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PARECER N° AGU/AG-17/2010 PROCESSO N° 08000.003071/2007-51 INTERESSADO: CESARE BATTISTI ASSUNTO: Extradigao. Repiiblica Italiana, Julgamento do Supremo Tribunal Federal. Requisitos de cariter puramente subjetivos do Presidente da Reptiblica. EMENTA: Extradicao 1.085- Repiiblica Italiana, Supremo Tribunal Federal. Margem de discricionariedade do Presidente. Aplicacao do tratado. Ponderdveis razdes para suposicdo de que o extraditando poderia ser submetido a atos de discriminacao, por motivo de situacao pessoal Excelentissimo Senhor Mi tro de Estado Chefe da Advocacia-Geral da Unido, Vossa Exceléncia encaminhou para anilise, avaliagio e investigagio e6pia do Processo n° 080000.003071/2007-51, de interesse do cidadio italiano Cesare Battisti Ha pedido de extradigéo, por parte da Replica Italiana, matéria apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, por ocasiao da Extradicao n° 1.085. Cuida-se de assunto que se desdobra de mera questo de interesse particular do extraditando para referenciais de tratado internacional. No nticleo do desate do problema ha margem de ricionariedade que o Presidente da Repiblica detém, no sentido da propria interpretacao do tratado. 2. A presente manifestagio principia por colocar objetivamente os contornos do problema. Segue com investigagdo a propésito do requerimento de extradigio encaminhado pelas autoridades italianas. Procura-se esquadrinhar 0 contetido do decidido pelo Supremo Tribunal Federal no contexto da Extradigio n° 1085. Reproduz- se 0 tratado de extradicdo firmado entre Brasil © Mélia. Indicam-se peculiaridades, caracteristicas, posighes ¢ divergéncias que se desdobram no aqui estudado Caso Battisti. Conclui-se que ha ponderdveis razdes para se supor que 0 extraditando possa ser submetido a agravamento de sua situagio pessoal. E que, se plausivel a premissa, deve-se aplicar o tratado, no sentido de se negar a extradicdo, insista-se, por forga de disposigdo do proprio tratado, que confere discricionariedade, ao Presidente da Repiblica, nos termos do jé referido tratado. 1) Introdugao e Contornos do Problema 3. © problema se insere no quadro geral de competéncias do Presidente da Repdblica, matizado em termos constitucionais e, no caso, temperado pelos contornos do Tratado de Extradigao que Brasil ¢ Itdlia firmaram, Ha discricionariedade, como consequéncia da aplicagio do tratado, que conta com regra especifica neste sentido. Preocupacées para com eventual agravamento a ser sofrido pelo interessado, bem como © contexto que 0 espera, conformam-se nos dois planos interpretativos que a questio propée. 4. Ao que parece, € da tradigao de nosso diteito dos tratados a fixagao de cléusulas que conferem discricionariedade ao Chefe do Poder Executivo. Por exemplo, no tratado de extradigao que pactuamos com a Austrélia, hé previséo de recusa facultativa. 5. Isto é, pactuamos com a Australia que a extradigio possa ser recusada quando, em circunstane’ ‘excepcionais, a parte requerida, embora levando também em conta a gravidade do crime © os interesses da parte requerente, decidir que, devido circunstancias pessoais de pessoa reclamada, a extradicao seria incompativel com consideragdes humanitérias 6. No tratado de extradigao que assinamos com a Coréia ha disposi¢ao relativa a recusa de extradigéo, do mesmo modo como pactuado com a Austrilia, também, quando, em casos excepcionais, a parte requerida, embora levando em consideragéo a gravidade do crime ¢ os interesses da parte requerente, julgar, em funcao das condig&es pessoais da pessoa procurada, que a extradigio seria incompativel com consideracdes humanitérias. No tratado de extradicdo firmado com a Espanta tem-se, por exemplo, que a entrega da pessoa reclamada ficaré adiada, em prejuizo da efetividade da extradigao quando circunstincias excepcionais de cardter pessoal ¢ suficientemente sérias a tornarem incompativel com raz6es humanitarias. De modo muito parecido, no tratado firmado com a Franca, explicitou-se que 0 tratado néo possa se constituir obstaculo a que um dos dois Estados recuse a extradicao por consideragoes humanitérias, quando a entrega da pessoa reclamada for suscetivel de ter para ela consequéncias de excepcional gravidade, especialmente em razo da sua dade ou do seu estado de saiide. 8. Com Portugal firmamos que a parte requerida poderd sugerir & parte requerente que retire o seu pedido de extradicio, tendo em atengio razbes humanitérias que digam nomeadamente respeito a idade, sade, ou outras circunstancias particulares da pessoa reclamada, 9, Em todas estas circunstincias ¢ certa subjetividade do representante da parte requerida quem vai alcancar ¢ definir conceitos vagos, amplos, a exemplo de razdes humanitérias, excepcional gravidade, estado de satide, circunsténcias particulares, condicdes pessoais da pessoa reclamada, entre outros. No caso presente, & este justamente 0 ponto que fixard uma linha de agio razodvel e equilibrada. De fato, e para a Ministra Carmen Lécia, (..) a competéncia, a atribuigéo constitucional para decidir sobre a entrega, em iiltima insténcia, € do Presidente da Reptiblica, cumpridas nao apenas as leis, mas também 0 tratado, aplicado especificamente as pecutiaridades do caso. 10, Ao longo das razées que seguem evidencia-se certa apreensao para com eventual tratamento a ser enfrentado pelo extraditando. Pelo que se apreende de acompanhamento da imprensa, pode haver motivos que justificariam pelo menos a mais absoluta cautela, no caso de eventual entrega do individuo reclamado pelas autoridades italianas, Isto é, hd fundadas razées para suposicao de que 0 extraditando possa ter agravada sua situagio pessoal. E tal suposigao nio sugere, ¢ nem suscita, ¢ nem cogita, de qualquer ato de hostitidade para com as autoridades do Fstado-requerente. 11. A questdo exige que se proteja, do modo mais superlativo possivel, a integridade de pessoa eventualmente exposta a perigo, em ambiente supostamente hostil. Hé pano de fundo que se relaciona com pensamento criminolégico humanitério, especialmente " STR, Ext-1085, Ministra Carmen Lica, fs. 544. no sentido de que o direito penal consista também num conjunto de constrigdes que representa custo que deve ser justificado”. Nao se pode negar o clamor que o problema provoca, interna ¢ extemamente. Tem-se questo que divide opinides, que remete 0 intérprete a indmeras davidas. ID) 0 pedido de extradigao de Cesare Battisti 12. Do ponto de vista procedimental a questio decorre de Nora Verbal distribufda pela Embaixada da Itilia junto a0 Itamaraty em 21 de fevereiro de 2007. Com base no art, 13 do Tratado de Extradigdo que assinamos com a requerente, esta solicitou a prisio preventiva, para fins de extradigio, de Cesare Battisti, nascido em Cisterna di Latina, na Itdlia, em 18 de dezembro de 1954. Lé-se na aludida nota verbal que o extraditando era exigido pela justica italiana, por forca dos seguintes fatos, tais como narrados pelo Estado solicitante, verbalmente: @) Sentenga de condenacao com pena restritiva de liberdade pessoal emitida em 16/2/1990 pela Corte de Asise de Apelagdo de Mildo, irrevogdvel a partir de 8/4/1991 pelos homicidios de Antonio Santoro, Lino Sabbadin ¢ Andréa Campagna e outros crimes: b) Sentenga de condenagdo com pena restritiva da liberdade pessoal emitida pela Corte de Asise de Apelagdo de Mildo, irrevogdvel a partir de 10/4/1993 pelo homicidio de Fierlugi Torregiani; 13. Informou-se também que hé condenagdo a pena de prisdo perpétua com a agravante de ixolamento diurno por seis meses, ordem emitida pela Procuradoria-Geral da Reptiblica de Milio, em 29 de abril de 1997. Indica-se na referida Nota que seguiria requerimento formal de extradigio. © pedido € instruido por outro documento produzido pelo Ministério da Justiga na Tilia, que, em desfavor do extraditando descreve os fatos, nomeadamente, no sentido de que Cesare Battisti: ® Ch, Luigi Ferrajoli, Direito ¢ Razdo- Teoria do Garantismo Penal, Sio Paulo: RT, 2006, p. 195. ‘Tradugio de Ana Paulo Zomer Sica, Fauzi Hassan Choukr, Juarez. Tavares € Luis Flavio Gomes. XK @) Matou, com auxilio de outras pessoas, Antonio Santoro, marechal dos agentes penitencidrios, da pristio de Udine, fato ocorrido em Udine, em 06.06.1978; b) Maton, com auxilio de outras pessoas, Lino Sabbadin, comerciante, fato ocorrido em Mestre (VE), em 16.02.1979 ©) Matou, com auxilio de outras pessoas, Pierluigi Torregiani, comerciante, fato ocorrido em Mildo, em 16.02.1979; @) Matou, Policia de Estado, fato ocorrido em Miléto, em 19.04.1979. com auxilio de outras pessoas, Andrea Campagna, agente da 14, Em 28 de fevereiro de 2007 0 entdo Ministro de Estado da Justiga, Marcio ‘Thomaz Bastos, encaminhou 0 Aviso n° 0445/MJ, enderecado & Ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal. Trata-se de documento relativo & extradigao de Cesare Battisti, especialmente confeccionado para os efeitos do art. 82 da Lei n° 6.815, de 19 de agosto de 1980, bem como do art. 13 do Tratado de Extradicio firmado entre Brasil e Italia em 17 de outubro de 1980, promulgado pelo Decreto n° 863, de 9 de julho de 1993, 15. Em 1° de margo de 2007 0 Ministro Celso de Mello, relator do proceso de prisio preventiva de extraditando, tombado sob nimero 581, assinou mandado de prisio. Da ordem comunicou-se 0 Ministro da Justica, por meio do Oficio n° 718/R Expediu-se mandado de recolhimento compuls6rio. Nos autos do processo de prisio preventiva para extradigao n° 581-4, 0 Ministro Celso de Mello, despachou da forma ‘como segue: DECISHO: O Governo da Repiblica Italiana, mediante Nota Verbal regularmente apresentada por sua Missao_Diplomdtica ao Governo brasileira (fis. 04). requer a decretagao da prisdo preventiva, para efeitos extradiciones, de Cesare Battisti, condenado, definirivamente, naquele Pais, pela Corte de pelagies de Milao. a pena de prisdo perpétua, com isolamenio diurno inicial por seis meses (sentencas datadas de 08/04/1991 ede 1004/1993). pela pritica de delitos de homicidio (fis. 04). O suporte juridico dese pedido de prisdo prevemiva repousa em tratado bilateral de extradiedo, celebrado, pel Brasil e pela Reptiblica altuna, em 1989, ¢ incorporado, ao nosso sistema de direito positivo interno, desde a sua promulgacdo pelo Decreto n° 863/93, \ 16. para a natureza da pena imposta, i Esse Tratado de Extraiigdo auoriza, nos casos de urgéncla, que qualquer das Altas Partes Contratantes solicite, por meio do seu agente diplomitico, a decretagito da prisao preventiva da pessoa —reclamada (Artigo NII, n. 1). Os fetos delitasos pelos quais 0 stidito italiano em questao foi condenado satisfazen a exigéncia imposta pelo postutado da dupla upicidade. Assinalo. no entamo, considerada a natureza da pena imposta a esse nacional italiano (prisio perpétua), que a jurisprudéncia —haje prevalecente no Supremo Tribunal Federal oriema-se em sentido assim exposto em decisdio emanada do Plendrio desta Corte Suprema. "(..) EXTRADIGAO E PRISAO PERPETUA NECESSIDADE — DE PREVIA COMUTAGAO, EM PENA TEMPORARIA (MAXIMO DE 30 ANOS), DA PENA DE PRISAO PERPETUA - REVISAO DA JURISPRUDENCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, EM OBEDIENCIA A DECLARAGAO CONSTITUCIONAL DE DIREITOS (CF, ART. 5°, XLVI, 'b). - A extradicdo somente —serd deferida pelo Supremo Tribunal Federal, tratando-se de fatos ——_delinsos puniveis com prisao perpéina, se o Estado requerente —assumir, formalmente, quanto a ela, perante © Governo brasileiro, 0 conipromisso de comuté-la em pena ndo superior & duracao maxima — admitida na lei penal do Brasil (CP. art. 75), eis que os pedidlos extradicionais ~ considerado 0 que dispde 0 art. 5, XLVU, 'b" da Constituicdo da Reptblica, que veda as sangdes — penais de cardter perpétuo ~ estdo necessariamemte sujeitos & — autoridade hierdrquico-normativa da Lei Fundamental brasileira. Doutrina, Novo entendimento derivado da revisao, pelo Suprema Tribunal Federal, de sua jurisprudéncia em tema de extradigdo ppassiva.” (Ext 855/Repilica do Chile, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno, "in" Informativo:STF n° 338, de 1°%09/2004) Os ilicitos penais em causa, de outro lado, néo parecem incidir nas restrigaes, que. estahelecidas pela lei brasileira (Lei n’ 6.815/80, art. 77) ¢ pelo iratado bilateral existeme entre 0 Brasil ¢ a Repiiblica Italiana (Antigo HI), impediriam, acaso — acorrentes, a efetivagdo da propria entrega extradicional. Sendo assim. decreto a pristo preventiva de Cesare Battisti (fis. 04) ¢ determino a expedicdo do respective mandado de prisdo. A execugao dessa ordem judicial. (do logo efetuacla, deverd ser comunicada a esta Suprema Corte. 2. Comunique-se 0 twor deste ‘ato decisério, com 0 encaminhamento da eépia respeetiva, ao Senhor Ministro da Justiga, para efeito de ciemificagdo formal da Missdo Diplométiea da Repiiblica Haliana, 3. A presente decisao somente deveré ser publicada, depois de efetivadla a pristo do sidito estrangeiro ora reclamado. Brasilia, 1? de margo de 2007. Deve-se se insistir no fato de que 0 Ministro Celso de Mello chamou a atencao », 8 pena de prisio perpétua. O Ministro relator Iembrou que a jurisprudéncia do STF é no sentido de que nao se defira a extradicao em hipotese de pena de pristo perpétua, a menos que haja compromisso irretratdvel efetivo de se comutar a penalidade, por pena de prisio que nao seja superior a 30 anos, como previsto no modelo brasileiro. 17, Em 18 de marco de 2007 a Policia Federal cumpriu a ordem do Ministro Celso de Mello, prendendo Cesare Battisti no Rio de Janeiro, Em seguida o extraditando foi transferido para a carceragem da Superintendéncia da Polfcia Federal em Brasilia, Informou-se a Embaixada da Itélia do cumprimento da ordem de prisio. Abriu-se prazo para que 0 pedido formal de extradigao fosse protocolado pelas autoridades italianas. 18. Em 28 de margo de 2007 por intermédio do Aviso n° 612-MJ 0 entio Ministro de Estado da Justica, Tarso Genro, comunicou ao Mi stro Celso de Mello da priso preventiva efetivada, para fins de extradigao, em desfavor de Cesare Battisti. Este Ultimo ficaria A disposigio do STF. O Ministro da Justiga observava também que corria prazo para o recebimento do pedido formal de extradicao. 19. Juntou-se no processo administrativo carta dirigida ao Presidente Luis Indcio Lula da Silva, assinada por Elizabeth Silveira € Silva, Presidente do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, em favor de Cesare Battisti. Ha também juntada de carta de um cidadao de nome Antonio Battisti, entio vereador na cidade de Sio José em Santa Catarina, também protestando para que se indeferisse extradigao de Batt 20, Em 24 de abril de 2007 a Embaixada da Italia em Brasilia apresentow nota verbal, na qual se assegurou, objetiva e explicitamente que: O Governo da Repiiblica Italiana assegura que, caso Cesare Battisti seja entregue para as autoridades italianas, néo Ihe serao aplicadas sentencas de condenagdo para as quais a extradicao néio foi requerida, de acordo com a deciséio adota pelas Autoridades judictdrias brasileiras’. 21. H4 também juntada de documento por parte das autoridades italianas, expondo ‘os fatos criminais imputéveis a Cesare Battisti. As descrigées sio exuberantes em pormenor, e seguem, para esclarecimento, especialmente no que se refere as nftidas deficiéncias da tradugio: N.1982.20.150 Registro Extradigies Objeto: exposicéio dos fatos criminais imputdveis @ CESARE BATTISTI nascido em 18.12.1954 em Cisterna de Latina, CESARE BATTISTI foi condenado com sentenga em data 31.3.1993 pela Corte de Assise de Apelo de Mildo, com adiamento da Corte di Cassazione, em seguida ao ® Processo Administrativo n? 080000,003071/2007-S1, fs. 50. anulamento parcial da sentenca Corte Assise de Apelo de Mildo em data 16.2.1990, que confirmou a sentenca da Corte Assise de Milo em data 13.12.1988, a prisdo perpétua com isolamento diurno por seis meses em ordem aos seguintes fatos: Homicidio de ANTONIO SANTORO, marechal dos agentes de custédia do cdrcere de Udine, acontecido em U¢ 7 Na manhé de 6.6.1978 0 marechal Santoro percorre a pé a rua Spalato em Udine para recar-se da sua casa ao trabalho, isto é, ao cdrcere. Um jovem rapaz, que, finge estar namorando cam uma moca dos cabelos ruivos, © espera no cruzamento entre aquela rua e via Albona e dispara dois tiros de pistola nas suas costas e o mata. Depois do tiroteio entra num carro branco onde se encontram outros dois jovens de sexo masculino, que se distanciam a forte velocidade em direcdo a via Pola. Duas testemunhas retém de poder identificar 0 modelo do carro: um Simca 1300 ow um Fiat 124. Lé pelas 13.00 horas do mesmo dia, wma patrulha dos carabineiros encontra abandonada em via Goito um carro marca Simca 1300 branco, que resulta roubado na noite do dia anterior. O carro vem encontrado aberto ¢ vem acertado que para fazé-lo funcionar, os Jadroes tiveram que estrapar os fios de implante elétrico que eram coligados ao quadro com um grampo de cabeios. Os investigadores acertaram também que 0 carro estava estacionado no lugar onde foi achado jé das 7-50 horas daquele mesmo dia, e isto é, minutos imediatamente sucessivos ao momento no qual foi consumado 0 homicidio. As sucessivas investigacdes, permeteram de estabelecer que o autor material do homicidio de Santoro, isto é, aguele que tinha disparado nas suas costas os dois tiros de pistola, se identificava no hodierno estradando CESARE BATTISTI, que. entre outras coisas, tinha jd ficado preso no céircere de Udine. A modalidade exata de tal homicidio foi assim reconstruida: 0 BATTISTI e Enrica MIGLIORATI, ficaram abracados por cerca 10 minutos & apenas alguns metros de distincia do portao do prédio de Santoro, enquanto Pietro MUTTI e Claudio LAVAZZA, esperavam no carro a chegada da vitima BATTISTI se destacou imediamente da MIGLIORATI, se aproximou correndo de Santoro, ¢ o feriu primeiro com um tiro nas costas e com outros dois tiros, quase 4 queima-roupa, quando 0 marechal era jd a terra ‘Siibito depois 0 BATISTA ¢ a MIGLIORATI correram em diregdo do Simca 1300 que apenas tinha se posicionado no meio da rua, ¢ assim escaparam todos os quatro, Chegaram entdo na avenida principal, trocaram de carro, se disfizeram dos travestimentos (bigode ¢ barba posti¢a para 0 BATTISTI, peruca para a MIGLIORATI, peruca preta para 0 LAVAZZA) e chegaram & estagdo de Palmanova, onde 0 BATTISTI desceu, levando consigo a bolsa das armas e das maquiagens Foi acertado também que a decisdo de matar 0 Santoro partiu do BATTISTI que conhecia pessoalmente a vitima. em Mestre em 16. No dia 16.2.1979, Id pelas 16:50 horas, dois individuos de sexo masculino, com o rosto descoberto, mas com barba e bigode posticos, entram num acougue dirigido por LINO SABBADIN em Caltana di Santa Maria di Sala perto de Mestre, e um destes, depois de ter-se certificado que aquele homem que era diante dele era 0 préprio SABBADIN em pessoa, extraiu fulmineamente uma pistola da uma bolsa que trazia consigo, e explodiu contra este dois golpes de pistola, fazendo-o cair pesantemente sobre 0 estrado atrés do balcdio onde naquele momento estava trabalhando; imediatamente depois dispara outros dois tiros sobre o alvo que no mais é jé.a terra, ¢ tudo com a clara intengdo de matar. Depois disto os dois saem rapidamente da loja e entram num carro guiado por um terceiro ciimplice, que se afasia a forte velocidade em direcdo do centro habitado de Caltana, para depois prosseguir em direcao de Pianga. O SABBADIN vem carregado agonizante numa ambuldncia, mas chega morta no Hospital de Mirano. Ficou acertado que a vitima, no curso de uma rapina que foi feita ao interno do seu negécio em dezembro de 1978, tinha usado uma arma da qual era egitimamente em possesso, ferindo a morte um dos assaltantes. As investigagées estabeleceram que os individuos de sexo masculino que entraram na loja do SABBADIN eram CESSARE BATTISTI e DIEGO GIACOMINI, este iiltimo tinha aberto fogo com uma pistola semi-automatica calibre 7,65 depois de ter perguntado ao comerciante se era ele 0 SABBADIN e depois de ter recebido uma resposta positiva Neste meio tempo, PAOLA FILIPPI, travestida com bigode e barba postica e com ‘os cabelos presos dentro de um boné, tinha ficado esperando num carro precedentemente roubado e que foi usado para a fuga. Homicidio de PIERLUIGI TORREGIANI, acontecido em Mildo em 162.1979 As 15:00 horas de 16.2.1979, enquamto se dirigia para a sua loja, a pé, em companhia de seus dois filhos menores, PIERLUIGI TORREGIANI cai vitima de uma emboscada. Dois jovens que 0 precedem, se giram improvisamente e disparam dois tiros na sua direcao: 0 escudo anti-projétil que trazia consigo, diminuiu 0 impacto consentindo a sua defesa. Vem novamente ferido, mas desta vez ao fomur, ¢ ai a terra. Dispara em diregdo de seus agressores, mas um projétil atinge 0 seu fitho, ferindo-o gravemente; 0 Joatheiro vem finalmente atingido na cabeca. Vem transportado ao hospital onde chega morto. O fitho resteré paraplégico e seré incapaz de caminhar, Este homicidio foi cometido mais ou menos poucas horas antes daquele de LINO SABBADIN ¢, 0 TORREGIANI também, como o SABBADIN, em precedéncia tinha reagido com arma da fogo é uma rapina ao restaurante Transatlamico de Milo acomtecido em 23.1.1979, no curso da qual um dos delingiientes morreu por causa dos tiros ndo de TORREGIANI, mas de um outro comensal que se encontrava no local A decisdo de matar 0 TORREGIANT amadureceu juntamente com aquela de matar 0 SABBADIN: as duas agdes homicidas foram decididas junramemte, executadas quase contemporaneamente e unitariamente reivindicadas. Para decidirem sobre os dois homictdios foram feitas uma série de reunides na casa de PIETRO MUTTI e LUIGI BERGAMIN, ds quais 0 BATTISTI sempre A pariecipou ¢, todos foram de acordo sobre a oportunidade de tais agdes criminais. Portanto BATTISTI se assumiu a funcdo de executor material do homicidio de LINO SABBADIN mas teve funcdo decisiva no homicidio TORREGIANI, mesmo se ndo participou materialmente d execuedo de tal crime. Ao contrdrio, stibito depois do homicidio de SABBADIN, BATTISTI procurou, como da precedente acordo, de contactar telefonicamente os autores materiais do homicidio TORREGIANI e, se como nao conseguiu localizé-los, fez o telefonema de reivindicacao, depois de ter sentido a noticia do assassinato de TORREGIANI pelo rédio. Além disto, no curso das reunides acima citadas na casa de MUTTI ¢ de BERGAMIN, BATTISTI reforcou muitas vezes a necessidade da inevitdvel agao homicida, deixando, na noite de 14.2.1979 a casa de BERGAMIN, onde estavam reunidos alguns tépidos discordantes deste projeto de duplo homicidio, que no ‘mais era jé de imediata realizagdo, observando “que a operacdo & qual estevam trabalhando era jé pronta e que teria partido para Padova no dia seguinte”. Dito isto se afastou sibito depois. Se faz presente que Pédova é localizada nas proximidades de Caltana di Santa Maria di Sala onde dois dias depois BATTISTI partecipou materialmente ao homicidio de LINO SABBADIN. Em definitivo, 0 BATTISTI, seja enquanto partecipante da decisdo colegial que diz respeito d ambos homicidios, seja enquanto executor material do homicidio SABBADIN e awor da tinica reinvidicacdo de ambas acdes, foi condenado também por concurso no homicidio TORREGIANI. Homicidio de ANDREA CAMPAGNA, acontecido em Mildo 19.4.1979 As 14:00 horas do dia 19.4.1979, 0 agente de Policia de Estado ANDREA CAMPAGNA, membro da DIGOS de Mildo, com funcdes de motorista, depois de Jer visttado a namorada junta d qual, como todos 0s dias, almocava, se preparava ‘em companhia de seu futuro sogro, para pegar 0 sew carro estacionado & via Modica, para depois acompanhé-lo na sua loja de sapatos de via Bari. A este ponto, vinha improvisamente enfrentado por um jovem desconhecido, que, aparecendo de repenie detrés de um carro estacionado ao lado do carro do policial, explodia contra ele, em rapida sucessao 5 tiros de pistola ‘LORENZO MANFREDI, pai da namorada do CAMPAGNA, tentava de intevir, mas 0 atirador Ihe apontava a arma que ainda empunhava, apertando por duas vezes o grileto, sem que todavia partissem os tiros Siibito depois, 0 jovem desconhecido fugia em direcdo & cooperativa de via Modica, onde, em correspondéncia da curva que ali existe, entrava num carro Fiat 127 dirigido por um cimplice; tal carro, depois de ter girado d esquerda em via Bietla, se afastava em diregao de via Eutore Ponti O CAMPAGNA vinham imediatamente socorrido, mas morria durante 0 transporte para o hospital. Os acertamentos médico-legal dispostos sobre 0 cadiver do agente assassinado consentiram de esclarecer que a vitima foi atingida por cinco tiros, todos explodidos em rapidissima sucesso da uma distancia muito préxima, quando 0 CAMPAGNA ainda vivo girava verso 0 homicida a metade esquerda do corpo. Como referido pelos familiares, o agente assassinado tinha aparecido de maneira ‘muito nitida no curso de um servico televisivo em ocasido da prisdo de alguns dos \ autores do homicidio TORREGIANI, havendo 0 mesmo efetuado o transporte de tais presos da Questura ao cércere de San Vittore. A decisao de matar CAMPAGNA foi assumida, como emergeu do proseguimento das investigagdes, principalmente por BATTISTI, por CLAUDIO LAVAZZA, PIETRO MUTTI € BERGAMIN LUIGI, pois que 0 CAMPAGNA tinha partecipado 4 prisdo de alguns presuntos autores do homictdio de TORREGIANI. A iniciativa mais importante seja na escolha do objetivo, seja na fase successiva de preparaciio do atentado, foi assunta pelo mesmo BATTISTI, que controlou por um periodo os movimentos ¢ hébitos do CAMPAGNA. Além disto foi 0 préprio BATTISTI que cometeu materialmente 0 homicidio explodindo cinco tiros na diregdo do policial, enquanto uma segunda pessoa 0 esperava a bordo de um Fiat 127 roubado e wilizado para a fuga. Posigdo processual — exercicio do direito de defesa As investigacdes relativas aos quatro homicidios anteriormente descritos foram feitas pelas secgdes judicidrias territorialmente competentes; sucessivamente foi celebrado um tinico processo perante d Magistratura de Mildo competente em relagdo a dois dos homicidios, entre os quais 0 tltimo. (O BATTISTI sempre esteve foragido e foi réu revel, tendo sido atingido por ordem de captura emitido pela procuradoria de Udine em data 16.4.1982 pelo homicidio de SANTORO, ¢ por mandato de captura emitido em 3.6.1982 pelo juiz instrutor do Tribunal de Mildo pelos outros episédios. Foi ativamente procurado em todo 0 territério nacional em vérias operagoes de policia, através controles de hotéis, pensoes, postos de bloco e controles de fromeiras, que deram éxito negativo. 0 Piiblico Ministério junto ao Tribunal de Udine, que tinha aviado primeiramente ‘as investigagdes em relacdo ao homicidio SANTORO, em data 20.4.1982. nomeava para o BATTISTI qual defensor de oficio, 0 advogado ALBERTO PATRONE de Udine; todavia em data 215.1982 chegava @ Autoridade Judiciéria de Udine uma carta firmada por CESARE BATTISTI, expedida da Mildo, com a qual 0 mesmo nomava como seus advogados de confianca os advogados GIUSEPPE PELAZZA E GABRIELE FUGA, do forum de Mildo, relagao 4 todos os procedimento penais em curso contra el 22. Juntou-se amplo conjunto de disposigdes do diteito italiano. Trata-se de excertos legais em tema de delito tentado, de circunstincias agravantes comuns, de atenuantes, de concurso formal, de delito continuado, de reincidéncia, de fixagao de pena de morte, de definigio de associagio subversiva, de instigagio ao crime, de definigio de bando armado (com as respectivas percepgoes de formagio e de participacio), de violéncia ou ameaga a oficial pablico (sic), de resisténcia, de evasao, de associagio para delinquir, de homicidio (com as respectivas agravantes), de fixagdo de prisio perpétua, de sequestro de pessoa, de violacdo a domicilio, lesdo pessoal, violagdo de domicilio, furto, rapina, extorsio, entre outros. Encaminhou-se também a solucdo normativa que os italianos aplicam & prescricao penal. 23. Ha também documento dando conta do regime penitencidrio italiano, no que se refere, especialmente, a liberdade condicional com relagio a pena de prisio perpétua. Trata-se, em principio, da nuance mais substanci em torno da dis 1. Assinalo alguns pontos, e copio-os do documento que instrui o proceso administrativo de que se cuida, lembrando-se que os grifos so meus: Em caso de condenagéo & prisdo perpétua, 0 detento pode ser admitide 4s primeiras formas de atenuagio da detenedo com 0 trabalho fora e com a admissao a frequentar cursos de formacdo profissional no exterior do instituto penitencidrio (.... E necessdrio que tenham sido cumpridos pelo menos 10 anos de pena. bo) Semiliberdade: parte do dia & passada fora. Para os condenados prisdo perpétua, pode ser concedido depois de 20 anos de detengao, que se reduzem a 15, por efeito da liberacdo antecipada (desconto de 25 dias cada semesire: portanto, 3 meses ao ano). bo) Liberagdo antecipada: consiste num desconto de pena reconhecido aos detentos que demonstram que participam na sua reeducagéo durante 0 iratamento penitencidrio. A estas pessoas sito subtraidas 45 dias por cada semestre de pena cumprida. O beneficio é aplicdvel também aos condenados & prisdo perpétua, para fins de céleulo da medida de pena que & necessério ter cumprido para ser admitide aos beneficios de semiliberdade e das licengas- prémio, e sobretulo para fins da liberacdo condicional. () Liberagdo condicional: 0 condenado a prisdo perpétua pode gozar do beneficio quando tiver cumprido efetivamente 26 anos de pena, que concretamente podem reduzir-se por efeito dos descontos de pena conexos ao instituto da liberagdo antecipada 24. No processo administrative de que se cuida juntou-se tradugio de todo 0 procedimento que se desdobrou na justica italiana, e que redundou na condenagao (in absentia) de Cesare Battisti. Especialmente, ha tradugao da decisio irrecorrivel, datada de 31 de margo de 1993. Do ponto de vista formal o requerimento de extradigao protocolado pelo governo italiano segue 0 contetido dos tratados interacionais, do pacto assinado entre Brasil e Itdlia, bem como os usos costumes que se seguem em Ambito de direito extradicional. 25. Em 10 de maio de 2007 0 Senhor Chefe Substituto da Divisio de Medidas ‘Compulsérias do Departamento de Estrangeiros da Secretaria Nacional de Justica do Ministério da Justica solicitou a Delegado da Policia Federal que entio coordenava a Interpol que informasse se Cesare Battisti respondia a proceso crime na justica brasileira. Concomitantemente, em 17 de maio de 2007, © Ministro Celso de Mello indagou ao Ministro Tarso Genro, entio a frente do Mi tério da Justiga, se 0 extraditando teria formulado (ou nio) perante 0 governo brasileiro, pedido de reftigio. Informou-se (Aviso 1060-M3) que até 11 de junho de 2007 ainda nao havia registro de pedido de refgio, por parte de Cesare Battisti 26. Em 5 de junho de 2007 0 Ministro Celso de Mello determinou que Cesare Battisti fosse transferido para outras dependéncias da Policia Federal. F que o extraditando teria sido agredido e sofrido maus tratos. A declaragao de Battisti esté circunstancializada em termo que prestou junto a Policia Civil do Distrito Federal’. Mais tarde, em apuratério preliminar, consignou-se a partir de um delegado de policia federal (que se encontrava detido) que Battisti supostamente teria sido agredido por policiais civis’, A negativa de Battisti esvaziou a acusacao. 27. Ainda no contexto do referido apuratério preliminar Cesare Battisti teria se negado a depor sobre os fatos entio ocorridos, bem como se negou também a retornar a0 Complexo Penitencidrio do DF. Em 28 de junho de 2007 noticiou-se que Cesare Battisti fora indiciado por uso de documento falso, quando usava passaporte de nacionalidade francesa, quando de sua prisio no Rio de Janeiro. Havia, assim, inquérito policial para apuracio de suposio crime de uso de documento falso, por parte do extraditando. 28. Em 3 de agosto de 2007 a Defensoria Pablica da Unido protocolou petigio no Supremo Tribunal Federal noticiando ao Ministro Celso de Mello maus tratos supostamente sofridos por Battisti nas dependéncias da Policia. 29. No processo administrative hé também carta que 0 filésofo francés Bernard- Henri Lévy enderegou a Tarso Genro, enti Ministro de Estado da Justica. No referido texto o pensador francés problematiza o destino de Battisti, manifestando angéstia © preocupagio para com a extradiclo, isto é, se deferida. Bernard-Henri Lévy notabiliza- + Qeorréncia n? 3091/2007. 30* DP- Processo Administrative 9° 080000.003071/2007-SI, fs. 639-640. 5 Apuratério Preliminar n° 051/2007-SESIPE- Processo Administrativo n° 080000,003071/2007-51, fs, 653-656. \ OO se pela intrans gente luta em prol da dignidade humana, linha de agio que se identifica ‘com pensamento francés avangado e prospectivo, humanitirio e solidario, a exemplo do ‘que se alcanga em Louis Althusser, Emmanuel Levinas, Jacques Derrida, Albert Camus, Roland Barthes, cujo antepassado comum seria Alexis de Tocqueville. 30. No processo administrative sobre exame ha também c6pia de fax" enviado por Agente de Policia Federal de plantéo na Interpol, Medidas Compulsorias do Mi Roma, ter igido ao Chefe de Divisio de istério da Justiga, dando conta de que a Interpol, em formado que © Caso Battisti estaria promovendo muita repercussio naquele pats. 31. As autoridades italianas teriam, por intermédio da Interpol, pedido informagoes referentes ao proceso de extradigio, bem como se esta estaria, efetivamente, condicionada a uma pena méxima de 30 anos, a ser cumprida na Itélia. Por fim, questionava-se a propésito de uma data/previsdo de entrega de Cesare Battisti, Hé documento com idéntico contetido subscrito por Delegada da Policia Federal, Chefe do Servigo de Difusdes e de Procurados Internacionais’. 32. Em 16 de maio de 2008 advogados de Cesare Battisti peticionaram ao Ministro dda Justiga, requerendo a transferéncia do extraditando para a Penitenciéria da Papuda, no Distrito Federal, dado que o requerente necessitaria de cuidados fisicos que vao desde um methor ambiente fisico, até tratamento médico mais sistemdtico, somada a impossibilidade do mesmo vir gozar dos beneficios que Ihe [sio] assegurados constitucionalmente, por sua condicdo de preso politico’. 33. Informou-se que ao representante legal do exiraditando que 0 requerimento de transferéncia de carcere deveria ser formulado diretamente ao Supremo Tribunal Federal, porquanto o interessado se encontrava a disposicao daquela Corte’. O pedido foi deferido em 18 de julho de 2008, pelo Ministro Cezar Peluso, entio Vice-Presidente ° Processo Administrativo n° 080000.003071/2007-S1, fs. 720, ® Processo Administrative? 080000.003071/2007-51, is. 721 * Processo Administration? 080000,003071/2007-S1, fs. 730-731 * Processo Administrativo n° 080000.003071/2007-1, fis. 735, do Supremo Tribunal Federal, mediante telegrama enviado ao Ministro da Justica’’. Segue 0 teor da decisio que justificou envio do telegrama: Na Petigiio 1? 99448, de 15 de julho de 2008, 0 Superintendente Regional do DPFIDF requer a imediata remocdo do extraditando CESARE BATTISTI das dependéneias da Superintendéncia Regional do Departamento de Policia Federal no Distrito Federal — SR/DPF/DF, bem como sua transferéncia ao ssistema prisional federal ow @ penitenciéria da Papuda, nos seguintes termos: cedigo que a permanéncia do referido extraditando vem causando constantes transtornos ao desempenho das atribuigdes constitucionais e legais desenvolvidas pela ST/DPF/DF. Iniimeras ocorréncias envolvendo 0 custodiado CESARE BATTISTI foram devidamente registradas incluindo greve de fome, atendimentos médicos constantes ¢ recusa ao recebimento de visitas inclusive de advogados, culminando em wm dossié elaborado pelo Niicleo de Operagdes desta descentralizada. Independente dos contratempos relacionados diretamente a postura do custodiado, a eustédia da SR/DPF/DF, apés ter sido vistiada pela CPI do Sistema Carceririo e membros da OAB/DF, além de membros do Ministério Piiblico Federal, esté sendo desauivada, inclusive com recomendacao do préprio MPF neste sentido. a) Diante de todo o exposto ¢ da impossibilidade de manutencdio do detento CESARE BATTISTI nas dependéncias desta descentralizada, solicitamos junto ao Excelentissimo Ministro-Relator, sua imediata remogao ao sistema prisional ‘federal ou, s.m,j..& penitenciéria da Papuda. Visando uma maior agilidade no procedimento, apis contatos, 0 Sistema Penitencidrio Federal — DEPEN sinalizou positivamente @ possibilidade de recebimento do referido custodiado, sendo que existem vagas tanto no Presidio Federal em CATANDUVAS no Parana, quanto em CAMPO GRANDE no Mato Groso do Sul. Informamos que, consta solicitagdo do Sr. Luiz Eduardo Greenhalgh, advogado do custediado solicitando sua transferéneia para a penitencidria da Papuda, protocolada sob 0 mimero 08200.008574/2008-47, com manifestagao favorével deste signatério, sugerindo que 0 requerimenio fosse encaminho a Vossa Exceléncia. Informamos ainda que, 0 préprio custodiado jé demonstrou, em outras oportunidades, sua insatisfacéo em permanecer nesta descentralizada, por intermédio de cartas de préprio punho. (..)" Diante 0 exposto, tendo em vista a informacdo de que a custédia da Superintendéncia Regional do DPF/DF esté sendo desativada, e, ainda, a ‘manifestacdo favordvel do extraditando e de seu advogado sobre a transferéncia para outro estabelecimento prisional, defiro 0 pedido do Delegado de Policia Federal Disney Rosseti e autorizo a transferéncia do extraditando para 0 Complexo Penitenciério da Papuda em Brasilia, no Distrito Federal, para que 1é permaneca d disposigiio desta Corte. \\ processo Administrative n° 080000.003071/2007-S1, fs. 743, Comunique-se com urgéncia Publique-se. 34. Em 27 de junho de 2008 Cesare Battisti requereu concessio de refigio, conforme noticiado no Mem. 051/CONARE"”. Por forga do requerimento, ¢ como resultado, 0 Supremo Tribunal Federal determinou a suspensio do proceso de extradigao, bem como autorizagio para que o Ministério da Justica ouvisse Battisti, nos termos seguintes: DECISAO: 1. Trata-se de pedido de extradigao executéria do nacional italiano. CESARE BATTISTI, formalizado pelo Governo da Itdlia, com fundamento em Tratado firmado em 17.10.1989 e promulgado pelo Decreto n° 863, de 09.07.1.993. 0 pleito baseia-se em condenacdo definitiva do ora extraditando, por decisto da Corte de Apelagies de Mildo, & pena de prisdo perpétua, com isolamento. diurno inicial por seis meses, pela prética de “homicidio premeditado do agente penitencidrio Antonio Santoro, fato que aconteceu em Udine em 6 de junho de 1977; homicidio de Pierluigi Trregiane, acorrido em Milo em 16 de fevereiro de 1979; homicidio premeditado de Lino Sabbadin, ocorrido em Mesire em 16 de fevereiro de 1979; homicidio premeditado do agente de Policia, Andréa Campagna, ocorrido em Mildo em 19 de abril de 1979 (fls. 04) 2 0 Secretério-Executivo do Ministério da Justica, Luiz Paulo Teles Ferreira Barreio, Presidente do CONARE, por meio do oficio de fl. 2797, informa a esta Corte “Dirijo-me a Vossa Exceléncia para comunicarslhe, nos termos do art, 34 da Lei n° 9.474/97, que Cesare Battisti, cidaddo italiano, detido na Policia Federal de Brasilia, em funcao do pedido de extradicao requerido pela Repiblica Italiana, que tramita’ nessa Suprema Corte, solicitow 0 reconhecimento da condicdo de refugiado perante 0 Comité Nacional para os Refugiados ~ CONARE. Outrossim, solicito a Vossa Exceléncia seja autorizado 0 acesso do Comité ao referido cidadao, objetivando a realizacdo de entrevista para seguimento dos procedimentos previstos na Lei n° 9.474, de 22 de jutho de 1997" Dispae a letra do art. 34 da Lei n° 9474/97: A solicitagdo de refiigio suspenderd, até decisdo definitiva, qualquer processo de extradigdo pendente, em fase administrativa ou judicial, baseado nos fatos que ‘findamentaram a concessizo do refiigio. Assim, 0 proceso de reconhecimento do status de refugiado perante 0 CONARE, até julgamento definitivo, suspende 0 trdmite regular do ™ Processo Administrative n° 080000,003071/2007-S, fs. 740. pedido de extradigdo, conforme, alids, decidiu 0 Plendrio da Corte no julgamento do HC n° 81.127 (Rel. Min. SYDNEY SANCHES, DJ de 26.09.2003). “PRISAO PARA FINS DE EXTRADICAO, PEDIDO DE REFUGIO PERANTE O MINISTERIO DA JUSTICA: SUSPENSAO DO PROCESSO EXTRADICIONAL, SEM DIREITO, POREM, DO EXTRADITANDO, A PRISAO DOMICILIAR. INTERPRETACAO DOS ARTIGOS 34 E 22 DA LEIN? 9.474, DE 22.07.1997, EM FACE DO ART. 84 DO ESTATUTO DO ESTRANGEIRO” (Grifei) (No mesmo semtido, decisdo monocriitica proferida na EXT n° 1008, Rel. Min. GILMAR MENDES, DJ de 17.10.2007). 2 Do exposto, defiro 0 pedido de fl. 2797, a fim de que 0 Comité Nacional para os Refugiados entreviste 0 ora extraditando, conforme procedimento adotado pela Lei n° 9.474/1997, e determino a suspensiio do trdmite deste pedido exiradicional, nos termos do art. 34 desta Lei. Posto o pedido de reconhecimento da condicito de refugiado, nos termos em que formulado pelo ora extraditando, tramite rigorosamente em sede administrativa, perante 0 CONARE, determino seja remetido aquele Comité cépia (i) do relatério da instrucao processual (fls. 180-386), (ti) das decisoes proferidas pelo Primeiro Tribunal do .hiri de Apelagao de Mildo (fis. 404-536) e pelo Supremo Tribunal de Justiga (fis. 538-620), (iii) da manifestacdo da defesa (fis. 1823-1936), (iv) do parecer do Procurador-Geral da Reptiblica (fis. 2318- 2331) e, por fim, (¥) da manifestacdo do Estado requerente (fls. 2379-2437). 35. Juntou-se também no processo administrativo uma carta redigida por cidadd francesa, Hanna Deuria, da cidade de Bordeaux, enderegada ao Presidente Luis Inacio Lula da Silva’’. A missivista sugere que 0 governo brasileiro ndo atenda pedido do _governo italiano, pela extradigao de Cesare Battisti’. 36, Em reunido plendria de 28 de novembro de 2008 0 CONARE indeferiu o pedido de refigio formulado por Cesare Battisti. Do indeferimento o extraditando interpés recurso, conhecido € provido pelo Ministro Tarso Genro, que concedeu refiigio ao interessado. 37. Em 14 de janeiro de 2009 0 Deputado Marcos Pompeu de Toledo, na qualidade de presidente da Comissio de Direitos Humanos ¢ Minorias da Camara dos Deputados divulgou nota oficial, em apoio a concessao de refiigio politico a Cesare Battisti + Com o mesma texto € idéntico conteddo hé também varias outras cartas, todas oriundas da Franga, no sesso administrativo equi avalindo. ocesso Administrativo 1° 080000 ,003071/2007-S1, fs. 763, TI) A decisio do Supremo Tribunal Federal na Ext .085- Republica Italiana sempre por maioria apertadissima, ¢ sem 0 voto de dois Ministros que se declararam impedidos (Celso de Mello e Dias Toffoli), 39. @ que concessiio de refiigio por ato do CONARE ou por ato do Senhor Ministro de Estado da Justica ndo impede deferimento de extradicéo; b que, neste caso, Cesare Battisti, 0 requerimento de extradigao encontra-se apto e adequado para deferimento (conquanto que o Estado requerente convole a pena perpétua para pena méxima de 30 anos, bem como considere o periodo de pena cumprido no Brasil- detracdo); ° e que, principalmente, a decisdéo nao obriga ao Presidente da Repiiblica que, no entanto, deve-se ater aos termos do Tratado assinado com a Itélia e devidamente internatizado no direito brasileiro, © que se colhe também, e resumidamente, em documento que 0 Ministro Relator do caso no Supremo Tribunal Federal encaminhou ao Executivo, com énfases minhas: Senhor Ministro, Comunico a Vossa Exceléncia que 0 Supremo Tribunal Federal, nas sessdes plencirias realizadas em 9.9.2009, 12.11.2009, 18.11.2009, 19.11.2009 e 16.12.2009, decid 1) ~ preliminarmente, homologar 0 pedido de desisténcia do recurso de agravo regimental na Extradigao n. 1085 e indeferir o pedido de sustentacao oral em dobro, tendo em vista o julgamento conjunto: Tl) ~ rejeitar quesiéio de ordem suscitada pela Senhora Ministra Cérmen Livia no sentido de julgar 0 Mandado de Seguranca n° 27.875 antes do pedido de extradigéo; I) ~ por maioria, julgar prejudicado 0 pedido de mandado de seguranca, por reconhecer nos autos da extradi¢do a ilegalidade do aio de concessdo de status de refugiado concedido pelo Ministro de Estado da Justiga ao extraditando; IV) ~ rejeitar as questides de ordem suscitadas pelo Senhor Ministro Marco Aurélio da necessidade de quorum constitucional e da conclustio do _julgamento sobre a prejudicialidade do mandado de seguranga; V) — por maioria, deferir 0 pedido de extradigao; VD) ~ rejeitar a questdo de ordem suscitada pelo advogado do extraditando, no sentido da aplicagao do art. 146 do Regimento Interno, € reconhecer a necessidade do voto do Presidente, tendo em vista a matéria constitucional: Vil) ~ suscitada a questo de ordem pelo Relator, o Tribunal deliberou pela sua permanéncia na relatoria do acérdao; ¢ VIM) ~ por maioria, reconhecer que a decisdo de deferimento da extradi¢ao nao vincula 0 Presidente da Reptiblica, nos termos dos votos proferidos pelos Senhores Ministros Cérmen Liicia, Joaquim Barbosa, Ayres Brito, Marco Aurélio ¢ Eros Grau. Esclareco, por fim, que a referida decisio transitou em julgado no dia 23 de abril de 2010. Atenciosamente, 40. Por cinco votos a quatro 0 Pleno do Supremo Tribunal Federal decidiu que a concessio de refiigio nao impede o deferimento de extradicao. Votaram pela higidez do refiigio deferido pelo Senhor Ministro de Estado da Justica, no caso em tela, os Ministros Eros Grau, Carmen Li Votaram contra ia, Joaquim Barbosa ¢ Marco Auréli a concessio do refiigio, neste caso especifico - - bem entendido - - os Ministros César Peluso (relator), Gilmar Mendes (entdo Presidente da Corte), Ricardo Lewandovsky, Carlos Britto e Ellen Graci 41. Q Supremo Tribunal Federal, por maioria apertada, entendeu o ato de concessio de refigio como um ato administrativo vinculado, € no como ato politico, sem constrangimentos estranhos & atividade politica, ¢ & condugio dos assuntos internacionais por parte do Senhor Presidente da Repiblica, no caso implicita ¢ explicitamente representado pelo Senhor Ministro de Estado da Justiga. 42. Nese sentido, a discussio alcanou questo simultaneamente preliminar ¢ prejudicial, deduzida em mandado de seguranga proposta pelo Estado interessado na extradigio. 43. EB também por cinco votos a quatro a composigéo plena do Supremo Tribunal Federal entendeu que 0 pedido de extradicao acomoda-se ao tratado, & tradigio constitucional brasileira e, principalmente, que a natureza dos delitos que fomentaram toda a movimentacdo escaparia de um contetido empirico de crime politico. 44, Neste sentir, os homicidios de um agente penitencisrio, de um agente de policia, de um joalheiro e de um acougueiro, todos atribuidos ao extraditando, substancializariam, na percepgao de cinco Ministros do Supremo Tribunal Federal, crimes comuns; ipso facto, procedente seria 0 pedido de extradi 45. Votaram pela extradi¢io os Ministros César Peluso, Carlos Britto, Ricardo Lewandovsky, Ellen Gracie e Gilmar Ferreira Mendes. Votaram contra a extradicio todos os Ministros que compreenderam que o reftigio é ato politico: Bros Grau, Carmen Liicia, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio. 46. 0 Ministro Eros Grau havia insistido que quem defere ou recusa a extradigdo é © Presidente da Repiiblica, a quem incumbe manter relagoes com Estados estrangeiros', Para o Ministro Joaquim Barbosa, limita-se aquele Sodalicio a examinar alguns aspectos atinentes d legalidade do pedido formulado pelo Estado estrangeiro"* Para a Ministra Carmen Liicia, quando 0 Supremo defere e, portanto, verifica as condi¢des formais legalmente estabelecidas, compete ao Presidente da Reptiblica, no exercicio de sua competéncia constitucional prevista no art, 84, inciso VI, verificar se faré ou ndo a entrega do extraditando ou tomar as providéncias no sentido de nao permitir a continuidade de uma prisio (...)'°. Para 0 Ministro Marco Aurélio, se declarada a legitimidade do pleito, abre-se salutar oportunidade ao Presidente da Repiiblica nao de modificar 0 pronunciamento judicial, mas de, & frente da politica brasileira no campo internacional, entregar, ow ndo, 0 estrangeiro, que poderd merecer o status de asilado'”. Para o Ministro Carlos Britto, ainda de forma mais perempt6ria, (..) 0 Supremo Tribunal Federal, & medida que sai em defesa desse Tratado para agravar a situagdo do extraditando, esté: saindo em defesa do Estado requerente, e em desfavor da pessoa extraditanda (...) Ndo pode'®. Isto é, por cinco votos a quatro, entendeu-se que a decisio do Supremo Tribunal Federal nao obriga ao Presidente da '* STR, Ext-1085, Ministro Eros Grau, fs. 537. © STF, Ext-1085, Ministro Joaquim Barbosa, ls. 224, ‘© STF, Ext-1085, Ministra Carmen Lécia, fs. 543, © STF, Ext-1085, Ministro Marco Aurélio, fs. 373. "" STF, Ext-1085, Ministo Carlos Brito, fs. $59. Replica. Deve 0 Senhor Presidente, no entanto, no contexto dessa deciséo, alcancar solugio que conta com previsio convencional. De tal modo, a decisio final é discricionaria, devendo ser confeccionada nos exatos termos do que foi internacionalmente pactuado. Sigo com excertos desses votos vencedores, neste pormenor: Ministro Eros Grau: Aqui se trata de requisitos de cartter puramente subjetivos da Parte requerida, de contetido indeterminado, que nao se pode contestar. Exatamente 0 que a doutrina chama de ‘conceito indeterminado'”"” Ministro Joaquim Barbosa: “Ha que se ter em mente, por outro lado, o fato de que, embora a Constituigdo disponha no seu art. 102, inciso 1, letra g que cube ao Supremo Tribunal Federal ‘julgar’ a extradi¢do, como todos sabemos, inscreve-se no rol dos atos ¢ procedimentos que formam as relagies internacionais de um dados pais. Matéria, portanto, indiscuiivelmente de algada do Poder Executive. Nao é 0 Supremo Tribunal Federal quem concede a extradi¢io, mas sim o Presidente da Repiblica, a quem cabe a palavra final em matéria de relagées imternacionais Ministra Carmen Licia: “Apenas ratifico o meu voto. Citei, naquela ocasido, Celso Bastos, que é taxativo ao dizer que compete ao Presidente da Repiiblica ‘a faculdade de consumar a extradigdo, isto 6, mesmo que jé aprovada pelo STF, a medida pode deixar de ter seguimento, se assim 0 entender’ o Chefe do Poder Executive"! Ministro Marco Aurélio: “Presidente, foi formada uma maioria de cinco votos ~ é preciso que isso {fique bem explicit ~ no sentido de que Sua Exceléncia 0 Senhor Presidente da Repiiblica ndo esté compelido pelo Supremo a implementar a extradigao"”” Ministro Carlos Britto: “Mas, parece-me, Ministra, que 0 Judicidrio, assim como nao desrespeita a soberania do Pais estrangeiro, ndo pode desrespeitar a soberania do Presidente da Repiblica, que é Chefe de Estado e representamte privativo, '° STF, Ext-1085, Ministro Eros Grav, fs. 538. ® STP, Ext-1085, Ministro Joaquim Barbosa, fs. 224. © STF, Ext-1085, Ministra Carmen Licia, fs. 543-544 STF, Ext-1085, Ministro Marco Auréio, fs. 603, protagonista privativo das relagdes internacionais do Brasil. Ai surge a pergunta: e para que serve 0 Poder Judicidrio, por que o processo extradicional passa pelo crivo do Supremo Tribunal Federal? E porque 0 Supremo Tribunal Federal entra nesse proceso, nesse circuito para efetivar um dos principios do inciso II do artigo 4°: ‘prevaléncia dos direitos humanos’: Sé se justifica a presenca do Poder Judiciério num processo extradicional, sabido que a extradigiio € um instituto de Direito Internacional, porque incide no circulo das relagdes internacionais do Brasil esse principio do respeito aos direitos humanos'™?, 47. Votaram pela vinculagao do Presidente da Repablica a decisio do Supremo os Ministros César Peluso, Ricardo Lewandovsky, Ellen Gracie e Gilmar Ferreira Mendes. 48. Votaram pela ndo vinculago do Presidente da Repiblica a decisio do Supremo os Mii stros Eros Grau, Joaquim Barbosa, Carmen Liicia, Marco Aurélio ¢ Carlos Britto. O Ministro Carlos Britto € 0 autor do swinging vote. Segue a ementa confeccionada a propésito da Extradi¢io 1085/Repéblica Italiana, relatada pelo Ministro César Peluso, em julgamento de 16 de dezembro de 2009: EMENTAS: 1, EXTRADIGAO. Passiva. Refigio ao extraditando, Fato excludente do pedide. Concessao no curso do processo, pelo Minisiro da Justiga em recurso administrativo, Ato administrativo vinculado, Questav sobre sua existéncia juridica, validale ¢ eficdeia, Cognigdo oficial ow provocada, 10 julgamento da causa, a titulo de preliminar de mérito. Admissibilidace, Desnecessidale de ajuizamento de mandado de seguranca ow outro remédio juridico, para esse fim, Questo conhecida. Votos vencides, Aleance do art. 102, ine. 1, alinea "g", da CF. Aplicagao do art. 3° do CPC. Questdo sobre existéneia juridica, valides ¢ eficdcia de ato administrative que conceda refigio ao extraditando & matéria preliminar inerente @ cognigite do mérito do proceso de extradigéo e, como tal, deve ser conhecida de oficio ou mediante provocacito de interessado juridico na causa. 2. EXTRADICAO. Passiva. Refigio ao extraditando. Concessdo no curso do proceso, pelo Ministro da Justia. Ato administrativo vinculado, Nao correspondéncia entre ox motivos declarados & 0 suporte fitico da hipétese legal invocada como causa autorizadora da concessdia de refiigio. Comraste, ademais, com norma legal proibitiva do reconhecimento dessa condigdo, Nulidade absoluta pronunciada, Inefiedicia juridica conseqiiente. Preliminar acalhida. Fotos vencidos, Ineligéncia dos arts. 1°, inc, 1, € 3°, ine. Ill, da Lei n 9.474/97. art. 1-F do Decreto n° $0,215/61 (Estanuto dos Refugiados), art. 1° ine. 1, da Lei n° 8.0 CC. e art. 5® ine. XL. da CF. Eventual nutidade absoluta do ato administrativo ® STP, Ex-1085, Minisiro Catlos Britto, fs, 552-553. que concede refigio ao extraditando deve ser pronunciada, mediante provocagiio ou de oficio, no processo de extradigao, 3. EXTRADICAO. Passiva. Crime politico. Nao caracterizagdo. Quatro homicidios qualificados, cometidos por menbro de organizacdo revoluciondria clandestina. Prética sob império e normalidade institucional de Estado Demoerético de direito, sem conotacdo de reagao legitima contra atas arhitrdrias ow tirdnicos. Caréncia de motivagao politica. Crimes comuns configurados. Preliminar rejeitada, Voto vencido. Nao configura crime politico, para fim de obstar a acothimento de pedido de exiradicdo, homicidio praticado por menibro de organizagdo revoluciondria clandestina, em plena normalidade institucional de Estado Democritico de direito, sem nenhum propésito politico imediato ou conotagdo de reacdo legitima a regime opressivo. 4. EXTRADIGAO. Passiva. Execuséria. Pedido fundado em sentencas definitivas condenatérias por quatro homicilios. Crimes ‘comuns. Refiigio concedido ao extraditando. Decisto administrativa baseada em motivagdo formal de justo receio de persegni¢iio politica. Inconsisténcia Sentencas proferidas em processos que respeitaram todas as garantias constitucionais do réu. Auséneia absoluta de prova de risco atual de porseguicéo. Mera resisténcia d necessidade de execugdo das penas. Preliminar repelida, Voto vencide. Interpretagdo do art. 1°, ine. I, da Lei n° 947497, Aplicagao do item 56 do Manual do Alto Comissariado das Nagies Unidas - ACNUR. Nao caracteriza a hipstese legal de concesstio de refiigio, consistente em fundalo receio de perseguigio politica, o pedido de extradigdo para regular execucdo de semencas definitivas de condenagdo por crimes comuns, proferidas com observincia do devido processo legal, quando nao hd prova de nenhum fato capaz de justificur receio atual de desrespeito és garantias constituctonais do condenado, 5. EXTRADICAO, Pedido. Instrucéo. Documentos vazados em lingua estrangeira, Auemicidade ndo contestada Traducdo algo deficiente. Possibilidade, porém, de ampla compreensdo. Defesa exercida em plenitule Defeito irrelevante. Nulidade inexistente. Preliminar repelida Precedemtes. Inteligéncia do art. 80. § 1°, da Lei n° 6.15/80. Eventual deficiéneia na iradugéio dos documentos que, vazados em lingua estrangeira, insiruem 0 pedido de extradi¢do. ndo 0 torna inepto, se ndo compromete a plena compreenstio dos textos ¢ 0 exercicio de direito de defesa. 6. EXTRADICAO. Passiva, Execuréria, Extensdo da cognicdo do Supremo Tribunal Federal. Principia legal da chamada contenciosidade limitada, Amplitude das quest@es oponiveis pela defesa. Restri¢de as matérias de identidade da pessoa reclamada, defeito formal da documentacdo apresemtada ¢ ilegalidade de extradicdo. Questdes conexas sobre a natureza do delito, dupla tipicidade e duplo grau de punibilidade. Impossibilidade conseqiente de apreciago do valor das provas ¢ de rejulgamento da causa em que se deu a condenagdo. Interpretagao dos arts. 77, 78 ¢ 85, § 1°, da Lei n” 6.815/80. Ndo constitu’ objeto cognoscivel de defesa, no processo de extradi¢do passiva execuléria, alegacdo de insuficiencia das provas ou injusti¢a da sentenca cuja condenacdo & 0 fundamento do pedido, 7. EXTRADIGAO. Julgamento. Votagdo. Causa que envolve guestdes constirucionais por natureza, Voto necessirio do Ministro Presidente do Supremo Tribunal Federal. Preliminar rejeitada. Precedentes. O Ministro Presideme do Supremo Tribunal Federal tem sempre voto no julgamento dos processos de extradicao. 8. 2. Passiva, Execut6ria. Deferimento do pedido, Execugao. Entrega do extraditando ao Estado requerente, Submissio absoluta ou disericionariedade do Presidente da Reptiblica quanto a eficécia do acérdéo do Supremo Tribunal Federal. Nao reconhecimento. Obrigagtio apenas de agir nos termos do Tratado celebrado com o Estado requerente, Resultado proclamado a vista de quatro votos que declaravan obrigaroria a entrega do extraditando ¢ de um voto que se limitava a exigir observéincia do Tratado, Quatro votos vencidos que davam pelo cardter discricionério do aio do Presidente da Reptiblica. Decretada a extradigao pelo Supremo Tribunal Federal, deve 0 Presideme da Repiiblica observar os termos do Tratade celebrada com 0 Estado requerente, quanto a entrega do extraditando. 49. © Supremo Tribunal Federal mantém tradic’o em nosso diteito extradicional, ‘que se filia a0 modelo belga. Se a decisio do Supremo € pelo indeferimento da exiradi¢ao, 0 Presidente da Repiblica nao pode autorizar a entrega do extraditando. Na hipstese da decisio ser pelo deferimento da extradigio, o Presidente da Repablica pode acompanhar (ou nao) a decisao do Supremo Tribunal Federal, conquanto que o faga nos limites do pactuado internacionalmente. E esse o quadro que se apresenta. 50. A questio que se pée limita-se ao contexto do controle do juizo de subjetividade do Presidente da Repiblica, que se desdobra também em miriade de outras circunstancias. Transita-se no mundo da suposicio, da clegibilidade de sendas, da determinagdo de elementos que nao sio pré-fixados por regramento objetivo, fechado, limitado. Trata-se de circunstancia afeta & plasticidade, & maleabilidade, & intuicdo, ao exercicio de um livre arbitrio que decorte da representatividade politica consagrada nas 51. Embora em outro contexto, e & luz de discussio outra, bem entendido, no RMS 27.920/DF, relatado pelo Ministro Eros Grau, o ilustre Ministro César Peluso consignou que (..) quando se trata de avaliagdes puramente subjetivas, 08 atos administrativos, sobretudo aqueles que consistem em votagdes — ndo as votacdes de julgamento jurisdicionais, mas outras votages- sdo sempre independente de motivagdo objetiva. A motivagdo € puramente subjetiva (...) Enfim, sdo situagies que decorrem da natureza do priprio ato que ndo admite motivagdo, fundamentacdo objetiva, porque corresponde a.uma decisao pessoal, de cardter subjetivo,insuscetivel, como tal, de qualquer controle jurisdicional, de controle administrativo e, até, controle de outra ordem. 52. © Supremo Tribunal Federal sufragou a linha adotada pela justica italiana, no sentido de que os crimes atribuidos a Battisti seriam qualificados por natureza comum (€ nio politica). Tal percepcao afastaria a alegacdo de que estrangeiro no possa ser extraditado por crime politico, por forga do fato de que nao se poderia, em prinefpio, atribuir-se, no Brasil, natureza politica para delito que no local de origem nio fora compreendido como tal. 53. Eo que se extrai, mudando-se o que deva ser mudado, do decidido na Ext 1149/Repablica Italiana, relatada pelo Ministro Joaquim Barbosa, em julgamento de 3 de dezembro de 2009, quando se vedou a anilise, por parte do Judicidrio brasileiro, do mérito da acao penal corrida no estrangeiro, determinante do pedido de extradicac "MENTA: — EXTRADICAO. TRAFICO DE ENTORPECENTES. REPUBLICA ITALIANA. TRATADO DE EXTRADICAO. REQUISITOS OBSERVADOS. EXTRADIGAO DEFERIDA. 1. Pedido de extradigao requerido com base no Tratado Bilateral promulgado pelo Decreto n° 863/93, 2. Acusagao da pritica do crime de trifico de entorpecentes. em 2006, na Itilia, com mandado de prisdo preventiva expedido pel autoridade competente. 3. Razies atinemes ao mérito da acdo penal em trémite na Itélia on condigoes pessoais favoriveis ao Extraditande néo sdo passiveis de andlise no processo de cextradicéo nem impedem seu deferimento, 4, Observados os requisitos impostos para a concessao da extradigéio. 5. Exiradigdo deferidl 54. Ecedigo que o Supremo Tribunal Federal nao aprecie o mérito, no que se refere a0 pedido de extradicao, a propésito do decidido na Ext 1126/Repiblica Federal da ‘Alemanha, processo relatado pelo Ministro Joaquim Barbosa, em julgamento de 22 de outubro de 2010, cuja ementa segue: EMENTA: Extradicdo. Repiblica Federal da Alemanha. Pedido formilado com promessa de reciprocidade. Condigiies de admissibilidade, Observancia. Presenca da dupla (ipicidade. Inocorréncia de extingdo da punibilidade pela prescrigao da pretensdo punitiva, Preenchimento dos requisitos formais. Negativa de autoria. Incidéncia dos aris. 89 ¢ 90) ee art, 67 da Lei n° 6.815/1980. Aplicagéo da Convencdo das Nacdes Unidas contra 0 Crime Organizado Transnacional, promulgada pelo Brasil mediante 0 Decreto n® S.015/04. Competéncia reconhecida ao Estado requerente. Preliminar rejeitada. Precedemes. Extraditando condenado no Brasil pelo crime de tréfica ilicito de entorpecemes. Crmprimento integral da pena imposta. Ausénci de Sbice. Deferimento da extradigdo. Precedenies da Suprema Corte. O pedido de extraligéo foi formatizado nos autos. com mandado de prisdo que indica com suficiente precisdo 0 local, a data, a natureza e as circunstdncias dos feuwos delinuosos atribuidos ao extraditando, transcrevendo os dispositivos legais da ordem juridica alema pertinentes ao caso. Observados os requisitos do art. dat Lei n° 6815/80, Infere-se, dos documentos apresentados junto as Notas mnal Federal j6 decidiu que o entrelagamento de crime comum com Ext 994/lélia, relatada pelo Ministro Marco Aurélio, em Por outro lado, © Supremo crime politico obstaculizaria a extradig julgamento de 14 de dezembro de 2008. ‘\ 55. Verbais, que os crimes imputados ao extraditando atendem 0 requisito da diupla tipicidade & corresponden, no Brasil, aos crimes de tréfico ilicito de emorpecentes ¢ de associacdo para o tréfico, previstos, respectivamente, nos artigos 33 ¢ 35 da Lei n" 11.343!06, satisfazendo, assim, ao requisite da dupla tipicidade, previsio mo art. 77, inc, Il, da Lei n° 6815/80. A extingao da punibilidade pela prescrigdo da pretensda punitiva nda acorren nem & luz da legislacao alema, nem da brasileira. Todos os requisitos exigidos pelo art. 80 ¢ pardgrafos da Lei 6.815/1980 foram integralmente preenchidos. Ndo cabe, em processa de extradicao, 0 exame do mérito da pretensdo penal deduzida em juizo no pais solicitante, razdo por que alegacdes concernemtes & matéria de defesa prépria da acdo penal, tal como a negativa de autoria, néto elidem 0 deferimenio do pedido. Precedemes. O Estado requerente tem competéncia para processar e julgar extraditando. por crime de trifico internacional de subsiancias entorpecentes. na hipdtese de a infracao ter sido cometida por um de seus cidadios. A pena imposta ao extraditando pela Justica Federal de Sto Paulo. pela prética do crime de trdfico de enorpecemes, foi integralmente cumprida, ndo subsistindo dbice para a execucdo imediata da presente extradigdo, O tempo de prisiio do evtraditando no Brasil, por forca do presente pedido, deve ser contabilizado para efeito de detragdo. na eventuatidade de condenagdo na Alemanha. A extradigdo $6 serd executada apis a conelusdo de outre proceso a que o extraditando eventualmente responde no Brasil, ou apis © cumprimento da pena aplicada. podendo, no emanto, 0 Presidente det Repiblica dispor em contrério, nos termos do art. 67 da Lei n° 6815/80. Pedido de extradigao deferido com as ressalvas indicadas. Isto 6, nao pode também o Supremo Tribunal Federal reenquadrar o extraditando por crime diverso, 0 que qualificaria - - inclusive - - atentado & soberania do Estado requerente, como decidido na Ext 987/Itélia, relatada pelo Ministro Carlos Britto, em julgamento de 23 de marco de 2006: EMENTA: EXTRADICAO EXECUTORIA. TRAFICO INTERNACIONAL DE ENTORPECENTES. ‘ALEGACAO DE QUE 0 ESTRANGEIRO RECLAMADO ERA USUARIO, E NAO TRAFICANTE, INVIABILIDADE DE ANALISES MERITORIAS. NA A ENXTRADICIONAL. IMPUGN: VOLTADA 4 SUPOSTA MA INSTRUCAO DO PEDIDO. Pedido de extradigao que atende as exigéncias formais constantes do Tratado Bilateral (Decreto 1° 863/93) e do Estatuto do Estrangeiro. Nao procede a alegada auséncia de documento essencial @ tramitagdo do pedido, se o Estado requereme fez jumar aos auios a sentenga que. muito embora objeto de recurso, vei0 a transitar em julgado, constituinds, portanto, 0 tinue judicial a ser executado. Nao pode o Supremo Tribunal Federal emrar no proprio mérito dos fulos imputados ao cidadivo estrangeiro, em ordem a rever a condenagiia li proferida, reenquculrando 0 extraditando em tipo diverso daquele constante da senienca penal a ser executada (de traficante para usuério). Este proceder se mostra ‘absoluiamente incompativel com o juizo de cognoscibilidade estrita que rege as agdes extradicionais (§ 1° do art. 85 da Lei n° 6.815/80), além de atentar contra a soberania do Estado requereme. Pedido deferido, 56, Deve-se lembrar também que 0 fato de que haja processo crime no Brasil contra Battisti, por outros delitos que no os que plasmam a extradicio, também nio se configuraria como bice para o deferimento da extradigao. E 0 que se decidiu na Ext 1051 /Estados Unidos da América, relatada pelo Ministro Marco Aurélio, em julgamento de 21 de maio de 2009: PROCESSO-CRIME - COMPETENCIA - EXTRADICAO. Havendo noticia de pratica delinosa voltada a introducir téxico no territério «lo Governo requerente, incumbe ter como de boa origem o pedido de extradigao. EXTRADICAO - PROC ‘RIME EM CURSO NO BRASIL A cireunstincia de 0 extraditando ter contra si processo-crime no Judiciirio brasileira nto obstaculiza a exiradicéo. EXTRADICAO - DUPLICIDADE DE PEDIDO. Existindo duplicidade de pedido, sendo idénticas as penas previstas para os tipos, define-se a preferéncia na extradicdo pelas datas dos pedidios formulados, prevalecendo aquele formalizado em primeiro lugar, EXTRADICAO - DUPL. TIPICIDADE - CONSPIRAGAO ~ CRIME DE QUADRILHA - LAVAGEM DE RECURSOS. Iupie-se a observincia da dupla tipicidade e, assim, 0 faro de 0 artigo 288 do Codigo Penal exigir, para a configuragdo do crime de quadritha ou bando, a associagéio de mais de trés pessoas. EXTRADICAO - PRISAO PERPETUA, No deferimento da extradicao, deve-se impor cliusula, presente a norma do artigo 73 do Cédigo Penal e, portanto, a impassibilidade de o extraditando cumprir pena perpénu cerceadora da liberdade de ir e vir. 57. Porém, em outta ocasiéo, o Supremo Tribunal Federal ja decidiu que procedimento penal contra o extraditando no Brasil impediria a imediata ordem de extradigdo, a menos que o Presidente da Repiblica decidisse de outro modo. E este 0 contetido decisério da Ext 804/Repiiblica Federal da Alemanha, relatada pelo Ministro Celso de Mello, em julgamento de 21 de agosto de 2002: E MENT A: BXTRADIGAO PASSIVA - ACUSACAO POR SUPOSTA PRATICA DO CRIME DE FORMACAO DE QUADRILHA E DE DELITO CONTRA A ORDEM TRIBUTARIA - EXAME DO MERITO DA IMPUTAGAO PE = IMPOSSIBIIDADE - SUMULA 42USTF_- RECEPCAO PELA VIGENTE STITUICAO. JBLICA - EXISTENCIA, NO BRASIL, DE PROCEDIMENTO PENAL INSTAURADO CONTRA O EXTRADITANDO - SITUACAO QUE IMPEDE A IMEDIATA EFETIVACAO DA ORDEM EXTRADICIONAL, EXC EXERCIDA, PELO PRESIDENTE DA REPUBLICA, A PRERROGATIVA QUE LHE CONFERE O ART. 89 DO ESTATUTO DO. ESTRANGEIRO - EXTRADICAO DEFERIDA, PROCESSO EXTRADICIONAL - EXAME DA PROVA PENAL PRODUZIDA PERANTE O ESTADO ESTRANGEIRO ~ INADMISSIBILIDADE, - 0 modelo extradicional vigente no Brasil - que consagra o sistema de contenciosidade limitada, findado em norma legal (Estanuo do Estrangeiro, art, 83, § 1") reputada compativel com 0 texto da Constituigdo ta Republica (RTT 105/4-5 ~ RTS 160/433-434 ~ REI 161/409-411) ~ ndo autoriza que se renove, no dmbito da agiio de extradigao passiva promovida peramte o Supremo Tribunal Federal, o litigio penal que the deu origem, nem que se efetive o reexame do quadro probatério ou a discussdo sobre o mérito da acwsagio on ida condenagiia emanadas de drgio competente do Estado esirangeiro. Doutrina. Precedents. COMPATIBILIDADE DO ENUNCIADO CONSTANTE DA SUMULA 421/STF COM OQ TEXTO DA CONSTITUIG:AO FEDERAL DE 1988, -A existéncia de fithos brasileiros evou a comprovaciio de vineulo conjugel ou de convivéncia more uxorio do exiraditando com pessoa de nacionalidade brasileira constituem fatos destituidos de releviincia juridica para efeitos extradicionais, nao impedindo, em conseqtiéncia, a efetivagio da extradicito do stidito estrangeiro, A superveniéncia da nova ordem constitucional ndo afetou a validade da Jformulagdo comida na Siimula 421/STF, que subsiste integra sob a égide da vigente Constituigdo republicana, Precedentes. A QUESTAO DO ADIAMENTO Dd ENTREGA EXTRADICIONAL - INTELIGENCIA DO ART. 89 DO ESTATUTO DO ESTRANGEIRO. A entrega do exiradlitando ~ que esteja sendo processado criminalmente no Brasil ou que haja sofride condenagdo penal imposia pela Jjustica brasileira - depende, em principio, da conclusdo do processo ou do cumprimento da pena privativa de liberdade, exeeto se 0 Presidente da Republica, fundado em juizo discriciontrio. exercer a prerrogativa excepcional que the confere o art. 89, "caput", "in fine". do Estanuo do Estrangeiro, determinande a imediata eferivagdio da ordem exiradicional. Precedentes. 58. Efetivamente, nao impede & extradico a circunstincia de o extraditando responder no Brasil a proceso por fato diverso daquele pelo qual deva responder ou cumprir pena no Estado requerente. E 0 que se colhe no decido na Ext 1048/Chile, relatada pelo Ministro Sepilveda Pertence, em julgamento de 23 de abril de 2007: EMENTA: I. Extradigdo: delito de seqtiestro (C. Pen. Chileno, art. 141, incisos 1° € 3°) requisitos formais satisfeitos: inexisténcia de ébice legal: deferimento, condicionada a entrega do exiraditanda ao disposto no ari. 89 c/e rt, 67 da Lei 6.81580. HI, Extradi¢do: suficiente descrigao do fato delituose. " exigéncia legal de descricda circunstanciada do fato eriminoso deve ser emendida a partir de sua razdo de ser claramente instrumental: ela hi de reputar-se satisfeita se os fermos em que deduzida a imputagdo permitem aferir com seguranca a sua diplice tipicidade, a natureza comum € ndo politica da infracao e a inexisténcia de preserigdo consumada” (ef. Ext. 719, Pl, 4.3.98, Pertence, DJ 298.03) Hl. Extradicao passiva: no regime brasileiro, a concordincia do extraditande ndo dispensa a aferi¢do da tegalidade do pedide pelo Supremo Tribunal. IV, Extradicdo: ndo a impede o fiw de o extraditando responder no Brasil a processo por fato diverso daguele pelo qual deva responder no Estado requerente: incide, nessa hipdtese, 0 disposto nos aris. 67 ¢ 89 da L. 6815/80. 59. Também nao impediria a extradicao 0 fato do extraditando responder no Brasil a inquérito policial por fato diverso da circunstancia que fomentou o pedido de extradigao. Decidiu-se deste modo na Ext 797/Itélia, relatada pelo Minisiro Sepilveda Pertence, em julgamento de 8 de novembro de 2000: 60. EMENTA: 1. Extradigéto: instrugdo do pedido: autenticidade da documemagiio ~ nela incluida as tradugées para 0 vernéculo feitas no Estado requereme = que decorre do transito diplomitico dos papéis. U. Extradiedo: néio «a inpede 0 fato de o extraditanda - conenado por dois homicidios e processed por um terceiro, no Estado requerente - responder ao Brasil « inquérito policial por fato diverse, qual a utilizagao de documentos falsos de tdentidade. It Extradicdo: gratuidade da alegacdo de perseguicdo politica no Estado requerente, onde, processado por irés homicidios de motivagéo comercial, 0 extraditando, embora revel, teve ‘loso patrocinio de defensores constituidos, que jd levou a caso por duas vezes & Corte Suprema de Cassagdo, com resultados favoriveis & defesa, IV. Extradicdo passiva: limitagées legais a ddefesa que ndo sao inconstitucionais, porque co-extensivos ao dmbito da jurisigdo do Supremo Tribunal no processo de extradigdo passiva, dada a admissdo pela legislagdo brasileira do sistema belga. Registre-se, por oportuno, que o direito brasileiro j4 enfrentou problema de extradigao em caso de pena de prisdo perpétua, como se Ié na ementa do julgado na Ext 773Reptblica Federal da Alemanha, relatada pelo Ministro Octavio Gallotti, em julgamento de 23 de fevereiro de 2000: 61. MENTA: Inadmissibilidade da pretensdo de trazer a prova documemal produzida no Estado requerente ao conhecimento do Supremo Tribunal como se ‘fora este, niio apenas o Jutzo de controle da legalidade da extradicdo, como de fato é, mas 0 préprio fulgador da agdo penal a que responde 0 paciente Possibilidade de condenagéo & priséio perpétua admitida pela jurisprudéncia do Supremo Tribunal (v.g. EXT 711, DJ de 20-8-99), sendo assim, rejeitada, pela maioria, ressalva destinada a barrar essa eventualidade. Especialmente, € 0 que se colhia em jurisprudéncia dominante no pretérito, isto 6, 0 julgado na Ext 711/Repablica Italiana, relatada pelo Ministro Octavio Gallotti, em julgamento de 18 de fevereiro de 1998: 62. EMENTA: Pleno exercicio de defesa, por meio de advogado constituido. Desnecessidade de reprodugdo, nos autos, do texto do tratado de extradi¢ao, devidameme publicado no "Diério Oficial". Néo & motivo de restrigio. ao deferimemo «lo pedido, a possibilidade da condenagdo do paciente & pena de prisdo perpétua. Extradig@o. em parte, concedida (erime de homicidio). exeluindo-se a persecucdo pela posse ¢ porte de arma de fogo, que ndo eram previstos como crime pela lei brasileira, & época do fato. ‘Ao Supremo Tribunal Federal, em tema de extradi¢ao, compete, tio somente, examinar a legalidade ¢ a procedéncia do pedido. Nao ha previsio para invasio de competéncia do Presidente da Repiblica, a quem cabe, efetivamente, decidir pela extradicao. £ esta, ao que consta, a linha interpretativa que tem vingado ao longo dos anos. E a decisio final pela extradicdo (ou nao) € do Presidente da Republica, sempre 4 nos exatos termos € limites dos tratados pactuados, e da tradigio que informa o direito internacional dos tratados. 63. E justamente no conjunto normativo ¢ axiolégico do direito extradicional brasileiro, especialmente & luz do tratado que assinamos com a Itélia, que se encontram os limites e orientacdes para uma decisio adequada. E do que se trata em seguida. IV) O Tratado de Extradicao Brasil/Italia 64, Brasil e Itilia firmaram um tratado de extradigao em 17 de outubro de 1989. Roberto de Abreu Sodré assinou pela Repablica Federativa do Brasil © Gianni de Michelis pela It lia. © acordado vige por tempo indeterminado (art. 22, 3 ). Cada parte pode, a qualquer momento, denunciar o acertado. E a dentincia teria efeitos seis meses pds a data em que a outra Parte tenha recebido a respectiva notificagéo, nos termos do proprio tratado (art. 22,4), 65. 0 referido tratado foi internalizado por intermédio do Decreto n° 863, de 9 de julho de 1993, Foram apostadas as assinaturas de Itamar Franco e de Luiz Felipe Palmeira Lampreia. Este iltimo na qualidade de Ministro de Estado das Relagdes Exteriores, aquele primeiro na qualidade de Presidente da Repiblica. 66, No que se refere & obrigagio de extraditar, acordou-se que cada wma das Partes obriga-se a entregar a outra, mediante solicitagdo, segundo as normas ¢ condigdes estabelecidas no (...) Tratado, as pessoas que se encontrem e sew territério ¢ que sejam procuradas pelas aworidades judicidrias da Parte requerente, para serem submetidas a proceso penal ou para a execucdo de uma pena restritiva de liberdade pessoal (art. 1). 67. Quanto & fixagio dos casos que autorizam a extrad (art. 2) assentourse, da forma seguinte: L Seré concedida a extradigdo por fatos que, segundo a lei de ambas as Partes, constituirem crimes puniveis com uma pena privativa de liberdade pessoal cuja duracdéo maxima prevista for superior a um ano, ou mais grave. 2. Ademais, se a extradiedo for solicitada para execucdo de uma pena, serd necessdrio que o periodo da pena ainda por cumprir seja superior a nove meses. 3. Quando o pedido de extradigdo referir-se a mais de um crime, ¢ algum ou alguns deles nao atenderem as condigaes previstas no primeiro pardgrafo, a extradicdo, se concedida por uma crime que preencha tais condicdes, poderé se estendida também para os demais. Ademais, quando a extradicéo for solicitada para a execucio de penas privativas de liberdade pessoal aplicadas por crimes diversos, sera concedida se o total das penas ainda por cumprir for superior a9 ‘meses. 4. Em matéria de taxas, impostos, alfindega e cambio, a extradigéo nao poderd ser negada pelo fato da lei da Parte requerida ndo prever 0 mesmo tipo de tributo ou obrigacdo, ou ndo coniemplar a mesma disciplina em matéria ‘fiscal, alfandegdria ou cambial que a lei da Parte requerente. 68. No que se refere a determinagao de conjunto de casos de recusa de extradigio, excerto de altissima importancia no caso presente (art. 3), definiu-se da forma segui 1. A extradigao nao seré concedida: 4) se, pelo mesmo fato, a pessoa reclamada estiver sendo submetida a processo penal, ou jé tiver sido julgado pelas autoridades judiciérias da Parte requerida, 5) se, na ocasido do recebimento do pedido, segundo a lei de uma das Partes, houver ocorrido prescricao do crime ou da pena; ©) se a pessoa reclamada tiver sido ou vier a ser submetida a julgamento por um tribunal de excegdo na Parte requerente; €) se 0 fato pelo qual é pedida dor considerado, pela Parte requerida, erime politico; ‘f) se a Parte requerida tiver razdes ponderiveis para supor que a pessoa reclamada seré submetida a atos de perseguicdo e discriminagdo por motivo de raca, religido, sexo, nacionalidade, lingua, opinido politica, condicdo social ou ‘pessoal; ou que sua situagdo possa ser agravada por um dos elementos ames ‘mencionados, 1) se 0 fato pelo qual & pedida constituir, segundo a lei da Parte requerida, crime exclusivamemte militar. Para os fins deste Tratado, consideram-se exclusivamente militares os crimes previstos e puniveis pela lei militar, que ndo constituam crimes de direito comum. 69. Veda-se terminantemente a concessio de extradigio. para efeitos de ‘cumprimento de pena de morte (art. 4), no sentido de que a extradiedo tampouco serd concedida quando a infracéo determinante do pedido de extradigao for punivel com ‘pena de morte. A Parte requerida poderd condicional a extradigdo a garantia prévia, dada pela Parte requerente, e tida como suficiente pela Parte requerida, de que tal ‘pena nao seré imposta, e, caso jd o tenha sido, ndo sera executada, 70. Fixou-se também artigo dando conta de que, em tema de direitos fundamentai (art. 5), a extradigao nao sera concedida: 7. 4) se, pelo fato pelo qual for solicitada, pessoa reclamada tiver sido ou vier a ser submetida a um procedimento que nao assegure os direitos minimos de defesa. A circunstdncia de que a condenagao tenha ocorrido a revelia nao constitui, por si s6, motivo para recusa de extradicdo; ) se hower fundado motivo para supor que a pessoa reclamada serd submetida a pena ow tratamento que de qualquer forma configure uma violagdo dos seus direitos fundamentais. © tratado supde também recusa facultativa de extradigao (art. 6), nas seguintes hipdteses: 72. 1. Quando a pessoa reclamada, no momento do recebimento do pedido, for nacional do Estado requerido, este nao serd obrigado a entregela. Neste caso, ndo sendo concedida a extradi¢do, a Parte requerida, a pedido da Parte requerente, submeterd 0 caso as suas autoridades competentes para eventual instauragdo de procedimento penal. Para tal finalidade, a Parte requerente deverd fornecer os elementos tteis. A Parte requerida comunicard sem demora 0 andamento dado ix causa e, posteriormente, a decisdo final. 2, A extradigdo poderd igualmente ser recusada: 4) se 0 fato pelo qual for pedida tiver sido cometido, no todo ou em parte, no territério da Parte requerida ow em lugar considerado como tal pela sua legislagao: b) se 0 fato pela qual for pedida tiver sido cometido fora do territério das Partes requerida nao previr a punibilidade para o mesmo quando cometido fora do seu territério. Verifica-se também a fixacao de um conjunto de circunstincias limitativas da extradigéo (art. 7), nomeadamente: 1. A pessoa extraditada ndo poderd ser submetida a restrigdo da liberdade pessoal para execugdo de uma pena, nem sujeita a outras medidas restritivas, por um fato anterior a entrega, diferente daquele pelo qual a extradigdo tiver sido concedida, mesmo que: @) a Parte requerida estiver de acordo, ou }) a pessoa extraditada, tendo tido oportunidade de fazé-lo, ndo tiver deixado o territ6rio da Parte & qual foi entregue, transcorridos 45 dias da sua liberagdo definitiva, ow, tendo-o deixado, tenha voluntariamente regressado. 2. Para o fim do previsto na letra a) do parégrafo 1 acima, a Parte requerente deveré apresentar pedido instruido com a documentagdo prevista no Artigo XI, acompanhado das dectaragdes da pessoa reclamada, prestadas perante autoridade judiciéria da dita Parte, para instrugéo do pedido de extensdo da extradigao. 3. Quando a qualificagao do fato impurado vier a modificar-se durante 0 processo, a pessoa extraditada somente serd sujeita a restrigdes d sua liberdade ‘pessoal na medida em que os elementos constitutivos do crime que correspondem @ nova qualificacdo autorizarem a extradigdo. 7B. 4. A pessoa extraditada nado poderd ser entregue a um terceiro Estado, por um fato anterior & sua entrega, a menos que a Parte requerida 0 permita, ou hipétese do pardgrafo 1, letra b) 5. Para os fins previsto nos pardgrafo precedente, a Parte & qualltiver sido entregue a pessoa extraditada deverd formalizar um pedido, ao qual jurtard a solicitacao de extradieao do terceiro Estado ¢ a documentagdo que 0 instruiu Tal pedido deverd ser acompanhado de declaragdo prestada pela reclamada perante uma autoridade judiciéria de dita Parte, com relacao & sua entrega ao terceiro Estado. No que se refere ao direito de defesa definiu-se que @ pessoa reclamada serdio facultadas defesa, de acordo com a legislacdo da Parte requerida, a assisténcia de um defensor ¢, se necesséirio, de um intérprete (art. 8). 14, Acertou-se também que o periodo de detengao imposto a pessoa extraditada na Parte requerida para fins do processo de extradigio sera computado na pena a ser cumprida na Parte requerente (art.9). © tratado determina a detragao. Nao se trata de condicao ou de encargo. E cfetivamente um compromisso. 75. © tratado é rico em pormenor no que se refere ao modo e linguas de comunicagao (art. 10), nos termos que em seguida reproduzo: 76. 1. Para os fins do presente Tratado, as comunicacdes serdo efetuadas entre 0 Ministério da Justica da Reptblica Federativa do Brasil e 0 "Ministério de Grazia e Guistizia" da Republica Haliana, ou por via diplomatica 2. Os pedidos de extradi¢@o ¢ as outras comunicagoes serdo apresentados na lingua da Parte requerente, acompanhados de traduedo na lingua da Parte requerida, 3. Em caso de urgéncia, poderd ser dispensada a tradugdo do pedido de pris preventiva e documentos correlatos. 4. Os Atos e documentos transmitidos por forca da aplicagao do presente Tratado serdo isentos de qualquer forma de legalizagdao. © tratado também explicita 0 conjunto de documentos que deve instruir & fundamentar o pedido de extradigao (art. 11), nomeadamente: 1. O pedido de extradigiio deveré ser acompanhado de original ou cépia autemticada da medida restritiva da liberdade pessoal ou, tratando-se de pessoa condenada, da sentenga irrecorrivel de condenacdo, com a especificacao da pena ainda a se cumprida. 2. Os documentos apresentados deverdio conter a deserigdo precisa do fato, a data e 0 lugar onde foi cometido, a sua qualificacdo juridica, assim como os elementos necessérios para determinar a identidade da pessoa reclamada e, se possivel, sua fotografia ¢ sinais particulares. A esses documentos deve ser ‘anexada cépia das disposi¢des legais da Parte requerente aplicéveis ao fato, bem como aquelas que se refiram a presericao do crime e da pena. 3. A Parte requerente apresentaré também indicios ou provas de que a pessoa reclamada se encontra no territério da Parte requerida. 77. © tratado de extradigdo Brasil/Itélia também dispée sobre suplemento de informagao (art. 12), no sentido de que se os elementos oferecides pela Parte requerente forem considerados insuficientes para permitir decisdo sobre 0 pedido de extradigao, a Parte requerida solicitaré um suplemento de informacdo, fixando um prazo para este fim. Quando houver pedido fundamentado, 0 prazo poderé se prorrogado. 78. Ha também regra sobre prisio preventiva (art. 13), que especificamente alcanga © caso aqui discutido, da foram que segue: 1. Antes que seja entregue 0 pedido de extradigdo, cada Parte poderd determinar, a pedido da outra, a prisdo prevemtiva da pessoa, ou aplicar contra ela outras medidas coereitivas 2. No pedido de prisdo prevemtiva, a Parte requerente deverd: declarar que, contra essa pessoa, fol imposia uma medida resiritiva da liberdade pessoal, ow uma sentenga definitiva de condenagao a restritiva da liberdade, e que pretende apresentar pedido de extradigdo. Além disso, deverd fornecer a descricdo dos fatos, a sua qualificagao juridica, a pena cominada, a pena ainda a ser ‘cumprida e os elementos necessdrios para a identificagao da pessoa, bem como indicios existentes sobre sua localizacdo no territério da Parte requerida. O pedido de prisdo preventiva poderd ser apresentado é Parte requerida também através da Organizagdo Internacional de Policia Criminal - INTERPOL. 3. A Parte requerida informard imediatamente Goutra Parte sobre 0 seguimento dado ao pedido, comunicando a data da prisdo ou da aplicagdo de outras medidas coercitivas. 4. Se o pedido de exiradi¢do e os documentos indicados no Artigo 11, pardgrafo I néo chegarem @ Parte requerida até 40 dias a partir da data da comunicagdo prevista no pardgrafo terceiro, a prisdo preventiva ou as demais medidas coercitivas perderdo eficdcia. A revogacao néo impedird uma nova prisdo ow a nova aplicacdo de medidas coercitivas, nem a extradigéo, se 0 ppedido de extradi¢ao chegar apés 0 vencimento do prazo acima mencionado. 79, Quanto a decisao relativa ao deferimento (ou nao) da extradigéo, bem como no que se refere & entrega do extraditando, o tratado dispde da forma como em seguida reproduzo (art. 14): 1. A Parte requerida informaré sem demora d Parte requerente sua decisio quando ao pedido de extradicao. A recusa, mesmo parcial, deverd ser motivada. 2. Se a extradigdo for concedida, a Parte requerida informard a Parte requerente, especificando o lugar da entrega e a data a partir da qual esta poderd ter lugar, dando também informacdes precisas sobre as limitagées da liberdade pessoal reclamada tiver sofrido em decorréncia da extradicdo. 80. 3.0 prazo para a entrega serd de 20 dias a partir da data mencionada no parigrafo anterior. Mediante solicitagdo fundamentada da Parte requerente, ppoderé ser prorrogado por mais 20 dias. 4. A decisdo de concessdo da extradigéo perderd a eftcdeia se, no prazo determinado, a Parte requerente nio proceder & retirada do extraditando. Neste caso, este seré posto em liberdade, e a Parte requerida poderd recusar-se a extradité-lo pelo mesmo motivo. H4 previsao para adiamento da entrega do extraditando (art. 15), de modo pormenorizado, a da forma que segue: 81 1. Se a pessoa reclamada for submetida a proceso penal, ou deva cumprir ‘pena em territério da Parte requerida por um crime que ndo aquele que motiva 0 pedido de extradigdo, a Parte requerida deveré igualmente decidir sem demora sobre 0 pedido de extradic@o e dar a conhecer sua decisdo é outra Parte. Caso 0 pedido de extradicdo vier a ser acothido, a enirega da pessoa extraditada poderd ser adiada até a conelusdo do processo penal ou até 0 cumprimento da pena. 2. Todavia, a Parte requerida poderd, mediante pedido fundamentado, proceder a entrega tempordria da pessoa extraditada que se encontre respondendo a processo penal em seu territério, a fim de permitir 0 desenvolvimento de processo penal na Parte requerente, mediante acordo entre ‘as duas Partes quando a prazos e procedimentos. A pessoa temporariamente entregue permaneceré detida durante sua estada no territério da Parte requerente e seré recambiada a Parte requerida, segundo os termos acordados. A duragdo dessa detencao, desde a data de saida do territério da parte requerida até 0 regresso ao mesmo territério, serd computada na pena a ser imposta ou executada na Parte requerida. 3. A entrega da pessoa extraditada poderd ser igualmente adiada: 4) quando, devido a enfermidade grave, o transporte da pessoa reclamada ao territbrio da Parte requerente puder causar-lhe perigo de vida; by quando razdes humanitérias, determinadas por _circunstdncias excepcionais de cantter pessoal, assim o exigirem, e se a Parte requerente estiver de acordo. Dispoe-se também que a Parte requerente poderd enviar d Parte requerida, com prévia aquiescéncia desta, agentes devidamente autorizados, quer para aucitiarem no reconhecimento da identidade do extraditando, quer para o conduzirem ao territério da primeira, Esses agentes ndo poderdo exercer atos de autoridade no territério da Parte requerida e ficardo subordinados 4 legislacdo desta. Os gastos que fizerem correrao por conta da Parte requerente (art. 17). 82. Quanto a0 procedimento a ser observado no que se refere & entrega de objetos ha extensa previsio (art, 18), a saber: 83. 1. Dentro dos limites impostos por sua prépria lei, a Parte requerida sequestraré e, caso a extradicao vier a ser concedida, entregaré & Parte requerente, para fins de prova e a seu pedido, os objetos sobre os quais ow ‘mediante os quais tiver sido cometido 0 crime, ou que constituirem seu prego, produto ou lucro. 2. Os objetos mencionados no parégrafo precedente também serdo entregues sse, apesar de ter sido concedida a extradigao, esta nao puder conereti devido & morte ou & fuga da pessoa extraditada. 3.4 Parte requerida poderd conservar os objetos mencionados no pardgrafo 1 pelo tempo que for necessdrio a um procedimento penal ent curso, ou poderd, ‘pela mesma razdo, entregé-los sob as condigdo de que sejam restituidos. 4, Serdo resguardados os direitos da Parie requerida ou de terceiros sobre os objetos entregues. Se se configurar a existéncia de tais direitos, ao fim do processo os abjetos serdo devolvidos sem demora a Parte requerida. nse No mesmo sentido, hii previsto pormenorizada relativa ao trinsito do extraditado (art, 19), como segue: 84, 1. O trénsito, pelo territério de qualquer das Partes, de pessoa entregue por terceiro Estado a uma das Partes, serd permitido, por decisdo da autoridade competemte, mediante simples solicitagao, acompanhada da apresentagdo, em original ou cépia autenticada, da documentagdo completa referente dé extradigdo, bem como da indicagdo do agentes que acompanham a pessoa. Tais agentes ficardo sujeitos as condigdes do Artigo 17. 2. O trdnsito poderé ser recusado quando 0 fato que determinou a extradigao seja daqueles que, segundo este Tratado, ndo a justificariam, ou por graves razdes de ordem piiblica. 3. No caso de transporte aéreo em que nao seja prevista aterrissagem, ndo é necesséria a auorizacdo da Parte cujo territério é sobrevoado. De qualquer modo, esta Parte deveré ser informada com antecedéncia, do transito, pela outra Parte, que forneceré os dados relativos @ identidade da pessoa, as indicagdes sobre 0 fato cometido, sobre sua qualificagdo juridica a eventualmente sobre a pena a ser cumprida, e atestaré a existéncia de uma medida restritiva da liberdade pessoal ou de uma sentenca irrevogdvel com pena resiritiva da liberdade pessoal. Se ocorrer a aterrissagem, esta ‘comunicacdo produziré os mesmos efeitos do pedido de prisdo preventiva prevista pelo Artigo 13, Acordou-se que as despesas relativas & extradicao ficario a cargo da Parte em cujo tertitério tenham sido efetuadas; contudo, as referentes a transporte aéreo para a entrega da pessoa extraditada correrdo por conta da Parte requerente, ¢ que as despesas "en da pe » relativas ao transito ficardo a cargo da Parte requerente (art. 21). VY) Odi ‘to processual penal extradicional italiano 85. 0 art. 720 do Cédigo Penal da Itilia vincularia, em principio, as condigdes determinantes da extradicao a aceitagio do Ministério da Justiga e a0 fato de que nao se contraponham aos prinefpios que marcam o direito italiano. A afirmagio € colocada em termo de suposi¢ao, marcada pela dificuldade que o direito comparado enseja, e pela ificuldade que ha em se alcancar um esperanto juridico, 86. Ao que parece, no direito italiano a extradigao é matéria disposta no Cédigo de Processo Penal (Codice di Procedura Penale-artigos 697 a 722). E assunto do Livro XI daquele eédigo, no excerto que trata das relagdes jurisdicionais com a autoridade estrangeira (Rapporti giurisdizionali com autoriti straniere). O direito italiano divide a extradigdo em exiradi¢éo ativa (estradizoine dall’estero) © em extradigao.passiva (estradizione per l'estero). Do mesmo modo como fazemos. 87. Na primeira, ativa, as autoridades italianas pedem a cooperagio internacional. Roga-se que se extradite italiano que se encontre no pais para o qual se pede a extradigao. Na segunda, passiva, a Itélia coopera com autoridades. estrangeiras, promovendo a extradicio, nos limites do disposto no Cédigo de Processo Penal, em estrutura que lembra 0 modelo brasileiro, em suas linhas gerais. 88. No modelo italiano a decisao final sobre extradicao, ativa (quem e a quem pedir extradigdo) e passiva (deferir © pedido de extradicao), pertence ao Ministro da Justica (Ministro di Grazia e Giustizia). A competéncia do Ministro da Justia em ambito de extradigao (Estradizione e poteri del Ministro di Grazia e Giustizia), no dircito italiano, 6 definida no art, 697 do CPP daquele pais. 89. Ha restrigdes para a extradigao relativa a delitos politicos (art. 698- reati politici), com fundamento na tutela dos direitos fundamentais da pessoa humana (tutela dei diriti fondamemali della persona). Faz-se deferéncia ao principio da especialidade (art, 699- principio di specialird). 90. Ha normas sobre reextradigdo (art. 711- riestradizione), sobre o trinsito do extraditado (art. 712- transito), sobre medidas de seguranca aplicaveis (art. 713- misure \ di sicurezza applicate all estradaio), sobre medidas de coeredo € sequestro (art. 714- misure coercitive e sequestro), sobre aplicacao proviséria de medidas cautelares (art. 715- applicazione prowvisoria di misure cautelari). 91. No que se refere & extradigio ativa propriamente dita, dispde-se que ao Ministro da Justiga cabe 0 pedido de extradigao a um Estado estrangeiro, de acusado ou condenado, a quem deva ser imposto procedimento restritivo de liberdade pessoal ( art. 720- domanda di estradizione- Il Ministro di Grazia e Giustizia competente a domandare a uno Stato estero Vestradizione di un imputato o di un condannato nei cui confronti debba essere eseguito un proveedimento restrittivo della libert personale). 92. © Ministro da Justiga € provocado pelo Procurador que atua no tribunal do distrito no qual transitou sentenga em desfavor do extraditando, cabendo ainda ao Procurador a instrugdo do pedido com todos os documentos necessarios (art. 720- 4 tal fine il procuratore generale presso la Corte di Appello nel cui distreto si procede 0 stata pronunciata la sentenza di condanna ne fa richiesta al ministro di grazia giustizia, trasmettendogli gli atie i documenti necessari) 93. No entanto, a extradigdo pode também ser suscitada por iniciativa propria do Ministro da Justica (art. 720- L'estradizione pué essere domandata di propria iniziativa dal Ministro di Grazia e Giustizia), a quem cabe também decidir por nao encaminhar 0 pedido de extradigao (art. 720- I! Minisiro di Grazia e Giustizia pud decidere di non presentare la domanda di estradizione 0 di differirne 1a presentazione dandone comunicazione all autorita giudiziaria richiedente), 94, Na hipétese do Estado que extradita impor condigdes para a entrega do extraditando (comutagao da pena -- de pena de prisio perpétua para pena de reclusao maxima de 30 anos -- ou detragio - - redugio da pena a ser cumprida do periodo ja passado na prisio pelo extraditando) 0 Ministro da Justiga seria quem deteria ‘competéncia para decidir sobre a aceitagdo das condig6es impostas. 95, N&o se admitem condigdes que conflitem com os principios fundamentais do ordenamento juridico italiano (art. 730- II Ministro di Grazia e Giustizia é competente a decidere in ordine all'accettazione delle condizioni eventualmente poste datlo Stato estero per concedere Iestradizione, purché non contrastanti con i principi fondamentali dell ordinamento giuridico italiano). As autoridades judicisrias italianas vinculam-se 2s condiges impostas pelo Estado estrangeiro, e aceitas pelo Ministro da Justiga (art. 730- Lauorité giudiziaria é vincolata al rispetto delle condizioni accettate). 96, Assim, € a0 Ministro da Justiga a quem caberia, em principio, decidir sobre as condigGes postas por Estado estrangeiro, podendo se recusar ao cumprimento do exigido na medida em que haja contraste entre a condigio imposta ¢ o ordenamento juridico italiano. A situagio poderia, em principio, suscitar algumas indagagées, a propésito, especialmente, do regime de penas. Insisto, do ponto de vista conceitual. 97. No direito italiano hé as penas de restrigio de liberdade © penas pecuniérias. Entre as penas de restricao de liberdade hé a prisio perpétua, a reclusio ¢ 0 arresto. Entre as penas pecunidrias ha multa ¢ outras imposigées fixas ¢ proporcionais. 98. A pena de prisio perpétua (ergastolo) € cumprida em estabelecimento especial, ha isolamento notumo, com eventual possibilidade de trabalho aberto (La pena dellergastolo & perpetua, ed & scontata in uno degli stabilimenti a cid destinati, con Pobbligo del lavoro e con l'isolamento notturno. Il condannato all ergastolo pus essere ammesso al lavoro all aperio). 99. A pena de reclusio (reclusione) é fixada de 15 dias a 24 anos, também cumprida em estabelecimento especial, com obrigagao de isolamento noturno, com possibilidade de trabalho aberto, cumprido um ano da pena (La pena della reclusione si estende da quindici giorni a ventiquattro anni, ed & scontata in uno degli stabilimenti a cié destinati, con Vobbligo del lavoro ¢ con Visolamento notturno, Il condannato alla reclusione, che ha scontato almeno un anno della pena, pub essere ammesso al lavoro all aperto). 100. A pena de arresto (arresto) € fixada entre 3 dias © 3 anos, com isolamento noturno; 0 condenado pode trabalhar em local outro que nao o estabelecimento no qual ‘cumpra a pena, levando-se em conta, especialmente, scu hist6rico de trabalho (La pena dell'arresto si estende da cinque giorni a tre anni, ed & scontata in uno degli stabilimenti a cid destinati 0 in sezioni speciali degli stabilimenti di reclusione, con Vobbligo del lavoro e con Visolamento notturno. I condannato all arresto pud essere addetto a lavori anche diversi da quelli organizzati nello stabilimento, avuto riguardo alle sue attitudini e alle sue precedenti occupazioni 101. £ 0 Ministro da Justica quem aprecia e defere (ou nao) as condicdes impostas por Estado estrangeiro, para a entrega do extraditando. A questio deve ser inserida no contexto geral do ordenamento juridico italiano, na expressdo de tratadistas daquele pafs, em tradugio livre minha: (..) as condiges que Estados estrangeiros impdem para a extradicéo séo imprevisiveis; é por isso que, distanciando-se de generalizacdes abstratas, individualiza-se na pessoa do Ministro o érgdo funcionalmente competente para operar uma valoragdo sobre a conveniéncia, para os interesses nacionais, de aceitar-se cléusula ulterior e especifica colocada pelo Estado que dispie sobre a transferéncia da pessoa demandada. Neste trabalho de selegdo, além do ‘bem comum'’, 0 Ministro conta com algum pardmetro de referéncia obrigatéria de racionalidade e de ética; no sentido de que seja vedado @ autoridade administrativa a aceitagéio de condigdes boomerang para a eficdcia da justiga e que eventualmente sejam ‘contrérias aos principios fundamentais do ordenamento juridico italiano’. Ainda que esta valoracao e especificagdo do dmbito da especialidade deva encontrar expresséio formal em um decreto, com todos os problemas que aleancem um ponto de controle”. 102. No modelo extradicional ativo italiano, insista-se, a valoragdo das condigées impostas por Estados estrangeiros, é competéncia do Ministro da Justica. E ele quem as avalia, ¢ ele quem as insere no contexto dos principios fundamentais do direito daquele iano € 0 pais”, O respeito aos prinefpios fundamentais do direi 103. Questo que se mostra recorrente é relativa a entrega de extraditando que fora julgado © condenado & revelia (contumacia), com condigio de que se faca novo © Gaito, Alftedo, Rapport glurisdizionali com autorita stranieri, in Conso, Giovanni e Grevi, Vittorio, Profil di Procedura Penate, 5.1: CEDAM, p. 814. No original: (..) le condizioni che gli stati straniert ‘appongono all‘estradizione sono imprevidibil: ecco perché,rifugagendo da generalizzazioni astratte, si é individuato ne] Ministco Vorgano funzionalmente competente ad operare um vaglio sulla convenienza, per li interessi nazionali, di accetae le clausole ulterionie specifiche aggiunte dallo Stato che dispone it trasferimento del soggettorichiesto. In questa opera di selezione, oltre al bene comune’, il Ministro ha ‘quale parametro di referimento obrigatsrio a ragionevolezza ¢ Vetica; nel senso che @ inibita all‘avtorita amministtativa Yacceitazione di condizioni boomerang per Veficacia della glustizia ¢ quelloc feventualmente “constrastanti com i principi fondamentali dell'ordinamento giuridico italiano’. Anche {questa valutazione e specificazione degli ambiti della specialiti nel caso concreto dovtebbe trovare espresssione formale in um decreto, com tutti problemi che ne conseguono in punto di control "CE, Dalia, Andrea Antonio e Rerraioli, Marzia, Corso di Diritto Processuale Penale, S.\: CEDAM., 1992, pp. 648-649. Cf, Tonini, Paolo, Manuall di Procedura Penate, Milano: Doot A. Giutfré Fditore, 2005, p. 857, julgamento, Hé noticia de que se impés como condigio para entrega de extraditando julgado a revelia a possibilidade de um novo julgamento. 104. A Corte de Cassacio italiana entendeu que 0 pleno exercicio do contraditério (pieno esercizio dei diritti de impugnazione) exigido pelo Estado estrangeiro como condigio para entrega do extraditando encontra-se perfeitamente realizado com a possibilidade que se daria ao extraditando de requerer revisio do julgado ou desconsideragao da preclusiio (restituzione in termini). 105. Do que entio se pode concluir, nesta particularidade do direito extradicional italiano, que 0 Ministro da Justiga & quem decidiria pelo cumprimento de condigies impostas por Estado estrangeiro, referentes a entrega de extraditando; teria, como limites, os prinefpios gerais do direito italiano (art. 720 do CPP da Itélia). VI) Caso Battisti: Peculiaridades e Desdobramentos 106. No cumprimento da decisao do Supremo Tribunal, isto é, no juizo de adequagao, ou nao, do deferimento do pedido de extradicao, nos termos do Tratado, © Senhor Presidente da Repablica deverd levar em conta 0 disposto na letra fdo item 1 do art. 3 do Tratado Brasil/Itilia, no sentido de que a extradi¢dio ndo serd concedida se a Parte requerida tiver razdes ponderdveis para supor que a pessoa reclamada serd submetida a atos de perseguigo e discriminagdo por motivo de raca, religido, sexo, nacionalidade, lingua, opinido politica, condicdo social ow pessoal; ow que sua situagdo possa ser agravada por um dos elementos antes mencionados. 107. Tal circunsténcia, centrada no agravamento de situagio pessoal, que o extraditando poderia softer em territério italiano, pode ser identificada em dois planos. Refiro-me aos registros que a imprensa italiana tem feito da situacao, bem como a linha * ser. 1, Sentenza n, 35144 del 22/09/2005 Cc. (dep. 29/09/2005) Rv. 232088- RAPPORT! GIURISDIZIONAL! CON AUTORITA STRANIERE (Cod. proc. pen. 1988) - ESTRADIZIONE DALL'ESTERO - IN GENERE - Condizione apposta dallo Stato estero - Piono esercizio dei dirt di impugnazione - Condanna in contumacia - Restituzione in termini - istanza - Valutazione - Obbligo. In ipotesi di estradizione da uno Stato estero che non preveda il giudizio contumaciale, concessa a condizione che sia data allestradando la possibilita di impugnazione idonea a garantire i suoi diritti di difesa, la condizione deve intendersi rispettata solo qualora linteressato possa avvalersi, rcorrendone | presupposti, degli istituti della rimessione in termini o della revsione, argumentativa da defesa do extraditando, e que fora nos termos propostos aceita por alguns Ministros do Supremo Tribunal Federal. 108. Por exemplo, 0 Ministro Marco Aurélio registrou em sua decisio que as sentencas italianas que condenam ao extraditando fazem 34 referéncias a movimento de subversao da ordem estatal. O Ministro Marco Aurélio teria reconhecido como procedente alegagao da defesa do extraditando, referente as seguintes circunstincias: @) 0 Presidente da Reptiblica Italiana teria expressado profundo estupor pesar em carta dirigida ao Presidente do Brasil, 1b) 0 Ministro das Relagdes Exteriores da Ilia registrava queixa e surpresa para com os fatos, ©) 0 Ministro da Justiga na Inilia teria acenado com a possibilidade de dificultar o ingresso do Brasil no G-8, @) 0 Ministro da Defesa da hidlia teria ameagado de se acorrentar na porta da embaixada brasiteira na Ilia, ©) 0 Ex-presidente da Repiiblica laliana teria afirmado que 0 nosso Ex- ‘ministro da Justica do Brasil teria dito algumas cretinices, D0 Ministro italiano para Assuntos Europeus teria considerado vergonhosa a decisito do governo brasileiro, ) 0 Vice-Presidente da Initia teria proposto um boicote a produtos brasileiros, hy) o Vice-Presidente da Comissdo de Relagdes Exteriores da Itélia teria suscitado um boicote turistico ao Brasil, 109. Talvez corroborando a percepgao do Ministro Marco Aurélio ha manifestagdes dda imprensa italiana, que dao a impressdo de que 0 caso ganha contornos de clamor, de polarizagio ideol6gica. Preocupa-se com 0 que se pode levantar contra o extraditando, anunciando-se futuro incerto e de muita dificuldade. 110, Nao se trata de nenhuma divida para com as perfeitas condigdes democraticas que presentemente vigem na Itilia. Cuida-se, tao somente, do reconhecimento de circunstin que inegavelmente se evidencia, no que se refere a situagao pessoal de Cesare Battiti. E 0 justamente a plena convicgio que regime democratico exuberante vigora na Itélia que autoriza que se intua que a situacao do extraditando possa ser agravada, por forga de sua condigao pessoal. 111. Em 11 de janeiro de 2010 no italia chiama Italia 0 Presidente do Partido Povo da Liberdade, no Senado, Maurizio Gasparri, teria declarado que decisao brasileira telativa ao refiigio de Battis explicitaria como patética a Itélia, com nefastas ‘consequéncias para o relacionamento entre Itélia ¢ Brasil. 112, Em 14 de janeiro de 2009 no La Republica divulgou-se que haveria por parte das autoridades italianas desilusio e insatisfagéo para com decisio brasileira, com consequente repidio € reprovacao; nossa postura constituiria um grande erro, na visio do Vice-Ministro do Interior italiano, Um membro do Partido Democrata-Cristao teria afirmado, ainda segundo o La Republica que nossa decisio manifestaria insulto & historia e dignidade da Ilia. 113. No I! Tempo de 24 de novembro de 2009, informou-se que 0 Ministro Tarso Genro teria afirmado que as declaragdes das autoridades italianas confirmariam suspeita de que 0 caso € efetivamente politico, pelo que os advogados do extraditando poderiam formalizar pedido de asito. 114, No mesmo jornal, quatro dias antes, em 20 de novembro de 2009, publicou-se que Daniel Cohn Bendit, Ifder dos movimentos de 1968, teria afirmado que a extradicio de Battisti era neces ri porém, deveria ser submetido a um novo julgamento. No mesmo dia, € no mesmo jornal, exigiu-se que o Presidente do Brasil extraditasse Battisti, porquanto a Itélia esperaria justica e respeito, € no vinganga. 115. No Mazzeta de 20 de novembro de 2009 enfocou-se a questio a partir de um suposto orgulho brasileiro, decorrente de uma nova projecio intemacional que ocupariamos. E vinculou-se 0 caso Battisti ao caso Cacciola. 116. No Il Secolo XIX de 19 de novembro de 2009 informou-se que o Presidente da Repaiblica Italiana, Giorgio Napolitano, exultava o Brasil a extraditar Battisti porque se queria justiga para as vitimas. 117. No Il Quotidiano de 19 de novembro de 2009 publicou-se que Ignazio La Russa teria se referido a parentes das vitimas, que feriam certo alivio depois da dor sentida pelas perdas de seus entes queridos (.) uma sentenca diferente dessa seria terrivel. 118. No I! Tempo do mesmo dia, 19 de novembro de 2009, noticiou-se que o Ministro das Relagdes Exteriores da Itilia, Franco Frattini, teria fervorosamente antecipado comemoragao relativa a noticia de extradigio iminente, 119. No Quotidiano também de 19 de novembro de 2009 relatou-se que © Ministro das Relacdes Exteriores da Itlia afirmara que eventual extradigao de Battisti encerra 0 rofundo amargor da opinide piiblica italiana. 120. No Corrieri della Sera também do mesmo dia, 19 de novembro de 2009, registrou-se que a extradigao iminente agradava 0 governo italiano. Em 18 de novembro de 2009 0 I! Secolo XIX tegistrou afirmagio do filho de uma das vitimas, no sentido de que Battisti deveria softer jusia pena; como est com 51 anos deveria ficar mais 30 anos detido, isto é, até aos 81 anos de idade. 121. No Il Tempo de 16 de novembro de 2009 hé noticia de que trés fundadores do Movimento para a Itélia entravam em greve de fome, como manifestagio pela extradigo de Battisti, Queriam celebrar a meméria ofendida das vitimas deste ‘assassino vil. No mesmo jornal, na edigéo de 14 de novembro de 2009, relatou-se que 0 Subsecretério da Presidéncia do Conselho de Ministros, Gianni Letta, deixava transparecer a esperanca em ver um ex-terrorista atris das grades. 122. No mesmo jornal, em 13 de novembro de 2009, publicou-se que o Ministro das Relagoes Internas, Roberto Maroni, teria afirmado que Battisti € um criminoso perigoso que deve cumprir a penal pela qual foi condenado. 123. No Corrieri della Sera de 10 de novembro de 2009 registrou-se que 0 Ministro da Defesa Ignazio La Russa teria afirmado que nao aceitaria debater com Battisti, que teria atenco quando estivesse na prisio de seu préprio pais. 124, As referéncias acima parcialmente reproduzidas, a titulo de exemplo, dio conta de que hé estado de Gnimo que justifica preocupagdes para com o deferimento da extradi¢ao de Battisti, por forga de suposicao do agravamento de sua situagio pessoal. Recorrentemente toca-se no objetivo de se fazer justiga para as vitimas. O direito processual penal contemporineo repudia essa percepcao criminol6gica, e o referencial conceitual € um autor italiano, Luigi Ferrajoli. O fundamento da pena ¢ (ou deve ser) 0 reaproveitamento do criminoso para a vida social 125. Os excertos de jornal acima reproduzidos do conta de que ha comogio politica ‘em favor do encarceramento de Battisti. Inegdvel que este ambiente, fielmente retratado pela imprensa peninsula seja caldo de cultura justificative de temores para com a situacdo do extraditando, que sera agravada. 126. Nese sentido, as informagées acima reproduzidas justificam que se negue a extradi¢ao, por forga mesmo de disposigéo convencional. O Presidente da Repiblica aplicaria disposigao da letra f'do item 1 do art. 3 do Tratado de Extradi¢ao formalizado por Brasil ¢ Itélia. E tem competéncia para tal. O que estaria vedado ao Presidente do Brasil seria a concessio de indulto (0 que no ¢ a hipotese) conforme se decidiu na Ext 736/Repablica Federal da Alemanha, relatada pelo Ministro Sydney Sanches, em jjulgamento de 10 de margo de 1999: EXTRADICAO. DECRETO DE PRISAO PREVENTIVA. CRIMES DE ESTELIONATO E FALSIFICACAO DE DOCUMENTOS. DUPL. TIPICIDADE. TERRITORIALIDADE. INSTITUTOS PENAIS E PROCESSUAIS; BRASILEIROS: INEXIGIBILIDADE DE SUA APLICACAO PELA JUSTICA DO 4DO REQUERENTE. PRESCRICAO. — REQUISITOS PARA A EXTRADICAO. 1. O decreto de prisao esté contido no priprio mandado de captura, como previsto i: legislacae alema. com satisfatiria fiundamentagiio & lena aceitagdio desta Carte, emi varias precedentes. 2. Os delitos imputados ao extraditando, segundo consta de tal pega, foram sete estelionatos (um dos quais especialmente grave), € seis mediante falsificagde de documentos, todos ocorridos na Alemanha, onde o extraditando agia em nome de certa firma, com escritério em Munique, sob a geréncia de um camparsa. 3. A conduta cle ambos. em cada um dos delitas, foi minciosamente descrita na ordem de prisdo. 4. Os instinutos brasileiros de suspensao do processo, conforme 0 montane da pena minima prevista para os crimes, e do regime de cumprimento de pena néio podem ser impostos & Justice alema pela brasileira, nem isso é previsto na legislagdo que regula a extradig&o, ou em tratado entre os dois paises. O mesmo ocorre com relagdo 4 possibilidade de o Presidente da Repiiblica, no Brasil, segundo critévios seus, vir a conceder o indulto, em situagdes assemethiadas, em casos aqui julgados. 5. Precedentes. 6. Da mesma fornia, nao se compreende que a Corte possa impor & Justica alema que considere, ou ndo, 0 crime de falso ubsorvido pelo de estelionato, 0 que, alids, nem & pacifico na sua prépria jurisprudéneta, que propende, ulrimamente, pelo reconkecimento do concurso formal de delitos. 7. No caso, nto ocorreu a preserigio da pretensao punitive, seja pelo Direito Penal brasileiro, seja pelo alemdo. 8. Enfim, tendo sido apresentados todos os documentos exigiveis ¢ preenchidos os requisites dos artigos 76, 78, 80 ¢ seguintes da lei n”6.815/80, modificada pela Lei n° 6.964, ¢ nao se caracterizando qualquer das hipéteses previstas no art. 77, & de ser deferida a extradicao. 9, Pedido deferido, Decisdo uncinime. 127. Por isso, deve-se levar em conta o permissivo da letra f do item 1 do art. 3 do ‘Tratado de Extradicao formalizado por Brasil e Itélia. A situagao sugere certo contexto politico, podendo acirrar paixdes. Esse nacleo tematico, que enseja preocupacoes, exige ampla reflexio em tomo da situagio pessoal do extraditando. Concretamente, hi temores de que a situacao de Battisti poderd ser agravada na Itdlia, por razdes pessoas. 128. E ainda, hé certo contetido humanitério que deve informar a decisio a ser tomada. A pena imposta é superior a 30 anos. E deverd ser mitigada. Porém, para condenado que conta com mais de 50 anos de idade a pena assemelha-se a prisio perpétua 129. Por isso, se a pena fosse diminufda para 30 anos, o que permitiria, em tese, a extradigao, ter-se-ia a liberdade do extraditando com mais de 80 anos de idade: 60 anos depois dos fatos supostamente ocorridos. Embora, bem entendido, a jurisprudéncia do Supremo Tribunal Federal ainda nio tenha se expressado sobre 0 fato de que 0 cumprimento da pena tenha como resultado, concretamente, uma circunstancia fatica de prisdo perpétua. 130, J4 se julgou que a menoridade € circunstincia que se reporta & época do ‘cometimento do crime, e que a idade avancada, vinculada ao momento do dltimo provimento judicial, poderia tao somente vincular-se & prescricdo da_pretensio executdria do Estado requerente, tal como se julgou na Ext 591/Itilia, relatada pelo Ministro Marco Aurélio, em julgamento de 1° de junho de 1995: PRESCRICAO - IDADE DO AGENTE - DEFINICAO TEMPORAL, Enquanto a menoridade e perqurida em face da dara em que cometide 0 erime, a idade avancada 0 € relativamente ao iiltimo provimento judicial, OQ vocabulo "sentenca” empregado no artigo 115 do Cédiga Penal tem sentido amplo. Interposio recurso contra a condenacito ow absolvicao formalizada na primeira instdneta. considera-se a idade do agente na data do decreto condenatirio a ser 131, detragio, em favor do extraditando, € mGnus do Poder Executive, como jé deci ‘Supremo Tribunal Federal, por ocasio da Ext 1104 ED/Reino Ui executado, presente a circunstancia de que 0 acérdaa proferide substitui a semenga atacada, quer a reforme ou confirme (artigo 512 do Cédigo de Proceso Civil. aplicavel subsidiariamente), EXTRADIGAO - PRESCRICAO DA PRETENSAO EXECUTORL. Constatada a incidencia da prescricéo da pretensdo execmoria do Estado requerente, tendo em vista o residuo de pena a ser cumprida e a idade do extraditande a data do tiltimo provimento judicial (artigos 113 ¢ 115 do Cédigo Penal), impae-se o indeferimento do pedido de extradligdo. Neste mesmo paso cumpre-se ressaltar que a exigéncia de que se realize a ° da Gra-Bretanha e da Irlanda do Norte, relatada pelo Ministro Cezar Peluso, em julgamento de 25 de junho de 2008: 132. EMENTAS: 1. EXTRADICAO, Passiva, Pena Prisdo perpétua. Comutagao prévia assegurada, Detragiio do tempo cumpride como prisdo preventiva no Brasil. Efeito secundaria e automitico da deferimento do pedicle. Exigéncia, porém, que toca av Poder Executivo. Inteligencia do art. 91, If, da Lei 1° 6.815;80 ~ Estatuto do Estrangeiro. Precedentes. O destinatévio do disposto no ant. 91. Il, do Estatuto do Estrangeiro, é 0 Poder Executive, a que incumbe exigir, do Estado estrangeiro requerente. 0 compromisso de efetivar a detragao penal, como requisito para entrega do extraditando, 2. RECURSO. Embargos de declaragdo. Pretensdo de alteragdo do teor decisirio. Inexisténcia de omissdo, obscuridade ou contradicéo. Inadmissibilidade. Embargos rejeitados Embargos declaratérios nao se presiam a modificar capitulo decisério, salvo quando a modificagao figure conseqiiéneia inarredével da sanagdo de vieio de omissio, obscuridade ou contradicéo do ato embargado, E 0 Supremo Tribunal Federal, por ocasiao da Ext 1039/Itélia, relatada pelo Minisiro Celso de Mello, em julgamento de 21 de junho de 2007, ja tocara no assunto, centrando o extraditando como sujeito de direitos, em sentido estrito: E MENT A: EXTRADICAO PASSIVA DE CARATER INSTRUTORIO ~ SUPOSTA PRATICA DO DELITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO i TO. DE. CAPITAIS") ~ INEXISTENCIA DE TRATADO DE EXTRADICAO ENTRE OQ BRASIL EA REPUBLICA FEDERAL DA ALEMANHA = PROMESSA DE RECIPROCIDADE ~ FUNDAMENTO JURIDICO SUFICIENTE - NECESSIDADE DE. RESPEITO. AOS. DIREITOS BASICOS DO SUDITO ESTRANGEIRO - OBSERVANCIA, NA ESPECIE, DOS CRITERIOS DA DUPLA TIPICIDADE E DA DUPLA PUNIBILIDADE ATENDIMENTO, NO. CASO, DOS” PRESSUPOSTOS E REQUISITOS NECESSARIOS AQ ACOLHIMENTO DO. PLEITO. ENTRADICIONAL_ ~ EXTRADIGAO DEFERIDA. INEXISTENCIA DE TRATADO DE EXTRADICAO- E OFERECIMENTO DE PROMESSA DE RECIPROCIDADE POR PARTE DO ‘STADO REQUERENTE. - A inexisténcia de tratado de extradicda ndo impede a formulacdo ¢ 0 eventual atendimento do pleito extradicional, desde que 0 Estado requerente prometa reciprocidade de tratamento a Brasil, mediante expedieme (Nota Verbal) formalmente transmitido por via diplomitica. Doutrina. Precedemes. PROCESSO EXTRADICIONAL E SISTEMA DE CONTENCIOSIDADE. LIMITADA: INADMISSIBILIDADE DE DISCUSSAO SOBRE 4 PROVA PENAL PRODUZIDA PERANTE O ESTADO REQUERENTE. - A agdo de extradicdo passiva ndo confere. ao Supremo Tribunal Federal, qualquer poder de indagacao sobre o mérito da pretensdo deducida pelo Estado requerente ou sobre 0 contexto probatério em que a postulacdo extradicional se apoia. - O sistema de contenciosidade limitada, que caracteriza 0 regime juridico da extradi¢do passiva no direito positivo brasileiro, ndo permite qualquer indagagao probatéria perinente ao ilictto criminal euja persecucdo, no exterior, justificou 0 ajuizamento da demanda extradicional perante 0 Supremo Tribunal Federal, - Revelar-se-d excepeionalmente possivel, no entanto, a anélise, pelo Supremo Tribunal Federal, de aspectos materiais concernentes & prépria substéncia da imputagiio ‘penal, sempre que tal exame se mostrar indispensdvel é solucdo de conirovérsia pertinente (a) @ ocorréneia de prescricao penal, (by & observancia do principio dda dupla tipicidade ou (c) a configuragao eventualmeme politica tanto do delito atribuido ao extraditando quanto das raziies que levaram o Estado estrangeiro a requerer a extradigdo de determinada pessoa ao Governo brasileiro. Inocorréncia, na espécie, de qualquer dessas hipéteses. EXTRADICAO E RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS: PARADIGMA ETICO-JURIDICO CUJA OBSERVANCIA CONDICIONA O DEFERIMENTO DO. PEDIDO EXTRADICIONAL. - A essencialidade da cooperagdo imernacional na repressao penal aos delitos comuns ndo exonera o Estado brasileiro - e, em particular, 0 Supremo Tribunal Federal - de velar pelo respeito aos direitos fundamentais do siddito estrangeiro que venha a sofrer. em nosso Pais, processo extradicional instaurado por iniciutiva de qualquer Estado estrangeiro. O extraditando assume, no processo extradicional. a condicdo indisponivel de sujeito de direitos, cuja intangibilidade hé de ser preservada pelo Estado a que foi dirigido 0 pedido de extradi¢do (0 Brasil. no caso). - O Supremo Tribunal Federal nao deve autorizar a extradiedo, se se demonstrar que 0 ordenamento jwridico do Estado estrangeiro que a requer nao se revela capaz de assegurar. ‘aos réus. em juizo criminal, os direitos basicos que resultam do postulaclo do "due process of law" (RTI 13456-58 ~ RTI 177/485-488), notadamente as prerrogativas inerentes & garantia da ampla defesa. & garantia do contradilério, G igualdade entre as partes perante 0 juiz natwal e @ garantia de impareialidade do magisirado processame, Demonstracdo, no caso, de que 0 regime politico que informa as instituigdes do Estado requerente reveste-se de cardter democritico, assegurador das liberdales piblicas fundamentais. EXTRADIGAO - DUPLA TIPICIDADE E DUPLA PUNIBILIDADE. - O postulado da dupla tipicidade - por constituir requisito essencial av atendimento do pedido de extraiicdo - impae que o ilicito penal atribuide ao extraditando seja juridicamente qualificade como crime tanto no Brasil quamo no Estado requerente. O que realmente importa, na aferigao do postulado da dupla tipicidade, é a presenca dos elememos esiruturantes do tipo penal ("essentialia delicti"), tais_ como definidos nos preceitos primirios de ineriminagdo constantes da legistacdo brasileira ¢ vigentes no ordenamento positivo do Estado requerente, independentemente da designacdo formal por eles atribuida aos fatos delituasos. - Ndo se concederé a extradigdo, quando estiver extinta, em 133. decorréncia de qualquer causa legal, a punibilidade do extraditando, notadamente se se verificar a consumagdo da prescrigéio penal, seja nos termos da lei brasileira, seja segundo 0 ordenamento positive do Estado requerente. A satisfacdo da exigéncia concernente & dupla punibilidade constitui requisito essencial ao deferimento do pedicio extradicional. Observancia, na espécie, do postulado da dupla punibilidade. VALIDADE CONSTITUCIONAL DO ART. 83, $ 1%, DA LEI N® 6815080, - As restrigdes de ordem temditica, estabelecidas no Estanuo do Estrangeiro (art, 83. § 1°) = euja incidéncia delimita, nas agaes de exiradigéo passiva, 0 émbito material do exercicio do direito de defesa ~ ndo sdo inconstinucionais, nem ofendem a garantia da plenitude de defesa em face da nutureza mesma de que se revesie 0 processo extradicional no direito brasileiro, Precedentes EXISTENCIA DE FAMILIA BRASILEIRA (UNIAO. FESTAVEL), NOTADAMENTE DE FILHO COM NACIONALIDADE BRASILEIRA ORIGINARIA - SITUACAO QUE NAO IMPEDE 4 EXTRADICAO - COMPATIBILIDADE DA SUMULA 821/STF COMA VIGENTE CONSTITUIGAO DA REPUBLICA ~ PEDIDO DE EXTRADICAO DEFERIDO. existéncia de relagdes familiares, a conprovagdo de vinculo conjugal ou a convivencia "more secério" do extradiando com pessoa de nacionalidade brasileira constinem fatos destituidos de relevaneia juridica para efeitos exiradicionais, ndo impedindo, em consequencia, a efetivacdo da extradigdo do stidito esirangeiro. Precedents. - Nao impede a extradicdo 0 faro de 0 stiito estrangeivo ser casado ou viver em unido estével com pessoa de nacionalidade brasileira, ainda que com esta possua filha brasileiro, ~ A Stimula 42USTF revela-se compativel com a vigeme Constituicdo da Repiiblica, pois, em tema de cooperacdo internacional na repressio a atos de criminalidade comum, a exiéncia de vinculos conjugais e-ou familiares com pessoas de nacionalidade brasileira ndo se qualifica como causa obstativa da exiradicdo. Precedentes. Embora, reconheca-se, compromissos possam ser tomados pelo Estado requerente, quando da entrega do extraditando, conforme o Supremo Tribunal Federal definiu ao julgar a Ext 1013/Itélia, relatada pelo Ministro Marco Aurélio, em julgamento de 1° de marco de 2007. 134, cumprimento de pris No caso presente seria inevitavel, para efeitos de extradigao, a exigéncia do nao (0 perpétua, conforme se colhe em jurisprudéncia do Supremo Tribunal Federal, assentada por ocasido da Ext 944/Estados Unidos, relatada pelo Ministro Carlos Britto, em julgamento de 19 de dezembro de 2005: EMENTA: EXTRADIGAO. TRAFICO INTERNACIONAL DE DROGAS. ALEGACAO DE QUE QO INDICTMENT NAO E DOCUMENTO APTO A VIABILIZAR A CONCESSAO DO PEDIDO, ALEM DO QUE A PENA MAXIMA PARA O CRIME & DE PRISAO PERPETUA, O QUE IMPEDIRIA A EXTRADICAO. Pedido extradicional que atende as exigéncias do Tratado Bilateral de Extradigdo Brasil/Estados Unidos. bem como as da Lei n" 6.815/80. O indictment & instituto equiparavel @ proniacia e 0 Supremo Tribunal Federal Jd se manifestou pela suficiéncia desse ato formal para legitimar pedidos cexiradicionars (Ext. 542). O Extraditando respond a processo no Brasil. razdo pela qual é de se adiar a entrega aié 0 desfecho da agao penal, Em face dea possibilidade de cominagdo da pena de pristo perpéiua, & de se observar a catual jurisprudéncia deste Supremo Tribunal Federal para exigir do Estado requerente 0 compromisso de nao aplicar esse tipo de reprimenda, menos ainda ‘a pena capital, em caso de condenagdo do réu (Ex1. 835). Extradigao deferida com as mencionadas restrigdes 135, Registre-se também, avaliando-se 0 caso em toda a sua extensio, que o Chefe da Missio Diplomatica Italiana no Brasil, nos termos de jurisprudéncia do Supremo ‘Tribunal Federal, poderia assumir © compromisso oficial de comutar penas, tal como decidido, mutatis mutandis, na Ext 633/Repiiblica da China, processo relatado pelo Ministro Celso de Mello, em julgamento de 28 de agosto de 1996: E MENT A: EXTRADICAO - REPUBLICA POPULAR DA CHINA - CRIME DE ESTELIONATO PUNIVEL COM A PENA DE MORTE ~ TIPIFICAGAO PENAL PRECARIA E INSUFICIENTE QUE INVIABILIZA O EXAME DO REQUISITO, CONCERNENTE A DUPLA INCRIMINAGAO. ~ PEDIDO INDEFERIDO. PROCESSO EXTRADICIONAL & FUNCAO DE GARANTIA DO TIPO PENAL. - 0 ato de tipificagdo penal impoe ao Estado 0 dever de identificar, com clareza e preciso, os elememos definidores da conduta delituasa, As normas de incriminacdo que desatendem a essa exigéncia de objetividade - além de descumprirem a funcdo de garantia que é inerente ao tipo penal - qualificam-se como expresso de um discurso normative absolwamente incompativel com a esséncia mesma dos principios que esiruturam 0 sistema penal no contexto dos regimes demoeriticos. O reconkecimento da possibilidade de instituigao de estrusuras tipicas flexiveis nao confere ao Estado © poder de construir figuras penats com uilizagdo, pelo tegisador, de expresses ambiguas, vagas, imprecisas ¢ indefinidus. E que o regime de indeterminagado do tipo penal implica, em iiltima andlise. a propria subversdo do postulado constitucional da reserva de lei, dai restltando, como efeito consegiiencial imediato, 0 gravissimo comprometimento do sistema’ das liberdades publicas. A cléusula de tipificacdo penal, cujo conteiide descritive se revela precdria e insuficiente, no permite que se observe o principio da dupla incriminacdo, inviabilizande, em conseqiéncia, 0 acathimemo do pediddo extradicional. EXTRADICAO E RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS. - A essencialidade da cooperagdo internacional na repress penal aos delitos comuns néo exonera o Estado brasileiro - ¢, em particular, 0 Supremo Tribunal ideral - de velar pelo respeito aos direitos fundamentais do stidito estrangeiro que venha a softer. en nosso Pais, processo extradicional instaurado por iniciariva de qualquer Estado estrangeiro, O fato de 0 est rangeiro ostentar a condigdo juridica de exiraditando ndo basta para reduci-lo a um estado de submissdo incompativel com a essencial dignidade que Ihe é inerente como pessoa humana e que the confere a titularidade de direitos fiuncamentais inalieniiveis, dentre os quais avulta, por sua insuperdvel importancia, a garantia do due process of law. Em tema de direito extradicional, 0 Supremo Tribunal Federal nao pode & nem deve revelar indiferenca diante de transgressoes ao regime das garantias processuais fundamentais. E que o Estado brasileiro - que deve obediéncia irrestrita é propria Constituigdo que the rege a vida institucional ~ assumiu, nos termos desse mesmo estatuta politico, o gravissimo dever de sempre conferir prevaléncia aos direitos humanos (art. 4°, 1). EXTRADICAO E DUE PROCESS OF LAW. O extraditando assume, no processo extradicional, a condi¢do indisponivel de sujeito de direitos, ewja intangibilidade hé de ser preservada pelo Estadlo a quem foi dirigido 0 pedido de extradicdo. A possibilidade de ocorrer a privagdio, em juizo penal, do due process of law, nos miltiplos contornos em que se deservolve esse principio assegurador dos direitos e da propria liberdade do acusado - garantia de ampla defesa, garantia do conraditério, igualdade entre as partes perante o juiz natural e garantia de imparcialidade do magistrado processante - impede o vilido deferimento do pedido extradicional (RTI 134/56-58, Rel. Min. CELSO DE MELLO). O Supremo Tribunal Federal nao deve deferir 0 pedido de extradigao, se 0 ordenamento juridico do Estado requerente nao se revelar capac de assegurar, aos réus, em juizo criminal, a garantia plena de um Julgamento imparcial, justo, regular e independente. A incapacidade de o Estado requerente assegurar ao extraditando 0 diretto ao fair trial atua como causa impeditiva do deferimento do pedido de extradigao. EXTRADICAO, PENA DE MORTE E COMPRO MISSO DE COMUTACAO. - O ordenamento positive brasileiro, nas hipiteses em que se delineia a possibilidade de imposicdo do supplicium extremum, impede a entrega io extraditanlo ao Estado requerente, @ menos que este, previamente. assuma 0 compromisso formal de comutar, em pena privativa de liberdade, a pena de morte ressalvadas, quanto a esta, as situagdes em que a lei brasileira - fundada na Constituigdo Federal (art, 5°, XLVI, a) = permitir a sua aplicacdo, caso em que se tornard dispensdvel_ a exigéncia de comuagéo. O Chefe da Missdo Diplomatica pode assumir, em nome de seu Governo, 0 compromisso oficial de comurar a pena de morte em pena privativa de liberdade, naw necessitande comprovar, para esse ¢feito especifico, que se acha formalmente antorizado pelo Ministério das Relacdes Exterivres de seu Pais. A Convenedo de Viena sobre Relagies Diplométicas - Artiga 3° n. 1, "a" - oworga a Missdo Diplomética 0 poder de represemar 0 Estado acreditante ("Fiat denvoi") perante 0 Estado acreditado ou Estado receptor (0 Brasil, no caso). derivando. dessa eminente fingda politica. um complexo de atribuigdes ¢ de poderes reconhecidos ao agente diplomiitico que exerce a atividade de representagdo institucional de seu Pais. NOTA DIPLOMATICA E- PRESUNCAO DE. VERACIDADE, A Nota Diplomética, que vale pelo que nela se contém, goza de presuncéo juris tantum de autemicidade e de veracidade. Trata-se de documento formal cuja eficécia juridica deriva das condigdes ¢ peculiaridades de seu iransito por via diplomiitica. Presume-se a sinceridade do compromisso diplomdtico, Essa presunedo de veracidade - sempre ressalvada a possibilidade de demonstragdo em contririo - decorre do principio da boa fé. que rege, no plano internacional, as relagdes politico-juridicas enire os Estados soberanos YALIDADE DO MANDADO DE PRISAO EXPEDIDO POR REPRESENTANTE DO MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO ESTRANGEI RO REQUERENTE. - O ordenamento positivo brasileiro, no que concerne aos processos exiradicionais, ndo exige gue a ordem de prisdo contra o extraditando tenhe emanado, necessariamente, de auoridade estrangeira integrante do Poder Judiciério, Basta que se cuide de antoridade investida, nos termos da legislagao do préprio Estado requereme, de atribuicio para decretar a prisio do extraditando. Precedente 136. Ha precedente interessante, no sentido de que ndo se ultimou a extradiggo porquanto 0 Estado requerente nao teria assentido na comutagao da pena, como se registra na Ext 546/Franga, relatada pelo Ministro Néri da Silveira, em julgamento de 26 de fevereiro de 1992: EXTRADIGAO, NACIONAL FRANCES Cl AUTORIZOU, EM ACORDAO DE 24.08.1977, NA EXTRADICAO N. 342 FRANCA. DECISAO QUE, ENTRETANTO, NAO FOL EXECUTADA SOBREVINDO A SOLTURA DO EXTRADITANDO, DIANTE DA IMPOSSIBILIDADE MANIFESTADA PELO GOVERNO. DA FRANCA NAQUELA OCASI4O, DE ASSUMIR QO COMPROMISSO DE COMUTAR EVENTUAL PENA DB MORTE EM PRIVATIVA DE LIBERDADE, SEGUNDO O ART. 98, IIl, DO DECRETO-LEI N. 941/1969, ENTAO VIGENTE, COM A EXTINCAO Da PENA DE MORTE, NA FRANCA, POR FORCA DA LEI N. 81.908, DE 09.10.1981, ART. 1., DAQUELE PAIS RENOVA-SE, AGORA, PEDIDO DE EXTRADICHO DO. MENCIONADO ALIENIGENA, PELO MESMO FATO. LEGISLACAO QUE TEM DISCIPLINADO A MATERIA, NO CURSO DO TEMPO (DECRETO-LELN. 394, DE 28.04.1938, ART. 16; DECRETO-LEI N. 941, DE 13.10.1969, ARTS. 5, E101; LEUN. 6815, DE 19.08.1980, ALTERADA PELA LEI N (09.12.1981, VIGENTE ESTATUTO DO ESTRANGEIRO, ARTS. 87 i 367. APROVADA EM 13.12.1963, SEGUNDO NOSSO SISTEMA LEGAL, DEFERIDA A EXTRADIGAO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, AO PODER EXECUTIVO INCUMBE EFETIVAR A ENTREGA DO EXTRADITANDO, DEVENDO, ANTES, EXIGIR DO ESTADO REQUERENTE ASSUMA CERTOS COMPROMISSOS PREVISTOS. NA LEGISLAGAO ESPECIFICA OU NO ACORDAO DO STF. POSTO, ASSIM, O EXTRADITANDO A DISPOSKAO DO ESTADO REQUERENTE, ESTE HA DE PROVIDENCIAR RETIRA-LO, AS SUAS EXPENSAS, DO TERRITORIO NACIONAL, NO PRAZO DA LEI. SEM O QUE O EXTRADITANDO SERA POSTO EM LIBERDADE, NO SE PODENDO RENOVAR O PROCESSO. HIPOTESE EM QUE NAO CABE AO STF CONHECER DE NOVO PEDIDO DE EXTRADICAO, RELATIVAMENTE AO MESMO_ ALIE} RAZAO_DO MESMO FATO CRIMINOSO. PEDIDO DE EXTRADICAO DE QUE NAO SE CONHECE, DETERMINANDO SEJA POSTO EM LIBERDADE O EXTRADITANDO SE POR "AL" NAO HOUVER DE PERMANECER PRESO.EXPEDINDO-SE, PARA TANTO, DE IMEDIATO, ALVARA DE SOLTURA. MA EXTRADICAO O STF 137. De fato, registro ha também de que © Supremo Tribunal Federal exija que 0 compromisso formal de comutagio da pena seja feito concomitantemente com o pedido de extradigao, embora também possa ser prestado na entrega do extraditando. 138. Eo que se definiu, por exemplo, por ocasido da Ext 272/Austrilia, relatada pelo Ministro Victor Nunes Leal, em julgamento de 7 de junho de 1967: U) EXTRADIGAO. dj OQ DEFERIMENTO. OU RECUSA DA EXTRADICAO E DIREITO INERENTE A SOBERANIA. By A EFETIVACAO, O GOVERNO, DA ENTREGA DO EXTRADITANDO. AUTORIZADA O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DO DIREITO ACIONAL CONVENCIONAL. 2) RECIPROCIDADE. A) E FONTE RECONHECIDA DO DIREITO EXTRADICIONAL. EXTR. 232(1961), EXTR. 2288/1962), EXTR. 2531/1963). B) A CONSTITUICAO DE 1967, ART. 83, Vill, NAO ERENDUM' DO CONGRESSO PARA ACEITACAO DA OFERTA DO ESTADO REQUERENTE, ©) A LEI BRASILEIRA AUTORIZA O GOVERNO A OFERECER RECIPROCIDADE. 3) COMUTAGAO DE PENA A) A EXTRADICAO A CONDICIONADA A VEDACAO CONSTITUCIONAL DE CERTAS y EMBORA HAA CONT! QUANTO EXTR. 230(1961), EXTR. 241(1962), EXTR. 234(1965). B) O COMPROMIS DE COMUTACAO DA PENA DEVE CONSTAR DO PEDIDO. MAS SER PRESTADO PELO ESTADO REQUERENTE ANTES DA ENTREG. EXTRADITANDO, EXTR. 241(1962). VOTO DO MIN. LUIZ GALLOTTI NA EXTR. 218(1950). 4) INSTRUCAO. A DOCUMENTAGAO SUPLEMENTAR FOI OFERECIDA EM TEMPO OPORTUNO,' PELOS ESTADOS REQUERENTES, SEM PREJUIZO DA DEFESA EXERCITADA COM EFICIENCIA E BRILHANTISMO. 3) TERRITORIALIDADE, A) JURISDIC4O DA AUSTRIA (CRIMES DE MARTHEIM) E DA POLONIA (CRIMES DE SOBIBOR E TREBLINKA). B) FALTA DE JURISDICAO DA ALEMANHA (SOBIBOR E. TREBLINKA), PORQUE A. OCUPAGAO. MILITAR NAO TRANSFORMOU ESSAS LOCALIDADES EM TERRITORIO ALEMAO, NEM ALI PERMANECEM SUAS TROPAS, NEM O EXTRADITANDO CONTINUA NO SERVICO. 6) NACIONALIDADE ATIVA, A) JURISDICAO DA AUSTRIA (SOBIBOR. E TREBLINKA) POR SER STANGL AUSTRIACO. B) JURISDICAO Da ALEMANHA (SOBIBOR E TREBLINKA), NIO PORQUE STANGL TIVESSE AO TEMPO A NACIONALIDADE ALEMA, MAS PORQUE ESTAVA A SERVICO DO GOVERNO GERMANICO. 7) NARRATIVA, FOL MINUCIOSA, | ATE EXCESSIVA, A_ DESCRICHO DOS FATOS DELITUOSOS, DEPE APURACAO DA CULPABILIDADE, OU O GRAU DESTA. DE JUIZO DA ACAO PENAL. 8) GENOCIDIO. A ULTERIOR MPIFICACAO DO GENOCIDIO. [0 INTERNACIONAL E NA LEI BRASILEIRA, OU DE OUTRO ESTADO, NAO EXCLUL A CRIMINALIDADE DOS ATOS DESCRITOS, POIS 4 EXTRADIGAO. E PEDIDA COM FUNDAMENTO EM HOMICIDIO QUALIFICADO. 9) CRIME POLITICO. A EXCECAO DO CRIME POLITICO NAO CABE, NO CASO. MESMO, SEM APLICACAO IMEDIATA DA CONVENCAO SOBRE O GENOCIDIO, OU DA L. 2.88956, PORQUE ESSA EXCUSATIVA NAO AMPARA OS CRIMES COMETIDOS COM ESPECIAL PERVERSIDADE QU CRUELDADE. (EXTR. 232, 1961), O PRESUMIDO. ALTRUISMO. DOS DELINQUENTES POLITICOS NAO SE AJUSTA A FRIA PREMEDITACAO DO EXTERMINIO EM MASSA, 10) ORDEM SUPERIOR. A) NAO. SE DEMONSTROU QUE O EXTERMINIO EM MASSA DA VIDA HUMANA FOSSE AUTORIZADO POR LEI DO ESTADO NAZISTA. B) INSTRUCOES SECRETAS (CASO BOHNE) OU DELIBERACOES DISFARCADAS, COMO A 'SOLUCAO FINAL’ DA CONFERENCIA DE WAN: NAO TINHAM EFICACIA DE LEL ©) GRADUADO FUNCIONARIO. DA POLICIA JUDICIARIA. NAO PODIA IGNORAR A CRIMINALIDADE DO. MORTICINIO, CUJOS VESTIGIOS AS AUTORIDADES PROCURARAM METODICAMENTE APAGAR. D) A REGRA 'RESPONDEAT' SUPERIOR ESTA VINCULADA A COAGAO MORAL NAO PRESUMIDA PARA QUEM FEZ CARREIRA BEM" SUCEDIDA NA ADMINISTRAGAO DE ESTABELECIMENTOS DE EXTERMINIO. E) DE RESTO, O EXAME DESSA PROVA DEPENDE DO JUIZO DA ACAO PENAL. 11) JULGAMENTO REGULAR. 4 PARCIALIDADE DA JUSTICA DOS ESTADOS REQUERENTES NAO SE PRESUME: NEM PODERIA O EXTRADITANDO. SER JULGADO PELA JUSTICA BRASILEIRA, OU RESPONDER PERANTE JURISDICAO INTERNACIONAL, QUE NAO E OBRIGATORIA. 12) PRESCRICHO.— A) FICOU AFASTADO.-O PROBLEMA DA RETROATIVIDADE; EXAMINOU-SE A MATERIA PELO DIREITO COMUM ANTERIOR, PORQUE O BRASIL. QUE OBSERVA Q PRINCIPIO DA LEI MAIS FAVORAVEL. NAO SUI ), NEM EDITOU LEt ESPECIAL, SOBRE PRESCRIGAO EM CASO DE GENOCIDIO. B) NO QUE TA A POLONIA, A PRESCRICAO NAO FOI INTERROMPIDA. DO OS CRITERIOS DA NOSSA LEI; TAMBEM NAO OQ FOL QUANTO A AUSTRIA, EM RELACAO AOS CRIMES DE SOBIBOR E TREBLINKA, PORQUE NENHUM DOS ATOS PRATICADOS PELO TRIBUNAL DE VIENA EQUIVALE AO RECEBIMENTO DA DENUNCIA, DO DIREITO BRASILEIRO. ©) A ABERTURA Da INSTRUCAO CRIMINAL NOS TRIBUNAIS DE LINZ E DUSSELDORF, TENDO EFEITO EQUIVALENTE AO RECEBIMENTO DA DENUNCIA, DO DIREITO BRASILEIRO, INTERROMPEU A PRESCRIGAO RELATIVAMENTE AOS PEDIDOS DA AUSTRIA, PELOS CRIMES DE HARTHEIM, EB DA ALEMANHA, PELOS CRIMES DE SOBIBOR E TREBLINKA. 13) PREFERENCIA. Ay A DETERMINAGAO DA PREFERENCIA, — ENTRE _ OS REQUERENTES, CABE AO SUPREMO TRIBUNAL, E NAO AO GOVERNO. PORQUE 0 CASO SE ENQUADRA EM UM DOS CRITERIOS Da I rAC4O FINAL COMP! ERENCIA PELA _ TERRITORIALIDAD ALEMANHA, PELAS RAZOES Jd INDICADAS QUANTO A JURISDICAO. C) PELO CRITERIO. DA GRAVIDADE DA INFRAGHO, O- EXAME DO TRIBUNAL NAO SE LIMITA AQ TINO DO CRIME. MAS PODE RECAIR SOBRE 0 CRIME ‘IN CONCRETO' (COMBINAGAO DO ART. 42 DO C. PENAL COM 0 ART. 78, Il, 'B', DOC. PR. PEN). Dj EM CONSEQUENCIA. FOI RECONHECIDA A PREFERENCIA DA ALEMANHA (SOBIBOR _E TREBLINKA), E NO DA AUSTRIA (HARTHEIM), CONSIDERADAS, NAO SOMENTE AS CONSEQUENCIAS DO CRIME, COMO TAMBEM AS FINALIDADES DAQUELES ESTABELECIMENTOS E A FUNCAO QUE O EXTRADITANDO N EXERCIA. I) ENTREGA. ENTREGA DO EXTRADITANDO 4 ALEMANHA, SOB AS CONDIGOES DA LEL ESPECIALMENTE AS DO ART. 12, E COM O COMPROMISSO DE COMUTAGAO DE PENA E DA ENTREGA ULTERIOR A AUSTRIA. 15) HABEAS CORPUS’ FICOU PREJUDICADO. O. 'HABEAS CORPUS REQUERIDO, ALIAS, A REVELIA DO EXTRADITANDO. 139, No processo administrative que se reporta A extradigio de Cesare Battisti hi parecer do Professor Nilo Batista, titular de Direito Penal da Universidade do Rio de Janeiro, em defesa de tese de nao extradigio. De igual modo, em socorro das pretensoes de Cesare Battisti, ha também documento enderecado ao Senhor Presidente da Repdblica, e subscrito por Celso Antonio Bandeira de Mello, José Afonso da Silva, Nilo Batista, Dalmo de Abreu Dallari, Paulo Bonavides e Luis Roberto Barroso, com o contetido que segue, na integra: CESARE BATTISTI, cidaddo italiano, preso na Repiiblica Federativa do Brasil desde 18 de marco de 2007, por seu advogado e demais professores titulares ao final assinades, vem respeitosamente a Vossa Exceléncia dizer e requerer 0 que segue. 1 O requerente & inocente dos crimes pelos quais a Repiblica Maliana pede a sua extradi¢do, com base em condenacio baseada fundamentalmente em delacdo premiada e produzida em ambiente politico conturbade. Em 1979, quando ainda estava na Itélia, 0 requerente sequer foi acusado de participacdo em qualquer homicidio, tendo sido condenado a’ 12 (doze) anos de prisdo por crimes politicos. Apis a sua fuga para a Franca ¢ depois para 0 México, os acusados pelos homicidios — sob intensa pressto & heneficiando-se de delagdo premiada — resolveram atribuir-the todas as eulpas Foi entdo julgado uma segunda vez, a revelia, e condenado & pena de prisao perpétua. Os “advogados” que 0 teriam representado valeram-se de procuragBes que vieram a ser comprovadas falsas. Foi o inico acusado a receber tal pena, Todos os delatores premiados estdo soltos, enquanto Bautisti se tornou 0 bode expiatério dos movimentos de esquerda da década de 70. 2. O Egrégio Supremo Tribunal Federal negou a extradicao de outros trés ex-ativistas italianos do mesmo periodo, também envolvidos na militincia armada durante os anos de chumbo, sendo que um deles igualmente acusado de crimes contra a vida. Tais decisdes ndo causaram qualquer comogdo no Brasil ou na Itdlta, tendo sido reconhecidas como manifestacdo legitima do dever internacional de protegdio aos individuos acusados de crimes politicos. Apenas no Caso Battisti a Repiiblica Italiana decidiu empreender todos os recursos financeiros, advocaticios e mididticos para transformé-lo em um troféu politico. 3 Na guerra de propaganda que se instaurou, Cesare Battisti passou a ser cognominado terrorista, embora nunca tenha sido acusado on condenado por esse crime. O requerente foi condenado ~ injustamente, repita-se — pela participacdo em quatro homicidios: de dois agentes policiais e de dois milicantes de extrema-direita. Durante mais de 14 anos, viveu de forma pacifica e produtiva na Franca, sob a protegdo da Doutrina Miterrand. Em 1991 a idlia chegou a pedir a sua extradigao, que foi negada pelo Poder Judiciério francés. O \ pedido sé foi renovado mais de doze anos depois, em 2004, apés a ascensdio de governos de direita na Itélia e na prépria Franca. Nesse novo ambieme politico, a extradigio foi entdo deferida, motivando uma nova fuga, agora para o Brasil. 4 O requerente obteve refiigio do governo de Vossa Exceléncity em decisto corajosa do Ministro de Estado da Justiga, Tarso Genro, que the fez justica, finalmente. A concessdo de refigio foi anulada pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal, por voto de desempate, contra o parecer do entao Procurador- Geral da Repiiblica, Dr. Ant6nio Fernando Souza, enfaticamente reiterado por sew sucessor, Dr. Roberto Gurgel. Na segtiencia, a extradicdo foi autorizada, também por voto de desempate. Nao havia precedente de deferimento de extradigéio por maioria assim apertada, Além disso, a quase totalidade dos pedidos de extradigdo deferidos no Brasil acompanham a manifestacdo do Ministério Piiblico Federal. 5. De qualquer forma, 0 Egrégio Supremo Tribunal Federal deliberou expressamente que a competéncia para a decisdo final é do Presidente da Repiblica. Nessa parte, prevaleceu o voto do Ministro Eros Roberto Grau. A decisdo do Tribunal apenas autoriza a entrega do stidito estrangeiro, cabendo ao Chefe do Poder Executivo realizar um juizo proprio sobre o pedido de extradicao, em que deveré levar em conta os principios constitucionais, 0 sistema internacional de protegdo aos direitos humanos e 0 eventual tratado de extradigdo firmado entre 0 Brasil ¢ 0 Estado estrangeiro, no caso a Repiiblica Kaliana, 6 Sem prejuizo da avaliagdo politica prépria que Vossa Exceléncia poderd fazer a respeito dos muitos aspectos envolvidos na matéria, o requereme ipede vénia para enunciar alguns dos principais fundamentos pelos quais confia que sua extradicao nao serd concedida, Embora a Repiblica Federativa do Brasil possa decidir soberanamente sobre a concessdo de abrigo a estrangeiros que se encontrem em seu terri todos os fundamentos aqui apresentadas se baseiam em disposigdes especificas do Tratado de Extradigao existente entre o Brasil ea Repiiblica Italiana Na verdade, o préprio Ministro Eros Grau ~ cujo voto conduziu a decisto da Corte na questo retacionada @ competéncia do Presidente da Repiiblica para a decisdo final identificou um dispositive do Tratado bilateral de extradic@o que permite claramente a ndo-entrega na hipétese, segundo avaliagdo do Chefe de Estado que ndo se sujeita a reavaliacdo por parte do Supremo Tribunal Federal. Cuida-se do art. 3° 1, f que admite a recusa da extradigdo quando haja “razées ponderdveis para supor que a situagdo da pessoa reclamada poderia ser agravada por razdes politicas". Como se ve, 0 proprio Tratado prevé a protecdo ao individuo nos casos de mera divide, bastando que haja motivos para supor uma possibilidade de agravamento da situagdo pessoal do extraditando. Nos termos da decistio proferida pelo Tribunal, cabe a Vossa Exceléncia verificar a existéncia de tais racdes, segundo sua propria convicedo. 8 No caso, muiltiplos elementos confirmam 0 isco de agravamento da situagéo pessoal do individuo reclamado, Com efeito, passados \ ‘mais de trinta anos, os episédios em que se envolven 0 requerente conservam elevada dimensdo politica e ainda mobilizam muitos setores da sociedade contra ele. Diarte disso, com base nesse dispositive do tratado dentro do juizo politico que o Supremo Tribunal Federal expressamente atribuiu ao Presidente da Repiblica, é perfeitamente legitimo que Vossa Exceléncia avalie que hé “razies ponderdveis para supor” que a situacdo do extraditando “possa ser agravada por motivo de opinido politica”, bem como que ele pode ser vitima de discriminagdo com fundamento nessa mesma razdo. Essa conclusdo nao envolve qualquer avaliacao negativa sobre as instituigdes atuais ou passadas da Repiiblica ltaliana. Alids, a simples incluso dessa eldusula no tratado bilateral apenas confirma que esse tipo de juizo nao constitui afronta de um Estado ao ‘outro, uma vez que situagdes particulares podem gerar riseos para 0 individuo, a despeito do cartier democrético de ambos os Estados. 9. De qualquer forma, veja-se que 0 voto do Ministro Eros Grau e @ decisdo do Egrégio Tribunal Federal ndo vincularam 0 Presidente da Repiiblica propriamente ao art. 3% 1, f do acordo bilateral, mas sim ao Tratado de Extradi¢do em seu conjunto. Assim, embora 0 artigo em questdo jé sefa suficiente para fundamentar a recusa de extradigdo, é possivel ainda destacar pelos menos outros dois dispositivos que também permitem ¢ até recomendam eventual decisdo de ndo-entrega 10. © primeira detes € 0 art. 7% 1, do Tratado. Segundo essa previsdo, a pessoa extraditada ndo poderd ser submetida a restri¢do da liberdade pessoal para execucio de uma pena por fato diferente daquele pelo qual a extradi¢do foi concedida, No caso conereto, a pena aplicada ao extraditando foi unitéria — prisio perpétua pelo conjunto dos delitos -, abrangendo fatos anteriores e diferentes daqueles que motivaram 0 pedido de extradigdo, incluindo crimes politicos puros, assim reconhecidos pela Justica italiana. Nao é possivel, portanto, eniregar o extraditando, uma vez que o Estado requerente ndo poderti segregar a pena pela qual fol concedida a extradicdo das que resultaram de outras condenagdes. Esse ponto nao foi objeto de pronunciamento pelo Supremo Tribunal Federal. . O segundo fundamento adicional consta do art. 5%, b, do Tratado. 0 dispositivo auoriza a recusa de extradi¢do quando a parte requerida tenha “motivo para supor” que a pessoa reclamada poderd vir a ser submetida a ‘pena ou tratamento que configure violacdo de seus direitos fundamemtais. A pena de seis meses de isolamento sem luz solar incide em tal hipétese. Note-se, ainda, que até 0 momento a Itélia nao se comprometeu a comutar a pena perpétua, existindo divida sobre a possibilidade juridica de autoridades do Poder Executivo realizarem a comutagdo de forma efetiva, uma vez que a decisiio final seria uma prerrogativa das autoridades judicidrias. Tudo sem mencionar declaragoes piiblicas de que, independentemente de qualquer compromisso, a comutagao nao ocorrerd. 12. Como se percebe, cada um desses fundamentos seria suficiente para a recusa de extradiedo. A conjugagdo dos trés apenas reforga uma eventual decisdo em favor do suplicante. Diante dessas razbes - ¢ da enorme diivida objetiva que se instaurou no Egrégio Supremo Tribunal Federal acerca da propria possibilidade juridica de se auorizar a extradicdo — é consistente dizer que a posigdo institucional brasileira, respaldada pela Constituigdo e pela Convengao Americana de Direitos Humanos, deve ser favordvel ao individuo. Essa orientagdo seria valida para qualquer que fosse o Estado requerente e no importa qualquer juizo eritico em relacdo & India 13, Cabe fazer, ainda, uma iiltima observacdo. O fato de o suplicamte ter sido condenado ‘no Brasil pela posse de documentos falsos, pela Justica Federal do Rio de Janeiro, nao apresenta qualquer repercussao sobre o pedido de extradigéo ¢ a decistio de Vossa Exceléncia. Tanto assim que 0 préprio Tratado de Extradicdo prevé a existéncia de processo ou condenagdo criminal no pais requerido como uma das causas de recusa da extradicao (art. 15, 1). Vale lembrar que o suplicante chegou ao Brasil na condigao de auto-refugiado, fugindo de perseguigdo politica que considera injusta. Em situagdes como essa, é absolutamente impossivel a utilizacdo dos préprios documentos. Na verdade, a condenagéio a pena minima de dois anos, para cumprimento em regime aberto apenas confirmou que o suplicante ndo apresenta qualquer periculosidade, fato que se confirma pelos mais de 14 anos em que viveu de forma pacifica e produtiva na Franca. 4. O suplicante pede, respeitosamente, que Vossa Exceléncia leve em consideragdo esses fundamentos ao tomar sua decisdo final acerca do pedido de extradicdo formulado pela Repiiblica haliana, e confia que tal decisdo haverd de estar de acordo com a tradicdo brasileira de justica e humanidade. Os advogados a seguir assinados, em nome do requerente e, também, em nome proprio, transmitem a Vossa Exceléncia a expressdo do sew respeito e da ‘mais elevada consideracao, 140, A natureza politica e 0 cunho sensacionalista que envolvem a extradigio de Cesare Battisti podem ser comprovadas com a recorréncia que 0 extraditando é requisitado enquanto preso. Sao varios pedidos de entrevistas, por parte de jornalistas, estudiosos, ¢ mesmo defensores do extraditando. 141. Em 27 de janeiro de 2009 hé registro de pedido de permissio de entrada no complexo penitenciario da Papuda para realizar entrevista com o extraditando, por parte de Bernardo Mello Franco. De igual modo, ¢ no mesmo dia, Paolo Manzo requerew permissio para visitar e entrevistar 0 extraditando, 142. Lucas Ferraz também formulou pedido de entrevista com Battisti, ¢ da mesma forma, entre outros, encaminharam pedidos de entrevista Omero Ciai, Vanildo Mendes, Marco Antonio de Castro Soalheiro, Raymundo Costa, William Alan Clendenning, representantes da Agéncia France Press, Raffaele Fichera, Zero Hora Editora \ \ Jomnalistica S/A, diretoria da Agéncia Efe, Bandnews, TV Bandeirantes, Nilo Martins, Aparecida Rezende Fonseca, Sergio Rocha Lima Junior, Radio e Televisio Capital Record, Gherardo Milanesi, Dario Pignotti, Rosa Santoro, Edson Lopes da Silva, Agéncia de Noticias Thomson Reuters, Julio Cruz Neto, Felipe Benaduce Seligman, ‘The Associated Press, Sistema Brasileiro de Televisio, RAI- Radiotelevisione Italiana, Francisco Antonio da Silva, Maria da Paz Trefaut, Melting-Pot Production, Leticia Cynthia Renee Garcia, Paris Match, Percilliane Marrara Silva, Jornal O Estado de Sao Paulo, SKY TG 24,Pierre-Ludovic Viollat 143. © Caso Battisti ganha dimensio superlativa, divide opinides. O momento, no entanto, exige serenidade, bem como a solugao para a questéo demanda a fixagao de algumas premissas. 144. Em primeiro lugar, nio ha mais espago para que se discuta o procedimento penal ocorrido na Ilia e que redundou na condenagéo de Cesare Battisti. A decistio do ‘Supremo Tribunal Federal tem como efeito imediato a proibigfo de que se levante, internamente, dividas, senées e questionamentos em torno da legitimidade e da legalidade do procedimento de condenagao de Battisti. A deciséo do Supremo Tribunal Federal deve ser cumprida. 145. Por consequéncia, preclusa objetivamente a possibilidade de que se questionar 0 teor das procuragées supostamente assinadas pelo extraditando, conferindo poderes para que advogado 0 defendesse nos processos que respondeu na Italia. Assim, prejudicada, definitivamente, pelo menos em Ambito de direito brasileiro, discussie em tomo da falsificagio das procuracées. 146. Preclusa também a tancia interna para que se compreenda 0 Caso Battisti como intrinsecamente politico. Ainda que 0 desdobramento dos fatos possa abstratamente indicar 0 contrario, ainda que a Iogica de toda a situacio aponte para contexto supostamente politico, € ainda que néo se tenha outra perspectiva historiogrdfica para a compreensao do caso, a decisio do Supremo Tribunal aponta no sentido de que os crimes imputados a Battisti devam ser plasmados como crimes comuns, € no como crimes politicos. Deve se cumprir a decisio do Supremo Tribunal Federal. Deve se cumprir 0 Tratado que assinamos com a Ilia. 147, Isto é, ainda que se tenha bem nitido que a trajet6ria de Battisti desagrade setores de esquerda ¢ de direita, a usarmos expressdes do vocabulério da guerra fria, eventual argumento, neste sentido, em favor do extraditando, nao surtiria nenhum efeito no caso pendente. Bem entendido, embora Battisti possa desagradar ambos os lados’ abandonow a luta armada, mas antes teria lutado, néo se pode imputar aos fatos originérios do pedido de extradicio a conotagio que a assertiva de envolvimento poderia entoar. 148, O que se tem, concretamente, € que a competéncia para autorizagao (ou nao) da extradigio é do Presidente da Repiblica. Se 0 Supremo Tribunal Federal defere o pedido de extradigéo cabe ao Presidente da Repiblica, discricionariamente, entregar (ou nao) o extraditando. 149. E este o entendimento sufragado pela jurisprudéncia do Supremo Tribunal Federal, especialmente tendo-se em vista 0 decidido na Extradicao 1.114-6/Repdblica do Chile, relatado pela Ministra Carmen Licia, cuja ementa segue: EMENTA: EXTRADICAO, ATENDIMENTO. DOS REQUISITOS FORMAIS, IMPROCEDENCIA DAS ALEGACOES DO EXTRADITANDO. EXTRADICIO. DEFERIDA, 1. A transinissao da Nota Verbal por via diplomética basta para conferirthe autenticidade, sendo dispensdvel a traducéo por profissional juramentado, Ademais sequer cabe discutir eventual vieio na Nota Verbal se os documentos que a acompanham contém narragdo dos fatos que derami origem persecugio criminal no Estado requereme, viabilizando-se. assin). 0 exercieio da defesa, 2, Assente a jurisprudéncia deste Supremo Tribunal no sentido de que 9 modelo que rege, no Brasil, disciplina normativa da extradicdo passiva ndo autoriza a revisiio de aspectos formais concementes & regularidade dos atos de persecugio penal praticades no Estado requerente. 3. O Supremo Tribunal Tinnta-se a analisar a legalidade & a procedéncia do pedido de extradigao (Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, art. 207; Constituigdo da Repiiblica, art. 102, ine. I. alinea g: ¢ Lei n 6815/80, art. 83): indeferido 0 pedido, deixa-se de constituir 0 tino juridico sem o qual 0 Presideme da Repiiblica niio pode efetivar a extradig@o; se deferida, a entrega do siidito ao Estado requerente fica a critério disericionario do Presideme da Reptiblica. 4 Extradigdo deferida, nos termos do voto da Relatora 150. Esta discricionariedade, no entanto, sofreria restrigdes © constrangimentos, decorrentes do. cumprimento dos tratados. O nao cumprimento de tratativas internacionais pode causar para quem nao as cumpra sangées indiretas na ordem internacional. 151. Sem que se toque na complexa questio relativa & natureza juridica do direito internacional, bem como de linha argumentativa que veria um grupo de tratados no contexto de um soft law, isto &, de um direito sem sancao, deve-se levar em conta que ha compromisso assumido com Nagdo amiga e, neste sentido, o pactuado deve ser cumprido. O Brasil vem sistematicamente cumprindo acordo de extradicao que ajustou com a Itélia, e a abundancia de julgados que ha comprova a assertiva. Nao se pode falar, assim, de comportamento desviante, ou de qualquer indicativa de desidia, de nossa parte. O Chefe do Poder Executivo age nos termos do Tratado. 152. Como jé observado varias vezes, 0 Tratado prevé que a extradicio nio seré concedida se a parte requerida tiver razdes ponderiveis para supor que a pessoa teclamada seré submetida a atos de perseguicao € discriminacao por motivo de raca, religido, sexo, nacionalidade, lingua, opiniao politica, condigao social ou pessoal; ou que sua situagdo possa ser agravada por um dos elementos antes mencionados. 153. A condicao pessoal do extraditando, agitador politico que teria agido nos em anos dificeis da hist6ria italiana, ainda que condenado por crime comum, poderia, salvo engano, provocar reacao que poderia, em tese, provocar no extraditando, algum tipo de agravamento de sua situacdo pessoal. H4 ponderiveis razdes para se supor que 0 extraditando poderia, em principio, sofrer alguma forma de agravamento de sua situacao. 154. A assertiva nao implica em nenhuma bravata a histéria e a dignidade da Itdli: pais que exerce imensa influéneia sobre nossa cultura, nécleo histérico da vinda de imigrantes. A Itilia é, sem davidas, uma das patrias fundadoras da identidade brasileira. 155. Com a Itilia, h4 intimeros outros casos que se desdobram. Eventual negativa de extradigao de Battisti, por forga de disposigao de tratado, como aqui sugerido, nao é indicative de desrespeito para com 0 acordado entre Brasil ¢ Itélia. O Brasil cumpre rigorosamente os tratados de extradigéo que entabulou. 156. A insergdo de regra no tratado que permite a nio extradigio na hipétese de diivida ponderdvel quanto ao tratamento a ser dispensado ao extraditando nao € (gra que se refira, necessariamente, ao Estado requerente. & dispositive que permite ampla discricionariedade ao Estado tequerido, no sentido de se aferir, entre outros, a reacdo que se prevé em relacdo ao extraditando. Esta em nossa tradi¢ao. Informa a tradigao do direito extradicional. 157. Nao se trata de inovagao. E fato. E nao presungao. A regra que autoriza a nao extradigio deve ser utilizada, e 0 seria também, em situagéo andloga, se reciproca houvesse. E norma simples, que nao exige torneios de hermenéutica mais ousados. Basta suposigao, por parte do Chefe do Poder Executivo. 158, Entre outros, veiculo para reconhecimento de que a finalidade da pena seja a reinsergio social do apenado. O que, no caso, registre-se, jai se realizou ao longo dos anos. A condicio pessoal do extraditando pode ser piorada com a extradigao, Ainda que se tenha a comutagio da pena, ¢ ida que se apliquem férmulas de detracdo, o extraditando ficaria preso até momento longevo, a0 longo do qual temores do passado € resquicios de um tempo pretérito, ¢ de triste meméria, possam qualificar perigo real. Segundo o Ministro Eros Grau, em voto publicado em excerto de livro, (.) © Presidente da Repiiblica esté ou ndo obrigado a deferir a extradi¢do autorizada pelo Tribunal nos termos do Tratado, Pode recusdé-la em algumas hipéteses que, seguramente, fora de qualquer diivida, ndo sao ‘examinadas, nem examindiveis, pelo Tribunal, as descritas na alinea ‘f do seu art. 3.1. Tanto € assim que o art. 14.1 dispde que a recusa da extradigéo pela Parte requerida—e a ‘Parte requerida’, repito, é representada pela Presidente da Repiblica— ‘mesmo parcial, deverd ser motivada’. Pois esse art. 3.1, alinea do Tratado estabelece que a extradicdo ndo sera concedida se a Parte requerida tiver razdes ponderdveis para supor que a sua situagao (isto é, da pessoa reclamada) ‘posta ser agravada"- vale dizer, afetada, mercé de condigao pessoal (. 159. Do ponto de vista estrutural a questio é tema de fixacio de competéncias. O modelo extradicional brasileiro é misto, Ao Supremo Tribunal Federal compete avaliar a prestabilidade formal do pedido, ¢ 0 faz, sempre, & luz, também, do referencial de protegio de direitos humanos que adotamos, 160. Ao STF nao cabe a apreciagio do mérito do pedido. Apenas, e tio somente, autoriza-se ao Presidente da Repiblica a efetivar a extradicdo. Isto é, na hipétese do » Bros Roberto Grau, Sobre a prestacdo jurisdicional-, Sao Paulo: Malhciros, 2010, p. 223. STF comprovar que o pedido de extradigao substancialize os requisitos indicativos da garantia dos direitos fundamentais do extraditando. 161. Consequentemente, infere-se, a extradigdo decorre de procedimento misto para deferimento. O STF verifica os requisitos de legalidade, bem como de procedéncia do pedido. Em seguida, o Presidente da Repiblica decide, com margem de discricionariedade, tal como consignado nos tratados que assinamos. 162. E é da experiéncia do direito dos tratados a fixagio de cldusulas de maleabilidade, por intermédio das quais 0 agente politico que detenha o poder de decidir possa realizar juizos de valor, indevassaveis pelo Poder Judicidrio, & ao Poder Executivo a quem compete dispor sobre matéria de relagdes internacionais. 163. 0 Chefe do Poder Executivo Federal quem representa o Estado brasileiro nas relagdes internacionais. E é 0 Chef do Poder Executivo Federal que a Constituigao Teservou a prerrogativa de expressio final nas questes de extradigio. E este 0 entendimento do STF, tal como se colhe em excerto de voto do Ministro Carlos Ayres Britto, justamente na extradi¢ao esmiucada: De sorte que, diante desse pensamento uniforme, eu procurei, na constituigdo brasileira, 0 regime juridico da extradigdo. Serd que a nossa constituigdo brasileira contém o regime juridico da extradigao? Parece-me que sim. E fui ver na perspectiva do sistema belga, que é 0 sistema delibatbrio ou de legalidade extrinseca, também chamado misto. Por que o sistema é nisto? Ele é misto orgdnica ou subjetivamente, porque pressupae a atuagdo conjunta dos érgdos do Poder Executive e do Poder Judicidrio. Vale dizer, orgdos dos dois Poderes atuam com independéncia, é claro, mas convergentemente quanto d finalidade, que é a extradiedo ou a recusa da extradicao do cidadao. Mas ele é misto também porque concilia, sem traumas, harmoniosamente, ox principios regentes de todas as relagdes internacionais do Brasil. A Constitui¢do, no artigo 4°, estampa os principios regentes ou reguladores das relagées internacionais do Brasil. E 0 sistema belga, ou misto, ou delibatério, ele tem o mérito de possibilitar a incidéncia de todos os principios sem fricgdo maior, sem tensionamento maior. Ele prestigia todos. Por exemplo, 0 primeiro principio é a independéncia nacional. E a soberania nacional, ‘encarnada no Presidente da Repiiblica, segundo o artigo 84, inciso VII, da constitui¢do. E 0 Presidente da Repiblica encarna essa soberania nacional, essa representatividade externa do Brasil, protagonista por exceléncia, protagonista ‘até privativo das relagdes imternacionais. O Presidente o faz ndo como Chefe de Governo, mas como de Estado. Ele é 0 Chefe de Estado em nosso sistema constitucional. E 0 modelo belga, que introduz 0 Judicidrio no circuito do proceso extradicional, em nenhum momento faz 0 Presidente da Repiblica y \ decair da sua condigéio de Chefe de Estado. Ele continua Chefe de Estado, mesmo 0 proceso extradicional passando pelo crivo do Supremo Tribunal Federal, E um ‘modelo conciliatério nesse sentido, respeita a soberania nacional encarnada no Presidente da Repiiblica, a despeito do processamento extradicional pelas pranchetas do Poder Judicidrio. Mas esse modelo 8 também respeitador da soberania do Pais estrangeiro, requerente. Por qué? Porque, na medida em que 0 Supremo nao faz um juizo meritério do processo extradicional, esté respeitando 0 Poder Judicidrio do Pats estrangeiro. Esié respeitando a soberania e 0 Poder Judicidrio do Estado estrangeiro. Entao, é um modelo que tem dupla virtude. concilia principios aqui e principios do Pais requerente. 164. Um indicativo de convergéncia de vontades informa 0 modelo extradicional brasileiro. Deve-se levar em conta, entre outros, os direitos fundamentais do extraditando, 0 papel do STF enquanto guardio da Constituicao, viz., dos direitos fundamentais, a soberania ¢ a vontade do Estado-Parte-Requerente, bem como, ainda, 0 papel do Presidente da Repéblica, enquanto representante da soberania nacional. 165, Este iltimo aspecto, representagio da soberania nacional por parte do Presidente da Repiblica, plasma fortemente a discricionariedade do prolator da decisio final, em tema de extradi¢ao. Cuida-se, prioritariamente, das disposigdes dos incisos VII € VIII do art, 84 da Constituicao, que conferem ao Presidente da Repiblica competéncia para manter relagdes com Estados estrangeiros. 166. Esta orientagio ganhou foros de permanéncia na dicgio do entéo Ministro Eros Roberto Grau, em excerto de voto na extradi¢ao aqui estudada, para quem, com base em Victor Nunes Leal, as razées da negativa da extradicio, por parte do Presidente da Repiiblica nao sio examindveis pelo STF. 167. Fé com base no tratado que deve agir o Presidente da Repiblica. Hé fortissimo enquadramento politico, ainda que no resultado, e ndo nas causas, no sentido de se respeitar pontualmente a decisio do STF. Isto é, os crimes nio sao politicos, sio crimes comuns. Porém, politicas sao as dimens6es dos fatos. 168. Como indicado na presente manifestagio hi proliferagiio de entrevistas, passealas, pareceres, manifestos, pedidos, sdplicas, noticias. Eventual negativa de extradigao nao qualifica, € nem demonstra, ¢ nem mesmo sugere, qualquer avaliaca negativa para com instituigdes italianas, presentes ou pretéritas. Trata-se, tio somente, \ de cumprimento de previsio do tratado, com amplo uso no direito extradicional contemporaneo. 169. E exatamente 0 nicho democritico italiano que sugere amplitude do debate, suscitando-se ponderdveis suposigées de que o extraditando possa, em tese, enfrentar atos que agravem sua situagio, por motivos de sua condigdo pessoal, 170. Opina-se, assim, pela nio autorizagao da extradigdo de Cesare Battisti para a Italia, com base no permissive da letra fdo németo 1 do art. 3 do Tratado de Extradigio celebrado entre Brasil e Télia, porquanto, do modo como aqui argumentado, hé ponderdveis razdes para se supor que o extraditando seja submetido a agravamento de sua situagio, por motivo de condigdo pessoal, dado seu passado, mareado por atividade politica de intensidade relevante. Todos os elementos fiticos que envolvem a situagao indicam que tais preocupacées so absolutamente plausiveis, justificando-se a negativa da extradicao, nos termos do Tratado celebrado entre Brasil e Itélia, Eo quamto se encaminha ao elevadissimo crivo de Vossa Exceléncia, Brasilia, 28 de dezembro de 2010. A SS Amaldo Sampaio de Moraes Godoy Consultor da Unido

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