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Relação do Uso do Solo com a Taxa de Infiltração na Bacia

Hidrográfica do Rio Buriti Vermelho - DF

Denilson Pereira Passo(1), Lineu Neiva Rodrigues(2),Wellington dos Santos Cardoso(3), Éder de Souza
Martins(2) e Adriana Reatto(2)

RESUMO – O objetivo principal deste trabalho foi
estudar a relação da taxa de infiltração em solos da
Bacia do Rio Buriti Vermelho no DF com o tipo de uso
e sua relação com a textura e matéria orgânica.
Amostras indeformadas foram coletadas em três
profundidades (0-5, 15-20 e 60-65 cm) em cinqüenta e
um pontos pré-selecionados dentro da bacia e
conduzidas ao laboratório da Embrapa Cerrados para
os procedimentos analíticos de física e química de
solos. A infiltração avaliada para cada tipo de uso,
revelou que a área preservada (Mata de Galeria)
apresentou valores de Ks mais elevados em relação os
demais e que, em todos os tipos de usos ouve uma
infiltração menor na camada superficial em relação às
outras profundidades, mesmo com teores de matéria
orgânica mais elevados e textura menos argilosa na
camada superficial.
Palavras-Chave: físico-hídrica, condutividade
hidráulica saturada, manejo e conservação do solo.
Introdução
A infiltração da água no solo é um processo
dinâmico de penetração vertical da água no solo [1]. O
conhecimento da taxa de infiltração da água no solo é
de fundamental importância para definir técnicas de
conservação do solo, planejar e delinear sistemas de
irrigação e drenagem, bem como auxiliar na
composição de uma imagem mais real da retenção da
água e aeração no solo [1].
A influência do tipo de uso na infiltração tem sido
documentada em vários trabalhos[2,3]. Zuquette et al.
[2] mediram a infiltração através de tensiômetros, em
uma bacia hidrográfica, ocupada com plantações de
milho, e verificaram que o valor da infiltração pode ser
três vezes maior de um ponto à outro, em função do
estágio evolutivo da plantação. Sobrinho [3], ao avaliar
a taxa de infiltração sob diferentes tipos de manejos
concluiu que o sistema de plantio direto apresentou
valores superiores aos demais sistemas avaliados.
Assim, o presente trabalho teve por objetivo avaliar a
infiltração de água nos solos na Bacia Hidrográfica do
Rio Buriti Vermelho, considerando a textura e o teor de
matéria orgânica em diferentes tipos de uso.
Material e Métodos
A. Área de Estudo e Amostragem
A Bacia do Rio Buriti Vermelho, localiza-se na porção
sudeste do Distrito Federal, 15º53’30 “e 15º55’56” de
latitude sul; 47º23’32” e 47º25’53” de longitude oeste. O
Rio Buriti Vermelho é um sub-afluente do Rio Paracatu
que por sua vez deságua no Rio São Francisco. A Bacia
Hidrográfica do Rio Buriti Vermelho é composta por áreas
de sequeiro, pivôs (geralmente em plantações de soja ou
sorgo) em grandes fazendas, propriedades rurais com
pequenas lavouras com média de 2 a 4 hectares e
pastagens.
Na região, além de cereais, produzem-se essencialmente
hortaliças e a comunidade destaca-se na produção de limão.
Além das áreas agrícolas contidas em grande parte da
bacia (Figura 1), existem também formações vegetais como
as Matas de Galeria e Cerrado Sentido Restrito.
Foram coletadas cinqüenta e uma amostras
indeformadas de solos com seis repetições cada, de forma
vertical ao plano do terreno no período de maio a dezembro
de 2006, em três diferentes profundidades: 0-5 cm; 15-20
cm; 60-65 cm, selecionando quatro amostras para
repetições efetivas e duas para reserva, em caso de erro ou
perda.
Uma vez retirada às amostras eram acondicionadas em
recipientes próprios e transportada para os Laboratórios de
Física e Química de Solos da Embrapa Cerrados para
análises.
B. Procedimentos Analíticos
O atributo físico-hídrico avaliado foi à condutividade
hidráulica saturada (Ks).
Para a avaliação da condutividade hidráulica do solo
saturada, método de laboratório [4], as amostras
indeformadas foram colocadas em uma bandeja com água a
2/3 da altura do cilindro durante 24 horas para saturação.
Em seguida, foram colocadas em um permeâmetro de carga

(1)
Primeiro autor é Geógrafo pela Universidade Estadual de Goiás e estagiário de Pós Graduação no setor de Pedologia da Embrapa Cerrados,
EMBRAPA. Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados – CPAC, BR 020, km 18, Rod. Brasília/Fortaleza, Planaltina – DF, CEP 73301-970.E-
mail: geodenilson@gmail.com
(2)
Segundo, terceiro e quarto autores são Pesquisadores A dos setores de Pedologia e Recursos Hídricos da Embrapa Cerrados, EMBRAPA.
Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados – CPAC, BR 020, km 18, Rod. Brasília/Fortaleza, Planaltina – DF, CEP 73301-970.
(3)
Quinto autor é Biólogo pela Faculdade da Terra de Brasília – FTB e estagiário de Pós Graduação no setor de Pedologia da Embrapa Cerrados,
EMBRAPA. Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados – CPAC, BR 020, km 18, Rod. Brasília/Fortaleza, Planaltina – DF, CEP 73301-970.
constante, onde foram submetidas a uma carga
hidráulica da ordem de 6,8 cm. A condutividade
hidráulica saturada foi calculada obtida por meio da
equação de Darcy.
Outro atributo avaliado foi à determinação da
textura do solo pelo método da pipeta [4].
A análise de matéria orgânica (MO), foi realizada
pelo método Walkley-Black [4].
C. Espacialização dos Dados
Para espacialização dos dados de Ks e textura foi
utilizado o método da Ponderação do Inverso das
Distâncias (IDW) que implementa explicitamente o
pressuposto de que os atributos mais próximos entre si
são mais parecidos do que os mais distantes. Para
predizer um valor para algum local não medido, o IDW
usará os valores amostrados à sua volta, que terão um
maior peso do que os valores mais distantes, ou seja,
cada ponto possui uma influência no novo ponto, que
diminui na medida em que a distância aumenta, daí seu
nome [5].
Resultados e Discussão
Os valores de Ks, de modo geral para toda a bacia,
variaram de 8 a 700 mm h-1 com média de 199 mm h-1
para profundidade de 0 a 5 cm, de 80 a 930 mm h-1com
média de 312 mm h-1 para a profundidade de 15 a 20
cm e de 17 a 420 mm h-1 com média de 129 mm h-1
para a profundidade 60-65 cm. Observando os
triângulos texturais (Figura 2) nota-se que a textura
encontrada na bacia variou de média a muito argilosa
para todas as profundidades.
Analisando-se os mapas espacializados de textura
(Figura 3) e Ks, (Figura 4) observa-se que a textura
ficou mais argilosa a medida que se aumenta a
profundidade. Já os resultados da Ks, a camada de 0 a
5 cm apresentou uma infiltração menor que a camada
de 15 a 20 cm, e este por sua vez foi maior que a
profundidade 60 a 65 cm, mostrando uma
descontinuidade dos dados, que deveriam ser menor a
medida em que se aumenta a profundidade.
A infiltração avaliada para cada tipo de uso, revelou
que a área preservada (Mata de Galeria) apresentou
valores de Ks mais elevados em relação os demais
(Tabela 1) e que, em todos os tipos de usos ouve uma
infiltração menor na camada superficial em relação às
outras profundidades, mesmo com teores de matéria
orgânica mais elevados e textura menos argilosa na
camada superficial. Segundo Calouro [6], a matéria
orgânica é um constituinte que aumenta a agregação
dos solos, preservando a porosidade e a capacidade de
infiltração. Costa [7] postula que a medida em que a
textura fica mais argilosa a condutividade hidráulica
diminui.
Nas áreas de sequeiro e pivô central apresentaram
um valor de Ks mais baixos na camada superficial em
relação as áreas preservadas, evidenciando uma
compactação, onde salientamos que nesta área é utilizado o
plantio direto. Sobrinho [3] ao avaliar a taxa de infiltração
sob diferentes tipos de manejos concluiu que o sistema de
plantio direto apresentou valores superiores aos demais
sistemas avaliados.
A área de pastagem também apresentou taxa de
infiltração menor que a área preservada, isso ocorreu
possivelmente devido à degradação física da estrutura
superficial do solo, causada pelos cascos dos animais, com
provável diminuição dos valores de macroporosidade.
Segundo Lanzanova [8] esse fator é o principal responsável
pelo fluxo de água no solo.
Conclusões
Todos os tipos de usos antropizados na bacia
hidrográfica do Rio Buriti Vermelho mostrou uma
infiltração inferior em relação à área preservada.
As áreas agrícolas (sequeiro e pivô) tiveram os menores
valores de Ks na camada superficicial de 0 a 5 cm.
Os sistemas de uso do solo relacionados com a taxa de
infiltração da água no solo estão diretamente associados
com o comportamento morfohidrodinâmico do solo. As
modificações mais acentuadas desse comportamento foram
observadas nos solos antropizados estudados na camada de
0 a 5 cm.
Agradecimentos
Ao CNPq e ao Projeto Pequenos Reservatórios de Água,
por meio do “Advisory Service on Agricultural Research
for Development (BEAF)”, pela concessão da bolsa de
Iniciação Cientifica ao primeiro autor.
Referências
[1] PAIXÃO, F.J.R. 2004. Estimativa da infiltração da água no
solo através de modelos empíricos e funções não lineares.
Volume 5, Revista de Biologia e Ciências da Terra, Campina
Grande - PB, 2004.
[2] ZUQUETTE, L.V 2006. Avaliação da condutividade
hidráulica em área de recarga do aqüífero Botucatu. Minas,
Ouro Preto, 59(1): 81-87.
[3] SOBRINHO, T. A 2003. Infiltração de água no solo em
sistemas de plantio direto e convencional, Revista Brasileira
de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.7, n.2, p.191-196,
2003.
[4] Embrapa, 1997, Manual de métodos de análise de solo. 2ª ed.
revisada e ampliada. Rio de Janeiro,1997.
[5] JAKOB, A.A.E & YOUNG, A. F, 2006. O uso de métodos de
interpolação espacial de dados nas análises sociodemográficas.
XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, Minas
Gerais, 2006.
[6] CALOURO, F, 2005. Atividades agrícolas e ambiente. 1 ed.
Porto. SPI (Sociedade Portuguesa de Inovação), 2005.
[7] COSTA, A.R.C, 2005. Condutividade HidráulicaIn Situ e sua
Relação com o Potencial de Material em Parcelas de Erosão
com Diferentes Usos. Anais do XI Simpósio Brasileiro de
Geografia Física Aplicada, 2005,
[8] LANZANOVA, M.E. 2003. Efeito do pisoteio bovino na
infiltração da água de um Argissolo Vermelho Amarelo.
Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Ribeirão Preto,
estado de São Paulo 2003.
 Figura 1: Mapa de uso e cobertura dos solos da Bacia Hidrográfica do Rio Buriti Vermelho.

(0 a 5 cm) (15 a 20 cm) (60 a 65 cm)

Figura 2: Triângulos texturais dos solos da Bacia Hidrográfica do Rio Buriti Vermelho para cada profundidade.

Figura 3: Mapas de texturais dos solos da Bacia Hidrográfica do Rio Buriti Vermelho para cada profundidade.
Figura4: Mapas de condutividade hidráulica (Ks) dos solos Bacia Hidrográfica do Rio Buriti Vermelho para cada
profundidade.

Tabela 1: Relação do tipo de uso e cobertura do solo com a textura, matéria orgânica e condutividade hidráulica.
Matéria
Uso e cobertura do Profundidade
Orgânica Textura Ks (mm h-1)
solo (cm)
(%)
0a5 3,0 Argilosa 298
Mata de Galeria 15 a 20 2,8 Muito Argilosa 380
60 a 65 2,8 Muito Argilosa 354
0a5 2,6 Argilosa 230
Cerrado 15 a 20 2,3 Muito Argilosa 274
60 a 65 1,6 Muito Argilosa 118
0a5 2,9 Argilosa 244
Chácaras 15 a 20 2,3 Argilosa 281
60 a 65 1,5 Muito Argilosa 156
0a5 3,2 Argilosa 164
Área de Sequeiro 15 a 20 2,6 Argilosa 283
60 a 65 1,6 Muito Argilosa 114
0a5 3,0 Argilosa 262
Pastagem 15 a 20 2,5 Muito Argilosa 321
60 a 65 1,4 Muito Argilosa 288
0a5 3,2 Argilosa 153
Pivôs Centrais 15 a 20 2,5 Muito Argilosa 237
60 a 65 1,7 Muito Argilosa 106