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Todo o enredo bíblico, desde Gênesis até Apocalipse, percebe-se uma relação cada vez mais intensa e

progressiva entre Deus e o homem, Jeová e Israel, Cristo e a Igreja. De forma alegórica, as figuras do noivo
(Jeová/Jesus) e da noiva (Israel/igreja), se tornam os protagonistas da maior história de amor de todos os
tempos, veiculada pelo registro bíblico. O formato literário de vários oráculos proféticos, como o de Ezequiel 16,
resume em linguagem romântica, o relacionamento entre Deus e Israel. Especificamente neste episódio,
ficamos chocados diante do fato da virgem ter sido tão cruelmente desprezada, quando do seu nascimento;
enternecemos-nos com a misericórdia e o amor que o Rei demonstra por ela; decepcionamos-nos com a
soberba, a infidelidade e a deslealdade daquela que havia sido feito rainha; sentimos-nos perplexos, diante da
indignação, furor e ira do Rei que promete punição e correção; mas sentimos de forma intensa e com grande
emoção, o amor sem medida e a misericórdia do Rei, ao prometer restabelecer a aliança e perdoar aquela que
o havia desprezado, quando ela se arrependesse. Estas são as linhas gerais que descrevem O Maior Romance
de Todos os Tempos, através de toda a Escritura Sagrada. Assim, Cânticos canta esta história de amor em
versos, fazendo pulsar forte o coração numa explosão de sentimentos e emoções. Num primeiro plano, em
meio a versos de louvor e apreciação ao amado e à amada, o cântico profetiza e faz uma clara alusão aos
acontecimentos históricos que deveriam ocorrer com Israel: sua prostituição espiritual e afastamento de Deus,
seu cativeiro, seu sofrimento, sua busca por Deus, o seu reencontro com Ele em terra estrangeira (na
Babilônia), e o seu retorno para a terra da promessa, quando então abandonariam de vez o duplo ânimo que os
acometia, fazendo-os oscilar entre obedecer ou não ao Senhor, entre servir ao Senhor ou aos ídolos; o que
realmente ocorreu e se cumpriu na história de Israel. Num plano mais abrangente, o cântico fala do amor de
Cristo pela Igreja, da fidelidade, perfeição e beleza da noiva de Cristo, da relação entre Deus e aquele que crê,
das lutas e aflições dos fiéis no mundo, e da ardente expectativa e esperança do retorno do noivo para a sua
amada noiva, ou seja, da segunda vinda de Cristo para buscar a sua igreja. O leitor pode se perguntar: onde se
encontram estas coisas no livro de Cântico dos Cânticos? Para responder a isto, é necessário um estudo
comparativo do livro com outras porções das escrituras, de forma que se possa reunir e comparar as passagens
bíblicas que retratam as imagens e cenas do poema, selecionar cada passagem por meio de palavras chaves,
comparando o sentido dos textos pesquisados com o sentido geral ou específico de cada parte do poema. A
título de exemplo podemos demonstrar a extraordinária semelhança de sentidos entre alguns textos de
Ezequiel, Lamentações e Jeremias com a passagem de Cânticos 1:5,6. Em Ezequiel vemos que Judá foi
considerada por Deus como irmã dos povos babilônico: (...) Tal mãe, tal filha. Tu és filha de tua mãe, (...); e tu
és a irmã de tuas irmãs, (...) vossa mãe foi hetéia, e vosso pai amorreu. A tua irmã maior é Samaria, (...) e tua
irmã menor (...) é Sodoma... (Ezequiel 16:44-46). Foram considerados assim porque andaram em todos os
costumes destes povos. Chegou então o tempo em que o rei da Babilônia, Nabucodonozor, se indignou contra
Jerusalém, invadindo a cidade, matando seus valentes, saqueando seus tesouros e escravizando seu povo,
obrigando-os a trabalhos forçados do cultivo da terra e da guarda de suas vinhas. Por causa deste
acontecimento Jeremias lamenta profundamente e diz: Como jáz solitária a cidade outrora populosa! Tornou-se
como viúva a que foi grande entre as nações; princesa entre as províncias, ficou sujeita a trabalhos forçados!
(...) Judá foi levada a exílio, afligida e sob grande servidão; habita entre as nações, não acha descanso...
(Lam.1:1-3). Assim, aquela que fora uma linda princesa entre as províncias, agora morena de tanto trabalhar
ao sol, fala de si mesma: Eu estou morena, porém formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar,
como as cortinas de Salomão. Não olheis por eu estar morena, porque o sol me queimou; os filhos de minha
mãe indignaram-se contra mim, puseram-me por guarda das vinhas; a vinha porém que era minha, não
guardei (Ct.1:5-6). Judá foi infiel para com Deus, assim ele permitiu que os filhos de sua mãe, os babilônios,
viessem contra ela e a obrigassem a trabalhar em suas vinhas. Mas mesmo assim, Ele ainda lhe faz uma
promessa: Assim diz o Senhor: Eis que acabarei o cativeiro das tendas de Jacó e apiedar-me-ei das suas
moradas (...) e ser-me-eis por povo, e eu vos serei por Deus (...) ó virgem de Israel! Ainda serás adornada
com os teus adufes e sairás com o coro dos que dançam. AINDA PLANTARÁS VINHAS nos montes de Samaria...
(Jer. 30:18,22 e 31:4-5). Assim, Deus promete que ela voltaria a cuidar de suas próprias vinhas, em sua terra,
em Samaria.Da mesma forma, também é extraordinária a evocação final entre os últimos versos de Cânticos e
Apocalipse, demonstrando explicitamente a correlação da mensagem do poema com o sentido geral da
mensagem de amor que perpassa toda a Bíblia, quando dizem: VEM DEPRESSA amado meu...(Cantares
8:14)... O ESPÍRITO e a NOIVA dizem: VEM (...) AMÉM. VEM, SENHOR JESUS (Apoc. 21:17 e 20).

Cântico Dos Cânticos 2:9 (comentário)


(Manoel Antônio de Andrade Barbosa)

DETRÁS DE NOSSA PAREDE...

O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho do veado; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas
janelas, espreitando pelas grades (Cantares 2:9).

Ao visitá-la, o noivo ronda por detrás das paredes, olhando pelas janelas e grades, pois ele quer saber as
condições em que está a casa. Ela compreende que isso é um ato de amor e de zelo. Davi também reconhece
isso, acerca de Deus, e diz: Examina-me, Senhor, e prova-me; esquadrinha a minha mente e o meu coração
(Salmo 26:2). Deus é aquele que examina os corações, e ao encontrar pecado e malícia em nossos corações,
diz com palavras firmes e severas, mas com amor: Lava o teu coração da malícia, (...) para que sejas alva! Até
quando hospedarás contigo os teus maus pensamentos? (Jer.4:14-17) As piores calamidades que atingem o
nosso coração, são aquelas que brotam de dentro dele, por isso, às vezes, não podemos encontrar consolo,
antes lamentamos como Jeremias, que chora por causa dos pecados de Jerusalém, dizendo: Ah! Meu coração!
Meu coração! Eu me contorço em dores. Oh! As paredes do meu coração! Meu coração se agita! (Jer. 4:19). As
paredes de nossos corações devem estar lavadas e branqueadas, livres de toda malícia e de toda podridão, pois
o Senhor é Deus zeloso. No entanto, as Escrituras nos advertem que se as paredes do coração forem
falsamente branqueadas com cal, estando, contudo, podres e sujas por dentro; ou seja, se passarmos a viver a
vida com a capa da falsa religiosidade, dizendo palavras de paz, mas negando a eficácia dela em nossas vidas,
tornando-nos hipócritas, Deus saberá, pois Ele sonda os corações. Ele está por detrás da parede, examinando-
a, e por fim se indignará e derrubará a parede caiada, pois diz: Visto que andam enganando, sim, enganando o
meu povo, dizendo: Paz, quando não há paz; e quando se edifica uma parede e os profetas a caiam, dize aos
que a caiam que ela ruirá (...) Derribarei a parede que caiastes com argamassa fraca, darei com ela por terra
(...) Assim cumprirei o meu furor contra a parede... (Ez.13:10-14).

Em um grande banquete, o rei Belsazar profanou as coisas santas que pertenciam ao Senhor. Então, na
caiadura da parede do palácio real o Senhor escreveu: Pesado foste na balança e foste achado em falta. Os
homens constroem para si fortalezas, e se ensoberbecem diante de Deus ao contemplarem suas obras; mas
Jesus advertiu aos discípulos que admiravam a construção do templo de Jerusalém, dizendo: Não restará aqui
pedra sobre pedra que não seja derribada. Portanto, não levantemos em nossas vidas paredes que vão perecer
com o tempo, antes, veja cada um como edifica, e Deus provará a obra de cada um; como Ele mesmo diz: Eu,
o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu
proceder, segundo o fruto de suas obras (Jer. 17:10). Jesus combatia duramente os fariseus porque eram
líderes religiosos hipócritas; por isto os chamava de sepulcros caiados. Diante do sumo sacerdote Ananias,
Paulo também o repreendeu por sua hipocrisia, advertindo-o severamente: Deus te ferirá a ti, parede
branqueada. Paredes que apenas tapam a podridão que está por detrás delas serão postas por terra. A
religiosidade hipócrita não ficará impune; pois ela causa inimizades e divisão entre os homens, afastando-os
ainda mais de Deus. Somente em Cristo temos comunhão uns com os outros, Porque ele é a nossa paz, o qual
de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a
inimizade (Efésios 2:14). Por tudo isto, em todos os tempos, a noiva de Cristo pode cantar e dizer: eis que
está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades.

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