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definindo o direito legítimo de exercê-las, sendo esta uma das faces do que se chama poder de
polícia do Estado. Avaliando que materialmente estaria este interesse público no ordenamento
jurídico positivado, partiu-se à análise das liberdades ligadas ao exercício profissional do músico,
magistério da música.
Nos termos do art. 1° da Lei 3.857/60, foi criada a Ordem dos Músicos do
Art 3º A Ordem dos Músicos do Brasil exercerá sua jurisdição em todo o país,
através do Conselho Federal, com sede na capital da República.
[...]
do Conselho Federal e Regionais, bem como sua formação e constituição de seu patrimônio,
Art 17. Aos profissionais registrados de acôrdo com esta lei, serão entregues as
carteiras profissionais que os habilitarão ao exercício da profissão de músico
em todo o país.
músico, na prática, à atuação profissional, a carteira a ser expedida pelo Conselho Regional
respectivo.
Em seguida, estabelece a lei previsão de sanções à inobservância das
formalidades por ela estabelecidas como indispensáveis pelo músico que pretenda atuar:
Art 18. Todo aquêle que, mediante anúncios, cartazes, placas, cartões
comerciais ou quaisquer outros meios de propaganda se propuser ao exercício
da profissão de músico, em qualquer de seus gêneros e especialidades, fica
sujeito às penalidades aplicáveis ao exercício ilegal da profissão, se não estiver
devidamente registrado.
a) advertência;
b) censura;
c) multa;
d) suspensão do exercício profissional até 30 (trinta) dias;
e) cassação do exercício profissional ad referendum do Conselho Federal.
incidência da lei que viria a produzir efeitos, instalação do órgão, e outras atribuições a serem
assumidas pela Ordem, como a instituição de cursos, concursos e prêmios, no segundo capítulo a
[...]
[...]
mencionada habilitação profissional que torne legalmente apto o músico a exercer seu trabalho,
conforme se lê na alínea g.
regulamentação como classificação dos músicos, atribuições de cada classe, ainda no segundo
capítulo; após, dos capítulos III ao VII, regulamentação do trabalho dos músicos estrangeiros e
sobre a fiscalização do trabalho (obrigações dos empregadores), além das penalidades (multas) e
disposições transitórias.
e 28, que materializam a manifestação policial estatal de controle da atividade do músico: (a)
registro na regional da OMB e (b) preenchimento de requisitos técnicos para a obtenção deste
registro. Como conseqüência, são atingidos os artigos 17 (que prevê o documento de habilitação) e
18 (que prevê a sujeição de penalidades aos que não observarem as formalidades respectivas a
esta habilitação).
Duas análises são aqui pretendidas: há legitimidade neste tipo de controle?
Tendo sido examinado (i) o que é o poder de policia, o seu fundamento (ii),
seus limites, e (iii) seus âmbitos de incidência legítima de acordo com a Constituição Federal,
após definido o interesse público, em suma, como um conjunto de direitos cujo conteúdo se
verifica no direito positivo legítimo, cumpre se verificar, no direito positivo brasileiro, a validade
das mencionadas normas constantes da Lei 3.857/60: é possível ao Estado exigir habilitação
visualizam nos termos dos artigos comentados e cotejando-os um a um com o que foi abordado
neste trabalho mediante análise doutrinária dos institutos pertinentes e da Constituição Federal,
conteúdo deste, no ordenamento jurídico vigente, permitirá, por exemplo, que se estabeleça
restrições à liberdade individual, por normas a serem expedidas pelo legislativo ou por atos da
de atuação profissional, salvo os casos em que a lei estabelecesse condições para o exercício
deste direito – e assim estabelece o atual ordenamento constitucional. Não poderia ser diferente.
Brasil (art. 1°, IV), e arvorar-se o Estado na regulação de toda e qualquer profissão é obstar este
condições que lhe são externas (condições sócio-econômicas, mormente). Intenção esta que é
reforçada no parágrafo único, art. 170 da CRFB/88, quando prescreve que “é assegurado a todos o
aprovou o Verbete n. 01 de sua Súmula de Jurisprudência, com supedâneo no Art. 62, inciso IX
c/c Art. 164, § 1º e inciso II do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, consolidou seu
interesse público e quando presentes em conjunto poderão com legitimidade ensejar a restrição de
técnicos. Certamente que a teoria musical possui campo teórico amplo e profundo, bem como a
execução de qualquer instrumento pode exigir técnicas complexas. Porém, tomada como arte
produzida pelo indivíduo e objeto da manifestação de sua criatividade ou talento nato, está
patrimônio e a segurança, citados no item c, acima, permanecem intactos qualquer que seja o
bens a que se referiu. É o caso dos que lidam com a saúde (médicos, farmacêuticos, enfermeiros,
por exemplo). Sua atuação exige amplo e intenso preparo acadêmico e prático, tal é a
complexidade dos conhecimentos científicos envolvidos. Some-se a isto o fato estar sob
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dependência direta da sua atuação correta a saúde e, não raro o maior bem jurídico, que é a vida, e
atuação destes profissionais. Da mesma maneira, o caso dos Advogados e Engenheiros, para
ficar-se nos exemplos mais comuns: o desempenho de seus misteres exige preparo acadêmico e,
por lidarem com bens jurídicos que poderão ser prejudicados por sua atuação, como a liberdade e a
profissionais pelo poder público, a fim de impossibilitar que o mau profissional prejudique o
indivíduo.
proferida nos autos da Execução Fiscal, Processo n° 97.0023934-9, pela 2ª Vara Federal de
Execuções Fiscais de Curitiba, em que figuram como Exeqüente a Ordem dos Músicos do Brasil
(Conselho Regional) e como Executado Astir Müller Seraphin Drapier - também colacionado à
atividade do músico:
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atuação do músico, porquanto não incida sobre qualquer bem jurídico atingível por seu
desta atividade profissional. A desnecessidade de formação teórica e técnica para o músico atuar,
manifestações artísticas.
Silva aqui utilizada, está a liberdade de pensamento, da qual estão como decorrentes as liberdades
de expressão artística e de expressão cultural. Tais liberdades, como exposto, são ligadas entre si e
individuais e nas disposições sobre a Ordem Social que versam sobre o pleno exercício dos
direitos culturais.
De acordo com a Lei 3.857/60, no art. 16, é vedado ao músico exercer sua
disposição como uma restrição à liberdade profissional amparada pela ordem constitucional
vigente, nos termos da CFRB/88, art. 5°, XIII, não é difícil se perceber que o comando legal
independentemente de censura ou licença, conforme não poderia ser mais clara e induvidosa a
artística previsto no art 5°, IX da Constituição Federal, constitui também a previsão do art. 16 da
Lei 3.857/60 oposição ao conteúdo do art. 215 da Constituição. Vai contra o apoio e o incentivo
da difusão das manifestações culturais exigir do músico, para que se apresente, o cumprimento de
o exercício dos direitos culturais, bem como à difusão das manifestações culturais, conclui-se,
outrossim, pela ilegitimidade do controle da atuação do músico pelo Estado também neste
fundamento.
A revogação dos artigos 16, 17, 18 e 28 da Lei 3.857/60 pela Constituição Federal e a
inconstitucionalidade de seu conteúdo11
profissional, (CRFB/88, art. 5°, XIII) e o (b) impedimento à livre expressão artística (CRFB/88,
art. 5°, IX), devem ser interpretados como revogados pela Constituição Federal os artigos, 16, 17,
18 e 28 da Lei 3.857/60, por serem contrários à Lei Maior, a estes superior hierarquicamente e
posterior, ainda.
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ordenamento jurídico válido, destas normas. O julgado acima trouxe este entendimento, também.
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Toma-se como desnecessário tecer-se considerações, a esta altura, sobre a supremacia da Constituição e sua
característica de marco fundante do Estado.
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