu atingimento, do que o método mecânico de
Ún ico | ͧ$
trôle da mente que êle inconscientemente pratica. Tão-só es
sabem que a ausência de qualquer credo em alguém na i
na menos suscetível de êxito do que o seu mais religioso [
(*) Sadi foi um famoso poeta persa que viveu de 1193 a 1921. O que iogue hindu adiantado experimenta como |§£
Dotado de grande sabedoria e misticismo, levou a vida de um derviche é substancialmente a mesma condição do que o aístiéo ' t ç
viajante. Suas obras principais são: O Bostan | Gulistam e O Império das
Rotas, H | da T^lív-: avançado experimenta com Deus. Se, ao recordar o u
104
este estado sublime, se lhe empresta o cunho de doutrinas teoló-
logram por fim algum êxito; contudo, a sabedoria antiga des-
gicas ou regionais peculiares a uma raça ou pais, devemos atri- pida dos atavios de sua expressão exterior, permanece sempre a
buir esses acréscimos à sua fonte verdadeira prejuisos pessoais mesma e inalterável. Não depende de raças, como o testemunha
ou inclinações mentais do v i d e n t e . . . e não à iluminação em si. Thoreau entre os americanos e Sankara entre os hindus. Transpõe
Á iluminação, em seus variados graus, é a mesma para todos os séculos, como se vê em Rabindranath hoje e em Meister
os indivíduos. Cada místico redescobre o mesmo tesouro oculto, Eckhart há mais de seiscentos anos atrás. Não a afetam os
mas suas descrições desse tesouro podem divergir lamentavel- climas: Milarepa, o encapuçado eremita tibetano, habitando
mente, por diferir a sua interpretação intelectual e emocional num planalto gelado, chega por fim à mesma verdade de Piotino
do mesmo. Existem graus da própria iluminação, e na maioria vivendo no tórrido Egito. Idêntica experiência interna informou
dos graus mais avançados todos os videntes obtêm a mesma os lindos poemas persas de Jelaluddin Rumi, como inspirou os
experiência e estão em perfeito acordo em sua compreensão. elegíacos versos cristãos de Francis Thompson. • As inspirações
Mas estes são poucos e raros; são os iluminados imortais entre da primitiva Roma se rivalizam com as inspirações da primitiva
os homens. China. E m todos eles impressiona a similaridade; os pensamentos
E m todos os séculos e todos os países têm ocorrido vislunr- são idênticos, mas suas vestimentas estão necessariamente sujeitas
bres e experiências temporários de natureza mística, mas escas- a gostos pessoais e costumes raciais.
seiam as interpretações inteligentes dessas experiências. Para As sentenças simples e formosas de Jesus trazem em seu
explicá-la, tem-se servido do alfabeto primário de cada credo, e bojo a mensagem essencial da Verdade. Estudai-as e notareis
I um símbolo local de restrigiu o que provém do Universal e que elas correspondem inteiramente às sentenças ou escritos de
Infinito. outros personagens que estão unificados com o Super-eu- Todos
Nossa época clama por uma explicação sensível e espiritual os mestres de profunda realização espiritual falam a mesma lin-
destas coisas, e não uma explicação incientífica e religioso-ma- guagem: só diferem e discordam os seus trôpegos seguidores e
terialista. ? Muitos visionários têm registrado experiências per- os teólogos profissionais.
feitamente genuínas, tanto psíquicas como esperituais, e contudo Acaso pode se imaginar que Deus não se manifestou aos
diferem amplamente em seus resultados. Por que? É porque homens senão na época longínqua em que Cristo comovia a
as crenças em que cresceram, as experiências passadas que imfor- obscura província do Império Romano, ou em que Buda percorria
moram suas personalidades, influenciaram todas na sua inter- a índia com seu bastão e concha de mendicante? Entretanto,
pretação dos respectivos resultados. A interpretação pode ser se Deus não pudesse se manifestar hoje, seu poder teria diminuído
insatisfatória, e todavia ser perfeitamente válida a experiência singularmente, e o Absoluto chegaria, de súbito, ao tamanho do
interna. finito! Não seria preferível crer que Deus está sempre pronto
Cometemos o erro de levantar um gradil cercando esta di- a revelar-se a todos aqueles que querem cumprir as condições
vina descoberta; através dos séculos, pesquisadores genuínos mas requeridas para obter essa revelação? Se o Eterno falava ao
de mentalidades etreitas ou pouca experiência, tentaram encaixar homem no passado — pode falar-lhe ainda hoje.
g força este amplo oceano de conhecimento da Verdade numa Quem poderia definir o encanto sob o qual Cristo e Buda
pequena fórmula de doutrina ou credo. Isto não é possível, e mantiveram seus ouvintes por meio de umas poucas palavras? O
guando suas experiências se aprofundam, eles próprios vêm a génio cratório não teria sido suficiente, nem tampouco a força
perceber a verdadeira, mas as carrancas fechadas das igrejas or- do intelecto. É óbvio que foi algo maior para se H ^ue
todoxas ou a dificuldade em explicar essas verdades sutís às um só olhar desses homens empolgava e comovia corações ét
muitdões, frequentemente os obriga a silenciar. pedra, que nenhum discurso, por mais eloquente, jamais pôde
Credos vêm B vão, cultos surgem e lentamente dcsapare- comover. Torna-se imperioso, portanto, crer <ftic havia ali algum
H I ^ ^ ^ H H I ^ ^ ^ ^ ^ ^ 1 palco do mundo I poder superior t divino.
Durante séculos, sábios eruditos empregaram toda sua pers- simples; não é mister apresentá-los na prosa do mistério dmeria-
picácia na investigação da história de Jesus. Minuciosamente no í ).Contudo, há o que se deleitam em usar um vocabulário
1
tomaram todos os informes, escrutaram todas as fontes, cada e fraseologia que criam barreiras entre a Verdade e sua compre-
documento que pudesse revelar-lhe com maior nitidez a imagem ensão mental.
misteriosa da Galileia. Agora, depois de quase dois m i l anos
O pelourinho, os calabouços e a cruz foram outrora o de-
da morte do "Imperador judeu", Êle continua sendo uma figura
tino dos pioneiros espirituais que ousaram expor ideias hetero-
enigmática e longínqua. Sua biografia é ainda em parte imagi-
doxas; dai nasceu um jargão de terminologia obscura e despistado-
nária e Sua personalidade foi pintada em m i l cores contraditórias; ra entre os que percorriam esta senda solitária. Mas neste século
seitas antagonistas serviam-se dos Seus ensinamentos para apoiar não mais se justifica o uso do fantasmagórico jargão da era
doutrinas irreconviliáveis. E por estranho que pareça, ninguém medieval, ainda corrente em certos círculos. As verdades mais
jamais escreveu Seu nome sem veneração e, embora o nome sublimes podem ser agora reveladas sem temor da forca ou da
desse Ser extraordinário domine todo outro nome que desde roda de torturas; por que então assustar simplórios buscadores
então apareceu sob o céu do Ocidente, Êle permanece sempre da verdade com um amontoado de complicados mistérios?
u m mistério.
E m épocas primitivas, esta senda interior e seus resultados
O simples intelecto humano jamais poderá resolver este eram descritos e publicados em livros de estilo poético, simbó-
mistério. Surgido do Infinito, o Cristo desceu às tribos humanas lico e alegórico. T a l estilo era de uso entre os intuitivos capazes
para lhes dar Sua mensagem s a g r a d a . . . e foi-se. T a l era o de ler desse jeito algo que os indivíduos não esclarecidos eram
quadro. incapazes de perceber.
í Pois Cristo desceu à terra, de um planeta superior, que é Na época atual se tem falado mais aberta e plenamente
Seu lar verdadeiro, cuja consciência espiritual é muito superior acerca destes assuntos. Vivemos num século intelectual e cien-
à do nosso, para abençoar e servir os homens com a Sua presença. tífico, em que um corpo de ensinamentos se tem de apresentar
Esta descida correspondeu à sua cruz real, à Sua crucificação. E de uma «maneira que se ajuste à inteligência lógica dos homens.
aqueles que sinceramente O procuram, podem ainda encontrá-Lo Qualquer outra espécie de apresentação fará que tais ensina-
em seus corações. ; mentos sejam interpretados como uma poesia ou decoração pa-
Mas a divindade não ficou sepultada no túmulo com Jesus. ra os momentos de lazer.
Desde então não têm falado vozes segradas? Não podemos nós O predomínio da ciência e a popularização dos conheci-
investigar a história durante os dois mil anos passados e encon- mentos modelaram a mentalidade do homem moderno. Por-
trar os nomes de uns poucos homens cuja presença e aparência tanto, uma expressão atual da verdade deve, pelo menos, faíer
testemunharam neles uma elevada realização espiritual? Não um forte apelo tanto à sua mente como ao seu coraçãojj As
significa isso a vida superior sempre nos estendendo seu sublime necessidades do cérebro não podem ser desprezadas por qual-
convite? quer mensagem espiritual de nossos dias, conquanto jamais se
* lhes deva permitir o despotismo.
Aqueles de nós que obtiveram experiências pessoais das
esplêndidas potencialidades da meditação, devem estar prepa-
Por que havemos de revestir estas sentenças tão simples com rados para enfrentar os duvidosos em seu próprio terreno, Ê
palavrórios tão complicados? Por que havemos de vestir tão
formosa figura da Verdade com um casaco tão grosseiro? A Se-
res como Buda e Cristo não repugna expor seus pensamentos em ( i ) Cimeriano: povo mitológico, cujo pais foi descrito por Homero
como uma região de nevoeiro e escuridão perpétupsi Qs historiadores o
frases breves nem explicar seus significados em palavras simples. têm colocado à margem do Mar Negro. (N. da T.)
Os pensamentos mais profundos podem ser expressos de maneira
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libertar os que são prisioneiros das primitivas concepções de
que o homem nada mais é do que o seu corpo material e de que
0 mundo foi criado tão-só da argila primeva. Não basta di-
zer-lhes que nossas estrelas brilharam um pouco mais em nos-
sos nascimentos; cabe-nos mostrar-lhes como também eles po-
derão acender um fogo maior para si próprios. Se ainda insis-
tirem em fechar os olhos às possibilidades do homem aqui e
agora, não poderão se desculpar das trevas espirituais que os
envolvem.
Todavia, pouco existe nestas páginas que seja radical- O CAMINHO DA B E L E Z A DIVINA
mente novo, no sentido histórico; somente a síntese e a metó-
dica formulação destes pensamentos poderão parecer originais
neste l i v r o . » M a s tudo que não haja sido exposto às claras
é novo, e estas coisas ainda não foram tratadas pelo mundo P
em geral. A ARA certos temperamentos, se-
rá quase impossível tomar esta senda de análise introspectiva.
A inteligência moderna, melhor preparada, requer e deve Infelizmente, embora de certo modo seja natural, suas mentes
I
receber uma formulação da verdade, que seja melhor que as não foram constituídas de uma maneira que lhes permita fixa-
meras aspirações de sentimentalidade moral-religiosa. rem seus pensamentos num tema destes. O que, então, lhes
Convém também lembrar-nos de que os instrutores que cabe fazer?
vieram no passado, dirigiram-se a povos de mentalidades dife- A maneira de o estudante não ligado a nenhum instrutor
rentes da nossa, e em épocas- em que os problemas económicos espiritual sair desta dificuldade é principiar por se ajustar de-
da civilização industrial não eram tão agudos a ponto de uns liberadamente ao ritmo de inspiradas obras artísticas, ou por
pressionarem outros. Dirigiram-se aos povos orientais, que cultivar emoções elevadas induzidas ante a beleza da Natureza,
são por natureza mais sensíveis do que nós, de mentalidades e pela ampliação dos sentimentos de veneração toda a vez que
menos céticas e menos irrequietas, e cujos corações estavam ha- envolvam a alma através desses meios externos.
bitualmente voltados para a devoção religiosa. Um quadro pintado por uma mão genial, um poema da
Portanto, deve-se tornar claro que cabe aos Videntes de lavra de alguém sensível ao aspecto natural da vida, o tocar
hoje, e especialmente aos do Ocidente, esquecerem as apresen- de um violino por um maestro como Kreisler, um passeio

tações do passado e atentarem para as necessidades do presente. através dos bosques desfolhados e secos do outono, uma con-
Daí porque haverão de usar as expressões da verdade mais templação do brilho do sol de verão sobre as madressilvas, ou
adequadas à época atual. Tais expressões já começam a tomar a visão de uma antiga igreja à luz do evanescente sol no ocaso:
tudo isto lhe pode despertar delicados sentimentos, que em
1 corpo em vários movimentos e cultos, ainda que de maneira regra jamais o poderiam fazer as atividades comuns da vida oo-
parcial. De sorte que, nestes ensinamentos acerca da auto- tidiana. Nestes momentos há um poder espiritual de que nos
pesquisa, é mister mostrar seu mérito e utilidade para aqueles recordamos muito tempo após haverem passado^ Inteligente-
que se acham cativos da incessante agitação da vida moderna, mente utilizados, podem tornar-se como a escada de Jacob, e r
1 que aplicação "prática" se pode extrair de seu princípio fun- tendendo-se da terra ao céu.
B E B que o eu real do homem é divino. Já escrevi algures que hoje em dia o artista inspirado tax
as vezes do sacerdote, tornando-se o instrumento daquele as-
pecto do Poder Superior que se revela no homem como b d e a .
Ul
?•O artista, o escritor e o músico se encarnam em sua obra, Quando nos aproximamos da casa de um realmente ins-
se êle fôr às vezes abençoado com inspirações elevadas, se pirado escriba ou compositor musical, e entramos em seu gabi-
êle se esforçar por fazer vibrar uma nota espiritual na arte nete, não vemos o mero estúdio, mas um autêntico laborató-
de sua época, se êle se sentar aos pés da divina beleza ou ver- rio de alquimista. Não é êle, acaso, o mago solitário que,
dadeira sabedoria, então no grau em que puderdes submeter- sentado em seu trono olímpico e como se fora um ser à parte,
mos 1 sua influência, partilhareis com êle destas inspirações./
contempla o panorama da vida? Que é a «ua pena senão um
/ N a vida de todo indivíduo existem certos momentos em condão de taumatúrgico poder, que invoca um mundo oculto
que o efeito da arte ou da natureza é o de lhe produzir uma de .«surpreendente esplendor ante nossos profanos olhos? Não
indefinível sensação de intensa calma ou uma fluente maré de são os escritos que enchem sua mesa os seus misteriosos papiros,
bênçãos, que o inunda. Que há por trás desses momentos que embalsamam as sagradas palavras de uma comunhão com
extáticos? / um reino superior?
São os momentos da vida humana, em que o indivíduo
permanece no portal do espírito, ainda que o ignore. E m pre- Quando toma da pena e a faz brandir qual uma vari-
sença de alguma grande cena da Natureza, êle é inconsciente- nha de condão, fazendo-a rodopiar em nossa atmosfera e trans-
mente levado a recordar-se de seu verdadeiro lar espiritual; formando em brilhante aurora a densa noite que nos encobre,
tão majestosa e tão bela ela é. Êle se deleita com as brilhantes êle se torna, seja por um simples momento, um mago tio
nuvens do céu, os prados pacíficos e os lagos plácidos, pois potente como os da antiguidade. Os magos de então procura-
lhe recordam sua origem espiritual. A Beleza lhe fala com vam, por um movimento de sua vara, fazer que os homens
estas vozes, dizendo: "É esta grandeza que precisas alcançar vissem as coisas que esses magos desejavam fazê-los ver,
internamente." São vozes que lhe chegam de seu lar espiritual. cavam numa semente e ela se convertia numa árvore, ou então
Às vezes, ao ouvir uma música de profunda inspiração, as se envolviam no Manto da Invisibilidade. t| Mas agora temos
nobres melodias de Bach ou as árias puras de Mozart, por de pôr de lado tão rústicos expedientes e colocar sutis feitiços
exemplo, ou detendo seu olhar nalguma cena de montanha, o na mente do homem com nada mais misterioso do que uma
homem recebe insinuações de uma vida superior. A música, humilde pena.
sendo a mais direta de todas as artes finas, propicia o meio Tenho lido livros que me saturaram a mente de édk
mais autêntico de expressão espiritual. Mas, ah! como nem imagens de tão fascinante poder, que eu perdia a sensação de
sempre o homem se apercebe da augusta natureza destes seus ser e me fundia com um infinito imaginário. E quem aão
visitantes, eles se desvanecem. Se tivesse tempo e desejo de
lido livros em que a intensa visão do escritor influis I r a m
atender aos sutis pensamentos que se atropelam após um mo-
seus pensamentos, que invocava ante sua atónita imagii
mento de reverência e admiração, mesmo o homem comum
uma antiga civilização já extinta?
poderia sentir-se gradativamente iluminado.
Toda arte fina é apenas um símbolo que transporta a um O estudante que se sinta empolgado pela |p«ffll
áureo e ígneo santuário; todas as inspirações despertadas são tura, deveria escolher um livro, ou algumas passagem & dc
apenas os ténues véus que cobrem o desnudo corpo da Verdade. minado livro, que lhe façam um profundo apelo ou H H F
zer em si um sopro de inspiração; que sobre &e exssçam
Aqueles que procuram recolher em suas mentes a colheita
guro efeito exaltador, que lhe chegue quase com1ÍÒrt
mundial de beleza e sabedoria impressas, sentem-se movidos a
isso por um instinto que vem de eras remotas. Pois, quando mensagem das regiões superiores. Se prefttSt a g?m&
nossos olhos contemplam uma página escrita com gosto literário e aurir o seu poder, poderá sentir esta infptmc&o
te de áureos pensamentos espirituais, percebemos um poema helegíaco de Francis Thompson, ntan 8 0
"oso sentimento confirmando o que lemos. ou composição lítica de Keats, e Í S B W H
sos de meu talentoso amigo irlandês, " A . E . " (George W
^"•sdll).1 que se torne efetivamente o autor, o criador, por assim dizer.
Se optar pela prosa, há alguns deleitosos ensaistas que lhe Êle próprio pode construir as sentenças e formar os parágrafos;
esta é a leitura criativa e construtiva. Traz trigo para o moinho
• em; são escritores que acendem a centelha divina da arte
de sua mente e alimento para o cérebro. Literalmente, unia
criadora e inflamam a chama da imaginação humana. O ensaio
leitura tal se gravará em seus pensamentos. £le tem de pôr
de E m e r s o n sobre a autoconfiança, por exemplo, apresenta, pelo em atividade a sua própria mente, pensar segundo as diretrizes
menos, uma centena de sentenças notáveis. E n t r e os pensa- traçadas pelo escritor.
dores modernos, êle é u m dos mais originais e perceptivos.
O essencial é concentrar-se em alguma ideia abstrata, em
Seus substanciosos pensamentos fluem de sua pena como pe-
alguma frase ou verso, que o estudante possa experimentar em
pitas de ouro. Passai uma hora com êle e estareis em com-
sua mente de maneira intensa, que ressoe profundamente den-
panhia dos grandes. Penetrai em seu âmago e penetrareis nu-
;
tro das câmaras de sua alma. Deve escolher os trechos que lhe
ma atmosfera reminiscente dos Upanisbads, dos Tripitakas, do provoquem este efeito, ainda que outras pessoas só encontrem
Novo Testamento e das obras platónicas; ali respirareis a ver- palavras ali. | Deve sentir a presença de um elemento de ins-
dade do começo ao f i m . Êle não sofisma nenhum argumento piração totalmente à parte do valor literário da obra ou poema.
nem se antepõe a cada pensamento: quer a verdade cristalina Há certos parágrafos que se destacam nesses livros, como
sobre u m assunto, e nada menos. Suas páginas paladianas são os picos de uma montanha. São os trechos escritos de manei-
inspiradoras até a última sílaba. ra superior aos conhecimentos do seu próprio autor, isto é,
Se o estudante fôr capaz de se simpatizar com as antigas escritos sob a inspiração de seu «eu espiritual.
escrituras, deparará com fontes de profunda ajuda nas subli- Estas horas maravilhosas e fascinantes, em que nos senti-
mes parábolas de Cristo, nos elucidantes diálogos de Buda e mos arrebatados a um estado de calma ou encantamento emo-
nas traduções do poema épico hindu, o Bhagavad-Gitâ, a "Can- cional por uma composição literária que nos absorve, que é
I ção do Senhor". espírito feito palavras, devem ser espreitadas e aproveitadas ao
Que selecione um parágrafo ou fragmento destes ou qual- máximo. Não dissipeis estes delicados sentimentos, mas, ao
• quer outro livro antigo ou moderno que mais lhe fale no ínti- contrário, entesourai-os como de inestimável valor. Não cor-
mo, e rumine-o mentalmente, procurando reverentemente aurir rais pressurosos atrás da próxima impressão. Fixai vossa aten-
I o seu significado e penetrar no ritmo espiritual ou na onda de ção neste estado de ânimo. É neste elevado e sereno momen-
I longitude mental que lho transmita. Faça-o com a máxima to que o livro pode ser posto de lado, pois já preencheu a
lentidão, com a máxima concentração que lhe fôr possível, man- sua finalidade. Fazei uma pausa e preparai-vos para atravessar
o formoso portal simbólico e penetrar no mundo estrelado.
tendo o coração e a mente integrados no trecho escolhido, en-
Mas se o portal vos permanecer fechado e seus travões vos
quanto as palavras vibram em sua alma.
parecerem demasiado ardilosos, não vos desespereis; detende-
, Que não leia as palavras isoladas, leia também os pensa- -vos por um momento e orai. Talvez o guardião do umbral
mentos por detrás delas. se aproxime e com a sua simples chave vos abra o sombreado
Que se concentre durante a leituraM Leia lentamente, fa- pórtico.
zendo cada palavra mergulhar em sua consciência. E à pro- Fazei uma pausa neste misterioso momento, começai
porção que mergulha, fará seu significado penetrar também em prática do exercício de plácida respiração* e depois segui as *
sua m e n | | Repita mentalmente cada palavra de maneira tal truções dadas sobre o despertar para a intuição.
O estudante também pode penetrar g B
( I ) th» Oxford Book of English Mystical Verse (editado pela outras v i a s J | Cabe-lhe escolhei I a&eio qut atas* a
ensa 4a Universidade de OxímâJ contém vários poemas deste género.
forte para s i . N ã o é essencial, pois, tomar de u m livro, desde
que seu objetivo seja apenas evocar um alto estado de ânimo,
libertar por u m instante sua mente de todos os assuntos pes-
soais, e abstraí-la da rotina comum das atividades mundanas.
Poderia obter os mesmos resultados ouvindo músicas com-
postas por verdadeiros génios. Uns lograrão este estado inter-
n o através de um livro, outros através da música, e assim por
diante. O essencial é aproveitar-se do estado exaltado da
maneira indicada no parágrafo precedente. CAPÍTULO X
O E V A N G E L H O D A AÇÃO INSPIRADA
c
V-*OMO conciliar pensamentos
tão extraordinários com as necessidades comuns de toda a ho-
ra?", perguntareis. "Não podemos desertar do mundo; aban-
donar nossas metrópoles para buscar a contemplação em meio
da solidão; temos nossas dívidas a pagar a Admeto, e enquanto
não a liquidamos, nossos pés permanecem sempre algemados", vos
queixareis. " O mundo é duro e impiedoso, e nenhuma utili-
dade têm, para êle, as vossas vãs e vazias doutrinas. Não po-
demos viver de nuvens. Vossa filosofia é, quiçá, excelente para
os que se sentam comodamente junto a uma lareira; mas como
poderá ela auxiliar os que mourejam em meio de uma socie-
dade realista?", concluireis.
Estas perguntas encerram frequentes concepções erróneas
acerca do que constitui a verdadeira espiritualidade, e come-
çarei a respondê-las formulando, de minha parte uma outra
pergunta.
"Nunca vos vistes envolvidos por um daqueles furacões
tropicais que se movem com um ímpeto aterrador?"
Por estranho que pareça, se isso vos acontecer, notareis
que bem no centro do furacão existe um lugar perfeitamente
calmo e inalterado. Assim, também, o homem que se conhece,
atinge um equilíbrio mental tal que permanece imperturbável
em meio da excitante atividade do mundo. Seu mais tecôo-
dito ser se mantém em imperturbado repouso, qualquer ^p*
seja o furacão da vida que o envolva, qualquer que seja ©
trabalho que faça e quaisquer que sejam os pensamentos que
lhe afetem o intelecto.
ift de regra se considera a verdade espiritual uma prer-
cai e eles se entregam à colheita do que semearam. E m meio
rogativa dos homens especulativos, perdidos em sonhos piedo-
de todo este fértil campo de pensamentos e vida, que lhes
sos ou filosóficos. Que ela deve ser trazida para dentro do
resta? Mesmo quando sua saúde periclita e o médico lhes
raio de ação do homem de ocupações é uma consideração que prescreve umas longas férias, tal é a sua escravidão que, em-
parece duvidosa, mas a história a tem não poucas vezes trans- bora não possam levar os negócios consigo, são obrigados a le-
formado em fato. vá-los em suas mentes. Seus negócios constituem agora o seu
* É possível fundir a sabedoria deste mundo com a sabe- condutor, e eles, os jumentos carregados.
doria das coisas divinas? Por que não? Por que, por exem- E vem um dia triste mas inevitável na existência do ho-
plo, não há de o pesquisador aliar-se ao administrador prático? mem, ao descobrir que, apesar de todo seu afã, não lhe sobrou
Conheço o dono de uma fábrica de produtos químicos numa nada nas mãos senão um punhado de folhas secas. Nesse dia
província inglesa, que tentou fazer isto. Toda a sua organi- talvez comece a perceber que a verdade espiritual não é uma
zação, seu equipamento de laboratório, seus métodos de anúncio ciência abstrata, nem uma abstrusa especulação; é um modo
e seus produtos manufaturados se colocam facilmente, entre os de vida, uma visão mais profunda do mundo. Talvez lhe seja
seus congéneres, como os melhores e os mais modernos. Êle doloroso chegar-lhe esse dia, porém isto é o prelúdio de uma
trata seus numerosos operários na base da Regra de Ouro. Não felicidade meritória.
há nada, dentro do bom senso, que não faça por eles, com o Os assuntos práticos da vida não mais existem para ser-
resultado de que não há nada razoável que os operários não ví-lo, mas para tiranizá-lo. " A s coisas selam e cavalgam a hu-
façam para êle. Todas as noites, antes de se recolher para manidade", disse Emerson algures, e isso calha aos homens
repousar após u m dia de poeira e esforços — e esse era o desse tipo. A consciência que poderia libertar-se por um O K *
único tempo de que dispunha — dirige-se a um recanto sos- to período do dia para adquirir a jóia da interna paz espiritual,
segado de sua casa e dedica uma tranquila meia hora à quie- é compelida pela máquina que eles construíram ao seu redor
tude mental, extraindo daí uma paz sublime e energia alenta- a moer-se nas coisas triviais e pueris.
dora, que o habilitam a manter uma secreta liberdade do espírito O homem, ansioso por aperfeiçoar suas máquinas, esque-
em meio de toda a mecanização de hoje. Êle tornou esta ce-se de se aperfeiçoar a si próprio*
prática regular perfeitamente compatível com a vida ativa. Pro-
Divorciar a vida do espiritual é faze-la perigar. O eu
porciona-lhe um equilíbrio interior em meio das distrações e ativo deve ser alimentado pelas fontes espirituais do « « m u s
turbulências da presente existência. A força e sabedoria supe- profundo. Cabe-nos equilibrar nossas atividades com Ê nossa
riores que êle encontra no divino centro, são mais tarde apli- contemplação. O intelecto crítico deve encarar a mtuaçÍD v i -
cadas na ação efetiva em sua administração. sionária como amiga, não como inimiga; as capacidades flWar :
O administrador que objete não ter tempo nem ideia para ciais devem colaborar com as imaginações espirituais; ao ISfljjtt
interesses espirituais, porque seus afazeres materiais o absor- que nosso profundo egoísmo necessita andar « j^^^^^Hj
vem totalmente, acha-se em triste condição. Qual é, então, com nosso mais profundo altruísmo. Desta manefet cada qual
o verdadeiro interesse do homem? de nós pode tornar-se o expoente de um profundo coagse
em sua vida mais superficial.
É justo considerarmos nossas necessidades materiais do
momento, mas não é justo considerá-las sem uma referência a Nossas vidas precisam achar o áureo aHaio
algo mais. samos diariamente manter-nos por alguns ^ ^ H ^ B
São numerosos os ocidentais que se sepultaram em seus tude mental, sem perder nossa capacidade para trabaS»
negócios e mui raramente saem dali para observar que existe ticos. Precisamos estabelecer um sKMHl ^^^^H
um sol espiritual lá em cima. Milhares de pensamentos se os elemntos místicos e materiais de nossa nateu
atropelam em suas cabeças da aurora ao crepúsculo: a noite rentes e incompatíveis que fffifffflfmS H H^fl H
11$
seguir o Caminho Secreto aqui delineado, encontrará sem es-
forço este equilíbrio. Advir-lhe-á natural e espontaneamente. * O homem que escolhe a vida superior, não anula por isso
» O monge que faz de sua meditação uma obsessão, é livre seus talentos humanos. Mesmo que se torne humilde e amo-
roso como S. Francisco de Assis, poderá ainda ser tão intelectual
ara assim agir; mas nós os que temos de viver e trabalhar no
quanto Bernard Shaw, tão corajoso quanto William Tell, e
mundo, devemos buscar um justo equilíbrio. * A luz encon-
tão talentoso quanto Galileu.! É falso supor que, por êle ex-
trada durante nossa prática de quietude mental, brilhará de-
trair sua sabedoria de uma fonte mais profunda por meio
pois através de nossas ações quando sairmos de casa para mis- de sua percepção direta, lhe seja necessário perder a habilidade
turar-nos com a multidão.» de pensar logicamente, manobrar com homens e negócios, e
Pode-se fazer da ação inspirada tanto um exercício prá- tomar seu lugar no mundo ativo. Estas qualidades poderão
tico para alcançar a espiritualidade, como uma renúncia à vida existir dentro dele, porém jamais o escravizarão.
mundana par recolher-se a lugares monásticos. Nem todos os Inspirar-se alguém em sua vida diária com a força extraí-
homens usam hábitos monacais; alguns há que usam calças da de sua fé na divindade interna, é, por certo, tornar-se um
de algodão! trabalhador melhor e não pior. Pois então êle dispõe de um
Os tempos mudam, e com eles, os homens também. A poder infinito para invocar, e de uma sabedoria maior para
vida em retiro, que satisfazia o cansado eremita ocidental do agir corretamente.
passado, dificilmente satisfará o ambicioso homem ocidental Numa recente mensagem presidencial à Associação Britâ-
de hoje. Êle não pode deixar de sentir algo do espírito das nica, Sir J . A . Thompson mencionou que a solução de alguns
iniciativas materiais que o envolvem. Se fôr bem atilado, apre- de seus mais intrincados problemas científicos, lhe vinha quan-
ciará o valor dessas iniciativas e considerará como poderão ser do êle esvaziava sua mente dos problemas e a deixava perma-
conjugadas com o objetivo superior que êle encontrou. Não necer tranquila e parada durante certo tempo.
mais necessita de perder de vista os interesses da vida enquan-
Poucos sabem que o falecido Lorde Leverhulme, que ins-
to se ocupa dos interesses místicos da Verdade.
talou a maior organização industrial de sua espécie no mundo,
A ideia comum sobre quem segue determinada senda es- poderia relaxar à vontade em qualquer lugar e colocar-se num
piritual, é que se trata de um indivíduo piedoso e pacífico, po- sereno estado de devaneio. E m meio das mais gigantescas
rém despido de qualquer utilidade na ordem das coisas, e tarefas, êle frequentemente se valia desta faculdade.
um nulo no tocante às faculdades da razão e senso comum.
Muito se enganam os que supõem que a meditação feita
Que êle pudesse articular seus pensamentos com uma férrea
corretamente na forma prescrita é apenas uma forma de idea-
exatidão, ou ir ocupar um cargo de função executiva numa
lismo sentimental ou pensamento abstraio. Tal meditação libe-
das gigantescas empresas modernas, ou comandar todo um ba-
ra gradativamente no homem uma energia anímica de que êle
talhão durante uma guerra, é uma noção que provoca a sátira,
antes não se apercebera, e que por fim se torna a maior ins-
embora eu haja conhecido homens deste tipo, que fizeram des- piradora de suas atividades. Ê precisamente a mais poderosa
sas coisas. É encarado como uma criatura fraca e atoleimada, porque é o elemento mais interno de seu ser.
ainda que dotada de boa índole.
Isto é uma verdade. Homens como Oliver Cromwell,
" P o r te dedicares a Deus, há de se inferir que és um
Abrão Lincoln e o imperador Marco Aurélio, no Ocidente, ou
louco? Imaginas que um negociante abre uma loja para pra-
como o príncipe Shivaji, o imperador Akbar e o rei Asoka,
ticar religião? Porque não examinaste a caçarola antes de a
no Oriente, nela creram e com ela agiram e triunfaram.
comprar?" exclamou Sri Ramakrishna, um dos santos indianos
mais famosos do século dezenove, a um jovem discípulo seu,
que foi comprar um vaso de ferro e, ao retornar, achou-o
* *
furado.
120
Da manhã à noite o homem desenvolve um conjunto de antes. Não é mister nenhuma mudança neles a não ser o que
atividades e interesses de natureza puramente material. E por lhe sugira a sua gradativa iluminação interior. Ademais, tais
certo é natural que assim proceda. O mundo o desafia inces- mudanças hão de ser voluntárias, e não impostas por algum
santemente, e êle deve enfrentá-lo da melhor maneira possível. sistema artificial de disciplina externa.
Mas o que êle ignora é que, afastando-se cada dia por um curto Uma vez estabelecido o hábito da meditação matinal, tor-
espaço de tempo, deixando em ponto morto, durante esse tem- na-se uma coisa muito natural prosseguir nas atividades do dia
po, todos os seus interesses nestas atividades, êle poderá con- dentro da corrente espiritual assim acionada.
seguir elevada proteção e orientação segura para todas estas Descobrirá que sua obra se desenvolverá cada vez mais
atividades. dentro desta corrente de espiritualidade, a qual se alongará sem
O mundo se atira a uma incessante atividade unicamente cessar até o dia em que êle ingressará no Caminho Secreto. Daí
porque não conhece nada melhor que isso. O homem inspi- em diante todas as suas atividades e todos os seus lazeres se
rado trabalha em meio de sua ruidosa engrenagem, mas sabe enquadrarão nesta corrente. Toda a sua atitude será mudada
para onde se dirige essa engrenagem. Pois êle encontrou o com a presença da corrente, mas sem precisar negligenciar seus
Centro onde tudo é silêncio, onde tudo é poder, onde tudo deveres. E por último, época chegará em que êle minguará
é sabedoria, e para êle a circunsferência das atividades acom- suas meditações, pois toda a sua vida terá se tornado uma lon-
panha simplesmente o Centro como lei natural. ga meditação. E todavia êle estará mais ativo do que nunca!
Nossas atividades práticas nos envolvem numa malha aper- Nossa vida se enriquecerá, e jamais se empobrecerá, se
tada; necessitamos libertar-nos e contudo sem destruir, ao mes- recorrermos a esta antiga sabedoria. Esta jamais a destrói, mas,
mo tempo, o emprego desta útil malha. sim, a suplementa e complementa. Vivemos principalmente
Não é necessário, nem sensato, viver o estudante com a para fins económicos, mas estes só poderão ser corretamente
cabeça nas nuvens. Êle vive nesta esfera mundana, e muito satisfeitos quando os houvermos infiltrado com alguns impulsos
melhor pode expressar os princípios que tenha aprendido, apli- espirituais.
cando-os em sua existência mundana. Êle precisa contemplar O espírito deve penetrar em todo o departamento da vida
os céus e lograr á clara visão da introspecção espiritual, mas humana. Se o homem o deixa à margem de suas atividades
depois disso, precisa olhar para a terra outra vez e aplicar essa profissionais, se o esquece quando cogita de sexos, se não
introspecção em seus negócios mundanos. Cabe-lhe esforçar- pode expressá-lo quando trata com outras pessoas, êle impede
-se por manter um equilíbrio entre as forças espirituais e ma- que seu poder mágico lhe favoreça o verdadeiro sucesso, maior
teriais. Importa-lhe conseguir uma vida equilibrada; a vida felicidade e existência mais harmoniosa.
do espírito procurada e encontrada diariamente, e alimentando Desde que acabemos com esta impossível divisão de inte-
a vida das atividades pessoais, e infundindo sabedoria e poder resses e unifiquemos nossos esparsos desejos num sublime ato
em suas incursões nos negócios mundanos. sacrificial à Vontade Superior, poderemos encontrar a paz. Des-
Se praticou regularmente as meditações prescritas nas pá- de que cheguemos à perfeição de nos submetermos aos man-
ginas precedentes, se procurou concentrar seus pensamentos datos do Super-eu, principiaremos a trilhar a senda de nosso
na busca do eu divino, êle progressivamente se aperceberá de verdadeiro destino, de nossa verdadeira vida.
sua natureza espiritual, que até então estivera "encoberta". Nada perderemos em obedecer a estes mandatos. N a vida
Digo "progressivamente", porque a sabedoria a ninguém chega há lugar tanto para o cálido amor como para a algidez da auto-
num dia determinado. E l a desponta como o alvorecer. -renúncia do ascetismo, tanto para o tumulto das multidões
Este apercebimento se assemelha ao acendimento de uma como para a quietude da meditação. Nenhuma moderna vivên-
lâmpada elétrica. A corrente da espiritualidade será acesa cada cia superior há de ser tão espiritual que não permita algumas
ve z que se retorne 1 quietude mental ou à auto-observação. variações nos temas referentes aos assuntos mundanos e ao
Q u e êle cumpra seus deveres e atenda a suas recreações como
122
trabalho de cada dia, nem tão refinada que não admita tocar
ao piano as notas do amor e paixão humanos. Como resulta-
do final, tempo chegará em que o homem espiritual passará
a ver cada coisa, cada objeto, acontecimento e pessoa, como
uma manifestação do Divino; em que êle descobrirá que não
pode haver para êle maior missão do que esta: expressar seu
Super-eu em tudo que fizer e com todos os que encontrar.
Aceitemos e utilizemos sabiamente todos os fatos que a
ciência descobrir. Desfrutemos de todos os confortos e con-
veniências que a ciência nos proporcionar. A nenhuma coisa A AJU D A ES P I R I TU AL EM ASSU NTO S M ATERI AI S
renunciemos a não ser ao emprego insensato e destrutivo que
frequentemente lhe temos dado, à atenção superficial que lhe
temos prestado.
Mas aliemos também esta externa atividade social a uma ALGUNS dos leitores dos capítu-
vida mais profunda, à vida de tranquilo pensamento e paz in- los precedentes objetarão que estas ideias podem ser muito
terna, e assim aprendamos a conservar uma imperturbável pla- belas e profundas, porém são de todo impraticáveis. Nenhuma
cidez de espírito, ainda mesmo em meio das variadas vicissi- noção poderia ser mais falsa, nenhuma suposição poderia ser
tudes de nossa existência. mais infundada. A condição de espiritualidade realizada não
Para quem tenha de viver e trabalhar na afanosa e febril é algo nebuloso e unsubstancial. Pode-se tornar a vida espi-
vida de hoje, também há uma maneira que o conduz pronta- ritual intensamente prática em sua aplicação; com efeito, bem
mente à calma do Supremo. Que introduza um princípio es- compreendida, é a melhor base possível para a existência prá-
piritualizante nesta dispersiva atividade. Que não renuncie ao tica. Pois temos de aprender a governar corretamente nossos
pensamentos, que são o guia invisível de todas as nossas ações.
seu trabalho nem fuja dos antros dos homens, mas, sim, à sua
primitiva atitude para com o trabalho. Que aquilo que era Estas longínquas indagações espirituais podem parecer des-
anteriormente feito tão-só por egoísmo, seja de agora em dian- tituídas de qualquer valor para o homem vulgar. Isso ocor-
te feito com o espírito de servir a humanidade. Esta é a espi- rerá efetivamente se destituídos de valor também forem o con-
ritualidade prática. Além disso, êle achará meia hora por dia trole dos nervos perturbados, a paz mental e a tranquilidade
para reunir ideias elevadas e santas e depô-las no altar de sua de coração. Isto ocorrerá, se forem destituídas de valor o
mente, como uma oferenda solienciosa à Causa Primária. equilíbrio interno e o autodomínio externo. Isto ocorrerá se
nenhum valor tiverem a proteção divina e a ajuda providencial
Este é o único evangelho compatível com o Ocidente prá-
em todas as espécies de aflição, nem a cura misteriosa de mo-
tico — o evangelho da ação inspirada — se quiser fazê-lo gal-
léstias e uma indicação estranha em momentos de perplexidade.
gar uma civilização superior.
Isto ocorrerá, se a existência do homem fôr perpétua e não
Se há uma mensagem que todo o mundo aguarda, é a lhe aproximar o alfange da morte para encurtar-lhe os dias.
mensagem do Oriente-Ocidente, uma mensagem da Ação Ins-
pirada!^ As preocupações da vida nos absorvem constantemente
atenção. Enquanto uma frenética atividade domina t fÉÈ
Então atacaremos os problemas do mundo da pobreza,
do mundo, a sabedoria que vem da quietude mental se
guerra, doenças e ignorância com um novo sabor e melhor
curece e desaparece. Quanto mais nos engolfaras*
sucesso, e todavia, sem nos esquecermos de prestar nossas ho-
menagens diárias 1 divindade dadivosa de paz e enobrecedora sisado materialismo, mais densamente oculto IR.
da alma que mora nos corações dos homens. ser divino.
Estas páginas se esforçarão por mostrar como o homem, mes- invisíveis têm de ser tateados e sentidos depois, dentro dos
mo que viva sob tais condições, mesmo que esteja cercado de ch> misteriosos recessos do espírito humano. E nesses recessos
cunstâncias aparentemente intransponíveis, poderá conseguir uma sombreados que nascem os pensamentos e os sentimentos, e
correta direção para a sua vida material, orientação supetior portanto, podemos seguir nosso caminho até a entrada, ao lon-
para solucionar os problemas de sua vida diária, proteção divi- go da senda do pensamento ou sentimento guiados. Mas uma
na nas horas de angústia e cura espiritual para os seus males vez tenhamos transposto o umbral e penetrado no silêncio inte-
físicos. rior, todas as perguntas perturbadoras terão suas respostas, to-
das as aspirações encontrarão ou ampla satisfação ou resignada
E u poderia citar numerosos casos para demonstrar que não
compreensão, e todas as atribulações perigosas atrairão a di-
é mera abstração a técnica de vivência espiritual aqui propos- vina força ante a qual se acalmarão. É nesta inefável região
ta; é, sim, ima maneira de como comportar-se para obter au- interior que o homem há de encontrar sua máxima satisfação,
xílio prático também em assuntos materiais; é uma forma de sua beatitude final, sua segura proteção.
atividade protetora que dota nosso coração de um sentimento
de completa segurança. A base racional destas coisas é facilmente explicável. O
homem é em si um universo em miniatura. Seu Super-eu cons-
Quem quer que haja descoberto o caminho secreto que titui o sol e seu eu pessoal desempenha o papel da lua. As-
conduz ao centro divino, poderá depois demonstrar sempre o sim como a lua empresta sua luz do sol, assim sua personali-
fato desta descoberta pelo modo como êle contorna os obstá- dade empresta do luminar central, o Super-eu, a vitalidade, e
culos inevitáveis, as dificuldades inelutáveis e os frequentes dis- seus poderes de pensar e de sentir. Os homens que vivem
sabores que assaltam de quando em quando a vida humana. apenas em função da sabedoria e do ser de seu eu pessoal,
Para esse, iniciou-se uma vida superior. assemelham-se aos homens que trabalham à noite sob a luz lu-
homem que ignore o eu, cria a sua própria infelicidade. nar, por não haver sol. Quem nunca tenha visto o sol —
(<
O mundo o manobra, em vez dele manobrar o m u n d o s A vida diz o escritor espanhol Calderon — não pode ser censurado
se precipita, roais cedo ou mais tarde, com pés cruéis s o b r e i por imaginar que não existe glória superior à da h i a ^ l l O s
homens que vivem em função da sabedoria do Super-eu, po-
homem que conhece poucas ou muitas coisas mas não se conhe-
dem também apreciar a contribuição da personalidade, porém
ce a si mesmo. Mesmo os mortos não escapam, pois a morte
atribuem-lhe um valor secundário.
é apenas uma forma de vida./
Algo acontece ao homem que logra o verdadeiro autoco-
Se o homem reconhecesse suas possibilidades divinas tão
nhecimento e autodomínio. Êle obtém uma visão diferente É
prontamente quanto reconhece suas limitações animais, depres-
vê a vida de uma nova posição vantajosa. Contempla 0 n*i-
sa lhe chegariam dias áureos. Não oremos, pois, pecjindo mais
doso panorama da existência confusa conturbada, mas conserta
poder sobre os demais seres humanos, nem maior riqueza ou
em si uma serena harmonia interior. As irritações que antes
fama mais extensa: oremos, antes, pedindo o afastamento dessa
o apoquentavam, desaparecem. As paixões que outrora 1
crassa ignorância sobre nosso verdadeiro eu.
veram em suas garras, se abrandam e são por sua | u akan»
Existem milhões de homens e mulheres que se sentem in- çadas e submetidas por uma força superior.
felizes porque nunca aprenderam esta verdade, e são vítimas O seguimento bem sucedido do Caminho Secreto S K B
de sua própria deplorável ignorância. Sob a delicada face de rá o homem, finalmente, dos desejos irrequietos, pummrntai
Ba s vidas, estão cheios de descontentamentos, estuantes de descontrolados e ações irrefletidaa^lÊ embora o e s t t w rrqur
discórdias, e seus corações não sentem paz. rido pareça grande, o prémio espiritual 11 nimprniiagj^rtt 1
Existe uma porta sempre aberta, de que poucos homens condição misteriosa reveladora do Super-eu H ^ ^ ^ ^ ^ H
f * dignam aptoximar-se, porém pela qual todos terão de pas- um dia dentro da alma do aspirante.
iWh#m dia» m a porta do «te real do homem, cujos portais
fos plácidos momentos de quietude obteremos um grau
de domínio próprio que acabará impregnando toda a nossa vida para atacardes os problemas ou vos defenderdes da ameaça dos
diária, e saturará todas as nossas ações. Este resultado é cer- infortúnios, e como poderão vir em vosso auxílio a qualquer
to e científico. D a mesma forma que umas gotas de heliotró- hora para fortalecer-vos contra as tentações e provas. O mé-
pio vermelho num copo dágua farão esta tomar um coloração todo é totalmente prático.
vermelha, assim toda a nossa vida externa será colorida de um Começai por contemplar o Super-eu como uma Inteligên-
autodomínio automático, se persistirmos na tríplice prática. cia sempre presente, com a qual podeis comungar, à qual po-
Lançai vossos pães de tempo e esforços nas águas da quietude deis confiar vosso perturbado coração em busca de paz, e sob
mental, e eles vos retornarão centuplicados. cuj a égide permanecereis amplamente protegidos. Qualquer
Uma vez que tenhais vos colocado nas mãos do interno que seja o vosso problema, não limiteis vossos esforços a uma
Super-eu, vossa vida começará a fluir serena e docemente. I n - simples solução intelectual. Não dependais tão-só da fria ra-
ternamente ela se assemelhará a uma tranquila corrente, mesmo zão. Encarai vossas dificuldades à branca luz do Super-eu, e
que lá fora ainda rujam as tormentas. Vosso zelo pelo exato ali achareis a acertada orientação que finalmente vo-lo solucio-
resultado de vossos assuntos não poderá ser maior do que o nará.
Super-eu tem por vós. Assim, quando empunhais as rédeas, Eis a regra: toda vez que vos sentirdes aborrecidos, ator-
vossa orientação é amiúde ignorante e insensata; mas quando mentados, tolhidos, experimentados ou tentados, praticai pri-
a divindade interna as empunha, sereis seguramente conduzidos meiro o exercício de tranquila respiração durante dois ou três
acertadamente, pois êle é mais sábio do que vós. Ofertai-lhe minutos, e depois formulai-vos uma das perguntas seguintes,
vossa irrestrita e espontânea submissão. conforme seja o caso:
O que obtiverdes no período da quietude mental, poderá
A
U
quem aborrece isto?"
converter-se em força para viver e sabedoria para agir reta- U
A quem atormenta isto?"
mente. U
A quem tolhe isto?"
Descobrireis que o Caminho Secreto da quietude mental
"A quem experimenta isto?"
será de utilidade em todo tipo de situação, seja agradável ou
"A quem tenta isto?"
dolorosa, psíquica ou física. Podereis vacilar ou mesmo falhar
em aplicar este conhecimento, mas o Super-eu é infinitamente
paciente e estará pronto para dar-vos sua assistência em vossa Depois de vos haverdes formulado a adequada pergunta
própria senda, quando estiverdes preparado para invocar a sua silenciosa, pausai, aquietai vossos pensamentos tanto quanto
presença. puderdes, e repeti o processo de "escuta" com que operais
na quietude mental que já vos é familiar.
Esta prática coloca vossa consciência em contato com o
Super-eu, cuja proteção então a envolve. Isolar-se instantanea-
Pouco a pouco, imperceptlvelmente, vossos esforços diá- mente nesta busca do eu espiritual, quando subitamente se de-
rios abrirão um novo canal ao longo das sinuosas convoluções fronte com um mau acontecimento, é neutralizar-lhe o poder
de vosso cérebro, o que vos facilitará a aproximação da esfera de perturbar a mente. Então, qualquer que seja a ação que
sob a influência do Super-eu. se lhe siga, será sábia e correta, por estar inspirada pdb Su-
Mostrar-vos-ei agora a maneira como vossos trabalhos du- per-eu.
rante os períodos diários de quietude mental hão de ser feitos No Super-eu não há lugar para discórdias. Volvendo-nos
paia depois exerecerem uma influência sobre o resto de vosso internamente para este Super-eu, automaticamente nos recusa-
dia;|ppmo porão em vossas mãos um instrumento suficiente mos a aceitar as sugestões de experiências firaj ÀiO
128
surgir uma contrariedade, o homem deve recusar-se a aceitar
as sugestões do desespero ou dúvida que lhe assaltam a men- Desta maneira aplicamos a verdade que aprendemos e a tor-
te; em lugar disto, deve acalmar sua respiração, mudar imedia- namos um fator ativo em nossas vidas.
tamente o seu pensamento e inquirir: "A quem atingiu esta A prática desta técnica apagará de nossa mente, infalivel-
contrariedade?" mente, o medo, a depressão e o materialismo. Devemos refe-
Se pudermos rejeitar, e rejeitar persistentemente, cada rir tudo ao Super-eu interno, até que o hábito se nos tome o
pensamento desagradável, infeliz e espiritualmente inverídico primeiro pensamento, a segunda natureza, o sexto sentido.
que nos assalte, seremos sem dúvida mortais muito felizes. Pode-se explicar o processo de outra maneira. O homem,
Estas coisas são perfeitamente exequíveis, porém raramente o como Super-eu, é isento de desejos, não está sujeito a nenhu-
são pelos esforços comuns de autodomínio; só um método como ma influência externa, nem é afetado por outro poder que não
o que aqui se oferece, poderá lograr tão admirável tarefa, pois o poder de Deus. Portanto, o Super-eu nunca sente dor, nun-
então a vitória será finalmente ganha, não por nossos próprios ca se zanga nem pode ser afetado pela depressão ou medo. O
esforços, mas pelo poder superior do Super-eu que invocamos. homem, como eu pessoal, está cheio de desejos e aversões, rea-
ge constantemente às influências externas e identifica-se com
Pessoas desagradáveis, circunstâncias irritadiças e decep- elas. Aceita as reações de seu corpo aos ambientes e pessoas
ções inesperadas: o inegável efeito de tudo isso pode ser anu- que continuamente encontra, e a eles se ajusta como se de fato
lado mediante o nosso decidido esforço para alcançar o divi- fossem propriamente seus. Êle aceita ó que o corpo registra
no centro de nosso ser. Cabe ao estudante cultivar o hábito do medo, desejo, ira, repulsa, dor, etc. Está tio alheio à sua
de recorrer imediatamente ao eu interno, quando em conflito própria natureza interna, que admite ser governado pelas ten-
com as circunstâncias que o envolvam. Se o fizer fielmente, dências do corpo, e assim impede a expressão da energia e
dele se apossará uma maravilhosa sensação de paz e segurança, potencialidades divinas latentes em sua constituição espiranal.
e sua mente passará sem fricções através da ocorrência.
Desde o momento em que se permita à mente revestir-se
Importa aqui recordar- que nosso eu mais íntimo se acha de condições desagradáveis, o homem se torna escravo delas
sempre numa condição de paz intensa. Quando ao nosso re- e deve arcar com as penalidades desagradáveis. Mas se, ao
dor rugir a tormenta dos aborrecimentos, repudiemos imedia- sentir os zuídos pessoais, êle persiste em volver sua atenção
tamente as reações indesejáveis e procuremos focalizar nosso para o seu centro interno, então as coisas externas começarão
pensamento na busca do eu espiritual. A descoberta deste será a perder seu poder de afetá-lo. No grau em que a prática t Q
também o atingimento de sua condição feliz. WO bem está sem- hábito tenham desenvolvido em si esta faculdade introspectiva,
pre presente, mas tem de ser procurado, sentido depois, e êle será capaz de eliminar as influências maléficas, quer prove-
afinal reconhecido.^ nham de outras pessoas ou dos ambientes circundantes, quer
Nenhuma ocasião é mais propícia para encetar esta busca se apresentem sob a forma de moléstias ou drcunstttidàs incó-
divina do que quando sobre nossas cabeças se desaba uma modas/ :f Não nos há de surpreender a obtenção de tesuitadoi
:
avalanche de sombrios acontecimentos e corrosivas ansiedades. tão admiráveis, se nos lembrarmos de que "o homem foi leito
Pois então, por uma imersão da mente na autobusca, poderemos à imagem de Deus", què por estai práticas sua verdadeira
demonstrar, de maneira impressionante e luminosa, o poder mis- semelhança se imerge gradativamente em sua COE
terioso do método. "Levantai os olhos para o céu", clamava Se abrirmos a porta de nossa submissão e consciência
o antigo profeta Isaías.# Esta introversão da faculdade da siva às ocorrências discordantes, nos tomaremos suas l a j d j j f c
atenção enfraquece, necessariamente, a força das emoções de- vitimas. Se, ao contrário, lhes fecharmos I j da I É M M
sarmônicas | desagradáveis que nos atacarem.^ O simples es- sujeitarmos nossa passividade ao bem • l | mis
forço para nos descobrirmos, aproxima-nos da condição de su- de nosso ser, não precisaremos BH9 ftosto iiwuii.wutowi»
que habita o eu real. n uma libertação. mental de notsa próprit flflH 1 • traz a cura em | B j
asas c interiormente nos liberta do poder maléfico das cir- aplicação do mais sublime remédio terapêutico da antiguidade,
cunstâncias adversas.
que é o divino poder curador.
Pode tomar várias formas o tipo de ajuda que assim rece- A força vital do Super-eu flui continuamente em cada
bamos. Proteção nas horas de perigo é uma delas. Todos os electron dos átomos que formam o corpo. É o Super-eu que
que realmente se entregam ao Poder Superior, recebem sua realmente dá vida aos nossos corpos e os sustém. Sem sua
ajuda protetora. presença invisível, nossos corpos cairiam mortos instantanea-
mente, como peças de matéria inerte. O maquinismo do cor-
• Aprecio a leal declaração do cacique dos índios vermelhos
po não poderia funcionar em suas invisíveis correias espirituais
que queriam atacar a igreja dos Quacres da cidade de Easton,
de transmissão. E é o Super-eu quem pode igualmente repa-
no estado de Nova Iorque, em 1775, numa radiante manhã de
rar e curar esses corpos.
verão. "índios vêm casa homem branco — disse êle apontan-
do para a colónia com o dedo — Índios querem matar ho- * O poder do Super-tu está convosco aqui e agora; nada po-
mem branco, um, dois, três, seis, todos", e enfiou seu ma- de privar-vos de sua operação, a não ser vossa voluntária negli-
gência, vossa própria supina dúvida.\ «Segui o Caminho Se-
chado de guerra no cinto com ar agressivo. "Índios che-
creto e apropriai-vos daquilo que já é vosso. I
gam, vêem homem branco sentado na casa; nenhuma espingar-
da, nenhuma flecha, nenhuma faca; todos quietos, todos para- Todavia, o homem não pode ditar à Inteligência Criadora
dos, adorando o Grande Espírito. Grande Espírito dentro do que governa o mundo e que impregna a sua vida, sobre a exa-
índio, também — êle apontou para* o seu peito — então Gran- ta forma de ajuda que receberá, nem pode pedir sempre satis-
de Espírito diz: "índios! não matá-los!" | fação de suas necessidades pessoais, sem outras considerações
superiores. E m última análise, o homem é um pensionista
A cura é uma outra forma em que se pode manifestar esta na Assistência Universal.
ajuda. Minha amiga, Dorothy Kerin, levantou-se do leito de Êle pode sempre governar as circunstâncias, mas não pode
morte completa e kistantânemaente curada de prolongada tísi- governar sua resposta a elas, Se a realização espiritual nem
ca, diabetes e úlceras gástricas. O s médicos que a atendiam sempre pode afastar de seu caminho as sombras da pobreza,
haviam cessado todo tratamento, considerando-a um caso per- doenças ou infortúnios, ela "o dotará de coragem para enfrentar
didojfe Sua cura milagrosa por poderes espirituais foi a mara- a pobreza, paciência para suportar as doenças e sabedoria para
vilha da R u a Harley; muitos médicos investigaram o seu caso, arrostar o infortúnio.
mas tiveram que admitir que a cura estava além de sua com- O homem que se integre cada vez mais nesta percepção
preensão. D i z a Srta. Kerin : "Minha cura veio diretamente de seu eu mais profundo, se sentirá cada vez menos inclinado
de Deus. O Novo Testamento está cheio de promessas de a importunar os poderes, seja para o seu êxito, suas necessida-
cura, e estou confiante em que logo que possamos abrir os des materiais ou suas inclinações sociais. E m vez disso, êle
olhos espirituais, as veremos cumprir-se". sentirá a força protetora deste eu; se algo lhe pedir, será mais
sabedoria, mais energia e mais amor. * Possuindo estas coisas,
Outro amigo, W . T . Parish, tinha sido informado pelos
êle sabe que pode deixar com segurança o resto para a divin-
médicos de que sua esposa sofria de câncer e não viveria mui- dade interna, que depois acudirá infalivelmente às suas reais
to tempo;É:5eu seio esquerdo já havia sido extraído por u m a necessidades, na hora precisa.
operação, quando o seio direito foi atacado^ Parish rétirou-a
Convém sabermos que poderemos viver muito mais segu-
do hospital e começou a tratá-la êle mesmo, pelos métodos e
ramente se abrirmos e mantivermos aberta alguma vereda &
poderes do espírito. E m nove meses ela estava restabelecida.
recolhimento ao Super-fcti. Poderemos peregrinar por este «os-
Seu caso oferece uma clara e perfeita demonstração do poder
so velho globo terráqueo muito mais seguramente se de quanÉS
do espírito sêbre o corpo, uma significativa indicação da cura
em quando realizarmos como que uma excursão f j § ^ ^
de um a das moléstias mais terríveis da atualidade, mediante a
132
Procuremos o Super-eu através do nevoeiro de lágrimas não
provocadas, da claridade solar dos desejos satisfeitos, e não
nos esqueçamos do que realmente somos.
0 homem não passa de um medíocre enquanto não apren-
der a confiar neste poder superior, o eu real; enquanto não
fizer desse poder um fator vivo em sua visão e não apelar
sempre para esse eu em seu interior, em busca de inspiração.
Crede no eu que conheceis e vos sentireis de pronto l i - CAPÍTULO XII
mitados; crede no eu maior que realmente sois, e podereis pros-
seguir triunfalmente até a vitória final. Sede aquilo que ten- O EPÍLOGO
des de ser dentro de vós.
E m vossas mais serenas exaltações, realizareis esta pro-
1
funda verdade: nunca estivestes realmente afastados de Deus!/ S I M ; nunca vos afastastes do
Divino Poder que governa o universo, dirige a vida do ho-
mem, e é a base invisível de toda a existência. Não é este um
pensamento útil numa época como a atual, em que vivemos
num período de fraca descrença e cínico materialismo, resul-
tantes do fato de haver sido a raça humana colocada em seu
Gólgota desde 1914? A rósea sentença de Browning: "Deus
está no Seu céu; tudo vai bem na terra*, é lida através de
óculos escuros. Estamos desanimadoramente dúbios quanto à
existência de Deus e do Seu céu, enquanto o aspecto presente
do mundo parecer lançar um desmentido ao rosto de Browning.
A literatura séria dos últimos poucos anos tornou-se uma
literatura de desespero. Os homens que pensam e os que es-
crevem com outra finalidade que não simplesmente entreter
outros, começaram a ver quão significativos são os problemas
desafiadores que a época está levando rapidamente a uma cri-
se. Eles vêem que a rubra aurora que polarizou as esperanças
de todo o mundo ao terminar a guerra (1914-18), empalideceu
e nos deixou envoltos num desconcertante nevoeiro. Foram
forçados, o contra-gôsto seu, a fazerem-se relutantes precursores
da condenação. Hoje eles se tornaram as agoureiras Cassan-
dras advertindo profeticamente a humanidade contra inimigos
iminentes. Largamos a última página de seus escritos com
uma sensação de calafrio e uma impressão de profundo pes-
simismo.
Quem, ao observar os edifícios sociais I políticos <*bo*
roando-se e espatifando-se no solo, poderá duvidar de que 111
m
I serva o término de uma época histórica? Hoje a narrativa da
h is tó ria se tornou o drama do inesperado; cada manhã espe-
ramos pela próxima nova surpresa. A antiquíssima dinastia
dos manchus teve de abandonar Pequim, e com ela desapare-

Todavia, permaneçamos por uns instantes Òt pé, È


Clio, a Musa da história nos tempos antigos, com a pena su
pensa, em vez de nos precipitarmos em julgar o nosso sécul
Pois existe um plano por trás dos acontecimentos que pia
I
ceu o país que havia criado a Regra de O u r o . Hoje em dia,
1
a única coisa certa é a incerteza. Outrora a caravana da vida mam a vida do mundo moderno, e a não ser que o hoàflf
tenha aprendido a discernir este plano, êle não poderá julgar
permbulava pelos séculos qual uma infindável procissão, mas
acertadamente.
hoje ela avança desabaladamente em máquinas velocíssimas.
À humanidade atual anda faminta e assombrada; faminta Os poderes que guiam o universo, que pelam pela huma-
por dias melhores e mais alegres, e ainda assombrada pelas nidade e vigiam o mundo, falarão a este século num estilo mui-
to mais vigoroso que o meu, e demonstrarão sua existência
densas sombras do passado. O mundo parece querer experi-
através de ocorrências muito mais surpreendentes do que a
mentar todos os caminhos, menos o melhor. • Atormentado an-
publicação de um simples livro. Por olharmos ao seu redor e
te a perspectiva de uma outra guerra, desorientado ante as
depararmos com o caos que pesa sobre nós, os tolos temem
condições políticas caóticas de todos os continentes, êle se lança
I
que Deus esteja morto e nós estejamos perdidos* % Porque ne-
de u m lado a outro em busca da fórmula perfeita, capaz de nhuma mão se estende do Grande Ignoto para salvar a huma-
resolver seus problemas económicos e políticos. Mas a única nidade de suas auto-engendradas tristezas, eles imaginam que
fórmula perfeita, a única fórmula infalível, conquanto a seu não há nenhuma mão para auxiliar-nos. Deus, se quisesse,
I
alcance, está fora de sua visão. £ essa é a Regra de Ouro: poderia sarar todas as tristezas deste planeta num rápido ins-
"Não façais aos outros o que não quereis que eles vos façam." tante. Mas isso seria transformar-nos em autómatos, conver-
A clamorosa necessidade do mundo presente não é a mu- ter-nos em anjos tomados máquinas. Se tem de crescer etn
dança de cabeça, e sim, mudança de coração. Entre nós não semelhança com Deus, o homem há de fazê-lo de p i e es-
faltam ideias — antes o contrário — mas falta boa vontade. O pontânea vontade. £ a garantia de que êU assim fará, é a
sentimento de boa vontade será a melhor segurança da paz presença de uma centelha divina dentro de si. Existem ver-
universal. dadeiras vozes no coração: as vozes da Esperança e Boa-voa-
Quem pode contemplar o espetáculo da Europa moderna tade, e essas serão ouvidas uma vez mais.
• sem se lembrar das advertências do Profeta de Nazaré, advertên- Pois o instinto divino no homem c iner radica vel; poderá
cias escritas com letras de fogo nas páginas da história? Quem ser abafado por algum tempo, mas um dia brotará òt ftdf©.
po de esquecer as terríveis palavras de Jesus, quando, de pé
É curial, porém exato, que nas penúrias do homem está
Monte das Oliveiras, dirigidas à capital dos judeus:
a oportunidade de Deus. O que se aplica a um axlivídua» apii*
" ó Jerusalém, Jerusalém, tu que matas os profetas e ca-se igualmente a uma nação, que é apenas «Ha* oolaç&o de
JUd re jas o s que te são enviados, quanto quisera eu ter reuni- indivíduos, e da mesma maneira a todo o mundo* que nio pas-
do teus filho s, co m e a galinha ajunta seus pintinhos sob suas sa de nações. Angústias sociais, ansiedades económicas, ggg
asas, e tu n i o e quiseste/' político, são todos, e sobretudo, consequências fíiktt-;;pa
de espiritualidade no mundo. As penúrias do mua||
1 * ser a oportunidade de Deus, e a história ào w r a n j
denciará plenamente este fato.
| B ^ ^ ^ n K J r a § m l | autor se refere ao preceito áureo de A parábola crista do Filho B m n lgg| flfltiáHH
^ ^ f i faças aos outros o qu enfto gostas te seja feito", I que tanto mundial como m Quaadte os pcwos
% 4§ Crirto; "Q que querela que vos façam a vós os
fazei H I alei* § Imas M M da T.) rem de tuas «termináveis perturbações, por BHH
ás; batidos pelos seus monstros frankenstaineanos das guer
ras cientificamente empreendidas, dos massacres das massas e Submetamo-nos à grandeza do imperecível Super-eu; mes-
das desastrosas imposições económicas que revelam sua falta mo que não possamos entender ou alcançar a sua altitude hi-
de boa vontade, eles volverão seus rostos para a casa paterna e malaiana, sujeitemos nossa mente, coração e corpo às suas au-
encetarão a viagem de volta para uma vida melhor. E seu gustas ordens. Assim ingressaremos na vida imortal e colhe-
P a i , sabendo-o, irá ao seu encontro e os reunirá, beijará e con- remos os frutos perenes da verdade, sabedoria, paz e poder.
fortará, e lhes revelará seu ininterrupto amor por eles. Ofereçamo-nos às excelsas Potestades, afim de que elas
possam utilizar-nos em servir nobremente a humanidade na
Entrementes, ainda desafia o homem a suprema pergun-
esfera que nos tenha calhado, por limitada que seja. 'Entre-
ta: tu te conheces? Nestes tempos perturbados e fatídicos, o
guemo-nos silenciosamente ao bem-estar dos outros, tal como
homem sensato procurará um incomovível ponto de apoio, em Cristo se entregou ao bem-estar deste escuro planeta* Seja-
que possa descansar enquanto o mundo roda alucinado ao seu mos leais para com o propósito invisível que os deuses man-
redor. T a l ponto de apoio jamais se poderá achar em qualquer têm eternamente para com a humanidade. E m toda a parte
lugar externo; só poderá ser descoberto nas profundezas se- está presente a vida divina; traí-la-emos negando a sua exis-
cretas do coração. A l i , nos misteriosos recessos de nosso pró- tência eterna, ou envergonhá-la-emos desdenhando de suas su-
prio ser, êle existe, dando ao homem uma energia mais pro- blimes admoestações?
funda e uma sabedoria mais elevada. O homem iluminado
pela sabedoria do Super-eu e fortalecido pela sua energia, tem
outra função que não esperar passivamente novos Armageddons Q U E A P A Z E S T E J A CONVOSCO
ou cataclismas planetários. Para quem vive apoiado nesta con-
fiança absoluta, não há temor pelo dia de amanhã, como não
o há para as andorinhas do espaço.
Êle sabe que a noite passará, e que a aurora, silenciosa e
irresistível, afugentará as trevas do mundo, e uma vez mais o
inundará de luz. Quando a verdade acerca do lado oculto
do universo e do homem fôr de novo revelada, e demonstra-
da tanto quanto possível de uma maneira científica e racional,
as novas descobertas da Ciência sacudirão as mais poderosas
mentalidades. Nós então levantaremos uma coluna de sabe-
doria superior, que se desdobrará numa nova e mais esplêndida
era, e então renovaremos nosso testemunho das eternas ver-
dades espirituais que nenhum progresso da Ciência, nenhum
avanço da civilização, nenhum lapso no caráter humano, jamais
poderá tornar obsoletas.
Ao mesmo tempo, cada um dos que palmilham este se-
creto^ caminho interno pode tornar-se um disseminador da ver-
dadeira luz, transformando-se e capacitando-se para transfor-
W^^BfiJ&otM E de tais homens, inspirados instrumentos al-
"m$, preparados para trabalhar na obra superior do género
wa, que devemos esperar a libertação do mundo de seu
edo de ignorância espiritual i sofrimentos matetisis.

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