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Pesquisa e Método - Os Caminhos do Saber- Simão de Miranda

METODOLOGIA CIENTÍFICA
OS CAMINHOS DO SABER
compilação de

SIMÃO DE MIRANDA
Pesquisa e Método - Os Caminhos do Saber- Simão de Miranda

"Há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas vem em seguida outra, em que
se ensina o que não se sabe: isso se chama pesquisar". Roland Barthes

"Toda ciência, comparada à realidade, é primitiva e infantil. Ainda assim, é a


coisa mais preciosa que nós temos". Albert Einstein.
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SUMÁRIO

CAPÍTULO I .................................................................................................................................. 9

A CIÊNCIA ................................................................................................................................... 9
Medo, Misticismo e Ciência ............................................................................................. 9
A evolução da ciência ...................................................................................................... 9
Definição de Ciência ..................................................................................................... 11
As Vantagens do Método Científico .............................................................................. 12
O método científico e suas variáveis ............................................................................. 12
Tipos de Investigação Científica ................................................................................... 13
Classificação Quanto aos Objetivos ................................................................ 13
Classificação Quanto ao Tempo ...................................................................... 14

CONCEITOS FUNDAMENTAIS ................................................................................................. 14

O Método Científico .................................................................................................................... 14

MÉTODO INDUTIVO .................................................................................................................. 15

MÉTODO DEDUTIVO ................................................................................................................ 15

MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO ......................................................................................... 15

MÉTODO DIALÉTICO ................................................................................................................ 15

MÉTODO FENOMENOLÓGICO ................................................................................................ 15

TÉCNICAS DE RACIOCÍNIO ..................................................................................................... 15


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Indução: ........................................................................................................................ 15
Dedução: ....................................................................................................................... 15
Análise e Síntese: .......................................................................................................... 15

MÉTODO .................................................................................................................................... 16

TÉCNICA .................................................................................................................................... 16

O método científico ..................................................................................................................... 16

CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO CIENTÍFICO .................................................................. 16

A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO ................................................................... 18

FASES DO MÉTODO CIENTÍFICO ............................................................................................ 18

MÉTODO DIALÉTICO ............................................................................................................... 19

NA ANTIGUIDADE .................................................................................................................... 19

DIALÉTICA HEGELIANA ............................................................................................................ 19

DIALÉTICA MARXISTA .............................................................................................................. 20

O CONHECIMENTO ................................................................................................................. 21
CONHECIMENTO VULGAR .......................................................................................... 23
CONHECIMENTO CIENTÍFICO .................................................................................... 24
CONHECIMENTO FILOSÓFICO ................................................................................... 24
CONHECIMENTO TEOLÓGICO ................................................................................... 25

CARACTERÍSTICAS DA CIÊNCIA ............................................................................................. 25


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NÍVEIS DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO .............................................................................. 26

REQUISITOS DO MÉTODO CIENTÍFICO ................................................................................. 27

INVESTIGAÇÃO ........................................................................................................................ 27

OBSERVAÇAO ......................................................................................................................... 29

CLASSIFICAÇÃO ...................................................................................................................... 29

GENERALIZAÇÕES .................................................................................................................. 29

O PAPEL DA METODOLOGIA CIENTÍFICA .............................................................................. 30

OBJETIVOS DA CIÊNCIA ......................................................................................................... 31

OBJETIVOS DA ATIVIDADE CIENTÍFICA ................................................................................. 32

CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS QUANTO A NATUREZA DO OBJETO ............................... 32

CLASSIFICAÇÃO DA CIÊNCIA DO PONTO DE VISTA DA INVESTIGAÇÃO .......................... 32

CRÍTICA À CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS .......................................................................... 33

NATUREZA DO CONHECIMENTO ............................................................................................ 33

CONHECIMENTO INTUITIVO .................................................................................................... 34

CONHECIMENTO RACIONAL ................................................................................................... 34


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CONHECIMENTO INTELECTUAL ............................................................................................. 35

CONHECIMENTO CIENTÍFICO ................................................................................................. 35

A NEUTRALIDADE CIENTÍFICA ................................................................................................ 36

CAPÍTULO II ............................................................................................................................... 37

A PREPARAÇÃO DA PESQUISA .............................................................................................. 37

A PESQUISA .............................................................................................................................. 37

ESCOLHA DO TEMA DO PROJETO DE PESQUISA ................................................................ 38


Fatores internos ............................................................................................................ 38
Fatores Externos .......................................................................................................... 38

TÉCNICAS DE PESQUISA ....................................................................................................... 39

ENFOQUES DE PESQUISA: O BINÔMIO QUANTITATIVO/QUALITATIVO ............................. 44


PESQUISA QUANTITATIVA ......................................................................................... 44
PESQUISA QUALITATIVA ............................................................................................ 44

O PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................................................... 45

A FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES CIENTÍFICAS .................................................................... 45

VARIÁVEIS: CONCEITO E OPERACIONALIZAÇÃO ............................................................... 47

INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS ............................................................................ 48


QUESTIONÁRIOS ........................................................................................................ 48
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ENTREVISTA ................................................................................................................ 49
OBSERVAÇÃO .............................................................................................................. 50
REGISTROS ICONOGRÁFICOS: ................................................................................. 50
ANÁLISE DE CONTEÚDO ............................................................................................ 50
HISTÓRIA DE VIDA ....................................................................................................... 51
TESTES: ........................................................................................................................ 51

A Internet: ................................................................................................................................... 51

O PROJETO DE PESQUISA ...................................................................................................... 51

DICAS PARA REDAÇÃO DE TEXTOS CIENTÍFICOS ............................................................. 52

VERBOS SUGERIDOS PARA INDICAR OBJETIVOS EM PROJETOS E PESQUISAS ........... 53

REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................................................... 53

JUSTIFICATIVA ......................................................................................................................... 55

METODOLOGIA ........................................................................................................................ 55

ANEXOS OU APÊNDICES .......................................................................................... 56

REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 56

GLOSSÁRIO ............................................................................................................................. 56

ESTRUTURA DE UM TRABALHO ............................................................................................. 56


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ASPECTOS GRÁFICOS DE UM TRABALHO CIENTÍFICO: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


(ABNT NBR 6023/2002) ............................................................................................. 60

ARTIGO CIENTÍFICO ................................................................................................................. 61

ENSAIO CIENTÍFICO ................................................................................................................. 62

PAPERS ..................................................................................................................................... 62

RESENHA ................................................................................................................................ 62

TIPOS DE RESENHA ............................................................................................................... 63


FINALIDADES ............................................................................................................. 64
IMPORTÂNCIA DA RESENHA ...................................................................................... 64
ELABORAÇÃO DE RESENHA ...................................................................................... 65
MODELO DE RESENHA ............................................................................................... 67
EXEMPLOS DE RESENHAS ........................................................................................ 70

EXERCÍCIOS ......................................................................................................................... 73

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................... 75
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CAPÍTULO I
“A história das ciências, como a de todas as idéias humanas,
é uma história de sonhos irresponsáveis, de teimosias e de erros”.
Karl Popper, filósofo britânico de origem austríaca

A CIÊNCIA
Medo, Misticismo e Ciência

Precisamos voltar à Pré-História para entendermos como surgiu e a evoluiu o


pensamento científico. Nossos ancestrais não entendiam os fenômenos da natureza, por isso
suas reações eram sempre de medo das forças da natureza e do desconhecido. Como não
conseguiam compreender o que se passava diante deles, não lhes restava outra alternativa
senão o medo e o espanto daquilo que presenciavam. Num segundo momento, a inteligência
humana evoluiu do medo para a tentativa de explicação dos fenômenos através do pensamento
mágico, das crenças e das superstições. Já tentavam explicar o que viam. Assim, as
tempestades podiam ser fruto de uma ira divina, a boa colheita da benevolência dos mitos, as
desgraças ou as fortunas eram explicadas através da troca do humano com o mágico. Como as
explicações mágicas não bastavam para compreender os fenômenos, os seres humanos
finalmente evoluíram para a busca de respostas através de caminhos que pudessem ser
comprovados. Desta forma nasceu a ciência metódica, que procura sempre uma aproximação
com a lógica.
Somos os únicos animais com capacidade de pensar. Esta característica permite que
sejamos capazes de refletir sobre o significado de nossas próprias experiências. Assim sendo,
somos capazes de novas descobertas e de transmiti-las a nossos descendentes.
O desenvolvimento do conhecimento humano está intrinsecamente ligado à sua
característica de viver em grupo, ou seja, o saber de um indivíduo é transmitido a outro, que, por
sua vez, aproveita-se deste saber para somar outro. Assim evolui a ciência.

A evolução da ciência
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Entre todos os animais nós, os seres humanos, somos os únicos capazes de criar e
transformar o conhecimento; somos os únicos capazes de aplicar o que aprendemos, por
diversos meios, numa situação de mudança do conhecimento. Somos os únicos capazes de criar
um sistema de símbolos, como a linguagem, e com ele registrar nossas próprias experiências e
passar para outros seres humanos. Ao criarmos este sistema de símbolos, através da evolução
da espécie humana, permitimo-nos também ao pensar e, por conseqüência, a ordenação e a
previsão dos fenômenos que nos cerca. Os egípcios já tinham desenvolvido um saber técnico
evoluído, principalmente nas áreas de matemática, geometria e na medicina, mas os gregos
foram provavelmente os primeiros a buscar o saber que não tivesse, necessariamente, uma
relação com atividade de utilização prática. A preocupação dos precursores da filosofia (filo =
amigo + sofia (sóphos) = saber e quer dizer amigo do saber) era buscar conhecer o porque e o
para que de tudo o que se pudesse pensar. O conhecimento histórico dos seres humanos
sempre teve uma forte influência de crenças e dogmas religiosos. Mas, na Idade Média, a Igreja
Católica serviu de marco referencial para praticamente todas as idéias discutidas na época. Leia
o livro O Nome da Rosa, de Umberto Eco ou veja o filme sobre o livro. A população não
participava do saber, já que os documentos para consulta estavam presos nos mosteiros das
ordens religiosas.
Foi no período do Renascimento, aproximadamente entre os séculos XV e XVI (anos
1400 e 1500) que, segundo alguns historiadores, os seres humanos retomaram o prazer de
pensar e produzir o conhecimento através das idéias. Neste período as artes, de uma forma
geral, tomaram um impulso significativo. Neste período Michelangelo Buonarrote esculpiu a
estátua de David e pintou o teto da Capela Sistina, na Itália; Thomas Morus escreveu A Utopia
(utopia é um termo que deriva do grego onde u = não + topos = lugar e quer dizer em nenhum
lugar); Francis Bacon escreveu A Nova Atlântica; Voltaire, a Micrômegas, caracterizando um
pensamento não descritivo da realidade, mas criador de uma realidade ideal, do dever ser.
No século XVII e XVIII (anos 1600 e 1700) a burguesia assumiu uma característica
própria de pensamento, tendendo para um processo que tivesse imediata utilização prática. Com
isso surgiu o Iluminismo, corrente filosófica que propôs "a luz da razão sobre as trevas dos
dogmas religiosos". O pensador René Descartes mostrou ser a razão a essência dos seres
humanos, surgindo a frase "penso, logo existo". No aspecto político o movimento Iluminista
expressou-se pela necessidade do povo escolher seus governantes através de livre escolha da
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vontade popular. Lembremo-nos de que foi neste período que ocorreu a Revolução Francesa em
1789.
O Método Científico surgiu como uma tentativa de organizar o pensamento para se
chegar ao meio mais adequado de conhecer e controlar a natureza. Já no fim do período do
Renascimento, Francis Bacon pregava o método indutivo como meio de se produzir o
conhecimento. Este método entendia o conhecimento como resultado de experimentações
contínuas e do aprofundamento do conhecimento empírico. Por outro lado, através de seu
Discurso sobre o método, René Descartes defendeu o método dedutivo como aquele que
possibilitaria a aquisição do conhecimento através da elaboração lógica de hipóteses e a busca
de sua confirmação ou negação.
A Igreja e o pensamento mágico cederam lugar a um processo denominado, por alguns
historiadores, de "laicização da sociedade". Se a Igreja trazia até o fim da Idade Média a
hegemonia dos estudos e da explicação dos fenômenos relacionados à vida, a ciência tomou a
frente deste processo, fazendo da Igreja e do pensamento religioso razão de ser dos estudos
científicos.
No século XIX (anos 1800) a ciência passou a ter uma importância fundamental. Parecia
que tudo só tinha explicação através da ciência. Como se o que não fosse científico não
correspondesse à verdade. Se Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Giordano Bruno, entre outros,
foram perseguidos pela Igreja, em função de suas idéias sobre as coisas do mundo, o século
XIX serviu como referência de desenvolvimento do conhecimento científico em todas as áreas:
na sociologia Augusto Comte desenvolveu sua explicação de sociedade, criando o Positivismo,
vindo logo após outros pensadores: na Economia, Karl Marx procurou explicar a relações sociais
através das questões econômicas, resultando no Materialismo-Dialético; Charles Darwin
revolucionou a Antropologia, e feriu os dogmas sacralizados pela religião, com a Teoria da
Hereditariedade da Espécies ou Teoria da Evolução. A ciência passou a assumir uma posição
quase que religiosa diante das explicações dos fenômenos sociais, biológicos, antropológicos,
físicos e naturais.

Definição de Ciência
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É o saber produzido através do raciocínio lógico aliado a experimentação prática,


caracterizando-se por um conjunto de paradigmas para a observação, identificação, descrição,
investigação experimental e explanação teórica de fenômenos. O método científico envolve
técnicas exatas, objetivas e sistemáticas, implementadas através de regras fixas para a
formação de conceitos, para a condução de observações, para a realização de experimentos e
para a validação de hipóteses explicativas.
O objetivo básico da atividade científica não é o de descobrir verdades ou ser uma
compreensão plena da realidade, mas sim o de fornecer um conhecimento que, ao menos
provisoriamente, facilite a interação com o mundo, permitindo previsões confiáveis sobre eventos
futuros e indicando mecanismos de controle para que se possa intervir favoravelmente sobre os
mesmos.

As Vantagens do Método Científico

O uso do método científico agrega vantagens específicas ao saber por ele produzido,
incluindo: a produção de um conhecimento prático e aplicável, que pode ser usado diretamente
para a previsão e/ou controle de fenômenos e ocorrências; o uso de uma expressão objetiva e
detalhada não apenas do saber que é produzido, mas também do modo como se chegou até ele,
permitindo um conhecimento: amplamente compartilhável e transmissível independente do
conteúdo; verificável e passível de quantificação do grau de confiança que se pode ter nele;
redução ou minimização dos vários tipos de viés que podem surgir na observação e
interpretação dos diversos fenômenos que se pretende estudar; fornecimento de suporte
metodológico ao pensamento, permitindo o uso de ferramentas sócio-culturais e tecnológicas
que favorecem a transcendência das limitações individuais do pesquisador em suas análises e
sínteses.
Assim, fazer ciência é um processo complexo, demorado e de difícil execução, porém o
seu uso é justificado pelos benefícios que traz em termos de praticidade, transmissibilidade,
verificabilidade, solidez e alcance.

O método científico e suas variáveis


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O método científico se caracteriza por observar o Universo a partir das diversas


grandezas que o compõem, podendo elas ser:
Variáveis: Grandezas que podem variar ao longo do tempo ou de caso para caso;
Constantes: Grandezas que, para todos os fins práticos, não variam.
Tendo em vista os objetivos fundamentais da Ciência em termos de previsão e controle,
é natural que o interesse maior recaia sobre as variáveis mais do que sobre as constantes, estas
últimas sendo entendidas mais como elementos de contexto.
Quando se pretende atingir a capacidade de realizar previsões e de se identificar as
intervenções necessárias para se modificar as coisas de modo favorável, é preciso considerar
três tipos de variáveis:
Variáveis Preditivas ou Independentes: São aquelas que se observa ou manipula para
verificar a relação entre suas variações e o comportamento de outras variáveis, ou seja,
correspondem àquilo em função do qual se deseja conseguir realizar previsões e/ou controle.
Variáveis Resposta ou Dependentes: São aquelas cujo comportamento se quer verificar
em função das oscilações das variáveis preditivas, ou seja, correspondem àquilo que se deseja
prever e/ou controlar.
Variáveis Estranhas ou Espúrias: São variáveis que não são diretamente objeto de
estudo mas que também interferem na relação entre as variáveis preditivas e as dependentes.
O ensaio científico é uma seqüência de procedimentos na qual o pesquisador manipula
variáveis preditivas e verifica o comportamento das variáveis dependentes, controlando o efeito
de variáveis estranhas.

Tipos de Investigação Científica


Classificação Quanto aos Objetivos

A pesquisa científica tem por objetivo a produção de hipóteses, modelos, teorias e leis,
o que pode ser feito de duas formas:
A Análise Exploratória: É a coleta de dados e informações sobre um fenômeno de interesse
sem grande teorização sobre o assunto, inspirando ou sugerindo uma hipótese explicativa;
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A Construção Hipotético-Dedutiva de Conhecimento: É a elaboração de uma ou mais


hipóteses que relacione diversos fatos, seguida da coleta de dados e da geração de informações
que corroborem ou não tal hipótese ou hipóteses.

Classificação Quanto ao Tempo

Existem dois tipos distintos de relacionamento com o tempo que podem ser adotados por
um estudo científico:
Estudo Transversal: O pesquisador coleta os dados de cada caso ou sujeito num único
instante no tempo, obtendo um recorte momentâneo do fenômeno investigado;
Estudo Longitudinal: O pesquisador coleta os dados de cada caso ou sujeito em dois ou
mais momentos, havendo um acompanhamento do desenrolar do fenômeno considerado.

CONCEITOS FUNDAMENTAIS

A produção do conhecimento científico trabalha com dois conceitos fundamentais: as


técnicas e os métodos.
Técnicas: referem-se aos procedimentos concretos empregados pelo pesquisador para
levantar os dados e as informações necessárias para esclarecer o problema que está
pesquisando.
O método, portanto, é mais geral do que a técnica. A escolha do método condiciona as
técnicas que serão utilizadas no decorrer da pesquisa. O método é como uma via de acesso:
indica a direção. Methodos significa uma investigação que segue um modo ou uma maneira
planejada e determinada para conhecer alguma coisa; procedimento racional para o
conhecimento seguindo um percurso fixado.

O Método Científico

Existem basicamente 5 métodos científicos


1- Método Indutivo; 2- Método Dedutivo; 3- Método Hipotético-Dedutivo; 4- Método Dialético
5- Método Fenomenológico
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MÉTODO INDUTIVO
Parte do particular para o geral; Observação do fenômeno; Análise quantitativa do fenômeno;
Elaboração de hipóteses; Verificação das hipóteses; Generalização do resultado obtido na
experiência.
MÉTODO DEDUTIVO
Parte do geral para chegar ao particular; Reformula de modo explícito a informação.
MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO
Toda pesquisa tem sua origem num problema para o qual se procura uma solução; através de
tentativas (conjecturas, hipóteses, teorias) e eliminação de erros; Chamado "método de
tentativas e eliminação de erros".
MÉTODO DIALÉTICO
Tudo se relaciona; Tudo se transforma; Tudo é processual; Tudo é contraditório.
MÉTODO FENOMENOLÓGICO
Utiliza-se da hermenêutica (arte de interpretar as palavras); Usa da descrição do fenômeno.
TÉCNICAS DE RACIOCÍNIO
Indução:
Observação do fenômeno; Análise dos elementos constituintes do fenômeno e
estabelecimento das relações quantitativas entre eles; Indução de hipóteses a partir da análise
das relações dos elementos; Verificação da veracidade das hipóteses através de sua
experimentação; Generalização do resultado obtido na experiência para disso obter uma lei que
parta da confirmação das hipóteses. Exemplo de raciocínio indutivo: “eu morrerei. Eu sou
homem. Logo, todos os homens morrem.”
Dedução:
Compõe-se de uma lei ou premissa geral; de um princípio racional que norteia o pensamento e
que pode ser formulado assim: "tudo que se afirma de uma proposição geral, afirma-se
igualmente das proposições particulares que ele encerra". Exemplo de raciocínio dedutivo:
“Todos os homens morrem. Eu sou homem. Logo, eu morrerei.”

Análise e Síntese:
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A análise parte do mais complexo para o menos complexo. A síntese parte do mais simples
para o menos simples. Podem ser "experimentais" ou "racionais". Experimentais são aplicáveis
aos fatos concretos, materiais ou imateriais. Racionais são aplicáveis a fatos abstratos, como os
conceitos, as idéias muito gerais etc...

MÉTODO
Conjunto de etapas ordenadamente dispostas, a serem vencidas na investigação da verdade, no
estudo de uma ciência ou para alcançar determinado fim.
TÉCNICA
É o modo de fazer de forma mais hábil, mais segura, mais perfeita algum tipo de atividade, arte
ou ofício.

O método científico
É um instrumento utilizado pela ciência na sondagem da realidade, formado por um conjunto de
procedimentos, mediante os quais os problemas científicos são formulados e as hipóteses
científicas são examinadas.

CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO CIENTÍFICO

Quando analisamos a diversidade de trabalhos científicos existente, observamos que há


várias formas de investigação, que vão desde a simples observação casual até estudos
altamente sistematizados que envolvem a experimentação. Isso nos leva a analisar que existem
diferentes categorias de investigação. Para que se possa desenvolver um trabalho científico é
preciso conhecer essas categorias, definindo o que se entende por cada uma delas, bem como
seu nível de abrangência e o tipo de atividade que englobam.
Na investigação, a etapa na qual coloca-se em prática ou submete-se à prova os
resultados inferidos é a da experimentação, ou seja, uma atividade de investigação que
desenvolve o experimento - ensaio científico realizado para verificar uma afirmação ou uma
suposição acerca da realidade dos fenômenos.
Quando nos referimos ao trabalho científico precisamos considerar que:
- A experimentação (realização do experimento) é uma atividade que denominamos
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investigação.
- Nem todas as investigações são experimentos, mas todos os experimentos são investigações.
- É importante, portanto, distinguir os experimentos de outros tipos de investigação.
Genericamente, podemos dizer que a investigação não experimental se baseia no senso comum.
O desenvolvimento da ciência consiste na conversão do senso comum em ciência por meio de
procedimentos metodológicos específicos. Trata-se de converter a experiência, no sentido de
prática de vida (tentativa), em experimento, para comprovar a veracidade da proposição ou sua
probabilidade de ocorrência. O que define uma investigação científica é:
- O tipo de problema investigado, ou seja, o objeto.
- Como esse problema é investigado - o método.
- A experimentação é uma investigação controlada e considerada científica.
O processo de pesquisa no campo das ciências humanas e sociais toma por base os
procedimentos das ciências fatuais. Analisando os diferentes procedimentos de pesquisa é
possível identificar, por analogia e de acordo com os objetivos, onde se encaixa a pesquisa
específica que se pretende realizar, de modo a permitir uma adaptação dos procedimentos das
ciências fatuais ao contexto das ciências humanas.

Quando trabalhamos com pesquisa partimos de uma teoria, de uma idéia que fazemos a
respeito dos fatos. Nenhum trabalho de pesquisa inicia-se sem que haja uma teoria que
fundamente a ação do pesquisador, mesmo que essa teoria não apareça explicitamente no
trabalho. Seguem abaixo alguns elementos básicos de uma teoria:
A. Conceito: idéia ou definição que constitui a unidade básica da teoria.
B. Definição de conceito: para cada conceito há uma definição. Podemos aprender o significado
de um conceito por meio de sua definição. Quando não existe conhecimento anterior que
permita definir um determinado conceito, esse passa a ser denominado conceito primitivo, isto
é, algo que não é definido, e por isso serve para definir outros conceitos, os denominados
conceitos derivados. Assim sendo, os conceitos dividem-se em: primitivos e derivados.
C. Axiomas: toda teoria possui um conjunto de afirmações das quais se deduz novas
afirmações e que constituem, como já visto anteriormente, postulados ou axiomas. Trata-se de
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princípios gerais aceitos que formam afirmações que dão origem a outras sem que necessitem
de demonstração.
D. Hipótese: também são afirmações, mas se diferenciam dos axiomas porque derivam deles.
As afirmações que iniciam o cálculo dedutivo são axiomas; as que o terminam são hipóteses.
E. Regras de inferência: elas permitem, partindo dos axiomas, chegar às hipóteses. Cada teoria
tem um conjunto sistemático de regras de inferência que permite fazer deduções.
Genericamente, podemos dizer que axioma e hipótese são relações entre dois ou mais
conceitos.
O trabalho científico caracteriza-se, portanto, por um conjunto sistemático de
procedimentos realizados pelo pesquisador a partir de uma teoria ou de uma idéia acerca da
realidade, visando comprovar, por meio de levantamentos de dados (quantitativos, qualitativos),
as hipóteses formuladas sobre o comportamento provável dos fenômenos, hipóteses essas que
derivam de postulados ou de axiomas.

A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

A pesquisa como processo de busca do conhecimento está inserida no referencial


teórico—conceitual de todas as ciências, sejam elas físicas e naturais ou humanas e sociais. O
que diferencia a pesquisa nas ciências físicas e biológicas da pesquisa das ciências humanas
são os instrumentos empregados. Nas ciências humanas, como o homem é, ao mesmo tempo,
sujeito e objeto de estudo torna-se necessário o uso de técnicas indiretas de observação. Já nas
ciências físicas e biológicas, nas quais o sujeito (pesquisador) apresenta-se separado do objeto
(fenômeno observado) existem mais oportunidades de usar o laboratório para experimentações,
o que, por questões éticas, não é possível nas ciências humanas. Ressalvadas essas diferenças
básicas, podemos afirmar que a pesquisa, em todas as áreas, baseia-se no uso do método
científico.
FASES DO MÉTODO CIENTÍFICO
A. Observação
B. Demonstração
C. Classificação
D. Interpretação
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MÉTODO DIALÉTICO
A dialética é por definição a arte de discutir e, segundo a filosofia antiga, a argumentação
dialogada. É evidente que a sua simples definição não explica a importância que lhe atribuem os
filósofos nos últimos séculos.
Zenão, filósofo grego tido como o pai da dialética, formulava seus argumentos
procurando demonstrar as contradições daqueles que defendiam teses contrárias.
Defendia a tese da unidade e imobilidade do ser. Os seus argumentos tinham como
objetivo, então, mostrar as contradições daqueles que defendiam a pluralidade e mobilidade do
ser, ou seja, defendiam as suas idéias a partir da negação dos argumentos contrários.
É uma dialética negativa no sentido de não construir uma tese, mas sim de destruir a do
oponente. Para tanto, parte das premissas admitida pelos seus adversários, não importando se
eram verdadeiras ou falsas.
NA ANTIGUIDADE
A dialética socrática tinha como objetivo levar o seu adversário a se contradizer,
mediante perguntas. Com isso, conseguia levar ao ridículo os sofistas, que se utilizavam da
palavra para justificar as mais variadas situações. Com tal comportamento, Sócrates pretendia
estabelecer a verdade.e, para tanto, exigia definição das palavras usadas pelos seus
adversários, motivo -pelo qual se pode denominar esse método dialética positiva.
Para Aristóteles, a dialética é um método que permite argumentar acerca de qualquer
problema proposto, partindo de premissas programáveis, e evitar, quando se sustenta um
argumento, dizer seja o que for contrário a ele. Sendo a dialética nesse caso um método
secundário sem valor científico, pois parte de premissas prováveis para provar a tese, nada mais
é que um silogismo.
Para Descartes, a dialética é empregada como sinônimo de lógica, especialmente de
lógica formal. As deduções são feitas mecanicamente, pois partindo-se de proposições dadas
chegam-se a outras proposições que delas derivam necessariamente.

DIALÉTICA HEGELIANA
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Para Hegel, a dialética é a conciliação dos contrários nas coisas e no espírito. Na


dialética hegeliana, encontra-se a afirmação ou a tese, a negação ou a antítese c a negação da
negação, a síntese.
Como exemplo, a tese que se constituiu na afirmação ‘o ser é’, mas, ser totalmente
indeterminado, de tal forma que a afirmação já implica a sua negação ou antítese: "o ser não é".
Essa negação será negada e daí a síntese na proposição: "o ser é devir".
Essa síntese não é definitiva, pois traz dentro de si a sua negação, que levará a uma
nova síntese e assim indefinidamente.Essa dúvida com relação à síntese que impulsiona o
pensamento para novas sínteses não é a dúvida sistemática do ceticismo, que isola o momento
da negatividade e a esvazia de qualquer conteúdo. Não é a dúvida metódica de
Descartes, mas uma dúvida que é a negação de um conteúdo determinado, e dessa
forma a consciência progride de conteúdo cm conteúdo.
O idealismo em Hegel fica bem caracterizado quando afirma que a contradição está nas
próprias coisas que, depois de terem lutado, chegam a um acordo; a dialética do pensamento é
apenas um reflexo da dialética das coisas.

DIALÉTICA MARXISTA

O materialismo de Kalr Marx nada mais é que uma oposição ao idealismo e nada tem
a ver com a oposição ao espiritualismo. Para Hegel, idealista, a idéia é que comanda todo o
processo de desenvolvimento, ou seja, são as idéias que governam o mundo. Para Marx, ao
contrário de Hegel, o mundo das idéias é apenas o mundo material transposto e traduzido no
espírito humano.
Marx vai acentuar a importância das condições econômicas na formação e evolução das
idéias filosóficas, morais e religiosas. É o materialismo histórico, que procura explicar a.história a
partir da luta de classes. Como os motivos econômicos explicam o avanço das idéias, a
existência da contradição na sociedade, da burguesia de um lado e do proletariado de outro,
deve ser superado mediante a luta de classes.
Para Lênin, a dialética é o estudo das contradições na própria essência das coisas.
Considerando que toda verdade é provisória e reformável, é importante que o cientista ou o
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pesquisador tenha sempre um pensamento dialético, pois o homem avança quando se esforça
para superar a si próprio

O CONHECIMENTO

Diante da natureza, o homem — animal racional — não age como os animais


inferiores. Estes apenas esforçam-se pela vida, O homem, além disso, esforça--se por entender
a natureza e, embora sua inteligência seja dotada de limitações, tenta sempre dominar a
realidade, agir sobre ela para torná-la mais adequada às suas próprias necessidades. E á
medida que a domina e transforma, também amplia ou desenvolve suas próprias necessidades.
Esse processo permanente de acúmulo de conhecimentos sobre a natureza e de ações
racionais capazes de transformá-la compõe o universo de idéias que hoje denominamos
"Ciência".
Ciência é, pois, o conhecimento racional, sistemático, exato e verificável da realidade.
Por meio da investigação cientifica o homem reconstitui artificialmente o universo real em sua
própria mente. Mas essa reconstituição ainda não é definitiva. A descoberta e a compreensão de
fatos quase sempre levam à necessidade de descobrir e compreender novos fatos. E como o
resultado das investigações depende dos conhecimentos já adquiridos e de instrumentos
capazes de aprofundar a observação, a Ciência está sempre limitada às condições de sua,
época.
O que era conhecimento verdadeiro para o sábio da Antiguidade, já não o era para o
cientista do Renascimento; e o que foi verdadeiro para o cientista do século XVIII pode já não o
ser para o cientista em nossos dias. Assim, diz-se também que a ciência é falível, ou seja, pode
ser exata apenas para determinado período, O conceito científico que o homem tem do mundo é
cada vez mais amplo, mais profundo, mais detalhado e mais exato. Mas está ainda muito longe
de ser completo. Assim, considerando-se o desenvolvimento histórico da ciência, é lógico
pressupor que o cientista do final do século XXI disporá de conhecimentos muito mais
desenvolvidos e exatos do que os de hoje.
Afinal, o que é conhecer? Em linhas gerais, conhecer é estabelecer uma relação entre a
pessoa que conhece e o objeto que passa a ser conhecido. No processo de conhecimento, quem
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conhece acaba por, de certo modo, apropriar-se do objeto que conheceu. De certa forma,
"engole" o objeto que conheceu. Ou seja, transforma em conceito esse objeto, reconstitui-o
em sua mente. O conceito, no entanto, não é o objeto real, não é a realidade, mas apenas uma
forma de conhecer (ou conceber, ou conceituar) a realidade. O objeto real continua existindo
como tal, independentemente do fato de o conhecermos ou não.
Há duas maneiras de se conhecer um objeto, de nos "apropriarmos" mentalmente
dele. Uma é mediante os nossos sentidos, através da nossa sensibilidade física; a outra é
mediante o nosso pensamento, através do nosso cérebro. O conhecimento que adquirimos por
meio de nossa sensibilidade física diz respeito aos objetos físicos. Por exemplo: conhecemos
uma cor porque nossos olhos vêem a cor; conhecemos um som porque nossos ouvidos sentem
a vibração que produz o som; conhecemos um gosto porque as terminações nervosas que
constituem o nosso paladar distinguem o gosto. Disso podemos concluir que o conhecimento é
sensível quando obtido mediante uma informação prestada pelos nossos sentidos (a cor excita
os nervos ópticos que informam nossa mente; o som, os nervos auditivos etc.).
A outra forma de conhecimento é puramente intelectual. Mesmo sem qualquer
informação da visão, audição, olfato, paladar ou tato, podemos conhecer uma idéia, um principio,
uma lei. E claro que se você assiste a uma conferência, seus nervos auditivos entram em ação.
Eles são atingidos pela voz do conferencista, mas você fica conhecendo as idéias expostas
mediante um processo intelectual. A voz do conferencista é apenas um veículo. Ela só interessa
na medida em que transporta o conteúdo da conferência. O conhecimento desse conteúdo — ou
seja, a "apropriação" das idéias — é intelectual.
Nem sempre essas duas formas de conhecimento — sensível e intelectual — ocorrem
isoladamente. Ao contrário, com freqüência combinam-se para produzir conhecimento misto, ao
mesmo tempo sensível e intelectual. Você pode, por exemplo, conhecer-se. Seus sentidos lhe
informarão sobre a cor de sua pele, sobre seu cheiro, sua estatura, enfim, sobre suas
características físicas.
Mas será a mente que lhe informará sobre seus próprios pensamentos, sobre sua
maneira de agir ante determinado problema, sobre o tipo de entretenimento que você prefere
etc. E todas essas informações estão relacionadas a um mesmo objeto: você.
O conhecimento leva o homem a apropriar-se da realidade e, ao mesmo tempo, a
penetrar nela. Essa posse confere-nos a grande vantagem de nos tornar mais aptos para a ação
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consciente. A ignorância tolhe as possibilidades de avanço para melhor, mantém-nos prisioneiros


das circunstâncias. O conhecimento liberta: permite que atuemos para modificar as
circunstâncias em nosso beneficio. Quando pensamos em termos de toda a humanidade,
reconhecemos que só podemos avançar mediante o conhecimento da realidade. Mas a realidade
não se deixa desvendar facilmente. Ela é constituída de numerosos níveis e estruturas. De um
mesmo objeto — como, por exemplo, um elemento químico, uma vibração luminosa ou um
conceito — podemos obter conhecimentos da realidade em níveis distintos. Esses
conhecimentos nos informarão sobre o objeto, nos apresentarão sua origem, sua aparência, sua
função, seu significado, sua relação com outros objetos e assim por diante. De um mesmo
objeto, portanto, podemos obter conhecimento horizontal, mais superficial, e conhecimento
vertical, mais profundo, ou seja, desde sua aparência mais simples até as implicações de seu
relacionamento com outras estruturas da própria realidade. Em outras palavras, a realidade é tão
complexa que o homem, para apropriar-se dela, teve de aceitar diferentes tipos de
conhecimento. Há pelo menos quatro tipos fundamentais de conhecimento, cada um deles
subordinado ao tipo de apropriação que o homem faz da realidade. Esses quatro tipos são: o
conhecimento vulgar, o conhecimento científico, o conhecimento filosófico e o conhecimento
teológico. Vamos examiná-los mais de perto.
CONHECIMENTO VULGAR
Também denominado "empírico", o conhecimento vulgar é o que todas as pessoas
adquirem na vida cotidiana, ao acaso, baseado apenas na experiência vivida ou transmitida por
alguém. Em geral resulta de repetidas experiências casuais de erro e acerto, sem observação
metódica nem verificação sistemática, por isso carece de caráter científico. Pode também
resultar de simples transmissão de geração para geração e, assim, fazer parte das tradições de
uma coletividade.
Não é necessário estudar Psicologia para se saber que uma pessoa está alegre ou está
triste. Você conhece o estado de humor dessa pessoa porque empiricamente já passou por
muitas experiências de contato com pessoas alegres ou tristes. E igualmente vulgar o
conhecimento que, em geral, o lavrador iletrado tem das coisas do campo. Ele interpreta a
fecundidade do solo, os ventos anunciadores de chuva, o comportamento dos animais. Sabe
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onde furar um poço para obter água, quando cortar uma árvore para melhor aproveitar sua
madeira e se a colheita deve ser feita nesta ou naquela lua.
Ele pode, inclusive, apresentar argumentos lógicos para explicar os fatos que conhece,
mas seu conhecimento não penetra os fenômenos, permanece na ordem aparente da realidade.
Como é fruto da experiência circunstancial, não vai além do fato em si, do fenômeno isolado.
Embora de nível inferior ao científico, o conhecimento vulgar não deve ser menosprezado. Ele
constitui a base do saber e já existia muito antes do homem imaginar a possibilidade da Ciência.

CONHECIMENTO CIENTÍFICO

O conhecimento científico resulta de investigação metódica, sistemática da realidade. Ele


transcende os fatos e os fenômenos em si mesmos, analisa-os para descobrir suas causas e
concluir as leis gerais que os regem. Como o objeto da Ciência é o universo material, físico,
naturalmente perceptível pelos órgãos dos sentidos ou mediante a ajuda de instrumentos de
investigação, o conhecimento científico é verificável na prática, por demonstração ou
experimentação. Além disso, tendo o firme propósito de desvendar os segredos da realidade, ele
os explica e demonstra com clareza e precisão, descobre suas relações de predomínio,
igualdade ou subordinação com outros fatos ou fenômenos. De tudo isso conclui leis gerais,
universalmente válidas para todos os casos da mesma espécie.

CONHECIMENTO FILOSÓFICO

O conhecimento filosófico tem por origem a capacidade de reflexão do homem e por


instrumento exclusivo o raciocínio. Como a Ciência não é suficiente para explicar o sentido geral
do universo, o homem tenta essa explicação através da Filosofia. Filosofando, ele ultrapassa os
limites da Ciência — delimitados pela necessidade de comprovação concreta — para
compreender ou interpretar a realidade em sua totalidade. Mediante a Filosofia estabelecemos
uma concepção geral do mundo.
Tendo o homem como tema permanente de suas considerações, o filosofar pressupõe a
existência de um dado determinado sobre o qual refletir, por isso apóia-se nas ciências. Mas sua
aspiração ultrapassa o dado científico, já que a essência do conhecimento filosófico é a busca do
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"saber" e não sua posse. Tratando de compreender a realidade dos problemas mais gerais do
homem e sua presença no universo, a Filosofia interroga o próprio saber e transforma-o em
problema. E, sobretudo, especulativa, no sentido de que suas conclusões carecem de prova
material da realidade. Mas, embora a concepção filosófica não ofereça soluções definitivas para
numerosas questões formuladas pela mente, ela se traduz em ideologia. E como tal influi
diretamente na vida concreta do ser humano, orientando sua atividade prática e intelectual.

CONHECIMENTO TEOLÓGICO

O conhecimento teológico é produto da fé humana na existência de uma ou mais entidades


divinas — um deus ou muitos deuses. Ele provém das revelações do mistério, do oculto, por algo
que é interpretado como mensagem ou manifestação divina. Tais revelações são transmitidas
por alguém, por tradição acumulada ao longo da história ou através de escritos sagrados.
Não é necessário que se seja monoteísta (acredite-se em um só deus) para que o
conhecimento proporcionado pela fé seja teológico. Os gregos da Antiguidade eram politeístas
(acreditavam na existência de muitos deuses), mas os seus sacerdotes já possuíam e cultivavam
o conhecimento teológico.
Atualmente, os sacerdotes de diferentes religiões ocidentais e orientais conhecem distintas
entidades divinas e seus atributos, bem como suas relações com o universo e o homem em
particular, portanto possuem conhecimento teológico.
De modo geral, o conhecimento teológico apresenta respostas para questões que o homem
não pode responder com os conhecimentos vulgar, científico ou filosófico. Assim, as revelações
feitas pelos deuses ou em seu nome são consideradas satisfatórias e aceitas como expressões
de verdade. Tal aceitação, porém, racional ou não, tem necessariamente de resultar da fé que o
aceitante deposita na existência de uma divindade.

CARACTERÍSTICAS DA CIÊNCIA
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A ciência contemporânea, cujas bases teórico-metodológicas foram iniciadas por Galileu,


não comporta idéias absolutas; pelo contrário, retoma os conceitos aristotélicos de relatividade
da qualidade e apresenta as seguintes características:
A. É um método de abordagem: na explicação, na predição, na classificação e na
interpretação.
B. É um processo cumulativo, não um produto acabado do conhecimento.
C. Abrange conhecimentos em processamento, mesmo que esses ainda não estejam
sistematizados.
D. É um corpo de verdades provisórias, em que a idéia de probabilidade substitui a noção de
certeza absoluta, possibilitando e incentivando revisões constantes e novas descobertas.
Os indivíduos, no decorrer da vida, fazem observações e generalizações a partir de suas
experiências pessoais. A diferença entre essas observações ao acaso e o conhecimento
científico é que o uso do método científico confere um grau maior de rigor às observações,
possibilita a comprovação, garante maior validade e precisão ao conhecimento adquirido.
A construção do conhecimento, portanto, ocorre em diversos níveis, que diferem quanto ao grau
de sistematização e de precisão.

NÍVEIS DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO

A. Observações ao acaso: realizadas pelo pesquisador de forma assistemática, essas


observações são importantes para inspirar hipóteses (suposições) explicativas acerca do
fenômeno observado.
B. Exploração sistemática das áreas: efetuada de forma intencional e com objetivo
determinado, ocorre em um nível mais elevado do que a observação ao acaso e se processa de
uma maneira programada e metódica.
C. Provas de hipóteses isoladas e definidas: efetuadas para comprovar ou refutar suposições
sobre a natureza ou a causa dos fatos observados. Nesse caso, a observação é feita utilizando
tanto técnicas de experimentação quanto métodos estatísticos, com o objetivo de avaliar a
probabilidade de ocorrência das hipóteses levantadas.
D. Experimentação: é realizada para verificar a veracidade dos resultados obtidos e consiste
em uma etapa posterior que emprega os seguintes procedimentos:
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A Reunião de um conjunto organizado de dados rigorosos e precisos sobre o objeto ou sobre


os fatos estudados de modo a permitir sua análise.
A Formulação de postulados: proposições referentes ao comportamento dos fatos que são
admitidas mesmo sem demonstração. Os postulados são constatações evidentes que podem ser
percebidas pelo investigador.
A Formulação de teoremas: proposições que necessitam ser demonstradas para que sejam
admitidas como verdadeiras. Os teoremas são o resultado da reflexão feita sobre os fatos
observados.
A Observação empírica: confronto com a realidade que comprova a probabilidade da
veracidade dos teoremas que se pretende demonstrar. A explicação formulada pelo investigador
(teorema) é colocada à prova (experimentada) em função de sua compatibilidade com a
realidade observada.

REQUISITOS DO MÉTODO CIENTÍFICO

O emprego do método científico implica, portanto, a existência dos seguintes elementos:


A. Hipótese operante: é a proposição que deve ser demonstrada. Uma hipótese é uma
tentativa de generalização de uma explicação sobre o fato observado, cuja validade deve ser
comprovada.
B. Observação e registro de dados: é feita por meio de critérios definidos e precisos.
Para que o controle da observação seja possível é preciso especificar as unidades de número e
medida que serão utilizadas como parâmetro para a avaliação da hipótese. Sem uma
determinação dos instrumentos de medida e da maneira como eles deverão ser empregados em
todos os momentos da investigação, torna-se impossível a elaboração de uma interpretação
precisa dos dados.
C. Classificação e organização dos dados: para viabilizar a interpretação, todas as
informações ou todos os dados recolhidos devem ser ordenados dentro de critérios precisos e
uniformes para permitir a análise dos resultados.

INVESTIGAÇÃO
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Toda pesquisa é um processo de investigação que implica duas noções fundamentais: a


da própria natureza do que denominamos conhecimento científico e sua possibilidade de
generalização em termos absolutos. Podemos esquematizar as noções da seguinte forma: A
ciência define-se em função do método empregado, não em função do assunto estudado. A
ciência é mais uma questão de dosagem, no sentido de possibilidade, do que de definições
absolutas do tipo ‘é ou ‘não é’.
Segundo Karl Pearson, um dos fundadores da estatística moderna, o homem que
classifica fatos, independentemente de sua natureza, que identifica sua relação mútua,
descrevendo sua seqüência, está aplicando o método científico, portanto, é um homem de
ciência. Assim, quando todos os fatos tiverem sido examinados, classificados e ordenados, a
missão do cientista estará terminada. Com base nessa perspectiva podemos deduzir, então, que
estaremos usando o método científico sempre que observarmos, classificarmos e interpretarmos
sistematicamente os acontecimentos ou os fatos existentes. O método, portanto, é uma forma de
proceder que faz com que o conhecimento obtido seja considerado científico.
A ciência procura entender os fatos e, para que isso seja possível, é preciso, em um
primeiro momento, observar a configuração deles, o que faz com que o primeiro propósito da
ciência seja descritivo, O cientista precisa descrever o mundo em uma linguagem ou em um
esquema organizado para poder entender e prever os fatos, identificando tendências que
permitam olhar para frente. O objetivo é criar condições que possibilitem prever o
comportamento dos fatos que ocorrem no mundo a partir de alternativas determinadas e viáveis,
que podemos escolher com base em critérios de probabilidade de ocorrência. Na realidade, o
propósito da ciência é bastante limitado e consiste em elaborar uma visão de mundo ordenada,
tendo em vista a tomada de decisões e a ação. Para a construção de tal ordem não existe uma
exigência predeterminada de que ela seja, de preferência, de uma ou de outra espécie. Na
realidade, a ordem, com base nessa perspectiva, é apenas o que dispomos para trabalhar de
maneira conveniente e instrutiva a partir do que pode ser observado na realidade empírica.
Basicamente, o que distingue a ciência como sistema de previsão e de adaptação do
indivíduo e da espécie é o fato de ser um método consciente e simultaneamente compartilhado
por toda a sociedade. A conseqüência imediata de tal constatação é a necessidade de que o
conhecimento científico seja, além de sistemático, comunicável. A ciência é um modo de ordenar
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os eventos; o que ela busca são leis nas quais basear as previsões isoladas. O alvo da ciência é
ordenar o exemplo particular, articulando-o em um esqueleto de lei geral.

OBSERVAÇAO
Todas as pessoas observam os fatos à sua volta. Essa observação, entretanto, não é
realizada de maneira sistemática. Mesmo quando procuramos sistematizar as observações nos
deparamos com uma série de dificuldades. Quando observamos precisamos considerar que:
A. É quase impossível descrever a totalidade das ações que ocorrem em um mesmo contexto.
B. Cada observador tende a descrever os fatos com base em suas vivências anteriores; dessa
forma, teríamos, para cada fato, tantas observações quantos forem os observadores.
C. Como não podemos descrever a totalidade das ações, o que vai definir a observação
sistemática é sua finalidade.
D. O principal critério orientador da observação deve ser a relevância do fato ante a finalidade
proposta para a observação.
CLASSIFICAÇÃO
Terminada a observação é preciso organizar as informações obtidas de tal modo que as
relações constatadas entre os fatos possam ser comunicadas e utilizadas. A necessidade de
comunicar os resultados exige que eles sejam classificados de maneira coerente e sistemática.
Todo processo classificatório é um meio de agrupar objetos, ações, atitudes, crenças ou
quaisquer outras espécies de fenômenos, que precisam ser colocados juntos para auxiliar na
compreensão de uma situação complexa. É preciso identificar todos os componentes de uma
determinada situação, classificando-os conforme sua participação no resultado final, que é
registrado por intermédio da observação.

GENERALIZAÇÕES

A observação e a classificação procuram identificar a regularidade dos fenômenos para


detectar tendências com vistas à fase de generalização. Nas ciências sociais, como já
mencionamos, as generalizações são afirmações de probabilidades, não de certezas absolutas.
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As situações investigadas pelas ciências sociais resultam de múltiplas causas, fazendo


com que o pesquisador se limite a dizer que sob determinadas condições a situação A é mais
provável de estar associada ao fator Y do que ao fator Z. Nas ciências exatas ou nas ciências
físicas e biológicas, as generalizações podem ser efetuadas com um maior grau de certeza por
causa da possibilidade de técnicas de experimentação realizadas em laboratório serem
utilizadas. Porém, mesmo nesse caso, a hipótese de erro não deve ser excluída, pois sempre
haverá a possibilidade de uma ocorrência simultânea de fatos ser interpretada como relação
causal tanto nas ciências físicas e biológicas quanto nas ciências sociais.
Devemos lembrar de que a investigação científica sempre lança mais perguntas que
respostas por causa do processo contínuo e dinâmico da ciência. A cada passo o investigador
formula novas questões com base nos conhecimentos adquiridos na etapa anterior Para que
essas questões possam ser compartilhadas por todos os investigadores é necessário que o
pesquisador esteja perfeitamente consciente sobre o que e em que circunstâncias deve ser
realizado o trabalho de observação, o que nos leva às definições operacionais.

O PAPEL DA METODOLOGIA CIENTÍFICA

O papel da metodologia científica passa pela distinção de três aspectos relevantes, que
se referem ao conhecimento científico produzido, às atividades responsáveis por sua produção e
ao uso ou às aplicações do conhecimento produzido. Ou seja, é preciso:
Distinguir o produto (conhecimento científico) do trabalho científico.
Distinguir a atividade que gera este produto.
Distinguir quais são as aplicações do produto dessa atividade, isto é, as aplicações da
ciência.
Percebe-se que existe na sociedade uma espécie de crença mágica na ciência que tem
origem nos resultados obtidos com a aplicação dada aos conhecimentos científicos produzidos.
Neste trabalho estamos interessados na produção, não na aplicação da ciência, embora essa
seja uma questão de grande importância para toda a sociedade. Do ponto de vista da
metodologia, a aplicação dada aos resultados obtidos é irrelevante; na realidade, a aplicação da
ciência é um subproduto que não interessa à metodologia. O papel da metodologia, portanto,
concentra-se na distinção do conhecimento científico das demais formas de conhecimento e,
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principalmente, na atividade que gera o conhecimento científico. É a partir da perspectiva da


atividade que pretendemos trabalhar aqui a questão do conhecimento científico, ou seja, o
produto. São as ações desenvolvidas, especificamente as que se referem à ordenação e à
precisão da atividade científica, que serão responsáveis por um produto (conhecimento)
sistemático e coerente.

OBJETIVOS DA CIÊNCIA
O primeiro objetivo da ciência é a busca da coerência, isto é, produzir um conjunto de
afirmações sobre um objetivo que sejam mutuamente compatíveis. O segundo objetivo da
ciência é a correspondência entre a afirmação e os fatos. O terceiro objetivo da ciência é a
compatibilidade com o conhecimento anterior.
Existem também outras formas de conhecimento que buscam a coerência, como, por
exemplo, o conhecimento religioso, mágico etc. Porém somente o conhecimento científico
precisa ser empiricamente verdadeiro, ou seja, o conhecimento científico deverá,
necessariamente, partir do aspecto perceptível, sensível e classificável dos fenômenos. Mesmo
quando o cientista trabalha com conceitos abstratos é preciso estudá-los de forma empírica,
identificando estímulos ou características representativas de tais conceitos.
Outro aspecto a ser considerado quanto à cientificidade do conhecimento é sua
integração com o padrão de conhecimento anteriormente existente. Nesse sentido, a ciência é
conservadora: apenas os conhecimentos produzidos de maneira articulada com as teorias
existentes são considerados científicos.
Um conhecimento empiricamente verdadeiro, mas isolado, não é ciência. Só existe
conhecimento científico quando esse está inserido em uma teoria. Sempre que um novo evento
aparece, o cientista desenvolve um esforço de reflexão para explicá-lo dentro das teorias
existentes. O primeiro momento da interpretação é a tentativa de deduzir explicações que
esclareçam os fatos observados. À medida que os fatos resistem às explicações e que novas
teorias surgem.
Para entendermos a atividade de produção de conhecimento é preciso ter consciência
do modo como esse conhecimento científico organiza-se (coerência). A metodologia científica é
uma análise da atividade do cientista e dos problemas que essa atividade possui.
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OBJETIVOS DA ATIVIDADE CIENTÍFICA

A atividade científica visa à produção de conhecimentos dentro de parâmetros


determinados, atendo-se a certas particularidades para ser reconhecida como científica. Para ser
reconhecida, a atividade científica deve apresentar duas características fundamentais:
1. O conhecimento precisa ser sistemático, isto é, o conjunto de afirmações deve ser articulado,
sem contradições internas e sem incompatibilidade entre as afirmações. Quando aparecem
contradições no interior da ciência ela tende a se movimentar.
2. O conhecimento produzido precisa ser adequado para que as afirmações correspondam aos
fatos.
A partir das considerações acima é que poderemos desenvolver o sentido do conceito de
Metodologia
Metodologia: É o estudo analítico e crítico dos métodos de investigação e de prova. A
metodologia não é, senão, uma reflexão sobre a atividade científica que está sendo desenvolvida
para obter, em determinado momento, um retrato dessa atividade—retrato esse que diferirá de
acordo com a ciência sobre a qual estamos refletindo.

CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS QUANTO A NATUREZA DO OBJETO

Podemos dividir as ciências em formais e fatuais com base na natureza dos seus
objetos, métodos e critérios de verdade.
A. O objeto das ciências formais são ideais, seu método é a dedução seu critério de
verdade é a consistência ou não na contradição d seus enunciados. Todos os seus enunciados
são analíticos, isto deduzidos de postulados e de teoremas.
B. O objeto das ciências fatuais são materiais, seus métodos são observação e a
experimentação e seu critério de verdade é verificável. Os enunciados das ciências fatuais são
predominantemente sintéticos, embora haja enunciados analíticos.

CLASSIFICAÇÃO DA CIÊNCIA DO PONTO DE VISTA DA INVESTIGAÇÃO


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A. Não empíricas: são as que comprovam suas proposições sem recorrer à experiência.
Exemplo: Lógica, Matemática.
B. Empíricas: exploram, descrevem, explicam e formulam predições sobre os
acontecimentos do mundo que nos rodeia. Suas proposições devem ser confrontadas com os
fatos e só têm validade se verificadas experimentalmente.
Por sua vez, as ciências empíricas são classificadas em:
A Ciências naturais: Física, Química, Biologia etc.
A Ciências sociais: Sociologia, Economia, Administração, etc.

CRÍTICA À CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS

De modo geral, as classificações existentes são muito esquemáticas. Essas divisões


podem ser aceitas desde que se tenha consciência de que seu sentido é apenas ordenar
aspectos diferentes da realidade. No processo histórico podemos observar que as ciências estão
em contínuo processo de formação, sendo viável conceber outros grupos de ciências além das
formais e das fatuais. Assim, poderíamos pensar em um terceiro grupo integrado pelas ciências
da cultura ou do homem. Poderíamos, ainda, ter um quarto grupo de ciências interdisciplinares
como a Biologia, a Cibernética e a Matemática; e até um quinto grupo, formado pelas novas
crenças, como Parapsicologia e Semiótica.
As ciências humanas são, em certo sentido, fatuais, mas os fatos (dados) de onde se
originam pertencem à cultura criada pelo homem. Um exemplo conhecido é o de que a pedra
pode ser objeto de investigação tanto da Física quanto da Química (ciências fatuais), mas se há
nela pictografias, converte-se em um objeto cultural.
As ciências humanas estudam uma certa experiência (histórica, psíquica, social) e, por
isso, aproximam-se das ciências fatuais, mas diferem destas pelo caráter de seus objetos, pela
maneira de considerá-los (enfoque ou perspectiva) e pelos métodos de investigação e de prova,
o que demonstra a fragilidade das classificações.

NATUREZA DO CONHECIMENTO
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Nos vários campos da filosofia ou das ciências particulares, o ser humano contenta-se
momentaneamente com as conclusões obtidas. Mas o espírito humano não deixa de perguntar
enquanto não tiver chegado à causa suprema, à razão derradeira que explica tudo; somente
então declara-se satisfeito. Essa busca incessante é que leva ao conhecimento filosófico.

CONHECIMENTO INTUITIVO

O ser humano toma conhecimento do mundo exterior de diversas maneiras.


Primeiramente, utilizando os órgãos e sentidos que transmitem ao cérebro a existência dos
objetos por algumas de suas qualidades. A percepção de um objeto ocorre a partir das
sensações causadas pelas qualidades dos objetos. É o experimentar, o sentir, que caracteriza a
sensação e a difere de outros fenômenos materiais, sendo imediata e exclusivamente um fato de
consciência. A percepção imediata, ou seja, aquela percepção cujo objeto passa para a mente
sem a necessidade do conhecimento prévio, também chamada de conhecimento imediato, é o
conhecimento intuitivo, cuja origem está na experimentação e no sentir mediante as sensações
transmitidas pelos órgãos dos sentidos.
Além dessa experiência externa, existe uma outra experiência interna, denominada
reflexão. Enquanto a experiência externa utiliza-se dos órgãos dos sentidos para a apreensão do
objeto, a experiência interna limita-se a unir e comparar os diferentes dados da experiência
externa. Pelos órgáos dos sentidos, o sujeito distingue a cor roxa e a cor verde, mediante uma
experiência externa utilizando o órgão da visão, e com a experiência interna ele pode afirmar que
o roxo é diferente do verde.

CONHECIMENTO RACIONAL

Opondo-se à experiência como fonte do conhecimento, existe o chamado racionalismo


(de razão), que só admite o conhecimento racional, afirmando que a razão é a verdadeira fonte
do conhecimento. Admite a existência de um conhecimento a priori, independente da
experiência. Descartes, o pai da filosofia moderna, defendia a existência das idéias inatas, ou
seja, os conceitos fundamentais do conhecimento. O conhecimento matemático é um exemplo
desse racionalismo, porque trata de um conhecimento conceitual e dedutivo.
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CONHECIMENTO INTELECTUAL

Superando esse antagonismo entre razão e experiência, surge o intelectualismo


(inteiligere, intus + legere = ler no interior), admitindo ambos como fonte de conhecimento, ou
seja, a razão e a experiência na produção do conhecimento. Enquanto para o racionalismo os
conceitos são inatos e para o empirismo estes são adquiridos mediante experiências, o
intelectualismo os deriva da experiência, ou seja, a consciência cognoscitiva retira os conceitos
fundamentais da experiência, tendo como axioma fundamental a frase: "nada existe na mente
que não tenha passado pelo sensível".

CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Segundo Kant, existem conhecimentos de natureza formal, apriori, recebendo estes o


conteúdo dado pela experiência’. Esse conhecimento formal que obtém na experiência o seu
conteúdo é o conhecimento científico. A universalmente aceita a idéia de que o conhecimento
humano não se limita ao mundo fenomênico, mas avança até a esfera metafísica, na busca de
uma visão filosófica do universo.
A fé religiosa também dá a sua interpretação do universo e da sua existência. A
discussão principal é como se relacionam a religião e a filosofia, a fé e o saber. Alguns admitem
uma identidade entre religião e filosofia, ou seja, não há diferença entre uma e outra: a religião é
filosofia e a filosofia é religião.
Para Platão, os sentidos não conduzem nunca ao verdadeiro saber. Descartes e seu
seguidor Leibniz admitiam a existência de certo número de conceitos inatos que são os
fundamentos do conhecimento. Para Kant, os conceitos sem as intuições são vazios, e as
intuições sem os conceitos são cegos.
Verifica-se que a busca de explicações relativa à evolução da mente humana passou da
introspecção na Antiguidade para uma busca objetiva materialista, como será exposto no final
deste capítulo, que discute a criação da máquina inteligente.
Sócrates, considerado o pai da filosofia ocidental, encarna a atitude teórica do espírito
grego. Essa atitude teórica se concentra na reflexão sobre o saber; com a afirmação "conhece-te
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a ti mesmo", procura fazer com que os indivíduos percebam que toda atitude consciente é um
saber. Ele faz a distinção de duas ordens de conhecimento, o sensível, que para ele não é objeto
da ciência, e o intelectual, que é o inteligível, o conceito que se exprime pela definição.
Em oposição às conclusões sofistas, que afirmavam a impossibilidade absoluta e
objetiva do saber, Sócrates define que o objeto da ciência é o inteligível, isto é, a reflexão.
Platâo, discípulo de Sócrates, estende-se a outros valores que não somente os objetos práticos,
os valores e as virtudes, mas também o conhecimento científico relativo às outras atividades, tais
como as do estadista, do filósofo, do poeta, que possuem conhecimento prático. A relação entre
o conceito e a realidade é a base da sua filosofia. A ciência é objetiva, o conhecimento certo
deve corresponder uma realidade. Isso significa que, além do mundo fenomênico, das
aparências, existe um outro mundo de realidades objetivamente dotadas dos mesmos atributos
dos conceitos que as representam.

A NEUTRALIDADE CIENTÍFICA

É sabido que, para se fazer uma análise desapaixonada de qualquer tema, é necessário
que o pesquisador mantenha uma certa distância emocional do assunto abordado. Mas será isso
possível? Seria possível um padre, ao analisar a evolução histórica da Igreja, manter-se afastado
de sua própria história de vida? Ou ao contrário, um pesquisador ateu abordar um tema religioso
sem um conseqüente envolvimento ideológico nos caminhos de sua pesquisa?
Provavelmente a resposta seria não. Mas, ao mesmo tempo, a consciência desta
realidade pode nos preparar para trabalhar esta variável de forma que os resultados da pesquisa
não sofram interferências além das esperadas. É preciso que o pesquisador tenha consciência
da possibilidade de interferência de sua formação moral, religiosa, cultural e de sua carga de
valores para que os resultados da pesquisa não sejam influenciados por eles além do aceitável.
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CAPÍTULO II
"Na ciência é impossível abrir novos campos
se não deixarmos o ancoradouro seguro da doutrina aceita
e enfrentar um perigo de um salto à frente em direção ao vazio".
Werner Heisenberg, físico alemão.

A PREPARAÇÃO DA PESQUISA

Estes são os passos do preparo de um projeto de pesquisa.


1. Escolha do Tema
2. Revisão de Literatura
3. Justificativa
4. Formulação do Problema de Pesquisa
5. Formulação das Hipóteses (se exigida)
6. Delimitação do Tema
7. Indicação dos Objetivos
8. Metodologia (caracterização do locus da pesquisa, universo, amostra/sujeitos, instrumentos
de coleta dos dados, etc)

A PESQUISA

Pesquisa é o mesmo que busca ou procura. Pesquisar, portanto, é buscar ou procurar


resposta para alguma coisa. Em se tratando de Ciência a pesquisa é a busca de solução a um
problema que o alguém queira saber a resposta. Não se faz ciência, e sim se produz ciência
através de uma pesquisa. Pesquisa é, portanto, o caminho para se chegar à ciência, ao
conhecimento.
É na pesquisa que utilizaremos diferentes instrumentos para se chegar a uma resposta
mais precisa. O instrumento ideal deverá ser estipulado pelo pesquisador para se atingir os
resultados ideais. Num exemplo grosseiro não se poderia procurar um tesouro numa praia
Pesquisa e Método - Os Caminhos do Saber- Simão de Miranda

cavando um buraco com uma picareta; precisar-se-ia de uma pá. Da mesma forma não se
poderia fazer um buraco no cimento com uma pá; precisar-se-ia de uma picareta. Por isso a
importância de se definir o tipo de pesquisa e da escolha do instrumental ideal a ser utilizado.

ESCOLHA DO TEMA DO PROJETO DE PESQUISA

Existem dois fatores principais que interferem na escolha de um tema para o trabalho de
pesquisa. Abaixo estão relacionadas algumas questões que devem ser levadas em consideração
nesta escolha:
Fatores internos
- Afetividade em relação a um tema ou alto grau de interesse pessoal. Para se trabalhar
uma pesquisa é preciso ter um mínimo de prazer nesta atividade. A escolha do tema está
vinculada, portanto, ao gosto pelo assunto a ser trabalhado. Trabalhar um assunto que não seja
do seu agrado tornará a pesquisa num exercício de tortura e sofrimento.
- Tempo disponível para a realização do trabalho de pesquisa. Na escolha do tema temos
que levar em consideração a quantidade de atividades que teremos que cumprir para executar o
trabalho e medi-la com o tempo dos trabalhos que temos que cumprir no nosso cotidiano, não
relacionado à pesquisa.
- O limite das capacidades do pesquisador em relação ao tema pretendido. É preciso que o
pesquisador tenha consciência de sua limitação de conhecimentos para não entrar num assunto
fora de sua área. Se minha área é a de ciências humanas, devo me ater aos temas relacionados
a esta área.
Fatores Externos
- A significação do tema escolhido, sua novidade, sua oportunidade e seus valores
acadêmicos e sociais. Na escolha do tema devemos tomar cuidado para não executarmos um
trabalho que não interessará a ninguém. Se o trabalho merece ser feito que ele tenha uma
importância qualquer para pessoas, grupos de pessoas ou para a sociedade em geral.
- O limite de tempo disponível para a conclusão do trabalho. Quando a instituição determina
um prazo para a entrega do relatório final da pesquisa, não podemos nos enveredar por
assuntos que não nos permitirão cumprir este prazo. O tema escolhido deve estar delimitado
dentro do tempo possível para a conclusão do trabalho.
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- Material de consulta e dados necessários ao pesquisador Um outro problema na escolha


do tema é a disponibilidade de material para consulta. Muitas vezes o tema escolhido é pouco
trabalhado por outros autores e não existem fontes secundárias para consulta. A falta dessas
fontes obriga ao pesquisador buscar fontes primárias que necessita de um tempo maior para a
realização do trabalho. Este problema não impede a realização da pesquisa, mas deve ser
levado em consideração para que o tempo institucional não seja ultrapassado.

TÉCNICAS DE PESQUISA

Pesquisa Experimental: São investigações de pesquisa empírica que têm como principal
finalidade testar hipóteses que dizem respeito a relações de causa e efeito. Envolvem: grupos de
controle, seleção aleatória e manipulação de variáveis independentes. Empregam rigorosas
técnicas de amostragem para aumentar a possibilidade de generalização das descobertas
realizadas com a experiência.
Assim, podemos discriminar com relação à pesquisa experimental:
A. Objetivo: verificar hipóteses de pesquisa à procura de generalizações empíricas.
B. Procedimento: manipulação experimental de uma ou mais variáveis independentes.
C. Características: uso de grupos de controle e emprego de seleção aleatória, dentro de
critérios estatísticos, para assegurar que os grupos experimentais e de controle possam ser
considerados equivalentes.
D. Tipos: a pesquisa experimental pode ser realizada no laboratório e no campo:
A Pesquisa de laboratório: utilizada para testar hipóteses relacionadas a teorias.
APesquisa de campo: empregada em estudos que visam avaliar ações ou interferências
realizadas no âmbito social. É o caso, por exemplo, de estudos que procuram avaliar a eficácia
de programas ou de técnicas adotadas para auxiliar indivíduos ou instituições.
No experimento controlado, nas ciências humanas e sociais, separam-se dois grupos
semelhantes (potencialmente iguais) para comparação final dos resultados, denominados:
- Grupo de controle: no qual não se realiza intervenção.
- Grupo experimental: no qual a intervenção é realizada.
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Pesquisa Documental: é realizada a partir de fontes primárias, como documentos escritos ou não
(arquivos públicos ou particulares e fontes estatísticas).
Pesquisa Bibliográfica: é realizada a partir de fontes secundárias, livros, boletins, jornais, teses,
dissertações, monografias, outros (leitura, elaboração de fichas, ordenação e análise das fichas).
Pesquisa Exploratória: são investigações de pesquisa empírica que têm por finalidade formular
um problema ou esclarecer questões para desenvolver hipóteses. O estudo exploratório
aumenta a familiaridade do pesquisador com o fenômeno ou com o ambiente que pretende
investigar, servindo de base para uma pesquisa futura mais precisa. São também utilizados para
esclarecer ou modificar conceitos. As descrições, nesse caso, tanto podem ser qualitativas
quanto quantitativas. Os métodos de coleta de dados também podem variar da pesquisa
bibliográfica e documental ao uso de questionário, entrevista ou observação.
Esses estudos não necessitam de amostragem e utilizam de modo bastante freqüente os
procedimentos da observação participante e a análise de conteúdo. Podemos discriminar com
relação à pesquisa exploratória:
A. Finalidade: refinar conceitos, enunciar questões e hipóteses para investigações
subseqüentes.
B. Procedimento: pode utilizar tanto métodos quantitativos quanto qualitativos, como:
A Revisão da literatura: pesquisa bibliográfica e documental para elaboração de resenha da
ciência social afim, assim como de outras partes pertinentes da literatura que tenham relação
com o objeto que se pretende estudar.
Os três tipos de pesquisa existentes — experimental, descritiva e exploratória — não são
exclusivos. Embora tenha sido efetuada, em termos didáticos, uma divisão, a fim de dar uma
idéia geral dos procedimentos que ocorrem com certa regularidade na prática, as pesquisas
podem utilizar-se de todos os tipos para esclarecer a questão que está sendo investigada. O que
define a adoção dos procedimentos adequados são os objetivos e a finalidade da pesquisa. O
pesquisador precisa conhecer todas as técnicas para utilizar o critério adequado na escolha do
método.
Quando trabalhamos com pesquisa partimos de uma teoria, de uma idéia que fazemos a
respeito dos fatos. Nenhum trabalho de pesquisa inicia-se sem que haja uma teoria que
fundamente a ação do pesquisado e mesmo que essa teoria não apareça explicitamente no
trabalho. Seguem abaixo alguns elementos básicos de uma teoria:
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A. Conceito: idéia ou definição que constitui a unidade básica da teoria.


B. Definição de conceito: para cada conceito há uma definição. Podemos aprender o
significado de um conceito por meio de sua definição. Quando não existe conhecimento anterior
que permita definir um determinado conceito, esse passa a ser denominado conceito primitivo,
isto é, algo que não é definido, e por isso serve para definir outros conceitos, os denominados
conceitos derivados. Assim sendo, os conceitos dividem-se em: primitivos e derivados.
C. Axiomas: toda teoria possui um conjunto de afirmações das quais se deduz novas
afirmações e que constituem, como já visto anteriormente, postulados ou axiomas. Trata-se de
princípios gerais aceitos que formam afirmações que dão origem a outras sem que necessitem
de demonstração.
D. Hipótese: também são afirmações, mas se diferenciam dos axiomas porque derivam
deles. As afirmações que iniciam o cálculo dedutivo são axiomas; as que o terminam são
hipóteses.
E. Regras de inferência: elas permitem, partindo dos axiomas, chegar às hipóteses.
Cada teoria tem um conjunto sistemático de regras de inferência que permite fazer deduções.
O trabalho científico caracteriza-se, portanto, por um conjunto sistemático de
procedimentos realizados pelo pesquisador a partir de uma teoria ou de uma idéia acerca da
realidade, visando comprovar, por meio de levantamentos de dados (quantitativos, qualitativos),
as hipóteses formuladas sobre o comportamento provável dos fenômenos, hipóteses essas que
derivam de postulados ou de axiomas.
A pesquisa exploratória permite ao investigador aumentar sua experiência em torno de
determinado problema, familiarizar-se com o fenômeno ou conseguir nova compreensão deste,
para poder formular problemas mais precisos de pesquisa ou elaborar novas hipóteses; muitos
estudos exploratórios têm como objetivo a formulação de um problema para investigação mais
exata ou para a formulação de hipóteses.
Os estudos exploratórios podem ter outras funções: aumentar o conhecimento do
pesquisador acerca do fenômeno que deseja investigar em estudo posterior; o esclarecimento de
conceitos; o estabelecimento de prioridades para futuras pesquisas; a obtenção de informação
sobre possibilidade práticas de realização de pesquisas em situações de vida real; apresentação
de um recenseamento de problemas considerados urgentes.
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Na prática, as diferenças entre os diversos tipos de estudos (exploratórios, descritivos,


experimentais) nem sempre são nitidamente separáveis. Qualquer pesquisa poder conter
elementos de duas ou mais funções descritas como características de diferentes tipos de estudo.
Sabendo-se que as ciências sociais estão em formação face ao seu pouco tempo de exercício, a
pesquisa exploratória é necessária para a obtenção de experiência que auxilie na formulação de
hipóteses significativas para pesquisa mais definitiva.
No caso de problemas em que o conhecimento é muito reduzido, geralmente o estudo
exploratório é mais recomendado. Às vezes, existe uma tendência para subestimar a importância
de pesquisa exploratória e considerar como “cientifico”, apenas o trabalho experimental.
Pois na prática, a parte mais difícil de uma pesquisa é o seu inicio. Qualquer que seja a
razão para a realização de um estudo, a capacidade criadora e a “sorte” desempenharão
importante papel. Algumas sugestões para o uso dos estudos exploratórios: efetuar uma resenha
pertinente da literatura, uma análise de exemplos que estimulem a compreensão (estudos de
caso); um levantamento de pessoas que tiveram experiência prática com o problema a ser
estudado.
Qualquer que seja o método escolhido, deve ser usado de maneira flexível. À medida
que o problema inicialmente definido de maneira vaga se transforma em problema com sentido
mais precisamente definido, são necessárias freqüentes mudanças no processo de pesquisa, a
fim de permitir a obtenção de dados significativos para as hipóteses emergentes.
O estudo exploratório finalmente permite que o pesquisador possa encontrar os
elementos necessários que lhe permitam, em contato com determinada população, obter os
resultados que deseja. Exige o rigor cientifico, a exemplo da revisão bibliográfica e do processo
de coleta de dados.
Estudos Descritivos: Uma grande quantidade de pesquisa social se volta para a descrição de
características de comunidades (idade, raça, nacionalidade, educação, dentre outros). Os
estudos descritivos pretendem descrever com exatidão, os fatos e fenômenos de determinada
realidade.
Um tipo comum de estudo descritivo, é a análise documental. Este estudo fornece ao
pesquisador uma grande quantidade de informação (jornais, livros, arquivos, etc).
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Estes estudos não envolvem a formulação de hipóteses As questões de pesquisa


pressupõem conhecimentos anteriores do problema a ser pesquisado Ao contrário do caso dos
estudos exploratórios.
Nos estudos descritivos, o pesquisador precisa ser capaz de definir claramente o que
deseja medir, de encontrar métodos adequados para essa mensuração, a definição clara de
determinada população. Os estudos descritivos podem utilizar os vários métodos de coletas de
dados, a exemplo das entrevistas, questionários e observação participante. Em virtude da
grande quantidade de dados coletados em estudos descritivos, o plano de pesquisa deve ser
cuidadosamente elaborado.
Etapas dos Estudos Descritivos
1. Definir claramente a pergunta a ser respondida (Exemplo: Será que os restaurantes de
Brasília têm discriminação contra os fregueses negros?). É importante, definir o que se entende
por discriminação.
2. Métodos para a coleta de dados (questionários, observação, entrevista, etc):
A etapa de coletas de dados é um dos pontos principais em que se introduzem medidas para
impedir viés e imprecisões.
3. Pré-teste: este define as dificuldades das técnicas a serem empregadas, a fim de ter a
certeza de que permitirão a informação necessária.
4. A Amostra: Em muitos estudos descritivos, o pesquisador deseja ser capaz de fazer
afirmações a respeito de certo grupo definido de pessoas ou objetos, assim e mais freqüente que
seja suficiente uma amostra da população a ser estudada. A amostra deve ser selecionada de
forma que os resultados nela baseados tendam a corresponder estreitamente aos que seriam
obtidos se a população fosse estudada. O objetivo da pesquisa determina a unidade adequada
de amostragem.
5. Coleta dos Dados: No processo de coleta de dados é necessário supervisionar estritamente a
equipe dos que trabalham no campo, quando coligem e registram informações. É preciso
estabelecer controles, afim de que os dados estejam completos, compreensíveis, coerentes e
precisos.
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6 Análise dos Resultados: o processo de análise inclui codificação das respostas de entrevistas,
observações, tabulação dos dados, cálculos estatísticos. Com exceção dos estudos exploratórios
é sempre possível estabelecer antecipadamente os esquemas básicos de análise dos dados.

ENFOQUES DE PESQUISA: O BINÔMIO QUANTITATIVO/QUALITATIVO


PESQUISA QUANTITATIVA

São investigações de pesquisa empírica cuja finalidade é delinear ou analisar


fenômenos, avaliar programas ou isolar variáveis-chave. Descrevem as situações utilizando
critérios quantitativos que estabelecem proporções e correlações entre as variáveis observadas,
procurando elementos que permitam a comprovação das hipóteses. Utilizam como técnica de
coleta de dados entrevistas pessoais, questionários e procedimentos de amostragem. Podemos
discriminar com relação à pesquisa quantitativa descritiva:
A. Objetivo: verificar hipóteses por métodos quantitativos de medição. As técnicas utilizadas são
semelhantes aos estudos experimentais quanto à quantificação; o objetivo, entretanto, é
descritivo e não comparativo.
B. Procedimento: as descrições quantitativas são obtidas pela medição que intenciona descrever
relações entre variáveis. O procedimento utilizado é o estabelecimento de correlações,
proporções etc.
A pesquisa quantitativa é metrificante. Ela busca estabelecer relações de causa-efeito entre as
varáveis de tal modo que as perguntas “Quanto?”, “Em que proporção?”, “Em que medida?”,
sejam respondidas com razoável rigor. Em suma, enquanto a pesquisa qualitativa pergunta
“quê?”, a pesquisa quantitativa pergunta “quanto?”. Além disso, a pesquisa quantitativa
pressupõe a utilização do Método Estatístico.

PESQUISA QUALITATIVA

A Pesquisa Qualitativa tem os seguintes objetivos:


1)Descrever uma situação, um fenômeno ou um grupo de itens (pessoas ou coisas);
2)Gerar hipóteses de trabalho cuja verificação depende, no âmbito da pesquisa qualitativa, de
tratamento específico ou, no âmbito da pesquisa quantitativa, de indicadores preliminares
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para estudos posteriores de caráter mais aprofundado;


3)Contribuir para a geração de teorias a respeito da questão sob exame.
A pesquisa qualitativa é globalizante, holística. Procura captar a situação ou o
fenômeno em toda a sua extensão. Em lugar de identificar a priori algumas variáveis de
interesse, trata de levantar todas as possíveis variáveis existentes, numa tentativa de enxergar,
na sua interação, o verdadeiro significado da questão sob exame.

O PROBLEMA DE PESQUISA

É ele que vai direcionar toda a pesquisa. Toda investigação nasce de um problema
teórico ou prático, e dirá o que é relevante ou irrelevante observar, os dados que devem ser
selecionados. A partir desta seleção, se definirá uma questão que servirá de guia ao
pesquisador, um problema e uma sentença interrogativa. Um problema científico deve conter
duas ou mais variáveis (Exemplo: Os comentários do professor provocariam um
desenvolvimento dos alunos? Variável 1= comentários do professor e Variável 2= desempenho
dos alunos)
Formulação do problema: colocação de uma questão, com probabilidade de ser
solucionada e de apresentar-se frutífera, com o auxilio do conhecimento disponível.
1) Critérios para Formulação de Problemas
1 — o problema deve expressar uma relação entre duas ou mais variáveis (A está relacionado
com B?)
2 — o problema deve ser formulado claramente e de maneira não ambígua na forma
interrogativa.
3 — o problema deve ser formulado de tal forma que permita o seu teste empírico (Problema que
não é possível testar: “Quantos camelos pode entrar no fundo de uma agulha?”)

A FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES CIENTÍFICAS

Após a formulação do problema de pesquisa, o passo seguinte é a construção das


hipóteses, caso a configuração da pesquisa as exiga.
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Conceito de hipóteses: É como o pesquisador acha que o mundo é. Ou seja, é um


enunciado conjetural da relação entre duas ou mais variáveis. Uma hipótese científica é uma
proposição do pesquisador sobre as possíveis causas ou variáveis determinantes de um
problema. As hipóteses estão sempre na forma de sentenças declarativas e relacionam, tanto de
maneira geral como específica, variáveis a variáveis.O confronto de uma realidade (problema
observado) com uma teoria científica de pleno conhecimento do pesquisador é essencial à
formulação de uma hipótese.

Critérios para a formulação de hipóteses:


Hipóteses são formulações sobre relações entre variáveis, conduzem a implicações
claras para o teste da relação formulada. Logo a formulação de hipóteses contém duas ou mais
variáveis que são mensuráveis e que as variáveis estão relacionadas.
Exemplos de Hipóteses
1 O estudo em grupo contribui para um alto grau de desempenho acadêmico.
(Variável 1= estudo em grupo e Variável 2 = grau de desempenho.
2 O exercício de urna função mental não tem efeito no aprendizado futuro dessa função mental
(Variável l = exercício de uma função mental e Variável 2 = aprendizado futuro), observa-se a
dificuldade de definir as variáveis de tal forma que possam ser mensuráveis.
As hipóteses são instrumentos importantes para a pesquisa científica pois elas são:
- os instrumentos de trabalho da teoria (elas podem ser deduzidas da teoria e de outras
hipóteses),
- as hipóteses podem ser testadas e julgadas como provavelmente falsas ou verdadeiras
(fatos isolados não são testados, somente relações são testadas)
Hipóteses são predições da forma “se A então B”, a qual é construída para testar a
relação entre A e B.
- hipóteses são instrumentos poderosos para o avanço do conhecimento, elas são
formuladas, testadas e demonstradas como sendo corretas ou incorretas separadamente dos
valores e opiniões dos homens.
O papel fundamental da hipótese na pesquisa é sugerir explicações para os fatos. Essas
sugestões podem ser a solução para o problema.
Hipóteses podem ser verdadeiras ou falsas, mas, sempre que bem elaboradas,
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conduzem à verificação empírica, que é o propósito da pesquisa cientifica.As hipóteses originam-


se de diferentes fontes, a exemplo de: observação dos fatos; outras pesquisas já realizadas e
existem hipóteses derivadas de teorias e do senso comum do pesquisador.

Características de Hipóteses Testáveis


Deve ser conceitualmente clara; Deve ser específica; Deve ter referências empíricas (as
hipóteses que envolvem julgamento de valor não podem ser testadas); Deve estar relacionada
com uma teoria.
Exemplos de Hipóteses
“As mulheres dos bairros das vilas proletárias têm uma escolaridade maior que os homens
dessas mesmas vilas”
“As crianças que repetem a primeira série do primeiro grau das escolas públicas são de baixo
nível sócio-econômico”.
“O estudo em grupo contribui para um alto grau de desempenho escolar”

VARIÁVEIS: CONCEITO E OPERACIONALIZAÇÃO

Variável é algo que “varia’, que muda, que contém valores Na pesquisa quantitativa, a
variável deve ser quantificada, na pesquisa qualitativa, deve ser descrita.
Variável é um valor que pode ser dado por quantidade, qualidade, característica, magnitude,
variando em cada caso individual.
O Problema e as Hipóteses de Pesquisa são constituídos de variáveis, logo sem as
variáveis não se tem uma pesquisa completa. As variáveis dão consistência ao problema de
pesquisa. Elas permitem a repetição da pesquisa por outros pesquisadores. As variáveis podem
apresentar diferentes atributos. As variáveis são os instrumentos conceituais básicos de
pesquisa. Elas representam os fatos empíricos.

Tipos de Variáveis:
Independentes (determinantes): são as variáveis explicativas e atuam sobre as variáveis
dependentes. São manipuladas pelo pesquisador.
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Dependentes (determinadas) sofrem os efeitos das variáveis independentes Não são


manipuladas pelo pesquisador.
Intervenientes: influenciam as dependentes e independentes. Exemplo: Os lucros das
empresas (dependente) aumentam com os níveis de qualificação dos seus gerentes
(independente).

INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS


QUESTIONÁRIOS

Vantagens maiores: possibilidade de abranger grande número de pessoas, é útil onde se


procura informações de pessoas que estão geograficamente dispersas, é eficaz quando aplicado
a grupos de nível instrucional alto, custa menos que entrevistas.
Limitações: grau de instrução e boa vontade do pesquisado.
É importante observar a apresentação gráfica do questionário, que deve ser apresentado
de maneira que estimule o entrevistado a responder as perguntas.
Ao elaborar o questionário, o pesquisador deverá está atento ao problema de pesquisa,
hipóteses e variáveis. Deverá ser elaborado após a definição dessas etapas da pesquisa. Deve
conter uma introdução que explique os objetivos da pesquisa e a forma do seu preenchimento.
Observar o tempo, para evitar que o entrevistado não seja devidamente estimulado para
responder adequadamente as questões. Algumas sugestões a respeito da elaboração do
questionário:
1. devem ser formuladas perguntas relacionadas ao problema de pesquisa
2. as perguntas podem ser abertas, fechadas ou mistas.
3. devem ser formuladas perguntas que o entrevistado saiba responder
4. as perguntas devem ser formuladas obedecendo a uma cronologia temporal. As respostas
que se referem fatos recentes, devem ser formuladas inicialmente; as demais, no final.
5. as perguntas mais simples devem ser perguntadas inicialmente, e as mais complexas no final.
6. a pergunta deve possibilitar uma única interpretação.
7. as perguntas devem ser formuladas de forma clara, concreta e precisa.
8. devem ser evitadas perguntas que penetrem na intimidade das pessoas.
9. devem ser evitadas perguntas estereotipadas, bem como perguntas personalizadas.
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Após a elaboração do questionário, é imprescindível a realização do pré-teste, tendo em


vista verificar o tempo e a compreensão das perguntas pelos entrevistados. Ou seja, o pré teste
mostrará a clareza e precisão dos termos, a quantidade de perguntas, a forma e ordem das
perguntas. Após a aferição do questionário pelo pré-teste, o pesquisador fará as devidas
correções aplicará o questionário.
O questionário pode ser aplicado diretamente pelo entrevistador, por entrevistadores
devidamente treinados ou enviado pelo correio, fax e mais recentemente por meio da Internet.
Sua confecção é feita pelo pesquisador, seu preenchimento é realizado pelo informante.
A linguagem utilizada no questionário deve ser simples e direta para que o respondente
compreenda com clareza o que está sendo perguntado. Não é recomendado o uso de gírias, a
não ser que se faça necessário por necessidade de características de linguagem do grupo
(grupo de surfistas, por exemplo). Todo questionário a ser enviado deve passar por uma etapa
de pré-teste, num universo reduzido, para que se possam corrigir eventuais erros de formulação.
Conteúdo de um questionário:
Carta Explicação, que deve conter:
– A proposta da pesquisa; Instruções de preenchimento; Instruções para devolução;
Incentivo para o preenchimento e Agradecimento.
Para que as respostas possam ter maior significação é interessante não identificar
diretamente o respondente com perguntas do tipo NOME, ENDEREÇO, TELEFONE etc., a não
ser que haja extrema necessidade, como para selecionar alguns questionários para uma
posterior entrevista.
ENTREVISTA
Vantagens maiores: permite estreito relacionamento entre pesquisador e pesquisado.
Limitações: interpretações dos dados deve ser feita com cuidado, algumas verbalizações
parecem transparentes, podendo ser interpretadas erroneamente.
Podem ser estruturadas (com um roteiro fixo inalterável), não-estruturada (sem roteiro,
apenas com um tópico motivador) ou semi-estruturada (com um roteiro flexível). É necessário ter
um plano para a entrevista para que no momento em que ela esteja sendo realizadas as
informações necessárias não deixem de ser colhidas. As entrevistas podem ter o caráter
exploratório ou ser de coleta de informações. Se a de caráter exploratório é relativamente
Pesquisa e Método - Os Caminhos do Saber- Simão de Miranda

estruturada, a de coleta de informações é altamente estruturada.


Sugestões de planejamento para se realizar uma entrevista:
Quem deve ser entrevistado: Procure selecionar pessoas que realmente têm o
conhecimento necessário para satisfazer suas necessidades de informação.
Plano da entrevista e questões a serem perguntadas. Prepare com antecedência as
perguntas a serem feitas ao entrevistado e a ordem em que elas devem acontecer.
Pré-teste: Procure realizar uma entrevista com alguém que poderá fazer uma crítica de
sua postura antes de se encontrar com o entrevistado de sua escolha.
OBSERVAÇÃO
Vantagem maior: obtenção da informação quando ocorre.
Limitações: são questionadas sua fidedignidade e validade em função do modo como o
pesquisador se integra ao grupo, não recomendada se feita por um ou poucos pesquisadores,
em função da multiplicidade de eventos a registrar.
Pode ser Participante (quando o pesquisador se integra ao grupo, participando dos
eventos) ou Não-Participante (quanto não se integra, limitando-se apenas a registrar os
eventos). Antes de iniciar o processo de observação, procure examinar o local. Determine que
tipos de fenômenos merecerão registros.
Planejamento de um método de registro: Crie, com antecedência, uma espécie de lista
ou mapa de registro de fenômenos. Procure estipular algumas categorias dignas de observação.
Fenômenos não esperados: Esteja preparado para o registro de fenômenos que surjam
durante a observação, que não eram esperados no seu planejamento.
REGISTROS ICONOGRÁFICOS:
Para realizar registros iconográficos (fotografias, filmes, vídeos etc.), caso o objeto de
sua observação sejam indivíduos ou grupos de pessoas, prepare-os para tal ação. Eles não
devem ser pegos de surpresa.
ANÁLISE DE CONTEÚDO:
Os documentos como fonte de pesquisa podem ser primárias ou secundárias. As fontes
primárias são os documentos que gerarão análises para posterior criação de informações.
Podem ser decretos oficiais, fotografias, cartas, artigos etc. As fontes secundárias são as obras
nas quais as informações já foram elaboradas (livros, apostilas, teses, monografias, etc., por
exemplo). Sugestões para análise de documentos:
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a - Locais de coletas: Determine com antecedência que bibliotecas, agências


governamentais ou particulares, instituições, indivíduos ou acervos deverão ser procurados.
b - Registro de documentos: Esteja preparado para copiar os documentos, seja através
de xerox, fotografias ou outro meio qualquer.
c - Organização: Separe os documentos recolhidos de acordo com os critérios de sua
pesquisa.
HISTÓRIA DE VIDA:
O pesquisado livremente reconstrói sua vida até os dias presentes. Retira-se os fatos
mais relevantes para a pesquisa.
TESTES:
O pesquisado indica seu grau de concordância com enunciados ou conta uma história a
partir de uma imagem. Alguns são caricaturais: pedem para você dizer suas reações entre as
descritas atribuindo-lhe pontos por opção. Depois, no escore declaram-lhe emotivo, racional...
A Internet:
Representa uma novidade nos meios de pesquisa, onde as informações são trocadas
livremente entre todos. Sem dúvida representa uma revolução no que concerne à troca de
informação. Mas, se ela pode facilitar a busca e a coleta de dados, ao mesmo tempo oferece
alguns perigos; na verdade, as informações passadas por essa rede não têm critérios de
manutenção de qualidade da informação.
Explicando melhor: qualquer um pode colocar sua "Homepage" na rede. Vamos supor que
um indivíduo coloque sua página e o objetivo seja falar sobre a História do Brasil: ele pode
perfeitamente, sem que ninguém o impeça, dizer que o Brasil foi descoberto "por Diogo da Silva,
no ano de 1325". Sendo assim, devemos levar em conta que toda e qualquer informação colhida
na Internet deverá ser confirmada antes de divulgada.

O PROJETO DE PESQUISA

- Observar as normas da ABNT


- Não existe um modelo único para elaborar um projeto de pesquisa, entretanto algumas
exigências metodológicas são comuns a todos os projetos de pesquisa. O diferente é o conteúdo
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especifico de cada uma delas.


- A forma de apresentação de um projeto varia de pesquisador para pesquisador. Os institutos
de pesquisa, entretanto tendem a adotar fórmulas padronizadas para apresentação de projetos
de pesquisa.

DICAS PARA REDAÇÃO DE TEXTOS CIENTÍFICOS

Abertura dos capítulos: captar o interesse do leitor. Exemplos: incidentes curiosos,


mesmo uma anedota; fatos ou estatísticas surpreendentes; afirmações chocantes ou
provocadoras; menção a problema importante aludindo a solução incomum; conceito complexo,
capaz de chamar a curiosidade; episódio vivenciado pelo autor.
Corpo do texto: relacionar dados, descer a pormenores, classificar, apresentar, discutir
conceitos (exposição); argumentar, criticar, confrontar (argumentação).
Fechamento de capítulo: 1) proporcionar sensação de satisfação no sentido de haver
esclarecido o objeto nele referido. Pode-se fechar com breve sumário ou revisão dos conceitos;
2) manter a curiosidade, com referência à matéria que se segue. Menção a problemas ainda não
tratados, assegurando que seu equacionamento depende do exposto no capítulo findante.
Introdução de idéias novas, com promessa de exame em seguida. Colocação de considerações
provocadoras, que impliquem num desenvolvimento. Exemplo para início do texto – “Sob tais
condições...”
Conclusão do trabalho: caráter conclusivo. Ponto final.
Introdução do trabalho: reler o que escreveu. Está ok? Explicar sucintamente do que vai
tratar, indicando como o fará e das razões que o levaram a escolher a maneira. Sem
pormenores. Idéia geral. Dizer sobre o que versa o tema.
Tema: revela o problema a ser pesquisado. Deve ser de interesse do pesquisador, que
deve sentir-se apto da realizar a pesquisa.
Objetivos: definição do que se pretende com precisão e clareza. Objetivo geral é o fim
que se pretende alcançar com o desenvolvimento do projeto e deve ser redigido de modo claro,
preciso e sem ambigüidades. O objetivo específico é o detalhamento do objetivo geral, e deve
ser formulado atendendo aos seguintes critérios: a) ser formulado com o verbo no infinitivo, que
define a ação ao ser cumprida; b) são intermediários e instrumentais permitindo atingir os
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objetivos gerais. Deve-se tomar cuidados com o uso dos verbos nos objetivos gerais e
específicos, pois os que forem empregados nos objetivos gerais devem ser de maior significado
e amplidão. Os verbos utilizados nos objetivos gerais devem ser de maior significado que os dos
específicos. Exemplos de objetivos – “verificar quais os benefícios pedagógicos da aula
expositiva na educação superior...”, “observar, descrever e interpretar como se dão as relações
entre professor e aluno no curso de administração da Faculdade JK de Taguatinga-DF”
Abertura de capítulo: captar o interesse do avaliador, pode-se usar fatos ou estatísticas
surpreendentes, questões provocativas, episódio vivenciado pelo autor. Exemplo para início do
texto – “Já há algum tempo...”
Justificativa: relacionar e classificar informações, argumentar sua opção pela pesquisa.
Apresentar motivos relevantes que originaram a decisão de pesquisar o assunto. Exemplos para
início do texto – “movido pela intenção de...” “Além do interesse pessoal pelo assunto, o tema se
impõe pela necessidade de...” Qual a utilidade da contribuição ofertada.
Delimitação do problema: optar pelo aprofundamento e não pela extensão do assunto.
Evitar assuntos extensos que não possibilitem melhor aprofundamento. Indicar o prisma sob o
assunto será focalizado.
Referencial Teórico: todo trabalho deve ter como ponto de partida um referencial teórico
internacionalmente escolhido para este fim. Para isso se faz necessária uma pesquisa
bibliográfica ou exploratória, para definir o estágio em que se encontra o assunto, uma
caracterização inicial do problema, sua classificação e de sua definição.

VERBOS SUGERIDOS PARA INDICAR OBJETIVOS EM PROJETOS E PESQUISAS

Analisar, Apontar, Argüir, Arrolar, Avaliar, Classificar, Comparar, Conceituar, Constatar,


Definir, Demonstrar, Descrever, Destacar, Discutir, Enumerar, Especificar, Examinar, Identificar,
Observar, Questionar, Relacionar.

REVISÃO DA LITERATURA

A revisão bibliográfica significa um levantamento sobre o atual estado-da-arte, e refere-


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se ao conhecimento existente sobre determinado assunto. Uma referência bibliográfica refere-se


ao conjunto de elementos que permitem a identificação, no todo ou em parte, de documentos
impressos ou registrados em diversos tipos de material, utilizados como fonte de consulta e
citados nos trabalhos elaborados.
Uma referência bibliográfica tem elementos essenciais (indispensáveis para a
identificação das fontes das citações de um trabalho) e os complementares (são os opcionais,
que podem ser acrescentados aos essenciais para melhor caracterizar as publicações
referenciadas). Ajudará na identificação do problema da pesquisa. Normalmente, a pesquisa
bibliográfica é delineada a partir das seguintes fases:
- definição do tema de pesquisa, elaboração do problema de pesquisa, formulação das
hipóteses, definição dos objetivos, elaboração do plano de trabalho, identificação das palavras-
chave, identificação das fontes bibliográficas, leitura do material, tomada de apontamentos,
confecção de fichas, redação do trabalho.
A leitura do material bibliográfico deve seguir os seguintes objetivos:
- identificar as informações e os dados constantes do material impresso,
- estabelecer relações entre as informações e os dados obtidos com o problema proposto;
- analisar a consistência das informações e dados apresentados pelos autores.
As anotações das leituras bibliográficas são tomadas em fichas (de resumo, de citações,
analíticas), cujos principais objetivos são os seguintes:
- identificação das obras consultadas, registro do conteúdo das obras, registro dos
comentários acerca das obras, ordenação dos registros.
Estilo da redação bibliográfica: a redação técnico-científica não exige um estilo agradável
do ponto de vista literário. Torna-se importante ao estilo técnico-científico os seguintes pontos:
- impessoalidade: convém que o relatório seja redigido na 3ª pessoa;
- clareza: as idéias devem ser apresentadas de forma que não permitam ambigüidade, logo é
importante o uso de termos e palavras com sentidos exatos;
- precisão: as ciências dispõem de terminologias técnicas, especializadas e próprias do seu
conteúdo, logo o pesquisador não pode ignorá-las.
- concisão: as frases devem ser escritas de forma simples e curtas, facilitando sempre a
compreensão do leitor.
Citações: as idéias de outros autores, quando citadas, devem vir entre aspas. Quando
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breves, podem ser inseridas no próprio texto Quando longas (a partir de três linhas) devem ser
destacadas, mediante afastamento da margem. As citações podem ser sob a forma de
transcrição, em que se reproduz o texto, ou de paráfrase, em que se usa a citação livre do texto,
sem reprodução. As citações podem ser diretas, quando reproduzem diretamente o texto original
ou citação da citação, quando são retiradas de uma fonte intermediária.
O Levantamento de Literatura é a localização e obtenção de documentos para avaliar a
disponibilidade de material que subsidiará o tema do trabalho de pesquisa. Este levantamento é
realizado junto às bibliotecas ou serviços de informações existentes.
Sugestões para o Levantamento de Literatura
Locais de coletas: determine com antecedência que bibliotecas, agências
governamentais ou particulares, instituições, indivíduos ou acervos deverão ser procurados.
Registro de documentos: esteja preparado para copiar os documentos, seja através de
xerox, fotografias ou outro meio qualquer.
Organização: separe os documentos recolhidos de acordo com os critérios de sua
pesquisa. O levantamento de literatura pode ser determinado em dois níveis:
a - Nível geral do tema a ser tratado: relação de todas as obras ou documentos sobre o
assunto.
b - Nível específico a ser tratado: relação somente das obras ou documentos que contenham
dados referentes à especificidade do tema a ser tratado.
JUSTIFICATIVA
A justificativa num projeto de pesquisa, como o próprio nome indica, é o convencimento de
que o trabalho de pesquisa é fundamental de ser efetivado. O tema escolhido pelo pesquisador e
a hipótese levantada são de suma importância, para a sociedade ou para alguns indivíduos, de
ser comprovada. Deve-se tomar o cuidado, na elaboração da justificativa, de não se tentar
justificar a hipótese levantada, ou seja: tentar responder ou concluir o que vai ser buscado no
trabalho de pesquisa. A justificativa exalta a importância do tema a ser estudado, ou justifica a
necessidade imperiosa de se levar a efeito tal empreendimento.
METODOLOGIA
A Metodologia é a explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e exata de toda ação
desenvolvida no método (caminho) do trabalho de pesquisa. É a explicação do tipo de pesquisa,
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do instrumental utilizado (questionário, entrevista etc), do tempo previsto, da equipe de


pesquisadores e da divisão do trabalho, das formas de tabulação e tratamento dos dados, enfim,
de tudo aquilo que se utilizou no trabalho de pesquisa.
ANEXOS OU APÊNDICES
Este item também só é incluído caso haja necessidade de juntar ao Projeto algum
documento que venha dar algum tipo de esclarecimento ao texto. A inclusão, ou não, fica a
critério do autor da pesquisa.
REFERÊNCIAS
As referências dos documentos consultados para a elaboração do Projeto é um item
obrigatório. Nela normalmente constam os documentos e qualquer fonte de informação
consultados no Levantamento de Literatura. As normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas - ABNT para elaboração das Referências denomina-se NBR 6023/2002.
GLOSSÁRIO
São as palavras de uso restrito ao trabalho de pesquisa ou pouco conhecidas pelo virtual
leitor, acompanhadas de definição. Também não é um item obrigatório. Sua inclusão fica a
critério do autor da pesquisa, caso haja necessidade de explicar termos que possam gerar
equívocos de interpretação por parte do leitor.

ESTRUTURA DE UM TRABALHO
- capa (*)
- folha de rosto
- dedicatória (*)
- agradecimentos (*)
- sumário
- texto: introdução / desenvolvimento / conclusão
- anexos ou apêndices (*)
- referências bibliográficas
- glossário (*)
- capa (*)
(*) - Elementos adicionados de acordo com as necessidades (opcionais). O demais
elementos são obrigatórios.
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Modelo de estrutura de um trabalho completo:

Capa: deve conter


- Instituição onde o trabalho foi executado (margem superior)
- Título do trabalho e Nome do autor (Centralizado)
- Cidade e ano de conclusão do trabalho (margem inferior)

OBS.: A Associação Brasileira de Normas Técnicas não determina a disposição destes dados na
folha. Esta distribuição deve ser definida pelo professor ou pela Instituição, para uniformização
de seus trabalhos acadêmicos.
Folha de Rosto: deve conter
- As mesmas informações contidas na Capa e o texto de exigência (finalidade do trabalho)
Dedicatória: Tem a finalidade de se dedicar o trabalho a alguém, como uma homenagem
de gratidão especial. Este item é dispensável.
Agradecimento: É a revelação de gratidão àqueles que contribuíram na elaboração do
trabalho. Também é um item dispensável.
Sumário: "Enumeração das principais divisões, seções e outras partes de um
documento, na mesma ordem em que a matéria nele se sucede". Ver ABNT NBR 6027. O título
de cada seção deve ser digitado com o mesmo tipo de letra em que aparece no corpo do texto.
A indicação das páginas localiza-se à direita de cada seção.
Texto: É a parte onde todo o trabalho de pesquisa é apresentado e desenvolvido. O texto
deve expor um raciocínio lógico, ser bem estruturado, com o uso de uma linguagem simples,
clara e objetiva.
Desenvolvimento do Texto: O corpo do trabalho é onde o tema é discutido pelo autor.
As hipóteses a serem testadas devem ser claras e objetivas. Devem ser apresentados os
objetivos do trabalho. A revisão de literatura deve resumir as obras já trabalhadas sobre o
mesmo assunto. Deve-se mencionar a importância do trabalho, justificando sua imperiosa
necessidade de se realizar tal empreendimento. Deve ser bem explicada toda a metodologia
adotada para se chegar às conclusões.
Anexos ou Apêndices: É todo material suplementar de sustentação ao texto (itens do
Pesquisa e Método - Os Caminhos do Conhecimento- Simão de Miranda

questionário aplicado, roteiro de entrevista ou observação, uma lei discutida no corpo do texto
etc.).
Referências: É o conjunto de indicações que possibilitam a identificação de documentos,
publicações, no todo ou em parte. As obras são identificadas na seguinte ordem. Ver ABNT NBR
10520/JUL 2001.
Glossário: é a explicação dos termos técnicos, verbetes ou expressões que constem do
texto. Sua colocação é opcional.
Organização do Corpo do Texto: Citações (NBR 10520), quando se quer transcrever o
que um autor escreveu.
Citação Direta Curta (NBR 12256) - com menos de 3 linhas - Deve ser feita na
continuação do texto, entre aspas.
Ex.:
Maria Ortiz, moradora da Ladeira do Pelourinho, em Salvador, que de sua janela jogou água
fervendo nos invasores holandeses, incentivando os homens a continuarem a luta. Detalhe
pitoresco é que na hora do almoço, enquanto os maridos comiam, as mulheres lutavam em seu
lugar. Este fato levou os europeus a acreditarem que "o baiano ao meio dia vira mulher" (MOTT,
1988, p. 13).
Obs.:
MOTT - autor que faz a citação.
1988 - o ano de publicação da obra deste autor na bibliografia.
p. 13 - refere-se ao número da página onde o autor fez a citação (NBR 10520).
b) - Citação Direta Longa (NBR 12256), com 3 linhas ou mais - As margens são recuadas à
direita, em espaço um (1).
Ex.:
Além disso, a qualidade do ensino fornecido era duvidosa, uma vez que as mulheres que o
ministravam não estavam preparadas para exercer tal função.

"A maior dificuldade de aplicação da lei de 1827 residiu no provimento


das cadeiras das escolas femininas. Não obstante sobressaírem as
mulheres no ensino das prendas domésticas, as poucas que se
apresentavam para reger uma classe dominavam tão mal aquilo que
deveriam ensinar que não logravam êxito em transmitir seus exíguos
conhecimentos. Se os próprios homens, aos quais o acesso à instrução
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era muito mais fácil, se revelavam incapazes de ministrar o ensino de


primeiras letras, lastimável era o nível do ensino nas escolas femininas,
cujas mestras estiveram sempre mais ou menos marginalizadas do
saber" (Saffioti, 197, p. 193).

Citação de Citação: É a citação feita por outro pesquisador. Ex.: O Imperador Napoleão
Bonaparte dizia que "as mulheres nada mais são do que máquinas de fazer filhos" (apud LOI,
1988, p. 35). Obs.: apud = citado por.
Citação Indireta: É a citação de um texto, escrito por um outro autor, sem alterar as
idéias originais. Ou então: eu reproduzo sem distorcer, com minhas próprias palavras, as idéias
desenvolvidas por um outro autor. Pode ser chamada também de paráfrase.

Ex.: Somente em 15 de outubro de 1827, depois de longa luta, foi concedido às mulheres o
direito à educação primária, mas mesmo assim, o ensino da aritmética nas escolas de meninas
ficou restrito às quatro operações. Note-se que o ensino da geometria era limitado às escolas de
meninos, caracterizando uma diferenciação curricular (COSENZA, 1993, p. 6).
Localização das Citações
a) No texto: A citação vem logo após o texto, conforme nos exemplos acima.
b) Em nota de rodapé: No rodapé da página onde aparece a citação. Neste caso coloca-
se um número ou um asterisco sobrescrito que deverá ser repetido no rodapé da página.
c) no final de cada parte ou capítulo: As citações aparecem em forma de notas no final
do capítulo. Devem ser numeradas em ordem crescente.
d) No final do trabalho: Todas as citações aparecem no final do trabalho listadas em
ordem numérica crescente, no todo ou por capítulo.
Paginação: Existem dois níveis para numeração das páginas
Antes do Sumário: conta-se a partir da Folha de Rosto e os números são em algarismos
romanos. A numeração em romanos termina quando começa o texto (Sumário). São contadas
na numeração, mas não recebem números a folha de rosto, a primeira página do texto (página
1) e as páginas que iniciam um capítulo.
Depois do Sumário: As páginas são numeradas em algarismos arábicos, colocados no
canto superior direito, a um espaço duplo acima da primeira linha. A numeração em algarismos
arábicos inicia-se a partir da Introdução (página 1). São contadas na numeração, mas não
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recebem números a primeira página do texto e as páginas que iniciam um capítulo.


Formato
1 - Papel formato A-4 (210 X 297 mm) - branco
2 - Margens de:
3,0 cm na parte superior
3,0 cm na inferior
3,0 cm no lado esquerdo
3,0 cm no lado direito
3 - Corpo da letra: 12
4 - Tipo da letra: Times News Roman ou Arial (no MS Word)
5 - Espaço entrelinhas: 2 (duplo)
Obs: Não esquecer que o espaço entrelinhas em uma citação longa (mais de três linhas) deve
ter espaço entrelinhas simples.

ASPECTOS GRÁFICOS DE UM TRABALHO CIENTÍFICO: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


(ABNT NBR 6023/2002)

Espaçamento: as referências devem ser digitadas, usando espaço simples entre as linhas e
espaço duplo para separá-las.
Margem: As referências são alinhadas somente à margem esquerda.
Pontuação:
1)Usa-se ponto após o nome do autor/autores, após o título, edição e no final da referência;
2)Os dois pontos são usados antes do subtítulo, antes da editora e depois do termo In:;
3)A vírgula é usada após o sobrenome dos autores, após a editora, entre o volume e o número,
páginas da revista e após o título da revista;
4)O Ponto e vírgula seguido de espaço é usado para separar os autores;
5)O hífen é utilizado entre páginas (ex: 10-15) e, entre datas de fascículos seqüenciais (ex:
1998-1999);
6)A barra transversal é usada entre números e datas de fascículos não seqüenciais (ex: 7/9,
1979/1981);
7)O colchetes é usado para indicar os elementos de referência, que não aparecem na obra
referenciada, porém são conhecidos (ex: [1991]);
Pesquisa e Método - Os Caminhos do Conhecimento- Simão de Miranda

8)O parêntese é usado para indicar série, grau (nas monografias de conclusão de curso e
especialização, teses e dissertações) e para o título que caracteriza a função e/ou
responsabilidade, de forma abreviada. (Coord., Org., Comp.). Ex: BOSI, Alfredo (Org.)
Maiúsculas: usa-se maiúsculas ou caixa alta para:
9)Sobrenome do autor;
10)Primeira palavra do tíítulo quando esta inicia a referêência ( ex.: O MARUJO);
11)Entidades coletivas (na entrada direta);
12)Nomes geográficos (quando anteceder um órgãão governamental da administração: Ex:
BRASIL. Ministério da Educação);
13)Títulos de eventos (congressos, seminários, etc.).
Grifo: usa-se grifo, itálico ou negrito para:
14)Título das obras que não iniciam a referência;
15)Título dos periódicos;
16)Nomes científicos, conforme norma própria.

Monografia no todo (livros, dissertações, teses etc...)


Dados essenciais:
17)Autor;
18)Título e subtítulo;
19)Edição (número);
20)Imprenta (local: editora, data).
Dados complementares:
21)Descrição física (número de páginas ou volumes), ilustração, dimensão;
22)Série ou coleção;
23)Notas especiais;
24)ISBN.

ARTIGO CIENTÍFICO
Pesquisa e Método - Os Caminhos do Conhecimento- Simão de Miranda

A NBR 6022 da ABNT define artigo como “texto com autoria declarada, que apresenta e

discute idéias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento.”

A P-TB-49/67 (Terminologia de documentos técnico-científicos) apresenta a seguinte definição:

“Artigo – escrito de extensão variável, que trata de determinado assunto, geralmente destinado a

uma publicação periódica.” E SALVADOR (1997:24) define como: “Os artigos científicos, que

constituem a parte principal de revistas, são trabalhos científicos completos em si mesmos, mas

de dimensão reduzida, já que não possuem matéria suficiente para um livro.”

ENSAIO CIENTÍFICO

Hoje, principalmente no Brasil, o termo ensaio recebe um significado oposto ao de sua

origem. Originalmente, era um comentário breve, informal e subjetivo, não concludente, o que se

denomina, nos dias atuais, de crônica. Ensaio, hoje, passou a ser sinônimo de um estudo bem

desenvolvido, formal, discursivo e concludente. Contudo, guarda ainda algo de seu significado

primitivo, já que não se constitui num estudo em definitivo. É uma primeira tentativa de

sistematização das idéias ou fatos de assuntos pouco explorados. Enfoca implícita ou

explicitamente um enfoque pessoal e original sobre um determinado problema.

PAPERS

É o texto escrito de uma comunicação oral. Constitui-se do material utilizado para

publicação em atas ou anais do evento em que foi apresentada, podendo apresentar somente o

resumo ou a obra integral em questão. É traduzido, nas obras de documentação, por artigo, o

que não corresponde a seu significado real, e segue as normas de trabalhos escritos em geral,

ou, mais especificamente, as do artigo científico.

RESENHA

É uma descrição minuciosa que compreende certo número de fatos.” (LAKATOS, 1986:
Pesquisa e Método - Os Caminhos do Conhecimento- Simão de Miranda

217) “Resenha, revista de livros ou análise bibliográfica, é uma síntese ou um comentário dos

livros publicados feitos em revistas especializadas das várias áreas da ciência, das artes e da

filosofia” (SEVERINO, 1986:180): “Resenha – tipo de resumo crítico, contudo, mais abrangente:

permite comentários e opiniões, inclui julgamento de valor, comparações com outras obras da

mesma área e avaliação da relevância da obra com relação às outras do mesmo gênero”.

(ANDRADE, 1999:78) Apesar de intensa pesquisa bibliográfica, não foi possível encontrar, nas

obras referentes à Documentação e Normalização, inclusive na ABNT (Associação Brasileira de

Normas Técnicas), uma definição precisa de resenha. Sendo assim, tomaremos por base os

conceitos descritos pelos autores supracitados.

TIPOS DE RESENHA

Alguns autores, como Antônio Joaquim Severino, estabelecem a distinção entre resenha

informativa e resenha crítica: “Uma resenha pode ser puramente informativa, limitando-se a

expor o conteúdo do texto resenhado com a maior objetividade possível” (SEVERINO,1985:181

apud ANDRADE, 1999:76) “A resenha crítica é, pois, a apresentação do conteúdo de uma obra,

acompanhada de uma avaliação crítica. Na resenha crítica, expõe-se claramente e com certos

detalhes o conteúdo da obra, e, tendo em vista o propósito da obra, os leitores aos quais se

dirige e o método que sugere, faz-se uma análise e uma apreciação crítica do conteúdo, da

disposição das partes, do método, de sua forma ou estilo e, se for o caso, da apresentação

tipográfica.” (SALVADOR, 1986:19 apud JOHANN, 1997:52)

A análise dos conceitos apresentados sobre resenha em obras de Metodologia

Científica, nos leva a concordar com ANDRADE (1999:76), quando declara que: “resenha crítica

é no mínimo redundante”.
Pesquisa e Método - Os Caminhos do Conhecimento- Simão de Miranda

FINALIDADES

Segundo MEDEIROS (1991:73) apud ANDRADE (1999:77), a resenha deve: “Resumir

as idéias da obra, avaliar as informações nela contidas e a forma como foram expostas e

justificar a avaliação realizada.” Para SEVERINO (1986:181) “a resenha pode ter finalidade

puramente informativa, expondo o conteúdo do texto de maneira mais objetiva possíveis. Porém

as mais úteis são as que, além de informativas, realizam comentários críticos e interpretativos:

discutindo, avaliando, comparando”. ANDRADE (1999:80), comenta que “(...) resenha não é

apenas resumo ou resumo crítico, à medida que não se limita ao conteúdo da obra resenhada,

estendendo os comentários às outras obras do mesmo gênero.”

IMPORTÂNCIA DA RESENHA

Na opinião de SALOMON (1977:168) apud ANDRADE (1999:78), a redação de resenhas

não só é importante, mas: “imprescindível para desenvolver a mentalidade científica,

constituindo-se no primeiro passo para introduzir o iniciante na pesquisa e na elaboração de

trabalhos monográficos.” Tal opinião é endossada por SEVERINO (Idem): “A elaboração de

resenhas concretiza o desejo de os estudantes contribuírem às revistas especializadas de sua

área, e uma efetiva maneira de se iniciar no campo das publicações.”

Devido à resenha trazer comentários sobre a obra, ela possibilita uma rápida impressão

do conteúdo de uma obra, auxiliando na decisão sobre a conveniência de consultar, ou não, o

texto integral. Com a atual explosão documental, em que um número elevado de publicações

são lançadas no mercado científico, devemos atentar para o fato de que nem sempre essas

produções são de boa qualidade e relevância científica, e nesse sentido, a resenha além de

emitir juízo de valor sobre as obras, ela ainda traz indicações das demais obras que discutem o
Pesquisa e Método - Os Caminhos do Conhecimento- Simão de Miranda

mesmo assunto. Bem como auxilia na economia de tempo e dinheiro em possíveis leituras

desnecessárias aos pesquisadores.

ELABORAÇÃO DE RESENHA

Exigências: Para SALVADOR(1986:19) apud JOHANN (1997:52), a resenha requer

exigências de quem a elabora, tais como:

a) Conhecimento completo da obra (...)

b) Competência na matéria exposta no livro, bem como do método empregado (...)

c) Capacidade de juízo crítico para distingüir claramente o essencial do supérfluo.

d) Independência de juízo para ler, expor e julgar com isenção de preconceitos, simpatias, ou

antipatias (...)

e) Correção e urbanidade, respeitando sempre a pessoa do autor e suas intenções (...)

f) Fidelidade ao pensamento do autor (...)

Estrutura da Resenha (Lakatos, 1986: 219)

1. Referência Bibliográfica

Autor (es)

Título (subtítulos)

Imprenta (local da edição, editora, data)

Número de páginas

Ilustrações (tabelas, gráficos, fotos, etc)

2. Credenciais do autor

Informações gerais sobre o autor


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Autoridade no campo científico

Quem fez o estudo?

Quando? Por quê? Onde?

3. Conhecimento

Resumo detalhado das idéias principais

De que trata a obra? O que diz?

Possui alguma característica especial?

Como foi abordado o assunto?

Exige conhecimentos prévios para entendê-lo?

4. Conclusão do autor

O autor faz conclusões? (Ou não?)

Onde foram colocadas? (Final do livro ou dos capítulos?)

Quais foram?

5. Quadro de referências do autor

Modelo teórico

Que teoria serviu de embasamento?

Qual o método utilizado?

6. Apreciação

a) Julgamento da obra:

Como se situa o autor em relação:

- Às escolas ou correntes científicas, filosóficas, culturais?

- Às circunstâncias culturais,sociais, econômicas,históricas etc.?

b) Mérito da obra

Qual a contribuição dada?


Pesquisa e Método - Os Caminhos do Conhecimento- Simão de Miranda

Idéias verdadeiras, originais, criativas?

Conhecimentos novos, amplos, abordagem diferente?

c) Estilo

Conciso, objetivo, simples?

Claro, preciso, coerente?

Linguagem correta?

Ou o contrário?

d) Forma

Lógica sistematizada?

Há originalidade e equilíbrio na disposição das partes?

e) Indicação da Obra

A quem é dirigida: grande público, especialistas, estudantes?

MODELO DE RESENHA

Para a perfeita compreensão de um texto resenhado, o professor Antonio Rubbo Muller

(USP), criou um modelo simplificado que representa todas as partes necessárias:

1. Obra

a) autoria (autor ou autores)

b) título (incluindo o subtítulo, se houver)

c) comunidade onde foi publicada

d) firma publicadora

e) ano de publicação

f) edição (a partir da segunda)


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g) número de páginas ou de volumes

h) ilustrações (tabelas, gráficos, desenhos etc.)

i) formato (em cm)

j) preço

2. Credenciais da autoria

a) nacionalidade

b) formação universitária ou especializada

c) títulos

d) cargos exercidos

e) outras obras

3. Conclusões da autoria

a) quer separadas no final da obra, quer apresentadas no final dos capítulos, devem ser

sintetizadas as principais conclusões a que o autor da obra resenhada chegou em seu trabalho

b) caso não se apresentem separadas do corpo da obra, o resenhista, analisando o trabalho,

deve indicar os principais resultados obtidos pelo autor

4. Digesto

a) resumo das principais idéias expressas pelo autor

b) descrição sintetizada do conteúdo dos capítulos ou partes em que se divide a obra

5. Metodologia da autoria

a) método de abordagem (indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo, dialético)

b) método de procedimento (histórico, comparativo, monográfico, estatístico, tipológico,

funcionalista, estruturalista, etnográfico etc.)

c) modalidade empregada (geral, específica, intensiva, extensiva, técnica, não técnica,

descritiva, analítica, etc.)


Pesquisa e Método - Os Caminhos do Conhecimento- Simão de Miranda

d) técnicas utilizadas (observação, entrevista, formulários, questionários, escalas de atitudes e

de opinião etc.)

6. Quadro de referência da autoria

a) corrente de pensamento em que se filia (evolucionismo, materialismo histórico, historicismo,

funcionalismo etc.)

b) modelo teórico (teoria da ação social, teoria sistêmica,teoria da dinâmica cultural etc.)

7. Quadro de referência do resenhista

O resenhista pode aceitar e utilizar, na análise da obra, o quadro de referência empregado

pelo autor ou, ao contrário, pela sua formação científica, possuir outro. É necessário a

explicitação do quadro de referência do resenhista, pois terá influência decisiva tanto na seleção

dos tópicos e partes que considera mais importantes para a análise quanto na elaboração da

crítica que se segue.

8. Crítica do resenhista

a) Julgamento da obra do ponto de vista metodológico:

- coerência entre a posição central e a explicação, discussão e demonstração

- adequado emprego de métodos e técnicas específicas

b) Mérito da obra:

- originalidade

- contribuição para o desenvolvimento da ciência, quer por apresentar novas idéias e/ou

resultados, quer por utilizar abordagem diferente

c) Estilo empregado

9. Indicações do resenhista
Pesquisa e Método - Os Caminhos do Conhecimento- Simão de Miranda

a) a quem é dirigida (especialistas, estudantes, leitores em geral)?

b) fornece subsídios para o estudo de que disciplina(s)?

c) pode ser adotado em que tipo de curso?

Outro modelo mais sintético é apresentado por BARRAS (1979: 139) apud ANDRADE (1999:

80), onde a resenha deve ter início com referências bibliográficas da obra; no corpo do trabalho,

o resenhista deve responder as seguintes indagações:

“De que trata o livro? Tem ele alguma característica especial? De que modo o assunto é

abordado? Que conhecimentos prévios são exigidos para entendê-lo? A que tipo de leitor se

dirige o autor? O tratamento dado ao tema é compreensivo? O livro foi escrito de modo

interessante e agradável? As ilustrações foram bem escolhidas? O livro foi bem organizado? O

leitor, que é a quem o livro se destina, irá achá-lo útil? Que resulta da comparação dessa obra

com outras similares (caso existam) e com outros trabalhos do mesmo autor?”

A Resenha possui grande importância no meio científico, como contribuinte no

desenvolvimento do conhecimento, uma vez que compila informações sobre bibliografias

publicadas emitindo um juízo de valor. O que vem a auxiliar na escolha da leitura.

Um dos fatores mais importantes e indispensáveis na elaboração de uma resenha vem a

ser a ética profissional do resenhista.

EXEMPLOS DE RESENHAS
RESENHA DE ARTIGO
Resenhista: Simão de Miranda

PESQUISA EM EDUCAÇÃO: UM TEMA EM DEBATE


Bernad ete A. Gatti

Neste artigo, espec ialmente cria do para o comem orativo núm ero 80 do s Cadern os de Pes quisa, a
Pesquisa e Método - Os Caminhos do Conhecimento- Simão de Miranda

autora faz um oportuno retrospecto do que se discutiu acerca da pesquisa educacional na ocasião em
que o referid o perió dico com pleta 20 anos. E la conta biliza 42 artigos que vêm abordar este tema e
destaca os mais eviden tes.
Já no primeiro número (julho de 71) aparece em destaque o texto de Aparecida Joly Gouveia, que
não só faz um a recup eração histórica d a pesq uisa educacional no Brasil, como um mapeamento das
temáticas e das m etodo logias. A mesm a autor a comp lemen ta este tra balh o em 1976 e Bern adete Gatti o
retoma em 1983. Go uveia, em 1971, já ap ontava a d escontinuid ade dos p rograma s de pesq uisa.
Doze anos depois, 1983, Gatti mostra que, apesar dos esforços de implantação dos m estrados e
doutorados em educação, a constituição de equipes de pesquisa com uma duração m aior de vida e ra
ainda uma meta não atingida. Aponta, também, que prevalecem as pesquisas individuais, portanto de
escopo limitado, o que prejudica a acumulação de experiência e a continuidade, necessárias a uma
maturação no trato com os problemas educacionais brasileiros. Sofia Vieira, em 1985, aborda algumas
especificidades do desenvolvimento da pesquisa no nordeste brasileiro, lançando a pergunta: “como
passar da pesquisa solitária à pesquisa solidária?”
As informações atualizadas que me chegam via internet reforçam esta preocupação dos
pesquisadores. Consultando a Home Page da Universidade de São Paulo – USP, vê-se claramente que a
pesquisa é a condição sine qua non para a sobrevivência da pós-grad uação, e q ue obtém o importan te
bene fício adquirido da expansão dos programas de mestrado e doutorado. É importante saber que desde
o alvorecer da déca da de 70 há uma atenção permanente sobre a pesquisa. É no âmbito dos programas
de pós-graduação que se desenvolve a maior parte das pesquisas geradas na USP.
As questões de teoria e método estão abordadas em um conjunto de trabalhos discutidos em
semin ário do CNP q sobre Alte rnativas Me todológicas para a Pesquisa Educacional, publicados nos
Cadernos em 1982. Os três tem as: a) pesq uisa/res ponsa bilidade social, onde Rosemberg chama atenção
para a vinculação entre conhecimento e poder; b) pesquisa/intervenção, onde Mello trata do significado
da ação de pesquisar; e c) pesquisa/teoria, onde Rezende destaca a grande diversidade de métodos
para o conhecimento da realidade.
As preocupações metodológicas trazidas à tona nestes artigos são concretizadas, no que se
refere à pesquisa na escola, no trabalho de Tonucci, em 1982, com comentário de Joel Martins, no
mesmo ano. Oya ra Esteves, em 1984, de bate a crise com que se depara a pesquisa educacional, quer
na seleção de problemas para estudo, quer pela inadequação metodológica, quer pela fragmentação dos
resultados, justamente pela falta de uma perspectiva mais apropriada do fenômeno educativo. Propõe
que é preciso reorientar a pesquisa no caminho de uma “praxiologia educacional” que significa “uma
ciência da e ducação onde teo ria e prática são interligadas, um a reflete a ou tra no proce sso educa cional”.
O problema d a interdisciplina ridade, levan tado nos a rtigos da década de 70 e início de 80, virá à
tona com Frigotto, em 1985. Em seu artigo sobre a questão metodológica do trabalho interdisciplinar,
apresen ta reflexõe s a partir d e uma experiê ncia de pesqu isa com uma e quipe “interdisc iplinar”. E le
mostra que a visão simplista de inte rdisciplinaridad e resvala nu m ecletismo infrutífero, porqu e não pe rmite
avanços metod ológicos.
Acerca desta questão, penso que já é hora de empreender-se um estudo mais atualizado sobre o
que vem se fazendo nos últ imos dez anos. Sabe-se que o tema interdisciplinaridade tem sobrevivido às
diversas correntes pedagógicas que se sucederam neste período, ora atropeladamente, ora até com
sucesso. É até uma suge stão ao professo r Frigotto que, ele próprio , acomp anhe esta pro blemá tica, já
que possui todo um arsenal de dados que o habilitam a realizá-la.
A discussão relativa às questões de teoria, método e objeto na pesquisa em educação, quer sob o
ângu lo do produto das pesquisas, quer sob o ângulo de seus fundamentos. Refletindo essa tendência,
Luna, em 1988, aborda o falso conflito entre tendências metodológicas; e Franco, no mesmo ano,
argumenta que o conflito entre estas tendências não é falso.
Finalizando este artigo, Warde pondera, em 1990, que se atribui ao stricto sensu a função de ser
Pesquisa e Método - Os Caminhos do Conhecimento- Simão de Miranda

foco produtor de pesqu isa, mas sua estrutura é de foco produtor de disserta ções e tese s, grifos meus , e
que boa parte das pesq uisas não se mostram como eixo s referenciais para os discentes. E Cunha, em
1991, declara-se mais otimista que Warde ao defender que foi de dissertações e teses dos programas d e
pós-graduação que saíram quase tod os os livros que constituem a recente b ibliografia de E ducação , que
vem incorporando dezenas de novos títulos a cada ano.
Raciocino qu e seria basta nte válida, po r parte da au tora, a inclusão de uma a nálise onde pud esse
conceituar e diferenciar, com im poluta clareza, os termos grifados no parágrafo anterior. No meu
entendim ento posso contemplar a p esquisa quando elaboro uma tese ou dissertação. Não entendo como
criar uma tese ou dissertação sem estar mergulhado na pesquisa.
À luz de uma avaliação geral, o artigo vem prestar um relevante serviço ao pesquisador e também
ao aluno dos programas de pós-graduação, em especial ao do mestrado e doutorado.

RESENHA DE LIVRO
Resenhista: Simão de Miranda
Piaget, Jean. A Formação do Símbolo na Criança – Imitação, Jogo e Sonho, Imagem e Representação.
Rio de Jan eiro, Za har, 19 71. 370 págin as. Traduzido da 3ª edição do original suíço, publicada em 1964,
“La Form ation du S ymbole C hez L’Enfa nt – Imitation, Jeu et Rêve, Ima ge et Rep résentation ”.
Credenciais do Autor
Renoma do teórico suíço, autor de ma is de 70 livros e mais de 200 artigos, faleci do em 1980, aos
84 anos. Entre outras atividades, dirigiu o Instituto de Ciência s da Educação de Genebra e lecionou
Psicolo gia Experimental, Psicologia Infantil e História do Pe nsamento Científico na Universidade da
mesma cidade suíça . De formaç ão inicial em B iologia, teve preocupa ções emin enteme nte
epistemológicas, tendo d edicad o a ma ior parte do seu tem po ao e studo d e como o ser hu mano constró i o
conhecimento.
A Quem Intere ssa
A estudantes de pedagogia, pedagogos e professores que lidam com crianças na faixa etária de
dois a oito anos. Podendo interessar, igualmente, aos pais que tenham filhos neste intervalo de idade.
Por Que Interessa
Porque, partir da obra, é possível compreender como se origina o pensamento representativo da
criança na evolução que vai da fase sensório-motora à operatória, dando-se grande valor ao papel da
linguagem. Pressupo ndo-se qu e esta é uma constru ção da inteligên cia sensório-motora, prepa rada passo
a passo, até se concretizar na fase pré-ope ratória . A obra permite um conhecimento mais aprofundado
das relaçõe s entre a criança, a imitação , o jogo e a cognição. Com base no exposto, o trabalho em
questão favorece o acompanhamento e a orientação às crianças inseridas neste intervalo etário. Faz-se
necessário, todavia, alguma aproximação antecedente à obra piagetiana.
O Que Contém
A obra está dividida em três partes, escrita de modo objetivo, claro e coerente. Na primeira,
travando um acalorado embate com Wallon, Piaget esclarece como se origina a imitação, estabelecendo-
a em seis fases pro gressiv as e encadeadas entre si. O autor traça uma evolução, etapa por etapa, que
vai desde um estado de preparação para a imitação - primeira fase - à imitação plena (que ele dá o nome
de imitação diferida ) - sexta fas e. A seg unda parte, a m ais longa do livro, é dedicada ao estudo do jogo,
seu nascimento, classificações, evolução e aspectos simbólicos. Na terceira parte, ele analis a -
principalmen te - como se dá a passagem do esquema sensório-motor para o esquema dos conceitos na
criança e suas representações cognitivas. Para a elaboração do trabalho, o autor realiza observações
dos próprio s filhos (Jacque line, Lucienn e e Laure nt) e, a partir daí, con strói as teorias corre sponde ntes.
Importâ ncia Pa ra a Pe dago gia
A riqueza do un iverso infantil é inco mensurá vel. E o ped agogo, o privilegiado a gente orien tador e
acompanhador da evolução deste universo. É da mais alta importância para este profissional, ou para o
futuro profissional, entender os princípios e processos da comunicação infantil, pois é por meio deles que
a criança interage com o m eio, construindo-se e reconst ruindo-se. É por onde perpassam os processos
de ensino e a prendizag em. É de suma imp ortância com preende r as matizes d a persona lidade infa ntil, do
Pesquisa e Método - Os Caminhos do Conhecimento- Simão de Miranda

ponto de vista das afirmações, satisfações e sentidos. É de vital importância situar a imaginação pueril no
seu contexto de desenvo lvimento cognitivo. Dar conta destes e outros meca nismos apresentados por
Piaget neste trabalho é condição sine qua n on para a realização se gura do trab alho do p edagog o. Este
trabalho de Piaget, assim como seus demais livros, durante todo o seu decorrer, propicia respostas
pedagó gicas, emb ora não p ossua a p reocupa ção em e nsinar “com o fazer”.

EXERCÍCIOS

1) Considerando a evolução humana, como nasceu a ciência metódica?


2) O que quis dizer Descartes com a frase Penso, Logo Existo?
3) Que método pregava Francis Bacon?
4) Que método defendia René Descartes?
5) No século XIX a ciência passou a ter uma importância fundamental. Comente a
afirmação.
6) Na sociologia, qual a principal contribuição de Augusto Comte?
7) Na Economia, qual a principal contribuição de Karl Marx para o desenvolvimento do
conhecimento científico?
8) E na Antropologia, com Charles Darwin?
9) O que é uma Pesquisa Experimental e dê exemplo:
10) O que é Pesquisa Exploratória e dê exemplo:
11) O que é Pesquisa Social e dê exemplo:
12) O que é Pesquisa Histórica e dê exemplo:
13) O que é uma Pesquisa Teórica e dê exemplo:
14) Dê um exemplo de fator interno que pode interferir na escolha do tema de uma
pesquisa:
15) Dê exemplo de fator externo que pode influenciar na escolha de tema de pesquisa:
16) O que é a Revisão de Literatura num processo de pesquisa?
17) O que é o Problema de uma Pesquisa?
18) O que é uma hipótese científica?
19) O que é a Justificativa em uma Pesquisa Científica?
20) De que trata o item Metodologia numa pesquisa científica?
21) Conceitue Ciência.
22) Qual é o objetivo básico da atividade científica?
23) Cite uma vantagem do método científico:
24) Conceitue método:
25) Conceitue técnica:
26) Conceitue o método científico:
27) Relacione cinco métodos científicos:
28) Dê uma característica do método indutivo:
29) Dê uma característica do método dedutivo:
30) Dê uma característica do MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO:
31) Dê uma característica do método dialético:
32) Dê uma característica do método fenomenológico:
33) Quais são as técnicas de raciocínio?
34) Conceitue estudo experimental:
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35) Como são classificadas as ciências DO PONTO DE VISTA DA INVESTIGAÇÃO?


36) O que são ciências não-empíricas?
37) Diga uma característica das ciências empíricas:
38) Dê exemplos de ciências não-empíriricas:
39) Dê exemplos de ciências empíricas:
40) O que é uma PESQUISA EXPLORATÓRIA?
41) Dê características da dialética socrática:
42) O que era a dialética para Aristóteles?
43) O que era a dialética para Descartes?
44) O que era a dialética para Hegel?
45) O que era a dialética para Marx?
46) O que é o conhecimento empírico, também denominado conhecimento vulgar?
47) O que é o conhecimento científico?
48) O que é o CONHECIMENTO FILOSÓFICO?
49) O que é o CONHECIMENTO TEOLÓGICO?
50) Qual o primeiro passo para o preparo de uma pesquisa?
51) O que é uma Pesquisa Documental?
52) O que é uma Pesquisa Bibliográfica?
53) O que é a Observação Participante?
54) Cite um dos três critérios para a Formulação de Problemas Científicos:
55) Conceitue hipótese científica:
56) Qual o papel fundamental da hipótese na pesquisa?
57) O que pretendem os estudos descritivos?
58) O que é a revisão bibliográfica?
59) De que trata a justificativa em uma pesquisa?
60) Conceitue artigo:
61) Fale sobre o ensaio:
62) O que é um paper?
63) O que uma resenha?
64) O que é uma resenha informativa?
65) O que é uma resenha crítica?
66) Fale das finalidades da resenha:
67) Fala da importância de uma resenha:
68) Fale do papel das revistas científicas:
69) Elabore o referencial bibliográfico básico de acordo com as normas da ABNT NBR
6023/2002, a partir das informações a seguir:
Nome do livro: Oficina de Dinâmica de Grupos para Empresas, Escolas e Grupos
Comunitários. Volume I. 12ª edição.
Autor: Simão de Miranda
Editora:Papirus Editora Ltda.
Local: Campinas, São Paulo.
Ano de publicação: 1998.
ISBN: 85-308-0585-2
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BIBLIOGRAFIA:

ANDRADE, Maria Margarida de. Como preparar trabalhos para cursos de pós-
graduação: noções práticas. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1999. 144p.

JOHANN, Jorge Renato (coord.). Introdução ao método científico: conteúdo e forma do


conhecimento. 2.ed. Canoas: EdULBRA, 1997. 145p.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia


científica. São Paulo: Atlas, 1985.

REY, Luís. Como redigir trabalhos científicos. São Paulo: Edgard Blücher, EdUSP, 1972.

SÁ, Elisabeth Schneider de (coord.)...[et.al.]. Manual de normalização de trabalhos


técnicos científicos e culturais. Petrópolis: Vozes, 1994. 184p.

SALVADOR, Ângelo Domingos. Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica. 3 ed. Porto


Alegre: Sulinas, 1973.

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