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EFEITO DESEJÁVEL DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO

O pagamento ou adimplemento, no Direito Civil, é uma das formas de extinção


de uma obrigação, caracterizando-se pelo cumprimento voluntário desta pelo devedor,
geralmente pela entrega de dinheiro ao credor. Feito o pagamento, a obrigação é solucionada
(solutio) e o devedor é liberado da obrigação.
Tais obrigações podem ser pessoais ou de crédito e se configuram através de
conceitos científicos utilizados pela ciência tais como: novação, sub-rogação, transação,
compensação e outros. Para que o pagamento seja válido, é necessária a capacidade de fato
que possuem os maiores de 18 anos e os emancipados. Os absolutamente incapazes serão
representados. Os relativamente incapazes serão assistidos.
Além da capacidade de fato, exige-se a capacidade negocial. Capacidade
negocial é a satisfação de alguns requisitos extras, exigidos pela Lei em alguns casos
específicos. Tratando-se de pagamento, o falido, por exemplo, não tem capacidade negocial
para paga.r
Conterão defeito grave os pagamentos que realizar fora do processo de falência.
Se o defeito é grave, vale dizer que o ato pode ser anulado a qualquer instante, a pedido de
qualquer interessado ou pelo juiz de ofício.
Além de agente capaz, é condição do pagamento que o objeto seja possível,
tanto materialmente quanto juridicamente. Ademais, deve restringir-se ao pactuado. Como
vimos, não se pode obrigar o credor a receber coisa diferente da devida, nem o devedor a
entregar coisa diversa da devida.
Por fim, o pagamento deve ser efetuado por forma adequada, conforme o
combinado. Não se pode, por exemplo, obrigar o credor a recebê-lo em cheque, se tal não foi
previamente combinado.

REGRAS BÁSICAS

Estudar o pagamento é responder a várias questões importantes. São elas:

 Quem pode pagar?

 A quem pagar?

 Que pagar?

 Como provar o pagamento?


 Onde pagar?

 Quando pagar?
Respondidas estas perguntas, passaremos a estudar as formas especiais de
pagamento.
a) Quem pode pagar?

 - O devedor, por si, por seu representante (legal, contratual ou preposto)


ou por seus sucessores (inter vivos ou causa mortis).

 Um terceiro interessado (fiador, por exemplo).

 Um terceiro não interessado.


Pagamento efetuado pelo próprio devedor — O devedor é o principal
interessado em executar a obrigação, podendo fazê-lo pessoalmente ou por intermédio de
representante. Pode representá-lo, se for incapaz, seu representante legal; sendo capaz, poderá
ser representado por procurador ou por preposto, ambos agindo em seu nome. Se falecer, a
dívida transmite-se a seus herdeiros intra vires hereditatis, ou seja, os herdeiros somente
respondem pela obrigação com os bens da herança. Se esta não for suficiente, tanto pior para o
credor. A sucessão hereditária é causa mortis. Há também outra espécie de sucessão, a inter
vivos, quando um terceiro substitui o devedor, ocupando seu lugar.
b) A quem pagar?
O princípio geral é de que se deve pagar ao credor, a seus sucessores ou a quem
os represente. Fora daí, quem paga mal paga duas vezes, ou seja, quem pagar à pessoa errada
deverá pagar de novo à pessoa certa.
Pagamento ao credor — O credor é a pessoa a quem naturalmente se paga. Não
é necessário que essa qualidade seja contemporânea ao nascimento do crédito. Assim é que os
herdeiros e cessionários também podem ser credores.
O pagamento também pode ser efetuado ao representante legal ou contratual do
credor, desde que tenham poderes para receber e dar quitação.
O pródigo não é capaz para dar quitação, porque esta importa ato de
liberalidade, excedente à mera administração.
Feito à pessoa absolutamente incapaz, o pagamento conterá defeito grave,
podendo ser anulado. Se realizado a relativamente incapaz, o vício considera-se leve, mas,
assim mesmo, o ato poderá ser anulado. Seria, entretanto, defeituoso o pagamento, mesmo que
o incapaz ou o relativamente capaz não tenham tido qualquer prejuízo, antes pelo contrário,
tenham com ele lucrado?
A resposta que nos parece mais adequada é a de Clóvis Beviláqua,84 seguido
por Serpa Lopes:85 neste caso, com base no princípio que proíbe o enriquecimento ilícito, o
pagamento seria válido, provando o devedor que não houve prejuízo para o credor
incapaz.Outra questão que surge é quando o devedor age com erro escusável, não sabendo ser
o credor incapaz
Neste caso, desde que prove o erro escusável, o pagamento será válido. O
incapaz não poderá alegar que dolosamente ocultou sua incapacidade, pois nemo turpitudinem
suam allegare oportet, vale dizer, ninguém poderá alegar a própria torpeza.
Se o pagamento for feito à pessoa errada, a regra é que o devedor deverá pagar
novamente, salvo se provar que a culpa foi do credor.
Casos em que o pagamento feito a não credor libera o devedor:
1º) quando o credor der causa ao erro. O credor manda o devedor depositar o
pagamento em dinheiro na conta errada;
2º) quando o credor ratificar o pagamento. A ratificação pode ser tácita ou
expressa. O devedor paga à pessoa errada, e o credor confirma o pagamento, liberando o
devedor. Se no recibo o credor fizer a observação de que, mesmo tendo a dívida sido paga à
outra pessoa, o devedor está liberado, a ratificação será expressa. Se, ao revés, o credor apenas
der o recibo, liberando o devedor, sem entrar em detalhes, a ratificação será tácita;
3º) quando o pagamento for proveitoso ao credor. Por exemplo, o devedor prova
que, com o pagamento, realizou obrigação que o credor teria que realizar, ou prova que o
terceiro a quem se pagou remeteu a importância ao credor. João paga a Manoel dívida que
deveria pagar a Joaquim. Ficará liberado, se comprovar, por exemplo, que Joaquim remeteu o
objeto do pagamento a João;
4°) quando o pagamento for feito a credor putativo. Credor putativo é aquele
que aos olhos do devedor parece ser o verdadeiro credor, mas, na realidade, não é. Aqui aplica-
se a teoria da aparência para proteger o devedor de boa-fé. Ao credor verdadeiro cabe apenas
ação de regresso contra o terceiro que recebeu indevidamente. Suponhamos que A pague a
homônimo de seu credor, através de depósito em conta, por exemplo. A não agiu de má-fé,
sendo levado pelas falsas aparências. Conseqüentemente, considera-se válido o pagamento. Ao
verdadeiro credor caberá regressar contra seu homônimo, exigindo que lhe dê o que recebeu
por engano;
5º) quando o pagamento for realizado a representante putativo do credor.
Representante putativo é o que aos olhos do devedor parece representar o credor, mas, na
verdade, não o representa. A teoria que fundamenta a validade do pagamento é também a da
aparência, e os requisitos são os mesmos, ou seja, a putatividade e a boa-fé do devedor.
c) O que pagar? - Em primeiro lugar, o objeto há de ser lícito. Normalmente,
quando o pagamento importar transmissão da propriedade de um bem para o credor, o devedor
deverá ser seu legítimo dono, com poderes de alienação. No entretanto, não sendo dono o
devedor, e sendo a coisa fungível, o credor de boa-fé não estará obrigado a restituí-la, senão a
parte que ainda mantiver intacta em seu poder.
d) Como provar o pagamento? — Prova-se o pagamento pela quitação.
Quitação é ato do credor, liberando o devedor. Se o credor a ela se recusar, o devedor tem dois
remédios: ou reter o pagamento ou consigná-lo em juízo, valendo a sentença como quitação.
Quitação é palavra mal aplicada na prática, sendo muito utilizada no lugar de
pagamento integral. Assim, se digo que vou quitar uma dívida, estou querendo dizer que irei
pagá-la integralmente, pagar a última parcela, por exemplo. Mas, tecnicamente, quem quita é o
credor, e não o devedor. O devedor paga, salda ou liquida a dívida, e o credor quita ou dá
quitação.
Qual seria a natureza jurídica da quitação? Seria ela negócio jurídico ou ato
jurídico em sentido estrito?
Para responder a esta questão, devemos perquirir os fatores que impulsionaram
o credor ao ato. Teria ele sido motivado por vontade de criar, modificar ou extinguir a relação
jurídica obrigacional, como ocorre, ao celebrarmos contrato? Evidentemente, não. Ora, a
relação obrigacional extingue-se, ainda que parcialmente, pelo pagamento. A quitação é mero
direito do devedor. Ao satisfazê-lo, nada obtém o credor além da satisfação deste direito. E o
satisfaz por ordem legal, pura e simplesmente. A quitação, diante disso, é sem dúvida ato
jurídico em sentido estrito.
São requisitos da quitação:
1º) designação do valor e da espécie da dívida quitada, ou mera referência a ele
Exemplo seria: "'recebi de B a importância referente ao pagamento de um carro
que lhe vendi";
2º) o nome do devedor ou quem por este pagou;
3º) o tempo e lugar do pagamento;
4º) a assinatura do credor ou de quem por ele receber.
Quanto à forma da quitação, é livre, podendo ser provada por todos os meios em
Direito admitidos. De qualquer maneira, é bom e recomendável, para evitar problemas, que a
quitação sempre se dê por recibo, que é seu instrumento natural.
e) Onde pagar?
Há dois tipos de obrigação, as chamadas quérables e as portables. Quérables ou
quesíveis, do verbo latino quaerere (procurar), são obrigações pagas no domicílio do devedor.
O credor deve "procurar" o devedor para receber. Este é o princípio geral.
Portables ou portáveis são as obrigações pagas no domicílio do credor. Isto só ocorrerá por
força do contrato, das circunstâncias ou da Lei.
Em determinados tipos de obrigação, não há como o pagamento ser efetuado no
domicílio do devedor. A obrigação do empregado doméstico é exemplo bastante esclarecedor.
Estudemos, agora, algumas regras especiais sobre o lugar do pagamento.
Em primeiro lugar, carece não confundir domicílio de pagamento com foro de
eleição, que é a comarca eleita no contrato para que as partes acionem uma a outra, se houver
necessidade.
Além disso, se após a convenção o devedor mudar seu domicílio, ceder seu
crédito para quem seja domiciliado em outro local ou morrer, deixando herdeiros em diferentes
lugares, a regra será a mesma: prevalecerá sempre o domicílio do devedor original. De
qualquer forma, há quem entenda que, nesses casos, o novo devedor possa exigir que a dívida
se pague em seu domicílio, desde que arque com os ônus da mudança.
f) Quando pagar? — No vencimento. Disso resultam duas regras importantes:
1º) o credor não pode exigir o pagamento antes do vencimento. Caso isso
ocorra, o processo ficará arquivado, esperando o tempo que faltava para o vencimento. Além
disso, o credor perderá o direito aos juros correspondentes a esse tempo de espera, mesmo que
tenham sido estipulados em contrato. Por fim, pagará as custas processuais em dobro (art. 939
do Código Civil);
2º) o devedor não pode forçar o credor a receber antes do vencimento.
Logicamente, a Lei abre exceções a ambas as regras, algumas das quais
veremos mais adiante, quando estudarmos os contratos. Uma delas é a do art. 52, § 2º, do
Código do Consumidor. Segundo este dispositivo legal, sempre que a venda for a crédito, o
consumidor terá o direito de liquidar antecipadamente o débito, total ou parcialmente,
mediante redução proporcional de juros e demais acréscimos.

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