Tinha ideias tão geniais, que só ele era capaz A cara pintada colorida e na mão um violino, que tinha um som mais ou menos, mas fazia rir E o caso é que no fundo ele era infeliz, parecia-lhe ridículo pintar o seu nariz, era mais ostentativo um salto mortal, e ele queria ser equilibrista e ouvir sobre a pista aplausos ao invés de tantos risos
nunca considerou assumir sua posição,
sem se dar conta que fazia muita gente feliz com seu papel. E que se um dia ele faltasse o circo chegaria ao fim, que nunca seria o mesmo sem o violino. Mas ele seguia empenhado em ser infeliz, olhava a si mesmo como ridículo com o nariz pintado, todavia sonhava com o trapézio, pretendia ser equilibrista, e ouvir sobre a pista aplausos, ao invés de tantos risos.
Aconteceu numa manhã branca de inverno, depois do ensaio,
não pode resistir e subiu no trapézio, e ao ver-se na altura sentiu vertigens e não haviam posto as malhas de segurança, apenas sentiu nada quando caiu, o domador, que regressava foi o primeiro que viu, consegui salvar a vida dela e um mês mais tarde lhe disseram: "Tudo terminou, o circo foi encerrado, não vinham crianças mais às apresentações".
Hoje vive retirado em algum lugar
preso dia e noite à sua cadeira de rodas, parece que terminou aceitando a si mesmo finalmente, inclusive algumas vezes toca o violino. Dez crianças o visitam e o fazem feliz, quando ele os vê chegando de longe, pinta o nariz e quando algum deles zomba com desprezo, ele responde: "Eu seria um miserável, eu seria culpado, se não cumprisse a missão que recebi. Porque ainda que seja um fracasso, minha profissão é palhaço, não me julgue mal, Deus me fez assim".