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I - INTRODUÇÃO
Abordaremos neste trabalho uma questão que tem sido objeto de várias consultas por parte
dos Microempreendedores Individuais (MEI) que, nos termos do Código Civil e da Lei
Complementar 128/08 que regulamentou esta nova figura jurídica, dispensou esses
empreendedores de manterem sistema de contabilidade.
Diante da complexidade que o assunto pode gerar aos interessados que não são afeitos ao
imposto de renda, faremos aqui duas abordagens em relação à tributação da pessoa física do
MEI.
O item IV-A faz uma abordagem direta sobre os cálculos do imposto de renda, considerando
tão somente o limite de rendimento isento das pessoas físicas. É bem verdade que este cálculo
seja suficiente para atender a grande maioria dos Microempreendedores Individuais.
Já o item IV-B contempla não só o limite máximo de rendimento isento auferido por parte do
MEI enquanto pessoa física, como também a parte da distribuição de lucro considerada isenta
e não tributável pela legislação do imposto de renda.
Como sabemos, o MEI foi equiparado pela legislação tributária à Pessoa Jurídica.
Diante disso, para facilitar nossos estudos passaremos a denominar o MEI em dois momentos
distintos:
Desta forma, independentemente da receita bruta auferida pelo MEI/PJ (na condição de
pessoa jurídica equiparada) e, desde que respeitado o limite anual de R$ 36 mil, ele recolherá:
INSS = R$ 56,10
ICMS = R$ 1,00
ISS = R$ 5,00
Vale lembrar que por força da LC 128/08, o MEI está isento do IRPJ e demais tributos, tais
como: PIS, COFINS, CSLL, IPI.
A DASN do MEI conterá somente as informações relativas à receita bruta total sujeita ao ICMS,
para efeito de partilha do ICMS com os municípios.
Com o cumprimento desta obrigação, os Estados não poderão exigir declaração adicional com
dados relativos ao cálculo do IPM (distribuição do ICMS para os Municípios).1
Vejamos agora como a receita auferida pelo MEI, enquanto pessoa jurídica no exercício de
suas atividades (MEI/PJ), pode influenciar a tributação do Imposto de Renda em sua pessoa
física (MEI/PF).
Inicialmente devemos lembrar que a Pessoa Jurídica (PJ) e a Pessoa Física (PF) não se
confundem.
Como vimos, a tributação da Pessoa Jurídica já está resolvida. O MEI/PJ comprou, vendeu,
prestou serviços, recebeu por isso, pagou suas despesas e foi tributado conforme visto acima.
Agora, como fazer para esse dinheiro ir parar no bolso do MEI/PF, para seus gastos pessoais?
Inicialmente vale esclarecer que a legislação do IRPF estabelece que a pessoa física que auferir
rendimento anual igual ou inferior a determinado valor, está isento do IR e também da
apresentação da declaração do IR.
1
Base legal: § 4º do art. 25 da Lei Geral das MPEs (LC 123/06 atualizada pela LC 128/08).
Neste sentido, observe que o Caderno de Perguntas e Respostas do IRPF – Exercício 2010 –
ano-calendário 2009 da Receita Federal do Brasil, prevê que o contribuinte, pessoa física, está
obrigado a apresentar a declaração, caso tenha recebido em 2009, rendimento superior a R$
17.215,08 em 2009:2
→ Receita bruta mensal de R$ 2.000,00 → Receita bruta anual (12 meses) de R$ 24.000,00.3
Observe que, se o MEI teve receita bruta anual de R$ 24.000,00, esta receita pertence à sua
Pessoa Jurídica e não à Pessoa Física.
Atenção: Não é porque o MEI/PJ faturou R$ 24.000,00 é que o MEI/PF estará sujeito ao
Imposto de Renda sobre este valor!
Portanto, é preciso analisar a capacidade financeira da Pessoa Jurídica. Isto é, se o MEI/PJ tem
receita média mensal de R$ 2.000,00, ele deverá subtrair os gastos inerentes ao exercício de
sua atividade econômica, manter alguma reserva para situações inesperadas e, caso queira,
criar também outro fundo de reserva para investimentos, como aquisição de estantes,
cadeiras, computador, de modo a melhorar a desempenho de seu negócio.
Feito isso, o que sobra é considerado lucro do MEI/PJ, e o MEI/PF poderá retirar este dinheiro
para as suas necessidades pessoais.
2
Utilizamos o ano-base de 2009 como período de recebimento dos rendimentos, cuja declaração se faz no exercício
de 2010, caso supere o limite de isenção mencionado. Para outros anos, novos limites serão fixados.
3
Trata-se apenas de caso exemplificativo, visto que o MEI entrou em vigor somente no mês de julho de 2009, logo
o limite de receita bruta seria proporcional e não poderia atingir R$ 24.000,00.
Como fica o imposto de renda sobre essa distribuição do lucro do MEI/PJ para o MEI/PF?
Sim, lembramos que este montante será isento do imposto de renda caso não ultrapasse o
limite de isenção previsto em nossa legislação.
Considerando o ano calendário de 2009 que utilizamos como referência, o MEI/PF não será
tributado caso a quantia retirada da pessoa jurídica (MEI/PJ) em 2009, não ultrapasse a R$
17.215,08.4
Ora, dificilmente o MEI/PJ que tenha faturado R$ 24.000,00, terá condições de distribuir ao
MEI/PF valor superior a R$ 17.215,08.
O mesmo pode-se afirmar se o MEI/PJ tenha obtido receita bruta superior em seu negócio, isto
é, ainda que fosse no limite da receita bruta admitido pela Lei Geral das MPEs, fixado em R$
36.000,00 ao ano.5
O que acontece se o MEI/PJ transferir ao MEI/PF valor superior ao limite de isenção (R$
17.215,08)?
→ Receita bruta mensal de R$ 2.500,00 → Receita bruta anual (12 meses) de R$ 30.000,00.6
O MEI/PJ deverá considerar seus gastos e despesas, criar fundos de reserva e de futuros
investimentos e distribuir o restante ao MEI/PF.
Como vimos, se o valor distribuído for superior a R$ 17.215,08,7 o MEI/PF será tributado pelo
imposto de renda sobre o excedente.
Portanto, fazer o correto planejamento financeiro é muito importante para todo empresário,
inclusive para o MEI. O MEI/PJ deve fazer um planejamento muito semelhante àquele que
fazemos no âmbito doméstico, isto é, verificar quanto entra e regular quanto sai de dinheiro.
A regra é simples: Assim como na economia doméstica, o MEI não deve gastar mais do que
ganha sob pena de ir à falência!
4
Lembre-se que o MEI teve início no mês de julho de 2009 e, por esta razão, deve se considerar todos os demais
rendimentos tributáveis auferidos por esta pessoa no decorrer do ano (de janeiro a dezembro de 2009).
5
Como o MEI entrou em vigor em meados de 2009 (julho de 2009), devemos considerar o limite de receita bruta
anual proporcionalmente a seis meses, isto é, R$ 18.000,00 (metade de R$ 36.000,00). Portanto a menção é
somente explicativa.
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Trata-se apenas de caso exemplificativo, visto que o MEI entrou em vigor somente no mês de julho de 2009, logo
o limite de receita bruta seria proporcional e não poderia atingir R$ 30.000,00.
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Como o MEI entrou em vigor em meados de 2009 (julho de 2009), devemos considerar o limite de receita bruta
anual proporcionalmente, isto é, R$ 18.000,00 (metade de R$ 36.000,00). Portanto a menção é somente explicativa.
IV-B - TRIBUTAÇÃO DA PESSOA FÍSICA DO MEI (Distribuição + Pró-Labore)
Neste tópico, veremos que o MEI/PF pode retirar quantia um pouco maior sem tributação do
imposto de renda.
Para tanto, aplica-se o art. 14 da Lei Geral das MPEs que apresenta a seguinte solução,
conforme transcreve a Receita Federal:8
A isenção fica limitada ao valor resultante da aplicação, sobre a receita bruta mensal,
no caso de antecipação de fonte, ou da receita bruta total anual, tratando-se de
Declaração de Ajuste Anual, dos percentuais de apuração do Lucro Presumido,
mencionados no artigo 15, da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995.
Diante dessa informação, o Imposto de Renda da Pessoa Física do MEI, será a seguinte:
A Pessoa Física do MEI está isenta do IRPF sobre os valores que lhes forem distribuídos a título
de lucro, somente nos seguintes casos:
Considerando que muito dificilmente o MEI manterá escrituração contábil11 para apuração de
seu lucro, desconsideramos o item 3 acima e passemos a analisar casos práticos apenas
relativos aos itens 1 (MEI que exerce atividade mercantil) e 2 (MEI que exerce presta serviços).
8
IRPF – Perguntas e Respostas – Pergunta 168.
9
A regra é a aplicação do percentual de 32% sobre a receita bruta das empresas tributadas pelo Lucro Presumido
para se encontrar a base de cálculo do IR. Contudo, a legislação tributária reduz para 16% no caso delas auferirem
receita bruta anual abaixo de R$ 120 mil/ano. Como o MEI tem receita bruta anual de até R$ 36 mil, prevalece o
percentual reduzido de 16% para a grande maioria dos serviços.
10
Esta hipótese é mais remota ao se tratar de MEI, já que em razão de seu reduzido faturamento mensal/anual, a
contratação de contabilidade se torna mais difícil, mesmo porque há dispensa legal para o MEI.
11
Com exceção do Relatório Mensal das Receitas Brutas a ser preenchido pelo próprio MEI.
Utilizando os exemplos do tópico IV-A, teremos:
→ Receita bruta mensal de R$ 2.000,00 → Receita bruta anual (12 meses) de R$ 24.000,00.
R$ 160,00 é o valor mensal que pode ser distribuído a título de lucro com isenção do IRPF.
Logo, no ano o MEI/PJ poderá distribuir ao MEI/PF, R$ 1.920,00 (R$ 160,00 x 12) com isenção
do IRPF.
Pela legislação do Imposto de Renda, este valor é considerado “isento e não tributável” para o
MEI/PF.
Como vimos na explicação do art. 14 da Lei Geral das MPEs, poderá o MEI/PF fazer retiradas a
título de pró-labore,12 cujos valores serão tributados se ultrapassarem os limite de isenção do
IRPF que, em 2009, foi de R$ 17.215,08.
Considerando que este valor anual (R$ 1.920,00) é “isento e não tributável” pelo Imposto de
Renda Pessoa Física, o MEI/PF poderá retirar ainda o limite de isenção anual do IRPF que é de
R$ 17.215,08, conforme vimos no tópico IV-A.
→ Receita bruta mensal de R$ 2.500,00 → Receita bruta anual (12 meses) de R$ 30.000,00.
12
Pró-labore e a remuneração ou o ganho que o empresário recebe como compensação do trabalho que realiza na
empresa. É como se fosse um salário pago pela empresa (MEI/PJ) ao empresário (MEI/PF).
Neste caso, aplica-se o percentual de presunção de lucro (tabela da Lei 9.249/95)
correspondente à prestação de serviços (para faturamento inferior a R$ 120.000,00/ano), que
é de 16%, sobre o valor da receita do mês (R$ 2.500,00 x 16% = R$ 400,00).
R$ 400,00 é o valor mensal que pode ser distribuído a título de lucro com isenção do IRPF.
Paulo Melchor
Claudio R. Vallim
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SEBRAE-SP