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DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

01 A Tutela dos Direitos


Difusos e Coletivos

Introdução

Noções Gerais

Noções Iniciais:
Existem certos direitos que não pertencem a um indivíduo especificamente considerado, mas sim à
uma coletividade em geral. Eles não são peculiares a um titular definido, mas abrangem uma
coletividade. São interesses que ultrapassam a individualidade do ser humano, constituindo-se em
verdadeiros interesses de grupos ou de uma coletividade, isto é, sem um titular individualizado. Esses
interesses, chamados difusos, coletivos, supra ou metaindividuais, dizem respeito a anseios ou
mesmo necessidades da coletividade ou grupo de pessoas, relativamente à qualidade de vida, como,
por exemplo, o direito à saúde, à qualidade dos alimentos, à informação correta e atual, à preservação
do meio ambiente, etc. Desta forma, quando uma fábrica polui um rio, não se pode identificar
isoladamente quem foi prejudicado pelo fato, mas zela-se pelo interesse geral da preservação do
ambiente para que todos possam dele usufruir.

Interesses:
O interesse corresponde à uma relação estabelecida entre um indivíduo para um bem, coisa ou algo
que atende à sua necessidade. Esse interesse passa a ser jurídico quando esta relação está protegida
pelo direito.

!
Interesse Primário e Secundário:
O Prof. Arruda Alvim especifica os interesses jurídicos em primários e secundários, nos seguintes
termos: “O interesse primário é aquele diretamente incidente sobre a pretensão do direito material,
ou seja, o que liga o indivíduo a determinado bem da vida. Já o secundário decorre da
impossibilidade de utilização normal pelo indivíduo daquele determinado bem da vida”. O
interesse secundário nada mais seria do que a utilidade propiciada pela via jurisdicional como
meio assecuratório do direito primário, ou seja, da própria pretensão do direito material.

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Interesses Difusos e Coletivos:
São os interesses afetos a vários sujeitos não considerados individualmente, mas sim por sua
qualidade de membro de comunidades ou grupos. Além destes há também os interesses individuais
homogêneos. O Código de Defesa do Consumidor é claro, definindo o que se deva entender por
interesses ou direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos (art. 81, I, II e III).

Art. 81 - A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida
em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único - A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os


transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas
por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os


transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas
ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem


comum.

INTERESSES
OBJETO INDIVISÍVEL OBJETO DIVISÍVEL
interesses difusos ou coletivos interesses individuais homogêneos

I - Interesses Difusos:
Apresentam as seguintes características:
a) ligados por um fato comum (ex.: dano ao meio ambiente);
b) os sujeitos são indeterminados;
c) objeto de natureza indivisível.

II - Interesses Coletivos:
Apresentam as seguintes características:
a) ligados por uma relação jurídica, podendo ou não ser contratual (ex.: relações de consumo);
b) os sujeitos são determinados;
c) objeto de natureza indivisível.

III - Interesses Individuais Homogêneos:


Apresentam as seguintes características:
a) ligados por um fato comum (os sujeitos são ligados por uma situação fática);
b) os sujeitos são determinados;
c) o objeto é de natureza divisível.

DIREITOS TITULARIDADE DIVISIBILIDADE ORIGEM


Difusos indetermináveis indivisíveis fato comum
Coletivos determináveis indivisíveis relação jurídica
Individuais homogêneos determináveis divisíveis fato comum

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Histórico
Em virtude da herança nitidamente individualista que norteou o ordenamento jurídico brasileiro a
partir da proclamação da república, fruto do sistema jurídico adotado na Europa, mormente na França
com o denominado Código Civil napoleônico, a implantação da tutela dos interesses difusos e
coletivos constituiu um marco no Direito brasileiro. A defesa de direitos coletivos e a tutela coletiva
de direitos não é recente no mundo jurídico, como possa aparentar a princípio. No Direito Romano
encontramos a origem das denominadas ações coletivas no “populos”, conhecido como um conjunto
de indivíduos para a consecução de um fim coletivo. A defesa dos interesses coletivos da sociedade
remontam, igualmente, ao Direito Romano, com as denominadas “actiones populares”. Estas tinham
por finalidade a defesa do direito do próprio povo. Todavia, essas ações eram de natureza privada,
cuja legitimidade pertencia a qualquer cidadão romano, defendendo seu próprio interesse e
extraordinariamente o interesse público. Por outro lado, a legitimação de pessoas ou entes próprios
para a defesa dos direitos da sociedade civil surgiu no Direito Escandinavo, criando a figura do
Ombudsman. No Direito Brasileiro, a Lei da Ação Popular, em face da alteração proporcionada pela
Lei n.º 6.513, de 20.12.77, foi o primeiro diploma a proporcionar instrumento processual para a tutela
jurisdicional de direitos difusos em nosso país. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), também
proporcionou a defesa coletiva nos conflitos coletivos trabalhistas, mas de forma incipiente e sem a
visão de transindividualidade de direitos. Em 24.07.85, fruto de trabalho de juristas paulistas de
vanguarda e do Ministério Público do Estado de São Paulo, foi sancionado a Lei n.º 7.347,
denominada Lei da Ação Civil Pública, que, de forma sistematizada, deu origem à defesa em juízo
dos direitos difusos e coletivos relativos ao meio ambiente e ao consumidor. Finalmente, em 05.10.88
foi promulgada nossa atual Carta Magna, a qual positivou os denominados direitos fundamentais de
terceira geração - direitos difusos e coletivos.

A Ação Civil Pública

Noções Gerais

Legislação:
a) Lei 7.347/85: caráter geral;
b) Lei 7.853/89: defesa das pessoas portadoras de deficiência;
c) Lei 7.913/89: danos causados aos investidores no mercado de valores mobiliários;
d) Lei 8.069/90: criança e adolescente;
e) Lei 8.078/90: consumidor (no CDC, a ação civil pública recebeu o nome de ação coletiva);
f) Lei 8.884/94: infrações contra a ordem econômica;
g) art. 129, III da Constituição Federal: previsão da defesa do patrimônio.

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Conceito:
A ação civil pública é o instrumento processual adequado para reprimir ou impedir danos ao meio
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico, protegendo assim os interesses difusos da sociedade.

Ação Civil Pública e Ação Popular:


A ação popular também se presta para a defesa do patrimônio público, da moralidade administrativa,
do meio ambiente e do patrimônio histórico e cultural. Mas, proposta a ação popular, não fica
afastada a via de ação civil pública. Evidentemente, no caso de proposta das duas ações, pode ocorrer
conexão, continência, litispendência e, naturalmente, a coisa julgada.

Art. 1º - Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

I - ao meio ambiente;

II - ao consumidor;

III - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.

V - por infração da ordem econômica.

Responsabilidade do Réu:
O réu, na ação civil pública, têm responsabilidade objetiva pelos danos causados ao meio ambiente,
por isso mesmo o autor não precisa demonstrar culpa ou dolo na sua conduta. Basta evidenciar o
nexo de causalidade entre a ação ou omissão lesiva ao bem protegido no processo.

Competência:
É competente o foro do local do dano. Trata-se de competência de caráter absoluto. Caso o dano
ocorra em duas ou mais comarcas, a ação poderá ser proposta em qualquer uma delas, resolvendo-se
a questão pela prevenção.

Art. 2º - As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo
juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

! Competência absoluta: não pode ser pactuada entre as partes.

"
Competência:

1) Sendo a Ação Civil Pública baseada no Estatuto da Criança e do Adolescente a competência


será do local do dano, ou da ação ou omissão que violou direito fundamental da criança ou do
adolescente.

2) Sendo a Ação Civil Pública fundada no Código de Defesa do Consumidor, a competência será
do local do domicílio do autor (consumidor).

3) Sendo a Ação Civil Pública fundada em improbidade administrativa, a competência será


firmada no local do dano, ou seja, onde o Estado sofreu o prejuízo material, embora a ação possa
ter sido verificada em outras regiões.

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Se, porém, a União, suas autarquias e empresas públicas forem interessadas na condição de autoras,
rés, assistentes ou opoentes, a causa correrá perante os Juízes Federais e o foro será o do Distrito
Federal ou o da Capital do Estado, como determina a Constituição da República (art. 109, I). Sendo o
Estado, suas autarquias ou entidades paraestatais interessadas na causa, mesmo que a lei estadual lhes
dê vara ou juízo privativo na Capital, ainda assim prevalece o foro do local do dano, pois a legislação
estadual de organização judiciária não se sobrepõe à norma processual federal que indicou o foro
para a ação civil pública.

Objeto:
Art. 3º - A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer.

Ação Cautelar:
A ação cautelar será proposta onde há a possibilidade de acontecer o dano.

Art. 4º - Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive, evitar o
dano ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico (vetado).

A Legitimidade e o Ministério Público

Noções Iniciais:
O particular dificilmente terá força ou disposição para enfrentar os poderosos, ou, às vezes, até o
poder público, para fazer valer esses interesses coletivos. Daí a conveniência de se atribuir ao
Ministério Público a guarda jurisdicional dos interesses coletivos ou difusos, sem a exclusão, porém,
da legitimidade de outros órgãos públicos, bem como de particulares e de associações civis,
preocupadas com a matéria. Além do Ministério Público, a ação pode ser proposta pela União, pelos
Estados e Municípios, e também por entidades públicas ou privadas, constituídas há pelo menos um
ano, que tenham por finalidade a proteção desses bens.

Art. 5º - A ação principal e a cautelar poderão ser propostas pelo Ministério Público, pela União,
pelos Estados e Municípios. Poderão também ser propostas por autarquia, empresa pública,
fundação, sociedade de economia mista ou por associação que:

I - esteja constituída há pelo menos um ano, nos termos da lei civil;

II - inclua entre suas finalidades institucionais a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à


ordem econômica, à livre concorrência, ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico;

! Integram esta relação os sindicatos (por construção doutrinária) e as comunidades indígenas


(disposição constitucional).

Atuação do Ministério Público na Ação Civil Pública:


Na ação civil pública, o Ministério Público tem legitimidade presumida, sendo sua presença
obrigatória seja como autor ou como fiscal da lei.

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§ 1º - O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como
fiscal da lei.

§ 2º - Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste artigo
habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.

Desistência:
Em caso de desistência da Ação Civil Pública por qualquer co-legitimado o Ministério Público
assumirá a titularidade ativa.

§ 3º - Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o


Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.

!
Desistência do Ministério Público:
O Ministério Público não pode desistir da Ação Civil Pública de forma infundada, deve sempre
fundamentar o pedido de desistência.

Discordância da Desistência:
Sobre a discordância pelo juiz da desistência do Ministério Público a doutrina não é pacífica:
a) o juiz deverá remeter os autos ao Conselho Superior do Ministério Público (Hugo
Mazzilli);
b) o juiz deverá remeter os autos ao Procurador Geral de Justiça, conforme aplicação
analógica do art. 28 do Código de Processo Penal (Nelson Hungria).

Dispensa de Pré-Constituição:
O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz em virtude do interesse social nas
seguintes hipóteses:
a) se a associação foi constituída a partir do fato;
b) se a associação foi constituída em razão da dimensão da lesão;
c) se a associação sempre atuou de fato na defesa daquele interesse.

§ 4º - O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto
interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem
jurídico a ser protegido.

Litisconsórcio:
Na ação civil pública pode haver litisconsórcio tanto entre os legitimados ativos quanto entre os
órgãos do Ministério Público (Ministério Público Federal e ministérios públicos estaduais). O
litisconsórcio pode ser ulterior ou possuir natureza de assistente litisconsorcial.

! Litisconsórcio ulterior " Quando o co-legitimado ao ingressar na ação, alterar o pedido inicial.
Assistência litisconsorcial " Quando o ingresso do co-legitimado não alterar o pedido inicial.

§ 5º - Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito


Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.

! Para Vicente Greco Filho não é possível haver o litisconsórcio entre o Ministério Público Federal
e o Ministério Público Estadual sem ferir o sistema federativo.

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Compromisso de Ajustamento:
O compromisso de ajustamento é um acordo (transação) realizado entre as partes. Somente podem
firmar o compromisso de ajustamento de um lado o Ministério Público ou os órgãos públicos
legitimados (as associações e fundações privadas não podem) e de outro o causador do dano que se
compromete a fazer um acordo dentro dos seus limites. Esta transação terá natureza jurídica de título
executivo extrajudicial.

§ 6.º - Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento
de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo
extrajudicial.

! Não é admitido o compromisso de ajustamento nas ações que versem sobre patrimônio público e
improbidade administrativa (Lei 8.129/92).

Provocação do Ministério Público (arts. 6° e 7°):


Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá representar ao Ministério Público, provocando
sua iniciativa. Já, os juízes e tribunais deverão enviar-lhe peças sempre que, no exercício de suas
funções tomarem conhecimento de fato ensejador da ação civil pública.

Art. 6º - Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério
Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil e indicando-
lhe os elementos de convicção.

Art. 7º - Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem conhecimento de fatos que
possam ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as
providências cabíveis.

O Inquérito Civil

Noções Iniciais:
A ação civil pública pode ser precedida por um inquérito civil. O inquérito civil é um procedimento
administrativo, instaurado e presidido pelo Ministério Público. Tem como objetivo apurar a
ocorrência do dano, determinar a sua extensão e autoria para que posteriormente seja promovida a
ação civil pública. O inquérito civil somente poderá ser instaurado pelos órgãos de execução do
Ministério Público (promotores e Procurador Geral de Justiça), porém, qualquer interessado pode
dirigir representação ao Ministério Público para instauração do inquérito civil.

" Não existe o contraditório no inquérito civil e tem como característica a informalidade (não há
um rito determinado e fixo).

Art. 8º - Para instruir a inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes as


certidões e informações que julgar necessárias, a serem fornecidas no prazo de 15 (quinze) dias.

§ 1º - O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de
qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que
assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.

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! O inquérito civil não é indispensável, ou seja, o Ministério Público pode ajuizar a ação civil
pública sem que se tenha instaurado o inquérito civil.

§ 2º - Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou informação,
hipótese em que a ação poderá ser proposta desacompanhada daqueles documentos, cabendo ao
juiz requisitá-los.

Arquivamento:
O arquivamento do inquérito civil se opera quando se torna inviável a promoção da ação civil
pública. A natureza da desistência do inquérito civil é meramente administrativa, tendo por
conseqüência o seu arquivamento. O arquivamento pode ser ordenado em razão de:
a) compromisso de ajustamento de conduta;
b) ausência de legitimidade do Ministério Público;
c) inexistência de provas quanto a ocorrência de lesão ou dano.

Art. 9º - Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da


inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos
do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentalmente.

§ 1º - Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob pena
de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público.

§ 2º - Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja homologada ou rejeitada
a promoção de arquivamento, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou
documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de informação.

Exame de Arquivamento:
Os autos do inquérito civil serão enviados ao Conselho Superior do Ministério Público para que seja
homologada ou não a promoção do arquivamento. O Conselho não homologando a promoção será
designado outro promotor de justiça para dar continuidade às investigações e propor a ação civil
pública.

"
A Lei 7.347/85 estabelece que essa designação é função do Conselho Superior do Ministério
Público, porém de acordo com a Lei Orgânica do Ministério Público (art. 19, III, d) o ato
formal de designação compete ao Procurador Geral de Justiça.

§ 3º - A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do Conselho Superior do


Ministério Público, conforme dispuser o seu Regimento.

§ 4º - Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, designará, desde


logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.

Obrigatoriedade de Informação:
Art. 10 - Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10
(dez) a 1.000 (mil) Obrigações do Tesouro Nacional - OTN, a recusa, o retardamento ou a omissão
de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério
Público.

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O Processo

Noções Iniciais:
O processo da ação civil pública é o ordinário, comum, do Código de Processo Civil, com a
peculiaridade de admitir medida liminar suspensiva da atividade do réu, quando pedida na inicial,
desde que ocorram o “fumus boni iuris” e o “periculum in mora”.

Condenação de Fazer ou Não Fazer:


Art. 11 - Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva,
sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou
compatível, independentemente de requerimento do autor.

Liminar:
O juiz poderá aceitar o pedido de liminar estando presentes a fumaça do bom direito e o perigo da
demora.

Art. 12 - Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão
sujeita a agravo.

§ 1º - A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave lesão à
ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, poderá o Presidente do Tribunal a que competir
o conhecimento do respectivo recurso suspender a execução da liminar, em decisão fundamentada,
da qual caberá agravo para uma das turmas julgadoras, no prazo de 5 (cinco) dias a partir da
publicação do ato.

§ 2º - A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da decisão
favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.

Condenação em Dinheiro:
Especialmente em matéria de danos ambientais, a delimitação do “quantum” que se vai pedir como
reparação é matéria de difícil solução (ex.: qual o valor dos animais e mortos e árvores destruídas em
uma queimada?). Até a pouco tempo atrás o patrimônio ambiental era tido como “res nullius”, mas o
fato é que estes bens vem ganhando valor a cada dia. Nélson Nery recomenda também o critério do
arbitramento e o de fixação da indenização com base no lucro obtido pelo causador do dano.

Art. 13 - Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo
gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o
Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição
dos bens lesados.

Parágrafo único - Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em
estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária.

Art. 14 - O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte.

Art. 15 - Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a
associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual
iniciativa aos demais legitimados.

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Coisa Julgada:
A coisa julgada torna imutável a parte dispositiva da decisão judicial, desde que, se trate de sentença
de mérito não mais sujeita a recurso ordinário, extraordinário ou reexame necessário.

Art. 16 - A sentença civil fará coisa julgada "erga omnes", nos limites da competência territorial do
órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese
em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de
nova prova.

Litigância de Má-Fé:
Art. 17 - Em caso de litigância de má-fé, a danos. (O caput do art. 17 foi suprimido passando o
parágrafo único a constituir o "caput", de acordo com a Lei número 8.078, de 11 de setembro de
1990. Este texto parece-nos truncado. Não saiu, até então, qualquer retificação da lei. Consta do
Projeto, que acreditamos correto, o seguinte texto: "Em caso de litigância de má-fé, a associação
autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados em
honorários advocatícios e ao décuplo das custas sem prejuízo da responsabilidade por perdas e
danos".)

Despesas Processuais:
Art. 18 - Nas ações de que trata esta Lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo
comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.

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Questões de Concursos

01 - (Ministério Público/SP – 81) Qual das alternativas contém afirmativa incorreta a respeito do
compromisso de ajustamento?
( ) a) Exige testemunhas instrumentárias.
( ) b) Tem eficácia de título executivo extrajudicial.
( ) c) Na parte em que comine sanção pecuniária, permite execução por quantia líquida em
caso de descumprimento da obrigação de fazer.
( ) d) Ainda que disponha apenas sobre obrigação de fazer, pode ser executado
independentemente de prévia ação de conhecimento.
( ) e) Não pode ser tomado pelas pessoas jurídicas de direito privado legitimadas à
propositura da ação civil pública.

02 - (Ministério Público/SP – 81) O compromisso de ajustamento é lavrado em autos de inquérito


civil quando tomado
( ) a) pelo Ministério Público e pelas associações constituídas há, pelo menos, um ano.
( ) b) por qualquer dos legitimados à propositura da ação civil pública.
( ) c) pelo Ministério Público e demais órgãos públicos legitimados.
( ) d) pelo Ministério Público, exclusivamente.
( ) e) pelo Munistério Público e pelas associações que incluam entre suas finalidades
institucionais, a proteção ao interesse de que se cuida.

03 - (Ministério Público/SP – 81) Afigurando-se necessária a apuração de causas de contaminação


da água distribuída à população de cidade em que seja morador o promotor de justiça com
atribuição para o inquérito civil e para a ação civil pública correspondentes, é correto dizer-
se que
( ) a) não há impedimento para atuar, porque o interesse que se configura é difuso e sua
abrangência o aproxima do interesse público e impessoal de toda a coletividade.
( ) b) há impedimento para atuar porque se inclui entre os atingidos pelo dano efetivo ou
potencial.
( ) c) há impedimento para atuar, visto possuir interesse pessoal na questão.
( ) d) há impedimento para atuar porque o interesse que se configura é individual
homogêneo.
( ) e) há impedimento para atuar na ação civil pública, mas não no inquérito civil porque a
este não se aplicam as normas que regem as hipóteses de suspeição e impedimento.

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04 - (Ministério Público/SP – 81) Qual das afirmativas é falsa?
( ) a) Arquivado o inquérito civil, nenhum dos co-legitimados poderá propor a ação civil
pública ou coletiva que o promotor de justiça entendeu não devesse ajuizar.
( ) b) Arquivado o inquérito civil, qualquer dos co-legitimados poderá propor a ação civil
pública ou coletiva.
( ) c) Poderão os co-legitimados propor a ação civil pública ou coletiva, ainda que não
surjam novas provas ou novos fundamentos.
( ) d) Poderão os co-legitimados propor a referida ação mesmo que se ache inconcluso o
inquérito civil no qual se apuram os mesmos fatos.
( ) e) Poderão os co-legitimados propor a aludida ação mesmo enquanto o Conselho
Superior do Ministério Público discute a homologação do arquivamento.

05 - (Ministério Público/SP – 81) Com vistas à instrução de inquéritos civil, inclusive no que diz
respeito à realização de perícias, ao Minitério Público é lícito requisitar o apoio
especializado, em âmbito estadual,
( ) a) dos órgãos da administração direta.
( ) b) das universidades públicas.
( ) c) das citadas na alternativa precedente e das entidades de pesquisa técnica e científica
oficiais ou subvencionadas pelo Estado.
( ) d) das empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas.
( ) e) de todos os órgãos e entidades citados nas demais alternativas

06 - (Ministério Público/SP – 82) Assinale a alternativa correta.


( ) a) Qualquer dos co-legitimados à ação civil pública, através de seus organismos
administrativos, pode instaurar o inquérito civil.
( ) b) O inquérito civil é indispensável à propositura da ação civil pública.
( ) c) O inquérito civil só pode ser instaurado e presidido por membro do Ministério Público.
( ) d) O inquérito civil deverá obedecer ao princípio do contraditório, constitucionalmente
assegurado.
( ) e) O arquivamento do inquérito civil instaurado pelo Ministério Público impede que os
co-legitimados possam propor ação civil pública sobre a questão ventilada.

07 - (Ministério Público/RS – 40) Assinale a alternativa correta:


( ) a) Os direitos difusos e os direitos coletivos stricto sensu são acidentalmente coletivos e
de natureza divisível.
( ) b) Os direitos individuais homogêneos são os decorrentes de origem comum e de
natureza indivisível.
( ) c) Os direitos difusos e os direitos coletivos stricto sensu são metaindividuais, de
natureza divisível e pressupõem uma relação jurídica base.
( ) d) Os direitos difusos são transindividuais, de natureza indivisível e não pressupõem uma
relação jurídica base, sendo titulados por pessoas indeterminadas, ligadas por
circunstâncias de fato.
( ) e) Os direitos coletivos stricto sensu são transindividuais, de natureza divisível, de que
sejam titulares grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica base.

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08 - (Ministério Público/MG – 41)
Quando se trata de ação civil pública, consoante a Lei n.º
7.347/85, não é correto afirmar que:
( ) a) a ação civil pública é um dos meios pelos quais o legitimado busca as
responsabilidades pelos danos morais e patrimoniais causados: ao meio ambiente; ao
consumidor; a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico; a qualquer outro interesse difuso e coletivo e por infração da ordem
econômica e da economia popular;
( ) b) na ação civil pública o Ministério Público quando não for parte, atuará
obrigatoriamente como fiscal da lei, assumindo a titularidade ativa quando houver
desistência infundada ou abandono da ação proposta por outro legitimado;
( ) c) pode o juiz fixar multa cominatória nas ações que tenham por objeto obrigação de
fazer ou não fazer, mesmo que não tenha sido requerida pelo autor;
( ) d) proposto o arquivamento do Inquérito Civil pelo Promotor de Justiça e rejeitado pelo
Conselho Superior do Ministério Público, sob o fundamento de existência de justa
causa e de provas suficientes para a propositura de ação civil pública, os autos
retornarão ao Promotor de Justiça para que este proponha a ação no prazo legal;
( ) e) o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, ministrando-lhe
informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil pública, e, por seu turno,
o juiz que no exercício de suas funções tiver conhecimento de fatos que possam dar
ensejo a propositura da ação civil, deverá remeter peças ao Ministério Público para a
adoção das providências cabíveis.

09 - (Ministério Público/RS – 41) Assinale a alternativa INCORRETA.


Na ação civil pública proposta para reparação de dano ambiental
( ) a) Quando o dano ocorrer no território de mais de uma comarca resolve-se a questão da
competência pela prevenção.
( ) b) Havendo conexão entre mais de uma ação, impõe-se a reunião de todas para que seja
proferida sentença uniforme, com o fim de evitar-se decisões conflitantes.
( ) c) O foro competente é o do local do fato onde ocorreu ou deva ocorrer o dano.
( ) d) O juiz pode, liminarmente, determinar a imediata cessação da atividade que coloque
em risco a higidez do meio ambiente.
( ) e) Compete ao Supremo Tribunal Federal julgar conflito de competência, em segundo
grau, envolvendo Tribunal Regional Federal e Tribunal de Justiça estadual.

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Gabarito

01. A 02. D 03. A 04. A 05. E 06. C 07. D 08. D 09. E

Bibliografia

• Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado de Injunção e


Habeas Data
Hely Lopes Meirelles
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000

• Direito Público
Celso Ribeiro Bastos
São Paulo: Editora Saraiva, 1998

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