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Entenda a diferença entre verbos transitivos e

intransitivos
Thaís Nicoleti de Camargo*
Especial para a Folha de S. Paulo
Existem na língua verbos que precisam de um complemento
para que a ação que exprimem tenha sentido completo e
outros que prescindem disso. Aos primeiros chamamos
transitivos e aos últimos, intransitivos.

Denominam-se transitivos diretos aqueles cujo complemento


não é obrigatoriamente preposicionado (objeto direto) e
transitivos indiretos aqueles que exigem a preposição diante
do complemento (objeto indireto).

Na construção: "Você fuma?", o verbo é intransitivo, ou seja,


seu sentido está completo - deseja-se saber apenas se a
pessoa em questão é ou não fumante. Não importa saber se
fuma, por exemplo, cachimbo ou charuto. Caso isso fosse
relevante, as perguntas seriam: "Você fuma cachimbo?" ou
"Você fuma charuto?" - e o verbo seria transitivo direto. Aquilo
que se fuma é o objeto direto, ou seja, o alvo do processo
verbal.

A análise sintática sempre deve levar em consideração o


contexto. Um mesmo verbo pode assumir diferentes
comportamentos, dependendo da situação.

O objeto direto pode, eventualmente, ser constituído de um


substantivo cognato do verbo ou pertencente à mesma esfera
semântica dele - e nesse caso será chamado de objeto direto
interno ou intrínseco. É o que se lê em sentenças como: "Ele
dorme o sono dos justos" ou "Ele vivia uma vida de cão".
Convém observar que "dormir" e "viver" são normalmente
intransitivos, mas, nessas frases, passam a transitivos
diretos.
À primeira vista, as construções podem parecer redundantes,
mas a adjetivação do substantivo que funciona como núcleo
do objeto direto as valida, reforçando seu caráter
notadamente enfático.

A força estilística desse tipo de formulação já foi


experimentada por muitos de nossos escritores. Em
Gonçalves Dias, lemos: "Morrerás morte vil da mão de um
forte" ("I-Juca Pirama"); em Vinicius de Moraes, no tão
conhecido e tão belo "Soneto de Fidelidade", está: "E rir meu
riso e derramar meu pranto...", verso em que o pronome
possessivo atua com força de adjetivo.

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