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Hl INTRODUCAO ‘© processo de acumulagao capitalista na Eu- ropa ocidental, ocorrido ao longo do século XVIIL, permitiu a ascensao econémica da bur- quesia, classe que na sociedade do Antigo Re- Gime pasowu a exigir profundas mudangas na or- ganizacéo politica do Estado Absolutista. © con- junto das suas idéia foi denominado uminismo @ 0 século XVIII ficou conhecido também como Século das Luzes. Os pensadores, defendendo 05 ideais burgueses, se convenceram que o re- curso a razdo era 0 tinico meio de se eliminar obscurantismo e de se conduzir 0 homem & verdade, ao bem e & liberdade. Logo, conden: vam o Absolutismo, o Mercantilismo, a socie- dade estamental, a servidao, 2 Inquisigao, enfim, as instituigdes fundamentais do Antigo Regime, propondo novas formas de organizagao da socie~ Gade, da politica e da economia, fundadas todas elas na liberdade e na tolerancia. O Muminismo tomou-se uma ideclogia revolucionéria, influen- ciando a Independéncia do Estados Unidos em 1776, a Revolugio Francesa de 1789 ¢ os movi- mentos revolucionarios de independéncia na América Latina. & FUNDAMENTOS Racionalismo racionalismo filoséfico, que serviu de base para o Huminisino, foi expresso por René Des- cartes (1596-1650), pensador francés, que era também fisico e matemético. Entre suas prin- Cipais obras filos6ficas destaca-se 0 Discurso do ‘Método (1637), em que explicou 0 racionalismo por meio célebre maxima “penso, logo existo”. Apoiado em estudos e observagées, Descartes considerava que 0 universo é regido por leis na- turais, que so mecdnicas e tao precisas quanto as leis mateméticas, de modo que s6 se pode atingir o conhecimento por meio da razio e da ciéncia, uma vez que é produto das experiéncias racionais. Dessa maneira, Descartes, criou um método para chegar ao conhecimento fundado na demonstragao matematica, e refutava a fée a crenga baseadas em dogmas religiosos. Os filésofos iluministas condenavam o cristia- nismo porque seus dogmas renegam a natureza. ‘Acteditavam que Deus era inteligéncia em vez de crenca, criador de um universo admiravel- mente ordenado por leis eternas e imutéveis; lo- go, Deus nao devia ser objeto de adoracio, ritos e sacramentos. Bastava estudar a natureza para conhecer as leis divinas e acelté-tes. No campo politico, o racionalismo ofereceu subsidios para a cvitica a todas as instituigoes do Antigo Regime consideradas dogmiéticas. liberalismo © pensamento liberal foi expresso por John Locke (1632-1704). Este pensador inglés foi in- fluenciado pelas idéias politicas surgidas com a Revolucao Gloriosa de 1688, que eliminou 0 go- verno mondrquico absolutista na Inglaterra. En- Ire suas obras destaca-se 0 Segundo Tratado so- bre o Governo Civil, em que desenvolveu uma concep¢ao politica oposta a absolutista, sus- tentada por Thomas Hobbes. Para Locke 0 ho- mem, antes do estabelecimento do governo, vi- ‘via em um estado natural, sem lutas e anarquia; isso quer dizer que sua concep¢ao opunha-se frontalmente 4 de Hobbes. O estado natural im- plicava uma vide comunitaria harmoniosa ¢ go- vernada pela razdo, na qual se prescindia da crenga em um ente superior, Portanto, antes de ‘8 governs existirem, os homens possuiam di- reitos iguais e inalienaveis, como o direito a li berdade, a vida e & propriedade. Ao contrario do que concebiam os idedlogos absolutistas, Locke considerava que um governe legitimo ‘emanava de um contrato social fundado no con- sentimento dos governados, e 0 poder atri- buido a esse governo deveria ser limitado em nome dos direitos naturais dos governados. © pensamento de Locke foi difundido na Fran- a por Voltaire e teve também resson4ncia nos “SISTEMA ANGLO DE ENSINO 64 ‘VESTIBULARES Estados Unidos no contexto da luta pela indepen- déncia e da feitura da Constituigao de 1787. Direitos Naturais Os filésofos acreditavam que a sociedade ideal deveria ser organizada de modo a asse- gurar a felicidade do homem. Esta, por sua vez, 36 podia nascer de um governo que respeitasse os direitos dos individuos nascidos sob a in- fluéncia das leis naturais. Esse governo era escolhido pelos homens e tinha a finalidade de Ihes garantir a felicidade e todas as benesses que em sociedade pudessem gozar na Terra. Portanto, com esse compromisso era firmado um contrato entre o governante e os governa- dos, os quais, por sua vez, poderiam mudar de governo, caso este viesse a violar os direitos dos individuos. Ainda segundo a ideologia iluminista, o go- verno também deveria garantir o direito a liber- dade e & igualdade. O direito a liberdade com- preendia a livre escolha da religido, a liberdade de expressao-e também a liberdades de desen- volver sem entraves o comércio e a industria. Os iluministas exigiam a supressao de todas as for- mas que a impedissem, como a servidao, a in- quisi¢ao e o intervencionismo monopolista na economia. O direito 4 igualdade consistia na eli- minagao dos privilégios fiscais e judiciais conce- didos ao clero'e a nobreza, e estabelecia que to- dos seriam iguais perante as leis e no pagamento de impostos. Ninguém poderia ficar acima das leis e imune aos impostos; todos deveriam ser julgados ¢ tributados pelos mesmos tribunais ¢ impostos. PRINCIPAIS PENSADORES Charles Louis de Secondat, conhecido como bardo de Montesquieu (1688-1775), condenou em suas obras as instituigdes ¢ os costumes do seu tempo. Em 1720, escreveu Cartas Persas, em que ridiculariza os costumes, a moralidade e as instituigdes da monarquia francesa. Contudo, sua obra mais significativa ¢:Do Esptrito das Leis (1748), em-que expés sua teoria sobre 0 govemo organizadorno principio dos trés poderes. Assim, propée que cabe ao. legislativo a elaboragao das leis, que so relagdes necessarias derivadas da natureza'das coisas; a0 executivo cabe aplicé-las na ordem geral; a0 judicidrio; aplicé-las nos ca- sos particulares. Cada um destes poderes é um ‘organismo distinto e independente dos demais. Segundo Montesquieu, “um governo fundado na lei, onde os poderes se limitam uns aos outros, conduzem a humanidade & liberdade”. Montesquieu também classificou as formas de governos em trés categorias, despéticos, monar- quicos e republicanos. Visando explicar 0 predo- minio de cada uma dessas formas em certos paf- ses, estabeleceu relagbes entre as condigdes psi- colégicas de cada povo e a forma de governo adotada. Relacionou também a forma de gover- no com a dimensao eo clima da cada pais. Acre- ditava que a Reptiblica democratica era ade- quada a um pais de temperatura fria, e o despo- tismo, a um pais de temperatura quente, pois seus povos teriam reagdes psicolégicas diferen- tes. Acreditava que a democracia cabia bem a paises pequenos, e o despotismo, a paises gran- des, como a Russia. Frangois-Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudénimo literério de Voltaire (1694-1778), era considerado um dos maiores criticos das ins- tituigdes do Antigo Regime. Irénico, cdustico mesmo zombador, cultivou todos os géneros lite- rarios, como poesia, epopéia, tragédias, comé- dias e obras historiograficas. Entre suas obras destacam-se Cartas Filosdficas ou Cartas sobre os Ingleses (1734), em que, influenciado por John Locke, enaltece a Constituigao liberal inglesa, propondo uma “monarquia esclarecida” que pre- servasse a liberdade e a tolerdncia. Voltaire ain- da combateu as injustigas sociais do Antigo Re- gime, como a servidao, as prisdes arbitrarias, a tortura e a pena de morte, e defendeu a liberda- de de expressao com este argumento: “nao con- cordo com uma sé palavra do que dizeis, mas de- fenderei até a morte o vosso direito de dizé-las”. Considerava a Igreja hipécrita, pois abrigava um clero inescrupuloso, isento de impostos, que en- riquecia 4 custa da fraqueza dos homens, man- dando riquezas para o papa e empobrecendo a nagao. Apesar de ser sensivel a sorte dos pobres, Vol- taire desenvolveu uma filosofia social mais fa- vordvel & burguesia. Considerava 0 povo tolo e ignorante e nao acreditava na igualdade entre os homens. Afirmava que a natureza dera aos ho- mens uma inteligéncia desigual, e que da de gualdade de talento nascera uma natural de- sigualdade de fortunas. Voltaire é autor de outras obras importantes, como Dicionario Filos6fico (1752), Céndido (1759), Ingénuo (1767), nas quais defende com veeméncia 0 direito a liberdade de expresso e de pensamento. Jean Jacques Rousseau (1712-1778) nasceu em Genebra, onde recebeu uma rigorosa edu- cacao calvinista. Em 1741, viajou para Franga, e em 1749, na Academia de Dijon, participou de um concurso que propunha o seguinte tema: “Os progressos das artes e das ciéncias tornam os SISTEMA ANGLO DE ENSINO VESTBULARES homens methores e mais felizes?”. A resposta de Rousseau esté em sua obra O Discurso sobre as Giéncias e as Artes. Rousseau sustentou uma tese contréria & dos que acreditavam serem os ho- mens mais felizes gragas aos progressos das ar- tes e das ciéncias. Rousseau afirmava que a civi- izagdo havia corrompido os homens e que os melhores e mais felizes povos eram aqueles que se achavam mais proximos da natureza. Sinte- tizou suas idéias nesta expresséo: “os homens nascem bons, mas a sociedade os corrompe”. A tese de Rousseau ia de encontro com as conviegdes predominantes em seu século ao par- tir do principio que a bondade era natural no ho- mem, que o “bom selvagem” era moralmente superior ao homem civilizado. Em 1753 a Academia de Dijon propés a seus alunos outro tema: “A origem da desigualdade entre os homens”. Em resposta, Rousseau es- creveu o Discurso sobre a Origem e 08 Funda- mentos da Desigualdade entre os Homens. Nessa obra, Rousseau apresenta cuas razes que po- dem explicar a origem da desigualdade. A pri- meira, natural, deriva das diferencas fisicas e intelectuais entre os homens; a segunda, artifi- cial, deriva das diferengas nas condigses sociais provocadas pela instituigéo da propriedade da terra. Assim discorreu: “Os homens comegam cultivando a terra, posteriormente parfilham-na, instituindo a propriedade individual. O primeiro que tendo cercado um terreno teve a habilidade de dizer isto é meu, e encontrou pessoas muito ingénuas para acredité-lo foi o verdadeiro fun- dador da sociedade civil. A partir de entéo, tudo esté perdido, consumou-se 0 pecado original, ca- minha-se para a decrepitude... Da propriedade nasce a desigualdade, a concorréncia, a rivalida- de, 0 orgulho, a avareza, a inveja, a maldade os conflitos e as querras. Os homens consentiram na criagdo de governos ¢ leis sob a aparéncia de garantir a vida e a propriedade de todos, mas na Tealidade nao eram verdadeiramente titeis, se- no aos poderosos... “Tal foi ou deve ser a ori- gem da sociedade e das leis que trouxeram no- Vos entraves ao fraco e novas forgas 20 rico, des- truiram irreversivelmente a liberdade natural, fi- xaram para todo sempre as leis da propriedade e da desiqualdade..” Em 1762, Rousseau escreveu O Contrato So- cial, em que propée um governo formado do consentimento, pautado na vontade geral de proteger os interesses da maioria dos cidadéos, como tinico meio de os individuos conservarem a igualdade e a liberdade que a natureza Ihes, deu. Em 1762, na sua obra Emilio, procurou elaborar um sistema de educacao que preser- vasse a inocéncia e as virtudes humanas préprias dé estado natural, a fim de que o homem con- servasse sua bondade inata. Rousseau inocentou os homens de seus erros a0 encontrar em meio & depravago social a pos- sibilidade de se manter um estado de inocéncia e pureza, Para ele, o estado natural deveria com- binar-se com o estado social. Acreditava que com a reforma das instituigdes sociais, a humani- dade poderia reencontrar sua bondade inata e fazer desaparecer do mundo a petversao. O seu. pensamento serviu de estimulo &s idéias revolu- ciondrias dos séculos XVIII e XIX, especialmente 4 Independéncia dos Estados Unidos e & Revolu- ‘do Francesa. 1 PENSAMENTO ECONOMICO (© pensamento iluminista do século XVII in- fluenciou também o pensamento econémico. Os economistas acreditavam que a economia era uma lef natural e condenavam a abusiva requla- mentagao praticada pelo Estado Absolutista. Consideravam o intervencionismo mercantilista uma manifestago do poder arbitrario do estado, que se impunha aos individuos impedindo a li- berdade e prejudicando o progresso econémico. Suas novas concepgdes formaram 0 liberalismo econémico, um corpo de doutrinas que foi defen- dido por duas escolas: o Fisiocratismo na Fran- ¢aea Escola Classica ou Liberal na Inglaterra, O maior representante da doutrina fisiocrata foi Quesnay (1694-1774), autor do livro Tébua Econdmica, Defendeu o princfpio de que a eco- nomia deve se desenvolver livremente. Conde- nava a cobranga excessiva de impostos ¢ o inter- vencionismo do Antigo Regime absolutista por violar 0 direito a liberdade pessoal ao limitar as atividades econémicas. Os fisiocratas ficaram eternizados pela maxima laissez faire, laissez pas- ser, le monde va lui méme (“deixe fazer, deixe passar, o mundo vai por si mesmo”, ou seja, 0 mundo se ajusta naturalmente). Acreditavam que apenas a agricultura gerava riquezas. Consideravam a industria e © comércio atividades secundérias porque, segundo essa concep¢io, néo produziam riquezas: a primeira transforma sem criar, e a segunda se limita apenas em distribuir 0 produtos. Condenavaim também o mercantilismo e a servid4o, priticas que eles consideravam verdadeiros obstaculos ao desenvolvimento econémico. Adam Smith (1723-1790) é considerado o pai da economia classica. Com A Riqueza das Na- ges, escrito em 1776, estabeleceu fundamentos para o capitalismo que até hoje séo importantes. SISTEMA ANGLO DE ENSINO VESTIAULARES Nela o autor relata que a Unica fonte de riqueza de uma nagao se origina do trabalho, opondo-se & concepc0 metalista concebida.no mercanti mo. Seguno Smith, a produtividade eficiente é aquela que provém da divisio do trabalho. Como 0 fisiocratas, condenava a intervengao do estado a economia. Para ele, o estado deveria apenas favorecer as livres relagdes econémicas. Conce- eu na idéia da mao invisivel a capacidade da economia de livre mercado de se auto-regular, pela oferta e procura. Acreditava que assim os pregos e os salarios se estabeleceriam natural- mente e de forma justa, possibilitando a produ- (0 de riquezas. Com isso, se opds ao monopélio Comercial, ao protecionismo e ao sistema produ- tivo corporativo, que os fixavam artificialmente. Em suma, afirmava que somente se fosse ado- tado 0 laissez faire, ou seja, se fosse permitida a livre iniciativa, as atividades produtivas gerariam riqueza para o pais. As concepgées liberais da Escola Cléssica, in- troduzidas por Adam Smith, inspiraram no sé- culo XIX os pensadores Thomas Malthus (1766-1834), David Ricardo (1772-1823) e John. Stuart Mill (1806-1873). ‘Adam Smith discorre sobre a divisio do trabathi Um hémem transporte o fio metélico, outro en- direita-o, um teresiro corta-o, um quarto aguga 2 ex- tremidede, um quinto prepara a extremidade superior para receber @ cabeca... O importante fabrico de alfinetes esté portanto dividido em dezoito operegées distintas... Se dividirmos esse trabaiho pelo nimero de trabathadores, podemos considerar que cada um © deles produz quatro mile oitocentos alfinetes por ‘mes se trebalhassem separadarnente uns dos outros 6: ‘$9m ferem sidos educados para este ramo de pro” ugéo, nao conseguiriam produsir vinte alfinetos... (4 iqueca das Napos, capitulo A ENCICLOPEDIA A Enciclopédia foi publicada de 1751 a 1772 e dirigida pelos pensadores Jean D’Alembert (1717-1783) e Denis Diderot (1713-1784). Compunha-se de 35 volumes, que reuniam 0 pensamento econdmico e filoséfico do século XVII. Contava com varios colaboraderes, dentre 05 quais destacavam-se fildsofos, escritores co- mo Voltaire, Rousseau e Diderot, juristas como Montesquieu, mateméticos como D'Alembert, economistas como Quesnay € outros, como pro- fessores, advogados poetas. Todos os colabora- dores tinham em comum o gosto pelos ideais ilu- ministas. A Enciclopédia foi divulgada pela ma- gonaria e exerceu sobre seus leitores uma pro- funda influéncia, por ter criado uma nova cone cepgao de vida e de liberdade a qual despertou a rebeldia contra a ordem estabelecida pelo Antigo Regime. Teve papel importante por ter influen- ciado, entre outras, a Revolucdo que levou a In- dependéncia dos Estados Unidos, a Revolucdo Francesa e, no Brasil, a Inconfidéncia Mineira em 1789. [lO DESPOTISMO ESCLARECIDO Na segunda metade do século XVIII, sobera- nos europeus influenciados pelas concepgoes iluministas, notadamente de Voltaire e de Mon- tesquieu, buscaram modernizar seus estados. Por isso, foram denominados déspotas esclare- cidos. Acreditavam que inspirados nas novas idéias organizariam racionalmente seus estados e levariam a felicidade aos seus cidadaos. Na Russia a déspota esclarecida Catarina II (1729-4796) pretendeu empreender uma grande reforma educacional e juridica inspirada em ‘Montesquieu e Voltaire. Contudo, diante da opo- si¢ao da nobreza, renunciou as reformas e res- tabeleceu a ordem feudal existente, novamente submetendo os camponeses & servidao ¢ alicer- gando o Estado Absolutista czarista em bases aristocraticas. Na Austria o despotismo coube a José II (1741-1790). Sob a influéncia iluminista também ele empreendeu uma profunda reforma de ca- r&ter progressista. Subordinou a Igreja ao Es- tado, concedeu direito & livre expresso religiosa, aos ortodoxos e aos protestantes. Aboliu ainda a servidao e incentivou o comércio. Mas estas re- formas desagradaram 4 nobreza feudal, camada social mais importante que a burguesia, e por isso, progressivamente as reformas foram des- feitas. Na Prassia, o despotismo foi adotado por Frederico II (1740-1788), chamado de “rei filo- sofo” por viver cercado de intelectuais. Frederico suprimiu a tortara e introduziu a toleréncia reli- giosa e a independéncia do poder judiciario. ‘Também desagradou 4 nobreza, que mantinha seus privilégios senhoriais explorando a servi- dio. Na Espanha, Carlos III (1716-1788), com o auxflio dos ministros Aranda, Floridablanca e Campomanes, também empreendeu um progra- ma de reformas. Para reforgar o poder do estado reduziu o do clero, expulsando a Companhia de Jesus da Espanha e de suas col6nias em 1767. A seguir procurou fomentar a economia criando SISTEMA ANGLO DE ENSIND VESTRULARES manufaturas e companhias comerciais. Entretan- to, no conseguiu eliminar a influéncia do cleroe da nobreza, que continuavam socialmente pode- rosos, e no fim grande parte de suas reformas foi desfeita. Em Portugal as idéias iluministas do rei José 1 (1750-1777) deviam-se a influéncia do ministro D. Sebastiéo José de Carvalho e Melo, o Marqués de Pombal (1699-1782). Realizou a reforma po- iitica de modo a submeter a nobreza e o clero ao controle do estado. Para tanto, também expulsou a Companhia de Jesus, restringiu o poder da In- ‘quisiggo, fundou escolas e introduziu o ensino de ciéncias nas universidades, Para poder desenvol- ver a economia, criou indmeras manufaturas, es- timulou o comércio com as colénias, especial- mente com o Brasil, onde criou companhias de comércio monopolizado, destacadamente as Companhias do Paré, do Maranhio, de Pernam- buco e da Paraiba. Procurou regulamentar a ex- tragao de diamantes e aumentou os trilSutos so- bre as minas, para obter um maior rendimento para a coroa. Libertou os indios da escravatura e expulsou 0s jesuftas das missées entre os Tios Uruguai e Paraguai. Como a reforma pombalina desfavorecia a nobreza e o clero em Portugal, que eram extremamente influentes, acabou sen- do desfeita por D. Maria I, que sucedeu 0 rei José I. O despotismo esclarecico, embora tenha ela- borado reformas que aboliram privilégios para impor igualdades, no final afastou-se do projeto liberal estabelecicio pelo Iluminismo. Muitas de- Jas foram apenas temporérias ¢ outras, em con- traposigao aos ideais iluministas, estimularam a economia por meio do intervencionismo mer- cantilista e contribufram para o fortalecimento do Estado Absolutista. SISTEMA ANGLO OE ENSINO 6 VESTBULARES COLONIZAGAO Os primeiros colonos a se es- tabelecerem na América do Norte no século XVII eram em. geral puritanos que sofriam perseguigées religiosas na In- glaterra por néo terem se sub- metido ao Absolutismo an- glicano. Outros tantos eram as vitimas sociais dos cercamen- tos das terras comunais, cam- poneses que migravam para as cidades e ali engrossavam a massa de miseraveis. Assim, por diversos motivos chegaram 4 América, onde iniciaram uma colonizagao peculiar, formando as Treze Colénias. ob? or i Lwistinta tos No Sul, desde a Virginia, a colonizacao propagou-se pela Tegido que hoje compreende as Carolinas, Maryland e Georgia. Nessas terras, os colonos de- senvolveram a cultura do taba~ co progressivamente foi se formando uma sociedade de grandes proprietarios. Nos seus latifiindios, ou plantation, era ‘comum no inicio a utilizagdo da mao-de-obra dos indentured servants. Este trabalhador vinha da Europa para a America atrai- do pela promessa de enrique- cimento, mas por um tempo era obrigado a trabalhar em con- digdes servis. Posteriormente, com a introdugao de outras cul- Ta a] América turas, como a do arroz e do al- godao, os latifundiérios jé pos- suidores de um expressivo ca- pital passaram a utilizar predo- minantemente a mao-de-obra escrava africana. Assim for- mou-se nas colénias do sul uma sociedade escravista latifun- diéria. Ja as colénias do Norte eram chamadas de Nova Inglaterra. Esta regido compreendia os atuais estados de Massachus- sets, Rhode Island, Connecticut e New Hampshire. Como os do Sul, os colonos eram puritanos perseguidos, e na América as- sentaram pequenos aglomera- dos, como a cidade de Plymouth, ‘As 13 col6nias inglosas ‘oritérios franceses sdauitidos pola Inglaterra om 1713 Tonitério espanhol adquirde pote Ingiotoma ern 1768 (ord) Taritéria francés Teritério espanhol [SISTEMA ANGLO DE ENSINO VESTIBULARES que foi fundada por pioneiros que vieram no na- vio Mayflower. Nessas terras, desenvolveram a agricultura em pequenas propriedades, mas também manofaturas voltadas para a pesca e a construgo naval, utilizando-se quase sempre de tdo-decobra assalariada. Com isso, em pouco tempo, desenvolveram atividades que atendiam tanto ao crescente mercado consumidor interno quanto as demandas do comércio externo rea- lizado, Essa atividade culminou no expressivo co- mércio triangular, que compreendia a comer- cializagao com as Antilhas, com a compra do agicar para a producdo de rum, que posterior- mente era trocado na Africa por escravos que, por sua vez, eram vendidos na América. Essas atividades somadas a outras propiciaram a acu- mulagao de capitais e acabaram abrindo espaco para a formagao de urna préspera burguesia. Em pouco tempo, as vilas coloniais da Nova Inglaterra transformaram-se em cidades. Nelas surgiram servicos como escolas, entre as quais a escola de Harvard, bibliotecas, imprensa, fazen- do germinar uma classe média com ideais libe- rais que posteriormente liderou @ luta pela inde- pendéncia dos Estados Unidos ¢ também 0 pro- cesso de industrializagao do pais no século XIX. As col6nias do Centro abrangiam os atuais estados de Nova York, Pensilvania, Nova Jersey Delaware. Os colonos ingleses se estabeleceram com os holandeses em Nova York ~ por isso, an- tes de tornar-se Nova York, a cidade era chama- da de Nova Amsterdam -, com os suecos em De- Jaware e com religiosos quakers na Pensilvania, ainda em meio a alemaes e escoceses. Como na Nova Inglaterra, as colénias do centro desenvol- veram a agricultura de cereais em pequenas pro- priedades. Nas principais cidades, como Nova York e Filadélfia, formou-se um expressivo co- mércio e também uma prospera burguesia. De 1607 a 1733, a faixa Atlantica dominada pe- los ingleses sofreu algumas transformagies. Nas Treze Colénias surgiram fazendas, cidades, por- tos, vilas onde se desenvolveram a agricultura, manufaturas e comércio. Nos portoses colonos comerciavam em seus prdprios navios, levando e trazendo mercadorias de varios locais do mundo. Enriquecidos, os colonos pouco a pouco adqui- viam a consciéncia de terem criado a nagao ameri- cana. Em meados de 1770 eram 2.200.000 habitan- tes, entre os quais 400.000 eram escravos negros. As Treze Colénias estavam teoricamente sub- metidas ao regime de exclusividade comercial com a Inglaterra, ou sela, ao pacto colonial. Isso quer dizer que s6 poderiam comerciar com a me- trdpole. Mas na pratica suas relacGes comerciais internas ¢ externas eram independentes. Soma-se a esse fato 0 de que grande parte das colénias dispuriha de algunas liberdades para eleger uma assembléia de representantes que votava as leis junto a um governador, Dessa maneira, se com- ‘paramos essa colonizacao tom as demais no con- tinente, notamos que gozavam de relative li- berdade, a qual era resultante da mentalidade calvinista e do convivio com as idéias liberais. @ INDEPENDENCIA Na medida em que as colénias se tornavam mais importantes economicamente, o governo inglés passava a almejar mais 0 controle sobre elas, Para tanto, adotou varias medidas com 0 ob- jetivo de impedir o desenvolvimento de manu- faturas de tecidos e artigos em ferro, a fim de fa- vorecer 0s produtos ingleses. Em 1733, aprovou a Lei do Melago, impondo pesados impostos e im- pedindo 0 fabrico de rum — como jé vimos, moe- da de troca na compra de escravos na Africa. Pre- tendia com essas medidas aumentar sua receita tributdria. Mas essas proibigdes nfo foram res- peitadas. Os colonos contrabandeavam favore- Cidos pelas costas irregulares do litoral Atlantico. Por outro lado, 0 aumento da populacao no norte das Treze Colénias obrigava os colonos a ‘se expandirem para oeste, em diregao aos terri- térios franceses. Tal situagdo os levou a se uni- rem com a Inglaterra, na Guerra dos Sete Anos (4756-1763) contra a Franca. Com isso, a guerra chegou 4 América e pds colonos ingleses e fran- ceses em conilito. No final de 1763, a Franca foi derrotada e cedeu para a Inglaterra as provincias de Quebec e de Montreal, no atual Canada. Entretanto, a Inglaterra proclamou que so- mente ela poderia explorar esse novo territério, impedindo a expanso dos colonos. Além disso, os ingleses projetaram as despesas da guerra so- bre as ‘Treze Colénias aplicando-lhes impostos, como o da Lei do Agticar, de 1764, semelhante & Lei do Melaco. Essa tributagio passou a incidir também sobre outras mercadorias, como seda, café e vino. Prosseguindo nesta mesma politica fiscal, em 1765 foi aprovada a Lei do Selo, a qual estabelecia que todos os jornais, antincios, diplo- mas, licengas de casamento e muitos outros do- ‘cumentos deveriam ser selados, isto 6, tributados. Essas medidas causaram a discordia. Os colo- nos viam seus negécios ameacades pela Ingla- terra, que passou a ser considerada inimiga. Mas foi como incidente do cha que as tensdes entre Coldnia e Metropole se acirraram. © conflito surgiu quando a Companhia das in- dias Orientais, poderosa empresa inglesa, rece- beu autorizacao para vender o ché na Colénia SISTEMA ANGLO DE ENSINO 70 VESTIBULARES SS sem intermediarios ¢ a pregos reduzidos. Essa pratica afetava diretamente os interesses dos co- merciantes da Coldnia, porque néo consegui- riam concorrer com os ingleses. Ademais, tal si- tuagao poderia abrir um precedente perigoso, que poderia se estender para todo cornércio. Em novembro de 1773, chegou a Boston mais um carregamento de cha. Na noite de 16 de de- zembro 0s colonos os assaltaram e jogaram acar- ga no mar. A aco dos colonos ficou conhecida como Boston Tea Party. O Parlamento inglés reagiu impondo as Leis Intolerdveis. O porto de Boston foi ocupado pelas tropas inglesas e proi- biram-se reunides e outras atividades que pudes- sem ameacar 0s interesses da Inglaterra. Diante das imposigées os colonos organiza- ram uma reuniéo com representantes de todas as colénias. Assim formou-se, em setembro de 1774, o Primeiro Congresso da Filadélfia, que elaborou a Declaracao de Direitos dos colo- nos, reivindicando da Inglaterra a revoga¢ao das Leis Intolerdveis e exigindo a igqualdade de direi- tos com os cidadiios ingleses da metrépole. Os colonos argumentavam que nao poderia haver taxagdes legitimas se eles no contassem com re- presentantes seus no Parlamento. O governo in- glés nao acatou esta reivindicagao, e os ameri- canos passaram a boicotar suas mercadorias ¢ a hostilizar a Inglaterra. As tensdes se agravaram com 0 incidente Lexington, quando as tropas in- glesas entraram em choque com 0s colonos cau- sando baixas. Este fato provocou a reacao que culminou com a reunido do Segundo Congres- ‘so da Filadélfia, cuja principal deliberagao, em 4 de julho de 1776, foi a Declaragdo de Inde- pendéncia. 8886s direitos'se encontram’a vide, a liberdade & busca ‘da felicidede, e as governos foram’ estabele cides pelos homens; para garantir esses direitos, € seu Justo-poder. einana do.consentimento daqueles. qué rongtess0, Ge ‘ral; fomamos por testemunha o'Julz Supremo do’ veiso da retidao de nossas intengdes,.publicamos.e _deéleramos solenemente em nome ¢ Hela autoridade nbia para: com a-cofoa:da Gra-Bretanhie. que todo. laca politico, entre, Estedé da Gra-Bretenhe, est il tuamente, para # manutengéo desta declarécao, 888 vides, nossas-fortunas e o.nosso bem mais'sagra- do, a hon werk A Guerra de Independéncia O general George Washington (1732-1799) assumiu 0 comand dos revoitosos. No inicio ti- veram dificuldades porque os colonos eram inexperientes e pouco armados para enfrentar os ingleses. Mesmo assim, venceram a batalha de Saratoga em 1777. Para contornar essa situagao, 9 Congresso dos Estados Unidos mandou Ben- jamin Franklin (1706-1790), um importante di- plomata, 4 Europa a fim de que negociasse uma alianga com a Franca. Os franceses, com a inten- go de recuperarem as colénias perdidas para a Inglaterra durante a guerra dos Sete Anos, se aliaram aos colonos. Uma esquadra francesa, co- mandada pelo general Rochambeau e acompa- nhada pelo Marqués de La Fayette, foi mandada para a América. Posteriormente, Espanha e Ho- Janda, inimigas da Inglaterra, também se junta- ram aos americanos. Em 1781, depois da batalha de Yorktown, o principal exército inglés, coman- dado pelo general Conrwallis, foi cercado pelos colonos americanos e pela esquadra francesa ¢ finalmente capitulou. Esta derrota inglesa pds fim & guerta de independéncia. Em 1783, foi fir- mado 0 Tratado de Paris, com que a Inglaterra, reconheceu a independéncia dos Estados Uni- dos. O novo pais se estendia dos territérios dos Grandes Lagos até a Fiérida, e do vale do Missis- sipi até o Atlantico. J4 a Franca recebeu somente algurnas ilhas nas Antilhas e alguns pontos do li- toral do Senegal, na Africa. A Espanha recupe- rou territorio da Florida, Para a Franca os resultados da guerra contra a Inglaterra foram pouco compensadores. Nada ‘exigiu dos americanos e ainda Ihes concedeu um, donativo de doze milhGes de libras e seis milhGes, em empréstimos, para reconstruirem o pais. Es- sas medidas deterioraram ainda mais suas finan- a, acelerando a germinacao da Revlugao Fran- cesa, SISTEMA ANGLO OE ENSINO. VESTBULARES A Constituicaéo Americana de 1787 Com o fim da guerra, os Estados independen- tes enviaram seus representantes ao’Congresso da Filadélfia para que elaborassem uma cons- tituigdio. As discussdes foram marcadas por duas. tendéncias, a republicana e a federalista. A pri- meira foi advogada por Thomas Jefferson (1743-1826), que defendia a democracia liberal e a autonomia de cada Estado; a segunda, por George Washington, que desejava um forte go- verno central capaz de manter a unio. Em 1787 aprovou-se a Constituicao, que esta- beleceu um governo republicano liberal estrutu- rado nos principios de Montesquieu sobre a se- paracdo de poderes. Assim, 0 executivo cabia ao Presidente, que era eleito para um mandato de quatro anos e tinha o poder de escolher os minis- ‘tros e de comandar as forgas armadas, embora cada Estado fosse independente em matéria de legislagio local. © legislativo cabia ao Congres- so, formado pela Camara dos Deputados e pelo Senado, e tinha a fungao de votar leis e projetos. A camara dos Deputados era composta por membros eleitos em nimero proporcional ao de habitantes de cada Estado, e © Senado, por dois representantes de cada Estado. O poder judi- cidrio compreendia a Corte Suprema, formada por nove representantes nomeados pelo Presi- dente, cuja fungo era assegurar o cumprimento da Constituigéo. Assim, 0 sistema federativo ti- nha a finalidade de preservar os interesses parti- culares de cada Estadé. Em suma, a Constituigiio norte-americana ‘es- tabeleceu que os Estados Unidos eram uma Re- publica Liberal Democrdtica Federativa e asse- gurava, basicamente, a liberdade econdmica e 0 direito & propriedadle - inclusive de escravos — a seus cidadaos. Originalmente nenhuma autori- dade federal foi eleita pelo povo. O presidente era escolhido por um grupo de individuos sele- cionados, que formavam um colégio eleitoral. Os senadores eram eleitos pelos legislativos esta- duais e os jufzes eram nomeados pelo presiden- te, Vale ressaltar que a Constituicao nao se pro- pds a contemplar os interesses das massas, pois mulheres, indios e escravos nao se incluiam en- tre os que desfrutavam os direitos civis. A Independéncia dos Estados Unidos e, so- bretudo, a Constituigo de 1787, tiveram um pa- pel relevante na Historia por terem posto em pré- ‘ica o liberalismo e algumas concepg6es do Tlumi- nismo francés. Constituiu-se em um modelo re- volucionério que foi seguido pelos franceses em armas em 1789 e pelos revoltosos das demais re- volugées liberais do século XIX levadas a cabo na Europa e também na maior parte da América. SISTEMA ANGLO DE ENSINO. 72 ‘VESTIULARES. Ef SIGNIFICADO A partir da segunda metade do século XVIII, ocorreu uma grande transformagao no sis- tema capitalista: apés séculos de expansio, impulsionada pe- lo processo de circulagao de mercadorias (comércio), o sis- tema passou a ter como setor mais dinamico 0 processo de produgao de mercadorias. Tal mudanga deve-se & Revolugao Industrial. Iniciada na Inglaterra, a Re- volucéo Industrial expandiu-se para outros paises a partir do Inicio do século XTX, e acabou por definir novas formas de exercicio do poder nacional e de exploragao do trabalho em qquase todo 0 mundo. Podemos entender a Revolu- ao Industrial como o proceso de aceleracdo da produggo, em que ocorte a substituicdo: 4) da ferramenta pela méquina. Tal passagem dé a dimensio do nivel de aceleragao da produgdo atingido pela Re- volugao Industrial, na medi- da em que a ferramenta, por mais sofisticada que seja, apresenta uma limitagao in- trinseca: um homem pade utilizar apenas uma ferra- menta de cada vez, enquanto a maquina abre a possibi- lidade de se associarem deze- nas de ferramentas, opera- das por um tinico homern, 2) da forga humana pela forga motriz. O emprego da ferra- A Era das Revolucoes: Revolugae industrial menta é limitado por uma li- mitagéo propria da forca hu- mana. J4 a forga motriz (que move a maquina) representa a possibilidade de aplicar uma forga muito maior a uma série de ferramentas asso- ciadas, obtendo-se significa- tivo ganho de produtividade e rapidez. As primeiras mé- quinas tinham como fora motriz a energia hidréulica 0 vapor (por sua vez obtido da queima de carvéo). 3) do sistema doméstico pelo sis- tema fabril. A produgao dei- xou de ser realizada por arte- sos, em regime doméstico, ¢ passou a ser realizada em lo- cais especializados, as fabri- cas. Tal passage foi decisi- va, ndo apenas por possibi- litar que 0 proprietério (bur- gués) tenha mais controle so- bre a forga de trabalho (assa- Jariada), mas também porque viabilizou a diviséo do tra- halho, que faz aumentar sig- nificativamente a produgao. A Revolugao Industrial ini- ciou-se no setor téxtil, como se vé na cronologia das principais invengdes do século XVII, avan- gando er sequida para 6 setor metaliirgico. “(Gronologla das principals. Tnovagies técnieas: “765i apsrieigoemonto'da:ma-* quine’# vapor (Jamniés Watt: 1768: fidraulico (Richard Arkwright) 177%: t8ar hidréuliog aperteigoa- do (Samuel Crompton) 1785i" tear thecénico (Edmund Carvwright) : Desde a Idade Média, a or- ganizagao da produgao nao- agricola evoluiu da seguinte forma, até chegar a fébrica: 1) Sistema familiar: produgado para consumo local, da pré- pria familia, desvinculada de uma economia de merca- do. Trata-se de sistema tipi- co da Idade Média. 2) Corporagées de Oficio: pro- dugao controlada por um mestre-artesao, com 0 auxilio de poucos empregados. Pro- dug&o em pequena escala, visando o abastecimento de um mercado limitado, O ar- tesio controlava todas as eta- pas da produgao e detinha a propriedade da oficina, das ferramentas e das matérias- primas, 1g6es tipicas fo final da Tdade Média, as corporagées controlavam o quanto produzia cada um de seus membros, por isso as. possibilidades de expansio eram limitadas. 3) Sistema doméstico: produ- Gao artesanal que era enco- mendada e distribuida por um grande negociante, que providenciava também a ma- téria-prima a ser utilizada no processo de produgdo. Tal SISTEMA ANGLO DE ENSINO VESTIULARES sistema existiu dos séculos XVI ao XVII, nota- damente na Inglaterra, cuja burguesia contro- Java mercados em franca expansao. 4) Sistema fabril: produggo em larga escala para mercados cada vez mais em expansao, No sis- tema fabril, o trabalhador deixa de ter a posse dos meios de produgio (ferramentas, mAqui- nas, matéria-prima); dispde apenas de sua for- ga fisica, a qual ele troca por um saldrio. Além disso, 0 trabalhador perde o conhecimento técnico necessdrio para produzir mercadorias, transformando-se em mero apéndice da mé~ quina e realizando uma tarefa repetitiva ao Tengo da jornada. Dé-se aqui a separagao en- tre capital e trabalho, com os detentores do ca- pital acumulando a riqueza produzida na fabri- ca. O sistema fabril, 20 expandir-se, desenca- deou 6 processo da Revolucao Industrial a partir do final do século XVII. @ CAUSAS DA PRECOCIDADE INGLESA Dentre as razées que podem explicar o pionei- rismo inglés no processo da Revolucio Indus- trial, podemos citar: Revolusaio Burguesa Pioneira O triunfo da Revolucao Gloriosa, em 1689, fez surgir na Inglaterra um governo burgués, isto é integralmente envolvido com os anseios capita- listas da burguesia ¢ engajado no seu sucesso. A préxima revolugao burguesa européia s6 iria ocorrer em 1789, na Franga, cem anos depois da inglesa. Portanto, enquanto no resto da Europa predominavam governos absolutistas, dedicados a extrair recursos da burguesa para sustentar os privilégios da nobreza, jé existia na Inglaterra um governo integralmente comprometido com 0 en- Fiquecimento da classe dos homens de negécio. Todas as iniciativas necessérias para o desenvol- vimento industrial contariam com pleno apoio governamental. Acémulo de Capital Desde 0 final do século XVII, a burguesia da Inglaterra acumulou mais capital que qualquer outra burguesia nacional, gragas, como vimos acima, a0 envolvimento do Estado inglés nessa empresa. Dessa forma, iniciativas estatais diplo- maticas (assinatura de acordos econémicos) e militares (guerras) foram empreendidas visando A dinamizagio dos negécios. Exemplo tipico de confluéncia de interesses entre Estado Nacional 'e burguesia vé-se na forma como a Inglaterra utilizou seu poder politico e militar para estabe- Jecer uma alianca com Portugal, resultando no controle econémico sobre o pais Ibérico e suas. colénias, mais precisamente o Brasil (que, na época prometia ser inesgotdvel fonte de metais preciosos), Em outras palavras, havia na Ingla- terra capital (proveniente do comércio) dispo- nivel para investimentos no setor da produg&o. Os Cercamentos O processo dos cercamentos promoveu 0 &xo- do rural, uma vez que a populago camponesa foi expulsa das terras comunais. No longo prazo, esse contingente populacional acabou se trans- formando em mao-de-obra dispontvel para a in- diistria urbana, Lembremos ainda que 0 proces- so dos cercamentos foi responsdvel pelo “abur- guesamento” da aristocracia inglesa, fator deci- sivo para se explicar a precocidade da revoluio burguesa no pais. Além desses fatores, costuma-se ressaltar a importancia do fato de existirem vastos depési- tos de ferro e carvao na Inglaterra. Nao é em si um fator determinante, pois havia minas de ferro e de carvao em diversas partes do mundo; mas essa disponibilidade de recursos, associada aos demais fatores jd destacados, é sem divida um fator importante. CONSEQUENCIAS A Revolugao Industrial promoveu a consoli- dagao do sistema capitalista, ao estruturar 0 mo- do de producao na separacao entre capital trabalho: o burgués, proprietdrio do capita) (maquinas, fabrica, matéria-prima, conhecimen- to técnico, fontes de energia) necessita comprar @ forga de trabalho do operario (ou proletario), para realizar um determinado trabalho bragal atrelado @ maquina. As relagdes entre capital e trabalho tornaram- se particularmente violentas com 0 inicio da Re- volucdo Industrial. Os primeiros operarios eram submetidos a longas jornadas de trabalho, sala- rios baixos, condigGes de trabalho arriscadas e aos danos causados pelo carater mecdnico e re- petitivo da atividade na linha de produgdo. Nem mesmo mulheres e criangas eram poupadas, com 0 agravante de receberem ainda menos que os operarios homens. Dessa forma, no surpre- ende o surgimento de movimentos organizados pelos operarios, cujo fim era reivindicar melho- res salérios e condigdes de trabalho mais dignas, No inicio do século XIX, na Inglaterra, surgiu o movimento ludista, dos “quebradores de ma- SISTEMA ANGLO DE ENSINO. 74 ‘VeSMBULARES guinas”: tratava-se de trabalhadores do setor téx- +t] que se revoltavam contra o desemprego pro- vocado pela introduco dos modernos teares me- c&nicos. O movimento foi duramente reprimido pelo governo inglés. Mais tarde consolidaram-se as Trade Unions, sindicatos, cuja fungio era ne- Qociar os direitos dos trabalhadores assalariados de uma mesma empresa ou de uma mesma especialidade, contra os patrées ou o Estado. A principal arma de luta dos sindicatos era « greve. ? Do lado da burguesia, mobilizava-se 0 Estado, , que reprimia os trabalhadores valendo-se de leis e mesmo do uso da forga. Diante de tal situacdo, © operariado passou & mobilizagao politica, vi- sando ganhar espago politico ¢ influenciar a aco do Estado. Nesse contexto, merece destaque a atuag4o do movimento cartista na Inglaterra, que introduziu o movimento trabalhista na luta politica (por exemplo, estimulou-o a lutar pelo di- Teito a voto secreto ¢ universal). PEOPLE'S CHARTER. fo movimento eartista em propaganda do século XIX: vato, ume, aeesso popular 80 relonstidada, eleigées anuais, 8 A SEGUNDA REVOLUGAO INDUSTRIAL A partir do final do século XIX iniciou-se um. processo de renovagao, aceleragao ¢ expansao da industrializacao para outros paises, conhecido como Segunda Revolugio Industrial (ou Re- volugio Tecno-cientifical. As principais inova- @6es do periodo, sempre no sentido de aumentar ainda mais a produgao e a acumulagao de capi- ‘tal, foram: novas fontes de energia, quendo tem inicio o emprego de derivados do petrdleo (1859, pri- meiro poco de petréleo, Estados Unidos) e de energia elétrica (1870, dinamo industrial, Bél- Gica), possibiltando emprego de energia mais eficiente e pratica que 0 carvao. novos setores industriais, como a siderurgia (1856, produgdo de ago pelo processo Besse- mer, Inglaterra, tornando possiveis produtos € mesmo maquinas mais resistentes) e a indts- tria quimica (possibilitando a produgiio em es- cala industrial de uma gigantesca gama de Produtos como tintas, corantes, fertilizantes, munigdes). avangos nos transportes, com a aplicaco em Jarga escala da tecnologia do vapor em ferro- vias (1814, locomotiva a vapor, Inglaterra) ¢ navegagao (1805, navio a vapor, Estados Uni- dos}, viabilizando 0 transporte de grandes vo- lumes de mercadorias a longa distancia, seja por terra ou por mar, e independente das con- digdes climaticas (por exemplo, vento, no caso da navegacio a vela, predominante até mea- dos do século XIX). avangos nas comunicagdes, por exemplo, 0 te- légrafo (1837, Samuel Morse, Estados Unidos}, que tomnava possivel, pela primeira vez, a co- municagao a longa disténcia em tempo real. Ao longo do século XIX, foram sendo langa~ dos cabos submarinos, permitindo a ligaco telegrafica entre os continentes. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 5 VeSTBULARES * novas formas de organizacio do trabalho, in- cluindo o fordismo (producao em série, com introdugao da linha de produgao mecanizada) e taylorismo (controle da produtividade dos operérios, através da andlise técnica de seus estos e movimentos diante da maquina). ‘Além disso, no contexto da Segunda Revolu- gao Industrial foram inventados 0 avido e o mo- tor de combustao interna (0 que viabilizou, por exemplo, a invengao do automével), que seriam utilizados em larga escala apenas no século XX, Os grandes investimentos necessdrios para o desenvolvimento dos novos empreendimentos industriais (siderirgicas, ferrovias, industrias quimicas, refinarias de petrdleo) estavam muito além da capacidade de um “capitio de indus- trias", ou seja, de um tnico investidor, Dai a ex- panséo dos bancos, fundamentais para financiar 0s novos projetos por meio de empréstimos e das sociedades por agdes, tornando ainda mais din&micas as Bolsas de Valores. Ao mesmo tempo, passaram a se multiplicar as praticas monopolistas (como a formagao de trustes e cartéis, bem como a pratica de dum- ping), resultando em forte tendéncia & concen- tracdo de capital. Dessa forma, enfraqueceuse a concorréncia, pratica fundamental para o capita- lismo, segundo a teoria econémica classica ral desde Adam Smith. As novas praticas econd- micas permitem a caracterizacao, a partir do final do século XIX, do capitalismo financeito ou monopolista. Vejamos as principais préticas monopolistas, que se multiplicaram no final do século XIX: senrque capital’ jocigvels: (nor SISTEMA ANGLO De ENSINO 76 ‘VESTIBULARES. 8 ANTECEDENTES A Franga no final do sécu- lo XVIII era uin pafs submetido a0 Antigo Regime. A sociedade dominada pela aristocracia conservava direitos feudais so- bre a posse ea exploragio da terra. Politicamente, o pais era governado pela monarquia ab- soluta, A base econémica ca- pitalista era mantida pela bur- guesia, por meio do pagamento de impostos que sustentavam 0 Estado monarquico. No entan- to, os burgueses estavam ex- clufdos das principais decises do governo. Convencidos de sua importancia social ¢ inspi- rados pelas idéias iluministas, reclamavam para si o direito a igualdade e liberdade, como condig&io necesséria para o pro- gresso do capitalismo. Foi nes- se quadro que eclodiu a Revo- lugéo de 1789: se por um lado esse movimento assemelhava- se a Revolugées Liberais como a Gloriosa de 1688, por outro se diferenciava por ter contado com ampla participacao das ca- madas populares. ‘Antes da Revoluggo, a popu- lagao francesa era de aproxi- madamente 25 milhdes de habi- tantes, formando uma socieda- de dividida (segundo a antiga ordem feudal) em trés estados ou estamentos: primeiro estado (clero}, segundo estado (nobre- za) e terceiro estado (burguesia e caniadas baixas). © clero compunha a pri- meira ordem social no Antigo - Suiam privilégios fiscais e juc A Era das Revolugoes ~-Revolugae Francesa =. Regime e estava dividido em al- to € baixo. O alto clero, de ori- gem nobre, era composto pelos mais poderosos prelados, como cardeais, bispos, abades e su- periores dos conventos. Con- trolavam inimeras proprieda- des rurais, exploravam a terra, por meio da servidao, detinham| direito de cobrar o dizimo e es- tavam livres de impostos. Em troca desses privilégios justifi- cavam a monarquia absoluta pelo direito divino. Ja o baixo lero, dada a sua origem social popular, condenava a opressao das elites e solidarizava-se com as propostas de mudangas na sociedade. A nobreza desfrutava das mesmas condigGes do alto cle- ro, Era constituida por cerca de 350.000 pessoas e possufa gran- des extensdes de terra, explo das por meio da servidao, Além de ocuparem os principais car- gos burocréticos do Estado pos- iais. Entre as diversas catego- tias de nobres, destacavam-s a nobreza de sangue, com- posta por familias ligadas a mo- narquia por ascendéncia; a no- breza provincial, formada por grandes proprietérios rurais que’detinham direitos senho- tlais; a nobreza de espada, que ocupava os principais car- gos militares e desfrutava de pensbes e soldo; e a nobreza de toga, de origem burguesa, ocupava cargos ptiblicos. O terceiro estado represen- tava a maior parte da popula- <0 € possufa uma composigio Social bastante heterogenea. A burguesia era sua camada mais expressiva e se dividia em: alta burguesia (banqueiros e grandes comerciantes, muitos dos quais tinham sido togados), meédia burguesia (profissionais liberais) e pequena burguesia (comerciantes ¢ artesaos), Os burgueses eram os tinicos que pagavam impostos, mas, como Jf ressaltamos aqui, politica- mente eram excluidos. Exigiam a igualdade civil, reclamando reformas que acabassem com 95 privilégios do clero e da no- breza. Do terceiro estado fa- ziam parte ainda as camadas baixas: os sans culottes (tre- balhadores das cidades) e os camponeses (servos ¢ pe- guenos proprietérios, represen- tando cerca de 80% da popula 40). Como os demais segmen- tos excluidos, as massas cam- ponesas também almejavam direitos. — A MONARQUIA NO FIM DO ANTIGO REGIME Estruturada no direito divi- no, 2 monarquia absolutista francesa proclamava 0 rei re- presentante de Deus, confe- Tindo a ele poder ilimitado em todos os dominios. Podia inter- vir na justia, legislar, alterar os impostos sem consulta, além de comandar 0 exército e a diplo- macia, Na Assembléia dos Es- tados Gerais, tinico érgao con- sultivo da monarquia, 0 clero SISTEMA ANGLO DE ENSHO W ‘VESTIBULARES. Ye oe a nobreza defendiam essa forma de governo porque preservava og seus privilégios aristo- craticos. ‘No entanto, no final do século XVIII a estrutu- ra administrativa do pais estava arruinada pelo mau gerenciamento da monarquia. Sua faléncia eminente fez com que’a burguesia comegasse a fazer criticas contundentes, As novas idéias pro- punham um governo fundado no consentimento aos poderes limitados e em uma sociedade pau- tada na igualdade civil. Esta verdadeira “revo- lugao de idéias” se inspirou no liberalismo inglés eno lluminismo. Em 1774, quando Luis XVI ascendeu ao poder, © pais estava endividado em decorréncia dos gastos com a guerra dos Sete Anos (1756-1763). A arrecadacao nao passava de 503 milhdes de li- bras francesas, enquanto as despesas do Estado se elevavam a mais de 629 milhdes e a divida 22umulada estava em torno des bilhoes. ‘Na busca de uma solugao pata a crise, a mo- narquia aproximou-se da burguesia por meio de Turgot, ministro das finangas de 1774 a 1776. Influenciado pelo fisiocratismo, 0 novo ministro pretendia eliminar privilégios fiscais do clero e da nobreza para aumentar os recursos do Esta- do. Mas por ter encontrado resisténcia foi subs- tituido por Necker (de 1776 a 1781), cuja politica ‘“levou a Franca a intervir na guerra de Inde- pendéncia dos Estados Unidos com o propésito ty de recuperar as col6nias francesas perdidas pa- ‘Ta Inglaterra na Guerra do Sete Anos. No entan- © 15, como esse objetivo nao foi alcancado, recor- reu a empréstimos para cobrir as despesas, au- mentando a divida publica, o que provocou sua ‘demissao. Em seguida o ministério coube a Calonne (de 1783 a 1787), que para manter a politica de Necker criou um projeto de imposto sobre as terras da nobreza. Mas para torné-lo possivel teria que ser submetido.a aprovagao de uma Assembléia dos Notéveis, isto 6, dos pré- prios privilegiados. O projeto nem sequer foi examinado e Calonne foi substituido por Brien- ne {de 1787 a 1788) que por também encontrar resisténcia se demitiu, gerando uma crise minis- terial. Enquanto os ministros se sucediam sem nada conseguir, as crises econémicas deterioravam as instituiges do Antigo Regime, levando a monar- quia de Luis XVI a decadéncia. As finangas do pais tinham sido afetadas pelos gastos feitos pela Franca na guerra de independéncia dos Estados Unidos. A essa situago, somaram-se os efeitos do tratado de comércio feito entre Franca e In- glaterra em 1786, que permitia em troca de vi- nhos franceses, a entrada dos tecidos ingleses a baixo prego, concorrendo com o nacional. Ainda, més colheitas em 1788, por causas das secas & inundag6es, aumentaram a miséria. Para superar a crise ministerial Luis XVI read- mitiu Necker. No seu retorno propés a convoca- do dos Estados Gerais com 0 objetivo de aca- bar com os privilégios fiscais. Os Estados Gerais era uma assembléia formada pelos trés estados socials: 0 clero, a nobreza e a bunguesia. Coro cada estado tinha direito a um voto. Para nao fi- car em desvantagem, o terceiro Estado propés a duplicac&o de seus representantes e o voto indi- vidual, Em 5 de maio de 1789, abriu-se a sesso dos Estados Gerais, porém nada foi votado. Em seguida, a burguesia proclamou-se em Assem- bléia Nacional, atrogando-se poderes para decidir sobre os impostos. Em resposta,o rei, apoiado pelo clero e pela nobreza, nao a reco- nheceu. A burguesia passou a exigir uma Consti- ‘twigdio. Em junho de 1789, sob a lideranga do conde de Mirabeau (1749-1791) e do abade Sieyés (1748-1786), ambos lideres reformistas, os depu- tados reuniram-se na Sala do Jogo da Péla, onde Juraram uma alianga, Para tanto transformaram a ‘Assembléia Nacional em uma Assembléia Constituinte. O rei tentou resistir a ela, mas lide- rando as camadas baixas de Paris, 2 burguesia partiu para 0 confrontoe ocupou o Palécio militar dos Invalidos, roubando-lhe as armas. No dia 14 de julho de 1789, tomou a Bastilha, que era 0 ultimo apoio militar de Luis XVI. Com a dis- solucdo das tropas reais, La Fayette passou a comandar a Guarda Nacional, o exército re- volucionario da burguesia, Enquanto isso, no pa- licio de Versalhes, 0 rei se rendeu ao levante de gueses de'milici, que conduziram cinco Saree ‘rs. ioe quale foram pogtacoe ane. pare: fala ‘20,p0der, significava também # desagionacao do. go Regime, ria madida ern que a Gastiha o:énearr ‘sentido, ole parécia abrir‘iniénsa spare todos os poves oprimidos. (ser 80B0UL~A Rote Finca SISTEMA ANGLO DE ENSINO, ai ‘VESTIBULARES. Os camponeses receberam a noticia do 14 de julho com entusiasmo e também se mobilizaram. Tomados por uma forte expectativa, exigiam aboligao dos impostos e o fim dos direitos se- nhoriais, por meio de revoltas. Eclodiram as vio- lentas jacqueries, (revoltas camponesas). Aldeias € castelos foram saqueados, ¢ nobres aterrori- zados pelo Grande Medo emigraram para o In- pério Austriaco, acelerando o processo de extin- (40 de seus direitos senhoriais. TA ASSEMBLEIA NACIONAL (1789 - 1792) Em Paris, a burguesia congregava a socieda- de, e a Assembléia Nacional decidiu eliminar os privilégios da nobreza e do clero. No dia 26 de agosto elaborou a Declaragiio dos Direitos de Homem e do Cidadao, proclamando a igual- dade de todos perante a lei ¢ destruinde definiti- vamente as estruturas do Antigo Regime. Nas palavras do historiador inglés Eric Hobsbawm: Este documento 6 um manifesto contra a socie- dade hierérquica de privilégios nobres, mas nao um manifesto a favor de uma sociedade demo- cratica e igualitéria. “Os homens nascem e vive livres e iguais perante as leis”, dizia seu primeiro artigo; mas ela também prevé a existéncia de dis- < tingdes sociais, ainda que “somente no terreno da utilidade comum”. A propriedade privada era um direito natural sagrado, inaliendvel e inviolavel.” (HOBSBAWM, Eric - A Era das Revolugées) No entanto, o rei se opunha aos decretos € Tecusava-se a ratificd-los, Tomadas pela miséria, as massas populares e a burguesia invadiram 0 paldcio as Tulherias, sede da monarquia, e obri- garam o rej a sancionar os decretos. Em conse- qgiiéncia, novamente a nobreza migrou para o Império Austriaco. Com o propésito de preservar os principios liberais na Declaragao de Direitos fundados na liberdade, na igualdade, na propriedade e na re- sisténcia 4 opressdo, a burguesia elaborou a Constituigao de 1791. Por ela se concebeu um governo no princfpio da separagéo de poderes imaginado por Montesquieu. O-poder executive era confiado 4 monarquia, porém o rei nao tinha mais forga que a lei. “Nao ha, na Franga, autori- dade superior a lei, o rei governa segundo os ditames da lei”. O poder legislativo era formado por uma assembleia inviolavel e indissolivel onde eram criadas as leis. Eleita por voto censita- tio, tinha o poder de fiscalizar os ministros, as fi- nangas e a politica estrangeira. Assim, sob uma discreta aparéncia monar- quista, a alta burguesia, resguardada no voto censitirio tomava 0 pocter criando © Novo Regi- me para uma minoria de 4 milhdes dos 25 mi- IhGes de franceses. Os direitos confinaram-se a uma minoria de proprietérios ¢ as massas foram marginalizadas. Com objetivo de superar a situaglo de faléncia do Estado, a Assembigia confiscou os bens da Igreja para emitir os assignats (papel moeda). Mas para tomar essa iniciativa foi necessario ela- bora uma lei chamada constituic&o civil do cle- To, que submetia o Estado através da cobranga de impostos. O clero dividiu-se; o baixo clero ju- rou a Constituigao, (sendo chamado a partir de ento de clero juramentado), enquanto o alto clero, apoiado pelo papa, se opés (passando a ser chamado de clero refratario). Esse fato foi agravado pela exclusdio das massas do governo, 0 que havia tornado 0 novo regime impopular. Em conseqiiéncia a Assembléia dividiu-se em varias tendéncias como: feuillants (partidarios da mo- narquia constitucional), jacobinos (defensores da Republica democrética), os girondinos (apoiando © governo liberal moderado} e os cordeliers (ex- trema esquerda). Acritica a0 novo regime Assim, a representacao, tornada proporcional. 8° conttibulgée dirers,.coloceré.o dominio: nas Essas dificuldades enfraqueceram o governo da Assembleia, permitindo que Luis XVI tentasse fugir para Império Austriaco com o intuito de or- ganizar a contra-revolugao. Porém, ao ser conhecido na localidade de Varennes, foi obri- gado a retornar a Paris. Ali a Assembiéia suspen- deu seu poder. Tal fato repercutiu nas cortes absolutistas eu- ropéias temerosas com a propagagao da revo- lugdo. Em agosto de 1791, Leopoldo II da At tria e Frederico Guilherme II da Prassia assi- naram a Declaracdo de Pillnitz, oficializando uma agao militar contra a Franga revoluciond- ria. A Franga foi invadida e a Guarda Nacional foi derrotada pelo exército prussiano, coman- dado pelo Duque de Brunswick, cedendo parte do territério francés. Para resistir & invasio, a Assembléia buscou mobilizar as camadas po- pulares através do Manifesto Patria em Pe- Tigo. * ‘SISTEMA ANGLO DE ENSINO ‘VESTISULARES. 73 Tropas numerdsas avangam para.2s nossas. fron- teiras: Todas os que tém horror & liberdede 86 ermam contra a. fossa Conistituigéo. Cidaddos! A pai ent pefigo. . © duque Brunswick ameagava de morte quem resistisse & invasdo ou ultrajasse a familia real. Is- so inflamou ainda mais © patriotismo do povo, provocando uma violenta insurreigao em Paris. Nanoite de 9 de agosto de 1792, criou-se 0 gover- no da Comuna. Os sans-culottes tomaram o pald- cio das Tulherias. A Comuna assumiu o governo da cidade e formou tribunais para julgar os crimes da contra-revolugéo, Membros da nobreza ¢ pa- des refratérios foram aprisionados e executados. Em setembro de 1792, as tropas austriacas fo- ram definitivamente vencidas pela resisténcia popular da localidade de Valmy. Em conseatién- Cia 0s franceses ocuparam a Belgica e varies re- gides as margens do rio Reno, com 0 objetivo de evitar outros ataques contra-revoluciondrios. A Revolucao foi salva, mas gragas a uma nova constituigdo. A Assembléia foi substituida pela Convengao Nacional, que dava inicio & Repa- blica em 1792. §@ A CONVENGAO NACIONAL (1792-1795) Os eleitos para a Convencdo Nacional se agru- pavam em trés grandes partidos. A gironda reunia representantes da grande burguesia, par- tidarios dos ideais berais. Formavam a direita e dentre seus principais lideres destacavam-se Brissot e Vergniaud. A montanha (ou jacobi- nos), representantes da pequena burguesia & dos sans-culottes, era partidaria da justica social, formando a esquerda. Os seus principais lideres foram Saint Just, Marat, Danton e Robespierre Finalmente, a planicie (ou pantano), era também formada por representantes também da burgue- sia, mas era um partido de centro, pois oscilava enire a direita e a esquerda, com quem fazia aliangas temporérias. & A Conven¢éo girondina (1792-1793) No inicio, sob oposi¢ao montanhesa, a Con- vengao Nacional foi liderada pelos girondinos. Entre suas principais decisées destaca-se a con- denagao de Luis XVI por traicao, e em 21 de ja- neiro de 1798, Luis XVI foi guilhotinado. ‘A condenagao de Luis XIV inquietou as mo- narquias absolutistas do resto da Europa. Os im- périos austriaco e russo e a Priissia se uniram militarmente com a Inglaterra e a Holanda, que contestavam a ocupagao francesa na Bélgica, formando a I Coligago. As tropas francesas fo- ram derrotadas. Aproveitando-se dessa situacao, no interfor da Franga os contra-revolucionarios, sob a influéncia da nobreza e do clero fizeram eclodir a revolta camponesa da Vendéia. As derrotas na guerra e 0s conflitos internos precipitaram as manifestagdes dos patriotas con- victos, que exigiam medidas como a criagao ime- diata de um tribunal revolucionério contra os suspeitos e chefes girondinos, bem como de um. exército revolucionario para defender o pais, Es- sas reivindicagoes uniram as camadas baixas Montanha, determinando a queda da Gironda em junho de 1793. 8 A Convensao montanhesa ou jaco- bina (1793-1794) Embora tenha chegado ao poder gragas a0 apoio dos sans-culottes, 03 montanheses com- puseram um governo que protegeu a proprieda- de e manteve o movimento popular dentro de li- mites restritos. No campo social, aboliram a es- cravidao nas colénias e confiscaram as terras dos nobres emigrados, transformando-as em peque- nas propriedades. No campo politico, introduzi- ram uma constituico democrética, assegurando para as camadas baixas participagao mais ativa na vida do pais. Contudo, a revolta da Véndeia e as vitérias da I Coligago tinham criado um clima de insegu- Tanga que cresceu com 0 assassinato do lider da esquerda Marat (1743-1793), em Paris, pela mo- narquista Charlotte Corday, Esse crime revelou que ainda havia o risco de os monarquistas vol- tarem, e fez acelerar a instalagao do Terror. Com 0 apoio dos sans-culottes, os montanhe- ses liderados por Robespierre (1758-1794) cria- ram os Comités da Salvagao Publica e da Se- guranca Geral com objetivo de governar q pais eo Tribunal Revolucionério, para aplicar a jus- tiga. Por meio da Lei dos Suspeitos, o Tribunal Re- voluciondrio condenou a morte intimeros suspei- tos, entre os quais a rainha Maria Antonieta. Sob 0 mesmo argumento, fecharam as Igrejas e insti- tuiu-se 0 “culto do Ser Supremo”, que era a devo- do & Raz4o. No lugar do calendério cristo intro- duziu-se o republicano, que dividia o ano em 12 meses denominados de acordo com as estagdes. Na economia, para eliminar as crises, instituiram. a Lei do Maximo tabelando géneros e salérios. Com isso, parte das dificuldades foi superada. A Vendéia foi vencida e a Coligagao, batida em ‘SISTEMA ANGLO OF ENSINO \VESTIBULARES todas as frentes. Mas Robespierre passou a acre- ditar que a ditadura era 0 tinico meio com que se podia preservar os ideais revoluciondrios. Para tanto, executou os opositores da extrema esquer- da, denominados cordeliers ou hebertistas, € 0s “indulgentes”, criticos da ditadura, como Dan- ton (1759-1794) e Desmoulins (1760-1794). Em 40 dias foram executadas 1.376 pessoas, dentre 0s quais o cientista Lavoisier, o lider conservador Malesherbes e o poeta Chénier. @ A Convensaio termidoriana (1794-1795) A ditadura disfargada de democracia, as exe- cugées e 0 intervencionismo na economia enfra- queceram Robespierre. Em conseqiiéncia, no dia 27 de julho (9° Termidor no calendario republi- cano) a Convengao votou a sua queda. Robes- pierre e mais dezenove partidarios foram guilho- finados sem julgamento. O novo governo foi denominado termidoriano @ liderado pela Planicie. Para restabelecer a pre- ponderancia da burguesia, afastou os sans-cu- Iottes e 2 pequena burguesia do poder. O Comité de Salvacdo Publica perdeu as suas fungies, as leis dos Suspeitos ¢ do Maximo foram suprimi- das e o regime estabeleceu um acordo com a Tgreja, separando-a do Estado. A liminago da Lei do Maximo e do dirigismo econémico provocou um aumento generalizado de pregos, inflacionando os assignats. A instabili- dade reapareceu com manifestacdes populares. TTemerosa, a burguesia para preservar 0 seu po- der, eliminou 0 governo de convengao e criou em 1795 a Constituigéo do ano IIL instituindo o Diret6rio. A nova constituico nasceu para,rea- firmar o direito a propriedade e liberdade econd- mica. Para tanto restaurou 0 voto censitério, mar- ginalizando novamente as camadas populares. 1 O DIRETORIO (1795-1799) © novo governo foi estabelecido sobre o prin- cfpio da separagdo dos poderes. O legislativo era dividido entre o Conselhos dos Quinhentos (cujos membros deveriam ter mais de 30 anos) e dos Anciaos (mais de 40 anos). O executivo era confiado a um Diretorio (junta de diretores) eleito pelos Conselhos. Embora a Constituicao do Diretério tivesse o objetivo de estabilizar 0 pais, nao conseguiu afastar 0s opositores: no- ‘bres emigrados monarquistas e os sans-culottes, Os primeiros tentaram um golpe, mas foram contidos pelo jovern general Napoleao Bo- naparte (1769-1821). Das camadas populares surgiv a lideranga de Graco Babeuf (1760- 1797), critico da propriedade privada. Babeuf, articulou a Conjuragao ou Revolta dos Iguais, visando derrubar o Diretério, mas foi vencido. A essa situacdo instdvel, somou-se a corrup- cdo e a incompeténcia do governo frente a inila- 40 dos assignats. Ao mesmo tempo, a Russia e 0 Império Turco se uniram militarmente com a In- glaterra e a Austria para formarem a Il Coliga- ¢40 contra a Franca. Annova ofensiva coligada enfraqueceu ainda mais 0 regime, Alguns membros do governo do segundo Diretério defendiam a monarquia como a tinica forma de governo capaz de esta- belecer a ordem. Na iminéncia de perder 0 po- der, os burgueses recorreram a um golpe de Estado, contando com a popularidade do gene- ral Napoledo Bonaparte, vitorioso nas campa- nhas do Egito e do norte da Itélia. Assim, Ro- ger Ducos, 0 abade Sigyes, (lideres burgueses) e Napoledo, em 9 de novembro de 1799, deram 0 golpe de 18 Brumério. Apoiados pelas tropas de Paris, deram o golpe de Estado der- rubando 0 regime do Diretério. Em seguida, organizaram um novo governo, formado por um Consulado provisério composto por Napo- leo, Sigyes e Ducos. O golpe de 18 Brumaério fez a burguesia acre- ditar que um governo fundado no poder execu- tivo autoritério eliminaria as agitagdes contra-re- volucionérias e a oposi¢ao popular e consolidaria a obra revolucionaria liberal. Contudo, Napoleao usou o golpe de Estado para satisfazer suas pro- prias ambigGes, e em pouco tempo impés ao pais sua ditadura. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 81 NAPOLEAO BONAPARTE 1B Antecedentes Napoledo nasceu na ilha de Corsega, em 1769, em uma fa- milia da pequena nobreza. ciou seus estudos na escola mi- litar de Brienne e tornou-se ca- pitdo do exército em 1793. Nes- se perfodo, tornou-se um ad- mirador de Robespierre. No- meado comandante de artilha- ria, recebeu a incumbéncia de resgatar Toulon do dominio in- gigs, onde obteve uma grande vitdria. Aos 24 anos tornou-se general de brigada. Sua aco contra a revolta monarquista no Diretério aproximou-o dos membros do governo. Gragas a essa aproximagao, conheceu Josefina de Beauharnais, com quem se casou. Suas ligacdes com oO tério levaram-no também ao comando militar nas campanhas da italia em 1796 e do Egito em 1798. No comando do exército francés na Itélia, Napoleao ven- ceu 08 austriacos em Mantua, tornando a Lombardia ind pendente da Austria e decla- tando Veneza sob sua influén- cia. Em 1797, firmou o Tratado de Campo Formio, pelo qual a Austria tinha de ceder a Fran- a suas provincias belgas, suas possesses A margem do rio Reno, além de reconhecer a in- dependéncia das reptiblicas em torno de Génova, Miléo e Mé- dena, no norte da Itdlia. Com 0 sucesso da Campanha da Ité- 0 Perioie Napoleonico lia, Napoledo conquistou ainda mais prestigio e poder. Mas 0 Tratado de Campo Formio acabou por alinhar a In- glaterra contra a Franca. Esse conflito deu-se mais no campo econémico que no militar, pois os ingleses usaram a estratégia de boicotar os portos franceses para prejudicar, por exemplo, 0 ‘comércio da metrépole com as Antilhas. Para superar essa si- ‘tuago, a Franga decidiu substi- tuir as Antilhas pelo Egito econ- quistar uma rota para a india. A expedi¢o a0 Egito, sob 0 comando de Napoledo, iniciou- se em 1798, com o desembar- que das tropas francesas em Alexandria. Com a Campanha das Piramides, venceu os tur- cos e tomou 0 Egito, que ento era territério do Império Oto- mano. ‘Temendo a expansio france- sa, a Russia e o Império Otoma- no uniram-se a Inglaterra, em uma alianga que se fortaleceu ainda mais com a adesao da Austria ao grupo que formaria a Segunda Coligagao (1798- 1799), Apés a campanha do Egito, Napoleo retornou a Franca nos iltimos anos do governo do Diretério, quando uma nova ofensiva coligada intensificou a oposigao entre jacobinos e mo- narquistas. O golpe de 18 Brumério foi acothido com en- tusiasmo pela burguesia, que aspirava a paz, a ordem interna e 4 retomada normal das ativi- dades. Os conspiradores do golpe nao temiam o general Bonaparte, escolhido para lide- rar © movimento, pois acredi- tavam que acabariam por redu- 2ir sua importéncia. O Consulado (1799- 1802) © Consulado foi constituldo com o fim de dar estabilidade politica ao pais, condiggo indis- pensével a sua reorganizacio, © projeto constitucional propu- nha uma magistratura suprema de Grande Eleitor (reservada a Napoledo) secundada' por dois cOnsules responsaveis pelos as- suntos internos e externos. Restaheleceu-se o sufrdgio uni- versal, porém os cidadaos 56 designavam as listas de perso- nalidades (comunais, departa- mentais e nacionais) para entao 0 primeiro consul eo Senado escolherem os nomes que se- riam membros das assembléias € os funciondrios. Na verdade, ao fazer algumas concessées aparentemente democraticas, pretendia disfarger a ditadura constilar. O poder executive era con- fiado a trés cénsules nomeados pelo Senado para cumprirem mandato de dez anos, O pri- meiro cénsul, que tinha 0 po- der efetivo e era assistido pelos outros dois, encarregava-se da nomeagao de ministros, conse- Iheiros de Estado, oficiais e al- tos funcionérios; ainda dirigia a diplomacia e praticamente de- cidia a paze a guerra, SISTEMA ANGLO DE ENSINO 82 ‘VESTIBULARES A nova constituigdo foi posta em vigor em 25 de Janeiro de 1800 € submetida posteriormente a um plebiscito, de que foram apurados mais de trés milhdes de “sim” contra 1.562 “nao” e quatro mibhoes de abstenges. Bonaparte, como primeiro cOnsul, instalou-se nas Tulherias e foi assessorado pelo segundo cénsul, Cambacérés, jurista moderado, e pelo terceiro cOnsul, Lebrun, renomado financista. Cercou-se de intmeros idedlogos e empreendeu uma ampla reforma, reorganizando o pais. A reorganizasao A reforma administrativa elaborada por Nepoledo caracterizou-se por forte centralizacao, cujo fim era consolidar a obra revolucionéria. Em cada municipatidade o primeiro cdnsu! no- mearia um prefeito, e os distritos seriam sub- metidos a subprefeitos, Areforma judicidria instituiu cortes de ape- Jo, A maior parte dos juizes era nomeada pelo governo, e iniciou-se um trabalho de unificagao juridica que posteriormente influenciaria 0 C6- digo Civil. ‘As medidas financeiras tomadas por Napoledo estabilizaram a moeda ¢ a economia reorgani- zou-se, Para reanimar o crédito e os negdcios em geral, Bonaparte agrupou inimeros banqueiros e constituiu 0 Banco da Franca, que pouco a pouco passou a ser controlado pelo estado. Finalmente, com o intuito de promover a paci- ficago interna, Napoledo concedeu anistia aos emigrados, autorizando o retorno deles ao pais, e procurou aproximar-se da Igreja. Em menos de trés meses, a constituicao ¢ a reorganizacio administrativa consolidaram as principais politicas burguesas revoluciondrias. EIA consolidasaio do regime No plano internacional, Napoleo se dispés a alcangar a paz, levando a Austria a reconhecer os territorios franceses nos Paises Baixos, no Reno ena Itdlia e mantendo apenas Veneza sob sua in- fluéncia. Com o fim da Segunda Coligagao, em 1802, foi estabelecida com a Inglaterra a Paz de Amiens. O Egito foi devolvido a Turquia e os in- gleses restituiram grande parte das colénias francesas. : Para assentar sua autoridade sobre base ainda mais sélida, Napoledo procurou promover a re- conciliagao entre o Estado francés e a Igreja. O papa Pio VII aceitou uma concordata, segundo a qual os bispos seriam nomeados pelo primeiro cénsul e receberiam do papa a investidura espiri- tual. Ao aceitar a venda dos bens do clero ¢ a stbmissao da Igreja ao Estado, o papa permitin que Bonaparte passasse a ser visto como “o pa. cificador do cristianismo”, As pazes e os acordos satisfizeram & opiniéio publica, e Bonaparte viu aumentar ainda mais seu prestigio. Aqueles que ousavam criticar Bonaparte, tanto no exército como nos cargos da administragao civil, eram afastados e exonerados. & O Consulado vitalicio (1802-1804) Para demonstrar a gratidao nacional o Senado propés que se fizesse um plebiscito 0 equal deci- diria se seria dado a Napoledo 0 consulado vita licio: 0 resultado, publicado em agosto de 1802, apontou mais de quatro milhGes de “sim” contra 8.374 de “nao”. Em 4 de agosto de 1802, o Se- nado aprovou a Constituiggo do X Ano, conferin- do a Napoledo 0 titulo de cénsut vitalicio. Dentre as principais reformas dessa fase des- taca-se a judicidria. Em 21 de marco de 1804, foi promulgado o Cédigo Civil, que instituiu nor- mas para a organizacao da familia com o intuito de fazer valer 0 direito de propriedade. © Cédigo consolidou os ideais burgueses de propriedade assegurados na Declaragiio de Direitos do Ho- mem e do Cidadao de 1789, Ainda para satisfazer as necessidades da bur- guesia, e sobretudo para dar a seus futuros ofi- ciais e funciondrios uma formagao homogénea, Bonaparte substituiu as escolas pelos liceus, cu- jos alunos eram submetidos a uma estrita dis- ‘ciplina militar. Ao lado dessas realizacdes, acelerava-se 0 pro- gresso econédmico. O Banco da Franga iniciou, em 1803, a emisséo de uma moeda estavel, 0 franco germinal, que estimulou todas as ati- vidades financeiras. Foram iniciadas grandes obras piblicas e de- senvolveram-se as manufaturas téxteis. Conse- qlientemente, gracas a suas realizacoes, a incli- nag&o napolednica para a ditadura era cada vez mais ratificada pela opinido popular. @ © Império (1804-1815) A crescente influéncia da Franga na Europa ameagava os ingleses e, por extensao, comp! metia a Paz de Amiens. Além disso, o pais vivia ameagado por compids pela restauragao mo- narquista, Para a burguesia, o estabelecimento do Império passau a ser visto com tinico meio de se manter a situacio como estava, ou seja, favo- rrivel aos burgueses e sobretudo as praticas ca- pitalistas. [SISTEMA ANGLO OE ENSINO ry ‘VESTIBULARES, Nesse sentido, uma mogao foi apresentada em abril de 1804, e em 18 de maio foi promulgada a Constituiggo do Ano XIL, que confiava o governo da Republica a um Imperador: Napoledo Bona- parte. Em plebiscito realizado em novembro, 3.572.000 de votantes disseram “sim” ao Império, contra 2.579. No dia 2 de dezembro de 1804, na catedral de Notre Dame de Paris, 0 papa Pio VII sagrava solenemente Napoledo I Imperador dos franceses. regime imperial sufocou a heranga revolu- cionaria de 1789, na medida em que Napoleao conduziu o regime para um absolutismo sem controle. Contando com o apoio popular verifica- do por meio de plebiscitos, o Imperador concen- trou todo o poder em suas mos e passou a exer- cer uma ditadura pessoal com aparéncia demo- cratica. Reduziu os poderes das assembléias delibe- rantes e suspendeu as liberdades puiblicas, im- pondo um rigido esquema policial. Todos os ser- vigos publicos tornaram-se instrumentos de do- minagao e de direcionamento da opiniao. A ad- ministrag&o ¢ a policia estavam intimamente li- gadas; os prefeitos acatavam todas as ordens im- periais. A administracdo centralizada e o regime autoritério abriam caminho para a ditadura. A censura foi imposta 4 imprensa, aos teatros e a toda obra literaria impressa. Napoledo também subordinou o clero e a Igre- Ja, obrigando-os a agir segundo seus interesses. Em 1806 criou o Catecismo Imperial, o qual dis- punha que a submisséo 4 sua pessoa era obr gagio religiosa de todo o Império: “Deus fez Ne poledo nosso soberano e o transformou em mi- nistro de Seu poder e Sua imagem na Terra. Hon- raa Deus’. Para dominar a opinido publica, Napoledo conferiu ao Estado o monopolio da instrugdo — inclusive a de nivel superior (escola de Direito, Politécnica). © ensino secundario nos liceus e nos colégios passou a ter orientacdo militar e, por essa Tazo, a impor rigida disciplina a alunos @ professores. i As conquistas imperiais A proclamagio do Império inquietara ainda mais os soberanos europeus, temerosos da in- fluéncia bonapartista no continente, O czar Ale- xandre I rompeu relacdes diplomaticas com a Franga e aproximou-se da Inglaterra e do Império Austriaco. Formou-se assim a Terceira Coligagao. Napoledo se langou contra a Ingla- terra, empreendendo um ataque maritimo, Em outubro de 1805, na batalha de Trafalgar, a frota franco-espanhola foi destruida pelo almirante in- glés Nelson, que assim assegurou a integralida- de da Inglaterra. Napoledo voltou-se entao contra a Austria. Em 20 de outubro, venceu a batalha de Ulm, avangou rumo a Viena e tomou-a em novembro. Finalmente, depois da batalha de Austerlitz, venceu as tropas austro-russas, e o exército do czar se retirou para a Priissia. Com essas vito- ries Napoledo, em dezembro de 1805, impds 0 ‘Tratado de Presburgo. O tratado determinava 0 desaparecimento do Sacro Império Romano- Germinico, ¢ em seu lugar formava-se a Confe- deragao do Reno, da qual Napoledo seria o pro- tetor. Seus irmios José e Luis Bonaparte torna- ram-se reis, respectivamente, de Napoles ¢ da Holanda. ‘Temendo a hegemonia francesa nos Estados alemies, o rei da Prissia, Frederico Guilherme VI, aliou'se com a Inglaterra e a Russia e juntos se lancaram & Quarta Coligagao militar. Napoledo venceu os prussianos e tomou Ber- lim; a seguir derrotow os russos e estabeleceu com eles 0 acordo de Tilsit, convertendo-se o Im- pério Russo seu aliado. 1 © Bloqueio Continental Napoledo pretendia utilizar a Russia como uma arma econémica contra a Inglaterra. Com esse objetivo, o Decreto de Berlim, de 21 de no- vembro de 1806, instituiu o Bloqueio Conti- nental, que impediria a Europa de comerciar com os ingleses, isto é, de consumir seus produ- tos manufaturados e coloniais. Assim os france- ses esperavam provocar a crise que possibilitaria uma paz favordvel a seu pais. © Decreto de Berlin marcou uma nova fase na expansdo imperial. Nao bastasse esse decreto, Napoledo ainda decidiu, pelo Decreto de Milao (3807), que todos os navios de nagées neutras que visitassem portos ingleses seriam consi- derados ingleses e tratados como tal. Contudo era extremamente dificil aplicar essa medida, pois o contrabando era muito ativo, Para fazer valer o bloqueio na Europa, Napo- Jeo procurou invadir todas as regides costeiras que pudessem contrabandear produtos inglesés, inclusive a peninsula Ibérica. A Franca interveio em Portugal porque a mo- narquia Braganga de Dom Joao VI se mantinha fiel a Inglaterra. O General Junot tomau Lisboa, levando a familia real a fugir para o Brasil. Esta operagéo na peninsula Iberica também possibi- litou a ocupagéo francesa na Espanhe. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 84 VESMBULARES ‘Temendo que os reis Bourbons espanhéis se aliassem a Inglaterra, Napoleao forcou o rei Carlos IV da Espanha a transferir a coroa para seu filho Fernando VI, que posteriormente foi obrigado a abdicar em favor de José Bonaparte, ‘As humilhagées impostas por Napoledo a Es- panha despertaram © sentimento nacional espa- nhol, que uniu nobres, padres, estudantes, bur- gueses e populares em juntas militares contra a ocupagao francesa. A resisténcia espanhola se fez por meio de guerrilhas em todo © pais. Os portigueses con- taram com a ajuda da Inglaterra, que enviou um corpo expediciondrio a Portugal. Junot capitulou em Sintra, e Portugal recuperou sua liberdade. O exército imperial, embora persistente, nao era invencivel, e o patriotismo exaltado dos espanhéis suscitou novos levantes que, apoiados pela Inglaterra, culminaram na total libertacao da Espanha em 1811. Os ausiriacos, desejando restabelecer sua au- tonomia, também se revoltaram e criaram a Quinta Coligacdo. Mas tropas francesas os venceram e assinou-se uma paz. Para solidificd- la, Napoleao anulou seu casamento com Josefina de Beauharnais e casou-se com a arquiduquesa Maria Luisa, filha de Francisco, imperador da ia. @ A Europa napoleénica Nesta fase o territério francés estendia-se, des- de suas antigas fronteiras, até o Baltico ao norte ¢ até Roma ao sul. Estava dividido em 130 depar- tamentos. Muitas regides eram dominadas diretamente por Napolego, enquanto outras nfo passavam de estados vassalos submetidos a soberanos e fun- cionérios franceses oriundos da familia do impe- rador. Em todos esses paises e regides foram abo- Jidos 0s privilégios feudais e introduziu-se a igual- dade civil e os demais direitos idealizados pela Re- volugao. A Prissia permaneceu ocupada pelo exército francés, enquanto a Riissia e a Austria se mantive- ram aliadas & Franga. Somente a Inglaterra conti- nuava itredutivel, hostil a qualquer aproximagiio. Gragas a sua'poderosa marinha, a Inglaterra ocupara varias coldnias francesas ¢ estabelecera acordos comerciais com as colénias portuguesas e espanholas que contrabalangavam os efeitos econdmicos do bloqueio. No entanto, na Europa continental 0 Bloqueio prejudicara a economia de vérios paises, em de- corréncia da incapacidade econdmica da Franga em substituir a Inglaterra. Com isso, na Rissia ena Austria, 0 bloqueio foi rapidamente desrespeitado. #2) Zona de influsncia francesa ‘govornadas pela fe Napoteio SISTEMA ANGLO-DE ENSINO 85 © declinid da Europa napoleénica Os efeitos econdmicos do bloqueio e o temor a hegemonia francesa na Europa fizeram com que a Rissia rompesse sua alianga com a Franca. No final de abril de 1812, 0 czar exigiu a retirada das tropas francesas da Prussia e a anulagao dos impedimentos comerciais. Em conseqiiéncia, Napoledo aproximou-se dos soberanos alemaes e estabeleceu uma alianca com o imperador austriaco. Em junho de 1812, o Grande Exército anunciava a campanha da Rassia: 700,000 ho- mens foram convocados para enfrentar 390.000 russos desarmados ¢ mal organizados. 4 ofensiva francese atingiu os arredores de Moscou. As tfopas russas, comandadas pelo ve- Iho marechal Kutusoy, criaram inimeros obsta- culos, dificultando a vitéria de Napoledo em Borodino, na batalha de Moscou. Em setembro de 1812 as tropas francesas entraram na capital russa, que havia sido totalmente incendiada por sua populagio: ao invés de abrir caminho para GRANDE DUCADO -S NE I ie GuAt rec um tratado, como esperava Napoledo, a ocupa- 0 levou os russos a se sublevarem contra os franceses com o sentimento de quem empreen- de uma verdadeira guerra santa, Depois da intitil ofensive, Napoledo decidiu re- tirar-se, mas muito tardiamente: o frio ¢ a fome, mais os contra-ataques dos resistentes, provo- caram pesadas baixas nas tropas francesas em Berenzina, em 26 de novembro. Em conseqiién- cia do enfraquecimento do exército francés, os demais adversarios encontraram um momento oportuno de se unirem e vencerem definitiva- mente Napoledo. ‘Uma nova coligagao formou-se com a adesio da Priissia, Russia 'e Austria, e novamente as tropas francesas foram vencidas, em outubro de 1613, na batalha de Leipzig, a batalha das Na- goes, Nesse meio tempo, parte da Itdlia e a Ale- manha, a Espanha, a Holanda se sublevaram contra Napoledo, ameagando as fronteiras da an- tiga Franca. Impénio RUSSO poitcas ‘rajeto das tropas napolesnicas Depois da perda da Alemanha, da Holanda e da Espanha, o Império ficou totalmente yulnerdvel & Sexta Coligagao. Em dezembro de 1814, uma pro- clammagio dos aliados indicou Napoleéo como o ‘inico responsavel pela guerra. Os exércitos adver- sdrios (Austria, Inglaterra, Prassia e Ruissia) inva- diram a Franca e bateram as tropas napoleénicas. Os prussianos finalmente tomaram Paris e esta- beleceram um acordo em Fontainebleau, obri- gando Napoledo a abdicar. O imperador retirou- se para a Ilha de Elba, na costa toscana, enquanto na Franca era restaurada a monarquia Bourbon. i Os Cem Dias restabelecimento da monarquia deveu-se & politica de Talleyrand, que conseguiu conciliar os aliados com os monarquistas. A Franga comprome- teu-se a recuar suas fronteiras, e Luis XVI, irmao de Luis XVI, assumiu o poder no pais com 0 com- promisso de respeitar a liberclade e a igualdade. Contudo esses compromissos no evitaram as insatisfagées: a possibilidade de se liquidarem as reformas revolucionérias e o retorno dos emigra- dos inquietavam a bunguesia e o exército. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 86 ee VESMBULARES Napoleio soube tirar proveito dessa situagdo. Fugindo de Elba, desembarcou na Franga em 12 de margo de 1815 e marchou para Paris, onde foi aclamado pela populacao e pelo proprio exército ceaviado para deté-lo. Para satisfazer a burguesia, Napoledo criou um ato adicional as Constituigdes do Império, li- mitando seu poder. Mas nao conseguiu conciliar- se com os liberais, enquanto os monarquistas Teagiam tomando novamente as armas. Com a inteng&o estratégica de bloquear uma ago militar adversaria, o imperador invadiu a Bélgica com um exército de 124,000 homens. Mas foi derrotado pelo exército inglés chefiado pelo duque de Wellington (1769-1852) na bata Iha de Waterloo, em 18 de junho de 1815. Re- tornando a Paris, foi obrigado a abdicar pela segunda vez e deportado pelos ingleses para a iiha de Santa Helena. Em 5 de maio de 1821, aos. 52 anos, Napoledio faleceu. -O.mite napotednico 8 © CONGRESSO DE VIENA (1815) Depois de muitos anos de conflitos e de recon- figurag6es nos limites territoriais e politicos no mapa europeu, 08 soberanos que venceram Na- poleao procuraram estabelecer uma paz durével: 0 Congresso de Viena pode ser considerado um. primeiro esforgo internacional de seguranga co- letiva do mundo contemporneo. O Congresso teve inicio em outubro de 1814. e foi presidido pelo representante da Austria, o principe Metternich (1773-1859), Contou tam- bém com a participagao de Lorde Castlereagh, representante da Inglaterra; Hardenberg, da Prissia; Nesselrode, da Russia e Tayllerand, da Franga, O Tratado de Paris, documento firmado apés a primeira abdicagéo de Napoledo, em maio de 1814, determinava que o poder na Franga devia ser restituido a Lufs XVIII e o pais deveria ceder 08 territérios ocupados. a Mas apés a queda de Napoledo, as aliangas fo- ram substituidas pelas desconfiangas. Os ingle- ses detinham o poder maritime e queriam conter a forga russa no oriente europeu, apoiando a Prissia; os russos, por sua vez, rivalizavam com os ingleses por temerem sua politica expansio~ nista rumo ao Império Otomano e Asia Central; a Austria procurava restabelecer suas influéncias na Europa Central, interferindo na Itilia, na Ale- Mmanha, na Polénia e na peninsula Balcdnica, também disputada pela Riissia. Talleyrand (1754-1838), aproveitando-se des- sas divisdes, deu & Franga uma posicéo excep- cional, apesar de vencida. Teve papel decisivo na restauragao da monarquia Bourbon, fazendo prevalecer o principio da legitimidade. Apesar do objetivo comum - reconstituir 0 ma- pa politico europeu -, os congressistas enfren- ‘taram muitas discussdes, devidas As suas diver- géncias, Apenas em 9 de julho de 1815 foram fi- nalmente estabelecidas as cldusulas territoriais, que alterariam 0 mapa europeu mantendo os principios da legitimidade e do equilibrio entre as grandes poténcias. O periodo que se seguiu ao Congresso de Vie- na.é denominado restauracdo. O documento final determinava que deviam restaurar-se em todas as partes da Europa as antigas dinastias governantes e o poder dos reis anteriores 4 Re- volugao Francesa. Dessa maneira, os Bourbons foram reempossados na Fran¢a, na Espanha e no Reino de Napoles. Roma foi devolvida ao pa- ‘pa, ea familia Braganga voltou a ocupar o trono, em Portugal. A Austria recuperou sua preponderancia na Europa Central, dominando a Itélia ~ que conti- nuava dividida em sete estados -, e exercendo in- fluéncia nos ducados de Parma, Mddena e Tos- cana. Na Alemanha, interferia diretamente na Confederagao Germénica. A Pnissia anexou a Pomerania sueca ¢ exercia sua influéncia também na Polénia. A Réissia ob- teve a maior parte da Polénia, da Bessarabia e da Finlandia, A Inglaterra ocupou as ilhas Jénicas, de Malta, além do Cabo, Ceildo, Santa Liicia, Trinidad To- bago e parte da Guiana. A Franga perdeu a Savdia e regides localizadas em sua fronteira nordeste. Foi obrigada ainda a Pagar uma indenizagdo e a aceltar que 150.000 soldados ocupassem seu territério, De maneira geral, as decisdes do Congresso desagradaram as opiniGes na Europa. A Alema- nha é a Itilia continuavam divididas; a Polénia, sob 0 jugo de povos vizinhos; os cristios dos Bal- SISTEMA ANGLO OF ERSINO 87 VESTBULARES elit cs foram submetidos pelos turcos mugulmanos;. os belgas, pelo rei da Holanda. Contra essa Euro- pa dos principes ergueram-se movimentos libe- ais e nacionalistas. Para conter essas reacoes € fazer valer o que tina sido decidico em 1815, fo- ram estabelecidos dois sistemas: o da Quédru- pla Alianga, influenciado pela Inglaterra, e o da Santa Alianga, influenciado pela Riissia. As quatro grandes nagées (Inglaterra, Austria, Russia e Priissia) passaram a sustentar o poder do rei Luis XVII na Franga. O comando da ocu- pagdo esteve a cargo do general inglés Welling- ton. Com isso, os ingleses conseguiram assumir ‘uma posigdo de destaque no equilibrio europeu. Com a intengao de manter a ordem sob a lide- Accrise do sistema A reconstituigo territorial, em nome da legiti- midaide e da seguranca, passava pela restauraco do antigo regime politico e social ¢, conseqien- temente, pela anulacdo dos ideais revoluciona- ios da sociedade burguesa. No inicio do século XTX, j4 se anunciava 0 ca- rater irrefreavel do desenvolvimento do capita- lismo pré-industrialista e consequentemente da ascensao politica da burguesia. Tanto na Alema- nha como na ltéHa, o movimento liberal se opés ao restabelecimento do regime senhorial e do despotismo. Os belgas catdlicos rejeitavam o ju- go da Holanda protestante; os poloneses recla- mavam maior autonomia. Na verdade, nessas reagGes as decises de 1815 ressoava o ideal na- Peau tLe se ranga da Russia, o czar Alexandre | aliou-se a0 imperador da Austria e ao rei da Prissia firman- do com eles um tratado militar conhecido pelo nome de Santa Alianga. Esse nome inspira-se nos princ{pios crist4os: invocava “a Santissima Trindade” e “as palavras da Sagrada Escritura” - essas referéncias levavam a pensar que 0 czar decidia politicamente em nome de Deus. Alexan- dre | esperava assim inverter o equilibrio alcan- gado no Congresso de Viena que favorecia a In- Glaterra, Para tanto, pretendia isolé-la, Apesar de tudo, foi Metternich quem exerceu um papel preponderante na Alianga, utilizando-a em proveito austriaco, reprimindo o nacionalis- mo alemao e insurreig6es na Italia e na Espanha. [Ey Anerocses da Austia ‘Anexagdos do Prossla Anoxagées da Russie cionalista intimamente ligado 4 ideologia liberal burguesa. 3s objetivos da Santa Alianga ficaram ameaga- dos pelas atitudes contraditérias de seus mem- bros. Isso porque, corn o apoio europeu, os gre- gos emanciparam-se dos turcos, e a Bélgica, com © apoio inglés, libertou-se da Holanda contra- pondo-se a sua legitimidade. A Santa Alianga, ademais, nao péde controlar as revolugdes bur- guesas contrérias a0 Antigo Regime que eclodi- ram em 1830, Somou-se a isso ainda 0 apoio de- cisivo inglés nos processos de independéncia na América Latina, em prejuizo da Espanha e de Portugal. Progressivamente subvertia-se o equill- brio europeu pos-Napoledo e reiniciava-se a era das Revolugoes liberais do século XIX. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 88 VESTBULARES Hf CONQUISTA E COLONIZACAO A chegada dos europeus 4 América significou © jugo das civilizagoes nativas e a exploragio de um extenso continente, possuidor de uma imensa riqueza. Esse processo de dom{nio foi realizado em duas etapas. Primeiro houve a conquista das civilizag6es, por meio do saque de suas riquezas e da destruicdo da sua sociedade e cultura, até que 8 conquistadores finalmente lograram a submis- sio delas. Depois se deu 2 colonizacao, quando fol introduzida uma complexa estruture adminis trativa que impds no Novo Mundo rigorosas rela- bes produtivas e comerciais, cuja finalidade era extrair riquezas minerais e explorar o comércio monopolizado. A conquista e a colonizacao espa- nhola da América fizeram parte da politica mer- cantilista conduzida pelo Estado Absolutista. & As civilizagées Pré-colombianas Entre as primeiras civilizagdes da América pré-colombiana destaca-se a Maia. Originou-se na América Central e ocupava regides que hoje compreendem Honduras, Guatemala e México. Uma das culturas mais notaveis da América, a Maia atingiu seu apogeu no século VIII, mas quando os europeus chegaram até ela, no século XV, jd estava em plena decadéncia. Outra importante civilizagéo foi a Asteca. Origi- narios do oeste do México, 0s astecas tiveram con- tato com os maias ¢ assimilaram os conhecimen- tos produzidos por eles. Foram notaveis constru- tones de pirémides, que serviam como templos e observatorios astronémicos em seus cultos reli- giosos. Os astecas, como os maias, acreditavam que seus deuses precisavam ser periodicamente revitalizados com sangue humano, considerado “agua preciosa” para o Sol e para a Terra; dai ser comum a pratica de sacrificios humanos naquelas sociedades. Criaram uma estrutura de governo teocrética. A cidade de Tenochtitlan, atual Cidade do México, era a capital asteca ¢ possufa aproximadamente cem mil habitantes. A Era das Rev América Espanhola ° = lugoes: pemacaiiad \ Outra civilizagéo se encontrava sobre as altas montanhas dos Andes, na regio dos atuais Peru, Bolivia, norte do Chile e Equador. Trata-se da civilizacdo Inca. Estima-se que antes da chegada dos espanhéis, contava com uma populagao de ‘sete milhdes de habitantes. A principal cidade in- ca era Cuzco. Esta cidade era circundada por muros de blocos de pedra, que protegiam 0 fabu- loso palacio do Sol, cujas paredes de pedra eram recobertas de placas de ouro, Os ineas se denominavam “filos do sol”. Vi- viam sob um Impéric teocratico, cujo governante era considerado um deus, o Inca, e contava com o apoio de uma elite. As camadas baixas estavam organizadas em clas, os ayllus, e eram submeti- das ao trabalho servil. A propriedade da terra era conferida ao deus Sol e ao Inca, e nelas 0s cam- Poneses produziam o necessario para 0 sustento da sociedade. A conquista da América Espanhola Em 1508, quase duas décadas depois de Co- Jombo ter chegado & América, a colonizacao li- mitava-se apenas a duas has, que hoje s30 Cuba Jamaica. Mas logo os espanhois ficaram saben- do da existéncia da civilizagdo asteca e incum- biram Fernao Cortez (1485-1547) de dirigir uma expedicao rumo ao México, Com apenas 583 ho- mens, 16 cavalos e 10 canhdes, Cortez se dispés a coneqtistar a regido que contava com uma popu- lagdo de 1.500.000 habitantes. Favorecidos por uma Jenda asteca que dizia que um Deus viria do mar, Cortez. e seus homens atingiram a cidade de ‘Tenochtitlan. Mas ao tentarem saquear 0 ouro, provocaram uma reacdo sangrenta. Cortez, em represélia, mandou matar Montezuma (1480- 1520), 0 chefe asteca. Mesmo assim foram obri- gados a se retirar. Esse episédio ficou conhecido pelo nome de la noche triste. Em outra tentativa de conquistar Tenochtitlan, Cortez explorou as desavengas entre as varias tribos. Em 1521, ocupou a cidade transformado-a em ruinas com centenas de cadiveres. Para con- ‘SISTEMA ANGLO DE ENSIND VESTIBULARES solidar sua conquista, Cortez.construiu uma igre- ja e uma fortaleza, simbolos arquiteténicos da ‘dominago espanhola. O nome ‘Tenochtitlan foi substituido por Cidade do México. ” A espada, a cruz 6 a fome iam ditimando a familia: selvagem. : «(Pablo Narada) Estimulados pela faganha grandiosa de Cortez, que conseguira vencer a riquissima confedera¢ao asteca, 08 conquistadores espanhéis planejaram avangar rumo ao sul, em diregao & civlizagao Inca. Esta missio foi confiada a Francisco Pizarro. Fayorecidos pela divisdo do Império Inca, 05 es- panhéis utilizaram-se de apenas 180 soldados 37 de cavalos para realizar a conguista. Os espa- nhéis aprisionaram o chefe Atahualpa e exigi- ram para sua libertagdo uma vultosa quantia em ouro, no que foram atendidos. Porém, temendo uma reago, os espanhéis condenaram-no & mor- te. Com isso, as resisténcias logo cairam e Pizarro saquzou a cidade de Cuzco em 1534, converten- do-a numa cidade espanhola. ‘Assim, a conquista espanhola deve-se a uma sangrenta operacao militar que submeteu as civi- lizagées Pré-Colombianas com 0 intuito de pre- parar as bases da colonizagio de exploracao. B Colonizacéo espanhola A colonizagao ocorreu apés a conquista da América, no século XVI. O sistema colonial era um mecanismo da politica econémica mercanti- lista e tinha como objetivo a exploragao das ri- quezas da América, valendo-se do trabalho das populacées nativas, e a transferéncia dessas ri- quezas para a Europa. Dada sua finalidade, 0 co- lonialismo foi estruturado sobre o Pacto Colo- nial, ou seja, sobre o monopélio da metrépole no comércio com as colénias e também das ri- quezas ali produzidas. As terras passaram a pertencer & coroa espa- nhola, Cabia ao rei legislar, delegar poderes, ceder privilégios em forma de cargos adminis- trativos ou direitos de exploragao a todos os resi- dentes, brancos ou indios. Para formalizar 0 po- der do rei em terras to distantes, de modo a ga- rantir para a metrépole o controle sobre suas ri- quezas, foram criadas vérias instituigdes gover- namentais na Espanha ena América. Na Espanha o Real Conselho das indias ti- nha a fungao de interceder em todos os assuntos relativos & administra¢ao das colénias, e a Casa de Contratacion de Sevilha tinha o monopélio. do tréfico comercial. Na América, dentre as varias instituiges des- tacavam-se as quatro grandes unidades adminis- trativas, ou sefa, os vice-reinos de Nova Espa- nha, Nova Granada, Peru, e Prata; as audién- cias, que aplicavam a justica: os cabildos, que se encarregavam da administragio das cidades. Para transportar as riquezas da colénia para a Espanha e vice-versa, a coroa instituiu o sistema de frotas de galedes. Duas vezes a0 ano sala do porto de Cadiz, na Espanha, uma frota de barcos ‘com destino a Vera Cruz, no México, e Portobelo, no Panama. Apenas nesses portos eram desem- barcadas as manufaturas trazidas da Europa, e embarcada a prata a ser levada para a metropole. Apesar do rigoroso controle permitido pelo sis- tema de porto wnico, os espanhdis nao conse- guiam impedir o contrabando. @ As relagées de trabalho na mineracao ‘A mineragiio da prata e do ouro na América era a principal atividade colonial. Pela extrair es- sa riqueza, os espanhéis criaram um sistema produtivo que incorporou o nativo como mao- SISTEWA ANGLO DE ENSINO 20 VESTBULARES de-obra. Dessa maneira, foi instituldo o regime de encomiendas, que consistia na concessao dada a um espanhol pelo rei, afi de que em seu nome explorasse 0 trabalho do nativo na mi- neragao ¢ o cristianizasse, Esse sistema incor- porou @ mita, que era uma relacdo servil j4 exis- tente entre os incas. Os espanhdis a adotaram es- pecialmente nas minas de Potosi, na Bolivia. As condigées de trabalho eram cruéis e levava mul- tos indigenas & morte. As condigses de Vidd ho Poros! s80'atrozésA enor: ‘me montanha'émerge dwn plant sindoco 6 9000rm: 0 cume ‘atinge 4890;'as galerlas‘deseinbocam'a' maior’ ans é-alfida mais duro}. some-se'o frio, 2s dffereneas-de-tompere. ture, a falta dé alimentos... (Pier Crauna— Os abusos praticados nas encomiendas, e as doengas disseminadas pelos espanhéis reduzi- ram muito a populacao indigena na América. No México a populacio no século XVI era de 25 mi IhGes; no século seguinte, ndo passava de um Ihdo € meio. A situagdo era tao grave que pro- duziu a reacao dos padres Antonio Montesinos e Bartolomé de Las Casas (1484-1566), que entraram para a Histérla por denunciar o trata- mento desumano dispensado pelos espanhois aos Indios na América. Em conseqiiéncia a metrépole elaborou as Leis Novas, que proibiam o trabalho forgado aos indigenas com o objetivo eliminar-o sistema de encomiendas. Mas como os colonos: espanhdis resistiram ao seu cumprimento, eclo- diram revoltas indigenas no Peru, como a lide- vada por Tupac Amaru e Tupac Catari no sé- culo XVII, que foram violentamente reprimidas. ARépressio._.- Em 1781, um indio aimaré, Tupac um levante contra o dominio -espanhe sitlou Le Paz. Ele fol capttiradd-¢ por quatro cavalos que © puxavam, (vero Vrges Llosa = Jornal Os Ei A sociedade colonial No espago de algumas décadas, a colonizacao espanhola produziu uma sociedade colonial do- minada por uma elite local dividida em chape- tones ¢ criollos. Os primeiros eram espanhéis que ocupavam os cargos burocraticos, os de- mais, descendentes dos espanhéis, eram os pro- prietarios das terras da colénia. As camadas bai- xas eram submetidas pelas elites: os indigenas 4 servidio, os negros, & escravidéo. Havia ainda uma numerosa populacao mestica (de zambos, indios com negros, chorros, brancos com indios, e mulatos, brancos com negros). @ INDEPENDENCIA Shh Apesar de a colonizacdo espanhola na Améri- ca ter sido essencialmente exploratéria, os espa- nhdis nao conseguiram impedir que se formasse no curso do século XViHI uma elite local, os criolios. Descendentes de espanhéis, detinham o poder econémico, entao constituido basicamente pela grande propriedade. Entretanto, por no se- rem espanhois, eram impedidos de ter acesso aos altos cargos administrativos, confiados ape- nas aos metropolitanos (chapetones). Indignado com 0 fato de ser excluido, o criallo Simon Bo- livar (1783-1830) expressou: “ndo somos {ndios nomn europeus, mas uma espécie que se coloca entre os legitimos donos destas terras e os usur- padores espanhdis” (DOZER, Donald M.— A Amé- Tica Latina). Esta situagSo se agravou pelo fato de a Espanha ser pouco desenvolvida. Sem indiistria, limitava-se apenas a retirar a prata da América para adquirir produtos manufaturados ou industrializados da Inglaterra e depois revendé-los na colénia. Os criolios, conscientes de seus interesses, nao. admitiam meis ficar submetidos 4 dominagao es- panhola. Advogavam a independéncia da Améri- ca Espanhola influenciados pelas idéias libes rias do Huminismo francés e pelo exemplo dos recém-independentes Estados Unidos e da Fran- ga revolucionaria. No final do século XViIL, junta- ram-se também aos interesses criollos os da In- glaterra industrializada, que se opunha ao mono- Polio espanhol porque precisava expandir 0 mer- cado para seus produtos, Essa conjugacao de fatores foi decisiva para que os criollos lograssem a independéncia de seus paises. Os primeiros movimentos ocorreram no inicio do século XIX. Foram acées isoladas, muitas ve- 2e8 levantes locais, como o de Francisco Miran- da (1750-1816) na Venezuela. A primeira colonia na América Latina a tornar- se independente foi o Haiti. Esta ilha era domi- nada por uma elite de latifundiarios brancos de origem francesa que produzia agticar valendo-se do trabalho escravo. No final do século XVII os Jatifundidrios, imbuidos dos ideais libertérios da Revolugao Francesa, romperam com o monopé- lio da-metrépole. Mas nao conseguiram evitar SISTEMA ANGLO DE ENSIN 1 VesTBULARES que esses mesmos ideais mobilizassem 0s escra- vos. Depois de indimeros conflitos, os escravos li- derados pelo negro Toussaint L’Ouverture (1743-103) e por Jean-Jacques Dessalines (1758-1806), em janeiro de 1804 obtiveram da Franga a independéncia do Haiti, Com a revolta dos escravos haitianos nasceu o primeiro pais in- dependente da América Latina. Jean Jacques Dessalines teria dito: “Vinguei a América. Nunca mais um colono ou um europeu pord o pé neste territério com 0 titulo de amo ou proprietario” (Dolzer). lO deséncadeamento do processo processo de independéncia foi acelerado com a invasdo de Napoleéo Bonaparte & penin- sula Ibérica. Essa intervencao francesa original- mente tinha 0 objetivo de fazer valer o Bloqueio Continental na regiao. No entanto, Napoledo destituiu os reis Bourbons do trono espanhol em favor de seu irméo, José Bonaparte. Mas 0 povo manteve-se fiel ao rei Bourbon, Fernando VII, formando as juntas militares que resistiam aos franceses. O mesmo ocorreu na América. Os criolios assumiram as fungoes administrativas coutrora ocupadas pelos espanh6is, especial men- te os Conselhos Urbanos {cabildos), ¢ passaram a comerciar livremente com a Inglaterra, por nio reconhecerem a legitimidade da ocupagio fran- cesa na Espanha. faerie Mas em 1811, com a derrota de Napoledo Bo- naparte na Espanha, Fernando VII se instalou no trono e se disp6s a recuperar o controle sobre as colénias, Nesse mesmo ano foi declarada uma das primeiras independéncias da América Espa- nhola, a do Paraguai, sob a lideranga de José Gaspar Francia (1766-1840). Tentando evitar ‘que esse ideal se alastrasse para 0 resto da col6- nia, os espanhdis desembarcaram tropas na ‘América e executaram uma sangrenta repressao. Mesmo assim, em 1816, Manuel Belgrano (1770-1820) e José de San Martin (1778-1850) proclamaram a independéncia da Argentina. José de San Martin prosseguiu na luta e apoiou os criollos liderados por Bernardo O'Higgins (1778-1842) na independéncia do Chile, em 1818, 0 inglés Thomas Cochrane (1775-1760) na in- dependéncia do Peru, em 1821. Enquanto isso, tomado por forte idealismo Si- mon Bolivar reuniu um patridtico exército de mestigos, negros libertos ¢ criollos. Em 1819 ob- teve a independéncia da Colémbia; em 1821, ada Venezuela; em 1822, a do Equador. Nesta tltima operagéo contou com 0 apoio de José de San Martin. O encontro entre os dois libertadores deu-se na cidade equatoriana de Guayaquil, onde ademais discutiram o destino da América inde- pendente. Bolfvar era partidario de uni-la sob uma reptiblica, enquanto San Martin propunha a diviséio em varias nagdes governadas por princi- pes europeus. Runes ANGLO DF ENSINO 92 ‘VESTIULARES x yer sabe o SUCRE, moeda do, ALBA Nesse meio tempo, os espanhdis reconquis- taram ufna parte dos Andes, que posteriormente foi liberada por Bolivar, Nesta ultima operaco destacou-se 0 indio Antonio José Sucre*(1795- 1830). A regio liberta se separou do Peru em 1825, passando a ser chamnada de Bolivia. Como em todes os dominios espanhéis, 0 ideal de independéncia chegou também a0 Mé- xico. O proceso, cujo carter no infcio era acen- tuadamente social, foi lideraco pelo padre Do- mingos Hidalgo (1753-1811), defensor da de- volugao das terras aos indios e da libertacdio dos escravos. Contudo, Hidalgo fracassou porque nao péde contar com 0 apoio dos criollos, uma vex que seu projeto ameacava os interesses des- sa classe. A independéncia do México somente se efetivou em 1822 com Agustfn Iturbide (1783-1824), que o transformou num Império. Em, 1823, Iurbide foi deposto e formou-se uma Re- pablica, sob o dominio do general Antonio Lo- pez de Santana (1794-1876). Em 1824 uma oligarquia de latifundiarios do sul separou-se do México, criando as Provincias Unidas da Améri- ca Central. Esta unidade sobreviveu até’ 1838, quando se fragmentou devido a pressio do im- perialismo inglés e de oligarquias locais. Foram entlo criados os estados auténomos da Guate- mala, El Salvador, Honduras e Costa Rica. No final, do império colonial espanhol restou apenas Cuba e Porto Rico. Mas no final do sécu- Jo XIX a Espanha saiui derrotada da guerra His- pano-americana e perdeu suas duas tiltimas co- T6nias para os Estados Unidos. Como jé apontamos, os movimentos de inde: pendéncia contaram com 0 apoto € 0 reconheci- mento da Inglaterra interessada na expanséo de seu mercado consumidor. Esta ago diplomitica coube ao ministro inglés George Canning. Mas vale ressaltar que contaram também com 0 apoio dos Estados Unidos, que pretendiam influir no continente, Como os ingleses, os norte-americanos se in- quietavam com 4s intengoes recolonizadoras da Santa Alianga, que pretendia restaurar o dominio espanhol. A fim de impedir tal acdo, o presidente dos Estados Unidos James Monroe, em men- sagem ao Congresso em 2 de dezembro de 1823, declarou: “os continentes americanos, pela condi. 20 livre e independente que assumiram e man- tém, no deverdo ser considerados doravante co- mo objeto de futura colonizacao por parte de quaisquer poténcias européias”. No curso do século XIX, quando os Estados Unidos se transformaram numa nagdo imperia. lista, a doutrina Monroe converteu-se em justi- ficativa para o expansionismo norte-americano sobre as varias regides do continente, especial. mente a América Central. & O significado da Independéncia No inicio do século XTX, o panorama Jatino- americano ficou alterado com a desapari¢ao do antigo sistema colonial. Entretanto, consumada a independéncia, as elites criollas transfor- maram-se em oligarquias latifundidrias e tor- naram-se herdeiras da velha ordem espanhola. Durante mais de cem anos, essas oligarquias, cujos interesses em geral estao ligados aos im. erialistas, impuseram aos latino-americanos re- gimes politicos violentos, como as ditaduras mi- litares. Assim, os caudilhos ou ditadores das novas Reptblicas, jamais trabalharam por justica social, formagao de um estado de direito, dis- tribuigdo da renda, llberdade em todas as suas dimensées democréticas. Em vez disso, busca- ram sempre preservar a integridade dos latifin- dios, o exercicio da corrupgo no setor publico administrativo e os interesses do capital estran- geiro, Em conseqiiéncia, os povos dos paises la- tino-americanos nao conheceram a democracia e ficaram & mangem do desenvolvimento econé- mico e social. Somente no século XX, com as revolugées no México em 1910 e em Cuba em 1959, surgiram as. primeiras tentativas de se reverter a heranga historica da conquista e da colonizagao na Amé- rica Latina, SISTEMA ANGLO DE ENSINO 93 ‘VESTIBULARES. ia 4 istéri Geral Il anglo VESTIBULARES angio Sistema de Ensino ‘CONSELHO EDITORIAL Guilherme Faiguenboim Nicclou Nemo | (COORDENACAO EDITORIAL ‘Asso Foiguenboim EDITORA RESPONSAVEL Magee Ris RevsAo TECNICA Fredman Couy Gomes REMskO Marisa de Olvea ~ ICONOGRARA, ‘Coordenadora: Thais Faletio Peequlsadora: Ana Cristina Melchert =e @: Grética Ediora Anglo ido, x 7 Se IMPRESSAO € ACABAMENTO Pin to De Sea Dados de Cau aa CT te {Stour do Ler, Se ‘Calero gle — Sto Ps: Aga, 19901991 Grea € Ediora Anglo Udo. eon rs es five Gib, 348 - Sone Amar Uoesen (CEP 04755000 - So Paulo - SP ‘ io fox 1) 3273-6000, swremcurcongl comb woot : panne {ates pam loge ema 1am Enon deg B19 Cidigo: 85001647 r El ANTECEDENTES O triunfo da burguesia ao longo do século XIX, tanto do ponto de vista econémico quanto politico, representou também o triunfo do liberalis- mo. Logo, podemos considerd- lo a corrente de pensamento dominante no século XIX. O li- beralismo econémico, ins; rado nas idéias de Adam Smith .— portanto, defensor do livre comércio -, transformou-se em .pratica adotada pelos governos “burgueses da Europa, estimu- Jando a continuidade do pro- cesso de industrializacao. Ain- da que no final do século XIX as préticas monopolistas ¢ res- tritivas ao livre comércio te- nham se ampliado, nao abala- ram 0 sucesso do discurso li- beral, que continuow sendo do- minante em meios burgueses. * O|libéralismo politico tam- bém-evoluiu rapidamente. Ba- seava-ée nos princfpios ilumi- nistas, dentre os quais desta- ‘cam:se o constitucionalismo, o /. @ireito a escola dos governan- “tes através de eleigdes, diviszio *- dos poderes e liberdade de ex- pressio. Tais princfpios foram sendo adotados de forma cada vez mais:ampla ao longo do sé- culo; De fato, pode-se falar de um.processo de “democratiza- G40" do liberalismo, na medida em que esses princ{pios torna- vam-se praticas cada vez mais abrangentes (a esse respeito, Iembremos, por exemplo, do movimento cartista na Ingla- 0 Pensamento no Sécule XIX terra e sua luta pelo progressivo fim dos critérios censitarios nas eleigoes e pela introducio do vo- to secreto). onrreram também nesse sé- fundas transformagoes econ ymicas e sociais, em virtu- de da expansao do processo de industrializagZo. Ao mesmo tem- pe que a produgao industrial ge- Tava gigantescos excedentes de mercadorias, os operarios, encar- regados diretos dessa produ- do, viviam em condigdes mise- raveis, Os bairros operarios cres~ ciam rapidamente em tomo dos cinturdes industriais das cida- des de varios paises, oferecendo um panorama desolador de po- breza. Nesse contexto nasceram diversas correntes de pensa- mento que, partindo da critica a situag&o vigente, propunham tmudangas em beneficio das mas- sas trabalhadoras. Ei SOCIALISMO UTOPICO Essa corrente de pensamen- to, nascida no século XIX, pro~ punha a criagéo de uma socie- dade ideal, embora nao indi- casse os catninhos para se che- gar a ela, Particularmente forte no inicio do século, seus prin- cipais idedlogos eram Henri de Saint-Simon (1760-1825), Char- les Fourier (1772-1837) e Robert ‘Owen (1771-1858). Saint-Simon Julgava que a causa principal dos problemas sociais era o fa- * igualitari to de os interesses das diferen- tes classes sociais serem diver- gentes. Para que fossem supe- radas essas divergéncias, teria- se de criar uma sociedade ideal, composta de apenas trés cate- _ gorias: proprietérios, ndo-pro- prietarios e sébios. Dessa for- ma, nao existiriam “classes ociosas” (militares, clero, no- breza), e aos sdbios séria entre- gue 0 governo, na certeza de” que assim a administracao,da . sociedad seria mais justa e Fourier, Fortemente inspirado‘em Rousseau, Fourier propunha um retorno & natureza, e para tanto concebeu os falanstérios, fazendas coletivas agroindus- triais auto-suficientes, nas quais ndo existiria a propriedade pri- vada e a produgao seria distri- buida entre os trabalhadores de forma justa. Os falanstérios che: garam a existir'gracas a inicia:;~ tivas localizadas dé grupos:i8o=. lados, que acabatam por fuidar: « umas poucas comunidades que: sobreviveram por pouicos.aii9s.. Dessa forma, jamais. ‘oreencontro global da Hi dade com a natureza “SISTEMA ANBLO DE ENSINO tempo reduzido para a época) e havia diversos beneficios para os operarios (hospital, creches, escolas), bem como saldrios maiores. Owen pro- curava administrar a produgao em conjunto com os-trabalhadores, antecipando assim o sistema dé cooperativas. Criticado e boicotado pela bur- guesia inglesa, que o via como potencial ins- pirador de movimentos reivindicativos operé- ios, acabou por se transferir para os Estados Unidos, onde reproduziu sua experiéncia brita- nica na comunidade de New Harmony, também fundada por ele. : Hi SOCIALISMO “CIENTIFICO” Criado pelos pensadores alemdes Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), é tam- bém conhecide como marxismo. Essa corrente do pensamento no se limitava a propor uma al- ternativa de mudanga social, pois partia, para concebé-la, de uma profunda’andlise da histéria econémica e social das sociedades. Daf porque ‘seus autores se autodefiniam “cientificos”. Capa da primeira odigso do Manifesto Comunista de Merx © Engels, publicada no explosivo ano de 1848, A primeira obra a divulgar o pensamnto dé Marx e Engels foi o Manifesto Comunista (1848). Mais tarde, a partir de 1867, comecaram a ser publicados os diversos volumes dée/O.Capital, de Marx, principal obra tedrica dessa corrente. Os principais componentes de sua andlise sé0: Visdo materialista de histéria Marx e Engels desenvolveram uma viséo de historia que enfatiza a importancia dos aspectos materiais, isto é, econdmicos, na evolugao da Hu- manidade. A base socioeconémica de uma ci- vilizagao (formada pela organizacao econémica e as relagdes sociais dela derivadas) corresponde a superestrutura, composta de estruturas polit cas, ideologia e cultura dominantes. Nesse senti- do, mudangas na base socioeconémica acabam por necessariamente afetar a superestrutura, de modo a adapté-la as novas necessidades. O con- junto formado por base socioeconémica e supe- Testrutura caracteriza um modo de produgao, estes vao se sucedendo ao longo da historia (por exemplo: Escravismo, Feudalismo, Capitalismo). Luta de classes As relagdes que os homens estabelecem no processo produtivo s4o relacoes de exploracao, em que uma classe social explora outras. A clas- se dominante, responsdvel pelo controle da ati- vidade econémica, cria e controla a superestru- tura de acordo com seus interesses. O modelo de Estado que conhecemos, por exemplo, é resul- tado da dominacao politica exercida pela classe dominante e atua no sentido de manter a explo- ago econémica de uma classe sobre as outras. No capitalismo, 0 produto da exploragao do proletariado pela burguesia é a mais-valia, com que 0 capitalista assegura a reprodugao de sua propria riqueza e do sistema. Esta pode ser en- tendida, em linhas gerais, como a diferenga entre © valor do bem produzide pelo operério em um determinado tempo e o valor do saldrio efetiva- mente pago a ele por esse tempo. Essa diferenca é apropriada pelo burgués e caracteriza a explo- tagao do trabalho. Revolugao proletaria Como os interesses entre classe dominante e classes dominadas necessariamente se opdem, surge dai um conflito, a luta de classes, cujo pon: to culminante é a revolucdo. A revolugéo é'°0 mo- mento em que as classes dominadas lutam violen- tamente contra a dominagao, destruindo, nésse proceso, nao 6 a classe dominante mas também toda a superestrutura por ela criada. No capita- “SISTEMA ANGLO DE ENSWNO Le VESTIBULARES lismo, as relagdes entre classes so mais simples, pois a burguesia exerce a dominagio e o proleta- riado (operérios) surge como tnica classe domina- da, diferente do que ocorre em outros perfodos da histéria, em que coexistem varias classes domi- nadas. Escrevendo no século XIX, Marx previa 0 advento da revolucdo proletaria, que resultaria na destruigao da burguesia e do capitalismo. Socialismo e Comunismo Com a revolugo proletéria, que iria abolir 0 modo de producao capitalista, seria implantado um novo modo de producdo da vida material, o socialismo. A implantacao do socialismo impli- caria a aboligao da propriedade privada dos meios de produgio (fabricas, terras, comércio) e a criagio da propriedade coletiva, adrninistrada pe- Jo Estado, Porém, o socialismo seria apenas uma etapa (= transigao} a caminho do comunismo, es- ta sim a etapa em que todas as desigualdades se- riam eliminadas e seria extinto, inclusive, o Estado. Ao caracterizar o periodo socielista como de transiggo rumo ao comunismo, Marx concebe que a forma politica do estado socialista seria a dita- dura do proletariado: um governo forte, vio- lento contra os inimigos da revolugao, mas com- prometido com os interesses da massa proletaria, @ ANARQUISMO: O anarquismo propunha, em linhas gerais, a abolic¢ao das instituigoes (como o Estado), vistas como instrumentos de opressdo, € a cooperagio. entre individuos livres. Esta corrente ideolagica teve como precursor Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), que, influenciado pelos socialistas ut6picos, fez criticas contundentes ao capitalis- mo. Em seu livro O que é a propriedade?, Prou- dhon propée a criagao de uma sociedade livre, fundada em um regime de pequenas proprieda- Ges. Outro expoente do anarquismo, Mikhail Ba- kunin (1814-1876), apontava ser necessaria a aco violenta na luta pela supressao do dominio da bur- quesia, Essa violencia seria dirigida contra os prin- Cipais representantes da propriedade privada (os rics) e do Estado (governantes). Suas idéias in- fivenciaram diversos grupos anarquistas atuantes no final do século XIX. O rei da Itélia Umberto I (1900) e o presidente norte-americano McKinley (1901), foram duas das mais conhecidas vitimas de atentados anarquistas levados a cabo no periodo. Particularmente fortes no sul (Italia, Espanha) e leste (Réssia) da Europa, as idéias anarquistas acabaram chegando & América com os imigran- tes e influenciaramn o movimento trabalhista no continente no inicio do século XX. 1 DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA Elaborada pelo papa Ledo XIfl em 1891 e difun- dida pela enciclica Rerum Novarum (“Das coisas novas"), a doutrina social da Igreja definia a po- siggo do clero catélico diante da questo social. Partia da condenacéo ao marxismo, identificado como uma doutrina violenta por pregar a luta de classes, Defendia a propriedade privada ¢ 0 direito dos trabalhadores a se onganizarem em sindicatos. Para sanar a questo da luta de classes, 2 Igreja propunha a conciliagao entre as classes: através da atuagdo conjunta de patrées e empregados, sob supervisdo do clero, surgiriam condigdes mais jus- tas de trabalho, que evitariam a convulsio social e assegurariam o direito & propriedade. Il A ORGANIZACAO DOS TRABALHADORES “Proletérios do mundo todo, uni-vos”. Com es- tas palavras, Marx e Engels encerravam 0 Mani- festo Comunista. Trata-se de um charnado a Tevo- | lugSo mundial: de fato, se o capitalismo é mun- dial, a revolugao e 0 comunismo também deve- riam sé-lo, Em vida, Marx trabalhou no sentido de articular um movimento mundial de trabalha- dores, ¢ este veio & luz em 1854, com o nome “As- sociagao Internacional dos Trabalhadores” ou, simplesmente, a Internacional. 12 Internacional (Londres, 1864) A Primeira Internacional foi um fiasco, na me- dida em que os trabalhadores ou seus represen- tantes, reunidos em Londres diante de Marx, nao SISTEMA ANGLO DE ENSIND ‘VESTIBULARES. chegaram a um acordo sobre a melhor forma de lutar contré o capitalismo. A influéncia do anar- quismo e notadamente a lideranga.de Bakunin, acabaram por dividir e enfraquecer o movimento. 22 Internacional (Paris, 1889) A Segunda Internacional reuniu-se no final do século sob o impacto do movimento social-de- mocrata. Desenvolvida na Alemanha, a social- democracia pretendia reunit os trabalhadores em um partido politico e lutar por melhores con- dices de trabalho aproveitando-se da ampliagao de direito a voto e da possibilidade de eleger re~ presentantes. Assim, a social-democracia previa urn programa'de reformas, incluindo, por exemn- plo, leis trabalhistas. O crescente sucesso eleitoral do SPD (Partido Social-Democrata Alemao), fez com que muitos dos seus membros passassem a acreditar na to- mada do poder através do voto, ¢ nao da revoli- do. A Segunda Internacional confirmou a social- democracia como principal estratégia de luta dos trabalhadores, nao sem enfrentar oposigao den- tro do movimento operario. 32 Internacional (Moscou, 1919) Em 1902, 0 pensador e revolucionario russo Viadimir llitch Ulianov (1870-1924), mais conhe- cido pelo apelido Lénin, rejeitou a social-derno- cracia e langou um novo projeto. Em um livro com 0 sugestivo titulo Que fazer?, Lénin propés a criagao de um partido politico revolucionario que pudesse atuar como vanguarda do prole- tariado, pronta para convocéo a fazer a revolu- 40 no momento oportuno. A vitéria da Revo- lugdo Russa em 1917, sob a lideranca de Lénin, tomnou a proposta marxista-leninista aparente- mente mais adequada como estratégia para atingir 0 socialismo. Em 1919 Lénin convocou uma Terceira Internaciona, com 0 objetivo de ar- ticular partidos leninistas em todo mundo. A partir de ento, passaram a existir duas Inter- nacionais; a Segunda, reunindo partidos socia- listas (ou social-democratas) do mundo todo, em tomo de proposias reformistas cada vez mais mo- deradas; e a Terceira, reunindo partidos comu- nistas (ou marxistas-leninistas) de todo mundo, em toro de propostas revolucionérias radicais. ‘Spee Liar Can aloe, Neon ER Engels Lin Aga o- ‘maha utiieada a _ ‘ovidticae estadow-entlten. SISTEMA ANGLO DE ENSINO FRANCA NO SECULO XIX A restauracgde do Ab- solutismo (1815-1830) ‘Apés a derrota de Napoledo Bonaparte, o Congreso de Vie- na articulou 0 retorno do abso- Tutismo em varios paises da Eu- ropa, inclusive na Franga. De acorcio com o principio da legi- timidade, o trono francés vol- tou a ser ocupado pela familia Bourbon. Assim, em 1815, Luis XVUI (1755-1824), irmao de Luis XV1, executado em 1793, assumiu o poder. No seu gover: no, Luis XVIII procurou gover- nar de forma moderada, fazen- do concessdes a grupos libe- rais, entre as quais figurava, por exemplo, a Constituicio de 1814. Esta, apesar de aparente- mente liberal {assegurava igual- dade perante a lei, liberdade de imprensa e religido, eleig6es pa- rao legislativo), apresentava certas limitagées, como o res- trito cfitério censitario para’o exercicio do voto e a concentra- ‘go de poder nas maos do rei. Apés a morte de Luis XVII, seu irmao, Carlos X (4757- 1836), assumiu o trono da Fran- ca. Seus fortes vinculos com 0 clero e a aristocracia mais retré- grados, bem como suas tenta- tivas de fazer mudancas nas leis em 1830, visando o fim da liber- dade de imprensa, 0 fecha- mento da Assembléia Legisla- tiva, maiores restrig6es ao direi- to a voto; acabaram precipitan- do a manifestacdo popular que levou a Revolucao de 1830. A Europa no Século XIX A Revolugdo de Julho de 1830 pode ser considerada um movimento de inspiracao bur- guesa, pois, apesar de contar com a participagao das cama~ das populares, resultou no esta- belecimento de um regime mo- narquico liberal encabecado por Luis Felipe (1773-1850). Ao mesmo tempo, a revolugao ser- viu de motivago para movi- mentos revolucionarios de ca- rater liberal e nacionalista em outros paises europeus, como Bélgica, Polonia, Itdlia e Alema- nha, naquele mesmo ano. El Luis Felipe (1830-1848) © nome com que o rei Luis Felipe de Orléans entrou para a historia - “o rei burgués” -, 6 bastante significativo. No seu governo, buscou consolidar um regime constitucional franca- mente liberal (ainda que fun- dado na manutengao do voto censitério) e garantir 0 respeito &s liberdades individuais. To- davia, enfrentava crescente oposigao de grupos conserva- dores {articulados no bloco bo- napartista) e populares (tanto republicanos quanto socialis- tas). Lembremos que a conti nuidade da expansao econé- mica e do processo de indus- trializagao na Franga levou a progressiva formagao de uma massa de operarios cada vez mais articulados em torno de propostas populares radicais. Estes grupos realizavam reu- nides de oposicao ao rei disfar- gadas de refeigdes coletivas, é essa tatica ficou conhecida co- mo “politica dos banquetes”. As péssimas colheitas euro- péias desde 1846 e, principal- mente, a praga que afetou as plantagdes de batata em 1848 {conhecida como o “mal das batatas”), resultaram em alta nos pregos e fome generaliza- da. A fome foi o estopim de um novo movimento revoluciond- rio: a Revolugo de 1848. SSSTEMAARGLO CE ENSINO a ‘VESTISULARES ‘eriagdo‘de uma.Constit = tegioes.da Europa (Alemnant magéo da nowaes & Segunda Republica (1848-1852) Foi estabelecido um governo provisério, em que se destacavam o poeta Lamartine (1790- 1869), 0 jornalista e historiador socialista Auguste Blanqui (1805-1881) e 0 operdrio Albert. O novo regime implementou medidas populares, cotno a reducdo da jornada de trabalho, o sufragio uni- versal masculino e a inaugurago das Oficinas Nacionais, fabricas estatais administradas por operdrios, criadas para absorver a mao-de-obra desempregada O prosseguimento da crise econémica, as di- visOes no interior do governo provisério ¢ a culacaéo das oposig¢Ges em um “Partido da Or- dem”, acabaram resultando na expressiva vitéria da burguesia nas eleigdes de abril e, em seguida, na violenta repressdo a grupos socialistas radi- cais. Em julho de 1848, 0 general Cavaignac li- derou tropas que invadiram Paris e massacraram milhares de trabalhadores Hosea 0 do século XIX mostrando a lvta popular em Parts, Finalmente, em dezembro de 1848, Luis Bo- nmaparte (1808-1873), sobrinho de Napoledo, foi eleito presidente. Luis Bonaparte tinha, além de um compromisso com setores conservadores (ourgueses), um forte carisma e apelo popular. Antes do final de seu mandato presidencial de quatro anos, Lufs Bonaparte deu um golpe: arti- culando a burguesia com setores do exército, aboliu a Republica e abriu caminho para a im- plantagao de um novo regime imperial. Karl Marx, atento analista da politica européia na épo- ca, chamou o golpe de O 18 Brumario de Luis Bonaparte, em clara referéncia ao golpe dado por Napoledo em 1799 e as tentativas cada vez mais freqiientes de Lufs Bonaparte de copiar seu lustre tio. 1 Segundo Império (1852-1870) Em 1852, Luis Bonaparte proclamou o Se- gundo Império franeés e passou a governar com © titulo de Napoledo III, Autoritério e centra- lizador, Napoleao III fez um governo voltado pa- ra a burguesia francesa, mantendo as politicas que favoreciam a expansao econémica e © pros- seguimento do processo de industrializagao. Uma de suas principais iniciativas foi a urba- nizagao de Paris, projeto dirigido pelo prefeito nomeado da cidade, o baréo Haussmann. Lar- gas avenidas (os boulevards), pragas circulares, amplos espagos, edificios homogéneos, de facha- das rebuscadas, caracterizavam o projeto que serviu de inspiragao para varias cidades do mun- do a partir de ento (por exemplo, 0 Rio de Ja- neiro do inicio do século XX). Durante o Segundo Império, a Franga adotou uma politica externa agressiva. Napoleao Ill ten- tava ampliar a influéncia francesa e também seu prestigio pessoal, eventualmente comandando tropas nos conflitos em que envolveu seu pais. Dentre eles desiacam-se: [SISTEMA ANGLO DE ENSIN 10 ‘VESTIULARES. «$a Guerra da Criméia (1854-1856), em que aliou-se a Inglaterra contra a Rissia; a intervengao no sudeste Astético seguida do estabelecimento de uma colénia francesa na regio (Vietna, 1858), © envio de tropas para a Italia a fim de com- bater a presenca austrlaca na regido (1859). Tal iniciativa fazia parte da politica das na- cionalidades adotada por Napolego III, vi- sendo 0 apoio a movimentos de emancipa- ‘do nacional; intervengdes na China (1860) e no México (1862-1867), onde Napoleao II apoiow 0 es- tabelecimento de um regime imperial enca- begado pelo principe austriaco Maximiliano de Habsburgo. A interven¢ao no México contrariou frontalmente os interesses norte- americanos, expressos na Doutrina Monroe (1823). A ascensio da Priissia & condicao de poténcia, a partir da década de 1860, significou o surgi- mento de um rival & altura da Franga no conti nente europeu. Apds provocacdes diplométicas feitas pelo chanceler alemao Otto von Bismarck (1815-1898), iniciou-se a Guerra Franco-Prus- siana (1870-1871). Em setembro de 1870, apés ocerco e a derrota francesa na batalha de Sedan, Napoledo IMl foi capturado pelo exército prus- siano. Assim, o Império se desfez em meio A guerra e foi novamente proclamada a Repiiblica na Franca, @ Terceira Republica (1870-1940} Proclamado como “Governo de Defesa Nacio- nal” na Paris em guerra, © novo governo tentou articular uma reagao contra os invasores alemndes e, diante do fracasso dessas iniciativas, buscou negociar um acordo de paz. Sediado em Versa- Ihes e encabegado por Adolphe Thiers (1797- 1877), esse novo governo teve ainda que enfren- tar uma grande sublevacao popular: a Comuna de Paris. A Comuna de Paris, ou governo da cidade eleito pelo povo, foi proclamada em marco de 1871. Foi provocada pela insatisfagao popular diante da guerra e pelas tensoes sociais que se agudizavam na Franca em pleno processo de in- dustrializagao. Desvinculada do governo bur- gués da Terceira Repiiblica, a administracao da Comuna tomou medidas francamente populares, de inspiragdo socialista. Por exemplo, fabricas fo- Tam ocupadas e a acministracdo delas ficava a cargo dos préprios operarios; foi declarada a igualdade civil entre homens e mulheres, o exér- cito regular foi substituido pelo povo armado(a Guarda Nacional), foi concedida isengaéo do pagamento de aluguel durante a guerra, Igreja‘e Estado foram separados, foi criada a pensao para vas € Orfaos de guerra, combateu-se © nacio- nalismo ao se adotar a bandeira vermelha, sim- bolo da “reptblica mundial’. A Comuna de Paris é considerada a primeira experiéncia socialista de governo popular. Porém, tinha muitas limitagées. Facgées politicas diver- gentes (anarquistas, diversas correntes socialis- tas) disputavam o poder. Nao tirou do poder to- das as forgas conservadoras, as quais continua- ram controlando 0 Banco da Franga, por exem- plo. Aiém disso, Thiers negociou um tratado de paz com os alemaes e uniu-se aos inimigos para ‘tirar a Comuna de Paris do poder. Prisioneiros de guerra franceses foram libertados, rearmados e abastecidos pelos alemaes para formar 0 novo, exército francés que teria a missao de invadir Pa~ tis e reprimir a Comuna. Em maio de 1871, a'ci- dade foi invadida, e a Comuna, brutalmente re- primida; estirna-se em 20 mil o mimero de mor- tos, e dezenas de milhares foram feitos prisio- neiros, ‘A Franga pagou um prego alto 4 Alemanha no final da Guerra Franco-Prussiana. O mesmo tra- tado de paz que viabilizou a derrota da Coruna de Paris, conhecido como Tratado de Frank- furt, estabelecia ainda o pagamento de ‘uma pesada indenizacao por parte da Franga e deter- minava a entrega de duas provincias franicesas para a Alemanha: a Alsdcia e a Lorena. Essas condigées humilhantes fizeram surgif entre os franceses um forte sentimento revanchista, que marca as primeiras décadas da Terceira Repi- blica, Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) a Franga ainda buscava a “vinganga” pela derrota de 1871. © NACIONALISMO Intredusaéo. © nacionalismo foi uma das mais influentes correntes ideolégicas do século XIX. O prolon- ado periodo das guerras napoleénicas no inicio do século, a luta dos povos por emancipacao ¢ 0 direito de se organizar em estados nacionais, bem como os interesses e rivalidades das bur- guesias nacionais, so fatores que levam ao seu fortalecimento. Além de manifestarse no campo da politica, 0 nacionalismo influencion as artes, (por exemplo, como um dos ‘aspectos do roman- tismo} e a instrugo ptiblica na tentativa de mol- dar uma consciéncia nacional na populagao. SISTEMA ANGLO DE ENSIN| " VESTIBULARES Naprimeira metade do século XIX, a ascenstio. do nacionalismo e do principio das naciona- ;, segundo o qual cada povo deveria ter 0 direito de se organizar em estados nacionais, desferiu mais um golpe no sistema estabelecido pelo Congresso de Viena, fundado, como vimos, no principio da legitimidade. _O processo de unificaco na Itdliae na Alema- nha, que possibilitou a transformagio de deze- nas de unidades politicas em dois éstados cen- tralizados, foi o ponto culminante do nacionalis- mo europeu do século XIX. B Unificagaéo da Alemanha Qs territérids alemies na Europa que antes fa- ziam parte do Sacro Império Romano Germaanico foram submetidos por Napoledo Bonaparte e passaram a ser conhecidos como Confederaco do Reno. Com a derrota de Napoledo, a Confe- deragao do Reno foi abolida e, em seu lugar, fun- dou-se a Confederacao Germénica, formada por 39 Estados mais a por¢do austriaca do Im- pério Habsburgo. Dentre os estados auténomos da Confedera- do Germanica, destacava-se a Priissia, nao ape- fas por ser razoavelmente extensa, mas pelo-fato de abranger as areas mais industrializadas da confederagdo. A préspera burguesia prussiana, “” nesse contexto, via a fragmentacdo politica como obstaculo para seu desenvolvimento, dadas as intimeras barreiras alfandegarias impostas pelos varios estados e 0 fato de o mercado consumidor prussiano ser limitado em vista do crescimiento da produgao. A burguesia prussiana passou a ver a unifica- 40 politica (formagao de um Gnico pafs) como a forma de obter a unificagSo econémica da Ale- manha e, conseqtientemente, de expandir seus negécios. Em 1834, um primeiro passo nesse sen- tido foi dado por meio do Zoliverein, acordo que estabelecia a unido alfandegdria dos 39 estados. Para consolidar seu projeto unificador, a bur- guesia prussiana enfrentaria obstdculos, como as ambigées austriacas em liderar a unificacdo e a tradigo da mobilizacdo popular nacionalista e re- publicana (manifesta em 1848, com tendéncia ao radicalismo). Para enfrentar essas ameacas, 0 rei da Prussia, Guilherme I (1797-1888), da familia Hohenzollern, convocou o chanceler Bismarck oencarregou de executar o projeto. O plano de Bismarck envolvia a mobilizagaio militar sob lideranga monarquica e prussiana e a deflagracao de uma série de guerras que, ad mes- mo tempo, afastaria a influéncia austrfaca e faria nascer entre os alemaes uma consciéncia nacional. Acta Cepetony Recs | ———~ Divisto de Estados Confederagio GermBnica rag Em 1864, Prissia e Austria enfrentaram a Dina- marca na Guerra dos Ducados, que resultou na anexagao das provincias dinamarquesas de Schleswig e Holstein 4 Confederago Germanic, Desacordos entre austriacos e prussianos quanto ao destino das duas provincias acabaram por precipitar a Guerra das Sete Semanas (1866), na qual a Préssia, liderando diversos estados alemées, derrotou espetacularmente a Austria e frustrou assim as ambigdes centralizadoras dos rivais austriacos. Apés a guerra, a exaltagio:-na- cionalista explodiu nos estados alemées. Varios deles aceitaram a lideranga da Prissia ede seu Tei e formaram entao a Confederagio Getma- nica do Norte. Visando atrair os demais estados alemaes & nova Unido, Bismarck planejou mais uma guer- 1a, desta vez contra a Franga de Napoledo Ill. 0 chanceler prussiano convenceu os estados ale- mies a empreenderem a guerra contra os fran- ceses usando como pretexto a disputa pela s\ cessio do trono espanhol e a crise diptomética que surgiu dessa questao. A Guerra Franco- Prussiana (1870-71), como foi chamada, resul- tou em humilhante derrota dos franceses, 0 que serviu para estimular o sentimento nacionalista alemio e tornar ainda mais desejvel, ou acei- tavel, uma unio liderada por Guilherme da Prassia, SISTEMA ANGLO DE ENSIND 12 VESTBULARES Em janeiro de 1871, na Galeria dos Espelhos do Palacio de Versalhes, em territério francés * ocupado pelos alemaes, reuniram-se os represen- tantes dos diversos estados germanicos que acla- tmaram Guilherme I como kaiser (imperador) de todos os alemaes. Nascia assim’ o IT Reich (Se- gundo Império) alemao, Estava concluida a unifi- cago da Alemanha. © novo pis passou por und ise de acl. ‘expansdo econémica. A Alemanha passou a li- derar os setores mais dinamicos da Segunda Re- volugao Industrial (siderurgia, industria quimica, eletricidade), Desenvolveu-se tanto que, na vira- da para 0 século XX, jé tinha condiigses de riva- lizar com a Inglaterra ¢ os Estados Unidos. HI Unificagdo da tralia A Itélia, como a Alemanha, no inicio do sécu- lo XIX estava fragmentada politicamente. Exis- tia forte sentimento nacionalista de cardter po- pular e republicano, que se expressou na revo- lugdo de 1848 sob a lideranga de Giuseppe Garibaldi (1607-1882) e Giuseppe Mazzini (1805-1872), Concomitantemente, desenvolveu-se um mo- vimento pela do de cardter me divulgado pelo jornal Risorgimento, bastante atuante no norte da Itdlia, O movimiento monér- quico era apoiado pela burguesia do Piemonte, | Tegido industrializada cujo interesse pela unifica- so prendia-se a motivos econémicos (bastante semelhante aos que levaram a russia. naa liderar o movimento na Alemanha). O-rei do Piemonte, Vitor Emanuel Il (1820-1878), da di- Bea oemunu noir eceteins EER ome dos Estades Ponsiicios reanexados ao Feino da ta FEB Torri covtidos & Fronga om 190 EEE Pino do Fiemonte-Sardenha [= Terndries unidoe em 1060 nastia Savéia, e seu ministro, o conde de Ca- vour, (Camillo Benso, 1810-1861) abragaram o projeto unificador bungués, Dentre os-obstaculos enfrentados por Cavour contra a unifeacéo, destacavam-se o dominio da Austria sobre vastas regides do norte da penin- sula italiana, o controle politico do papa sobre timlarga faixa de terra‘ha Italia Central fos Es. “allos Fapats) ¢ a-existéncla-do-Reino das Icflids no sul da’ peninsula, um dos’ tlti- mos baluartes da familia Bourbon na Europa. Por volta de 1860, Garibaldi liderava tropas populares (os “camisas vermelhas" em luta pela unificagao no centro e no sul do pafs. Ao mesmo tempo, o Piemonte buscava neutralizar os inte- resses austriacos no norte da peninsula italiana. Para tanto, o Piemonte aliou-se 8 Napoledo II imperador francés, que enviou tropas para com- bater os austriacos, as quals lograram expulsé- Jos da Itdlia em 1839, Mais tarde, quando da Guerra das Sete Semanas (1866), os italianos aproveltaram a derrota da para os prus- sianos e anexaram os tiltimos territofios itallanos ainda sob dominio austriaco, notadamente a re- gido do Veneto. * Ante o progresso da unificacéio, Garibaldi re- Cuou em seu projeto republicano, mesmo apés ter tdo sucesso na Conquista de Népoles, capital do reino das Duas Sicflias. Em nome.da unido dos interesses nacionais, Garibaldi aceitou a lideranca de Vitor Emanyel e do Piemonte no processo. Por essa época; 0 tinico territério italiano ainda ndo submetido & autoridade de Viter Emanuel Il.eram os Estados Papais, em tomo de Rofna, que conta- vam com a protegiio do imperador francés. \VESTBULARES. Em:1870,;com o inicio da Guerra Franco-Prus- siana e a derrota da Franca no conflito, as tropas deste pais retiraram-se dos Estados Papais, abrindo caminho para sua ocupacao pelas tropas do Piemonte. Seguiu-se a transferéncia da capital do pais para Roma e a proclamacao do-reino.uni- ficado da Itélia, O papa reagiu a perda de:.territs- ios, ndo reconhecendo 0 novo Estado italiano: Esta crise foi.chamada de Quest4o;Romana.e estendeu-se até meados do século KX: Somente foi resolvida em 1929, com a assinatura do’ Tra- tado de Latrao, entre o papa Pio'XI eo ditador- italiano Benito Mussolini, O Tratado estabelecia o reconhecimento de estado italiano por:parte-do papa, em troca da criag&o do'Estado do Vatica- no, territério-soberano administrado pela Igreja Catélica, incrustado no meio da cidade de Roma. ‘A principal questo deixada em aberto no'pro- cess0 de‘linificagdo da Itdlia foi’ destino das provincias-irridentas. Tratava-se de territériés austriacos que ainda tinham expressiva popula- ‘ovitaliana, sendo, portanto, reivindicados pelo governo.da Itdlia..A disputa por esses territérios fot um:dos fatores que levaram Itélia e Austria & guerra a partir de 1915, no contexto da Primeira Guerra Mundial. ‘SISTEMA ANGLO DE ENSINO ‘VESTBULARES 15 A EXPANSAO TERRITORIAL Apés 0 final da Guerra de In- dependéncia (1776-1783), os Es- tados Unidos iniciaram um pe- Hiodo de expansiio econémica, prejudicado somente durante as guerras napolednicas, no i cio do século XIX. A Inglaterra, em prolongado conilito com a Franga, fez o que pode para di- ficultar as relages comerciais deste pals com a América, ¢ as- sim entrou em atrito com os Es- tados Unidos. Outra fonte de atrito era a ambigao norte-ame- ricana em relacao ao Canada, entéo colénia inglesa. A ques- ‘Go resultou na Segunda Guer- ra de Independéncia (1812- 1814). Apds uin confronto mi- litar limitado, que teve como apogeu 0 ataque inglés 4 capital norte-americana, Washington, foi assinado um tratado de paz em que se definiam as fron- teiras entre Estados Unidos e Canada, chamado Paz Eternia de Gand, Em meio a rivalidade com as nagGes européias € expressan- do 0 intenso nacionalismo des- pertado pela guerra, em 1823 0 presidente James Monroe lan- cou uma nova doutrina de polt- tica externa, cue passaria a do- minar as relagées internacio- nais dos Estados Unidos: a Doutrina Monroe (1823). Seu prinefpio resumia-se no slogan *a América para os america- nos”; logo, visava combater a influéncia européia no conti- nente, estreitando as lagos com Os Estades Unitios no Seculo XIX as jovens nagdes latino-ameri- canes. A doutrina serviu tam- bém de resposta & opcdo euro- péia, pela articulacao da Santa ‘Alianga ¢ sua politica de reco- lonizagio. Ao minimizar a influéncia européia sobre o continente americano, a Doutrina Monroe, na pratica, fazia dos Estados Unidos a tinica poténcia da re- gido e abria caminho para que no futuro pudesse se impor co- mo nacao imperialista aos pai- ses da América Latina. Alids, 0 expansionismo era t{pico das Treze Col6nias mesmo antes da independéncia, com 0 progres- sivo avango dos colonos em busea de novas terras no ceste da América do Norte. Apés a independéncia, 0 avango ru- mo ao Oeste se acelerou pro gressivamente, com a anexagaio das terras que se estendiam até 0 oceano Pacifico. Dentre as causas que estinu- Jaram a expansao territorial norte-americana rumo ao oeste pode-se citar: * fatores demograficos; a0 longo do século XIX, os Estados Unidos se trans- formaram no principal destino das grandes cor- rentes migratérias que partiam da Europa. Sé en- tre 1845 e 1854, os Estados Unidos receberam trés mi- Ihdes de imigrantes (para uma populagio total de 20 milhées), ¢ este niimero foi aumentando progressiva- mente até o final do século. O Homestead Act, lei de 1862 que possibilitava a distribuig&o de pequenos lotes de terra no oeste, atraiu ainda mais imigran- tes europeus. * fatores econémicos; inte- Tesses ligados a agricul- tura (com a ocupagio de terras férteis do vale do Mississipi), pecudria (prin- cipalmente no sudoeste, regido do Texas) e minera- a0 (notadamente de metal precioso, que originou a “corrida do ouro” da Cali- fornia em 1848-49). * fatores ideolégicos; con- solidou-se no perfodo a ideologia do Destino Ma- nifesto. Tal ideologia, de fimdamento puritano, pre- gava no 36 0 direito nor- te-americano de ocupar terras para implantar suas instituigdes (consideradas virtuosas), como também 0 cardter “missiondrio” dessa ocupagio. Ou seja, tratava-se de executar a vontade de deus e cum- prir a missfio por ele des- ‘tinada ao povo norte-ame- ricano. A ocupagdo do oeste foi fet- ta em etapas, destacando-se: © ocupagéo da margem les- te do Mississipi, cedida pela Inglaterra & nascente nagdo americana no final da Guerra de Independén- cia (1783). [SISTEMA ANGLO DE ENSING 15 VESTIBULARES * anexacao da Flérida, obtida da Espanha mediante pagamento de indenizagao (1819). * compra da Louisiana (margem oeste do Mississipi), adquirida da Franga de Napo- Jeo Bonaparte (1803) + anexagao do Texas (1845), seguido da in- corporagac do territério do sudoeste, aps Bech a A GUERRA DE SECESSAO (1861-65) Causas Durante a colonizagao, j4 eram marcantes as diferengas entre os territérlos do norte e do sul das Treze Col6nias, as quais permaneceram mes- mo apés a independéncia, Nos estados do Sul predominava uma economia agricola de grandes propriedades monocultoras cuja produgao volta- vase para a exportagio. Utilizava-se em larga es- cala 0 trabalho escravo negro de origem africana ¢, a0 longo do século XIX, produzia-se ali sobre- tudo algodao, matéria-prima industrial por ex- celéncia vendida em grande volume principal- mente para a Inglaterra. No Norte, o desenvol- vimento precoce das atividades mercantil e ma- nufatureira acabou por estimular a industrializa- 40, cuja producao pretendia atender um mer- cado interno em franca expanséo. No plano politico, predominava no sul uma poderosa aristocracia rural, enquanto no norte destacava-se uma ascendente burguesia. Os guerra com o México (tratado de Guada- lupe-Hidalgo, 1848). * Tratado do Oregon (1846) com a Ingla- terra, definindo a fronteira com o Canada até o oceano Pacifico. * compra do Alasca (1867), que pertencia & Russia. Peau Meant ‘776: Torvitério original das 13 Colénias ‘1783: Codido pela Inglaterra ‘20 inal da guerra de. independéncia, 11803: Comprado & Franga 1818: Adguirido 8 Espanha 11846: Cedido pela Inglaterra 1848: Tomsdo 20 México 1887: Comprado 3 Riissia += Comentos Migratéri dois grupos disputavam o poder federal, e 20 Jongo do século XIX essa disputa se tornava cada ‘vez mais intensa, na medida em que cresciam as divergéncias entre os grupos quanto aos rumos que o pais deveria tomar. ‘A burguesia do norte, buscando acelerar e consolidar o processo de industrializagao, defen- dia a adogao do protecionismo, pois se sabia incapaz de vencer na concorréncia com pajses mais avancados industrialmente, por exemplo, a Inglaterra. Defendia o trabalho livre assalaria- do, condigao fundamental para a reprodugao de capital em um regime capitalista avangado. A aristocracia do sul, por sua vez, defendia a manutengao do trabalho escravo em seus esta- dos. Além disso, rejeitava qualquer politica pro- tecionista, temendo represélias dos paises para ‘os quais exportava géneros agricolas. Por essa raza eram defensores do livre comércio. ‘A expansio territorial acirrou as disputas en- tre norte e sul, uma vez que os novos estados do ‘este poderiam ser o fiel da balanga ao se alinhar SISTEMA ANGLO DE ENSIND 16 ‘VESTBULARES com um ou com 9 outro bloco. Afinal, apés se- rem aceitos formalmente na Unido, os novos es- tacos passavam a eleger os representantes para 0 Congresso em Washington e poderiam ter pe- so decisivo nas resolugdes dessas quest6es que punham norte e sul em posigSes antag6nicas. além disso, a acelerada imigraco aumentava o mimero de eleitores nos estados onde predo- minava o trabalho livre. Nesse contexto, os lide- res politicos do sul passaram a defender o direito A secessio, isto 6, A separagao caso fossem ado- tadas medidas contrdrias a seus interesses. Em 1860, @ vitéria do advogado nortista Abraham Lincoln (1809-1865) nas eleigGes presidenciais foi considerada intolerével pelo sul, pois Lincoln de- fendia o protecionismo e a manutengiio da unido indissoluvel entre os estados. Em fevereiro de 1861, os estacios do sul proclamaram a secessio fundando um novo pais, a Confederagao dos Estados da América. A rejeigao do norte a se- paragio desencadeou a guerra civil conhecida como Guerra de Secessao. A guerra civil © desequilfbrio entre as forgas era brutal. A Unido (norte) pode mobilizar um exército de centenas de milhares de homens ¢ uma podero- sa marinha de guerra, gracas ao fato de poder dispor de mais recursos financeiros e de um par- que industrial onde apoiar seu esforgo de guerra. Ja a Confederagao (sul) contava com uma po- pulacdo menor e necessitava importar armas, 0 que Somente seria possivel se pudesse dispor de recursos obtidos das exportacdes agricolas —difi- cultadas porque a Unido controlava os mares. ESTADOS CONFEDERADOS ESTADOS DA UNIAO- AAA BLOQUEIO NAVAL Apesar disso, os confederades conseguiram algumas vitorias iniciais na guerra, gragas 4 habil lideranga do general Robert E. Lee (1807-1870). ‘Com o tempo, mobilizagao da Unido se fez sen- tir. Dispunha de um exéreito cada vez maior e mais experiente, no qual destacava-se a atuaciio de Ulisses S. Grant (1822-1885), principal co- mandante do norte nos estagios finais da guerra. Trata-se de uma guerra que mobilizou mais de dois milhSes de homens e se valeu na sua condu- 40 da utilizagao em larga escala de ferrovias, telégrafo, navios blindados e armas de repeti¢ao. O mimero de mortos foi bastante elevado: mais de 600 mil pessoas durante pouco mais de qua- tro anos; nos Estados Unidos havia entaéo pouco mais de 25 milhes de habitantes. Conseqiiéncias Durante a guerra, o presidente Lincoln de- cretou a aboligéo da escravidao nos estados do sul, mas a medida teve poucos efeitos praticos. Somente apés terminada a guerra foi acres- centada & Constituicao norte-americana a 13° Emenda, estabelecendo 0 fim da escravidao em todo o pais. Adotou também as tarifas protecio- nistas que consolidavarn o modelo econémico desejado pela burguesia do norte, e que de fato { i | [SISTEMA ANGLO DE ENSIND a VESTIBULARES deram novo alento ao processo de industrializa- (40. Lincoln no viveu muito tempo apés a guer- a, pois foi assassinado poucos dias apés o en- cerramento do conflito por um sulista charnado John W. Booth (1838-1865), Além da libertagao dos escravos e do elevado: niimero de mortos, uma das prineipais conse- qiiéncias da guerra foi a submissao politica ¢ econémica do sul ao norte. Mas dentro do siste- ma federativo que caracteriza o pais, cada estado tinha forte dose de autonomia; portanto, as elites brancas proprietarias de terras continuaram exercendo 0 poder local. Foi mantido o regime de grande propriedade, o que contribuiu tam- bém para que essa elite continuasse poiderosa, embora nao tivesse condigdes de rivalizar com a burguesia yankee (referéncia aos habitantes do norte). Apésa aboligio imposta pelo norte, os estados do sul adotaram regimes de segregagao racial, isto é, de separago e discriminagao da popula- ao negra. Com 0 final da guerra, membros da elite sulista de origem WASP (branco, anglo- saxo, protestante) passaram a organizar grupos racistas que combetiam a integragao da popu- lado negra e defendiam a segregagio, O mais famoso desses grupos era o Ku-Klux-Klan. A segregac&o durou até jA bem avangado 0 século XX, e'86 foi detrubada gragas & mobi- lizagao da populago negra em torno do movi- mento pelos Direitos Civis, em que se destaca- ram lideres como o pastor Martin Luther King (1929-1968). Durante a década de 1960 proprio governo federal, sensivel A mobilizagao e As reivindicacées da populagao negra, forcou os estados do sul a adotar medidas anti-segregacio- nistas, o que desagradou muito a elite branca lo- cal. Agindo na clandestinidade, esses grupos racistas passaram entéo a adotar prdticas terro- ristas contra ativistas e simpatizantes da causa dos negros. ‘Submetidos inicialmente & escravidao e depois a segregacao, muitos negros do sul migraram para os estados do norte, mais tolerantes. Essa populaggo acabou por se converter em méio-de- obra na indistria do norte, concentrando-se em cidades como Chicago, Detroit, Washington e Nova York. SISTEMA ANGLO OF ENSINO. 18 voy 1 ORIGENS A partir da segunda metade do século XIX, as principais na- des industrializadas do mundo passaram a adotar politicas ex- pansionistas agressivas, as quais, Jevaram a formagéo de impérios. Nesse contexto, Asia e Africa, até entio marginalmente inte gradas 4 economia capitalista, passaram a ser o principal alvo de um novo surto colonial: trata- se do neocolonialismo. ‘Uma de suas principais cau- sas foi econémica. A expansao da industrializacio, notadamen- te a Segunda Revolugao indus- trial da segunda metade do sé- culo, resultou no surgimento de novas demandas nas econo- mias capitalistas, essencialmen- te a ampliagdo do mercado con- sumidor e de novas fontes de matérias-primas. A medida que se dinamizava a economia capi- talista, com a aceleragao cada vez maior do processo de re- produgao do capital, fazia-se necessério o estabelecimento de novas areas para sua aplica- Jo. Mineragéo na Africa do sul, agricultura na fndia, nave- gacdo fluvial no Egito, ferrovias na China, uma infinidade de no- vas oportunidades de investi- mento se abriam para 0s deten- tores do capital. A depressao da década de 1870 também pode ser‘considerada um fator, uma vez, que a abertura de novas frentes econémicas acenava pa- ra superacao da crise. . Outra causa foi de ordem de- mografica. O aumento da ex- 0 inmerialismo no Século XIX pectativa de vida promovido pe- la Revolucao Industrial fez com que a questo demogréfica pas- sasse @ ter importincia vital na Europa. Diversos governos eu- ropeus ja estimulavam a emi- gracdo rumo a América e pas- saram a ver também a coloni- zagao da Asia e da Africa como uma “valvula de escape” para seus problemas populacionais. Territérios como Argélia, Africa do Sul ¢ Australia passaram a receber grande contingente de imigrantes, os quais em alguns destinos (por exemplo, na Aus- tralia) chegaram a ser mais nu- (Holenda EVA’ 5 (odepeado de: Ec HOBSBAWM ~ A Bra dos impéros, 8751814. RU, Paz eTerr, 1988 p.471 “A Erado Copial 10104675. Ri, Paze Tera, 019,2% od. pp. 317-318) Fatores estratégicos contri- buiram com a expansio impe- rialista, na medida em que o desenvolvimento do comercio maritimo internacional e a ex- pansio da navegagao @ vapor (consumidora em larga escala de carvio) levavam as grandes poténcias mundiais a tentar es- tabelecer postos militares e de abastecimento em locais onde as rotas se cruzavam e circula- va grande niimero de navios. Finalmente, pode-se falar de fatores ideolégicos, uma vez que a ocupagao de territérios africanos e asiaticos e 0 domi- nio sobre suas populagdes justi ficavam-se como “missao cis zadora”, isto é, iniciativa de le- var aos povos “atrasados” des- ses continentes os grandes avangos da civilizacao européia. Nas palavras do poeta inglés Rudyard Kipling (1865-1936), essa tarefa era o “fardo do ho- mem branco’. Tal concepgao denota o etnocentrismo euro- peu, ou seja, a certeza sobre a superioridade de sua cultura e a decorrente convicgao de que ‘outras civilizagées, por serem Giferentes, sao “inferiores”. “Muitos dos que partiram da Eu- ropa para a Africa acreditavam nisso, logo, o discurso servia, sobretudo, para mascarar o ver- dadeiro fim dessas empre: exploragao econémica. Ainda no que se refere & ideo- logia, a teoria racista do “dar- winismo social” teve grande importancia, Desenvolvida pelo fil6sofo inglés Herbert Spencer (1820-1903), buscava adaptar & sociologia a teoria evolucionista da “sobrevivencia do mais apto”. De acordo com essa teoria, as sociedades e as nages se én- SISTEMA ANGLO DE ENSINO be 19 ‘VESTIBULARES: contravam em Juta, e, no futuro, apenas as mais adaptadas iriam sobreviver, ao passo que os “in- feriores” seriam subjugados ou eliminades. O dominio imperialista se fazia através da con- quista militar seguida do estabelecimento de uma administraao metropolitana no territério domi- nado. Sempre que possivel, a poténcia coloniza- dora buscava atrair 0 apoio de elites locais ou mesmo criar um corpo de funcionérios nativos, fiis & autoridade da metrdpole, Dessa forme, ga- rantia-se que a exploragdo econémica da colénia se daria em consonéncia com as necessidades do capitalismo industrial. ‘Nesse contexto em que Africa e Asia eram sub- metidas & colonizagao européia, os paises da Amé- Tica Latina mantinham uma estrutura econémica muito semelhante a das novas colénias (lembre-se da situagéo do Brasil no século XIX), Ou seja: ex- portavam géneros agricolas e importavam pro- dlutos industrializados. Todavia, esses paises ja ha- viam proclamado oficialmente sua independéncia politica no infcio do século XIX. Por isso no Jos considerar o colonialismo formal na Asi na Africa, onde havia exploracdo econémica e do- minagao politica, igual ao colonialismo informal na América Latina, onde a exploracao econémica convivia com a independéncia politica. Figur slo do 1915 itcando os am Imports ingles Ge doninic mondan A PARTILHA AFRO-ASIATICA Bi Africa Entre o final de 1884 e o inicio de-1885, qua- torze paises com ambig6es coloniais se reuniram, na Conferéncia de Berlim; com 0 intuito de repartir 0 territério africano entre si. A Inglaterra foi a grande beneficiada com a partilha do con- jente, pois passou a controlar um extenso terri- rio, que inchufa, entre os outros, o Egito € vale do rio Nilo (0 que lhe garantia o controle sobre o canal de Suez}, a Somiélia briténica (¢ 0 acesso maritimo ao mar Vermelho), 0 sul da Africa (e a li- gacao Indico-Atlantico, além de imensos depé- sites yaineras) a Nigeria (um dos territérios mais populosos da A Bélgica consolidou seu dominio sobre o imenso territ6rio do Congo, situado na Africa Central, cuja posse era reivindicada como pro- priedade pessoal de seu rei, Leopoldo II, desde 1875. A Franga passou a controlar um grande territério.no norte da Africa e nas fronteiras do Saara Ocidental, enquanto Portugal continuava mantendo © controle sobre Angola e Mogambi- que, possessées coloniais desde ha muito portu- guesas. SISTEMA ANGLO DE ENSINO| i i i i D Asia No que se refere & partilha da Asia, as potén- jas ndo a negociaram como fizeram com a Africa na Conferéncia de Berlim. Nesse caso predomi- naram os interesses dos colonizadores ja instala- dos ali em ampliar seus territérios coloniais (co- mo caso da Inglaterra, que iniciou a ocupa¢io da india em 1763, eda Holanda, que comegou a se estabelecer nas Indias Orientais a partir de 1605); houve espa¢o.também para novas inicia- tivas isoladas (por exemplo, estabelecimento francés no sudeste.asidtico a partir de 1858) e o estabelecimento de zonas de influéncia sobre o grande império chinés. ‘A China, a0 contrério de outros territérios cobi- ados pelas poténcias colonizadoras, ja era urn im- pério centralizado desde, pelo menos, 0 século XIV. ' Apés os primeiros contatos com os europeus (por- +. tugueses, precisamente) no século XVI, os chine- ses progressivamente passaram a optar pelo iso- ; lamento em relagao ao Ocidente. No século XIX, 0 Chamam a atengao as reduzidas dimensoes dos territérios africanos controlades por Ale- manha e Itdlia. Esses paises, unificados tar- diamente, ainda nao tinham influéncia politica suficiente para éxigir possessdes coloniais. Che- ma a atengio também a autonomia da Etiépia, reino independente situado na Africa Oriental, em territério montanhoso e de dificil acesso, que 36 foi conquistado pelos europeus no sé- culo XX. ° CGMP hn ences ARICA ORENTAL ‘BRITARICA UGANDA (RRR ESPANA TALIA BELGICA ALEMANHA, interesse inglés em explorar o j vasto mercado consumidor chinés, fez com que iniciasse 0 tréfico de épio para a China. Em 1839, o governe chinés apresou a carga de dpio de diversos navios ingle- ses em Canto}, inutilizando-a. Este incidente ser- viu de pretexto para a Inglaterra, invocando os principios do livre comércio, declarar guerra 4 China, A Guerra do Opio (1840-42) resultou em vitéria inglesa e na assinatura de um tratado de paz, o Tratado de Nanquim, que estabeleceu a abertura de cinco portos chineses para o livre co- meércio, além da entrega da ilha de Hong Kong para a Inglaterra, que a transformou em colénia. ‘Neste livro, usamos a grafia tradicional de nomes chineses para a lingua portuguesa. A introduce do sisteme Pinyin pe- Ja Ching em 1979 e seu reconhecimento no mesmo ano pela 1SO (Onganizagdo Internacional para Padronizaggo), resutow na adogao de uma nova grafia, cada ver mais freqbente tam- bbém em portuguds. Assim, nomes de lugares como Pequimn, Cantdo e Tienisin, ou de pessoas como Mao Tse-tung (por exemplo} so grafados no sistema Pinying como, respecti- ‘vamente: Bejing, Guangzhou, Tianjin e Mao Zedong. [5 SiTEMA ANGLO DE ENSINO 2 VESTBULARES Mais tarde, novos conflitos envolvendo o comércio ilegal e a atuaco de missiondrios europeus resultaram na assinatura de novos tratados (Tientsin, 1858; Pequim, 1860) ¢ no estabelecimento de reas de influéncia da Franca, Russia e Estados Unidos na China. A partilha do territério chinés entre ‘essas poténcias (e mais tarde entre a Alemanha e Japio) acabou por transformar o pais em “quintal do mundo”. Renee cnn icicesiien Gi A RESISTENCIA AO IMPERIALISMO ‘A penetragdo européia nos continentes afri- cano e asiatico, e a imposicao de novas formas de ‘organizagao econémica ¢ social, além de uma no- va cultura, incitaram as populagoes nativas a organizar movimentos de \cia. Pouco su- cesso tiveram, diante da superioridade técnica e militar das forgas armadas da era industrial (dota- i canhGes de aco, metralha- interna e fragmenta- 40 politica, realidades predominantes na maior parte da Asia e da Africa. Porém, trés movimen- tos de resisténcia se destacaram por sua tenaci- dade e capacidade de mobilizacao. © primeiro foi a Guerra dos Sipaios (1857), na fndia, também conhecida como o "Grande Motim Indiano”. A palavra “sipaio” faz referéncia aos soldados nativos recrutados pelo exército in- glés na India. O movimento organizado em torno do sentimento de insatisfagdo com a autoridade inglesa se iniciou nos quartéis e envolveu a po- pulago, exigindo que a Inglaterra reagisse com uma ampla mobilizagao militar. A violenta re- pressio inglesa deixou milhares de-mortos. Mais tarde, na China, ocorreu a Revolta dos Boxers (1900). A expansao do nacionalismo chi- nés diante das crescentes humilhagGes impostas. ao pais desde o Tratado de Nanquim (1842), re- sultou na organizagao de grupos xenéfobos € an- ticristdos (ou anti-ocidentais), dentre os quais a “Sociedade dos Punhos Harmoniosos” era 0 mais famoso. Em junho de 1900, simpatizantes do movimento, com o apoio de tropas do Exér- cito Imperial chinés, atacaram estabelecimentos estrangeiros e embaixadas em Pequim e Tientsin. O movimento se espalhou rapidamente pelo nor- te da China. Diante dessa situagao, os coloni- zadores organizaram um exército multinacional, formado por tropas da Inglaterra, Franga, Ale- manha, Italia, Austria, Russia, Estados Unidos é Japio. O discurso do imperador alemfo, Guilherme 1, feito na despedida 4s tropas que embarcavam pa- raa China, nos dé a nogao de quao violenta pre- tendia que fosse @ represso ao movimento: “Tal como os Hunos ha mil anos, sob comando de Ati- Ja, ganharam uma reputagao qpie ainda hoje vive na histéria, assim também possa o nome Alema- nha tornar-se de tal modo conhecido na China ‘SISTEHA ANGLO DE ENSIN 2 ‘VESTIEVLARES. a ae que nenhum chinés jamais ouse novamente olhar com desdém um alemndo’. terceiro grande movimento de resisténcia ao imperialismo foi a Guerra dos Béeres (1899-1902) na Africa do Sul. Como vimos, o estabelecimento inglés no sul do continente africano, iniciado no fi- nal do século XVIII, provocou o deslocamento da \ populaco afrikaner, de origem holandesa, para o i { | interior, onde fundaram as repuiblicas de Orange e Transveal. A descoberta de ouro e diamantes em Johannesburgo e Transvaal atraiu grandes contin- gentes de estrangeiros, principalmente ingleses ‘que cobigavam as terras dos fazendeiros afrikaners, chamacios também de béeres. Em outubro de 1899, 08 atritos resultaram na querra entre béeres e In- glaterra, Apés alguns sucessos iniciais, os béeres no resistiram ao crescente engajamento militar inglés e foram derrotados em 1902. El O IMPERIALISMO JAPONES No processo de expansio imperialista, o Japio representa um caso peculiar. Assim como a Chi- nia, 0 Japio teve breve contato com europeus (no- vamente portugueses) no século XVI e se fechou para a influéncia estrangeira em seguida. No sé- culo XIX, a estrutura politica japonesa lembrava o feudalismo europeu, com o poder baseado nos aristocratas (os daimios), por sua vez mantidos no poder através do servico de guerteiros contra- tados (os samurais), Havia ainda um comandente militar supremo, © xogun, responsavel pela defesa das ilhas no ca- so de invasdo estrangeira e cujo cargo era here- ditario. Durante o longo xogunato da familia ‘Tokugawa (1603-1868), sediado em Edo (Toquio), © pais fechou-se aos europeus. A autoridade do imperador, ou micado, sediado em Kyoto, era meramente formal, pois o poder se concentrava nas maos do xogun, por sua vez sempre em con- flito com a aristocracia local. Em 1853, uma poderosa frota norte-americana, liderada pelo comodoro Matthew Perry, entrou na baia de Téquio e forcou o Japao a assinar um acordo de livre coméreio. Em seguida, outros paises europeus tomaram iniciativas semethan- tes, tentando repetir no Japao o que havia sido feito na China anos antes. Porém, em 1868 a populagéo, tomada de um sentimento fortemente nacionalista, insurgiu-se |) contra o xogunato. O jovem imperador Mitsuhito » (1852-1912) foi colocado na vanguarda do movi- mento que centralizou 0 poder, desarmando gru- Pos de militares e aristocratas e promovendo um { Verdadeiro pacto entre as elites, visando com- bater a crescente influéncia estrangeira no pais. Tinha inicio a Era Meiji, periodo de moderniza- do e ocidentalizagao do Japio. O estado japonés passou entio a coordenar o desenvolvimento de iniciativas industriais, contra- tando técnicos (sobretudo engenheiros) estran- geiros e enviando grande nimero de estudantes Japoneses para 0 exterior. O desenvolvimento dos zaibatsus, grandes conglomerados manufatueiros e banqueiros controlados por familias, acabou por possibilitar a industrializagao do pais. Carente de recursos naturais, 0 Japo em pou- co tempo passou a ser agente de uma agressiva politica imperialist; seu primeiro alvo foi a China. Entre 1894-95, ocorreu a Guerra Sino- Japonesa, de que 0 Japao saiu vitorioso. Essa guerra abriu caminho para a dominagio japo- nesa sobre a Coréia, Manchtiria e Taiwan (a ilha de Formosa). Em seguida, entre 1904-05 ocorreu a Guerra Russo-Japonesa. A espetacular vi- toria japonesa sobre uma poténcia européia re- sultou nao apenas na anexacdo de territérios até ento russos na China, mas também na conso- lidacdo do Japéo como grande poténcia. §@ O IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO Apés a Guerra de Secessio, acelerou-se nos Estados Unidos 0 processo de industrializacdo, escorado em um mercado consumidor em plena expansio, por sua vez fruto da chegada maciga de imigrantes ao longo do século XIX. A expan- so territorial rumo ao Oeste j4 configurava um processo de expansio imperialista, que teve con- finuidade mesmo apés a delimitagao das fron- teiras do pais. Os principais alvos da expansio imperialista norte-americana a partir do final do século XIX foram a América Latina e a Asia. A origem das ambic6es norte-americanas em relago a América Latina pode ser buscada na Doutrina Monroe (1823) e na ideologia do Des- tino Manifesto, Durante o governo de Theodore Roosevelt (1858-1919, tendo governado por dois mandatos consecutivos entre 1901-09), foi ela- dorado 0 Corolério Roosevelt, que comple- mentava a antiga doutrina: os Estados Unidos nio apenas rejeitavam a influéncia européia no continente como também se reservavamn 6 direito de se valer da forca para intervir nos pafses lati- no-americanos caso seus interesses fossem ameagados. Inaugurava-se um periodo de segui- das intervengoes na América Latina, principal mente na América Central, no México € no Cari be. Essa politica ficou conhecida com a “politica do grande porrete” (Big Stick Policy). 'SSTEWA ANGLO DE ENSINO| VESTIBULARES Em 1898, os Estados Unidos langaram a pri- meira grande guerra imperialista no Caribe, a Guerra Hispano-Americana. Usando como pretexto a “libertagio” das tltimas colénias espa- nholas na América, Cuba e Porto Rico, os Estados Unidos intervieram na guerra entre espanhéis € nacionalistas cubanos ¢ derrotaram uma Espanha ha muito decadente. Seguiu-se a essa derrota a anexagdo de Porto Rico e a proclamacao de uma independéncia de fachada em Cuba. De fato, a re- piiblica de Cuba passou a ser dominada economi- camente pelos Estados Unidos, a ponto de sua constituicdo ter uma emenda constitucional redi- gida por um senador norte-americano. A Em da Platt dispunha sobre o direito norte-ameri- cano & intervengdo armada no pals sempre que achasse necessério ¢ sobre a cessao de parte do territério cubano aos Estados Unidos para que ali fosse estabelecida uma base, a de Guanténamo. Um dos mais significativos exemplos do in- tervencionismo dos Estados Unides na América Latina deu-se no contexto da construgao do canal do Panamd. Em 1903, o governo norte- americano encorajou um grupo de latifundiarios do istmo do Panamé a proclamar sua indepen- déncia da Colémbia. Os Estados Unidos imedia tamente reconheceram 0 novo pais e enviaram tropas para garantir sua seguranga. Em seguida, 0 novo governo concedeu ao gaverno norte- americano, em caréter perpétuo, 0 direito de construir e administrar um canal ligando o Atlntico ao Pacifico. Somente em 1999 os Esta- dos Unidos entregaram a Zona do Canal ao esta- do panamenho. ‘Além de Porto Rico, a vitéria na Guerra Hispa- no-americana de 1898 resultou na anexagao, pelos Estados Unidos do arquipélago das Filipi- nas, no leste asiatico, O crescente envolvimento dos Estados Unidos nos negécios chineses (in- cluindo a participagao na represséo a Revolta dos Boxers de 1900) e a anexago do arquipélago havaiano, em 1898, sa0 exemplos da expanse do imperialismo norte-americano na diregao do Oceano Pacifico e leste asidtico. > aupagso (data) > lnfudncia SISTEMA ANGLO D§ ENSINO 24 ‘VESTIBULARES | | | i CAUSAS A Primeira Guerra Mundial faz parte de uma seqiéncia de transformagGes decorrentes do processo de industrializaco ini- ciado na segunda metade do século XIX. Nesse periodo, a economia européia j4 se havia expandido com o desenvolvi- mento do capitalismo financei ro e monopolista, que permitia a ampliagao dos intercdmbios internacionais. As grandes poténcias capita- listas, vendo seus mercacios sa- turados, passaram entao a dis- putar 08 territérios disponiveis na Asia e na Africa. A Inglater- ra era a maior detentora de ca- pitais, e a Franca contava com. importantes meios de pressio, nascidos de seu poder econd- mico sobre varios Estados. A Ritssia, a Itdlia e o Império Aus- tro-Htingaro nao tinham condi- Ges de combater a hegemonia inglesa ¢ francesa, mas a Ale- manha, desenvolvendo sua in- dustria exportadora, ascendeu rapidamente - e apesar de no possuir um império colonial, langou-se 4 concorréncia com as outras poténcias. - Outra mudanga significativa era a chegada de dois competi- dores de peso ao cenério inter- nacional: os Estados Unidos e 0 Japao em franco progresso eco- némico e dispondo de forte ma- rinha de guerra, comecavam 2 ter voz ativa nas aliangas e con- feréncias. 1914-1918) Essas polarizagées multipli- cavam as manifestacdes de na- cionalismo. Os alemaes que- riam controlar a Africa Central, obter numerosas zonas de in- fluéncia e ainda manter vivo na Europa o espirito do panger- manismo — corrente que pro- punha a criacdo de uma “Gran- de Alemanha” reagrupando todos os povos germanicos: ale~ mes, austriacos, sufgos e fla- mengos. Os franceses, por sua vee, mantinham acesa a chama do revanchismo contra a Ale- manha e nao renunciavam a suas reivindicagdes sobre a Al- sécia e a Lorena. Nos Balcis, os pequenos estados eslavos cris- thos do Império Turco Otoma- no desejavam a independéncia, também motivados pelo nacio- nalismo. Por firm, essas lutas foram fa- vorecidas pela industrializagao, que viabilizava a produgdo de armamentos aperfeigoados, ao Passo que os crescentes efe- tivos militares eram conduzidos por novas concepgées estraté- gicas. Os Grandes Choques Imperiatistas ‘As nages imperialistas pro- curavam consolidar os seus dominios na Africa. Assim, coe- xistiam no continente o impe- rialismo inglés, francés e ale- mio. A Inglaterra dominava 0 Alto Nilo, regio cobigada pela Franga e pivo do incidente de Fachoda. Mas foi a crise do Marrocos, entre alemaes franceses, 0 principal conflito internacional. Na Asia, a Inglaterra indis- punha-se com a Franca por causa da Birmania e com a Ruissia por causa da Pérsia (Ira). ‘A partir de 1864, a China tam- bém sucumbiria ao imperia- liso das grandes potéacias; em conseqiiéncia da ocupagio da China, Japao ¢ Russia en- traram em guerra em 1904- 1905 pelo controle da Man- chéria, Quanto ao Caribe e América Central, os Estados Unidos as- sumiram sozinhos a lideranea. © imperialismo econémico também atingiu o Império Tur- co, cujas finangas passaram a depender das poténcias que in- vestiam em sua minerago, es- pecialmente na exploragao do petréleo. No final do século XIX, 2 Alemanha obteve a concessio da ferrovia Berlim-Bagdé — cujo projeto uniria Bagdé (lraque) Istambul (capital do Império COtomano) e chegaria depois a Berlim. Além de escoar petr6- leo para abastecer a industria alemé, a ferrovia permitiria que ‘os turcos detivessem o avango Tusso. Essa expansio alema no Go!- fo Pérsico partindo do Império Turco Otomano tornou-se uma questo internacional que en- volveu a Inglaterra, a Russia e a Franga e acabou acelerando a eclosdo da Guerra. SISTEMA ANGLO DE ENSINO B ‘VESTIBULARES HAs Relasdes Internacionais de 1871 alga Até 1890, as relagdes internacionais tinham sido dominadas pelo habilidoso Bismarck. O Iin- perio Alemao j4 se transformara numa grande oténcia, e o chanceler Bismarck, para consolidé- Ja, procurou instituir uma nova order europé ‘TTemendo o revanchismo francés, encorejou investimentos alemaes na Alsdcia e na Lorenae procurou estabelecer aliangas mais proveitosas para o seu pais, Assim criou a Liga dos Trés Im- peradores, envolvendo numa mesma diplomacia os impérios Aleméo, Austro-Htingaro e Russo. Mas esse sistema faliu com expansionismo aus- trlaco nos Balcds: a Austria anexou a Bosnia ¢ a Herzegévina, frustrando o nacionalismo eslavo da Sérvia, apoiado por sua vez pelo Império Rus- 0, Assim, 0 avango austrfaco levou 0s russos a se retirarem da Alianca. Em 1882, 0 sistema trans- formou-se em Triplice Alianga com a adesio da Itdlia, que reivindicava a Tunisia ocupada pela Franga. As relagGes internacionais de 1890 a 1914 tam- bém foratn marcadas pela aproximagao diplo- matica entre @ Franca e a Russia. Além disso, 0 fato de a Alemanha ter se tornado uma concor- rente de peso da Inglaterra, nos campos econd- mico e naval, levou esta poténcia a unirse com a Franca; formou-se entre os dois paises Entente Cordiale. A Primeira Crise Marroquina (1905) © Marrocos, territério livre da domi- nagao imperialista, tinha grande potencial econémico. A Franca tratou de multiplicar suas iniciativas na regiao, no aceitando ne- nhuma participagio alema. Opondo-se & ingeréncia francesa, Guilherme Il da Ale- manha (imperador de 1888 a 1918) desem- barcou em Tanger, em margo de 1905, ¢ afirrnou a independéncia do Marrocos e a igualdade de direitos de todas as poténcias sobre o pais. A Franga mobilizou suas for- gas militares. Para evitar uma guerra, e 1906 a Inglaterra promoveu a Conferén de Algeciras; estabeleceu-se que os pri légios das poténcias no Marrocos serfam reservados por meio da politica de “portas abertas” a todas as nagoes. A Franca e a Alemanha também assumiram um com- promisso semelhante no Congo. Neste periodo a Inglaterra consotidou sua alianga com a Franga e com a Rtissia; em 1907, formaram a Triplice Entente. A Segunda Crise Marroquina (1911) Novos incidentes voltaram a ocorrer no Mar- rocos. A Alemanha acusou a Franga de desres- peitar as decisGes da Conferéncia de Algeciras e enviou um barco de guerra para ocupar © porto marroquino de Agadir. A fim de se evitar um conflito, em novembro de 1911 os beligerantes firmaram um acordo em. Londres, concedendo liberdade de agao a Franca no Marrocos desde que, em troca, abrisse mao de seus territérios no Congo. No final, isso exa- cerbou o sentimento nacionalista tanto na Fran- ga quanto na Alemanha, pois as nagdes conside- Param a compensagdo insuficiente. Tensdo Balednica (1908-1909) A penfnsula Balcdnica agrupava varias nagdes e etnias sob o dominio dos impérios Austriaco e Turco. A Sérvia era um estado eslavo indepen- dente, e pretendia formar com a Bésnia, Heree- govina, Crodcia, Eslovénia e Montenegro uma unidade, a Iugoslavia. Esse projeto sérvio contava, com 0 apoio do Império Russo, mentor do pa- neslavismo. Em 1908 eclodia a Revolugo dos Jovens Tur- cos no Império Otomano. Liderada por jovens Oficiais do exército, pretendia reorganizar e mo- dernizar o pais a fim de'limitar as influéncias das grandes poténcias. Temendo esse movimento, a Bulgaria proclamou sua independéncia. A Austria, ‘por sua vez, reafirmou 0 seu dominio sobre a Bés- nia e a Herzegovina, contando com apoio alemao. Bauniasuror tei) Rats M ELLY SISTEMA ANGLO DE ENSINO Em conseqtigncia, entre 1912 e 1913 ocorre- ram a Primeira e a Segunda Guerra Balcanica, Os turcos sairam dela derrotados, e as terras na peninsula Balcdnica foram repartidas, acirrando a disputas entre as nacionalidades na regio, Os turcos, ademais, acabaram perdendo territorios na Europa, e conseguiram manter apenas uma esireita faixa de terra no continente, A fragilida- de do Império Turco preocupava a Alemanha i teressada em manté-lo para preservar a estrada Ge ferro Berlim-Bagdé. @ A Caminho de uma Guerra Geral No Marrocos e na peninsula Balcdnica as cri- ses tomaram precdria a situagdo de paz. O arma- mentismo e a expansao do nacionalismo acirra- ‘vam as tensdes. As grandes nacdes preparavam- se para um conflito generalizado, aperfeigoando seus armamentos, multiplicando seus efetivos militares e estreitando os acordos de cooperagao. A Crise de Julho de 1914 Os dirigentes do Império Austro-Htingaro pre- tendiam neutralizar o nacionalismo sérvio na pe- ninsula Baleanica. Mas no dia 28 de junho de 1914, na cidade de Sarajevo, na Bésnia, o arqui- duque herdeiro do Império Austro-Htingaro, Francisco Ferdinando (1863-1914), foi assassi- nado. O crime foi cometido com a aparente cum- plicidade de oficiais da Sérvia pertencentes a uma faccao nacionalista denominada Mao Negra. Francisco José, imperador da Austria, aprovei tou-se do incidente para tentar eliminar a in- fluéncia sérvia nos Balcas. Com o apoio da Alemanha, a Austria dirigiu 4 Sérvia um ultimato. Mas como a Franca e a Russia deram seu apoio a Sérvia, o Impé- rio Austro-Hingaro sus- pendeu as negociagdes e mobilizou suas tropas, No dia 28 de julho, o Im- pério Austro-Hungaro in- vadiu a Sérvia, e a engrena- gem das aliancas foi acic nada, anunciando a imi néncia da guerra. A Russia mobilizou suas tropas, ea Alemanha declarou-lhe guerra. No mesmo dia foi » decretada na Franga a mo- " Dilizagao geral contra a Ale- iha. Os ingleses, que » inicialmente muttiplicavam + ollados as tentativas de negociacao, ante a violagdo da neutralidade belga pelos alem&es também decla- raram guerra 4 Alemanha. iO CONFLITO A Guerra de Movimento (1914) No infcio da guerra, Franca, Russia, Inglaterra, Sérvia e Bélgica estavam unidas contra a Ale- manha e o Império Austro-Hiingaro. A Itdlia, contrariando sua posigao na Triplice Alienca, proclamava-se neutra, embora reivindicasse 4 Austria territérios fronteirigos. A Entente mostrava-se superior por contar com nagdes ricas em matérias-primas e com acesso &s grandes rotas maritimas. Porém, os alemées e os austriacos haviam se preparado melhor para a guerra. Foi a Alemanha que as- sumiu a lideranga das operacdes militares. ‘Desde a Alianca Franco-Russa, os alemies ha- viam elaborado um plano de luta em duas fren- tes: 0 Plano Schlieffen previa um ataque-surpre- sa através da Bélgica, que lhe permitiria vencer 0 exército francés em seis semanas para depois enfrentar os russos — eis um indicio de que as na- gOes acreditavam que uma guerra de movi- mento se decidiria rapidamente. Apesar do rapido avango que os levou até as portas de Paris, em setembro os alemaes foram Gerrotados na batalha do Mame. O elevado nui- mero de mortos e 0 esgotamento dos exércitos acabaram levando & estabilizacao da frente. iat ei > PosigSes do exérclto alemio > contra-cfensiva francesa Limite do avango alemao am 1918 — Frente estabelacida a partir de 1914 SISTEMA ANGLO DE ENSINO ‘VESTIULARES 27 A Guerra de Posigéio ou Guerra de Trincheira (1915 a 1918) No fim de 1914, nenhum exército fora subme- tido; contrariando as previsdes, a guerra dava si- nais de que ia ser muito longa. Os combates assu- miram uma nova forma, que colocaria em jogo todas as forgas econémicas e demograficas dos beligerantes: os exércitos passavam a fixar-se em trincheiras. Os soldados das primeiras linhas viviam em cima de tensio, em condigées higiénicas deplo- rveis. Foram introduzidas novas armas - como canhGes de grosso calibre (380 a 420mm), mortei- Tos, g4s asfixiante e venenoso, langa-chamas, além de granadas, baionetas, fuzis e metralhado- ras. Também foram utilizados aviago e dirigiveis (zepelins). A importancia dos armamentos na guerra da era industrial levou as nagdes a uma verdadeira mobilizagao. A mo-de-obra feminina veio suprir a falta de trabalhadores devida a am- pliagio do alistamento e a maxima utilizagao dos Teservistas ~ os paises da Entente recorreram até as tropas coloniais. Desde 1914, os aliados haviam iniciado 0 blo- queio maritimo 4 Alemanha. Em 1915, os alemaes declararam as Ihas Briténicas como zona de guerra. A Inglaterra respondeu estendendo o Dioqueio a totalidade das mercadorias destinadas a0 inimigo. Em 1915, a Itdlia entrou na guerra, ao lado da’ Entente (logo chamada de bloco dos Aliados), vi- sando conquistar territérios na Austria. No mes- ‘mo ano, a Turquia entrou na guerra ao lado da Alemanha e da Austria, consolidando 0 bloco das- Poténcias Centrais. Em 1916, ocorreram as mais violentas batalhas do conflito, em ‘Verdun, na Franca, quando franceses e alemiies,'a0 longo’ de meses, lancaram sucessivos atdques. A bata- Jha resultou em mais de um mill de baixas, én-. tre mortos e feridos, sem que houvesse conquis- tas tervitoriais signiticativas. A partir de 1917, o prolongamento da gueria ° | passou a afetar duramente o moral dos comba-. tentes, Renasciam entio as correntes pacifistas. Na Sufca, alguns socialistas, entre os quais o rus- so Lénin, propunham que todo esforgo de paz deveria voltar-se para a construcdo da revolugao proletéria: alegava que “a luta pela paz 6 apenas @ tuta pela realizagao do socialismo”; combatentes e trabalhadores deveriam, segundo Lénin, exigir uma paz sem anexagGes nem indenizacdes. A es- sas tendéncias pacifistas somavam-se as propos tas dos sindicalistas na Franca, na Alemanha e, sobretudo, na Rtissia, onde o regime czarista de- clinava em virtude da corrupeao e da ineficiéncia: SISTEMA ANGLO DE ENSINO 2 minado pelas oposigées revolucionérias, o regi- me mostrava-se incapaz de rhanter a ado militar. i EB O Desentace (1917-1918) © comando militar alemao, encabegado por Erich von Ludendorff, dispés que seria atacado q todo navio inimigo ou neutro que trafegasse nu- | ‘ma determinada zona de guerra ao'longo do lito- ral da Europa Ocidental. Esperava que em seis meses a guerra submarina provocaria a capitula- Go inglesa, em conseqiiéncia da paralisagao de sua economia. Essa politica feria diretamente os interesses dos Estados Unidos, cujo presidente, | Woodrow Wilson (1856-1924, mandato presi- ' dencial de 1913 a 1921), estivera até entdo inclina- doa uma estrita neutralidade. A opinitio ptiblica norte-americana, que simpa- tizava com a Franga e com a Inglaterra, e a pres- so dos bancos, dos quais as poténcias da Entente eram devedoras, levaram Wilson a rever a posigaio dos Estados Unidos. Sob o pretexto de que navios de guerra americanos haviam’ sid@ atacados,’os Estados Unidos intervieram nos conflitos em abril de 1917, e Wilson dew a sua patticipatao ¢ sentido ., de uma cruzada pl Iberia va Semele . Entretanto, sia.a préssdo.revolcionaria socialista:¢ losamenté; deciditam ¢colaborar para'a precipitagao da revolugao- Russis f cllitando o rétorhd de Lénin cio de novembro de 1917, os 5 bolehevistés toma- ) eriftacied ei novo governo & seu Proje beleceu-négociagdes ‘imediatas: cont misticio em detembro de.1917 &, = trais passaram:eftao a’réunir Conaigoe ‘para Jangar uma grande ofensiva contra afr comando, dé ‘qpial o genéral Fer tornou comandante~ seri chefe.) des Indo de soldados cesombarearan na Franga a8 gurando a superioridade dos aliados; Nese ma 5 esulta Sal6nica triunfava na Grécia. As poténcias centrais recuaram sensivelmen- te, e a contra-ofensiva aliada progrediu num ritmo regular: o norte da Franga e a Bélgica Oci- dental foram reocupados, e um exército franco- sérvio partiu da Salénica, penetrando pela Mace- dénia. A desagregacdo interna e os movimentos revolucionarios socialistas, contrarios 4 guerra, acelerou a queda das poténcias centrais ameaga- das pela ofensiva aliada. A Bulgaria foi a primeira a solicitar um armis- ‘Temendo uma ofensiva em Constantinopla, a Turquia negociou a paz com a Inglaterra, em outubro. O Império Austro-Hingaro, em conse qiiéncia de suas derrotas militares, concedeu as minorias o direito de afirmarem suas naciona- lidades: a Republica da Tchecoslovaquia foi pro- clamada em Praga; em um Consetho Nacional anunciava sua intengao de constituir com sérvios, croatas e eslovenos tum Estado iugoslavo. A Hun- gria separou-se da Austria, Carlos I da Austria esperava conservar seu trono, mas retirou-se do poder no final de outubro; era o fim da dinastia Habsburgo. Em 3 de novembro, os austriacos aceitaram o armisticio. Na Alemanha, a situacdo também era insusten- tavel. Greves e revoltas ganharam 0s portos € os grandes centros industriais, atingindo também 0 exército, A agitapao revoluciondria levou & abdi- cacao do imperador Gui- | lherme I e & proclamagao |” da Republica. O novo gover- no assinou o Armisticio de Compiégne em 11 de no- vembro de 1918. Terminava assim a Primeira Guerra Mundial. = A PAZ DE VERSALHES (1919) ‘A Conferéncia de Paz, que reuniw 32 paises, realizou-se em Paris em janeiro de 1919, Os palses vencidos no par- ticiparam; foram somente convocados para assinar os tratados elaborados pelos vencedores. Embora hou- vesse assernbléias plendrias na Conferéncia, as verda- » deiras decisdes foram toma- das pelo Conselho dos Qua- ‘tro: Wilson (Estados Uni- fos), Clemenceau France), loyal George (Inglaterra) € Orlando (Italia). Mar Medtarénee Os principios das negociagdes baseavam-se em Quatorze Pontos de paz propostos pelo pre- sidente Wilson em janeiro de 1918, em mensa- gem ao Congreso dos Estados Unidos. Eles con- denavam a diplomacia secreta; reclamavam a ate- nuagao das barreiras alfandegarias entre os esta- dos, a redugao dos armamentos ¢ a liberdade ab- soluta de navegagao maritima, No que concerne &s conseqiiéncias da guerra, preconizavam um regulamento dos litigios territoriais segundo o principio das nacionalidades. Além disso, expri- miam o desejo de prevenir qualquer conflito fu- turo através de uma Associagao Geral das Na- Ges, a ser criada. Embora houvesse desentendimentos entre os vencedores, estabeleceram-se varios tratados. Além do de Versalhes, com a Alemanha, os ven- cedores assinaram o de Saint-Germain com a Austria, o de Trianon com a Hungria, eo Tratado de Sévres com a Turquia. Em abril de 1919, esta- beleceu-se um acordo sobre a formacdo da Liga das Nagées, incorporado como preambulo ao ‘Tratado de Versalhes. O Tratado de Versaihes estabelecia para a Ale- manha a perda de territérios na Europa, prin- cipalmente a Alsdcia e a Lorena, devolvidos a Franga, e também tima faixa de terra destinada a dar acesso ao mar para a Polénia reconstitufda. (BD Tarvin caadoe pale Atta eo 'SSTEMA ANGLO.OE ENSINO vESTULARES “corredor polongs”, como foi chamado, sepa- rava a Prissia Oriental do resto da Alemanha. ‘Além disso, determinou que a Alemanha perdia as colénias na Asia e Africa, agora divididas en- tre Franga, Inglaterra e Japao (em guerra junto 20s Aliados desde 1915). Os alemies também foram obrigados a reco- nhecer sua responsabilidade no desencadea- mento do conflito e foram obrigados a pagar in- denizagdes aos vencedores. A Alemanha foi obrigada ainda a desarmar-se. © Império Austriaco foi desmembrado. A Hungria tornou-se independente, bem como a ‘Tehecoslovquia. A Sérvia absorveu a Bésnia, a Herzeg6vina, a Eslovénia e a Crodcia. Criava-se entao a lugoslavia (“pais dos eslavos do Sul’). © Império Turco Otomano foi liquidado, pro- clamando-se a Republica na Turquia. Os territé- rios arabes até ento dominados pelos turcos fo- ram divididos entre Franga e Inglaterra. passa a Sr left Portolieme dos grandes A regulamentagao da paz recebeu inimeras criticas, pois varios tratados apresentavam lacu- nas que contrariavam os principios da Liga das Nagées ¢ beneficiavam os grandes paises. A cria- ao de novos estados foi muitas vezes arbitraria — como no caso da Polénia, cujo “corredor” que- brava a unidade territorial alema. Importantes minorias foram reunidas em di- versos paises da Europa central; assim, a Tehe- coslovéguiia passou a agrupar tchecos, eslovacos, alemfes, magiares e polonéses; mals de 14 mi- IhGes de eslavos foram separados em Estados distintos. Outras questSes nic foram definitiva- mente resolvidas: 0 porto de Dantzig era recla- mado pelos poloneses e alemaes; 0 de Memel era reivindicado pelos alemaes e lituanos; o de Flume, pelos italianos e iugoslavos, Alguns ven- cedores ~ como os romenos e italianos — safram insatisfeitos das negociagées. A situagao mais grave, porém, era a dos ven- cidos, que foram julgados e obrigados a aceitar 9s acordos sem que lhes fosse dado 0 direito, de defesa. Os alemées protestaram contra as con- digdes que Ihes foram reservadas e, a seus olhos, 9 Tratado de Versalhes nao foi mais que uma imposigao. & OS EFEITOS DA GUERRA A Europa até entdo no conhecera uma guer- ra tao longa e desastrosa. O saldo da Primeira Guerra Mundial foram mais de nove milhdes de mortos e um grande ntimero de mutilados e viti- mas das epidemias e da fome que sucederam os conilitos. A Franca e a Alemanha perderam um quinto dos homens de 20 a 40 anos, o que obri- gou a industria a empregar cada vez mais mu- lheres, acelerando o movimento de emancipagao feminina. Regides inteiras da Europa foram destruidas, como a peninsula BalcAnica, a Polénia Oriental, 0 ocidente russo, 0 nordeste da Franga e a Bélgica, que tiveram seus campos arrasados, suas estra- das, instalages portudrias e algumas cidades completamente destruidas. As dividas externas cresceram, ¢ a inflacao provocou a depreciagao de varias moedas (libra: 27%; franco: 63%; marco: 98%), empobrecendo muito a populagdo. Em conseqiténcia, no longo prazo, em varios paises da Europa do pés-querra’ ‘ocapitalismo liberal e a democracia foram substi- tuidos pelo intervencionismo econémico e por governos totalitdrios e militaristas, cujas politicas culminaram na eclosao da Segunda Guerra Mun- dial. Por outro lado, muitos paises acumularam ri- quezas: Canada, Australia, Brasil, México e Ar- gentina desenvolveram suas primeiras indistrias; © Japao ampliou suas indistrias metalirgicas, téxteis e quimicas; e os Estados Unidos converte- rarn-se na principal poténcia econémica mundial. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 30 ‘VESTISULARES bbicat El ANTECEDENTES No fim do século XIX, a Riis- sia compreendia um vasto império; com 67 milhGes de ha- bitantes unidos pela lingua es- lava e religiao ortodoxa. Algu- mas de suas provincias ext nas, como a Pol6nia, a Lituania ¢ a Bessarabia (Moldova), con- servavam suas linguas e reli- gides, recusando a russificagao, ou seja, a submisséo ao império ‘identificado pela religizio orto- ‘doxa e lingua eslava russa. O pais era um dos mais atra- sados da Europa; conservava tragos sociais e econémicos feu- dais. Sua economia era essen- cialmente agricola; predomina- va a grande propriedade onde trabalhava a submetida massa camponesa. A indiistria se en- contrava em estado embriona- rie, concentrando uma massa de trabalhadores empobrecidos. No ambito politico, persistia um govern que sequia os moldes do Absolutismo: tratava-se do czarismo, em que o imperador (o czar), santificado pela Igreja 2, concentrava todos as poderes, impondo ao pais um Tegime de opressio. perfil do pais comegou a se alterar com o czar Alexandre [i (1855-1881). Atento para o pro- cesso de industrializa¢do na Eu- ropa, introduziu um conjunto le reformas que desencadea- Tam mudangas na nagao, Abo- a servidao, eliminando as Gividas dos mujiques (campo- Heses) e assegurando-lhes di- A Revolugae Russa reitos juridicos, e realizou tam- bém reformas administrativas. Ademais, construiu estradas de ferro e criou indimeras manufa- turas e pequenas industrias. As reformas implementadas por Alexandre Il garantiam ainda mais liberdade as provincias ex- ternas e as minorias nacionais. Mas um atentado contra 0 czar levou ao fechamento do re- gime e & supressao das refor- mas. Em conseqiiéncia desse tecuo, formou-se na Russia uma ampla oposicéo: os libe- rais desejavam um regime constitucional que assegurasse liberdade econdmica e direito a propriedade; os anarquistas defendiam a destruigao da so- ciedade burguesa por meio da ago direta. Junto com os blan- quistas, partidérios da mesma ideologia, formavam 0 Partido Socialista Revolucionario, que pregava a revolu¢do politica fundada na unio entre traba- Ihadores, camponeses ¢ intelec- tuais. Os marxistas acredita- vam que a luta de classes deve- via destruir a sociedade burgue- $a para, depois da fase revolu-. cionaria, impor a ditadura do proletariado. Estes iltimos fa- ziam parte do Partido Social- Democrata, que a partir de 1903 dividiu-se em duas facgdes: os mencheviques defendiam a instalago do socialismo apenas apés a consolidagao do capita- lismo; j4 os bolcheviques pre- gavam a aceleracéio do proces- So, isto é, a imediata implanta- 0 do socialismo pela ago re- volucionéria. Os bolcheviques eram liderados por Vladimir Iyitch Ulianoy, mais conhecido por seu apelido, Lénin (1870- 1924). Apés 0 atentado contra Ale- xandre Il, seu sucessor, Alexan- dre Ill (1881-1894), inaugurou uma politica de repressio con- tra o terrorismo. Censurou os jornais, as bibliotecas e as uni- versidades, e reprimiu brutal- mente os judeus, lituanos e po- loneses catdlicos que resistiam & russificagao. O novo czar tam- bém acelerou o processo de ex- pansio territorial no Céucaso, no Tarquestéo e na Manchiria. No fim do século XIX, capita- listas estrangeiros comegaram a investir na Russia, precisa- mente em centros industriais sideringicos e petroliferos uni- dos por grandes estradas de ferro ~ como a Transcaspiana (1898) e a Transiberiana (1904). A consegiiéncia desse avango industrial foi o aumento no ni- mero de operérios, entre os quais 0 movimento revolucio- nario recrutaria seus militantes. EIA Crise do Regime Czarista czar Alexandre III, cujo go- verno fora marcado pelo’ au- toritarismo, foi sucedido por Nicolau II (1894-1917); tam- bém era autoritério, porém era mais fraco, e ficou desacredi- tado em razdo dos escaindaios da corte associados ao aventu- reiro Rasputin. RSTEMA ANGLO DE ENSINO 31 VESTBULARES Com a inteng&o de fortalecer o regime ¢ enfra- quecer a crescente oposicao revolucionaria, 0 czar levou a Russia 4 expansao territorial para 0 Pacifico, a qual cul minou na conquista do porto Arthur (Manchiria). No entanto, essa regiao era também ambicionada pelo Japao, o que tornava inevitavel a guerra entre os dois paises. Sobre a Guerra Russo-japonesa (1904-1905), o Ider menchevique Plekhanov afirmou: “Se o czar vencer o Japao, o povo russo sera vencido”, indi- cando que a Unica esperanca para o regime im: popular do czar era a vitdria, com que consegui- Tia conter seu descrédito, Mas a guerra, além de agravar a situacéo econémica da Riissia, termi- nou com a derrota russa, a qual denunciava a in- capacidade governamental. Em conseqiiéncia, a populagdo se mobilizou nas cidades: em 22 de ja- neiro de 1905, a populagéo de Sao Petersburgo, capital do pais, fez uma grande manifestagio. O protesto foi tao violentamente reprimido - da manifestagdo sairam mortas mais de novecentas pessoas - que 0 episddio ficou conhecido como domingo vermelho, ou domingo sangrento. Eclodiram também revoltas camponesas, greves e motins no exéreito e na marinha de guerra, co- mo a revolta dos marinheiros a bord do encou- ragado Potemkin. ‘A amplitude do movimento, conhecido como Revolucdo de 1905, obrigou o czar a aceitar que fosse promulgada uma Constituigao, eleita uma assembléia e garantidas liberdades civis. Assim, foi formada a Duma (assembléia legislativa), que votaria as leis ¢ 0 orgamento, mas nao teria poder para alterar o quadro de ministros; ao czar cabe- Ham os direitos de veto e de dissolugao. Os constitucional-democratas (conhecidos como K-D, liberais partidarios do parlamentarismo) saf- ram vencedores das primeiras eleigdes. Porém, com a retomada da economia, o regime absolutis- ta czarista foi temporariamente salvo. O czar dis- solveu a Duma burguesa a fim de favorecer os con- servadores que colaboravam com seu governo. Essa manobra governamental acentuou as di- vergéncias entre os mencheviques e os holchevi- ques. Os primeiros acreditavam na durabilidade do regime e em sua evolugdo para uma demo- cracia politica que resultaria em mudanga social. Para Lenin, a crise 1905 confirmara que somente por meio da ago revolucionéria seria instaurado 0 socialismo. i A REVOLUGAO DE 1917 APrimeira Guerra Mundial precipitou a queda do czarismo. O Império Russo, membro da Tri- plice Entente, entrou no conflito com um exér- cito mal armado e mal dirigido e sofreu graves derrotas. Em conseqiléncia o governo, enfra- quecido, nao conseguia deter a inflagao e o desa- bastecimento, que arrasavam o pafs aumentando a pobreza e provocando a fome. @ A Revolusdio Burguesa de Fevereiro No infcio de 1917, as dificuldades provocaram uma greve geral em Petrogrado (novo nome da capital, So Petersburgo, desde 1914), e os sol- dados recusaram-se a marchar contra a multi- do. No dia 15 de marco 1917 (fevereiro, no ca- Jendario russo), colocando-se a frente das mas- sas revoltadas, a burguesia depds o czar e insti- tuju uma Reptiblica Liberal. O novo governo liberal era liderado inicial- mente pelo principe Lvov, que em julho foi subs- tituido por Alexander Kerensky (1881-1970). ‘No entanto, os acordos diplomaticos do governo anterior foram mantidos e a Russia nao saiu da guerra. Para as camadas baixas empobrecidas, nada rhudara. Os boicheviques e membros do antigo partido social-democrata logo constataram que 0 go- verno liberal era incompetente. Para combaté-lo, Lénin apresentou um programa de reformas denominado Teses de Abril, que, resumida- mente, propunha “paz, terra e pao”; ou seja, res- tabelecimento da paz, ocupagao das-terras pelos camponeses e combate a fome. Além disso, os bolcheviques propunham a transferéncia do po- der para os sovietes (conselhos de trabalhado- res), a nacionalizagao dos bancos e o controle operario sobre as fabricas. Por meio de uma campanba ativa através do Jornal bolchevique Pravda, Lénin mobilizou as massas. Em jutho de 1917, os bolcheviques con- tavam com mais de 200.000 adeptos e recebiar ainda 0 apoio dos marinheiros e dos soldados. Enquanto isso, a preparagiio metédica dos bol- cheviques para a tomada do poder passou a contar com a ago de Leon Bronstein, apelidado de Trotski (1879-1940), veterano da revolugao de 1905 e presidente do soviete de Petrogrado. Alia- do a Lénin, preparou os bolcheviques para con- verté-los na Guarda Vermelha, milicia revolu- ciondria que recrutava trabalhadores. A Revoluséio Bolchevique de Outubro Lénin liderou a ago decisiva na noite de 6 de novembro (23 de outubro no calendario russo), quando a Guarda Vermelha, sob 0 comando do comité militar revolucionario, tomou 9s pontos SISTEMA ANGLO DE ENSINO 32 ‘VESTIBULARES. i i estratégicos da cidade de Petrogrado. © cruza- dor Aurora bombardeou 0 Palécio de Inverno, Kerensky, abandonado por suas, tropas, teve de fugir. A Repéblica Liberal desaparecia, e surgia no seu lugar a Repéblica Socialista Soviética. Os sovietes, reunidos em congresso, confiaram 0 poder a um Consellio dos Comissarios do Povo, presiido por Lénin e com Trotski nos Negécios Estrangeiros e Joseph Djugachvili, conhecido como Stalin (1879-1953), nos Negécios Internos. Foi Lénin quem conduziu definitivamente 0 pais para 9 socialismo. Em nome dos interesses da revolueao, assumiu © governo em novembro de 1917, procurando satisfazer de imediato as exigéncias populares. Com esse objetivo, por meio de decretos aboliu a grande propriedade ternitorial e doou terras para os camponeses; en- tregou o controle das fabricas aos operarios e concedeu liberdade para as minorias nacionais. Em 3 de margo de 1918, Lénin assinou a Paz de Brest-Litovsk com a Alemanha, retirando 0 pais da guerra. Em troca da paz, a Russia reco- nheceu @ autonomia da Finlandia e dos paises blticos, além de ceder territérios a Poldnia. Ei A RUSSIA DE LENIN (1917-1924) Depois de colocar 6 partido bolchevista no po- der e de dar “terra aos camponeses, fabricas 205 operdrios e paz para os povos’, Lénin se empe- nhow em reerguer a producao. Porém, sua imen- sa obra de reorganizacao foi retardada pelas hos- tilidades externas e por freqiientes sublevagdes internas em oposicao ao novo poder, A Guerra Civil (1919-1921) Antigos oficiais czaristas, latifundiérios e ban- queires, denominados “russos brancos”, cons- tituiram o exército contre-revolucionario. Temen- do a propagagao do bolchevismo, alguns pafses capitalistas da Entente apoiaram’a ago militar com 0 propésito de eliminar a revohucdo: os japo- neses operavam na Sibéria, tropas francesas e in- glesas, no mar Branco e no mar Negro. Entretan- to, os inimigos do regime soviético nao contavam com o apoio da populagao russa e também nao possuiam tanta unidade quanto o Exército Ver- melho, originado da Guarda Vermelha revolu- ciondria e composto por trés milhées de homens. Em 1919 foi criado o Komintern, no Ambito da Terceira Intemnacional, com o objetivo de ex- pandir a revolugao comunista por todo o mundo. Em meio ao conflito, Lenin aplicou sua polftica de defesa revolucionaria, inaugurando o comu- nismo de guerra (1919-1921). Todos os cereais foram requisitados pelo Estado, nacionalizaram- se as industrias, os bancos, as fAbricas e 0 co- meércio interior e exterior. As manifestagdes de resisténcia foram violentamente reprimidas pela agao da policia politica (conhecida como tcheca). ‘Apés indmeras derrotas, ingleses e franceses re- tiraram seus homens e os contra-revoluciondrios foram definitivamente derrotados. No entanto, a produgo industrial e agricola era insuficiente, gerando uma situagao de privagdes. Em meio crise econdmica, a moeda se deteriorava e a pro- ducdo se retraia. Isso impossibilitou a aplicacao imediata de um comunismo integral, como $0- nhavam certos comités operérios, e a insatisfa- Gao gerou novas sublevagées, como o motim dos marinheiros de Kronstadt, que foi reprimido. A estubilizaséo do regime (1921-1924) Dadas as dificuldades que o regime vinha enfrentando, em 1921 Lénin foi obrigado a ado- tar uma politica mais flexivel. Em margo, apro- veitando-se do fim da guerra civil, Lénin inau- gurou a Nova Politica Econémica (NEP) dis- pondo que deveria “abandonar a construgdo imediata do sociatismo”. Com isso, passou-se a tolerar na Russia um “capitalismo dirigido” e controlado. O Estado nao requisitaria mais as co- Iheitas: os camponeses pagariam um imposto e poderiam vender a safra. Embora as terras fos- sem proclamadas propriedades do Estado, reser- vava-se sua utilizago aos camponeses. © comér- cio conheceu uma ampla liberdade, e empresas com menos de vinte trabalhadores passaram a ter o direito de funcionar sem controles. Do ponto de vista econémico, a NEP obteve éxito, pois favoreceu o crescimento das rendas agricolas e industriais. Por outro lado, abriu uma brecha para o sungimento de uma categoria de intermediarios que enriqueceram com facilidade, mostrando-se pouco dispostos a abragar 0 so- cialismo. Consolidada a revolucao, a Russia estava pron- ta para acionar as instituigdes que a transfor- mariam em uma grande potencia. Seu reingresso no cenario internacional foi consagrado em mar- go de 1921, pela assinatura de um acordo comer- cial com a Inglaterra ~ logo imitada pela maioria dos pafses europeus. A Rissia rompia seu isolamento e aproxima- va-se dos poves nZo-russos do antigo império czarista: a Ucrania e regides do Céucaso e da Asia Central uniram-se em uma federaco e jun- taram-se a Russia Soviética. Em 1922, fortnava-se a Uniao das Republicas Socialistas Sovié- ticas (URSS). SSTEMA ANGLO DE ENSINO ‘VESTBULARES. mn A Sucessdo de Lénin Lénin morreu em 21 de janeiro de 1924, e a sucessiio foi disputada por membros influentes do partido. O primeiro deles era Stalin, antigo secretario do Partido Comunista. Contrariando a opinido de muitos revoliicionérios, Stalin acredi- tava que 0 socialismo deveria solidificar-se na URSS antes de se estender para o exterior, J4 seu opositor e também postulante ao cargo de Lénin, Trotski, pregava a expansao dos ideais revelucio- narios pela Europa valendo-se da tese da “revo- lugéio permanente” contra o capitalismo. Em dezembro de 1927, em razo da crescente influéncia de Stalin, Trotski foi exclufdo do parti- do. Fugin para a Turquia e depois para 0 México, onde a mando de Stalin foi assassinado, em 1940. Stalin afastou outros adversdrios da mesma for- ma, e se tornou o nico dirigente da Uniao So- viética, : § © GOVERNO DE STALIN (1924-1953) Quando Stalin assumiu poder, a Ruissia atra- vessava um perfodo de incertezas e conflitos in- ternos. Os partidarios de Trotski foram fuzilados ou exilados. As minorias nacionais (poves néo- russos) foram forcadas a se incorporar @ URSS. No poder, Stalin, resgatou algumas caracteris- ticas do czarismo, Como o autoritarismo e a mili- tarizagdo. Aproveitando-se do assassinato de um importante chefe bolchevista, Stalin desencadeou os expurgos, caracterizado por uma implacdvel onda de perseguigao e eliminagao de seus adver- sérios: a policia fez prises em massa, e foi movi- da uma série de processos que legitimavam fuzi- lamentos ou a deportagao dos adversérios para 0s gulags, (campos de concentracao) no norte da Sibéria. . A planificagéo econémica ANEDP, que possibilitara a restauragao da eco- nomia russa apés a guerre civil, se tomnou insu- ficiente para a meta de Stalin de implantacao total do socialismo. Para substituf-la, foram elaborados os Planos Qiiinqiienais, concretizando o plahe- jamento econémico tipico cle uma economia diri- «ida pelo estado. Os primeiros planos tinham co- mo objetivo desenvolver sucessivamente a pro- dugdo de energia, as grandes ind as indiistrias de transformacao:’ 0 Primeiro Plano (de 1928 a 1932) voltava-se & produgio industrial. © setor privado desapare- eu, em proveito do Estado. Um tergo dos inves- timentos foi aplicado na eletrificagao no desen- volvimento da indiistria pesada: em cinco anos, a produgio metahirgica foi triplicada; a de eletrici- dade, quintuplicada. ‘ No setor agricola, a planificago enfrentou al- gumas dificuldades: foi necessario, de infcio, re- gulamentar a propriedade da terra. A NEP per- mitia ao camponés a posse dos bens por ele pro- duzidos, enquanto o plano de coletivizacao etabo- rado por Stalin propunha a formagao de kolkhozes (cooperatives controladas pelos camponeses) ¢ de sovkhozes (cooperativas controladas pelo Estado). Ambas deveriam atingir cotas de produgao pré- estabelecidas, a fim’de tornarem a agricultura au- to-suficiente. © Segundo Plano Qiiingtienal (de 1933 a 1937) pretendia sobretudo desenvolver a indiistria leve. ‘A URSS, por meio do incremento & industria me- talirgica, lancou-se a fabricago sistematica de énibus, tratores ¢ locomotivas. Nesse periodo sur- giu 0 movimento stakhanovista, que consistia em campanhas publicitérias mobilizando os trabalha- dores a empreenderem um esforgo coletivo na rea- lizacao dos projetos produtivistas governamentais. No final, os resultados da economia planificada foram excepcionais. A Unido Soviética foi o unico pais do mundo que néo sofreu a crise de 192: fechada em si mesma, vivendo das trocas inter- nas, néo conheceu nem a superprodugao, nem o desemprego. A capacidade energética cresceu consideravelmente: a producio do carvao ‘tripli- cou, atingindo 165 milhdes de toneladas em 1940; © pals tornou-se 0 segundo produtor mundial de petroleo. Na indtistria metaltingica, passou a ocu- par a terceira posigo no ranking mundial, depois dos Estados Unidos e da Alemanha. vs Mas a economia estatizada criou uma forte tecnocracia, dada ao clientelismo, ao nepotismo eA corrup¢ao. A sociedade hierarquizou-se, cén- cedendo-se privilégios aos funcionérios do alto escalio. Stalin beneficiou-se do éxito da planifica- ao e impés 0 culto & sua perso! », OU Seja, passou a se valer dos meios de comunicagao de massas para exaltar sua posi¢ao de lider e ob- ter 0 apoio popular ao seu governo ditatorial. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 34 ‘VESTISULARES.

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